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geração e exportação de energia elétrica por usinas ... - Nipe

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GERAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA POR<br />

USINAS SUCROALCOOLEIRAS<br />

GIL MESQUITA DE OLIVEIRA RABELLO QUEIROZ<br />

DIONÍZIO PASCHOARELI JÚNIOR<br />

MAX JOSÉ DE ARAUJO FARIA JÚNIOR<br />

Grupo <strong>de</strong> Pesquisa em Fontes Alternativas e Aproveitamento <strong>de</strong> Energia<br />

UNESP – Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista – DEE – Departamento <strong>de</strong> Engenharia<br />

Elétrica<br />

Av. Brasil, 364 – Caixa Postal 31 – CEP: 15385-000 – Ilha Solteira – SP<br />

Fone: (18) 3743-1150 Fax: (18) 3743-1163 – http://www.<strong>de</strong>e.feis.unesp.br<br />

Resumo: Este artigo apresenta os aspectos técnicos necessários para que uma usina<br />

sucroalcooleira, que possui sistema <strong>de</strong> co<strong>geração</strong>, possa operar como ex<strong>por</strong>tadora <strong>de</strong> <strong>energia</strong><br />

<strong>elétrica</strong>. Discute as a<strong>de</strong>quações e otimizações, no processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> álcool e açúcar, que<br />

pro<strong>por</strong>cionam um aumento no exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong> para <strong>ex<strong>por</strong>tação</strong>. O caso <strong>de</strong> uma<br />

usina sucroalcooleira, operando como uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>geração</strong> term<strong>elétrica</strong> é apresentado, com a<br />

<strong>de</strong>scrição dos componentes necessário para a <strong>geração</strong> e seu acoplamento no sistema interligado<br />

nacional.<br />

Palavras-chave: Co<strong>geração</strong>, <strong>geração</strong> term<strong>elétrica</strong>, <strong>geração</strong> distribuída.<br />

Abstract: This paper presents technical aspects necessary to allow a sugar-cane mill, which<br />

promotes cogeneration, to operate as an electrical energy producer. Changes and optimization in<br />

the process to produce alcohol and sugar-cane, which results in the increase of electrical energy<br />

to ex<strong>por</strong>t are discussed. A case of a sugarcane mill, working as a thermoelectric power plant is<br />

presented. The necessary components to generate energy and to connect the thermoelectric plant<br />

to the main transmission system are <strong>de</strong>scribed.<br />

Key-words: Cogeneration, thermoelectric generation, embed<strong>de</strong>d generation.<br />

1. Introdução<br />

O termo co<strong>geração</strong> possui diferentes <strong>de</strong>finições. Porém, a que melhor i<strong>de</strong>ntifica este processo em<br />

uma usina sucroalcooleira é a produção combinada <strong>de</strong> potência <strong>elétrica</strong> e/ou mecânica e térmica<br />

a partir <strong>de</strong> um mesmo combustível. Nas <strong>usinas</strong> <strong>de</strong> açúcar e álcool, a co<strong>geração</strong> sempre esteve<br />

presente, através da queima <strong>de</strong> bagaço da cana-<strong>de</strong>-açúcar em cal<strong>de</strong>iras, resultando na produção<br />

das <strong>energia</strong>s mecânica e térmica. Porém, sem nenhuma preocupação em fazê-lo <strong>de</strong> forma<br />

eficiente.<br />

Entretanto, a partir da crise que levou ao racionamento <strong>de</strong> <strong>energia</strong> em 2001, o governo brasileiro<br />

implementou novas regras no mercado <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong>. Este fato foi muito im<strong>por</strong>tante para<br />

impulsionar o setor sucroalcooleiro a investir na mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> seus parques industriais, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> torná-los mais eficientes e, assim, comercializar a <strong>energia</strong> exce<strong>de</strong>nte nos leilões <strong>de</strong><br />

<strong>energia</strong>, em programas <strong>de</strong> incentivos como o PROINFA (Programa <strong>de</strong> Incentivo às Fontes<br />

Alternativas <strong>de</strong> Energia) ou até mesmo no mercado livre.<br />

2. Configuração <strong>de</strong> uma Usina Cogeradora <strong>de</strong> Energia Elétrica<br />

No setor sucroalcooleiro, o principal sistema <strong>de</strong> co<strong>geração</strong> é aquele que emprega turbinas a va<strong>por</strong><br />

como máquinas térmicas e que aparece vinculado a três configurações fundamentais: turbinas <strong>de</strong><br />

contrapressão, combinação <strong>de</strong> turbinas <strong>de</strong> contrapressão com outras <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nsação que<br />

empregam o fluxo exce<strong>de</strong>nte e turbinas <strong>de</strong> extração-con<strong>de</strong>nsação. A con<strong>de</strong>nsação <strong>de</strong> uma parte<br />

do va<strong>por</strong> <strong>de</strong> escape, ou <strong>de</strong> uma extração <strong>de</strong> va<strong>por</strong> <strong>de</strong> uma turbina <strong>de</strong> extração-con<strong>de</strong>nsação,<br />

garante as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>energia</strong> térmica do sistema (FIOMARI, 2004).


