realismo mágico e ficção cyberpunk no romance de ... - RedALyC
realismo mágico e ficção cyberpunk no romance de ... - RedALyC
realismo mágico e ficção cyberpunk no romance de ... - RedALyC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
culminante: para o filósofo francês, a linguagem é “[...] um sistema puro e<br />
simples <strong>de</strong> significantes flutuantes, sem absolutamente nenhuma relação<br />
<strong>de</strong>terminável com qualquer referente extralinguístico” (An<strong>de</strong>rson, 1984, p.<br />
53). Des<strong>de</strong> que <strong>de</strong>scubramos as estruturas ou as “linhas <strong>de</strong> código” que<br />
governam o universo, pouco importa o que elas representam:<br />
Todas las respuestas <strong>de</strong>berían conducir a una sola: si el programa<br />
que hace funcionar el universo fuera matemático, habría un<br />
algoritmo primero <strong>de</strong>l que <strong>de</strong>rivan los <strong>de</strong>más. Si el programa fuera<br />
computacional, se trataría <strong>de</strong> tres o cuatro líneas <strong>de</strong> código,<br />
responsables <strong>de</strong> explicar tanto las mareas como las manchas <strong>de</strong>l<br />
leopardo y la multiplicidad <strong>de</strong> lenguajes y los movimientos <strong>de</strong> tu<br />
ma<strong>no</strong> <strong>de</strong>recha y el vuelo <strong>de</strong> las moscas y el nacimiento <strong>de</strong> las<br />
galaxias y Da Vinci y Borges y la cabellera pegajosa <strong>de</strong> Flavia y<br />
la sombra que proyectan los sauces llorones y Alan Turing (Paz<br />
Soldán, 2005, p. 238-239).<br />
Este pensamento <strong>de</strong> Miguel é semelhante ao <strong>de</strong> Lawrence – o que não<br />
<strong>no</strong>s surpreen<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando o tema-comum das duas obras: a criptoanálise.<br />
Mas a realida<strong>de</strong> se esvanece <strong>de</strong>finitivamente numa referência intertextual <strong>de</strong><br />
El <strong>de</strong>lirio (Paz Soldán, 2005, p. 221): o conto “A formiga elétrica” (1969), <strong>de</strong><br />
Philip K. Dick. Nesse conto, a personagem Garson Poole <strong>de</strong>scobre que é um<br />
androi<strong>de</strong> e, ao se examinar, encontra um rolo <strong>de</strong> fita que funciona como um<br />
“dispositivo fornecedor <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>” (Dick, 2005, p. 90). Mexendo nessa fita,<br />
Poole produz efeitos surreais, como patos que surgem <strong>no</strong> meio da sala,<br />
<strong>de</strong>smentidos por sua parceira Sarah, que nada percebe:<br />
– Não eram <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> – disse Sarah. – Ou será que eram? Pois<br />
como é que...<br />
– Você também não é <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> – retrucou. – Não passa <strong>de</strong> um<br />
elemento <strong>de</strong> estímulo na minha fita <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Uma perfuração<br />
que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecer com verniz. Será que você existe <strong>no</strong>utra fita<br />
<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> ou numa que tenha realida<strong>de</strong> objetiva? (Dick, 2005,<br />
p. 102)<br />
Ao fim do conto, Poole é <strong>de</strong>struído e, junto com ele, toda a realida<strong>de</strong>!<br />
Aqui, como <strong>no</strong> estruturalismo, a realida<strong>de</strong> é reduzida a um rolo <strong>de</strong> fita, a um<br />
texto. Mas diante <strong>de</strong>sse pa<strong>no</strong>rama do estruturalismo que esboçamos até então,<br />
o que El <strong>de</strong>lirio oferece como alternativa? Devemos agora regressar ao apelo<br />
<strong>de</strong> Kandinsky, ou seja, ao retor<strong>no</strong> do real e, consequentemente, do marxismo,<br />
<strong>de</strong>rrotado pelo estruturalismo <strong>no</strong> início da década <strong>de</strong> 1960 (An<strong>de</strong>rson, 1984,<br />
p. 38). De fato, a conjugação entre realida<strong>de</strong> e marxismo realizada por<br />
Kandinsky <strong>no</strong>s parece uma resposta ao <strong>de</strong>lírio <strong>de</strong> Turing, ou seja, ao<br />
estruturalismo latente <strong>de</strong> Miguel. O retor<strong>no</strong> do marxismo é, portanto, o