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Tese Lidia Nazaré - UFF

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margens a que nos referimos na esteira de Barthes e que outros escritores desses<br />

mesmos períodos fizeram como Graciliano Ramos e outros.<br />

Em todos eles “[r]epete-se idêntico privilégio da observação, da objetividade, do<br />

estreitamento das relações entre ficção e ciência” (SÜSSEKIND, 1984, p.88). Neste tipo<br />

de estética, espera-se um narrador que assuma o mesmo status do discurso científico:<br />

imparcialidade, objetividade, racionalidade. Conforme Lígia Chiappini (2001),<br />

Muito comum no século XVIII e no começo do século XIX, o narrador onisciente<br />

intruso saiu de moda a partir da metade desse século, com o predomínio da<br />

‘neutralidade’ naturalista ou com a invenção do indireto livre por Flaubert que preferia<br />

narrar como se não houvesse um narrador conduzindo as ações e as personagens, como<br />

se a história se narrasse a si mesma (CHIAPPINI, 2001, p. 29).<br />

É claro que este tipo de texto reivindica o poder de representar, não deseja ser<br />

contestado e confia no poder de representação da linguagem que o organiza. Clarice<br />

Lispector, entretanto, não acredita que a linguagem representativa, organizada a partir<br />

da rigidez da forma lingüística, da linearidade contrária à simultaneidade do pensamento<br />

seja confiável 52 . Aceitar este narrador significa trabalhar uma narrativa monológica que<br />

não provoca questionamentos. Significa dar-se por satisfeito ou então por vencido em<br />

face deste instrumento, a partir do qual se organiza e se transmite o saber e as ideologias<br />

que sustentam as identidades do indivíduo e da nação.<br />

É justamente por desconfiar desta capacidade que ela transforma tal linguagem<br />

em objeto de reflexão, encenando-a e opta por narrador, ou para o autor implícito<br />

usando uma terminologia de Lefebve (LEFEBVE: apud. CHIAPPINI, 2001, p.22-3) de<br />

terceira pessoa onisciente sim, mas intruso. Por isso ele narra, ao modo do narrador<br />

52 Michel Foulcault afirma que “[o] que distingue a linguagem de todos os outros signos e lhe permite<br />

desempenhar na representação um papel decisivo, não é tanto o facto de ela ser individual ou coletiva,<br />

natural ou arbitrária, mas sim o facto de ela analisar a representação segundo uma ordem necessariamente<br />

sucessiva: os sons, com efeito, não podem representar o pensamento de uma só vez na sua totalidade; é<br />

necessário que o disponha parte por parte, segundo uma ordem linear. Ora, esta é estranha à<br />

representação” (FOULCAULT, 1966, p. 115).<br />

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