Tese Lidia Nazaré - UFF

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13.04.2013 Views

epercussões da fotografia de “Pequena Flor” no suplemento do jornal não sugerem a aceitabilidade e a ternura que este nome inspirou no leitor no ato da nomeação. Outro nome, ainda mais claro e objetivo foi utilizado para identificá-la “Escura como macaco”, ele informaria à imprensa (...)” (LF, p.77). Esta comparação é tão petrificada quanto à anterior, talvez mais ainda dada à aproximação dos termos comparativos por similaridade: o escuro e o macaco. Como se trata ou não da mulher preencher a uma das expectativas sugeridas – e induzidas como neste segundo caso - pelos nomes, ela preenche esta segunda, dada a proximidade de sua cor com a cor da comparação, escura e macaco. Tanto o estereótipo “Pequena Flor”, quanto a comparação em questão, intencionam forjar um significado a um significante. Mas, para a comparação funcionar faz-se mister que um dos termos já tenha sido convertido em código. A partir deste processo o mundo pode ser classificado. Um elemento desconhecido é explicado a partir do conhecimento de outro ad infinituun. É a experiência da “queda” benjaminiana alegorizada neste conto. Segundo Umberto Eco (1991) o código estabelece que um significante denota um determinado significado. O significado do significante flor é flor mesmo. Sobre este código os românticos criaram outro significado, sobre o dos românticos “Marcel Pretre” criou outro, sobre o de “Marcel Pretre” a burguesia criou vários outros. Agora os termos conotados são os mais polissêmicos e, portanto, os mais passíveis de acolherem diferentes significados. O que é que significa “Pequena Flor” de fato? Nada, ou melhor o que “Marcel Pretre” quiser. O esclarecimento do significado desses significantes só advirá do recurso a outros signos da língua empregada, signos esses que o traduzam, que lhe definam as condições de emprego, que recorrem, em suma, ao sistema da língua para explicarem um elemento da língua e ao código para esclarecerem o código (ECO, 1991, p. 26). 167

Neste caso é o texto que nos revela o desejo de “Marcel Pretre”. Ela foi divulgada em plena primavera, motivo pelo qual não foi conotada como a “Pequena Flor” romântica. A diferença dela com as flores era gritante. A linguagem, à revelia, está à mercê de qualquer ideologia. A comparação é uma ferramenta de conhecimento do mundo ideológica, porque tendenciosa. Reduz o mundo ao mesmo. Quando o elemento desconhecido da comparação não se aproxima do elemento estereotipado, ele se converte na diferença. A comparação entre a cor de “Pequena Flor” com a cor do “macaco” é falsa. O pensamento habituado, que já introjectou este estereótipo a partir do idealismo romântico é encaminhado imediatamente para reconhecer nele a diferença. Mesmo um pensamento que não reconhece neste termo o significado que ele carrega, sabe que não existe flor escura, ainda mais que a divulgação aconteceu na “primavera” (LF, p.80). Neste caso, este pensamento constrói um novo código cujo significante é “Pequena Flor” e o significado é “Macaco”. Esta aproximação feita, por similaridade, é a mesma feita pelo narrador quando a comparou à raridade da esmeralda. Ambas são ideológicas, - subjetivas, parciais, arbitrárias - não há aqui nenhuma racionalidade, a menos que já estejamos concordando que a racionalidade consista num pensamento construído arbitrariamente. A comparação do narrador, entretanto, tende a manter o objeto na sua diferença. Não é possível fixá-lo a partir do modo como o faz, porque a linguagem não foi usada com a finalidade instrumental de designar, apontar para o objeto, senão de sugeri-lo apenas. Não se trata de um discurso que reivindica poder. E se este lhe é atribuído é exatamente por sua capacidade de sugestão e não de designação. O valor de verdade se existente na descrição do narrador, mantém-se porque cada leitor tem a oportunidade de 168

epercussões da fotografia de “Pequena Flor” no suplemento do jornal não sugerem a<br />

aceitabilidade e a ternura que este nome inspirou no leitor no ato da nomeação. Outro<br />

nome, ainda mais claro e objetivo foi utilizado para identificá-la “Escura como<br />

macaco”, ele informaria à imprensa (...)” (LF, p.77).<br />

Esta comparação é tão petrificada quanto à anterior, talvez mais ainda dada à<br />

aproximação dos termos comparativos por similaridade: o escuro e o macaco. Como se<br />

trata ou não da mulher preencher a uma das expectativas sugeridas – e induzidas como<br />

neste segundo caso - pelos nomes, ela preenche esta segunda, dada a proximidade de<br />

sua cor com a cor da comparação, escura e macaco.<br />

Tanto o estereótipo “Pequena Flor”, quanto a comparação em questão,<br />

intencionam forjar um significado a um significante. Mas, para a comparação funcionar<br />

faz-se mister que um dos termos já tenha sido convertido em código. A partir deste<br />

processo o mundo pode ser classificado. Um elemento desconhecido é explicado a partir<br />

do conhecimento de outro ad infinituun. É a experiência da “queda” benjaminiana<br />

alegorizada neste conto. Segundo Umberto Eco (1991) o código estabelece que um<br />

significante denota um determinado significado. O significado do significante flor é flor<br />

mesmo. Sobre este código os românticos criaram outro significado, sobre o dos<br />

românticos “Marcel Pretre” criou outro, sobre o de “Marcel Pretre” a burguesia criou<br />

vários outros.<br />

Agora os termos conotados são os mais polissêmicos e, portanto, os mais<br />

passíveis de acolherem diferentes significados. O que é que significa “Pequena Flor” de<br />

fato? Nada, ou melhor o que “Marcel Pretre” quiser.<br />

O esclarecimento do significado desses significantes só advirá do recurso a outros<br />

signos da língua empregada, signos esses que o traduzam, que lhe definam as condições<br />

de emprego, que recorrem, em suma, ao sistema da língua para explicarem um elemento<br />

da língua e ao código para esclarecerem o código (ECO, 1991, p. 26).<br />

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