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Relatório Final - PETI

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Caracterização das Actividades Desenvolvidas<br />

Pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

<strong>Relatório</strong> <strong>Final</strong><br />

Volume I<br />

Texto<br />

SociNova<br />

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas<br />

Universidade Nova de Lisboa<br />

Novembro, 2007


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

INTRODUÇÃO..............................................................................................................4<br />

SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ..............................................................10<br />

A. CONCEITOS E ESTRATÉGIAS DE INVESTIGAÇÃO ............................................18<br />

1. Explicitação dos conceitos: conceitos orientadores da investigação empírica e<br />

enquadramento jurídico.......................................................................................... 18<br />

1.1. Conceitos e Enquadramento jurídico .......................................................20<br />

2. Aspectos metodológicos................................................................................. 27<br />

2.1. Pesquisa bibliográfica ..............................................................................27<br />

2.2. Recolha e análise de dados relevantes....................................................28<br />

2.2.1. Estatísticas da Educação .................................................................28<br />

2.2.2. Bases de dados do <strong>PETI</strong>..................................................................28<br />

2.2.3. Dados da Comissão Nacionais de Protecção de Crianças e Jovens<br />

em Risco 31<br />

2.3. Questionários...........................................................................................31<br />

2.3.1. Questionário aos alunos...................................................................31<br />

2.3.2. Questionários aos professores e às escolas ....................................33<br />

2.4. População inquirida e amostra.................................................................33<br />

2.5. Trabalho de campo..................................................................................36<br />

2.6. Administração dos questionários .............................................................40<br />

2.7. Validação, tratamento e análise dos dados..............................................44<br />

2.8. Operacionalização do conceito de Trabalho Infantil .................................46<br />

2.8.1. Trabalho infantil na última semana...................................................47<br />

2.8.2. Trabalho infantil anterior à última semana........................................49<br />

2.9. Notas metodológicas para tratamento estatístico dos dados ...................50<br />

B. CONTEXTO ENVOLVENTE E FACTORES CONDICIONANTES DO TRABALHO<br />

INFANTIL (demográficos, económicos, sociais e culturais).........................................52<br />

1. Apresentação ................................................................................................. 52<br />

2. As noções de abandono e saída escolar precoce........................................... 53<br />

3. Os números do abandono e da saída escolar precoce para Portugal............. 60<br />

4. Os contextos sociais locais............................................................................. 78<br />

5. Matriz de Correlações..................................................................................... 95<br />

6. Análise das Componentes Principais.............................................................. 98<br />

7. A análise dos “clusters” regionais ................................................................. 103<br />

8. Conclusão .................................................................................................... 107<br />

C. ANÁLISE SOCIOCULTURAL DAS SITUAÇÕES DE TRABALHO INFANTIL<br />

SINALIZADO.............................................................................................................109<br />

1. Caracterização sociocultural dos inquiridos .................................................. 109<br />

1.1. As escolas e os alunos de PIEF.............................................................109<br />

1.2. Indicadores tradicionais de caracterização ............................................110<br />

1.3. Características do agregado familiar......................................................113<br />

1.4. A situação face à escola ........................................................................124<br />

1.4.1. Insucesso e abandono ...................................................................124<br />

1.5. Expectativas de vida ..............................................................................130<br />

1.6. Análise de comportamentos desviantes.................................................131<br />

1


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2. Trabalho infantil no passado......................................................................... 133<br />

2.1. Das actividades em geral ao trabalho infantil no passado......................133<br />

2.2. Trabalho infantil no passado por região e situação actual nos PIEF ......134<br />

2.3. Idade e sexo dos inquiridos que estiveram em situação de trabalho infantil<br />

no passado........................................................................................................135<br />

2.4. Trabalho infantil no passado e actividades realizadas na última semana<br />

137<br />

2.5. Alguns elementos de caracterização das situações que indiciam trabalho<br />

infantil no passado: intensidade, frequência, interferência com a escola,<br />

remuneração e vínculo contratual......................................................................138<br />

2.6. Trabalho infantil no passado e núcleo familiar e redes de sociabilidade 142<br />

2.7. Trabalho infantil no passado e condições de habitabilidade...................143<br />

2.8. Trabalho infantil no passado e vida escolar antes e depois do PIEF......144<br />

2.9. Trabalho infantil no passado e expectativas de vida ..............................147<br />

2.10. Trabalho infantil no passado e desvio ................................................148<br />

3. Actividades desenvolvidas na semana de referência.................................... 149<br />

3.1. Actividades económicas e tarefas domésticas desenvolvidas pelos<br />

inquiridos na semana de referência...................................................................150<br />

3.1.1. Actividade económica em geral......................................................153<br />

3.1.2. Tarefas domésticas........................................................................155<br />

3.2. Actividade económica e tarefas domésticas por região..........................157<br />

3.3. Tipo de actividade económica por sector; tipo de tarefas domésticas<br />

realizadas..........................................................................................................160<br />

3.4. Dias por semana, horas diárias e altura do dia ......................................163<br />

3.5. Grau de dificuldade atribuída pelo inquirido, gosto e motivos apontados<br />

para o exercício da actividade económica e das tarefas domésticas.................171<br />

3.6. Interferência da actividade económica e das tarefas domésticas com a<br />

frequência escolar .............................................................................................174<br />

3.7. Compensações pela actividade económica realizada e celebração de<br />

contrato de trabalho...........................................................................................178<br />

4. As situações de trabalho infantil na última semana ...................................... 181<br />

4.1. Trabalho infantil devido ao exercício de actividade económica ..............182<br />

4.2. Trabalho infantil devido a tarefas domésticas ........................................184<br />

4.3. Trajectórias de trabalho no passado ......................................................186<br />

4.4. Núcleo familiar e redes de sociabilidade ................................................188<br />

4.5. Condições de habitabilidade ..................................................................189<br />

4.6. Vida escolar antes e depois do PIEF .....................................................189<br />

4.7. Desvio à norma e sanções.....................................................................191<br />

4.8. Expectativas para o futuro .....................................................................192<br />

D. SITUAÇÕES EMERGENTES E ANÁLISE DAS CONDICIONANTES SOCIAIS DO<br />

TRABALHO INFANTIL..............................................................................................194<br />

1. Critérios de emparelhamento: idade, ano escolar, sexo e escola ................. 195<br />

2. Dinâmicas de trabalho infantil nos alunos do PIEF e do ensino regular........ 196<br />

3. Núcleo familiar e redes de sociabilidade....................................................... 198<br />

4. Condições de habitabilidade......................................................................... 205<br />

5. Percursos escolares ..................................................................................... 206<br />

6. Expectativas de vida..................................................................................... 211<br />

E. BREVE ANÁLISE DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL (dados da<br />

CNPCJR) ..................................................................................................................214<br />

2


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

1. Crítica das fontes.......................................................................................... 215<br />

2. Distribuição por sexo e por idade das crianças envolvidas nas problemáticas<br />

mais directamente associadas às Piores Formas do Trabalho Infantil.................. 216<br />

3. Distribuição geográfica das situações de perigo assinaladas pelas Comissões<br />

de Protecção........................................................................................................ 220<br />

3.1. Exploração do trabalho infantil...............................................................220<br />

3.2. Mendicidade ..........................................................................................222<br />

3.3. Pornografia infantil.................................................................................224<br />

3.4. Prostituição Infantil.................................................................................226<br />

F. BIBLIOGRAFIA E FONTES ..................................................................................228<br />

1. Bibliografia.................................................................................................... 228<br />

2. Fontes .......................................................................................................... 230<br />

3


INTRODUÇÃO<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

O presente relatório tem em vista apresentar os resultados relativos ao estudo<br />

das actividades desenvolvidas pelas crianças e jovens em Portugal, através da<br />

análise das situações já sinalizadas. A análise deste fenómeno deu lugar a um<br />

projecto de investigação intitulado “Caracterização das Actividades Económicas<br />

desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal” e que surge no âmbito de<br />

uma parceria entre a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da<br />

Universidade Nova de Lisboa - através do SociNova - o Programa para a<br />

Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil (<strong>PETI</strong>) e o Instituto<br />

Nacional de Estatística (INE). O estudo contou ainda com a colaboração do<br />

Ministério da Educação, para a realização dos inquéritos às escolas, e da<br />

CPCJ, no que se refere às “piores formas”.<br />

O trabalho infantil continua a ser uma preocupação das sociedades modernas.<br />

É normalmente percepcionado como um fenómeno que pode estar relacionado<br />

com a menor eficiência do sistema de ensino e também da relação que este<br />

estabelece com as estruturas económicas e sociais envolventes. Em geral,<br />

pensa-se que a existência de trabalho infantil compromete o futuro das<br />

sociedades por, de alguma forma, se estar a desperdiçar o talento dos jovens<br />

que trabalham em detrimento de maior formação intelectual e profissional.<br />

Por outro lado, actualmente, assume-se também que nem todo o exercício de<br />

actividade económica por parte de jovens é prejudicial. É do conhecimento<br />

corrente que nos países economicamente desenvolvidos muitos jovens<br />

procuram ocupações remuneradas, sobretudo nas férias, que acabam por ter<br />

uma dimensão socializadora e integradora.<br />

Também nos países desenvolvidos se tem assistido a alterações demográficas,<br />

económicas e sociais que contribuem para o aparecimento de novas<br />

actividades que, ao serem um obstáculo ao pleno desenvolvimento dos jovens,<br />

poderão eventualmente ser integradas na análise do trabalho infantil.<br />

O principal objectivo desta investigação é o estudo das actividades<br />

desenvolvidas por crianças e jovens em Portugal, através da análise das<br />

4


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

situações de trabalho infantil já sinalizadas pelo <strong>PETI</strong>. Procura-se produzir um<br />

conhecimento rigoroso e quantitativo deste fenómeno nas suas diferentes<br />

formas, níveis de ilicitude e espaços de ocorrência, permitam compreender as<br />

dinâmicas e processos sociais que lhes estão subjacentes. Igualmente,<br />

pretende-se recolher informação sobre as situações emergentes que podem<br />

conduzir ao trabalho infantil, bem como identificar factores, a nível económico,<br />

social e/ou cultural que contribuam para a sua produção e reprodução.<br />

A relação entre sistema de ensino e trabalho infantil é outro dos aspectos<br />

contemplados neste estudo, nomeadamente no que respeita ao percurso<br />

escolar e à construção das trajectórias profissionais e de vida de jovens que<br />

tenham estado em situação de trabalho infantil.<br />

Desde já, importa referir que o estudo assenta numa explicitação exaustiva do<br />

conceito de trabalho infantil, nas suas múltiplas formas e graus de<br />

perigosidade. São também tidas em conta outras actividades com as quais este<br />

fenómeno possa estar relacionado (e.g. actividades de tempos livres, tarefas<br />

domésticas trabalhos leves – no espaço familiar ou não – que não ocupem<br />

mais de 14 horas por semana).<br />

A escola é um local estratégico para a análise do trabalho infantil até porque,<br />

nas sociedades modernas, por lá passam praticamente todos os jovens,<br />

mesmo os que abandonam o sistema de ensino. A estratégia de investigação<br />

seguida teve em consideração este aspecto, pelo que procurou combinar uma<br />

abordagem macro do fenómeno, com uma observação mais próxima centrada<br />

nos alunos.<br />

Assim, começou-se por abordar o fenómeno a partir de dados estatísticos do<br />

INE (estatísticas dos sensos de 2001, estatísticas ao emprego, etc.), do<br />

Ministério da Educação (estatísticas da educação, a nível nacional e europeu,<br />

etc.), do <strong>PETI</strong> (bases de dados de sinalizações e intervenções), do Ministério<br />

do Trabalho e Solidariedade Social, OIT e das CNPCJR.<br />

Da análise estatística e cartográfica destes dados, foi possível detectar os<br />

contextos onde é mais provável a ocorrência do fenómeno, bem como a sua<br />

relação com o insucesso e abandono escolar e um conjunto amplo de variáveis<br />

5


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

demográficas, económicas e sociais. Todavia, a análise realizada neste<br />

capítulo não se esgota no tratamento dos dados estatísticos; ela questiona a<br />

responsabilidade social dos vários actores sociais envolvidos, e equaciona o<br />

seu papel na definição de políticas públicas e na adopção de medidas de<br />

âmbito geral.<br />

Mas, neste estudo, a escola é também utilizada como meio de acesso e de<br />

observação próxima dos jovens que já estiveram em situação de trabalho<br />

infantil (uma vez que se está a estudar as situações já sinalizadas, de jovens<br />

que regressaram ao sistema de ensino através do programa PIEF) e que são<br />

objecto de um inquérito sociológico. De modo a ser possível uma análise mais<br />

aprofundada e cientificamente controlada do fenómeno, e para as variáveis<br />

pertinentes para o objecto, utiliza-se uma população de controlo, constituída<br />

por alunos do ensino regular, que frequentam as escolas onde funcionam as<br />

turmas PIEF (apenas nos casos em que os programas PIEF decorrem no<br />

espaço da escola).<br />

A escola é assim considerada como um local adequado para a compreensão<br />

mais aprofundada das dinâmicas socioculturais associadas ao trabalho infantil<br />

já sinalizado e também emergente, bem como das representações sociais de<br />

técnicos e professores acerca deste fenómeno. Nesse sentido, esta pesquisa<br />

integra ainda um outro inquérito sociológico, dirigido aos Conselhos Executivos<br />

das escolas seleccionadas na amostra e a Técnicos que trabalham de perto<br />

com estes jovens.<br />

Refira-se ainda que este estudo procurou também fazer uma abordagem ao<br />

trabalho infantil nas suas “piores formas”. Deste modo, o tratamento e a análise<br />

dos dados das CNPCJR permitiu definir os contornos do problema e identificar<br />

as suas principais características.<br />

Para finalizar, gostaríamos de endereçar os nossos agradecimentos a todos e<br />

todas que nos apoiaram. De facto, sem a sua colaboração, este trabalho não<br />

seria possível. Mesmo correndo o risco de alguma omissão, não posso deixar<br />

de citar a Dra. Joaquina Cadete, que deste a primeira hora é o grande esteio<br />

institucional deste estudo, mas ao qual também entregou todo o seu<br />

6


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

conhecimento e empenhamento pessoais. Do <strong>PETI</strong>, os agradecimentos<br />

também para a Dra. Paula Monteiro e Dra. Inês Pereira, para os coordenadores<br />

regionais dos PIEF Dr. António Santos (Lisboa e Vale do Tejo), Dr. Fernando<br />

Coelho (Norte), Dr. Rui Jerónimo (Algarve), Dra. Lurdes Pinto (Centro) e Dra.<br />

Clara Dimas (Alentejo). No INE, também parceiro deste projecto, foi igualmente<br />

imprescindível a colaboração atenta e rigorosa do Prof. Dr. Pedro Corte Real,<br />

da Dra. Leonor Pereira e da Dra. Maria José Correia. No Ministério da<br />

Educação, gostaria de destacar o apoio dado desde a primeira hora do Sr.<br />

Secretário de Estado, Prof. Dr. Jorge Pedreira, da então Directora do Gabinete<br />

de Informação e Avaliação do Sistema Educativo (GIASE) Prof. Dra. Maria<br />

João Valente Rosa, bem como dos membros dos Conselhos Executivos,<br />

professores e técnicos das escolas onde estão sedeados os programas PIEF 1 .<br />

Na CPCJ, uma palavra de gratidão muito sentida para o Dr. Armando Leandro.<br />

1 Colégio de Campos; ES/3 Joaquim Dias Rebelo; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Afonso de<br />

Paiva; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Aires Barbosa; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />

António Correia de Oliveira; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos António Dias Simões; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos Aranguês; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Arcos de Valdevez;<br />

Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Arqueólogo Mário Cardoso; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />

c/ Ensino Secundário Aquilino Ribeiro; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino Secundário<br />

da Chamusca; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino Secundário de Arcozelo; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino Secundário de Melgaço; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />

c/ Ensino Secundário de Mondim de Basto; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino<br />

Secundário de Tarouca; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos c/ Ensino Secundário José Gomes<br />

Ferreira; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos D. José I; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos D.<br />

Martinho de Castelo Branco; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos D. Paio Peres Correia; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos D. Pedro II; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos da Agrela; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos da Branca; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Abação; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Alcabideche; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Alfena; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Alfornelos; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Areosa; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Cabeceiras de Basto; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de<br />

Carteado Mena; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Castro Daire; Escola Básica dos 2.º e 3.º<br />

ciclos de Ceira; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Fernando Pessoa; Escola Básica dos 2.º e<br />

3.º ciclos de Lagares; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Lamaçães; Escola Básica dos 2.º e<br />

3.º ciclos de Lustosa; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Marecos - Penafiel n.º 2; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Matosinhos; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Miragaia;<br />

Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Reguengos de Monsaraz; Escola Básica dos 2.º e 3.º<br />

ciclos de Resende; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Santa Clara; Escola Básica dos 2.º e<br />

3.º ciclos de Santa Maria; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Santa Marinha; Escola Básica<br />

dos 2.º e 3.º ciclos de Telheiras nº 2; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Vila N. Tazem;<br />

Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Vila Pouca de Aguiar; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de<br />

Vila Verde; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos do Bairro Padre Cruz; Escola Básica dos 2.º e 3.º<br />

ciclos do Marco de Canaveses; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos do Teixoso; Escola Básica<br />

dos 2.º e 3.º ciclos Domingos Capela; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Dr. João Lúcio –<br />

Fuseta; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Fernando Caldeira; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />

Fernando Távora; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Forte da Casa; Escola Básica dos 2.º e 3.º<br />

ciclos Gonçalo Sampaio; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Grão Vasco; Escola Básica dos 2.º<br />

e 3.º ciclos Guilherme C. Carvalho; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos João de Meira; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos José Neves Júnior; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos José Régio;<br />

Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos José Tagarro; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Júlio Saúl<br />

7


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Ainda um agradecimento se deve ao Arq. Vítor Reis, pelo tratamento que deu<br />

às bases de dados do <strong>PETI</strong>, num trabalho exemplar pela sua eficiência e rigor,<br />

bem como à Dra. Luísa Janeirinho e ao Prof. Abílio Amiguinho, pelo apoio<br />

prestado no recrutamento dos inquiridores para as regiões do Alentejo e do<br />

Algarve.<br />

A todos os professores, membros dos Conselhos Executivos das escolas e<br />

responsáveis dos PIEF um igual agradecimento pelo apoio dado desde a<br />

construção da amostra dos alunos do ensino regular, até à fase da<br />

administração dos questionários.<br />

Na equipa, gostaria de destacar a dedicação e conhecimento do Prof. Dr.<br />

Manuel Sarmento, um esteio científico do estudo, da Prof. Dra. Fátima<br />

Miguens, responsável científica pela área da Estatística, do Prof. Dr. David<br />

Justino e Prof. Dra. Maria João Valente Rosa, que trabalharam as estatísticas<br />

oficiais, bem como da equipa executiva, que dia-a-dia ia fazendo autênticos<br />

“milagres”, tentando “vencer o tempo” e resolvendo inúmeros imponderáveis<br />

que iam surgindo num trabalho desta amplitude. Destaco a Dra. Joana Malta,<br />

que coordenou o trabalho de campo e a recolha, tratamento e análise dos<br />

dados dos inquéritos, a Dra. Graça Frias, a Dra. Dalila Cerejo, a Dra. Ana Lúcia<br />

Dias; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Matilde Rosa Araújo; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />

Monsenhor Jerónimo do Amaral; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Nadir Afonso; Escola Básica<br />

dos 2.º e 3.º ciclos nº2 de Elvas; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Paços Ferreira; Escola<br />