Em <strong>usinas</strong> que tenham o objetivo <strong>de</strong> comercializar <strong>energia</strong> exce<strong>de</strong>nte, torna-se necessário o<br />

uso <strong>de</strong> turbinas <strong>de</strong> extração-con<strong>de</strong>nsação. Segundo Fiomari (2004), além <strong>de</strong> altos índices <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho, tais máquinas <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nsação com extração regulada se justificam também pela<br />

sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfazer a relação <strong>energia</strong> térmica e <strong>elétrica</strong> que po<strong>de</strong> variar em uma ampla<br />

faixa. Este sistema, com maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>elétrica</strong>, possui normalmente turbinas <strong>de</strong><br />

extração dupla, sendo a primeira, no nível <strong>de</strong> pressão em que o va<strong>por</strong> é requerido pelas turbinas<br />

<strong>de</strong> acionamento mecânico, e a segunda, na pressão em que o va<strong>por</strong> é consumido no processo<br />

produtivo. A Figura 1 ilustra um processo trabalhando em regime <strong>de</strong> co<strong>geração</strong> com o emprego<br />

<strong>de</strong> turbinas <strong>de</strong> extração-con<strong>de</strong>nsação.<br />

.<br />

Fig. 1. Diagrama <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> co<strong>geração</strong> a partir do uso <strong>de</strong> turbinas a va<strong>por</strong> <strong>de</strong><br />

extração-con<strong>de</strong>nsação<br />

Assim, para que se tenha exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong>, <strong>de</strong>ve-se investir em tecnologia,<br />

aumento da eficiência dos equipamentos industriais, redução no consumo <strong>de</strong> va<strong>por</strong> e também em<br />

características da matéria-prima, como o teor <strong>de</strong> fibra da cana-<strong>de</strong>-açúcar.<br />

Uma usina convencional não consegue obter um exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>energia</strong> se não fizer alguma<br />

<strong>de</strong>stas modificações. Rodrigues (2005) analisou a evolução tecnológica das <strong>usinas</strong>,<br />

apresentando quatro cenários diferentes. No cenário 1, foi caracterizada uma instalação típica do<br />

setor sucroalcooleiro que utiliza para queima do bagaço cal<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> baixa eficiência operando<br />

com baixa pressão e baixo aproveitamento térmico. O va<strong>por</strong> gerado <strong>por</strong> estas cal<strong>de</strong>iras é utilizado<br />

em turbinas <strong>de</strong> simples estágio com baixíssima eficiência térmica transformando <strong>energia</strong> térmica<br />

em <strong>energia</strong> mecânica para o acionamento <strong>de</strong> moendas ou transformadas em <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong><br />

através <strong>de</strong> um gerador. Este caso representa as <strong>usinas</strong> mais antigas do país, que estão em<br />

operação há algumas décadas, e que não sofreram nenhum tipo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização no seu parque<br />

industrial. No cenário 2, foi caracterizada a instalação <strong>de</strong> uma cal<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> alta pressão com<br />

eficiência térmica elevada, possibilitando a otimização do uso do combustível. Foi substituído o<br />

turbogerador <strong>de</strong> simples estágio <strong>de</strong> baixa eficiência <strong>por</strong> uma turbina multi-estágio <strong>de</strong><br />

con<strong>de</strong>nsação, que possui baixo consumo específico <strong>de</strong> combustível, possibilitando assim uma<br />

maior <strong>geração</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong> para a mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combustível. Este é o caso das<br />

<strong>usinas</strong> que optaram em fazer um “retrofit” em seu parque industrial. No cenário 3, foram mantidos<br />

os investimentos feitos no cenário 2 e realizado um investimento adicional na substituição das<br />

turbinas do acionamento mecânico <strong>de</strong> picadores, <strong>de</strong>sfibradores e moagem, <strong>por</strong> motores elétricos<br />

<strong>de</strong> alta eficiência e, <strong>de</strong>sta forma, o va<strong>por</strong> antes <strong>de</strong>stinado às turbinas será utilizado ao longo dos<br />

estágios da turbina multi-estágio, possibilitando um maior aproveitamento <strong>de</strong>ste va<strong>por</strong>. Este é<br />

caso das <strong>usinas</strong> que vêem a venda do exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>energia</strong> como uma realida<strong>de</strong>, passando a<br />

ser um terceiro produto das <strong>usinas</strong>, além do açúcar e álcool. Este cenário é aplicado aos<br />

mo<strong>de</strong>rnos projetos das <strong>usinas</strong> sucroalcooleiras que estão sendo construídas na região centro sul<br />

do país. No cenário 4, foram mantidas as alterações do cenário 03 e realizada uma otimização no


consumo <strong>de</strong> va<strong>por</strong> da usina term<strong>elétrica</strong>, agora na linha <strong>de</strong> baixa pressão. Estas melhorias na<br />

redução do consumo <strong>de</strong> va<strong>por</strong> <strong>de</strong> processo causaram uma maximização na <strong>geração</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong><br />

<strong>elétrica</strong>, tendo em vista que toda economia <strong>de</strong>ste va<strong>por</strong> foi aproveitada para maximizar a<br />

con<strong>de</strong>nsação do turbogerador (menor consumo específico) e, conseqüentemente, otimizar a<br />

<strong>geração</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong> da unida<strong>de</strong> term<strong>elétrica</strong>.<br />

Os resultados apresentados mostraram os possíveis ganhos e potenciais <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

<strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong> que po<strong>de</strong>riam ser comercializados em cada uma <strong>de</strong>stas situações. Na Tabela 1,<br />

são apresentados os resultados da simulação <strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> <strong>geração</strong> cada um <strong>de</strong>stes cenários<br />

(RODRIGUES, 2005).<br />

TABELA 1 Quadro comparativo do potencial <strong>de</strong> <strong>geração</strong> e <strong>ex<strong>por</strong>tação</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong><br />

