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Tese Lidia Nazaré - UFF

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cravado de flechas, pela causa religiosa, contribuiu para que eles aceitassem a<br />

imposição dos códigos, no início com resistência, mas depois com bastante tolerância.<br />

Motivados principalmente pela força desta arte persuasiva/representativa<br />

acreditavam-se naturalmente desejosos do conhecimento daquele Deus por quem São<br />

Sebastião morria e que era o mesmo Deus que os europeus lhes traziam.<br />

A partir desta estratégia não resistiram à aprendizagem da língua em que a<br />

palavra divina circulava. Gradativamente os textos traduzidos para o tupi-guarani e o<br />

seu sistema do sagrado vão sendo substituídos pelo modelo europeu até alcançar a<br />

unidade e a pureza e chegar a um ponto em que, “[a] América transforma-se em cópia,<br />

simulacro que se quer mais e mais semelhante ao original, quando sua originalidade não<br />

se encontraria na cópia do modelo original” (SANTIAGO, 1978, p. 11-28), mas na sua<br />

origem, ou seja, na palavra adâmica apagada completamente pelos conquistadores.<br />

Assim, continua o crítico “[o] fenômeno da duplicação se estabelece como única regra<br />

válida de civilização” (SANTIAGO, 1978, p. 11-28).<br />

Este estratagema faz-me refletir sobre a violência simbólica que cimentou a<br />

ideologia do colonizador europeu no novo mundo. No caso em questão cria-se e<br />

inculca-se um desejo aparentemente inocente: o conhecimento de Deus, para, em<br />

seguida, dar-se o golpe de misericórdia: a imposição da língua a partir da qual será<br />

organizado e/ou reorganizado e veiculado os bens culturais do colonizador. Dupla<br />

transgressão porque, no tocante ao código lingüístico, os elementos autóctones já<br />

tinham sido nomeados, ou seja, a função adâmica do homem já se efetivara e, uma vez<br />

criado, mantinha-se em estado de natureza selvagem. A segunda epígrafe que abre esta<br />

introdução faz alusão a este aspecto do nosso processo de colonização.<br />

O código lingüístico do europeu já havia sofrido alterações por ter sido<br />

manipulado, pelo “projecto enciclopédico” (FOUCAULT, 1966, p.61) para organizar o<br />

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