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Tese Lidia Nazaré - UFF

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Além deste aspecto há uma estreita relação entre a engenharia dos textos de<br />

Clarice Lispector e de Franz Kafka. A impossibilidade de articulação da linguagem da<br />

mulher africana - que nem por isso deixa de se comunicar, só que o faz com o corpo –<br />

levou-me a compreensão de que também o macaco “Pedro Vermelho” era incapaz deste<br />

ato, e que, como “Pequena Flor” também se comunica por gestos a que os humanos<br />

atribuem sentidos e por sons desarticulados que promovem sua perda.<br />

As impossibilidades de ambos é um aceno para o fato de que o sentido original<br />

do nome adâmico vem se esvaindo, na medida em que ele vem se convertendo em<br />

discurso para fins de comunicação. Este discurso por sua vez é limitado em sua tentativa<br />

de representar o real “tal qual”. Lembro que ambas as personagens são o mais<br />

primitivas possíveis.<br />

Neste caso, a palavra instrumental, para fins de comunicação, já não apresenta<br />

mais a possibilidade de trazer o objeto nomeado à luz, como ocorreu num primeiro<br />

estágio desta nomeação. Pelo contrário, o uso habitual desta palavra sobrecarrega o que<br />

com ela é nomeado. Tanto “Pequena Flor” quanto “Pedro Vermelho” são achatados<br />

pelos nomes que recebem para serem divulgados, porque seus nomes já possuem um<br />

sentido à priori.<br />

É por este motivo que tanto o narrador/focalizador do conto clariceano como a<br />

narrador/focalizador do conto kafkiano estão em busca de uma “palavra plena” (UMR,<br />

p.64) capaz de esclarecer melhor as informações que desejam comunicar. No primeiro<br />

caso, a informação sobre a descoberta da mulher e, no segundo caso, a informação sobre<br />

a sua captura. Diante desta questão, a impossibilidade de articulação de ambas as<br />

personagens acena para o processo de desautomatização da palavra instrumental que<br />

ambos os escritores operam em seus contos, a fim de mostrar seus “pontos cegos” 5 . De<br />

5 Termo que utilizo, a partir da leitura que faço do conto “Amor” de Laços de família (1960). Neste conto<br />

é um cego que viabiliza o ato de ver da personagem Ana.<br />

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