CASO DESCRIÇÃO<br />

GERAÇÃO<br />

kWh/tc<br />

EXPORTAÇÃO<br />

kWh/tc<br />

Conjunto <strong>de</strong> Baixa Eficiência<br />

01 13,0<br />

Térmica<br />

Conjunto <strong>de</strong> Alta Eficiência<br />

02 80,0<br />

Térmica<br />

03 Eletrificação 119,3<br />

04 Melhorias no Processo 130,2<br />

3. Políticas Afirmativas para a Co<strong>geração</strong>: O Protocolo Agroambiental<br />

Além da mo<strong>de</strong>rnização das <strong>usinas</strong> para a ampliação do potencial <strong>de</strong> <strong>geração</strong>, outros fatores<br />

também estão começando a ser utilizados, ou estão em fase final <strong>de</strong> estudo, para que seja<br />

possível um aumento ainda maior da co<strong>geração</strong> nestas <strong>usinas</strong>. Dentre as muitas possibilida<strong>de</strong>s<br />

que estão sendo estudadas, a que já começa a ser implantada é a do uso da palha para aumento<br />

do potencial da co<strong>geração</strong> o que possibilitaria também uma <strong>geração</strong> durante o ano todo.<br />

Os estudos para utilização da palha no processo <strong>de</strong> co<strong>geração</strong> foram intensificados nos últimos<br />

anos, provocados pelas constantes discussões em torno da redução gradativa da queimada da<br />

palha da cana-<strong>de</strong>-açúcar. Particularmente no estado <strong>de</strong> São Paulo, este assunto está bem<br />

avançado, principalmente com a implantação <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong>nominado “Etanol Ver<strong>de</strong>”, on<strong>de</strong><br />

foi firmado um Protocolo Agroambiental pelo Governo do estado <strong>de</strong> São Paulo, pelos Secretários<br />

<strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Meio Ambiente e <strong>de</strong> Agricultura, e pelo presi<strong>de</strong>nte da UNICA (União da Indústria <strong>de</strong><br />

Cana-<strong>de</strong>-Açúcar). O Protocolo visa premiar as boas práticas do setor sucroalcooleiro, através <strong>de</strong><br />

um certificado <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> e outros benefícios. Através <strong>de</strong> sua publicida<strong>de</strong> ao mercado, do<br />

certificado concedido ao produtor e renovável periodicamente, o Protocolo <strong>de</strong>termina um padrão<br />

positivo a ser seguido. Em fase <strong>de</strong> operacionalização e aplicação em larga escala em todo o<br />

estado, o instrumento cobre alguns dos principais pontos <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> impactos da cultura,<br />

como a antecipação dos prazos <strong>de</strong> eliminação da queima da palha da cana, a proteção <strong>de</strong><br />

nascentes e dos remanescentes florestais, o controle das erosões e o a<strong>de</strong>quado gerenciamento<br />

das embalagens <strong>de</strong> agrotóxicos.<br />

Entre as principais diretrizes <strong>de</strong>ste protocolo estão a antecipação do prazo final da queima da<br />

palha <strong>de</strong> cana, em terrenos com inclinação até 12%, <strong>de</strong> 2021 para 2014. Em terrenos on<strong>de</strong> a<br />

inclinação seja superior a 12%, esta antecipação será <strong>de</strong> 2031 para 2017.<br />

A partir <strong>de</strong>stas diretrizes, os estudos em torno do aproveitamento da palha se intensificaram,<br />

i<strong>de</strong>ntificando um outro potencial <strong>de</strong> combustível para a <strong>geração</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong>. Logo<br />

começaram os esforços para tornar possível a recuperação da palha <strong>de</strong>ixada no campo. Contudo,<br />

as tecnologias das colhedoras aplicadas anteriormente no setor ainda não permitiam a<br />

mecanização total da colheita, principalmente pelas características topográficas dos terrenos,<br />

varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e excesso <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra disponível. Atualmente, os<br />

investimentos para recuperação da palha <strong>de</strong>ixada no campo estão cada vez mais intensos,<br />

visando, além <strong>de</strong> uma melhor produtivida<strong>de</strong>, a utilização da palha, juntamente com o bagaço, na<br />

produção <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong>, aumentando a potencialida<strong>de</strong> da venda <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>energia</strong><br />

<strong>elétrica</strong> (ANDRADE & CANELLAS, 2007). Segundo Silvestrim (2007), com o uso da palha,<br />

-<br />

65,2<br />

90,5<br />

101,5


combinado ao bagaço disponíveis para co<strong>geração</strong>, seria possível dobrar o potencial <strong>de</strong> <strong>geração</strong><br />

das <strong>usinas</strong> em um horizonte <strong>de</strong> 6 anos. Para realização <strong>de</strong>ste calculo, foi estimado o uso <strong>de</strong> 75%<br />

<strong>de</strong> bagaço e 50% <strong>de</strong> palha. Os resultados po<strong>de</strong>m ser verificados na Tabela 2.<br />

TABELA 2 Expansão da Bioeletricida<strong>de</strong> no Brasil com o uso da palha<br />

Obs: valores acima, levantamento feito para produção <strong>de</strong> cana, bagaço e palha estão em milhões<br />

<strong>de</strong> toneladas<br />

A <strong>geração</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong> através do bagaço não é consi<strong>de</strong>rada <strong>energia</strong> firme <strong>por</strong> ser uma<br />

<strong>geração</strong>, em sua gran<strong>de</strong> maioria, <strong>de</strong> forma sazonal, ou seja, apenas no período <strong>de</strong> safra. A partir<br />

<strong>de</strong>ste cenário, houve um aumento na procura <strong>de</strong> recursos para a co<strong>geração</strong> na entresafra.<br />