Básica dos 2.º e 3.º ciclos Pedro Nunes; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Prof. Agostinho da<br />

Silva; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Quinta de Marrocos; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />

S. Pedro da Cova; Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Visconde de Vila Maior; Escola Básica dos<br />

2º e 3º ciclos das Naus; Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos de Marinhais; Escola Básica dos 2º e<br />

3º ciclos Dr. Pedro Barbosa; Escola Básica Integrada Charneca da Caparica; Escola Básica<br />

integrada de Pias; Escola Básica Integrada do EIXO; Escola Básica Integrada Gualdim Pais<br />

Escola do 1º Ciclo Arq. Gonçalo Ribeiro Telles; Escola Secundária Afonso de Albuquerque;<br />

Escola Secundária c/ 2.º e 3.º ciclos CEB Artur Gonçalves; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB<br />

Alfredo dos Reis Silveira; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB do Bombarral; Escola Secundária<br />

c/ 3.º ciclo CEB Dr. Ginestal Machado; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB Dr. Manuel<br />

Fernandes; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB Lima de Freitas; Escola Secundária c/ 3.º ciclo<br />

CEB Marquês de Pombal; Escola Secundária c/ 3.º ciclo CEB Matias Aires; Escola Secundária<br />

c/ 3.º ciclo CEB Monte da Caparica; Escola Secundária c/ 3.º ciclo de Mirandela; Escola<br />

Secundária c/ 3.º ciclo de Ponte da Barca; Escola Secundária c/ 3º ciclo Madeira Torres; Escola<br />

Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico Dr. João Araújo Correia; Escola Secundária da<br />

Trofa; Escola Secundária de Loulé; Escola Secundária de Lousada; Escola Secundária de<br />

Reguengos de Monsaraz (Conde de Monsaraz); Escola Secundária de Trancoso; Escola<br />

Secundária de Vilela; Escola Secundária Felismina Alcântara; Escola Secundária Jaime<br />

Cortesão; Escola Secundária Joaquim de Carvalho; Escola Secundária Loureiro Botas; Escola<br />

Secundária Marco Canaveses.<br />

8


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Teixeira Dias, a Dra. Alexandra Leandro, a Dra. Zélia Barroso e o Dr. Ricardo<br />

Santana.<br />

Uma palavra de reconhecimento também para os inquiridores e inquiridoras da<br />

Universidade do Minho, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da<br />

Universidade de Lisboa, da Escola Superior de Educação de Portalegre, de<br />

Évora e do Algarve, bem como para os informáticos da CrazyDog.<br />

Por fim, um agradecimento especial a todos os alunos que participaram neste<br />

estudo, dispondo-se a contar-nos as suas histórias e os seus percursos. No fim<br />

de contas, são eles que dão significado a todo o trabalho realizado, quer como<br />

fonte, quer como recipientes, esperamos nós, dos benefícios e vantagens que<br />

daqui decorrerão.<br />

9


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS<br />

Esta síntese procura elencar os principais resultados a que foi possível chegar<br />

ao longo do estudo sobre as “actividades desenvolvidas por crianças e jovens<br />

em Portugal, na actualidade”. Trouxemos as conclusões para ao início do texto,<br />

pois julgamos que tal poderá ser de maior utilidade para o <strong>PETI</strong>, já que se trata<br />

de um <strong>Relatório</strong> <strong>Final</strong> de uma “investigação aplicada”, que, estamos certos,<br />

será utilizada como instrumento de apoio à decisão e intervenção. De qualquer<br />

modo, para uma análise mais detalhada das múltiplas variáveis e indicadores<br />

trabalhados, deverá consultar-se o corpo do texto e os anexos.<br />

Numa pesquisa com esta dimensão, elaborar uma síntese conclusiva é uma<br />

tarefa que peca sempre por defeito, sobretudo quando a riqueza dos resultados<br />

obtidos permite múltiplas análises do fenómeno. Assim, convém relembrar os<br />

principais objectivos do projecto, de modo a descrever as conclusões nesse<br />

sentido. Nomeadamente, o da análise rigorosa das situações de trabalho<br />

infantil já sinalizadas e sua relação com o Sistema de Ensino, no sentido de:<br />

a) Produzir um conhecimento rigoroso e quantitativo do trabalho infantil<br />

actualmente existente nas suas diferentes formas, níveis de ilicitude e<br />

espaços de ocorrência ao nível nacional e regional;<br />

b) Recolher informação sobre as situações emergentes que podem<br />

conduzir ao trabalho infantil;<br />

c) Analisar os factores envolventes que têm contribuído para a sua<br />

produção e reprodução ao longo do tempo, a nível demográfico,<br />

económico, social e cultural;<br />

A estratégia de investigação seguida para atingir tais objectivos privilegia uma<br />

abordagem ao objecto de estudo a partir de três níveis de observação: o da<br />

escala macro, que contempla uma análise de âmbito nacional, ainda que<br />

parametrizada, sempre que possível, a nível internacional; uma escala<br />

intermédia, que poderemos designar de “mezo”, e que atingirá o nível<br />

concelhio; e, finalmente, uma escala micro, ao nível dos actores sociais<br />

individuais, suas instituições, dinâmicas e processos sociais.<br />

10


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Comecemos pela análise dos padrões de comportamento dos jovens em<br />

termos de trabalho infantil, a partir da associação entre o abandono escolar, a<br />

saída precoce do sistema de ensino e formação e vários factores de ordem<br />

demográfica e social.<br />

Conclui-se que uma parte do insucesso escolar é uma “antecipação” da<br />

decisão de “abandonar”, resultante muitas vezes de baixas expectativas, de<br />

alunos e famílias, quanto à utilidade da conclusão da escolaridade obrigatória.<br />

Assim, o insucesso pode ser, também, um indicador indirecto da possibilidade<br />

de emergência de trabalho infantil.<br />

Ora, não só o insucesso escolar, o abandono e a “saída escolar precoce” são<br />

elevados no nosso Sistema de Ensino, e crescentes nos últimos anos da<br />

escolaridade obrigatória, quando comparados com os dos parceiros<br />

comunitários, como também se verificou que, por um lado, os alunos do PIEF<br />

têm maior probabilidade de ter retenção e abandono escolares do que os<br />

alunos do ensino regular e, por outro lado, que ocorre o mesmo com os do<br />

PIEF que conheceram situações de trabalho infantil, se comparados com os<br />

que não tiveram tais experiências.<br />

Deste modo, tudo leva a concluir que, quer o abandono escolar, quer o<br />

insucesso, são factores associados à emergência e reprodução do trabalho<br />

infantil. Todavia, a questão que se coloca é a de saber quais são as dinâmicas<br />

que podem accionar tais processos.<br />

Sem pretender, neste nível de análise, sub-avaliar o papel da Escola e das<br />

famílias, os resultados mostram que há uma forte relação entre o abandono e<br />

os níveis de desenvolvimento económico e de emprego 2 .<br />

A análise da evolução SEP (saída escolar precoce) ao longo de vários anos, e<br />

em comparação com outros países, revela que ela tende a aumentar sempre<br />

que diminui o desemprego e há crescimento económico. Nota-se assim, uma<br />

relação forte entre o mercado de emprego, sobretudo jovem, e a SEP.<br />

2 Esta lógica é reforçada pelo o facto de Portugal ser até há bem poucos anos um país com<br />

elevadas taxas de empregabilidade de jovens e activos desqualificados. Decorrente da<br />

estrutura produtiva dominante nas últimas quatro décadas, assente em baixos salários e em<br />

mão-de-obra desqualificada, a pressão da oferta deste tipo de emprego constitui um travão ao<br />

aumento da escolarização, especialmente porque faz diminuir o retorno marginal por cada ano<br />

adicional de escolaridade.<br />

11


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

À semelhança do que ocorre na maioria dos países europeus, nota-se ainda<br />

que a “saída escolar precoce” é mais frequente entre os rapazes que entre as<br />

raparigas. Situação que se verifica também no trabalho infantil.<br />

Por outro lado, conclui-se que o abandono e a SEP tendem a ser maiores onde<br />

for maior a empregabilidade dos jovens e a desigualdade educativa “dos pais”.<br />

Inversamente, tende a ser menor nos concelhos de maior concentração<br />

urbana, com maior poder de compra, maior nível de escolarização e maior<br />

desenvolvimento social.<br />

<strong>Final</strong>mente, nas zonas menos urbanizadas, com maior envelhecimento e um<br />

peso mais elevado de activos no sector primário, nota-se um fenómeno de<br />

“insistência escolar”, traduzida em insucesso, mas não em abandono nem em<br />

SEP, já que o maior peso de jovens na escola com idade superior ao normal<br />

pode decorrer de não pretenderem repetir o modelo de vida dos pais na<br />

agricultura, muitas vezes de subsistência.<br />

Assim, de um ponto de vista da distribuição geográfica no Continente, é<br />

possível identificar uma mancha de concelhos com elevados níveis de<br />

abandono escolar, saída escolar precoce e igual inserção precoce no mercado<br />

de trabalho, baixos níveis de escolarização das gerações activas e elevadas<br />

desigualdades educativas. Esse agrupamento identifica-se com uma vasta<br />

região ao norte do país que assume funções de periferia da área Metropolitana<br />

do Porto, conhecida pela sua industrialização difusa e assente em elevada<br />

incorporação de trabalho desqualificado. É nesta região que a tradição do<br />

trabalho infantil e da inserção precoce no mercado de trabalho ganhou algum<br />

relevo, mantendo, à entrada do século XXI, as características de uma das<br />

regiões mais pobres do país. Alguns concelhos isolados mais a sul completam<br />

este agrupamento.<br />

Nota-se ainda uma dicotomia entre os concelhos mais urbanizados, conhecidos<br />

pelo peso da classe média e pela concentração de infra-estruturas públicas, e<br />

os concelhos com um peso da ruralidade mais acentuado. Todavia, em<br />

qualquer deles o “abandono escolar precoce” é manifestamente inferior ao do<br />

primeiro conjunto de concelhos, bem como os indícios de trabalho infantil.<br />

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Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Passemos agora às conclusões obtidas numa escala micro, a partir dos<br />

inquéritos aos alunos e às escolas e dos dados das “piores formas”.<br />

Considerando só os alunos que frequentam o PIEF, a percentagem dos que<br />

tiveram uma actividade classificável como sendo de trabalho infantil antes da<br />

semana de referência (última semana relativa á aplicação do questionário) é de<br />

26,3% 3 . Trata-se de um valor compreensível, se tivermos em consideração que<br />

uma das finalidades do PIEF é justamente a intervenção nos alunos que antes<br />

estavam em situação de trabalho infantil.<br />

As actividades que prevalecem são a “empresa/negócio” (22,1%), o<br />

“campo/agricultura” (21,1%), o “negócio/empresa familiar” (18,0%), as<br />

“obras/construção civil” (14,9%), a “fábrica” (7,6%), as “tarefas domésticas”<br />

(1,4%) e depois, com valores que não ultrapassam 1%, o desporto de<br />

competição, os espectáculos, na rua e “a dias em casa de outra pessoa”.<br />

No que se refere à última semana, os valores obtidos são manifestamente<br />

inferiores, representando 22 casos (2,0%) em “actividades económicas” e 19<br />

casos (1,7%) em “tarefas domésticas”.<br />

Todavia, na mesma semana de referência, há um número considerável de<br />

alunos que, mesmo sem ser em actividades classificáveis de trabalho infantil,<br />

desenvolveu “tarefas domésticas” (61,4%) e actividades no sector económico<br />

(21,2%).<br />

No que concerne a estas últimas, e se tivermos em consideração o que se<br />

referiu anteriormente sobre a importância do mercado económico, deverá mais<br />

uma vez chamar-se à atenção para a existência de equilíbrios precários ao<br />

nível do mercado de emprego e da economia das famílias, que podem tornar<br />

uma parte daquelas actividades em casos emergentes de trabalho infantil. Tal<br />

facto adquire ainda maior significado, considerando que há um número muito<br />

significativo destes jovens que diz que aceitaria um trabalho remunerado se lho<br />

oferecessem. Por outro lado, praticamente todos os inquiridos que estiveram<br />

em situação de trabalho infantil na semana de referência, dizem tê-lo feito para<br />

ajudar a família ou as pessoas com quem vivem.<br />

3 Do total de alunos PIEF inquiridos, 50,1% tiveram uma actividade em geral.<br />

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Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Relativamente às “tarefas domésticas”, nas descrições efectuadas pelos<br />

alunos, tudo indica inscreverem-se entre as actividades aceitáveis, e mesmo<br />

necessárias, em termos de socialização, como sejam arrumar o quarto,<br />

pôr/levantar a mesa, ir às compras. Relativamente às restante, a licitude<br />

depende da intensidade com que são realizadas, nomeadamente<br />

limpar/arrumar a casa, fazer reparações domésticas, cozinha/aquecer comida,<br />

lavar/passar a roupa. Mesmo o tomar conta de crianças/idosos/deficientes<br />

representa de 5,5% dos alunos PIEF que realizaram este tipo de tarefas na<br />

semana de referência. As suas implicações, ao nível de faltar à escola são<br />

igualmente reduzidas (3%).<br />

Todavia, quando analisamos esta variável segundo o sexo dos inquiridos,<br />

verifica-se que apesar dos rapazes terem um papel importante na realização<br />

das tarefas domésticas, a maioria das que se prendem com a casa é efectuada<br />

pelas raparigas. Tudo indica que se está perante mais um processo de<br />

reprodução dos papéis sociais de género, diferenciando o que é atribuível e<br />

expectável do “masculino” e do “feminino.<br />

Já no que se refere às “actividades económicas”, é interessante salientar que<br />

se verifica o contrário: agora são as raparigas que têm a primazia no “trabalho<br />

por conta de outrem”, enquanto que no “trabalho familiar não remunerado” são<br />

os rapazes.<br />

Ainda no que se refere aos alunos dos PIEF, e em relação às situações de<br />

trabalho infantil, nota-se que a probabilidade de tal ocorrer é muito maior nos<br />

rapazes (75,8%) do que nas raparigas (24,2%). Confirma-se assim uma<br />

diferenciação segundo o sexo, que vem reforçar a conclusão já referida na<br />

análise obtida anteriormente na escala macro.<br />

O trabalho infantil efectuado no passado pelos alunos PIEF ocupava grande<br />

parte do seu tempo, já que 25,3% o fazia todos os dias e 41,5% só não<br />

trabalhava ao fim-de-semana.<br />

De um modo geral, os alunos afirmam que gostaram do que fizeram (87%) e<br />

foram pagos sobretudo em dinheiro (87% dos que disseram ter recebido uma<br />

14


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

recompensa). Nos que receberam directamente o dinheiro, só uma minoria o<br />

deu à família; a maioria gastou-o em objectos de consumo não essenciais 4 .<br />

No que concerne à relação entre o trabalho infantil no passado e o abandono e<br />

insucesso escolares, verifica-se que há uma dependência estreita entre estas<br />

variáveis, sendo mais provável que aquela actividade ocorra em situações de<br />

abandono ou insucesso.<br />

Ao analisar as trajectórias dos alunos antes e depois de estarem no PIEF, tanto<br />

para os que estiveram em situação de trabalho infantil, como para os que não<br />

estiveram, é evidente em todos os indicadores uma avaliação positiva em<br />

relação à experiência PIEF.<br />

Nas múltiplas situações analisadas no trabalho infantil dos alunos PIEF, no<br />

passado ou na semana de referência, nota-se que apesar de haver algum<br />

acompanhamento por parte dos pais (reagindo ao insucesso e abandono<br />

escolar dos filhos, indo à escola), há um claro défice no apoio escolar em casa.<br />

De facto, o baixo capital escolar dos pais e mães terá, a esse nível, uma<br />

importância decisiva.<br />

A análise das entrevistas realizadas a todos os responsáveis das escolas onde<br />

decorrem os PIEF, onde se aplicou o inquérito, permite-nos reforçar esta<br />

conclusão. De facto, também ao nível da sua percepção, há factores<br />

envolventes de natureza económica e social, por parte das famílias dos alunos,<br />

que podem condicionar não só a opção pelo trabalho infantil, como o abandono<br />

e insucesso escolares.<br />

Como dissemos anteriormente, a análise das expectativas destes jovens é<br />

fundamental para compreendermos a sua acção, tanto ao nível do investimento<br />

escolar, como na construção do futuro profissional. Os resultados mostram que<br />

as expectativas são relativamente baixas e estão maioritariamente circunscritas<br />

ao universo do capital social e cultural da família de origem, tanto a nível<br />

escolar, como profissional.<br />

4 Roupa, ténis e sapatos (49,2%), computadores, consolas de jogos e telemóveis (19,1%) ou<br />

bicicletas e motos (6,3%).<br />

15


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Comparando os alunos de PIEF com os do ensino regular, e apesar destes<br />

também conhecerem situações de trabalho infantil no passado, a probabilidade<br />

de tal ocorrer entre os primeiros é significativamente maior (cerca de duas<br />

vezes mais) 5 . Igualmente se notam assimetrias sociais que indiciam dinâmicas<br />

e processos sociais diferenciados.<br />

Assim, a análise comparativa entre os dois tipos de alunos ajudar-nos-á a<br />

compreender as condicionantes económicas, pessoais e culturais que terão<br />

conduzido ao trabalho infantil, bem como a detectar possíveis situações<br />

emergentes.<br />

Ao efectuar essa comparação, verifica-se que os alunos de PIEF têm maior<br />

probabilidade de mobilidade geográfica, mudando várias vezes de concelho, de<br />

pertenceram a famílias alargadas, de estarem institucionalizados, de morarem<br />

em bairros socais, em casas alugadas e com menores condições de<br />

habitabilidades. Tal falta de condições alarga-se ainda à menor probabilidade<br />

de terem Internet e telemóvel.<br />

Do ponto de vista do capital social e cultural da família de origem, os resultados<br />

mostram que os alunos PIEF têm mais dificuldades a esse nível. De facto, os<br />

seus pais têm níveis de instrução formal mais baixos, são mais velhos, com<br />

idades superiores a 55 anos, pertencem a grupos profissionais como<br />

Agricultores, Trabalhadores não Qualificados da Agricultura e Pescas e<br />

Trabalhadores não Qualificados em geral e estão mais desempregados. As<br />

mães dos alunos PIEF têm também maior probabilidade de serem mães<br />

domésticas.<br />

O quotidiano dos alunos PIEF é igualmente mais irregular: deitam-se depois da<br />

meia-noite, ou a hora incerta, mas levantam-se mais cedo, antes das 7 horas<br />

da manhã. Por outro lado, demoram mais tempo a chegar à escola.<br />

De uma forma geral, os alunos de PIEF têm percursos escolares mais<br />

problemáticos, com maior probabilidade de conhecerem retenção escolar, de<br />

faltarem às aulas, de terem processos disciplinares, de serem expulsos;<br />

todavia, têm menor probabilidade de serem ajudados em casa pelos pais. Por<br />

outro lado, os seus encarregados de educação têm maior probabilidade de<br />

5 Há uma forte dependência estatística entre as duas variáveis.<br />

16


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

serem chamados à escola por razões que ultrapassam as reuniões habituais.<br />

No que se refere aos espaços e redes de socialização entre amigos, e ainda<br />

quando comparados com os do ensino regular, os alunos PIEF têm menor<br />

probabilidade de desenvolver actividades culturais ou de estudar nos tempos<br />

livres, mas é mais frequente que ocupem o tempo no café, a passear, ou que<br />

estejam fora de casa, em geral.<br />

A análise da rede de amigos é igualmente reveladora de alguns indícios de<br />

trabalho infantil. De facto, ainda que a maioria diga não conhecer amigos que<br />

pratiquem trabalho infantil, dos que dizem conhecer, mais do dobro são alunos<br />

