Tese Lidia Nazaré - UFF

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13.04.2013 Views

aberta, considerando seu alto nível de conotação. Mas, fora o núcleo, “Marcel Pretre”, o restante parece apelido. E de fato é. Ao nos colocar a par da nomeação de “Pequena Flor”, o narrador disse que ele “apelidou-a Pequena Flor” (LF, p.78). Conforme a gramática tradicional, está aqui um nome próprio, porque marcado pelas iniciais maiúsculas. Todavia, o nome próprio não pode ser manipulado, porque traz em si o nome de família. Neste caso “Pequena Flor” é um substantivo comum, um apelido. Pode ser manipulado, desde que seja apresentado de forma discursiva. Vê-se então que o narrador está tecendo uma rede para enredar o nome “Marcel Pretre” seguindo a linha de orientação do próprio Marcel Pretre, ou seja articulando dois lados da linguagem, um flexível outro fixado. Como precisa resguardar o nome próprio utilizar-se-á dos nomes comum que o ladeiam. Esses nomes no referente inicial nada significam, estão ali em estado de sopro. O significado virá de duas formas: da forma grosseira, imediata, forçada, como a repetição dezenove vezes do nome “explorador” e de forma trabalhada, poeticamente, por migração de sentido de outros signos. Assim esses nomes, principalmente o primeiro, vão refletir e refratar todas as cenas do texto que, como no referente, apresentam em seus núcleos o personagem “Marcel Pretre” e “Pequena Flor”, que não se abre ao diálogo, e uma frase designativa “- Você é Pequena Flor” e “Escura como macaco”, proferida por ele, que conflita com os comentários do narrador. No final desta revelação o narrador devolve o nome burguês ao seu lugar de signo, tornando-o inativo na frase. Assim o significado da ação realizada pelo narrador está no próprio signo que desencadeará a referida, ou seja está no nome próprio. Isto porque Clarice Lispector está em busca da “palavra coisa” para fazê-la falar e calar. Além do fato de que ela cria o próprio núcleo do qual jorrará o sentido do seu texto, já 135

que sua escrita não está ancorada num conhecimento histórico. O que me faz entender que estou diante de uma estética de “choque”. Contudo, o narrador não retirou esses nomes comuns do nada. Eles estão aí colocados, em virtude de uma ação de “Marcel Pretre”, a que o narrador já teve acesso, antes de revelá-la ao leitor e com a qual ele não se simpatiza: trata-se do nome designativo e comum com o qual sua descoberta foi nomeada: “Você é Pequena Flor” e “Escura como macaco”. O não se simpatizar aqui, significa que o narrador julgou incoerente a abertura que o nome “Pequena Flor” apresenta e o fechamento da comparação em questão. Dado o seu caráter conotativo, este se abre a inúmeras interpretações. Neste caso são dois os nomes que serão folheados pelo narrador, a fim de construir a sua narrativa e esses dois nomes estão relacionados com as duas margens do texto a que me referi anteriormente, na esteira de Barthes “Marcel Pretre” liga-se à margem mais representativa, a escrita fora de si, com sua linguagem designativa, ideológica, pétrea; “Pequena Flor” liga-se à “outra margem”, mimética, evocativa, sugestiva, alusiva, a escrita em si. Como o nome “Marcel Pretre” é pétreo deve ser resguardado e é, mesmo assim todas as ações a ele relacionadas serão depuradas, descobertas, reveladas. O nome “Pequena Flor” é comum e conotativo, motivo pelo qual pôde ser banalizado por “Marcel Pretre”. Os “apelidos” que o narrador põe no “francês” são resultantes do modo como ele interpreta as ações de “Marcel Pretre” com relação à “Pequena Flor”. Logo tais apelidos são flexíveis, como o dela. Sendo substantivos abstratos, estão à disposição do narrador para receberem novos sentidos, de acordo com seus interesses. É da união desses dois nomes, dessas duas margens do texto, presentes no referente inicial, que 136

que sua escrita não está ancorada num conhecimento histórico. O que me faz entender<br />

que estou diante de uma estética de “choque”.<br />

Contudo, o narrador não retirou esses nomes comuns do nada. Eles estão aí<br />

colocados, em virtude de uma ação de “Marcel Pretre”, a que o narrador já teve acesso,<br />

antes de revelá-la ao leitor e com a qual ele não se simpatiza: trata-se do nome<br />

designativo e comum com o qual sua descoberta foi nomeada: “Você é Pequena Flor” e<br />

“Escura como macaco”. O não se simpatizar aqui, significa que o narrador julgou<br />

incoerente a abertura que o nome “Pequena Flor” apresenta e o fechamento da<br />

comparação em questão. Dado o seu caráter conotativo, este se abre a inúmeras<br />

interpretações.<br />

Neste caso são dois os nomes que serão folheados pelo narrador, a fim de<br />

construir a sua narrativa e esses dois nomes estão relacionados com as duas margens do<br />

texto a que me referi anteriormente, na esteira de Barthes “Marcel Pretre” liga-se à<br />

margem mais representativa, a escrita fora de si, com sua linguagem designativa,<br />

ideológica, pétrea; “Pequena Flor” liga-se à “outra margem”, mimética, evocativa,<br />

sugestiva, alusiva, a escrita em si.<br />

Como o nome “Marcel Pretre” é pétreo deve ser resguardado e é, mesmo assim<br />

todas as ações a ele relacionadas serão depuradas, descobertas, reveladas. O nome<br />

“Pequena Flor” é comum e conotativo, motivo pelo qual pôde ser banalizado por<br />

“Marcel Pretre”. Os “apelidos” que o narrador põe no “francês” são resultantes do modo<br />

como ele interpreta as ações de “Marcel Pretre” com relação à “Pequena Flor”. Logo<br />

tais apelidos são flexíveis, como o dela. Sendo substantivos abstratos, estão à disposição<br />

do narrador para receberem novos sentidos, de acordo com seus interesses. É da união<br />

desses dois nomes, dessas duas margens do texto, presentes no referente inicial, que<br />

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