Utilizando-se a mesma tecnologia da safra, são possíveis outras soluções, a partir da queima <strong>de</strong><br />

outros combustíveis, como resíduos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, palha, e combustíveis fósseis, durante a<br />

entresafra. A <strong>geração</strong> na entresafra normalmente é estudada para as <strong>usinas</strong> mais eficientes e que<br />

tenham a venda <strong>de</strong> <strong>energia</strong> exce<strong>de</strong>nte como um <strong>de</strong> seus produtos. Dentre os combustíveis<br />

fósseis com maior possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização para a <strong>geração</strong> no período da entresafra <strong>de</strong>stacamse<br />

o carvão e o óleo combustível, <strong>de</strong>vido a sua adaptação ao sistema original (ANDRADE &<br />

CANELLAS,2007).<br />

Segundo Andra<strong>de</strong> & Canellas (2007), seja qual for o novo combustível utilizado, as cal<strong>de</strong>iras<br />

<strong>de</strong>verão sofrer algumas modificações em seus projetos originais para que sejam adaptadas e<br />

assim possam receber este combustível complementar e produzirem no período <strong>de</strong> entresafra,<br />

sem que seja prejudicada sua operação durante o período <strong>de</strong> safra.<br />

4. O Sistema Elétrico <strong>de</strong> uma Usina Term<strong>elétrica</strong> à Biomassa <strong>de</strong> Cana<strong>de</strong>-açúcar<br />

Uma unida<strong>de</strong> term<strong>elétrica</strong> a bagaço <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, que tenha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>ex<strong>por</strong>tação</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>energia</strong>, é composta <strong>de</strong> vários sistemas, como a cal<strong>de</strong>ira, a turbina, o gerador elétrico, a<br />

subestação elevatória e o sistema <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> <strong>energia</strong>. A cal<strong>de</strong>ira é conhecida como<br />

gerador <strong>de</strong> va<strong>por</strong>, pois é o equipamento que fornece o va<strong>por</strong> necessário para movimentação das<br />

palhetas da turbina. Esta turbina estará acoplada a um gerador que irá produzir a <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong><br />

em média tensão. Geralmente, esta <strong>energia</strong> é elevada em uma subestação para tensões <strong>de</strong> 138<br />

kV, 69 kV ou ainda 34,5 kV (menos usual), para ser transmitida <strong>por</strong> uma linha <strong>de</strong> transmissão até<br />

o ponto <strong>de</strong> conexão, on<strong>de</strong> passará a fazer parte do sistema elétrico nacional – SIN. Esta conexão<br />

po<strong>de</strong> ser através <strong>de</strong> um seccionamento <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> transmissão, conexão radial em uma outra<br />

subestação, ou mesmo uma <strong>de</strong>rivação em alguma linha <strong>de</strong> transmissão.<br />

Ainda fazem parte <strong>de</strong>sta composição uma série <strong>de</strong> conjuntos periféricos, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

alimentação da cal<strong>de</strong>ira com o combustível (bagaço <strong>de</strong> cana), até o sistema <strong>de</strong> refri<strong>geração</strong> dos<br />

mancais do turbogerador, sistema captação <strong>de</strong> água, etc.<br />

Atualmente, muitas <strong>usinas</strong> têm feito mudanças no seu sistema <strong>de</strong> moagem, substituindo turbinas<br />

a va<strong>por</strong> <strong>por</strong> motores elétricos, <strong>de</strong>vido ao ganho no potencial <strong>de</strong> co<strong>geração</strong>.<br />

A configuração básica <strong>de</strong> uma UTE à bagaço <strong>de</strong> cana, é ilustrada na Figura 2.


cana-<strong>de</strong>-açúcar<br />

<strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong><br />

<strong>energia</strong><br />

<strong>elétrica</strong><br />

bagaço<br />

<strong>energia</strong><br />

<strong>elétrica</strong><br />

Energia<br />

Elét rica<br />

va<strong>por</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong><br />

va<strong>por</strong><br />

<strong>energia</strong><br />

<strong>elétrica</strong><br />

Fig. 2. Configuração básica <strong>de</strong> uma UTE à bagaço <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar.<br />

5. Projeto Eficiente <strong>de</strong> Co<strong>geração</strong> – O Caso da UTE Pioneiros<br />

Para ilustrar um projeto eficiente <strong>de</strong> co<strong>geração</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong>, é utilizado o caso da Unida<strong>de</strong><br />

Term<strong>elétrica</strong> da Usina Pioneiros (UTE Pioneiros), localizada no município <strong>de</strong> Sud Mennucci (SP),<br />

que iniciou sua operação comercial em maio do 2006. É consi<strong>de</strong>rado o projeto mais eficiente <strong>de</strong><br />

todo o setor sucroalcooleiro, <strong>de</strong>vido ao aproveitamento <strong>de</strong> forma eficiente do va<strong>por</strong> produzido.<br />

Outro ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque é que este projeto foi o primeiro do Brasil a operar com o acionamento<br />

<strong>de</strong> preparo e moagem <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar totalmente eletrificado.<br />

Os principais sistemas que compõem a configuração da UTE Pioneiros são: uma linha <strong>de</strong><br />

transmissão <strong>de</strong> 138 kV, subestação elevatória 13,8/138 kV, um conjunto <strong>de</strong> turbogeradores e<br />

cal<strong>de</strong>ira. Além dos sistemas principais da UTE, também se <strong>de</strong>stacam o sistema eletrificado <strong>de</strong><br />

moagem da cana-<strong>de</strong>-açúcar e a distribuição <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>elétrica</strong> da usina, abrangendo outros<br />

setores ligados a produção <strong>de</strong> açúcar e álcool.<br />

5.1 Linha <strong>de</strong> Transmissão <strong>de</strong> 138 kV<br />

A linha <strong>de</strong> transmissão da UTE Pioneiros promove sua conexão com o sistema interligado<br />

nacional. Possui uma extensão <strong>de</strong> aproximadamente 21 km, sendo sua <strong>energia</strong> transmitida em<br />

tensão <strong>de</strong> 138 kV, com uma conexão do tipo <strong>de</strong>rivação em tap simples na Linha <strong>de</strong> Transmissão<br />

