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Tese Lidia Nazaré - UFF

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Noto como o som da penúltima sílaba do adjetivo preguiçoso faz tombar as folhas ricas<br />

do verde e enche de poesia a cena. A umidade, os mosquitos e as folhas sugerem um<br />

clima tropical, impróprio para as pequenas flores européias. Neste caso, a identidade<br />

dela é alterada por “Marcel Pretre”. Ele decalca um nome nela no seu ato de nomeá-la.<br />

Nesta segunda cena, o narrador usa nomes que fazem alusão à cena original:<br />

“esmeralda” e “rara” sugerem aos sentidos do leitor a nuança “do verde mais<br />

preguiçoso” visto sob o espelho natural, formado pela umidade sobre as folhas. Esta<br />

raridade se entorna sobre a próxima frase, na palavra “raro”, e nas esmeraldas que “os<br />

sábios da índia usam” e que vêm naturalmente à imaginação do leitor, por influência da<br />

frase anterior. A expressão “mais rico do mundo”, intensifica a raridade da “estranha<br />

graça”. A palavra estranha neste final, influenciada pela expressividade das anteriores,<br />

perde o seu sentido usual “grotesco” – macaco – e disputa de igual para igual com a<br />

palavra graça. Esta aqui eleva a mulher à atmosfera do sagrado. Aqui está uma permuta<br />

de sentidos entre palavras racionalmente antinômicas.<br />

O sagrado é aquilo que escapa em sua essência a todo o alcance do conhecer. A<br />

palavra racionalizada conceitual jamais daria conta da apreensão desta imagem. Ela é<br />

direcionada aos sentidos - por isso o recurso da sinestesia estimulando a audição, a<br />

visão e o tato - e não a razão. Assim, depurada pelo crivo da razão, a palavra do<br />

focalizador toca a sensibilidade do leitor e exalta a preciosidade e a linguagem selvagem<br />

da mulher. Este tipo de trabalho só pode ser conseguido pela mímesis da produção,<br />

descompromissada com a objetividade da palavra instrumental utilizada pela mímesis da<br />

representação.<br />

O curioso aqui é que pelo fato da mulher estar num lugar verde e ter sido<br />

expressada nas cores que evocam este mesmo tom, faz com que ela desapareça da<br />

imaginação do leitor. Isso certamente já está previsto pelo narrador que a aproxima do<br />

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