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Tese Lidia Nazaré - UFF

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cientista cons-ciente da violência do seu ato de nomear. Mas o narrador poderia estar<br />

perguntando também se a mulher africana iria conseguir preencher as expectativas deste<br />

nome cunhado dentro do idealismo romântico para as mulheres européias idealizadas<br />

romanticamente. O que justificaria bem o fato de ele ter dito que “Marcel Pretre”<br />

“apelidou-a” “Pequena Flor”. Se bem que na focalização ele nomeia.<br />

Do fragmento acima podemos inferir o incômodo que a nomeação causou na<br />

mulher. Vejo isso a partir da sua linguagem gestual e instintiva – “onde uma pessoa não<br />

se coça” -, assinalada pelo ato de coçar. Inicialmente, confundida pela palavra<br />

idealismo, sem me dar conta do seu tom irônico, acreditei que o explorador desviou os<br />

olhos pelo constrangimento que tal ato lhe causou. É este o significado imediato que<br />

atribuímos ao gesto desviar os olhos. Sendo um homem socializado – idealista e<br />

romântico “Você é Pequena Flor” - ele poderia estar tão comprometido com o sistema<br />

de genderização – que coloniza o corpo do feminino – que tomou o gesto da mulher por<br />

descuido e achou melhor desviar os olhos por respeito a ela, sem se dar conta de que<br />

onde estava tais valores inexistiam.<br />

Mas o conto não confirma esta hipótese do constrangimento, embora nos<br />

confunda, devido ao hábito de lermos os gestos a partir da ideologia. A expressão, “tão<br />

vivido”, quando associada à outra do parágrafo introdutório, “caçador e homem do<br />

mundo”, sugere que ele está predisposto a aceitar a “caça” e a “mulher”. O incômodo<br />

aqui parece residir na ação de nomear exercido sobre ela.<br />

2. Consciência do ato<br />

Outro aspecto que descarta o desvio do olhar associado ao constrangimento está<br />

na sua condição de cientista, que, por profissão, está acostumado com atos instintivos e<br />

sabe não só reconhecê-los como também compreendê-los.<br />

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