PIEF. Tudo indica haver um certo espaço social, com características<br />

semelhantes, que é favorável à produção de trabalho infantil. Quanto à<br />

possibilidade de reprodução desse tipo de trabalho, ela está bem patente no<br />

facto dos alunos PIEF dizerem aceitar um trabalho remunerado 2,5 vezes mais<br />

do que os do ensino regular.<br />

As expectativas em relação ao futuro são igualmente diferentes. De facto,<br />

quando enquanto os alunos PIEF não almejam mais do que o 9º ano de<br />

escolaridade, os do ensino regular pretendem ir até à licenciatura.<br />

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Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A. CONCEITOS E ESTRATÉGIAS DE INVESTIGAÇÃO<br />

1. Explicitação dos conceitos: conceitos orientadores da investigação<br />

empírica e enquadramento jurídico<br />

O trabalho infantil continua a ser uma preocupação das sociedades modernas.<br />

É normalmente percepcionado como um fenómeno que pode ser consequência<br />

de uma menor eficiência do sistema de ensino e também da relação que este<br />

estabelece com as estruturas económicas e sociais envolventes. Em geral,<br />

pensa-se que a existência de trabalho infantil compromete o futuro das<br />

sociedades por, de alguma forma, se estar a desperdiçar o talento dos jovens<br />

que trabalham em detrimento de maior formação intelectual e profissional.<br />

Por outro lado, assume-se também actualmente que nem todo o exercício de<br />

actividade económica por parte de jovens é prejudicial. É do conhecimento<br />

corrente que nos países economicamente desenvolvidos muitos jovens<br />

procuram ocupações remuneradas, sobretudo nas férias, que acabam por ter<br />

uma dimensão socializadora e integradora.<br />

Também nos países desenvolvidos se tem assistido a alterações demográficas,<br />

económicas e sociais que contribuem para o aparecimento de novas<br />

actividades que, ao serem um obstáculo ao pleno desenvolvimento dos jovens,<br />

poderão eventualmente ser integradas na análise do trabalho infantil.<br />

Torna-se assim necessário ter uma visão ampla e precisa do fenómeno, em<br />

que as diversas formas de actividade desenvolvidas pelos jovens sejam<br />

analisadas e devidamente explicitadas. Este é o ponto de partida deste projecto<br />

de investigação intitulado “Caracterização das Actividades Económicas<br />

desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal” e que surge no âmbito de<br />

uma parceria entre a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da<br />

Universidade Nova de Lisboa - através do SociNova - o Programa para a<br />

Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil (<strong>PETI</strong>) e o Instituto<br />

Nacional de Estatística (INE).<br />

O principal objectivo desta investigação é o estudo das actividades<br />

desenvolvidas por crianças e jovens em Portugal, através da análise das<br />

18


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

situações de trabalho infantil já sinalizadas pelo <strong>PETI</strong>. Procura-se assim<br />

produzir um conhecimento rigoroso e quantitativo deste fenómeno nas suas<br />

diferentes formas, níveis de ilicitude e espaços de ocorrência. Para além disso,<br />

pretende-se recolher informação sobre as situações emergentes que podem<br />

conduzir ao trabalho infantil, bem como identificar factores, a nível económico,<br />

social e/ou cultural que contribuam para a sua produção e reprodução.<br />

A relação entre sistema de ensino e trabalho infantil é outro dos aspectos<br />

contemplados neste estudo, nomeadamente no que respeita ao percurso<br />

escolar e à construção das trajectórias profissionais e de vida de jovens que<br />

tenham estado em situação de trabalho infantil.<br />

Desde já, importa referir que o estudo assenta numa explicitação exaustiva do<br />

conceito de trabalho infantil, nas suas múltiplas formas e graus de<br />

perigosidade. São também tidas em conta outras actividades com as quais este<br />

fenómeno possa estar relacionado (e.g. actividades de tempos livres, tarefas<br />

domésticas trabalhos leves – no espaço familiar ou não – que não ocupem<br />

mais de 14 horas por semana).<br />

A escola é um local estratégico para a análise do trabalho infantil até porque<br />

por lá passam praticamente todos os jovens, mesmo os que abandonam o<br />

sistema de ensino. Neste estudo, é utilizada como meio de acesso aos jovens<br />

que já estiveram em situação de trabalho infantil (uma vez que se está a<br />

estudar as situações já sinalizadas, pelo que os jovens regressaram ao sistema<br />

de ensino através do programa PIEF) e que são objecto de um inquérito<br />

sociológico. Por outro lado, considera-se ser também um local adequado para<br />

uma compreensão mais aprofundada dos contornos de situações de trabalho<br />

infantil já sinalizadas e também das emergentes, bem como das<br />

representações sociais acerca deste fenómeno. Assim, esta pesquisa integra<br />

também um outro inquérito sociológico, dirigido aos Conselhos Executivos das<br />

escolas seleccionadas na amostra e a Técnicos que trabalham de perto com<br />

estes jovens.<br />

19


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

1.1. Conceitos e Enquadramento jurídico<br />

A expressão “trabalho infantil” tem imediatamente associada uma conotação<br />

pejorativa, de exploração indevida de crianças. Sabe-se que com frequência<br />

muitos empregadores consideram o exercício de actividade económica por<br />

parte de crianças como fonte de trabalho barato e de lucro rápido (Sharma e<br />

Mittar, 1990). Em geral, tende a considerar-se que a presença de crianças na<br />

força de trabalho é um problema apenas de um grupo específico de países (Mc<br />

Kechnie, 1999), nomeadamente dos países subdesenvolvidos ou em vias de<br />

desenvolvimento, onde frequentemente os pais dependem economicamente<br />

dos filhos que são a principal ou até mesmo a sua única fonte de rendimento.<br />

Porém, também em países como o Reino Unido há crianças que trabalham por<br />

salários muito baixos, por muitas horas, em más condições de trabalho e em<br />

ocupações não permitidas por lei (Leonard, 1999)<br />

Ainda no Reino Unido, um a dois terços de jovens entre 14 e 16 anos que<br />

frequentam a escola já terá trabalhado (Leonard, 1999). Assim, neste país, a<br />

escolaridade obrigatória não terminou com o trabalho das crianças, mas<br />

transformou-o, uma vez que muitas combinam a frequência escolar com um<br />

trabalho a tempo parcial. Também nos EUA o emprego dos adolescentes<br />

atingiu o nível mais elevado de sempre, esperando-se que em 2010 haja 21,6<br />

milhões de menores a trabalhar naquele país (Levine, 2003).<br />

Apesar de também nos países desenvolvidos o trabalho das crianças ser<br />

associado a situações de pobreza e/ou exclusão social (à excepção do<br />

exercício de actividade em algumas áreas como audiovisuais, espectáculos em<br />

geral e publicidade) essa representação coexiste frequentemente com a de<br />

uma cultura que valoriza favoravelmente a utilização do trabalho de menores<br />

(Sarmento, 2005). Afinal, tal como afirma Levine (2003), muitos, incluindo pais<br />

acreditam que é positivo que as crianças desenvolvam bons hábitos e que é<br />

preferível estarem a trabalhar do que nas ruas a vender droga.<br />

Parte-se assim do pressuposto que nem todo o tipo de trabalho será prejudicial<br />

e que inclusivamente o exercício de algumas actividades por parte de menores,<br />

em determinadas circunstâncias, pode até ser entendido como um factor com<br />

20


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

consequências positivas na socialização dos jovens. O que importa será assim<br />

estabelecer uma distinção entre o trabalho das crianças que é produtivo e o<br />

que é abusivo. (Levine, 2003). Ou, como afirma Sarmento (2005: 98), “as<br />

posições teóricas sobre trabalho infantil oscilam entre a sua condenação como<br />

patologia e a consideração do trabalho das crianças como algo inerente à sua<br />

condição como actores sociais plenos”, o que implica, de certa forma, que o<br />

direito ao trabalho está entre os direitos que têm de ser protegidos. Aliás, na<br />

perspectiva de Levine (2003), a própria legislação que regula o trabalho infantil<br />

não terá sido criada tanto para impedir as crianças de trabalhar “mas para<br />

evitar que elas sacrifiquem a sua educação em prol de um futuro limitado em<br />

termos de oportunidades, objectivos de carreira e potencial de crescimento<br />

pessoal”.<br />

Mas o que se entende afinal por trabalho infantil? Atendendo apenas à<br />

definição proposta pela OIT, o trabalho infantil compreende todas as<br />

actividades desenvolvidas por crianças entre 6 e 15 anos que possam ter<br />

consequências negativas na educação, saúde e desenvolvimento da criança”.<br />

Antes de prosseguir, importa ter em conta que definir o que constitui trabalho<br />

infantil é uma tarefa bastante complexa, dadas as suas múltiplas dimensões e<br />

contextos socioculturais em que ocorre. Desde já várias questões se levantam,<br />

nomeadamente quanto aos tipos de actividades/trabalhos a ter em conta na<br />

análise do trabalho infantil e à questão da infância ou do conceito de criança.<br />

Relativamente às actividades/trabalhos exercidos, a ideia generalizada é a de<br />

que se deve considerar o trabalho no sentido amplo do termo e não apenas as<br />

actividades económicas. Com efeito, é redutor associar situações de trabalho<br />

infantil apenas a empregos remunerados na economia formal. Conforme<br />

relembra Sarmento (2005), nem todo o trabalho desempenhado por crianças<br />

constitui uma violação de direitos e o próprio trabalho escolar e as tarefas<br />

domésticas podem estar ligadas a formas de exploração do trabalho infantil. O<br />

mesmo sucede, por exemplo, com actividades de tempos livres em excesso ou<br />

com formas de actividade económica não remuneradas como as exercidas em<br />

empresas familiares.<br />

Nestes casos, torna-se por vezes difícil traçar o limite a partir do qual a ajuda<br />

que o menor presta no negócio dos pais/familiares ou em tarefas em casa<br />

21


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

deixa de ser pontual, aceitável e/ou até formativa para passar a ser algo que<br />

lhe pode trazer prejuízos em termos de lazer, educacionais ou de<br />

desenvolvimento. No que respeita às tarefas domésticas, a sua não inclusão<br />

neste tipo de análise pode subestimar seriamente situações de exploração de<br />

trabalho de raparigas.<br />

Para além do trabalho desempenhado em permanência, deve contemplar-se<br />

ainda o realizado ocasional ou sazonalmente, sob pena de se poder estar a<br />

descurar um conjunto de casos onde também existe exploração de crianças.<br />

A própria definição de criança também não é consensual: se todos concordam<br />

que a partir do nascimento se é criança, o mesmo não sucede com a idade a<br />

partir da qual se deixa de o ser, pelo que a infância acaba por ser uma<br />

categoria algo arbitrária e sujeita a interpretações várias (Leonard, 1999). De<br />

acordo com a Convenção dos Direitos da Criança, criança é todo o ser humano<br />

até aos 18 anos de idade; todavia em algumas situações pode atingir-se mais<br />

cedo a maioridade ou pelo menos a emancipação, altura em que o indivíduo<br />

atinge a plena capacidade do exercício dos seus direitos, rege a sua pessoa e<br />

dispõe dos seus bens.<br />

E quanto ao trabalho? A partir de que idade se atinge o direito de aceder a um<br />

emprego? A Convenção nº 138 da Organização Internacional do Trabalho<br />

sobre a Idade Mínima de Admissão ao Emprego é o documento que serve de<br />

referência aos vários países que a ratificaram para legislar acerca desta<br />

matéria.<br />

De acordo com esta Convenção, adoptada em 1973, a idade mínima de<br />

admissão ao trabalho “não deverá ser inferior à idade em que terminar a<br />

escolaridade obrigatória, nem, em qualquer caso, a 15 anos” (Convenção 138<br />

da OIT, Artº 1º). Porém, partindo do pressuposto que em muitos países o<br />

sistema escolar não tem capacidade para absorver jovens até essa idade,<br />

estipula que em Estados-Membros cujas economias e sistemas de ensino não<br />

estejam bastante desenvolvidos, poder-se-á, sob determinadas condições,<br />

“especificar, numa primeira fase, uma idade mínima de 14 anos” (Convenção<br />

138 da OIT, Artº 1º).<br />

22


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Se assim não fosse, tal poderia gerar um problema difícil de contornar no que<br />

respeita a um conjunto de jovens que não tendo obrigatoriedade de estudar<br />

também não podem trabalhar, até porque, como recorda Levine (2003), em<br />

muitos países há crianças que se vêem efectivamente a braços com o dilema<br />

de ter de trabalhar para sustentar as suas famílias.<br />

A Convenção refere ainda que os Estados Parte podem autorizar os menores<br />

entre 13 e 15 anos a desempenhar trabalhos leves, ou seja aqueles que não<br />

prejudicam as crianças no que respeita à saúde, desenvolvimento, frequência<br />

escolar e/ou de programas de formação vocacional ou de formação, bem como<br />

a capacidade de beneficiar da instrução recebida (Convenção 138 da OIT, artº<br />

7º). Por trabalho leve, a OIT entende também o que não é perigoso e não tem<br />

duração superior a 14 horas semanais (em média duas horas por dia).<br />

No entanto, apesar de genericamente a idade mínima de acesso ao emprego<br />

se situar nos 15 anos, há alguns tipos de trabalho interditos a menores de 18<br />

anos, como sejam “as piores formas de trabalho infantil” e os trabalhos<br />

perigosos. As primeiras, tal como definidas pela Convenção nº 182 da OIT,<br />

incluem:<br />

a) “todas as formas de escravatura ou práticas análogas (…) a servidão por<br />

dívidas e a servidão, bem como o trabalho forçado ou obrigatório, incluindo o<br />

recrutamento forçado ou obrigatório das crianças com vista à sua utilização em<br />

conflitos armados”;<br />

b) “a utilização, o recrutamento ou a oferta de uma criança para fins de<br />

prostituição, de produção de material pornográfico ou de espectáculos<br />

pornográficos”;<br />

c) “a utilização o recrutamento ou a oferta de uma criança para actividades<br />

ilícitas, nomeadamente para a produção e o tráfico de estupefacientes (…)“.<br />

Por sua vez, os trabalhos perigosos são aqueles que “pela sua natureza ou<br />

pelas condições em que são exercidos, são susceptíveis de prejudicar a saúde,<br />

a segurança ou a moralidade da criança” (Convenção 182, artº 3º).<br />

A Recomendação 190 relativa às Piores Formas de Trabalho das Crianças e à<br />

Acção Imediata com Vista à sua Eliminação estabelece que na definição de<br />

23


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

trabalho perigoso, cada país deva ter particularmente em atenção critérios<br />

como:<br />

- a exposição de crianças a abusos de tipo físico, psicológico ou sexual;<br />

- os trabalhos prestados em condições adversas (ex: trabalhos subterrâneos,<br />

subaquáticos, em alturas perigosas, espaços confinados ou ambientes pouco<br />

saudáveis, em que as crianças possam estar expostas a substâncias<br />

perigosas, temperaturas, níveis de ruído ou vibrações que possam ter efeitos<br />

negativos sobre a sua saúde);<br />

- trabalho por longas horas ou durante a noite;<br />

- manuseamento de máquinas, equipamentos, ferramentas perigosas e<br />

transporte de cargas pesadas.<br />

Embora, para além da Convenção 182 e da Recomendação 190, ambas da<br />

OIT, os países devam ter também em conta na definição de trabalho perigosos<br />

a sua legislação nacional, em geral há algum consenso relativamente aos<br />

sectores de actividade e ocupações considerados perigosos para os menores e<br />

por isso proibidos. Estes incluem as indústrias marítima e mineira, os trabalhos<br />

com máquinas em movimento e/ou envolvendo grandes pesos e cargas e as<br />

actividades ligadas à construção, demolição e transportes.<br />

Assim, em resumo, para proceder à estimativa da incidência do trabalho infantil<br />

no mundo, a OIT utiliza como medição: todas as crianças entre os 5 e os 11<br />

anos que desempenhem uma actividade económica; todas as crianças entre os<br />

12 e os 15 anos que desempenhem trabalhos que não possam ser<br />

considerados como leves; e ainda todas as crianças entre os 16 e os 17 anos<br />

envolvidas em trabalhos perigosos ou nas piores formas de trabalho infantil<br />

Em Portugal, a idade mínima prevista na lei para se poder ser admitido<br />

emprego é de 16 anos, aumentando para 18 anos nas relações de emprego<br />

público. As restantes condições que devem ser cumpridas para que um menor<br />

possa trabalhar são:<br />

- ter cumprido a escolaridade obrigatória;<br />

- dispor de capacidade física e psíquica adequada ao posto de trabalho,<br />

certificada por exame médico;<br />

24


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

- não haver oposição escrita por parte dos representantes legais do menor6.<br />

Há, no entanto, excepções, quer no que respeita à idade mínima de admissão<br />

quer ao requisito de cumprimento da escolaridade obrigatória. No que respeita<br />

à idade, um menor de 16 anos poderá trabalhar, se para além de ter concluído<br />

a escolaridade obrigatória cumprir outras duas condições; dispor de<br />

autorização escrita por parte dos seus representantes legais e efectuar<br />

trabalhos leves, ou seja, “que integrem tarefas simples e definidas, que<br />

pressuponham conhecimentos elementares e que não impliquem esforços<br />

físicos ou mentais inadequados” 7 .<br />

De acordo com a legislação portuguesa, o trabalho leve exclui todo aquele que<br />

for proibido ou condicionado a menores; cuja duração exceda 7 horas diárias e<br />

35 semanais; que inclua um período de trabalho de mais de 4 horas<br />

consecutivas sem um intervalo de 1 a 2 horas; em que não seja assegurado<br />

um período de descanso mínimo de 14 horas entre os períodos de trabalho de<br />

dois dias consecutivos; que integre um período de descanso semanal inferior a<br />

2 dias; e que implique trabalho nocturno (na ausência de fixação colectiva,<br />

considera-se o exercido entre as 20h de um dia e as 7h do dia seguinte) 8 .<br />

Em casos excepcionais, o menor poderá também trabalhar se não tiver<br />

cumprido a escolaridade obrigatória desde que frequente um estabelecimento<br />

de ensino ou esteja integrado num programa de aprendizagem ou formação<br />

que lhe confira equivalência à escolaridade obrigatório e, ainda, que o horário<br />

de trabalho não prejudique a sua assiduidade escolar e a sua participação em<br />

programas de formação profissional. Deverá também dispor de autorização<br />

escrita por parte dos seus representantes legais 9 .<br />

O trabalho artístico é objecto de regulamentação especial (conforme Lei nº<br />

35/2004, artº 138 a artº 146): os menores de 11 anos podem ter uma actividade<br />

nestas áreas, embora sujeitos a um limite horário que não deverá exceder as<br />

três horas por dia e as seis horas por semana. Ainda assim, a participação dos<br />

