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Capitães de Areia - Jorge Amado

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Menores Delinquentes e Abandonados<br />

(Publicada na 3º página do Jornal da Tar<strong>de</strong> com um clichê do<br />

reformatório e uma notícia adiantando que na próxima segunda-feira irá<br />

um redator do Jornal da Tar<strong>de</strong> ao reformatório.)<br />

Comentário:<br />

<strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> utiliza o recurso do prólogo para criticar<br />

indiretamente os po<strong>de</strong>rosos por meio da linguagem, examinada em<br />

diferentes níveis. Assim, a escrita redundante, grandiloquente das<br />

autorida<strong>de</strong>s contrasta com a da mulher do povo. Ao mesmo tempo, o<br />

tom da reportagem parece colaborar para a feição realista do<br />

romance, como se o narrador quisesse dar a impressão para o leitor<br />

<strong>de</strong> que o que vai contar é absolutamente verda<strong>de</strong>iro.<br />

PRIMEIRA PARTE: “Sob a lua, num velho trapiche abandonado”,<br />

formada <strong>de</strong> onze capítulos:<br />

• essa parte constitui propriamente a apresentação do<br />

romance, na qual o leitor se <strong>de</strong>para com a biografia das principais<br />

personagens.<br />

SEGUNDA PARTE: “Noite da gran<strong>de</strong> paz, da gran<strong>de</strong> paz dos teus<br />

olhos”, formada <strong>de</strong> oito capítulos:<br />

• essa parte trata mais especificamente da <strong>de</strong>scoberta do<br />

amor por parte <strong>de</strong> Pedro Bala.<br />

TERCEIRA PARTE: “Canção da Bahia, canção da liberda<strong>de</strong>”,<br />

formada <strong>de</strong> oito capítulos:<br />

• essa parte mostra o <strong>de</strong>stino das personagens.<br />

PRIMEIRA PARTE:<br />

Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças<br />

dormem.<br />

Antigamente aqui era o mar. Nas gran<strong>de</strong>s e negras pedras<br />

dos alicerces do trapiche as ondas ora se rebentavam fragorosas,<br />

ora vinham se bater mansamente. A água passava por baixo da<br />

ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por<br />

uma réstia amarela <strong>de</strong> lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros<br />

carregados, alguns eram enormes e pintados <strong>de</strong> estranhas cores,<br />

para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encher os<br />

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⎯ a Dora e o Sem-Pernas morrem, consolidando o que sempre<br />

foram: estrelas agregadoras por conta do amor (Dora) e o ódio<br />

(Sem-Pernas);<br />

⎯ o padre José Pedro vai ser padre <strong>de</strong> paróquia;<br />

⎯ Pedro Bala consolida-se lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalidos...<br />

Em todo caso, porém, como afirma mais uma vez Álvaro<br />

Cardoso Gomes, os <strong>Capitães</strong> da <strong>Areia</strong> são personagens planas, não<br />

nos causam surpresa no <strong>de</strong>correr na narrativa. Em sua<br />

subjetivida<strong>de</strong>, realizam aquilo para o que foram dispostos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

início por suas vocações ou pelos limites <strong>de</strong> seu mundo.<br />

Pedro Bala: chefe dos <strong>Capitães</strong> da <strong>Areia</strong>; respeitado por<br />

todos; filho <strong>de</strong> um doqueiro morto na primeira greve da região; lí<strong>de</strong>r<br />

nato; malandro sensível e bom. Sempre em busca <strong>de</strong> um sentido<br />

para sua existência, acaba <strong>de</strong>scobrindo em suas próprias origens o<br />

pai doqueiro e grevista, um sentido para sua li<strong>de</strong>rança: lutar pelos<br />

oprimidos. O estudante Alberto e o doqueiro João <strong>de</strong> Adão serviram<br />

<strong>de</strong> intermediadores <strong>de</strong>ssa voz do passado que transforma Pedro<br />

Bala, <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> malandros, em lí<strong>de</strong>r político nos movimentos <strong>de</strong><br />

trabalhadores. Bala foi progressivamente formado pela voz, pelo<br />

clamor <strong>de</strong> todos com quem ele conviveu. Sua história é a história <strong>de</strong><br />

todos.<br />

Dora: filha do morro; os pais morreram <strong>de</strong> varíola; sem ter<br />

para on<strong>de</strong> ir, passa a viver com os <strong>Capitães</strong> da <strong>Areia</strong>; sua imagem<br />

varia entre a menina órfã, a pedinte, a prostituta, a irmã, a mãe, a<br />

amada, a noiva e a esposa aos olhos dos <strong>Capitães</strong> da <strong>Areia</strong>. Por fim,<br />

consolida-se estrela... estrela estranha. Mulher <strong>de</strong> coragem.<br />

Sem-Pernas: abandonado, órfão, recalcado por sua<br />

<strong>de</strong>ficiência física, por sua pobreza, por sua revolta. Destila ódio,<br />

muitas vezes sutilizado em brinca<strong>de</strong>iras cruéis e vingativas. É teatral<br />

e picaresco. O<strong>de</strong>ia a todos... porque culpa a todos por suas<br />

carências. Para não ser preso, preferiu se jogar do alto do morro (o<br />

elevador), como um trapezista sem trapézio. O seu drama final.<br />

Professor (João José): era o mais culto do grupo; roubava<br />

e colecionava livros; <strong>de</strong>senhava como ninguém, um dom; tornou-se<br />

pintor no Rio <strong>de</strong> Janeiro, apadrinhado por um pintor carioca ⎯ Dr.<br />

Dantas, o homem da piteira. Suas pinturas retratam a vida dos<br />

<strong>Capitães</strong> da <strong>Areia</strong> e, nesse sentido, reclamam uma relação<br />

intertextual com a própria narrativa <strong>de</strong> que ele faz parte. Não é por<br />

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