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o. A cadeia fonética volatiliza-o e eles sobrevivem num frágil estado de dependência um<br />
do outro.<br />
Vê-se então que este tipo de linguagem instrumental está a serviço da ideologia<br />
ao criar esses lugares culturais que preexistem ao sujeito. Espécie de ponto de chegada a<br />
ser alcançado. Os que o alcançam são vencedores do contrário perdedores. As regras<br />
são estabelecidas pelo Sistema de representação. Desestabilizar o signo é desestabilizar<br />
a ideologia que lhe dá vida. É promover um repensar a questão.<br />
Acompanhando o olhar do narrador, compreendo o motivo que o leva a<br />
fragilizar o título “cientista” convertendo-o em substantivo composto e abstrato que<br />
aparece num momento em que o narrador esclarece a respeito do modo como “o<br />
explorador” examinou a sua descoberta. “Foi nesse instante que o explorador, pela<br />
primeira vez desde que a conhecera, em vez de sentir curiosidade ou exaltação ou<br />
vitória ou espírito científico, o explorador sentiu mal-estar” (LF, p.84). Vê-se aqui a<br />
criação de uma cena onde nada acontece. É uma verdadeira mímesis da fluidez da<br />
modernidade. Como se a escritora estivesse realizando uma escrita sobre o nada.<br />
Observo que a gradação aqui “curiosidade, exaltação, vitória” tende à<br />
intensificação, mas “espírito científico” parece deslocado, como se o termo fosse<br />
forçosamente colado aí. Primeiro trata-se de um substantivo composto abstrato<br />
atravancando foneticamente o conjunto construído por substantivos abstratos. Segundo<br />
ele atravanca a intensificação do sentido que se orienta na ordem crescente. Assim<br />
esperaríamos um substantivo mais intenso que “vitória” e o que aparece é “espírito<br />
científico”. Se ele está forçosamente colado aí, precisamos encontrar um lugar no texto<br />
onde ele se acomode com mais propriedade. Este lugar é o lugar do título que já foi<br />
ocupado por “explorador” na primeira frase do conto, como aliás aparece sugerido na<br />
expressão “pela primeira vez”. Parece uma brincadeira de pique de esconder.<br />
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