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É justamente nesta quebra de expectativa que o olhar do leitor se detém, dada a<br />
desautomatização da série, e ele fica no ar, decepcionado. Para o narrador – o cientista –<br />
aqui “explorador” - não ocupa o topo do saber, não está à altura do mérito que lhe<br />
outorgam. Neste caso, opta por caracterizá-lo com substantivos abstratos, suas ações são<br />
vazias, como vazias são as palavras que as designam e, no ponto de maior intensidade<br />
da frase, intensifica-se a abstração como se o foco narrativo dissesse que, o que para<br />
muitos é tudo, para ele é motivo de estagnação. Note que este termo é pétreo, porque<br />
trava a frase. Foi forçosamente colado aí, mas se tornou fluido e pode permutar sentidos<br />
com “explorador”. Sendo o título substituído uma norma social, e sendo o texto um<br />
lugar de produção de sentido, nada que é afirmado pode ser explicado fora dele. Por isso<br />
o narrador “justifica” sua focalização revolucionária, só que numa outra cena em que<br />
rasura ironicamente o sentido social do amor ao dizer: “[m]as na umidade da floresta<br />
não há desses refinamentos cruéis (...)” (LF, p.85), referindo-se aqui ao amor-troca<br />
burguês. Neste caso todo arranjo social pode sofrer alteração aqui.<br />
É importante compreender que essa focalização “explorador” é feita pelo<br />
narrador 67 , do contrário não se pode compreender o texto. Neste caso ele emite um juízo<br />
de valor sobre o “francês”. Mas neste ponto ainda não é possível saber o que o leva<br />
àquela nomeação. Prosseguindo, o narrador diz que “Marcel Pretre” “topou” (LF, p.77)<br />
com uma tribo de pigmeus e ficou surpreso, e que mais surpreso ficou “ao ser<br />
informado de que menor povo ainda existia” (LF, p.77). No Congo Central “descobriu<br />
realmente os menores pigmeus do mundo” (LF, p. 77).<br />
2. Desagravo: A pulverização do verbo descobrir.<br />
67 Esta distinção encontra-se melhor explicada no Capítulo II.<br />
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