Ilha Solteira – Jales, através <strong>de</strong> uma chave seccionadora manual, <strong>de</strong> abertura centralizada. Esta<br />

linha é composta <strong>de</strong> 46 estruturas metálicas e 47 estruturas <strong>de</strong> concreto. O seu traçado é<br />

relativamente simples, passando em sua gran<strong>de</strong> maioria <strong>por</strong> terrenos planos, sem impactos<br />

ambientais, com alguns cruzamentos com re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição básica <strong>de</strong> 13,8 kV, cruzamentos<br />

com rodovias (SP 310) e também cruzamento com duas linhas <strong>de</strong> transmissão 440 kV. Apesar da<br />

linha tronco ser em circuito duplo, o ramal da UTE é em circuito simples. Porém, as estruturas já<br />

estão preparadas para circuito duplo. Futuramente, <strong>de</strong>verá ser ampliada sua co<strong>geração</strong>, sendo<br />

necessário apenas o lançamento do segundo circuito para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s. Na Figura 3,<br />

é ilustrado a situação atual da linha <strong>de</strong> transmissão Ilha Solteira – Jales.


Fig. 3. Diagrama unifilar do subsistema Ilha Solteira - Jales 138 kV<br />

A linha <strong>de</strong> transmissão Ilha Solteira – Jales 138 kV, e as subestações conectadas nela, <strong>de</strong>verão<br />

sofrer, nos próximos anos, algumas inclusões (UTE Pioneiros II e UTE Vale do Paraná) e<br />

ampliações da <strong>geração</strong> <strong>de</strong> term<strong>elétrica</strong>s a biomassa <strong>de</strong> cana (UTE Pioneiros I e UTE Interlagos),<br />

o que po<strong>de</strong> causar uma série <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>s do sistema. O plano <strong>de</strong> expansão da<br />

concessionária proprietária <strong>de</strong>sta Linha Transmissão Ilha Solteira – Jales prevê uma<br />

recapacitação da mesma a partir <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2008.<br />

5.2 Subestação 13,8/138 kV da UTE<br />

A UTE possui um 1 bay <strong>de</strong> entrada da Subestação elevatória <strong>de</strong> 13,8/138 kV, composta dos<br />

seguintes equipamentos: conjunto <strong>de</strong> pára-raios entrada, chave seccionadora com lâmina terra,<br />

disjuntor principal 138 kV SF6, conjunto <strong>de</strong> TP e TC 138 kV, transformador <strong>de</strong> força 1x25/31,25<br />

MVA, sistema <strong>de</strong> medição e sistema <strong>de</strong> proteção composto <strong>por</strong> um conjunto <strong>de</strong> relés (proteção<br />

<strong>de</strong> linha principal e retaguarda, proteção sobrecorrente e proteção diferencial do transformador).<br />

O projeto <strong>de</strong> expansão da <strong>geração</strong> da UTE prevê a instalação <strong>de</strong> um segundo bay, com as<br />

mesmas características. Para entrada em operação comercial, foi assinado o “Acordo Operativo”<br />

entre a UTE Pioneiros (proprietária SE 138 kV), Elektro (concessionária <strong>de</strong> distribuição <strong>energia</strong>) e<br />

CTEEP (proprietária da Linha <strong>de</strong> Transmissão Ilha Solteira-Jales). Neste “Acordo Operativo”,<br />

foram <strong>de</strong>scritos todos os procedimentos <strong>de</strong> operação normais e <strong>de</strong> emergência na subestação e<br />

linha <strong>de</strong> transmissão e também as tratativas entre as partes, quando ocorrer algum tipo <strong>de</strong><br />

intervenção no sistema, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantir a segurança operativa do pessoal,<br />

equipamentos e instalações envolvidas.<br />

5.3 Turbogeradores<br />

A UTE possui licença <strong>de</strong> instalação para 64 MW <strong>de</strong> potência, sendo que, atualmente, possui<br />

instalado 42 MW, divididos em um turbogerador <strong>de</strong> 32 MW e outro turbogerador 10 MW. As<br />

principais diferenças entre os turbogeradores está na concepção da turbina, ou seja, tem-se uma<br />

turbina <strong>de</strong> alta eficiência, com extração controlada e con<strong>de</strong>nsação, acionando um gerador <strong>de</strong> 32<br />

MW, e outra turbina, <strong>de</strong> 10 MW <strong>de</strong> contrapressão, acionando um gerador <strong>de</strong> 10 MW. As principais<br />

características dos conjuntos turbogeradores po<strong>de</strong>m ser verificadas na Tabela 3.


