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A questão central aqui é a de autentici<strong>da</strong>de. O pensamento do<br />

nacionalismo musical sustentava que o compositor brasileiro deveria<br />

ser capaz de compor seus próprios t<strong>em</strong>as de inspiração popular e<br />

não deveria recorrer ao folclore diretamente. Mas Gallet, neste artigo,<br />

defende um outro ponto de vista. O sist<strong>em</strong>a de referência musical<br />

<strong>em</strong>pregado pelos compositores nacionalistas é fun<strong>da</strong>mentalmente<br />

europeu. Os recursos oferecidos são os do tonalismo, do<br />

t<strong>em</strong>peramento, <strong>da</strong> instrumentação ocidental, etc. Isto é, esse sist<strong>em</strong>a<br />

consiste de legisignos <strong>da</strong> música erudita européia. A a<strong>da</strong>ptação de<br />

um t<strong>em</strong>a folclórico, ou mesmo sua invenção numa obra de concerto,<br />

será constitui<strong>da</strong> s<strong>em</strong>ioticamente de paráfrases, citações ou alegorias<br />

musicais (vide Martinez 1996, 81-83; 2001: 129-134), as quais<br />

necessariamente geram significados pelo conflito com o sist<strong>em</strong>a<br />

musical e o umwelt 16 cultural <strong>da</strong> música clássica européia. Isto<br />

resultará s<strong>em</strong>pre numa transformação metalingüística, cujos<br />

interpretantes jamais poderiam r<strong>em</strong>eter a significados s<strong>em</strong>elhantes<br />

aos <strong>da</strong> música brasileira ver<strong>da</strong>deiramente popular. A preocupação<br />

de Gallet é a de que a linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong> música erudita européia<br />

aplica<strong>da</strong> <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a sua força contaminaria as formas populares e<br />

uma música assim composta não poderia ser realmente brasileira.<br />

É difícil concor<strong>da</strong>r com Gallet que a deformação do significado <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de brasileira seria menor se as melodias <strong>da</strong>s canções foss<strong>em</strong><br />

meramente harmoniza<strong>da</strong>s. Mas considerando os paradigmas <strong>da</strong><br />

etnomusicologia, Gallet está certo. Se ele tivesse vivido na segun<strong>da</strong><br />

metade do século XX, talvez afirmasse que para tocar uma mo<strong>da</strong><br />

de viola, um ponteio, seria necessário que a música fosse executa<strong>da</strong><br />

numa viola caipira e não num piano ou por uma orquestra sinfônica.<br />

No entanto, a música brasileira <strong>da</strong> primeira metade do século XX<br />

não estava pauta<strong>da</strong> por uma noção de autentici<strong>da</strong>de, mas sim pelo<br />

programa que visava a absorção do popular na linguag<strong>em</strong> tonal<br />

européia. Paradoxalmente, o objetivo era a renovação <strong>da</strong> música<br />

erudita brasileira pela recusa a um modelo eurocêntrico, adotado<br />

pelos compositores brasileiros s<strong>em</strong> qualquer questionamento até o<br />

Revista Opus 12 - 2006<br />

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