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Tese Lidia Nazaré - UFF

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É esta organização do signo voltada para a busca da semelhança e que<br />

condicionava o pensamento a ver o mundo a partir deste pressuposto, que desaparece<br />

com a “reorganização da cultura”, mediada pelo signo arbitrário e binário 80 , que tende<br />

para a busca do discernimento direcionando o pensamento para a diferença “‘[é] ele que<br />

estabelece a divisão entre o homem e o animal; é ele que transforma a imaginação em<br />

memória voluntária (...)’” (CONDILLAC: apud. FOUCAULT, 1966, p.90).<br />

A focalização de “Marcel Pretre” é objetiva, seca, nada diz, não é capaz de<br />

singularizar a mulher, pelo contrário, a generaliza “[f]oi então que o explorador disse<br />

timidamente e com uma delicadeza de sentimentos de que sua esposa jamais o julgaria<br />

capaz: _ Você é Pequena Flor.” Mesmo assim o leitor desavisado de pensamento<br />

automatizado, deixa-se seduzir por tal descrição achando-a delicada, mas não é isso. Ele<br />

designa, viola, impõe um nome, mas não próprio como o dele, e sim comum. Por isso<br />

este procedimento é narrado ironicamente pelo narrador, porque é a expressão “Você é<br />

Pequena Flor” que sugere a delicadeza, por influência romântica. Trata-se de uma<br />

expressão que já está fixada, estereotipada. O advérbio de modo, “timidamente”<br />

,contribui para que na frase em questão, o ato de “Marcel Pretre” seja entendido como<br />

delicado. Inclusive este advérbio, naquele ambiente, sugere “delicadamente”, porque o<br />

assimilamos à frase seguinte “Você é Pequena Flor”. Contudo, não é esta delicadeza<br />

que ele sugere e sim a impossibilidade de classificá-la. Mas como ele precisa “dar um<br />

80 A partir do século XVII dá-se um valor inverso à natureza e à convenção: natural, o signo não é mais<br />

do que um elemento separado das coisas e constituído como signo do conhecimento. O signo é, portanto,<br />

prescrito, rígido, incomodo, e o espírito não pode apoderar-se dele. Pelo contrário, quando se estabelece<br />

um sinal convencional, pode-se sempre (e isso é necessário, com efeito) escolhê-lo de tal maneira que<br />

seja simples, fácil de rememorar, aplicável a um número indefinido de elementos, suscetível de se dividir<br />

e de se compor; o signo de instituição é o signo na plenitude do seu funcionamento (FOULCAULT, 1966,<br />

p.90).<br />

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