TABELA 3 Características dos turbogeradores UTE<br />

CARACTERISTICAS TURBOGERADORES<br />

TURBINA A VAPOR TG 01 TG 02 Unida<strong>de</strong><br />

Fabricante Siemens/ Alstom TGM<br />

Mo<strong>de</strong>lo VE32 TM15000<br />

Sistema <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nção sim não<br />

Potencia Bornes Gerador * 32400 12100 KW<br />

Pressão Va<strong>por</strong> Entrada 70 70 kgf/cm2<br />

Temperatura Va<strong>por</strong> 530 530 ºC<br />

Vazão va<strong>por</strong> entrada 128000 67500 kg/h<br />

consumo específico 4,5 5,57 kg/KWh<br />

GERADOR ELÉTRICO TG 01 TG 02 Unida<strong>de</strong><br />

Fabricante Alstom WEG<br />

Potencia Nominal 40.000 12.500 kVA<br />

Número <strong>de</strong> Polos 4 4<br />

Tensão Nominal 13.800 13.800 V<br />

Frequencia Nominal 60 60 Hz<br />

Corrente Nominal 1.673 523 A<br />

Fator <strong>de</strong> Potencia 0,80 0,8<br />

Tipo Excitação brushless brushless<br />

Contrato venda <strong>energia</strong> PROINFA não<br />

* potencia consi<strong>de</strong>rada no ponto <strong>de</strong> operação<br />

Complementando o conjunto <strong>de</strong> turbogeradores, existem os painéis <strong>de</strong> manobra dos geradores,<br />

proteção e excitação, painéis <strong>de</strong> surto e neutro, painel <strong>de</strong> acionamento da turbina, painel <strong>de</strong><br />

sincronismo e painel <strong>de</strong> <strong>ex<strong>por</strong>tação</strong>, além do sistema auxiliar que com<strong>por</strong>ta um gerador a diesel,<br />

sistema <strong>de</strong> retificador e banco <strong>de</strong> baterias, sistema <strong>de</strong> óleo e refri<strong>geração</strong>. Todos os sistemas<br />

mencionados anteriormente estão automatizados. O sistema <strong>de</strong> controle <strong>de</strong>stes turbogeradores é<br />

formado <strong>por</strong> equipamentos que trabalham <strong>de</strong> forma coor<strong>de</strong>nada utilizando a filosofia mestreescravo.<br />

O primeiro equipamento <strong>de</strong>ste sistema <strong>de</strong> controle é um conversor que recebe impulsos<br />

elétricos e o transforma em pressão <strong>de</strong> óleo para abertura da válvula <strong>de</strong> admissão do va<strong>por</strong>.<br />

Outro conversor atua no controle da válvula <strong>de</strong> extração do va<strong>por</strong> <strong>de</strong> escape. Este conversor<br />

recebe sinal proveniente do regulador <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> da turbina, que tem a função <strong>de</strong> controle da<br />

turbina. Após a turbina entrar em rotação nominal, existe um equipamento, no sistema <strong>de</strong><br />

controle, responsável pela sincronização do gerador na barra. A partir daí, todo o controle do<br />

gerador é feito neste equipamento que, ao receber um comando <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> <strong>energia</strong> ativa,<br />

emite um sinal para o regulador da turbina que, <strong>por</strong> sua vez, atua no conversor que, ao atuar na<br />

válvula <strong>de</strong> admissão, aumenta a entrada <strong>de</strong> va<strong>por</strong> na máquina.<br />

5.4 Cal<strong>de</strong>iras<br />

Para funcionamento da UTE, foi instalada uma cal<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> alta eficiência com alta pressão e<br />

temperatura, do tipo aquatubular, com dois balões, capacida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> va<strong>por</strong> <strong>de</strong><br />

150 T/h, a uma pressão <strong>de</strong> 70 kgf/cm2 e temperatura <strong>de</strong> 530ºC. A temperatura da água <strong>de</strong><br />

alimentação da cal<strong>de</strong>ira é <strong>de</strong> 105 ºC. A temperatura <strong>de</strong> saída dos gases <strong>de</strong> combustão é <strong>de</strong> 180<br />

ºC, sendo que os mesmos, antes <strong>de</strong> serem liberados para atmosferas, passam <strong>por</strong> um lavador <strong>de</strong><br />

gases, com o objetivo <strong>de</strong> reter o material particulado. Esta cal<strong>de</strong>ira encontra-se, atualmente, no<br />

seu limite máximo. Ou seja, quando for instalado outro turbogerador, <strong>de</strong>verá ser instalada também<br />

uma outra cal<strong>de</strong>ira. Assim como no caso dos turbogeradores, uma série <strong>de</strong> sistemas auxiliares<br />

fazem parte do sistema <strong>de</strong> <strong>geração</strong> <strong>de</strong> va<strong>por</strong>, como esteiras metálicas para trans<strong>por</strong>te do<br />

combustível (bagaço), sistema <strong>de</strong> alimentação <strong>de</strong> água, sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>smineralização <strong>de</strong> água,<br />

etc.<br />

5.5 Eletrificação da Moenda<br />

O processo <strong>de</strong> acionamento elétrico da moenda da UTE foi instalado em fevereiro <strong>de</strong> 2006, sendo<br />

iniciada sua operação em abril do mesmo ano. O sistema <strong>de</strong> moagem da cana-<strong>de</strong>-açúcar na


Usina Pioneiros foi o primeiro a operar totalmente eletrificado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o preparo da cana (picador<br />

nivelador, picador e <strong>de</strong>sfibralador), até a moagem (1º ao 6º ternos).<br />

Conforme Rodrigues (2005), ao substituir o acionamento convencional a va<strong>por</strong> <strong>por</strong> acionamento<br />

elétricos, obtém-se um ganho no potencial <strong>de</strong> <strong>ex<strong>por</strong>tação</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong>, <strong>de</strong>vido ao aumento da<br />

eficiência no acionamento da moenda, além da utilização do va<strong>por</strong> em turbinas <strong>de</strong> alta eficiência.<br />

Este aumento, <strong>de</strong> aproximadamente 23%, elevou o montante da <strong>energia</strong> gerada, <strong>de</strong> 81.125<br />

MWh/ano (previsto em contrato PROINFA) para aproximadamente 100.000 MWh/ano.<br />

A filosofia adotada neste projeto <strong>de</strong> eletrificação do sistema <strong>de</strong> moagem <strong>de</strong> cana foi a instalação<br />