6<br />

Conforme o Regime Jurídico do Contrato Individual de Trabalho (LCT), artº 123º, nº 3 (Guia<br />

de Legislação e Recursos, 1999, p. 24).<br />

7<br />

Guia de Legislação e Recursos (1999).<br />

8<br />

Portaria 715%93, de 03 de Agosto; Decreto-Lei 409/71, de 27 de Setembro, artº 9º-A, nº 1,<br />

artº 10º-A, nº 1 e 3 e artº 33º.<br />

9<br />

Regime Jurídico do Contrato Individual de Trabalho (LCT), artº 122, nº 4.<br />

25


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

menores está sujeita a autorização por parte da Comissão de Protecção de<br />

Crianças e Jovens da área de residência do menor.<br />

Tal como referido anteriormente, não é tarefa simples determinar se muitas das<br />

actividades desenvolvidas por menores podem ser consideradas como trabalho<br />

infantil. Em Portugal, nas investigações desenvolvidas sobre esta temática<br />

(SIETI, Sarmento) tem sido utilizado um amplo conjunto de indicadores para a<br />

avaliação deste fenómeno. Conforme afirma Sarmento (2005: 102), estes<br />

indicadores “são particularmente pertinentes para crianças com idade superior<br />

a 12 anos”, uma vez que não é aceitável que crianças abaixo deste nível etário<br />

realizem actividades laborais numa base regular.<br />

Assim, tem-se habitualmente em conta aspectos como:<br />

- tipo de trabalho exercido, suas características e o contexto em que se realiza:<br />

o trabalho é penoso ou simples? É monótono e repetitivo ou permite realizar<br />

várias tarefas, podendo até estimular servir de estímulo à curiosidade e ao<br />

desenvolvimento da criatividade por parte do menor? As tarefas são perigosas<br />

ou o local é inadequado/sem condições? Qual o sector de actividade?<br />

- o seu ritmo, intensidade e duração: é realizado de forma contínua? Todos os<br />

dias ou somente alguns? Tem carácter permanente ou temporário? Inclui<br />

períodos de trabalho nocturno? Permite que o menor tenha tempo para outras<br />

actividades, como brincar, dormir, conviver com outras pessoas?<br />

- efeitos do trabalho: o exercício dessa actividade prejudica a aquisição de<br />

competências por parte da criança ou as suas perspectivas de futuro?<br />

Pressupõe a reprodução de um trabalho desqualificado? Que tipo de relação<br />

existe entre o trabalho, a frequência e o sucesso escolar? Para além disso, o<br />

trabalho afecta, de alguma forma, o desenvolvimento biopsicológico e motor da<br />

criança?<br />

- a vontade/desejo de trabalhar: o trabalho é realizado de forma voluntária por<br />

parte da criança ou esta é forçada a fazê-lo?<br />

26


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2. Aspectos metodológicos<br />

O conhecimento objectivo e aprofundado do trabalho infantil remete para o<br />

estudo simultâneo de um conjunto amplo de variáveis específicas do fenómeno<br />

e de outras de natureza económica, social e cultural, que só ganham uma<br />

dimensão compreensiva se integradas a partir da observação de processos<br />

sociais concretos que ajudem a compreender as dinâmicas socais que lhe<br />

estão subjacentes. Ou seja, para além de uma análise estatística, de natureza<br />

mais quantitativa, pretende-se também compreender os contextos<br />

socioculturais que produzem, reproduzem, e em certos casos dissolvem<br />

situações de trabalho infantil.<br />

Nesse sentido, o estudo tem sido desenvolvido de acordo com uma estratégia<br />

de investigação que articula instrumentos metodológicos diferenciados em<br />

função da especificidade dos objectos de estudo, com vista a uma observação<br />

gradual de uma realidade complexa ao nível do conteúdo e da acessibilidade<br />

aos agentes sociais envolvidos.<br />

A metodologia de investigação desenvolveu-se segundo duas dimensões: uma,<br />

em que se procura articular as abordagens quantitativas com as qualitativas; e<br />

outra, em que a observação macro, de âmbito nacional, é aprofundada ao nível<br />

micro, a partir da análise de situações particulares (eg. situações mais difíceis,<br />

casos emergentes e boas práticas).<br />

2.1. Pesquisa bibliográfica<br />

Procedeu-se à recolha e análise de bibliografia específica sobre a temática,<br />

abrangendo os vários domínios do estudo, em particular o da Sociologia, da<br />

Educação, da Economia e da Gestão.<br />

Desta elaboração teórica e conceptual resultaram as linhas de orientação<br />

científica que nortearam a construção dos instrumentos de recolha, tratamento<br />

e análise dos dados deste estudo.<br />

27


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A análise documental foi especialmente relevante para a construção e<br />

aperfeiçoamento do inquérito por questionário a aplicar aos alunos inseridos<br />

nos Programas Integrados de Educação e Formação.<br />

2.2. Recolha e análise de dados relevantes<br />

Para além dos procedimentos com vista à preparação e execução do trabalho<br />

de campo, foi feita a recolha e tratamento de dados fornecidos por várias<br />

instituições parceiras do projecto.<br />

2.2.1. Estatísticas da Educação<br />

Foi feita a recolha e tratamento de dados sobre a Educação a nível europeu e<br />

nacional, disponibilizados pelo Ministério da Educação, bem como o seu<br />

cruzamento com os indicadores estatísticos fornecidos pelo INE, com vista à<br />

análise macro dos contextos demográficos, económicos, sociais e culturais<br />

potencialmente conducentes a situações de Trabalho Infantil. Numa primeira<br />

fase, a análise efectuada permitiu a identificação de clusters de variáveis<br />

relevantes e numa segunda fase o estudo aprofundado das relações mais<br />

pertinentes.<br />

2.2.2. Bases de dados do <strong>PETI</strong><br />

No <strong>PETI</strong> foram consultados dois tipos de bases de dados: uma base de dados<br />

relativa aos alunos sinalizados em trabalho infantil; outra base de dados com<br />

os alunos que frequentam o programa PIEF.<br />

Os dados fornecidos relativamente aos casos sinalizados foram-nos cedidos<br />

em Access, e encontravam-se organizados em vários ficheiros, relativos a<br />

dimensões diferentes da intervenção do <strong>PETI</strong> (alternativa PIEF, diligências<br />

28


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

feitas, casos sinalizados, casos intervencionados, etc.), e diziam respeito a um<br />

período bastante largo de tempo 10 .<br />

Face à pluralidade de fontes e natureza das variáveis, foi necessário construir<br />

uma nova base de dados de uniformização da informação fiável para os<br />

objectivos do estudo.<br />

Nesse sentido, procedeu-se a uma rigorosa “crítica das fontes”, e recorreu-se a<br />

um especialista informático em Access, que trabalhou a informação da base de<br />

dados de forma a tornar viável o seu tratamento. A base de dados construída<br />

permite referenciar os casos de trabalho infantil sinalizados pelo <strong>PETI</strong>,<br />

efectivos ou indiciados.<br />

O tratamento e análise da base de dados do <strong>PETI</strong> foi feito através da<br />

construção de uma matriz de agregação de várias tabelas e sua importação<br />

para o programa de análise estatística SPSS, com vista ao apuramento<br />

estatístico de indicadores que permitam a construção de uma amostra<br />

estatisticamente representativa de crianças e jovens sinalizados por esta<br />

instituição.<br />

Muitos dos casos chegam ao conhecimento do <strong>PETI</strong> exactamente através de<br />

outras instituições: as escolas são quem mais sinaliza (pelo menos em<br />

algumas regiões), mas há também sinalizações por parte de Comissões<br />

Nacionais de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, da Segurança Social,<br />

do Instituto de Reinserção Social, da Inspecção-Geral do Trabalho (no Alentejo,<br />

fonte de muitas sinalizações), dos Departamentos de Acção Social de<br />

Autarquias ou até mesmo de hospitais.<br />

Na sua maioria, as sinalizações dizem respeito a situações de abandono<br />

escolar (ou mesmo absentismo, retenções repetidas e mau comportamento) e<br />

não tanto de trabalho infantil. Contudo, após diagnóstico e avaliação das<br />

situações, verifica-se que o trabalho infantil coexiste com o abandono e/ou<br />

insucesso escolar. O <strong>PETI</strong> não intervém portanto apenas em situações<br />

evidentes de trabalho infantil, mas também quando o menor se encontra em<br />

risco disso: situações em que está há dois ou três anos em abandono (mesmo<br />

que não formal), faça ou não “biscates” ou tarefas de apoio à família. O <strong>PETI</strong><br />

10 Na base de dados cedida encontravam-se dados desde os finais dos anos 90 até 2006.<br />

29


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

também poderá intervir em casos em que os menores se encontrem em<br />

situação de risco socioeconómico e/ou apresentem comportamentos de risco.<br />

A análise desta fonte foi um instrumento fundamental para a definição de<br />

estratégias de investigação a seguir para o estudo dos processos e dinâmicas<br />

sociais subjacentes ao trabalho infantil. De facto, a percepção da dimensão dos<br />

casos sinalizados ajudou-nos a definir o universo do estudo. Foi a partir daqui<br />

que ficou mais clara a opção metodológica de inquirir os alunos de PIEF, bem<br />

como de construir uma amostra emparelhada, através da qual poderíamos<br />

contextualizar os percursos dos alunos inseridos nestes programas.<br />

As bases construídas a partir dos dados do <strong>PETI</strong> vão em anexo, em suporte<br />

informático.<br />

Quanto à informação sobre os alunos PIEF, e segundo os ficheiros fornecidos<br />

pelos coordenadores regionais do <strong>PETI</strong>, foram considerados todos os<br />

estabelecimentos de ensino do Continente onde decorre aquele programa. No<br />

seu conjunto, foram inquiridos alunos de 107 escolas, repartidas pelas cinco<br />

regiões (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) abrangendo,<br />

à data do fornecimento das listagens, 1740 alunos PIEF, excluindo todos os<br />

que, calculando a idade ao início do trabalho de campo (1 de Maio de 2007),<br />

tinham 18 anos. Nestas escolas, e de forma a ser possível a constituição das<br />

amostras emparelhadas, foi ainda efectuado um levantamento dos alunos do<br />

ensino regular aí existentes em 2006.<br />

Há dois tipos de PIEF: um confere formação até ao 6º ano (PIEF tipo 1), outro<br />

até ao 9º ano (PIEF tipo 2). Os professores deste programa são normalmente<br />

destacados, embora haja muitos que se dedicam só a PIEF. O referencial dos<br />

curricula dos PIEF é o ensino regular, havendo todavia alguma flexibilidade a<br />

nível dos conteúdos programáticos, que se devem adaptar às realidades dos<br />

alunos. A formação engloba várias áreas, desde a de cariz sociocultural à<br />

vocacional (é feito uma avaliação vocacional, com a colaboração de instituições<br />

várias, como creches, centros de dia, corporações de bombeiros), passando<br />

pela elaboração de um projecto de vida.<br />

A região de Lisboa e Vale do Tejo tem um modelo de intervenção algo<br />

diferenciado a nível curricular. Alguns dos alunos de PIEF (maiores de 16 anos)<br />

30


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

estão inseridos em “<strong>PETI</strong> empresa”, ou seja, passam apenas 40% do tempo<br />

em formação na escola e os restantes 60% em formação em contexto de<br />

trabalho, numa empresa (dispõem de uma bolsa de formação, paga pelas<br />

empresas). Existe também o “<strong>PETI</strong> comunidade” (tanto a nível dos PIEF tipo 1<br />

como dos de tipo 2): os menores em PIEF dedicam uma tarde por semana a<br />

actividades de voluntariado, úteis para si e para os outros – em lares, jardins-<br />

de-infância, associações várias, corporações de bombeiros, etc.<br />

Relativamente a estes dados ver anexos em cd-rom.<br />

2.2.3. Dados da Comissão Nacionais de Protecção de Crianças e Jovens<br />

em Risco<br />

Foi feita a recolha e tratamento de dados sobre as Comissões de Nacionais de<br />

Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR), cujas linhas<br />

orientadoras e principais resultados serão apresentados num outro capítulo<br />

deste relatório.<br />

Foram igualmente efectuadas entrevistas exploratórias aos coordenadores<br />

regionais do <strong>PETI</strong>, cujos resultados serão objecto de análise ao longo do<br />

relatório<br />

Em seguida, far-se-á uma descrição pormenorizada dos instrumentos<br />

metodológicos utilizados nos inquéritos aos alunos das escolas onde decorrem<br />

os PIEF (alunos dos PIEF e do ensino regular), bem como aos Presidentes dos<br />

Conselhos Executivos e responsáveis pelos programas PIEF nas escolas.<br />

2.3. Questionários<br />

2.3.1. Questionário aos alunos<br />

A construção dos questionários foi feita ao longo de vários meses, durante os<br />

quais foram realizadas pesquisas documentais e reuniões periódicas com<br />

consultores especializados em várias áreas relevantes para a problemática em<br />

31


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

estudo. O seu contributo foi central para a formulação das questões e para o<br />

processo de selecção de categorias de resposta.<br />

A estrutura do questionário aplicado aos alunos é constituída por 6 módulos: A.<br />

Sobre ti e a tua família / pessoas com quem vives; B. Tu e a tua escola; C. A<br />

tua vida fora da escola; D. E daqui para a frente…; E. Outras questões; F. A<br />

família / pessoas com quem vive.<br />

O questionário passou por várias versões 11 , que foram periodicamente revistas<br />

e reformuladas, com introdução permanente de sugestões dos parceiros e<br />

consultores deste projecto. O diálogo permanente com os parceiros neste<br />

projecto foi essencial também nesta fase, onde as sugestões metodológicas<br />

por parte do INE, e de conteúdo por parte do <strong>PETI</strong> enriqueceram a qualidade<br />

dos instrumentos de recolha de informação.<br />

A necessidade de fechar a grande maioria das questões do inquérito resultou<br />

de uma opção metodológica que veio facilitar o trabalho de recolha, inserção e<br />

tratamento dos dados, mas também criar novos desafios de adaptação e<br />

criação de métodos inovadores para o processo que se seguiu ao trabalho de<br />

campo.<br />

A aplicação dos questionários com recurso a PDA (Personal Digital Assistent),<br />

se por um lado reduziu substancialmente os erros não probabilísticos, por outro<br />

lado, e uma vez que se trata de um meio relativamente novo em Portugal,<br />

implicou também uma adaptação por parte dos vários investigadores que<br />

participaram neste projecto.<br />

A programação dos questionários foi feita por uma empresa especializada e<br />

contratada para o efeito (CrazyDog – Paradigmas Tecnológicos). Durante todo<br />

este processo houve um acompanhamento permanente por parte da equipa de<br />

investigação, que testou periodicamente a aplicação informatizada,<br />

assegurando uma atempada correcção de falhas e erros na introdução das<br />

questões para este formato. Prestou-se especial atenção à coerência interna e<br />

capacidade operacional do questionário.<br />

11 As sugestões e correcções dos parceiros e consultores do projecto foram sendo inseridas ao<br />

longo de 26 versões por que passou o questionário aos jovens e crianças. Procurou-se também<br />

actualizar permanentemente a versão do questionário em papel, de forma a reproduzir<br />

integralmente a versão informatizada, que foi aplicada em PDA.<br />

32


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Por outro lado, a utilização deste instrumento de recolha implicou uma<br />

pesquisa exaustiva no sentido de fechar as questões colocadas com categorias<br />

pertinentes.<br />

Para além deste esforço, outra importante etapa foi a de familiarizar todos os<br />

intervenientes directos no processo de recolha e tratamento dos dados com<br />

este novo método.<br />

2.3.2. Questionários aos professores e às escolas<br />

O questionário às escolas, que continha duas partes, foi aplicado em todas as<br />

escolas em que existem turmas de PIEF. A primeira parte foi concebida para<br />

ser preenchida por um elemento do Conselho Executivo da Escola; a segunda<br />

parte foi aplicada por inquiridores a um docente indicado pelo Conselho<br />

Executivo (pediu-se que indicassem um docente da(s) turma(s) PIEF, que<br />

preferencialmente fosse também docente de turmas do ensino regular, de<br />

modo a que se pudesse ter a percepção de alguém mais familiarizado com a<br />

realidade da escola em geral).<br />

No seu conjunto, tratam-se de questionários relativamente extensos, com 139<br />

variáveis, no caso do questionário ao conselho executivo da escola, e 242<br />

variáveis no caso do questionário aos professores.<br />

2.4. População inquirida e amostra<br />

Tendo-se privilegiado os alunos PIEF como o espaço social de referência para<br />

o estudo do trabalho infantil potencial ou efectivo, optou-se por inquirir todos os<br />

alunos das escolas onde decorriam os programas PIEF existentes em 2006, no<br />

Continente.<br />

Deste modo, não foi construída uma amostra, mas considerou-se todo o<br />

universo de alunos PIEF, de acordo com a listagem fornecida pelo <strong>PETI</strong>.<br />

33


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Fazem parte deste universo 107 escolas e 1740 alunos. Este era o número de<br />

alunos inscritos em turmas de PIEF em Dezembro de 2006.<br />

De facto, estes alunos abrangem as situações de abandono escolar indiciado<br />

ou efectivo, ou situações de Trabalho Infantil indiciado ou efectivo. Deste modo,<br />

tornar-se-ia possível a análise das dinâmicas e dos processos sociais<br />

“produtores ou reprodutores” do trabalho infantil. Definiu-se ainda que, para<br />

além da aplicação de questionários ao universo de alunos dos PIEF, ir-se-ia<br />

também inquirir alunos do Ensino Regular, através da construção de uma<br />

amostra emparelhada.<br />

A necessidade de construção de uma amostra emparelhada, constituída pelos<br />

alunos do Ensino Regular, resultou da constatação de que, para retirar<br />

conclusões sustentadas acerca dos alunos inseridos nos programas PIEF,<br />

teríamos de ter um grupo de controlo, com características homólogas. Assim, a<br />

construção da amostra obedeceu a três critérios fundamentais: a frequência do<br />

mesmo estabelecimento de ensino; o sexo; e a idade.<br />

A recolha das listas dos alunos em PIEF, cedida pelos coordenadores regionais<br />

dos programas, foi o instrumento que serviu de base à definição desta amostra.<br />

Através da construção de uma base de dados destes alunos, na qual<br />

constavam as três variáveis acima referidas (escola a que pertence o PIEF;<br />

sexo; e data de nascimento), agregaram-se as idades à data de inscrição no<br />

ano lectivo de 2006/2007 (15 de Setembro de 2006) segundo escalões etários<br />

correspondentes aos ciclos escolares, obtendo assim três escalões: menores<br />

de 12 anos, que corresponde à idade de frequência do 2º ciclo; entre 13 e 15<br />

anos, correspondente à idade de frequência do 3º ciclo; e entre 16 e 17 anos,<br />

ou seja, a idade de frequência do ensino secundário (excluíram-se os alunos<br />

com 18 e mais anos já que, a partir desta idade, deixam de poder ser<br />

considerados como casos de trabalho infantil potencial ou efectivo). A<br />

metodologia de emparelhamento foi aplicada apenas nos casos em que os<br />

programas PIEF decorriam pelo menos parcialmente no espaço da escola.<br />

Há ainda a referir que, no que diz respeito ao emparelhamento etário, a<br />

selecção dos alunos do Ensino Regular partiu do pressuposto de que estes<br />

nunca ficaram retidos, i.e., os alunos foram seleccionados exclusivamente pela<br />

frequência dos ciclos de ensino, independentemente de terem ou não as<br />

34


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

idades correspondentes, pelo que não se tiveram em conta possíveis retenções<br />

nos seus percursos escolares.<br />

Para a selecção dos alunos do Ensino Regular a inquirir pediu-se às escolas as<br />

listas dos alunos inscritos descriminadas por ano escolar, turma e sexo 12 . Fez-<br />

se uma selecção aleatória dos alunos a inquirir, através de um método de<br />

lotaria (controlando as variáveis ‘ciclo escolar’ e sexo). Este método foi aplicado<br />

