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dentro de um sist<strong>em</strong>a de agenciamento de alturas e durações já<br />
compartilhado, como o caso <strong>da</strong> tonali<strong>da</strong>de, mesmo alí o compositor<br />
constrói uma escuta, e é necessário que ele a torne sensível, que<br />
ela torne audível. É assim que <strong>em</strong> Ressonâncias, não se assumindo<br />
uma tonali<strong>da</strong>de ou atonali<strong>da</strong>de, ou mesmo uma pantonali<strong>da</strong>de,<br />
observa-se no lugar delas uma tendência. A peça ensina passo-apasso<br />
as suas estratégias de manter os sons reunidos e de eles<br />
dizer<strong>em</strong>-se numa mesma peça. É assim que certos intervalos são<br />
privilegiados, que algumas seqüências de alturas, alguns gestos,<br />
algumas aglutinações, certas regiões do piano, tudo isto vai<br />
ganhando lentamente lugar dentro do fluxo de sonori<strong>da</strong>des<br />
enquanto articulador deste fluxo. Ou seja, não é um sist<strong>em</strong>a prévio<br />
que me faz ouvir esta música, mas uma forma que nasce e que se<br />
mostra nascendo.<br />
Forma que nasce. Paul Klee nos fala <strong>em</strong> diversos de seus<br />
apontamentos de aula na idéia de mise-en-forme. Liberados dos<br />
sist<strong>em</strong>as tradicionais, liberados <strong>da</strong> referenciali<strong>da</strong>de, o que t<strong>em</strong>os<br />
de proceder são mises-en-forme, estratégias de compor que acab<strong>em</strong><br />
contando a história de sua própria gênese passo-a-passo. 2 Neste<br />
sentido vale adiantar que as estratégias de Ressonâncias<br />
distingu<strong>em</strong>-se <strong>da</strong>quelas de Instantes de Willy Corrêa de Oliveira e<br />
também <strong>da</strong>s utiliza<strong>da</strong>s por Guilherme Nascimento <strong>em</strong> Os abacaxis<br />
não voam que serão analisa<strong>da</strong>s mais adiante. As três peças<br />
possu<strong>em</strong> alguns pontos de encontro, porém ca<strong>da</strong> uma conta um<br />
lugar diferente. Quanto às duas primeiras, apresentam-se numa<br />
seqüência escalar de notas (ora lenta, ora rápi<strong>da</strong>) varrendo grave<br />
agudo, uma imag<strong>em</strong> que Willy Corrêa costuma associar à imag<strong>em</strong><br />
do colar que se arrebenta deixando suas contas correr<strong>em</strong> soltas<br />
pelo chão. Mas veja-se que <strong>em</strong> Willy o que t<strong>em</strong>os não parece<br />
concebido passo-a-passo, apresenta-se de chofre: uma série de<br />
notas encadea<strong>da</strong>s <strong>em</strong> uma métrica isócrona carrega<strong>da</strong>s por uma<br />
seqüência de notas acentu<strong>da</strong><strong>da</strong>s e sustenta<strong>da</strong>s, sobre as quais<br />
estão liga<strong>da</strong>s seqüências escalares, s<strong>em</strong>i-arpeja<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> zigue-<br />
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Revista Opus 12 - 2006