<strong>de</strong> motores <strong>de</strong> media tensão (13,8 kV) para o preparo <strong>de</strong> cana, com sistema <strong>de</strong> acionamento<br />

realizado a partir <strong>de</strong> partida direta. O acionamento dos ternos é feito <strong>de</strong> forma única, centralizada,<br />

sendo provido <strong>de</strong> um motor elétrico, cujo acionamento é realizado <strong>por</strong> inversores <strong>de</strong> freqüência,<br />

com uma tensão <strong>de</strong> saída <strong>de</strong> 690 V, operando <strong>de</strong> forma individualizada.<br />

5.6 Distribuição interna e <strong>energia</strong> – circuito <strong>de</strong> 13,8 kV<br />

Com a implantação da UTE e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>geração</strong> em níveis <strong>de</strong> tensão mais elevados, toda<br />

a distribuição interna <strong>de</strong> <strong>energia</strong>, que antes era feita em baixa tensão (440 V), foi substituída <strong>por</strong><br />

uma distribuição em média tensão (13,8 kV). Com isso, os centro <strong>de</strong> comandos <strong>de</strong> motores<br />

(CCM´s) transformaram-se em verda<strong>de</strong>iras subestações unitárias <strong>de</strong> <strong>energia</strong>, sendo composto,<br />

basicamente, <strong>de</strong> um painel <strong>de</strong> proteção/seccionamento, transformadores e o próprio CCM. Na<br />

usina, têm-se, instaladas, as subestações unitárias da cal<strong>de</strong>ira, os serviços auxiliares da casa <strong>de</strong><br />

força, o sistema <strong>de</strong> refri<strong>geração</strong> a água (spray), a fábrica <strong>de</strong> açúcar, o preparo <strong>de</strong><br />

caldo/fermentação e a moenda. Cada uma <strong>de</strong>stas subestações unitárias é energizada <strong>por</strong> um<br />

alimentador exclusivo, que tem origem no barramento principal da casa <strong>de</strong> força. Além das<br />

subestações unitárias, existe também um alimentador que energiza uma re<strong>de</strong> primária <strong>de</strong><br />

distribuição interna, que interliga os pontos mais distantes da usina, como captação <strong>de</strong> água e os<br />

prédios administrativos e <strong>de</strong> apoio. Na Figura 4, é ilustrado o diagrama unifilar simplificado da<br />

distribuição interna da UTE.<br />

Fig. 4. Diagrama unifilar simplificado da UTE


5.7 Consumo <strong>de</strong> <strong>energia</strong> da UTE<br />

No projeto da UTE, também foi instalado um sistema <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> <strong>energia</strong> e controle <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>manda. Este sistema é capaz <strong>de</strong> quantificar o montante <strong>de</strong> <strong>energia</strong> consumida pelos principais<br />

processos da usina, servindo também para i<strong>de</strong>ntificar a evolução do consumo <strong>de</strong> <strong>energia</strong> <strong>de</strong> cada<br />

um <strong>de</strong>les. Através dos dados armazenados neste sistema, foram levantados o perfil <strong>de</strong> <strong>geração</strong> e<br />

consumo nos dois primeiros anos <strong>de</strong> operação da UTE. Os dados apresentados na Figura 5<br />

foram obtidos através do software <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> <strong>energia</strong> da UTE.<br />

25000<br />

20000<br />

15300 16063 15000<br />

14616<br />

10000<br />

5000<br />

2651<br />

8081<br />

16418 15727<br />

14958 15338 15294<br />

13533<br />

0<br />

0 0 -142<br />

set/ 06 out/06 nov/06 <strong>de</strong>z/ 06 jan/ 07 fev/ 07 mar/ 07 abr/ 07 mai/ 07 jun/ 07 jul/ 07 ago/ 07 set/07 out/ 07 nov/ 07<br />

-5000<br />

Perfil Geração e Consumo Energia<br />

9588<br />

Energia Ex<strong>por</strong>tada (MWh)<br />

Energia Consumida (MWh)<br />

Fig. 5. Perfil <strong>de</strong> <strong>geração</strong> e consumo da UTE.<br />

Segundo po<strong>de</strong>-se analisar pelo gráfico da Figura 6, no período compreen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

2006 à novembro <strong>de</strong> 2007, o volume total <strong>de</strong> <strong>energia</strong> gerada pelos dois turbogeradoes foi <strong>de</strong><br />

aproximadamente 226.000 MWh, sendo que 65.500 MWh correspon<strong>de</strong>u ao consumo total do<br />

processo durante este período. Ou seja, aproximadamente 29% do total gerado é consumido<br />

internamente e o restante, 160.500MWh, estaria disponível para ser ex<strong>por</strong>tado aten<strong>de</strong>ndo ao<br />

contrato PROINFA (turbogerador 32 MW). Como se po<strong>de</strong> perceber, pela variação na <strong>energia</strong><br />

produzida ao longo dos meses, é difícil que uma usina term<strong>elétrica</strong> a bagaço <strong>de</strong> cana mantenha<br />

sua <strong>geração</strong> constante durante o período <strong>de</strong> safra, como alguns agentes <strong>de</strong> distribuição gostariam<br />

que fosse, pois o processo <strong>de</strong> <strong>geração</strong> está atrelado a outro processo <strong>de</strong> produção, estando<br />

sujeito a diversos tipos <strong>de</strong> problemas, como quebra <strong>de</strong> equipamentos, falta <strong>de</strong> matéria prima<br />

<strong>de</strong>vido às chuvas, variações no mix <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> açúcar e álcool, problemas <strong>de</strong> conexão, etc.<br />