às listas dos alunos de cada escola (a escola foi também um critério de<br />

emparelhamento, como já se referiu antes). Sempre que não tivemos acesso<br />

às listas dos alunos numa determinada escola, através dos dados recolhidos<br />

on-line na página do Ministério da Educação 13 relativos ao número de alunos<br />

inscritos em cada escola, fez-se uma estimativa do número de turmas, partindo<br />

da dimensão máxima da turma para cada ciclo escolar instituída pelo Ministério<br />

da Educação 14 .<br />

Sempre que um aluno não podia ou não aceitava responder ao questionário,<br />

estabeleceu-se que se passaria para o aluno seguinte na lista de alunos, com a<br />

condição de pertencer ao mesmo ciclo escolar e ter o mesmo sexo.<br />

Esta metodologia de substituição repetiu-se relativamente às turmas: sempre<br />

que uma turma não estava na escola ou os alunos não estavam disponíveis<br />

para responder ao inquérito, retiravam-se os alunos da turma seguinte, desde<br />

que fosse uma turma do mesmo ciclo de escolaridade. Nos casos em que a<br />

turma seguinte era já uma turma de outro ciclo, reiniciava-se a contagem das<br />

turmas.<br />

A construção da amostra de alunos do Ensino Regular, bem como as<br />

operações necessárias à sua selecção em cada escola, ou mesmo substituição<br />

de alunos em falta, foi sempre orientada cientificamente durante o trabalho de<br />

campo pela Prof. Doutora Fátima Miguens.<br />

12<br />

A construção e execução da metodologia para os emparelhamentos foi realizada pela profª<br />

Fátima Miguens.<br />

13<br />

http://www.min-edu.pt/outerFrame.jsp?link=http%3A//www.giase.min-edu.pt/<br />

14<br />

As turmas do 5º ao 12º ano não devem ter menos de 24 alunos nem mais de 28, com a<br />

excepção de turmas com alunos com necessidades especiais (nestes casos não devem<br />

exceder os 20 alunos), turmas de cursos profissionais (que devem ter entre 18 e 23 alunos) e<br />

turmas dos Cursos de Educação e Formação (devem ter entre 10 e 20 alunos). Despacho n°<br />

14026/07. "D. R. 2ª série", nº 126, 3 de Julho 2007, 18807 (http://www.dgidc.minedu.pt/fichdown/Despacho%2014026-07.pdf.<br />

Consultada em Outubro 2007).<br />

35


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Apresentamos em anexo as fichas metodológicas construídas para cada<br />

escola.<br />

Em todos os casos pediu-se às escolas o envio das listas dos alunos para que<br />

a selecção aleatória pudesse ser executada em tempo útil, para que os<br />

inquiridores tivessem acesso a essa informação antes de se deslocarem às<br />

escolas. Nos casos em que isso não foi possível, fez-se uma estimativa do<br />

número de turmas existentes na escola por ciclo de ensino, feita através do<br />

número total de alunos da escola (esta informação este disponível online, na<br />

página do Ministério da Educação referida na nota 1).<br />

Procurou-se sempre que a lista final de alunos do Ensino Regular a inquirir<br />

fosse feita nas bases de coordenação, antes da ida do inquiridor à escola. No<br />

entanto, esta tarefa nem sempre foi possível (muitas vezes, as escolas nunca<br />

chegavam a enviar a listas pedidas). Foi relativamente recorrente o acesso às<br />

listas dos alunos inscritos no Ensino Regular apenas quando o inquiridor<br />

chegava à escola, o que implicou a selecção dos alunos in loco. Nestes casos,<br />

a metodologia de selecção a aplicar na escola era enviada ao inquiridor, que<br />

faria a lista dos alunos, recorrendo à ajuda dos coordenadores sempre que tal<br />

se justificasse.<br />

2.5. Trabalho de campo<br />

A preparação do trabalho de campo passou por várias etapas importantes, das<br />

quais se destaca o contacto com as escolas, a selecção e formação de<br />

inquiridores e inquiridoras, e finalmente a realização de pré-testes e a<br />

administração dos questionários. Falaremos de seguida acerca de cada uma<br />

destas fases com maior detalhe.<br />

O contacto com as escolas aconteceu em vários momentos, e foi o primeiro<br />

passo para a preparação do trabalho de campo.<br />

Antes do contacto com as escolas, foi necessário proceder a uma inventariação<br />

daquelas a que estavam vinculados os PIEF. A partir dessa listagem,<br />

recorremos a informação do Ministério da Educação disponível on-line para a<br />

36


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

construção de uma base de dados de onde constavam os contactos, moradas<br />

e informações relevantes acerca dessas escolas; instrumento que se revelou<br />

da maior importância de forma a tornar todo este processo mais eficiente e<br />

menos moroso.<br />

No primeiro contacto com as escolas procurámos informar e sensibilizar os<br />

responsáveis dos vários estabelecimentos de ensino para a relevância do<br />

estudo. Foi enviada uma carta endereçada aos presidentes dos vários<br />

Conselhos Executivos, onde se enunciavam os objectivos do estudo e dos<br />

questionários a aplicar e se pedia autorização para a aplicação destes no<br />

espaço da escola.<br />

A este nível foi fundamental o apoio institucional do Ministério da Educação, de<br />

forma a facilitar a abordagem e colaboração dos estabelecimentos de ensino<br />

onde iria decorrer o trabalho de campo.<br />

Os pré-testes realizados forneceram elementos fundamentais para o<br />

aperfeiçoamento dos instrumentos de recolha de informação, permitindo<br />

detectar e corrigir aspectos de linguagem dos questionários, reforçar as<br />

recomendações aos inquiridores e decidir a melhor forma de colocar as<br />

questões.<br />

Foram realizados pré-testes em duas fases da preparação do trabalho de<br />

campo: o primeiro com vista ao aperfeiçoamento do conteúdo do questionário<br />

aos jovens e crianças, que foi aplicado em suporte de papel a alunos inseridos<br />

nos programas PIEF sedeados na Escola Básica dos 2º e 3º ciclos do Ensino<br />

Básico Fernando Pessoa; a segunda fase de pré-teste serviu essencialmente<br />

para testar a aplicação dos questionários com recurso ao PDA. Permitiu ainda<br />

introduzir alterações importantes aos questionários, que tornaram o processo<br />

de inquirição mais rápido e compreensível para os alunos, corrigindo falhas que<br />

só poderiam ser detectadas no terreno.<br />

A participação dos consultores foi fundamental no processo de recrutamento e<br />

selecção dos inquiridores. Para as regiões Norte e Centro, foram recrutados 10<br />

inquiridores, licenciados ou mestrandos em áreas relacionadas com a<br />

Educação.<br />

37


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

O recrutamento de inquiridores para as regiões do Alentejo e Algarve foi feito<br />

com a ajuda de técnicos superiores do Ministério da Educação e de<br />

professores das Escolas Superiores de Educação.<br />

Para a região de Lisboa e Vale do Tejo o recrutamento foi feito entre<br />

licenciados, formados sobretudo em Sociologia e em áreas da Educação. No<br />

total, foram recrutados 9 inquiridores para a realização dos questionários nesta<br />

região.<br />

Após o recrutamento foram feitas várias acções de formação, que decorreram<br />

em Lisboa e em Braga, no sentido de dotar os inquiridores de instrumentos<br />

teóricos e metodológicos essenciais ao desenvolvimento do trabalho de campo.<br />

As acções de formação tiveram em conta alguns pontos essenciais: a<br />

explicitação teórica das principais temáticas em causa no projecto; uma<br />

exposição acerca dos principais objectivos; uma análise dos questionários a<br />

aplicar; e uma explicação acerca das funcionalidades e aplicações do PDA.<br />

Após uma primeira formação de todos os inquiridores, deu-se uma semana<br />

para a exploração da utilização do PDA, e para o estudo dos questionários e<br />

dos guiões para a sua aplicação. Terminado este período fez-se nova acção de<br />

formação, com vista ao esclarecimento de questões.<br />

Nestas acções de formação foi dado a cada inquiridor um PDA e cópias dos<br />

questionários em papel. Cada PDA estava já dotado de um cartão de telefone e<br />

de saldo para a realização de contactos com as escolas e com os<br />

coordenadores e para o envio dos questionários através de ligações à internet.<br />

Foram ainda dadas instruções para que cada inquiridor elaborasse um diário<br />

de campo, onde deveriam constar as discrepâncias entre o número de<br />

questionários previstos para cada escola e os que foram efectivamente<br />

realizados. Nos casos em que os valores não eram coincidentes, era<br />

necessário explicitar as razões para que tal se verificasse (por exemplo,<br />

desistências de alunos dos programas de PIEF ou fraca colaboração por parte<br />

das escolas, invalidando assim a realização de questionários aos alunos do<br />

Ensino Regular, entre outros).<br />

No seu conjunto, participaram no trabalho de campo 24 inquiridores(as).<br />

38


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Para a execução do trabalho de campo optámos por organizar e dividir a<br />

coordenação por grupos de regiões. Para além destas coordenações mais<br />

operacionais, esteve sempre disponível um membro da equipa do projecto,<br />

com um conhecimento teórico das temáticas em estudo mais aprofundado,<br />

permanentemente contactável para a resolução de questões de índole<br />

metodológica ou de conteúdo dos questionários.<br />

A coordenação do trabalho de campo foi partilhada por duas pessoas<br />

contratadas para o efeito, responsáveis por dois grandes grupos regionais: um<br />

coordenador operacional para as regiões Norte e Centro; outro para as regiões<br />

de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.<br />

A totalidade de questionários a realizar em cada um destes grupos regionais<br />

era sensivelmente o mesmo, repartido por um número também idêntico de<br />

escolas.<br />

A coordenação da área regional de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve<br />

foi directamente assegurada pela Dra. Dalila Cerejo, membro da equipa do<br />

SociNova.<br />

Esta coordenação foi realizada em duas etapas distintas. A primeira etapa<br />

consistiu no contacto directo com os Presidentes dos Conselhos Executivos<br />

das escolas, a fim de prestar esclarecimentos sobre o projecto, obter<br />

autorizações das escolas para a realização dos inquéritos aos alunos do ensino<br />

regular e articular agendas de forma a evitar perturbar a vida escolar dos<br />

inquiridos, sem atrasar em demasia a recolha da informação.<br />

Os inquiridores que realizaram inquéritos nas áreas regionais mencionadas<br />

deslocaram-se em pares, permitindo assim uma maior rapidez na inquirição do<br />

número total dos alunos em cada escola.<br />

Em média, os inquiridores necessitaram de dois dias para realizar o número de<br />

inquéritos estabelecido para as escolas para as quais foram destacados, muito<br />

embora se tenham registado alguns atrasos nas escolas que acharam<br />

necessário pedir autorização aos encarregados de educação dos alunos do<br />

ensino regular.<br />

A coordenação das regiões Norte e Centro foi assegurada pela Dra. Saidatina<br />

Khadidiatou Dias, uma investigadora da área das Ciências da Educação<br />

39


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

indicada pelo Prof. Manuel Sarmento, que teve formação específica para fazer<br />

o contacto com as escolas. Uma vez que esta coordenação não foi feita<br />

directamente no espaço do SociNova, onde se encontrava sedeada a<br />

coordenação científica e metodológica do trabalho de campo, criámos uma<br />

plataforma de cooperação e ajuda permanente, no sentido de dar respostas<br />

rápidas e sustentadas aos múltiplos problemas que surgem ao longo de um<br />

trabalho desta natureza.<br />

O planeamento de todo o trabalho realizado nas escolas do Norte e Centro foi<br />

feito pela coordenadora regional, em parceria com os vários inquiridores. Após<br />

o primeiro contacto com as escolas, realizado pela equipa do projecto,<br />

transmitiu-se a informação necessária para que esses contactos pudessem ser<br />

retomados pelas coordenadoras, no sentido de agilizar todo o processo de<br />

recolha de informação (marcação de datas para a ida dos inquiridores às<br />

escolas, envio de informações complementares, etc.).<br />

O trabalho de campo decorreu de 2 Maio a 8 Junho de 2007. As provas globais<br />

dos alunos dos 2º e 3º ciclos do Ensino Regular tiveram lugar durante o<br />

trabalho de campo, o que implicou um ligeiro atraso relativamente ao<br />

inicialmente previsto.<br />

2.6. Administração dos questionários<br />

Os questionários foram sempre administrados por um inquiridor num espaço<br />

reservado pelo Conselho Executivo da escola, com a presença exclusiva do<br />

inquirido, de forma a evitar eventuais constrangimentos nas respostas às<br />

questões colocadas.<br />

A duração média da aplicação dos questionários foi de 29 minutos,<br />

aproximadamente 20 minutos aos alunos do Ensino Regular e 40 minutos aos<br />

alunos inseridos nos programas de PIEF. Esta diferença de tempo médio de<br />

aplicação dos questionários resulta da necessidade de se colocarem questões<br />

relativas às especificidades dos programas de PIEF, que não poderiam ser<br />

respondidas pelos alunos do Ensino Regular.<br />

40


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A parte A do questionário às escolas foi entregue no Conselho Executivo das<br />

escolas, onde foi preenchido e entregue ao inquiridor. Nos casos em que este<br />

questionário não estava ainda preenchido na altura em que o inquiridor<br />

terminou o trabalho naquela escola, foi entregue um envelope pré-pago e<br />

endereçado, de forma a facilitar o envio para a equipa de investigação.<br />

A parte B dos questionários foi sempre aplicada por um inquiridor a um docente<br />

indicado pelo Conselho Executivo.<br />

Os inquéritos foram aplicados em todas as escolas onde decorriam os PIEF, ou<br />

às quais estavam vinculados (refira-se que, embora todos os PIEF tenham um<br />

vínculo a uma escola, nem todos decorrem no espaço da escola), e um dos<br />

nossos objectivos iniciais foi o de aplicar os questionários ao universo dos<br />

alunos inseridos nestes programas. Todavia, nem sempre o número de alunos<br />

inscritos correspondia ao número efectivo de alunos a frequentar as aulas.<br />

Muitos destes alunos estavam a faltar por longos períodos, outros faltaram<br />

durante o tempo de aplicação dos questionários, outros ainda recusaram-se a<br />

responder. No entanto, fez-se um esforço suplementar no sentido dos<br />

inquiridores voltarem à escola para concluir a aplicação dos questionários;<br />

contudo, muitos dos alunos que deveriam responder nesse dia não<br />

compareciam novamente na escola.<br />

Como já referimos, a colaboração dos coordenadores regionais destes<br />

programas permitiu compilar uma lista de 107 escolas de Norte a Sul do país.<br />

Em cada escola foi-nos dada a lista dos alunos inscritos nas turmas de PIEF,<br />

com especificação do sexo e data de nascimento de cada aluno, que viriam a<br />

ser os critérios centrais para a construção da amostra emparelhada. Foi<br />

inicialmente previsto que iríamos aplicar os questionários a 1740 alunos de<br />

PIEF (a distribuição inicial por escola encontra-se em anexo).<br />

Deste total previsto de alunos a frequentar as aulas de PIEF no início do<br />

trabalho de campo, foram realizados questionários a 1098 alunos (cerca de<br />

63% do que ficou estipulado pela consulta das listas de alunos inseridos nos<br />

programas de PIEF em Dezembro de 2006).<br />

Dado que o número de alunos inscritos em PIEF varia ao longo do ano lectivo,<br />

segundo a informação fornecida pelos coordenadores regionais, no momento<br />

41


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

de realização do inquérito (Maio / Junho de 2007) estavam inscritos em 103<br />

escolas 15 , 1404 alunos de PIEF 16 . Todavia, nestas escolas só foram inquiridos<br />

1074 alunos, o que resulta numa taxa de realização de questionários de<br />

76,5% 17 .<br />

Se excluirmos as escolas acerca das quais não temos informação do número<br />

de alunos em PIEF à data da realização do trabalho de campo, da comparação<br />

entre a percentagem de alunos inscritos em Dezembro de 2006 e em Maio /<br />

Junho de 2007, teremos a distribuição percentual por região que se apresenta<br />

no gráfico abaixo, e que mostra a discrepância entre as listagens de alunos de<br />

PIEF por região que nos foi inicialmente cedida e a situação que encontrámos<br />

ao partir para o terreno:<br />

Gráfico 1 – Percentagem de alunos inscritos nos PIEF em Dezembro de 2006 e em Maio /<br />

Junho de 2007, por região<br />

%<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

35,5<br />

41,0<br />

12,2<br />

12,5<br />

42<br />

8,2<br />

NORTE CENTRO ALENTEJO ALGARVE LVT<br />

alunos inscritos em Dezembro de 2006 alunos inscritos em Maio/Junho de 2007<br />

8,0<br />

FONTE: Dados fornecidos pelo <strong>PETI</strong><br />

Desta forma, partimos destes valores actualizados para avaliar as taxas de<br />

realização dos questionários por região. Comparando agora a percentagem de<br />

questionários realizados com o número de alunos inscritos em PIEF no início<br />

do trabalho de campo (Maio / Junho de 2007), as discrepâncias entre o previsto<br />

15 A informação acerca dos alunos que deveriam estar inscritos em PIEF entre Maio e Junho de<br />

2007 foi-nos fornecida apenas para 103 das 107 escolas. Esta lista segue em anexo.<br />

16 As escolas acerca das quais não temos estes valores são: EB 23 Fernando Caldeira, EB 23<br />

António Dias Simões, EB Integrada do Eixo e EB 23 Branca, todas da região Centro.<br />

17 O que representa um aumento da taxa de realização em relação ao estipulado nos primeiros<br />

cálculos efectuados a partir do número de alunos inscritos em PIEF em Dezembro de 2006.<br />

6,6<br />

6,3<br />

37,5<br />

32,1


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

e realizado deixam de ser tão grandes como as que se verificavam<br />

relativamente aos questionários previstos com base no número de alunos que<br />

estavam em PIEF em Dezembro de 2006:<br />

%<br />

Gráfico 2 – Percentagem de alunos de PIEF inscritos em Maio / Junho de 2007<br />

relativamente à percentagem de questionários realizados, por região<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

41,0<br />

30,2<br />

12,5<br />

10,5<br />

43<br />

8,0<br />

NORTE CENTRO ALENTEJO ALGARVE LVT<br />

alunos inscritos em Maio/junho de 2007 questionários realizados<br />

5,6<br />

FONTE: Dados fornecidos pelo <strong>PETI</strong><br />

Em 14 escolas realizaram-se todos os questionários aos alunos que estavam<br />

inscritos nos PIEF 18 . Em 55 escolas onde isso não aconteceu, e acerca das<br />

quais temos informação quanto aos motivos pelos quais os alunos não<br />

estavam presentes ou não responderam ao questionário, apurou-se que, dos<br />

705 questionários que deveriam ter sido realizados (tendo agora em conta o<br />

número de alunos que estavam efectivamente inscritos na altura de realização<br />

do trabalho de campo), foram feitos 547 questionários 19 . Das razões apontadas<br />

para a não realização de 158 questionários nestas escolas 20 , destacam-se: as<br />

faltas nos dias da aplicação do questionário (67 alunos) 21 ; as desistências dos<br />

18 Escola Secundária de Lousada, EB 23 de Resende, Escola Secundária de Marco<br />

Canaveses, EB 23 António Correia de Oliveira, EB 23 de Alfena, EB 23 de Ceira, Escola<br />

Secundária Afonso de Albuquerque, EB 23 de Vila Nova Tázem, EB 23de Castro Daire, Escola<br />

Secundária de Reguengos de Monsaraz, EB 23 D. José I, EB 23 de Alfornelos, EB 23 Matilde<br />

Rosa Araújo, Escola Secundária c/ 3º ciclo Lima de Freitas.<br />

19 Para estas 55 escolas, a taxa de realização é de 77,5%.<br />

20 Este valor equivale à diferença entre os questionários previstos (a partir do número de alunos<br />

à data de realização do trabalho de campo) e o número de questionários realizados.<br />

