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A carta aclara o papel das Ciências e do seu discurso na Europa. Seu<br />
desenvolvimento só veio tornar mais forte o projeto Iluminista que entrou em foco<br />
durante o século XVIII. Seu programa era “o desencantamento do mundo”<br />
(HORKHEIMER & ADORNO, 2006, p. 17), através do “desenvolvimento das formas<br />
racionais de organização social e de modos racionais de pensamento” (HARVEY, 2006,<br />
p.23), prometendo com esta prática “a libertação das irracionalidades do mito, da<br />
religião, da superstição, liberação do uso arbitrário do poder, bem como do lado<br />
sombrio de nossa própria natureza humana” (HARVEY, 2006, p. 23).<br />
Com todas estas prerrogativas prometendo elevar os homens à posição de<br />
senhores, não é difícil compreender o motivo pelo qual a subjetividade e o idealismo<br />
romântico perderam os seus lugares para a objetividade realista 51 , alicerçando suas<br />
obras na pesquisa da realidade observável. A linguagem deveria aproximar-se ao<br />
máximo do real, sem ambigüidades e/ou equívocos, sem a opacidade que garante o<br />
brilho da escrita de Clarice Lispector. O texto está cimentado sobre mímesis da<br />
representação. A literatura se fazia “uma espécie de transparência que queria mostrar ao<br />
leitor, como se ele estivesse in loco, o fartum acre de bestas. E queria desnudar, como<br />
se escrevesse uma tese, a defesa dos excluídos” (HELENA, 2006, p.129).<br />
Do desejo de representar a transparência das misérias do mundo nasce a estética<br />
realista-naturalista na Europa. Como já lembrou Silviano Santiago (1978) e tão bem<br />
Flora Süssekind (1984), a tendência à copia e a crença na capacidade de representação<br />
de tal estética faz com que ela chegue ao Brasil em três momentos: no romance-<br />
reportagem-depoimento de Setenta, no romance dominado pelo fator econômico de<br />
Trinta, e no romance experimental da virada do século XIX para o XX. Ou seja, eles<br />
não conseguiram fazer o corte necessário possível a partir do contato entre as duas<br />
51 O elogio à natureza feita pelos Românticos estava exatamente no fato de ela suscitar a liberdade. O que,<br />
por extensão, aludia à liberdade humana. Liberdades indomadas. A partir do pensamento ilustrado esta<br />
natureza estava ameaçada, seria domada.<br />
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