Devido a sua característica sazonal, a <strong>geração</strong> em <strong>usinas</strong> term<strong>elétrica</strong>s a biomassa <strong>de</strong> cana<br />

possui seu potencial máximo <strong>de</strong> <strong>geração</strong> nos meses <strong>de</strong> junho a outubro, ou seja, no período seco,<br />

época em que os reservatórios <strong>de</strong> água das <strong>usinas</strong> hidr<strong>elétrica</strong> estão em seus níveis mais baixos.<br />

Portanto, seria muito interessante uma complementação das fontes renováveis <strong>de</strong> PCH´s e<br />

term<strong>elétrica</strong>s durante o ano, <strong>de</strong>spachando a <strong>geração</strong> <strong>de</strong> PCH´s durante o período úmido (quando<br />

as term<strong>elétrica</strong>s a biomassa estarão no período da entresafra na região centro-sul).<br />

Do perfil <strong>de</strong> consumo medido po<strong>de</strong>-se verificar que, a partir da eletrificação do processo <strong>de</strong><br />

preparo e moagem, este passou a ser o setor <strong>de</strong> maior consumo na usina, seguido dos setores <strong>de</strong><br />

cal<strong>de</strong>ira, spray e <strong>de</strong>stilaria/fábrica <strong>de</strong> açúcar. O gráfico da Figura 6 mostra o percentual<br />

correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> cada setor da usina.


Fig. 6. Perfil <strong>de</strong> consumo dividido percentualmente entre os setores da usina<br />

A partir das medições verificadas, e conhecendo o perfil <strong>de</strong> consumo e sua representativida<strong>de</strong> no<br />

montante total, é possível ainda obter uma redução <strong>de</strong> consumo interno com alguns investimentos<br />

que pro<strong>por</strong>cionem um aumento na eficiência e produtivida<strong>de</strong> do projeto. O primeiro <strong>de</strong>les, e o<br />

principal, é o investimento na redução do consumo <strong>de</strong> va<strong>por</strong> interno do processo. Outros<br />

investimentos po<strong>de</strong>riam ser feitos também como a substituição dos motores industriais antigos e<br />

<strong>de</strong> baixa eficiência <strong>por</strong> motores novos e mais eficientes, comercialmente conhecidos como<br />

motores <strong>de</strong> alto rendimento, além <strong>de</strong> investimentos que insiram a variação <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> no<br />

controle <strong>de</strong> vazão e pressão.<br />

6. Conclusões<br />

A co<strong>geração</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong> é um processo há muito tempo utilizado pelas <strong>usinas</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

álcool e açúcar. Entretanto, com a abertura do setor elétrico brasileiro e com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comercialização da <strong>energia</strong> produzida <strong>por</strong> produtores in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, a <strong>geração</strong> <strong>de</strong> <strong>energia</strong><br />

<strong>elétrica</strong> passou a ser vista como um produto adicional para o setor sucroalcooleiro. Entretanto,<br />

para que uma usina sucroalcooleira possa efetivamente operar como uma ex<strong>por</strong>tadora <strong>de</strong><br />

<strong>energia</strong>, são necessárias diversas a<strong>de</strong>quações na planta e otimização no processo <strong>de</strong> produção,<br />

para que haja uma sobra <strong>de</strong> va<strong>por</strong> e <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> biomassa, a serem transformados em <strong>energia</strong><br />

<strong>elétrica</strong>. Além disso, a planta <strong>de</strong>ve ser preparada para operar como uma usina term<strong>elétrica</strong>, já que<br />

a <strong>energia</strong> passa a ser mais um <strong>de</strong> seus produtos comercializado, sob rígidas regras contratuais. A<br />

conexão da usina term<strong>elétrica</strong> no sistema interligado nacional é outro aspecto a ser consi<strong>de</strong>rado,<br />

já que esta é a única maneira <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a <strong>ex<strong>por</strong>tação</strong> da <strong>energia</strong> produzida.<br />

7. Referências Bibliográficas<br />

Andra<strong>de</strong> & Canellas, 2007, “Geração <strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> a Partir <strong>de</strong> Biomassa e Biogás” relatório<br />

técnico n. A&C – R – 0030/07, apresentado a Comissão Especial <strong>de</strong> Bio<strong>energia</strong> do governo<br />

do estado <strong>de</strong> São Paulo. São Paulo – SP, p. 26 – 52, 2007.<br />

Fiomari, M. C., 2004, “Análise Energética E Exergética De Uma Usina Sucroalcooleira Do Oeste<br />

Paulista Com Sistema <strong>de</strong> Co<strong>geração</strong> De Energia Em Expansão”, Dissertação <strong>de</strong> Mestrado<br />

apresentada a FEIS/UNESP. Ilha Solteira, p. 15 – 28, 2004.<br />

Rodrigues, L. G. S., 2005, “Análise Energética <strong>de</strong> Diferentes Sistemas <strong>de</strong> Co<strong>geração</strong> com Bagaço<br />

<strong>de</strong> Cana-<strong>de</strong>-Açúcar”, Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresentada ä FEIS/UNESP. Ilha Solteira –<br />

SP, p. 70 – 103, 2005.<br />

Silvestrim, C. R., “Bioeletricida<strong>de</strong> Desafios e O<strong>por</strong>tunida<strong>de</strong>s”, apresentação feita no 8º Encontro<br />

<strong>de</strong> Negócios <strong>de</strong> Energia, 2007.<br />

UNICA – União da Agroindústria Canavieira, 2007, “Geração Térmica – BIOELETRICIDADE”<br />

apresentação feita a Comissão <strong>de</strong> Minas e Energia da Câmara dos Deputados, 2007.

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