21 Destes, não conseguimos apurar quantos já estavam a faltar regularmente há algum tempo.<br />

Assumiu-se assim que faltaram no dia da aplicação dos questionários. Diga-se a este respeito<br />

6,3<br />

5,2<br />

32,1<br />

25,0


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

PIEF (38 alunos); as faltas regulares (35 alunos); alunos que atingiram a<br />

maioridade (9 alunos); encaminhamento / transição para outras respostas<br />

formativas (5 alunos); recusas em responder ao questionário (3 alunos); e 1<br />

expulsão / processo disciplinar.<br />

Neste ponto, resta salientar o profissionalismo e a colaboração dos<br />

professores, técnicos e presidentes dos Conselhos Executivos das escolas,<br />

bem como a disponibilidade e a pronta adesão dos alunos que responderam ao<br />

inquérito.<br />

2.7. Validação, tratamento e análise dos dados<br />

O envio dos questionários a aplicar aos alunos foi sendo feito ao longo de todo<br />

o trabalho de campo. Cada inquiridor recebeu instruções para que enviasse via<br />

Internet os questionários diariamente durante a primeira semana de trabalho, e<br />

posteriormente de dois em dois dias.<br />

A informação ficou armazenada em base sedeada em Lisboa, e<br />

especificamente construída para o efeito.<br />

A aplicação informática permitiu a passagem imediata da informação para uma<br />

base de dados previamente construída, da qual constam 626 variáveis<br />

correspondentes às várias questões do questionário. Esta funcionalidade<br />

permitiu que se corrigissem erros que foram surgindo à medida que o trabalho<br />

ia sendo desenvolvido.<br />

Terminado o trabalho de campo, procedeu-se à primeira fase de validação da<br />

base de dados através do programa de cálculo estatístico SPSS (Statistical<br />

Package for Social Sciences).<br />

Do primeiro processo de validação resultaram 48 questionários inválidos, que<br />

tinham mais de 90% de não respostas ou não respostas às questões centrais<br />

do nosso estudo 22 .<br />

que os inquiridores voltaram sempre à escola no sentido de realizar a totalidade dos inquéritos<br />

previstos.<br />

22 A maioria dos questionários com taxas de resposta muito elevadas é essencialmente<br />

resultante de testes à aplicação informatizada que, por razões técnicas, foram indevidamente<br />

enviados para a nossa base de dados. Os restantes questionários foram invalidados por terem<br />

44


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Após a eliminação destes questionários chegou-se a uma base de dados<br />

constituída por 2147 casos, dos quais 1098 eram alunos dos programas de<br />

PIEF e 1047 alunos do Ensino Regular. Depois do processo de selecção<br />

aleatória dos questionários aos alunos do ER que iriam ser utilizados para a<br />

amostra emparelhada, chegámos a uma base de emparelhamentos com 684<br />

alunos dos programas PIEF e do ER 23 . Esta base de dados servirá para<br />

aumentar a profundidade analítica do estudo, em relação aos percursos dos<br />

alunos de PIEF; a sua utilização contemplará os indicadores seleccionados<br />

com base na sua pertinência para o objectivo do estudo. Independentemente<br />

do número de emparelhamentos, todos os questionários realizados aos alunos<br />

PIEF serão alvo de tratamento estatístico.<br />

Ainda relativamente ao processo de validação da base de dados, importa<br />

referir que neste trabalho se adoptou uma metodologia que permitiu evitar<br />

todos os “erros não probabilísticos” resultantes da introdução dos dados. De<br />

facto, a base de dados resultou da importação dos dados à medida que iam<br />

sendo recolhidos. Nesse sentido, a metodologia utilizada teve de ser adaptada<br />

a esta nova técnica de recolha. Consequentemente, adoptámos uma estratégia<br />

de validação que passou pela leitura dos outputs de todas as variáveis, onde<br />

identificámos todos os questionários com erros ou falhas de informação. Esta<br />

informação foi posteriormente compilada numa outra base de dados, à qual foi<br />

aplicado um tratamento estatístico no sentido de apurar que questionários<br />

viriam a ser eliminados ou, por outro lado, quais os questionários que, mesmo<br />

tendo erros pontuais, poderiam mesmo assim ser utilizados para a nossa<br />

análise.<br />

Conseguimos, através deste processo, não apenas chegar a uma base de<br />

dados final mais estruturada e consolidada, mas também averiguar, não só no<br />

final mas também ao longo do processo, as assimetrias entre os métodos de<br />

faltas generalizadas de informação, ou falta de informação relativamente a variáveis centrais do<br />

questionário (não respostas às questões acerca da realização ou não de actividades na última<br />

semana e no passado).<br />

23 Uma vez que o número final de alunos de PIEF inquiridos foi menor do que o inicialmente<br />

previsto, e que se inquiriram, por razões práticas, praticamente todos os alunos do ER<br />

previstos no início do trabalho de campo, ficámos com um excedente de questionários aos<br />

alunos do ER, que teve de ser reduzido ao número de emparelhamentos possíveis, segundo os<br />

critérios inicialmente estabelecidos. Isto implica que, exclusivamente para fins de<br />

emparelhamento, trabalharemos apenas com 684 alunos de PIEF e 684 alunos do ER. Tal não<br />

invalida que se faça uma análise estatística dos 1098 alunos de PIEF inquiridos.<br />

45


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

aplicação dos questionários por parte dos inquiridores. Desta forma,<br />

conseguimos ir corrigindo erros na aplicação por parte dos inquiridores, e<br />

perceber o nível de qualidade da informação recolhida por parte de cada um<br />

deles.<br />

Nesta primeira fase de exploração da base de dados que resultou do trabalho<br />

de campo, pretendemos apresentar alguns elementos de caracterização da<br />

população inquirida.<br />

Tendo retirado da base de dados inicial todos os questionários feitos a alunos<br />

do Ensino Regular que não emparelhavam (segundo os critérios referidos na<br />

metodologia), bem como todos aqueles que, segundo os critérios de validação<br />

descritos acima, não satisfaziam os requisitos mínimos de validade, ficámos<br />

com um total de 1098 alunos dos programas de PIEF e 684 alunos do Ensino<br />

Regular.<br />

Apresentaremos uma caracterização de todos os alunos de PIEF e,<br />

posteriormente, para as variáveis que nos pareçam pertinentes, faremos um<br />

estudo comparativo, entre os alunos de PIEF e os alunos do ER (utilizando,<br />

nestes casos, apenas 684 alunos de PIEF, onde cada aluno emparelha com<br />

outro aluno do ER).<br />

2.8. Operacionalização do conceito de Trabalho Infantil<br />

Antes de entrarmos na análise dos dados propriamente dita, devemos explicitar<br />

algumas noções importantes, nomeadamente os critérios que nos guiaram na<br />

operacionalização do conceito de trabalho infantil.<br />

Quem estuda dinâmicas e processos sociais conhece bem as dificuldades na<br />

construção de indicadores que nos permitam ‘medir’ fenómenos<br />

multidimensionais e dinâmicos, cujo conhecimento não pára de nos levar à<br />

reformulação e reestruturação conceptual.<br />

A necessidade de operacionalização do conceito de Trabalho Infantil ao nível<br />

da investigação empírica implicou a definição de limites precisos na sua<br />

46


GRUPOS<br />

ETÁRIOS<br />

Menores de 11<br />

anos<br />

Dos 12-15<br />

anos<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

definição. Foi necessário estabelecer limites etários, de durabilidade e de<br />

intensidade.<br />

2.8.1. Trabalho infantil na última semana<br />

Para efeitos de análise dos dados, foi utilizada a definição de trabalho infantil<br />

adoptada pela Organização Internacional do Trabalho. Estabeleceram-se os<br />

limites etários, de intensidade e durabilidade estabelecidos pela OIT para a<br />

construção das variáveis de trabalho infantil, tal como apresentamos na tabela<br />

abaixo (esta definição está adaptada aos limites etários para o trabalho<br />

estabelecidos pela legislação nacional).<br />

Tabela 1 – Definição de Trabalho Infantil dada pela OIT, atendendo à legislação nacional<br />

actual<br />

(menos de 15<br />

horas semanais)<br />

TIPOS DE TRABALHO<br />

Trabalhos não perigosos<br />

(locais e ocupações não perigosas)<br />

Trabalhos leves Trabalho regular<br />

(de 15 a 35 horas<br />

semanais<br />

(menos de 15 horas<br />

semanais)<br />

47<br />

(de 15 a 35 horas<br />

semanais<br />

Trabalhos<br />

perigosos<br />

(locais e tarefas<br />

perigosas)<br />

>=35 horas<br />

semanais<br />

Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil<br />

Trabalho aceitável Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil Trabalho Infantil<br />

16-17 anos Trabalho aceitável Trabalho aceitável Trabalho aceitável Trabalho aceitável Trabalho Infantil<br />

FONTE: Convenção nº 138 da OIT sobre a Idade Mínima de Admissão ao Emprego, artº 1º<br />

Para a construção do indicador de trabalho infantil, começámos por agregar as<br />

idades dos inquiridos à data de aplicação dos questionários em 5 escalões<br />

etários: =18 anos.<br />

Paralelamente, procurámos estabelecer exactamente que tipo de trabalho tinha<br />

sido realizado pelos inquiridos na semana de referência (a semana anterior à<br />

aplicação do questionário). Para isto, fizemos uma distinção entre actividade


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

económica em sentido estrito (entendida como uma actividade desenvolvida<br />

num sector da economia formal) e tarefas domésticas (que, muito embora<br />

sejam desenvolvidas no espaço da família, e não possam ser inseridas em<br />

nenhum sector formal da economia, devem ainda assim ser analisadas).<br />

Relativamente às actividades económicas em sentido estrito, fez-se também a<br />

distinção entre trabalho por conta de outrem e trabalho familiar não<br />

remunerado. O trabalho por conta de outrem é aqui entendido como uma<br />

actividade que se encontra dependente economicamente de um empresário,<br />

com um vínculo contratual que pode ou não estar formalizado.<br />

Por outro lado, por trabalho familiar não remunerado entende-se todo o<br />

trabalho em que o empregador é um familiar ou pessoa com quem o inquirido<br />

vive, em que o trabalho realizado em espaço familiar, e, muito embora possa<br />

ser incluído num sector de actividade específico, não é remunerado. Dentro<br />

desta categoria podemos fazer a distinção entre trabalho em empresa familiar e<br />

trabalho em contexto familiar. Na primeira destas categorias encontram-se<br />

todas as actividades em empresas ou negócios familiares, e na segunda o<br />

trabalho agrícola realizado num contexto de ajuda familiar.<br />

Para determinar as situações de trabalho infantil no espaço da casa, onde as<br />

actividades desenvolvidas não são susceptíveis de ser inseridas num qualquer<br />

sector de actividade (as tarefas domésticas), utilizaram-se os mesmos critérios<br />

de idade e intensidade (número de horas semanais de trabalho) a que se<br />

recorreu para a definição de trabalho infantil em sentido estrito proposta pela<br />

OIT (onde estão apenas as actividades económicas que são simultaneamente<br />

situações de trabalho infantil). Assim, todos os inquiridos que cumpram<br />

simultaneamente os critérios de idade e horas semanais de trabalho, que<br />

delimitam as situações de trabalho infantil tal como consta na tabela acima,<br />

serão contabilizados como tal, e deverão constar da variável ‘Trabalho Infantil<br />

em tarefas domésticas’.<br />

Por fim, chegaremos a um último indicador de trabalho infantil na semana de<br />

referência, onde deverão constar todos os inquiridos em situação de trabalho<br />

infantil, independentemente do tipo de trabalho realizado.<br />

48


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Devemos chamar a atenção para o facto de esta nova variável não<br />

corresponder necessariamente à soma do número de situações de trabalho<br />

infantil que encontramos nos dois tipos de actividades anteriormente definidas<br />

(actividade económica e tarefa doméstica). De facto, pela forma como foi<br />

recolhida a informação, podemos encontrar inquiridos que estão<br />

simultaneamente em situação de trabalho infantil nos dois tipos de trabalho<br />

definidos.<br />

2.8.2. Trabalho infantil anterior à última semana<br />

Devemos ter especial cautela na operacionalização do conceito de trabalho<br />

infantil; neste caso quando mudamos o momento a que se referem estas<br />

práticas da última semana para um tempo não objectivado, anterior à semana<br />

de referência. A única forma de saber se estas foram situações de trabalho<br />

infantil (utilizando os mesmos critérios anteriormente definidos) é através da<br />

memória dos inquiridos acerca da idade aproximada em que terão começado a<br />

trabalhar. Se, relativamente ao trabalho realizado na última semana, o critério<br />

estabelecido estava perfeitamente definido e delimitado (a pergunta colocada<br />

dizia apenas respeito às actividades realizadas concretamente na última<br />

semana, independentemente de já as ter realizado anteriormente), aqui o único<br />

limite era ser anterior à semana de referência. Isto implica uma alteração<br />

importante na forma como o inquirido estrutura a sua resposta: se, no primeiro<br />

caso, ele recordará o que fez no espaço de tempo a que se refere a pergunta,<br />

no segundo caso terá necessariamente de procurar recordar primeiro o que<br />

fez, e só depois inserir essa memória no tempo. Esta alteração reflecte-se<br />

directamente na precisão do indicador construído. Por isso mesmo, a variável<br />

resultante do cruzamento dos vários indicadores importantes para a<br />

identificação das situações de trabalho infantil dá-nos um indício de que<br />

estamos de facto perante situações de trabalho infantil num tempo anterior à<br />

última semana.<br />

Para a construção deste indicador, utilizou-se a idade em que o inquirido<br />

afirmou ter começado a exercer a actividade, agregada nos mesmos escalões<br />

49


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

utilizados para a construção da variável relativa ao trabalho infantil da última<br />

semana.<br />

Muito embora fosse expectável que os inquiridos que estão em situação de<br />

trabalho infantil na semana de referência respondessem afirmativamente à<br />

questão relativa às actividades anteriores, isso não é necessariamente<br />

verdade. No módulo de questões relativo ao trabalho realizado na última<br />

semana, procurou-se recolher informação acerca do momento em que o<br />

inquirido terá iniciado o tipo de actividade que afirmou ter feito. Assim, na<br />

formulação da questão relativa ao trabalho num passado mais distante,<br />

especificou-se que não deveriam ser incluídas quaisquer actividades que<br />

tivessem já sido referidas anteriormente (o módulo de questões acerca das<br />

actividades realizadas na última semana precede o módulo relativo ao tempo<br />

anterior). Isto significa que todos os trabalhos e tarefas que os inquiridos<br />

afirmaram ter realizado antes da última semana, não forma realizados na<br />

semana de referência. Ou seja, todas as situações de trabalho infantil<br />

verificadas para a semana anterior à aplicação dos questionários são<br />

independentes daquelas em que temos indícios de trabalho infantil antes dessa<br />

semana. Consequentemente, nas situações em que se detectem práticas de<br />

trabalho infantil na semana de referência e no passado, podemos estar em<br />

presença da reprodução de dinâmicas incorporadas, mesmo que assumam<br />

contornos diferentes.<br />

2.9. Notas metodológicas para tratamento estatístico dos dados<br />

A apresentação dos dados do questionário está dividida em cinco pontos: o<br />

primeiro apresenta informação relativa à caracterização sociocultural e<br />

económica dos alunos e dos seus agregados familiares; no segundo ponto<br />

apresentaremos dados relativos à vida escolar dos inquiridos, onde se<br />

encontrarão indicadores de sucesso e insucesso escolar, abandono,<br />

participação na vida escolar, etc.; a terceira parte tratará das questões relativas<br />

à vida fora da escola, onde estão inseridas as questões relativas às rotinas<br />

diárias, às actividades desenvolvidas fora do espaço escolar, e também às<br />

50


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

actividades económicas; no quarto ponto analisaremos as questões relativas às<br />

expectativas de vida; por fim, na quinta parte trataremos as questões que<br />

remetem para os comportamentos desviantes.<br />

O cruzamento de todas estas dimensões com as variáveis que remetem para<br />

as actividades económicas desenvolvidas pelos alunos inquiridos são da maior<br />

importância para perceber quais as condicionantes que mais provavelmente<br />

poderão conduzir a situações de trabalho infantil, bem como as simetrias e<br />

assimetrias entre os alunos que se encontram ou estiveram em situação de<br />

trabalho infantil e os restantes alunos, quer ao nível das expectativas de vida,<br />

quer ao nível do rendimento escolar e grau de envolvimento nos processos de<br />

aprendizagem.<br />

51


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

B. CONTEXTO ENVOLVENTE E FACTORES CONDICIONANTES DO<br />

TRABALHO INFANTIL (demográficos, económicos, sociais e culturais)<br />

1. Apresentação<br />

O presente estudo constitui um primeiro ensaio de tipificação de contextos<br />

sociais associados com o abandono escolar e com a saída precoce do sistema<br />

de ensino. Partindo das formulações teóricas que tendem a associar o<br />

fenómeno do abandono escolar e da saída precoce do sistema de ensino e<br />

formação com factores de ordem social, pretende-se com base na informação<br />

estatística disponível identificar as relações significativas dessa associação e<br />

os padrões de comportamento que tendem a assumir para contextos sociais<br />

regionalmente diferenciados.<br />

Admitindo que o problema do abandono só é compreensível quando analisado<br />

a partir de modelos multifactoriais, considera-se como hipótese o facto de a<br />

combinatória desses factores não ser idêntica em contextos sociais<br />

diferenciados e ser susceptível de tipificação.<br />

Serão considerados dois níveis de análise: um primeiro que poderemos<br />

designar como macro que privilegiará a análise dos indicadores nacionais no<br />

contexto da União Europeia; e um segundo nível que designaremos por mezo<br />

que considerará a informação reportada aos concelhos portugueses.<br />

Sendo a decisão subjacente ao abandono ou à saída precoce do sistema de<br />

ensino e formação resultado de uma opção individual, geralmente<br />

contextualizada pelas relações familiares e escolares, poderemos dizer que a<br />

dimensão mais relevante será a que designaremos por escala micro, a que<br />

tende a privilegiar os comportamentos e as relações do indivíduo com os<br />

grupos e instituições que possam condicionar ou potenciar aquela opção.<br />

Neste sentido, o presente estudo apenas pretende fornecer os referenciais do<br />

problema, privilegiando o que é comum designar-se por análise dos contextos<br />

sociais, remetendo para uma segunda parte do projecto de investigação a<br />

análise à escala micro.<br />

52


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2. As noções de abandono e saída escolar precoce<br />

A noção de abandono escolar está geralmente identificada com a interrupção<br />

da frequência do sistema de ensino por um período considerado suficiente para<br />

que essa ausência possa transformar-se num afastamento praticamente<br />

irreversível. Porém, esta definição lata é geralmente enquadrada pelo carácter<br />

compulsório do ensino obrigatório e pelas consequências legais do seu não<br />

cumprimento. Nesta perspectiva o abandono escolar reportado à interrupção<br />

prolongada da escolaridade obrigatória e à saída definitiva do sistema de<br />

ensino sem a ter concluído, tende a constituir-se como ilícito,<br />

independentemente da eficácia sancionatória ou da maior ou menor<br />

recriminação social que lhe estiver associada.<br />

Daqui decorre o facto de o conceito de abandono escolar estar intimamente<br />

relacionado com os objectivos de escolarização compulsória e universal que as<br />

instituições de um determinado país possam definir como meta ou como<br />

imperativo, traduzido em norma coerciva. Nesta perspectiva o conceito de<br />

abandono escolar evoluirá de acordo com os sucessivos prolongamentos dos<br />

períodos ou idades de escolarização obrigatória e da maior ou menor<br />

adequação da norma às dinâmicas sociais que sustentam a maior ou menor<br />

procura de educação.<br />

De uma forma geral, nos países que conheceram, desde, pelo menos, o século<br />

XIX, o envolvimento crescente dos respectivos Estado nos processos de<br />

escolarização massificada da população, as sucessivas metas do ensino<br />

obrigatório, sempre a acção normativa precedeu e tentou enquadrar as<br />

dinâmicas sociais escolares e familiares. Da diferença entre o estabelecido na<br />

norma e o socialmente concretizado, resulta o problema do abandono escolar,<br />

aqui entendido como medida da eficácia normativa e institucional na<br />

mobilização social para a concretização dos objectivos de desenvolvimento dos<br />

sistemas de ensino, o mesmo é dizer que o Estado e a sociedade por seu<br />

intermédio, assume a norma e define o desvio.<br />

A legitimação da acção do Estado fora da esfera tradicional do que se designa<br />

de funções de soberania assentou sempre no princípio da salvaguarda e<br />

defesa dos direitos do cidadão, neste caso no que se estabeleceu como<br />

53


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

princípio da igualdade de oportunidades de acesso ao ensino e à escola,<br />

independentemente das suas capacidades económicas e sociais. Essa<br />

legitimação decorre do compromisso socialmente reconhecido que competiria<br />

ao Estado assegurar as condições da oferta de ensino e de acessibilidade a<br />

esse bem público, correspondendo, da parte do cidadão, não só a<br />

concretização de um direito de acesso à educação, mas também o dever de<br />

frequência, desempenho e conclusão de uma escolarização, definida pelo<br />

próprio Estado, a desenvolver ao longo de um determinado período da vida de<br />

uma criança.<br />

Se a mera concretização de um direito remete para o indivíduo e para a sua<br />

família a opção de o exercer na sua plenitude, já a observação do<br />

correspondente dever remete para o Estado a responsabilidade de fazer<br />

respeitar a lei e de prevenir, dissuadir e sancionar o seu não cumprimento.<br />

Se numa lógica estritamente formal o problema do abandono pode ser<br />

colocado nos termos acima, é bem mais complexa a relação do Estado com o<br />

indivíduo e com as famílias tendo em vista a prossecução de objectivos sociais<br />

de mais e melhor escolarização. A observância de um dever cívico decorre não<br />

só da acção coerciva do Estado e das instituições, mas pressupõe também<br />

uma consciência social da sua necessidade e dos valores que lhe estão<br />

subjacentes. É neste contexto que importa invocar a noção de<br />

responsabilidade social que envolve não só a participação do indivíduo, mas<br />

igualmente da família e da própria comunidade em que está inserido, no<br />

sentido de os mobilizar e consciencializar para os benefícios individuais e<br />

sociais de uma escolarização alargada.<br />

Nesta segunda perspectiva, o problema do abandono escolar deixa de ser<br />

apenas uma expressão da (in)eficácia normativa e institucional para se tornar<br />

também a expressão da capacidade de uma determinada sociedade para se<br />

mobilizar para a generalização dos valores que alicerçam essa opção e para<br />

concretizar os direitos e deveres consagrados na norma.<br />

Se estivéssemos numa sociedade em que o acesso à educação, enquanto<br />

bem social, se sujeitasse às mais elementares regras do mercado e ao<br />

exercício da liberdade de escolha, o problema do abandono escolar não se<br />

colocava. Cada indivíduo e cada família “consumiriam” esse bem (ensino /<br />

54


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

educação) na quantidade e qualidade que entendessem como mais adequados<br />

à sua satisfação, capacidade aquisitiva, bem como às suas aspirações e<br />

expectativas.<br />

O problema reside no facto de nem os indivíduos – neste caso crianças e<br />

adolescentes – disporem da autonomia e da informação indispensáveis para<br />

uma opção consciente e racional, nem mesmo as próprias famílias, pela sua<br />

condição social e cultural, poderem concretizar uma escolha livre em condições<br />

de acesso não equitativas. O problema das crianças é parcialmente superado<br />

pela responsabilização dos pais na concretização do dever de educação. Já o<br />

das famílias remete-nos para uma dimensão mais complexa mas que há muito<br />

foi formulada por filósofos, sociólogos ou economistas.<br />

John Stuart Mill foi um dos percursores da tese que considera a educação<br />

como um exemplo das limitações do funcionamento do mercado, atendendo ao<br />

facto de nem sempre o “consumidor” ser um actor suficientemente competente<br />

e informado para avaliar o bem (mercadoria) a adquirir 24 . Nesta como em<br />

outras situações justificar-se-ia uma intervenção do Estado, exercendo de<br />

forma coerciva o cumprimento de um dever, que de alguma forma não<br />

estivesse a ser observado:<br />

Education,…, is one of those things which it is admissible in principle that<br />

a government should provide for the people. The case is one to which<br />

the reasons of the non-interference principle do not necessarily or<br />

universally extend. 25<br />

A excepção teria ainda maior justificação caso se tratasse de grupos sociais<br />

desfavorecidos em que o reconhecimento do valor social da educação e a<br />

capacidade de a assegurar fossem tão reduzidos que a sociedade, através do<br />

Estado, teria a responsabilidade de garantir o acesso a esse bem e de<br />

promover a ruptura da cadeia de dependência entre baixa condição social e<br />

baixo valor social da educação:<br />

24<br />

Hollander, Samuel, The Economics of John Stuart Mill, Oxford, Basil Blackwell, 1985, vol.II, p.<br />

700-703.<br />

25<br />

Mill, John Stuart, Principles of Political Economy with Some of Their Applications to Social<br />

Philosophy, London, Longman, 1865, vol. II, p.577.<br />

55


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Education is not compatible with extreme poverty. It is impossible<br />

effectually to teach an indigent population. And it is difficult to make those<br />

feel the value of comfort who have never enjoyed it, or those appreciate<br />

the wretchedness of a precarious subsistence, who have been made<br />

reckless by always living from hand to mouth. 26<br />

O debate sobre o ensino obrigatório marcou profundamente as sociedades<br />

ocidentais durante o século XIX. Mesmo nos contextos políticos mais liberais a<br />

necessidade do Estado criar condições para que se concretizasse a<br />

universalização da instrução básica foi uma realidade que precedeu o<br />

desenvolvimento posterior do Estado como “educador”, ou seja, para além de<br />

garante de um direito e do correspondente dever, assumiu-se como instituição<br />

responsável por conceptualizar e implementar uma “instrução pública”<br />

acessível, uniforme e obrigatória para todos.<br />

A legitimação da intervenção do Estado na educação processou-se a partir de<br />

três argumentos teóricos distintos:<br />

1. O primeiro, que recupera parte do raciocínio de Stuart Mill, retira a<br />

educação à lógica da escolha racional, em parte por se considerar um<br />

bem público. O sociólogo James Coleman invoca essa característica ao<br />

destacar a dupla função de despesa e investimento que a educação de<br />

uma criança representa para uma família. Enquanto a despesa<br />

efectuada confere uma baixa satisfação imediata, essa mesma despesa<br />

quando entendida como investimento poderá significar no futuro um<br />

elevado retorno apenas usufruído pela criança quando se torna adulto.<br />

Then why, collectively, should members of a society decide to<br />

restrict themselves in ways that bring about lower satisfaction?<br />

The answer probably lies in part in the public good character of<br />

education. The family will not experience many of the costs and<br />

benefits that the child, as an adult, will bring, and thus these costs<br />

and benefits will not influence the family’s current decisions<br />

concerning expenditures. 27<br />

26 Idem, vol. I, p.466.<br />

27 Coleman, James S., Foundations of Social Theory, Cambridge Mss., Belknap Press, 1990,<br />

p.62.<br />

56


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Ainda que os requisitos de “bem público” não sejam inteiramente<br />

satisfeitos, como lembra James Tooley 28 , a legitimação da intervenção<br />

coerciva do Estado neste domínio é justificada pelas limitações do<br />

próprio mercado ao induzir a opção de muitas famílias que tendem a<br />

rejeitar o que são custos certos e imediatos em detrimento de benefícios<br />

incertos e diferidos.<br />

2. O segundo tipo de argumento relança o retorno do investimento<br />

educativo da dimensão individual e familiar para o valor social acrescido<br />

que uma maior e mais generalizada escolarização poderá significar para<br />

o desenvolvimento da sociedade. Ou seja, os pressupostos benefícios<br />

colectivos da escolarização alargada tendem a sobrepor-se aos ganhos<br />

individuais e à liberdade subjacente ao mecanismo da escolha racional.<br />

Neste contexto, o balanço entre o respeito de um direito individual de<br />

escolher a duração e o tipo de escolarização e o dever de contribuir para<br />

o desenvolvimento económico e social da sociedade em que está<br />

integrado, pende claramente para este em detrimento daquele. O<br />

objectivo a atingir, poderá ser diferenciado: desde o “formar cidadãos”<br />

livres e conscientes como preconizavam de forma pioneira Condorcet e<br />

Fichte, ou acumular “capital humano”, como preconizam as modernas<br />

teorias do desenvolvimento. O propósito do recurso à acção coerciva do<br />

Estado sempre se fundou sobre o primado do valor social da educação<br />

em detrimento da lógica da escolha racional ou a do retorno individual<br />

do investimento educativo.<br />

3. O terceiro argumento remete para os fundamentos do princípio da<br />

igualdade de oportunidades, especialmente a aplicada à educação<br />

enquanto instância de socialização e promotora de oportunidades de<br />

mobilidade social ascendente. A profusa investigação que se seguiu à<br />

publicação, em 1966, do chamado <strong>Relatório</strong> Coleman 29 sobre a<br />

igualdade de oportunidades educativas nos Estados Unidos, relançou o<br />

debate em torno do papel do Estado no combate à descriminação e às<br />

28 Tooley, James, The Changing Role of Government in Education, Encyclopaedia of Education,<br />

2002, pp. 2-4, http://www.ncl.ac.uk/egwest/pdfs/Encyclopdia%20of%20education.pdf .<br />

29 Coleman, J.S., et al., Equality of educational opportunity, Washington, US Government<br />

Printing Office, 1966. Ver ainda Gamoran, Adam e Long, Daniel A., Equality of Educational<br />

Opportunity: a 40-Year Retrospective, WCER Working-paper, n.º 2006-9, December 2006.<br />

57


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

desigualdades sociais através da escolarização. O problema que então<br />

se colocou já não se circunscrevia à igualdade de acesso à educação,<br />

mas à igualdade de resultados para alunos provenientes de meios<br />

sociais diferenciados:<br />

A fifth type of inequality may be defined in terms of consequences<br />

of the school for individuals of unequal backgrounds and abilities.<br />

In this definition, equality of educational opportunity is equality of<br />

results given different individual inputs. 30<br />

Ou seja, ao Estado como garante da igualdade de acesso à educação<br />

apunha-se a responsabilidade desse mesmo Estado e da Escola pública<br />

por ele patrocinada de esbater as desigualdades sociais expressas pela<br />

diferença de capital familiar, tornando a escola um instrumento de<br />

integração e de nivelamento social. A evidência do peso decisivo da<br />

origem social dos alunos no seu sucesso escolar e no nível de<br />

escolarização atingido conferiu ao Estado e à Escola uma<br />

responsabilidade acrescida, valorizando assim o problema do combate<br />

ao abandono e ao insucesso escolares.<br />

A acção normativa do Estado não se restringe, entretanto, ao quadro legal do<br />

sistema educativo, antes tende a complementar a sua acção através da<br />

regulação do acesso ao mercado de trabalho de que o combate ao trabalho<br />

infantil é a expressão mais visível.<br />

Desde muito cedo foi perceptível o facto de o principal obstáculo à<br />

universalização do ensino obrigatório ser a inserção precoce no mercado de<br />

trabalho, quantas vezes precedida por um progressivo envolvimento e<br />

aprendizagem no seio do grupo doméstico.<br />

Foi neste contexto que a acção conjunta de combate ao trabalho infantil no<br />

meio produtivo foi geralmente associado a orientações cada vez mais<br />

impositivas de prolongamento da frequência escolar. Esta associação entre<br />

abandono escolar e inserção no mercado de trabalho na estruturação das<br />

políticas públicas mais não reflectia que o fundamental da opção colocada aos<br />

30 Coleman (1996), Gamoran et al. (2006), p. 18.<br />

58


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

indivíduos e às famílias entre um ano adicional de escolarização e um ano de<br />

trabalho efectivo, melhor ou pior remunerado. Como teremos oportunidade de<br />

desenvolver mais adiante essa opção não se limita a um mero “trade off” entre<br />

dois percursos ocupacionais, porém ele constitui-se, na maior parte dos casos,<br />

como um ponto de partida inevitável.<br />

Por último, importa identificar como a noção de abandono escolar foi<br />

operacionalizada, nomeadamente quer em termos estatísticos quer analíticos.<br />

Oficialmente o conceito estatístico de abandono escolar é referenciado à saída<br />

do sistema de ensino antes da conclusão da escolaridade obrigatória, dentro<br />

dos limites etários previstos na lei. A medida é definida por uma taxa calculada<br />

a partir do total de indivíduos, no momento censitário, com 10-15 anos que não<br />

concluíram o 3º ciclo do Ensino Básico e não se encontram a frequentar a<br />

escola, por cada 100 indivíduos do mesmo grupo etário. Como é evidente, a<br />

medida incide sobre o conjunto dos indivíduos que não concluíram a<br />

escolaridade obrigatória, estando ainda em idade de frequência dessa mesma<br />

escolaridade, ou seja, a idade a partir da qual a não frequência escolar deixa<br />

de constituir um ilícito.<br />

Em termos internacionais, os indicadores estatísticos relativos à frequência<br />

escolar tendem a descontextualizar o abandono escolar da escolaridade<br />

obrigatória, associando-o à não obtenção de um diploma de nível secundário.<br />

Mesmo o conceito anglo-saxónico de “dropout” que mais se identifica com o de<br />

abandono tende a ser aplicado para os diferentes níveis de qualificação e de<br />

obtenção de um diploma, independentemente de saber qual o requisito mínimo<br />

obrigatório. É nesta perspectiva que surge o conceito estatístico de saída<br />

escolar precoce (correspondente ao indicador internacional de “early school<br />

leavers”) que identifica a percentagem da população do grupo etário 18-24 que<br />

tendo concluído o primeiro ciclo do ensino secundário (“lower secondary”<br />

correspondente ao 3.º ciclo e à escolaridade obrigatória em Portugal) não se<br />

encontra a frequentar um curso de ensino ou formação profissional 31 .<br />

31 Não deixa de ser interessante a diferença registada entre o grupo etário de referência para o<br />

Eurostat (18-24 anos) e para a OCDE (20-24 anos), traduzindo diferentes preocupações<br />

quanto ao fenómeno a medir, mas também quanto à compatibilização conceptual e de<br />

desenvolvimento educativo entre os diferentes países membros de cada organização.<br />

59


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A utilização cada vez mais generalizada do conceito de saída escolar precoce<br />

reflecte bem a preocupação crescente com os problemas da transição da<br />

escola para o mercado de trabalho e de avaliação comparativa dos níveis de<br />

escolarização e menos intensa – porque já mais circunscrita – relativamente ao<br />

problema da não conclusão da escolaridade obrigatória, traduzida pela taxa de<br />

abandono escolar.<br />

3. Os números do abandono e da saída escolar precoce para Portugal<br />

Só muito recentemente se publicaram os indicadores de abandono e saída<br />

escolar precoce para Portugal. A iniciativa partiu do Ministério da Educação<br />

que em 2003 divulgou uma síntese elaborada por Maria João Valente Rosa<br />

que calculou as respectivas taxas a partir dos dados dos Recenseamentos da<br />

População de 1991 e 2001.<br />

Os valores calculados sobre a informação dos dois recenseamentos constituem<br />

os indicadores mais seguros que até ao presente se calcularam. Da<br />

comparação entre os dois períodos retiram-se tendências cuja leitura permite<br />

aferir a profunda mudança operada durante a década de 90, não obstante os<br />

níveis pouco animadores que a comparação internacional deixa revelar.<br />

60


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

QUADRO 1: População até aos 15 anos sem o 9.º ano de escolaridade<br />

Grupos<br />

etários<br />

completo e sem frequência escolar (Continente)<br />

Número de<br />

abandonos<br />

1991 e 2001<br />

População na idade Taxa de abandono<br />

1991 2001 1991 2001 1991 2001<br />

10 anos 4.803 23 136.943 106.693 3,51 0,02<br />

11 anos 5.907 1.538 140.709 106.675 4,20 1,44<br />

12 anos 7.145 1.842 143.506 108.082 4,98 1,70<br />

13 anos 15.097 2.345 153.223 108.904 9,85 2,15<br />

14 anos 31.372 3.823 160.898 113.142 19,50 3,38<br />

15 anos 48.185 8.303 164.740 116.662 29,25 7,12<br />

Total 10-<br />

15 anos<br />

112.509 17.874 900.019 660.158 12,50 2,71<br />

Fonte: XIIIº e XIVº Recenseamento Geral da População, INE.<br />

61


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A evolução registada torna-se mais evidente se representarmos graficamente<br />

as taxas de abandono por cada grupo etário:<br />

Taxa de abandono escolar %<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

GRÁFICO 1: Portugal Continente - Taxas de abandono por idades, 1991-2001<br />

1991 2001<br />

10 anos 11 anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos<br />

As reduções são sensíveis em todos os grupos etários considerados, mas<br />

tornam-se mais evidentes nas três idades correspondentes ao 3.º ciclo do<br />

ensino básico. A interpretação destes resultados não deixa grandes dúvidas: o<br />

prolongamento da escolaridade obrigatória do 6.º para o 9.º ano que foi<br />

aprovado pela Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE,1986), traduziu-se<br />

numa quebra da taxa de abandono escolar de 12,50% para 2,71%, quase dez<br />

pontos percentuais numa década.<br />

Aparentemente, o aumento da duração do ensino obrigatório teve efeitos<br />

positivos na frequência escolar, facto que reflecte não só a acção do Estado no<br />

apetrechamento e cobertura da rede escolar e dos variados recursos<br />

necessários, mas também na resposta dada pelas famílias à elevação das<br />

expectativas de escolarização que esse aumento do ensino obrigatório<br />

representou. Mesmo considerando a taxa de abandono registada para 2001<br />

(2,71%) como atendível – mas claramente residual – é razoável considerar<br />

que, quer do lado da procura, quer do lado da oferta, o objectivo enunciado<br />

62<br />

Idades<br />

pela LBSE teve um nível de prossecução elevado.<br />

Trata-se de um caso evidente de uma procura de educação que foi, em parte,<br />

induzida pela oferta, situação que encontra paralelo em alguns casos mais


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

tradicionais de desenvolvimento dos sistemas educativos sob forte mobilização<br />

de recursos por parte do Estado 32<br />

Será importante realçar o facto de esta quebra nas taxas de abandono ser<br />

paralela a um movimento de diminuição da população escolar o que facilitou<br />

essa boa resposta por parte da oferta e da procura. Se atendermos aos valores<br />

absolutos e às variações percentuais listados no Quadro 1, concluiremos que<br />

em todos os grupos etários a população escolar registou quebras uniformes.<br />

QUADRO 2: População a frequentar o ensino básico, segundo os ciclos<br />

(Continente) – 1991 e 2001<br />

1991 2001 Variação (%) Diferença<br />

1º ciclo 610.593 476.633 -22 -133.960<br />

2º ciclo 332.378 259.291 -22 -73.087<br />

3º ciclo 423.362 326.959 -23 -96.403<br />

Fonte: XIIIº e XIVº Recenseamento Geral da População, INE.<br />

O novo ensino básico perdeu cerca de 300 mil alunos face ao registado dez<br />

anos antes, mas fez subir a taxa de conclusão da escolaridade básica de 9<br />

anos, da população com 15 a 19 anos, dos 35% registados em 1991 para os<br />

67%, dez anos depois.<br />

De destacar ainda a persistência das maiores taxas de abandono escolar nas<br />

idades de 14 e 15 anos o que coloca como factores associados dois problemas<br />

que vale a pena abordar: o do insucesso escolar e o da inserção precoce no<br />

mercado de trabalho.<br />

As elevadas taxas de insucesso escolar são geralmente associadas ao<br />

abandono. O senso comum consagrou a relação entre as duas variáveis, em<br />

muitos casos, como uma relação de causa e efeito. Ou seja, o insucesso<br />

precederia o abandono e a sua acumulação “empurraria” os alunos para fora<br />

do sistema de ensino.<br />

32 Grácio, Sérgio, Dinâmicas de Escolarização e das Oportunidades Individuais, Lisboa, Educa,<br />

1997, pp. 29-31.<br />

63


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

O efeito de selecção social que estes dois fenómenos poderão traduzir<br />

concentrar-se-ia numa autêntica cadeia de discriminação que começaria na<br />

origem social dos alunos, passaria por trajectos escolares de sucesso ou<br />

insucesso e acabaria na exclusão progressiva dos socialmente “menos<br />

favorecidos”. O sistema de ensino funcionaria assim como reprodutor das<br />

desigualdades sociais e a sua organização e propósito seriam claramente<br />

identificados com a promoção dos mais apetrechados culturalmente e com a<br />

exclusão dos detentores de um menor capital familiar.<br />

A existência de uma associação estreita entre os dois fenómenos é admissível.<br />

Porém a relação causal apresenta-se muito duvidosa. A análise das taxas de<br />

retenção deixa revelar que os factores de insucesso tendem a ser múltiplos e<br />

com uma distribuição ao longo dos diferentes anos de escolaridade que não<br />

reporta exclusivamente a factores sociais, quer a montante quer a jusante da<br />

escolarização.<br />

64


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

QUADRO 3: Taxas de Retenção nos Ensinos Básico e Secundário (Total, Ensino Público e Privado)<br />

Ano lectivo 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º<br />

1994/1995 15,9 9,2 15,8 12,5 11,7 19,4 16,6 13,6 27,9 9,9 29,6<br />

1995/1996 16,6 8,7 14,6 14,9 11,7 21,3 18,2 15,3 39,7 19,2 37,5<br />

1996/1997 19,2 9,4 14,6 16,0 13,9 22,2 19,1 19,6 38,5 19,5 48,9<br />

1997/1998 17,0 9,3 13,1 14,2 13,4 21,7 16,8 16,2 35,8 20,4 49,2<br />

1998/1999 16,4 8,4 11,8 14,0 13,0 20,8 16,4 15,4 36,4 20,3 49,7<br />

1999/2000 15,8 7,8 10,7 13,7 12,5 20,1 16,3 14,8 36,9 20,8 49,8<br />

2000/2001 14,8 8,7 10,2 12,6 12,8 21,2 17,2 15,8 39,4 24,4 52,5<br />

2001/2002 14,9 8,1 9,8 15,1 16,1 22,3 18,0 16,7 38,9 21,9 48,8<br />

2002/2003 13,8 7,5 8,4 14,9 14,6 24,4 17,0 15,3 34,8 19,2 45,3<br />

2003/2004 12,3 5,8 8,0 14,0 13,9 22,8 16,4 13,1 33,4 17,8 48,7<br />

Média 15,7 8,3 11,7 14,2 13,4 21,6 17,2 15,6 36,2 19,3 46,0<br />

Fonte: Ministério da Educação.<br />

65


%<br />

50<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

GRÁFICO 2: Média das Taxas de Retenção nos 12 anos de escolaridade,<br />

1994-2003<br />

1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º<br />

Anos<br />

As duas principais características no comportamento das taxas de retenção ao longo<br />

dos doze anos de escolaridade são:<br />

1. As taxas tendem a aumentar à medida que avançamos nos níveis de<br />

escolaridade.<br />

2. Os anos a seguir à transição de ciclo apresentam taxas acima da tendência 33 .<br />

Destas duas evidências poderemos retirar a ideia de que há sintomaticamente<br />

razões do insucesso que decorrem da organização do sistema. Quer a mudança de<br />

ciclo, quer a mudança de escola, são factores propícios ao insucesso e à<br />

consequente retenção 34 . É este tipo de distribuição que deve ser tida em conta e que<br />

nos levanta algumas dúvidas sobre a tese corrente que relaciona mecânica e quase<br />

exclusivamente insucesso com abandono.<br />

Em primeiro lugar, importa questionar a neutralidade selectiva do sistema de ensino.<br />

Por mais que o discurso político e educativo se esforce por afirmar a escola como<br />

33 Lembre-se que o valor elevado registado para o 2.º ano de escolaridade se deve ao facto de não<br />

ser permitida retenção dos alunos no primeiro. Da mesma forma torna-se compreensível o facto de o<br />

12.º ano, porque ano de conclusão, apresentar taxas de retenção mais elevadas.<br />

34 Considere-se a abordagem privilegiando a análise dos trajectos escolares ensaiada por Margarida<br />

Chagas Lopes, “Transições e Pontos Críticos das Trajectórias de Escolaridade: Estudo de Caso em<br />

Seis Escolas Secundárias da Grande Lisboa”, in Revista Interacções, n.º 1 (2005), pp. 55-75. Veja-se<br />

ainda na mesma publicação o estudo de Pedro Abrantes, “As Transições entre Ciclos de Ensino:<br />

entre Problema Social e Objecto Sociológico”, pp. 25-53.<br />

66


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

instrumento de promoção do princípio da igualdade de oportunidades, é geralmente<br />

reconhecido que não está concebida nem é a sua cultura encontrar os instrumentos<br />

que possam concretizar esse princípio. O que é verificável, não só em Portugal,<br />

como em tantos outros países que se confrontaram com a experiência, é que o<br />

processo de massificação rápida do acesso à escolarização é geralmente<br />

acompanhado de uma desqualificação não só dos diplomas, mas também da própria<br />

qualidade de ensino. Não foi pela “democratização” do sistema nem pela profissão<br />

de fé numa educação para a igualdade que se superaram as elevadas taxas de<br />

insucesso e de abandono escolares. Há factores de insucesso e de abandono que<br />

vão para além da lógica da origem social dos alunos ou da transição mais ou menos<br />

precoce para o mercado trabalho. Muitos desses factores são inerentes ao próprio<br />

sistema, à sua organização, à sua cultura, às expectativas (ou falta delas) que os<br />

agentes educativos têm da sua acção e das consequências do seu trabalho.<br />

Nesta perspectiva, importaria avaliar quanto do insucesso se deve à organização do<br />

sistema – desde a duração e sucessão dos ciclos à organização da rede escolar, da<br />

tipologia das escolas às mudanças sucessivas de ambiente escolar, dos curricula à<br />

formação pedagógica dos professores – e quanto do abandono se refere a uma<br />

clara inadequação aos objectivos e expectativas dos alunos, das suas famílias e dos<br />

interesses do próprio país. É natural que num sistema mal organizado sejam os<br />

alunos provenientes dos grupos sociais de menores rendimentos e mais reduzido<br />

capital cultural, a revelar maiores dificuldades. Confundir a consequência com a<br />

causa poderá ser um erro irreparável.<br />

Em segundo lugar, a tese de que o abandono é consequência do insucesso escolar<br />

é tão admissível quanto o seu inverso: o insucesso poderá ser uma antecipação da<br />

decisão de abandonar. Esse processo de antecipação decorre, em muitos casos de<br />

uma baixa expectativa quanto à capacidade e, quantas vezes, da utilidade de<br />

conclusão da escolaridade obrigatória. A partir da altura em que a esperança ou<br />

interesse em atingir um determinado nível de escolarização são drasticamente<br />

reduzidos, é natural que a capacidade de resiliência e de empenho escolar sejam<br />

também reduzidos 35 .<br />

35 Canavarro, José Manuel, Para a Compreensão do Abandono Escolar, Lisboa, Texto Editores,<br />

2006.<br />

67


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Quando falamos de expectativas não nos restringimos só às dos alunos: como é<br />

natural as baixas expectativas dos pais, do meio familiar ou mesmo da escola<br />

completam esse ambiente.<br />

Nestas situações, a consequência imediata da opção pode não ser o abandono. A<br />

idade legal para o exercício de uma actividade no mercado de trabalho constitui um<br />

dissuasor do abandono, mas não consegue ser um dissuasor do insucesso que<br />

continua a ser uma expressão de uma desistência já assumida.<br />

Esta lógica é tanto mais aceitável quanto percebermos o facto de Portugal ser até há<br />

bem poucos anos um país com elevadas taxas de empregabilidade de jovens e<br />

activos desqualificados. Decorrente da estrutura produtiva dominante nas últimas<br />

quatro décadas, assente em baixos salários e em mão-de-obra desqualificada, a<br />

pressão da oferta deste tipo de emprego constitui um travão ao aumento da<br />

escolarização, especialmente porque faz diminuir o retorno marginal por cada ano<br />

adicional de escolaridade.<br />

Sem querer desviar o foco das origens sociais do aluno e da respectiva família, nem<br />

do papel da escola quando “promotora de insucesso”, a lógica das expectativas de<br />

inserção e da escolha “racional” entre prolongamento da escolarização versus<br />

exercício de actividade remunerada, não deve nem pode ser menosprezada.<br />

A análise comparada do caso português com os dos seus parceiros europeus ajuda-<br />

nos a compreender um pouco mais estas relações. Para o efeito recorreremos ao<br />

indicador mais utilizado em estudos internacionais. Trata-se da Saída Escolar<br />

Precoce (SEP), conceito que atrás já enunciámos, medida – de acordo com a<br />

definição utilizada pelo Eurostat – pela percentagem da população com 18-24 anos<br />

com pelo menos o 3.º ciclo de escolaridade e que não frequentam qualquer curso de<br />

educação ou formação profissional 36 .<br />

36 Impõe-se uma precisão relativamente à fonte primária da informação de maneira a evitar leituras<br />

que se poderão considerar abusivas. O estudo já citado do Ministério da Educação da autoria de<br />

Maria João Valente Rosa, obtém o valor de SEP a partir dos dados do Recenseamento Geral da<br />

População. Os valores publicados pelo Eurostat baseiam-se nas amostras nacionais trimestrais que<br />

as entidades estatísticas oficiais fornecem para a elaboração das Labour Force Statistics. Ainda que<br />

as diferenças sejam insignificantes para os anos mais recentes, quando trabalhamos com valores<br />

reportados a períodos mais afastados detectam-se pequenas diferenças. Recorde-se ainda que o<br />

indicador correspondente utilizado pelos serviços de estatística da OCDE e pelos serviços da<br />

Comissão Europeia encarregados de acompanhar os padrões de referência dos Objectivos da<br />

68


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A posição de Portugal conta-se entre os países europeus que mais elevadas taxas<br />

de SEP apresentam, como se poderá constatar pelo GRÁFICO 3. As duas medidas<br />

referem-se à média registada nos dez anos compreendidos entre 1997 e 2006, bem<br />

como ao respectivo valor de 2006, como último ano completo para que dispomos de<br />

informação. O confronto entre as duas medidas dá igualmente uma aproximação da<br />

dinâmica de redução ou aumento deste indicador face à média registada na última<br />

década.<br />

60,00<br />

50,00<br />

40,00<br />

30,00<br />

20,00<br />

10,00<br />

0,00<br />

GRÁFICO 3: Saída Escolar Precoce (ESL)<br />

ESL Média 1997-2006 ESL 2006<br />

si cz sk pl hr no fi se at dk lt be ee de hu fr ie nl uk lv gr lu cy bg ro it es pt mt tr<br />

É patente a existência de um padrão regional que se poderá identificar com os<br />

países da Europa mediterrânica a que se poderão juntar a Bulgária e a Roménia,<br />

bem como Luxemburgo a cujos valores não será estranha a presença de fortes<br />

comunidades de imigrantes meridionais. Neste grupo associam-se os países<br />

europeus com maior saída escolar precoce.<br />

Portugal apresenta uma das taxas mais elevadas, senso apenas ultrapassado por<br />

Malta e Turquia. Correspondem estes valores ao facto de Portugal apresentar de há<br />

muito uma das mais baixas taxas de escolarização do ensino secundário entre o<br />

mesmo conjunto de países.<br />

Estratégia de Lisboa, reportam-se a um grupo etário ligeiramente diferente, dos 20 aos 24 anos e não<br />

dos 18 aos 24 como aqui utilizamos.<br />

69


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A evolução deste indicador reflecte bem o grau de atraso em que o país se encontra,<br />

não obstante as manifestas melhorias registadas, pelo menos, nos últimos quinze<br />

anos. A comparação dos valores da SEP, calculados sobre os dados dos<br />

recenseamentos populacionais, permite avaliar o que pode representar uma quebra<br />

de 63,7% de SEP, registada em 1991, para 44,8% dez anos depois.<br />

Esta diminuição da saída precoce foi acompanhada por um aumento das taxas reais<br />

de escolarização do ensino secundário. Nota-se, entretanto, um ritmo mais<br />

acentuado dessa escolarização e de alguma estabilização em torno dos 60%, a<br />

partir daquela data.<br />

65,0<br />

60,0<br />

55,0<br />

50,0<br />

45,0<br />

40,0<br />

35,0<br />

30,0<br />

GRÁFICO 4: Taxa Real de Escolarização do Ensino Secundário<br />

Anos Lectivos de 1990/91 - 2004/05<br />

1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05<br />

Fonte: Ministério da Educação, GIASE, Os números da educação.<br />

O confronto destes dois indicadores permite agora compreender a dinâmica da<br />

evolução anual e trimestral da SEP medida pelo Inquérito ao Emprego, bem como a<br />

relação entre o fenómeno do abandono e da saída precoce com a conjuntura do<br />

mercado de trabalho, nomeadamente a maior ou menor procura de trabalho não<br />

qualificado.<br />

Para o efeito representámos no GRÁFICO 5 as taxas de SEP desde 1992 bem<br />

como as taxas anuais de desemprego da população com idades inferiores aos 25<br />

anos.<br />

70


60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

GRÁFICO 5: Desemprego Jovem e Saída Escolar Precoce<br />

SEP TX Desemprego


SEP<br />

50,0<br />

48,0<br />

46,0<br />

44,0<br />

42,0<br />

40,0<br />

38,0<br />

36,0<br />

34,0<br />

32,0<br />

30,0<br />

1ºT 1998<br />

1ºT 1999<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

1ºT 2000<br />

QUADRO 5A: Saída Escolar Precoce e Desemprego dos Jovens, em Portugal 1998-2007<br />

Dados Trimestrais Fonte: INE<br />

1ºT 2001<br />

SEP Desemp 15-24<br />

1ºT 2002<br />

1ºT 2003<br />

Fonte: INE<br />

Estes números revelam ainda que a pressão do mercado de trabalho sobre a<br />

escolarização não deve ser menosprezada. Arrisco mesmo a afirmar que o efeito da<br />

diminuição da procura de trabalho sobre a Saída Escolar Precoce e, por<br />

conseguinte, sobre os níveis de escolarização secundária, é muito mais relevante<br />

que os efeitos de qualquer política educativa visando diminuir os níveis de<br />

abandono.<br />

Por outro lado, o facto de nos últimos anos se assistir a uma quebra aparentemente<br />

sustentada da SEP não garante que essa tendência não possa ser invertida como<br />

consequência de um relançamento do crescimento económico e da oferta de<br />

trabalho. O que está a acontecer na Espanha ou na Suécia, países onde se nota<br />

uma inversão na tendência descendente da SEP, não é mais do que o resultado das<br />

relativamente elevadas taxas de crescimento económico com o consequente<br />

aumento da procura de trabalho e diminuição da escolarização dos jovens.<br />

No caso Português, a situação é ainda agravada pelos baixos níveis de<br />

escolarização da população em que o ensino secundário nunca mereceu uma<br />

valorização social. O facto de o actual ensino secundário ser socialmente<br />

72<br />

1ºT 2004<br />

1ºT 2005<br />

1ºT 2006<br />

1ºT 2007<br />

19<br />

17<br />

15<br />

13<br />

11<br />

9<br />

7<br />

5<br />

TXDESEMP %


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

percepcionado como um ciclo propedêutico do ensino superior conduz às elevadas<br />

taxas de SEP e de elevada retenção e insucesso escolares naqueles anos.<br />

A comparação com o registado em outros países revela-nos o nível de atraso<br />

educativo e a reduzida dinâmica da escolarização secundária, conforme se pode<br />

analisar a partir da leitura do GRÁFICO 6. Portugal sendo dos países com os mais<br />

baixos níveis de escolarização secundária é ainda daqueles, entre os que partem<br />

das posições mais desfavoráveis, o que apresenta menor dinâmica de<br />

escolarização, expressa pelo diferencial entre os sucessivos grupos etários.<br />

O caso da Coreia do Sul é o que apresenta maior dinâmica de escolarização<br />

secundária e, mais perto de nós, os casos da Irlanda, da Grécia, da Itália e da<br />

Espanha, revelam que tendo partido de níveis mais próximos do nosso, registam<br />

mudanças intergeracionais mais acentuadas.<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

United States<br />

Norway<br />

Slovak Republic<br />

Czech Republic<br />

Japan<br />

GRÁFICO 6: Percentagem da População que concluiu o Ensino Secundário,<br />

por Grupos Etários, Países da OCDE, em 2003.<br />

Canada<br />

Germany<br />

Sweden<br />

Denmark<br />

Austria<br />

New Zealand<br />

25-34 35-44 45-54 55-64<br />

Finland<br />

Hungary<br />

Korea<br />

Switzerland<br />

Netherlands<br />

73<br />

United Kingdom<br />

France<br />

Fonte: EUROSTAT<br />

Apresentando Portugal uma das taxas de escolarização secundária mais baixas<br />

entre os países europeus e os países membros da OCDE, não deixa de merecer<br />

destaque o facto de os diferenciais entre gerações ser comparativamente muito<br />

reduzido. Uma das hipóteses que poderá justificar esta relativa falta de dinamismo<br />

no desenvolvimento educativo português é a de o retorno pelo acesso a empregos<br />

Australia<br />

Belgium<br />

Ireland<br />

Luxembourg<br />

Iceland<br />

Greece<br />

Poland<br />

Italy<br />

Spain<br />

Turkey<br />

Portugal<br />

Mexico


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

melhor remunerados não ser suficientemente compensador que motive um aumento<br />

da procura nos níveis mais elevados de educação.<br />

Ora, dos trabalhos desenvolvidos, entre outros, por Pedro Telhado Pereira e Pedro<br />

Silva Martins 37 , poder-se-á concluir que essa hipótese não tem acolhimento:<br />

Portugal é um dos países com maior taxa de retorno marginal da educação entre os<br />

países ocidentais mais desenvolvidos. Para uma média que ronda os 8%, Portugal<br />

apresenta uma taxa de retorno marginal de 12,6%, a mais alta no conjunto dos16<br />

países representados.<br />

Entretanto é necessário considerar que esse retorno marginal não é idêntico para os<br />

diferentes níveis de escolarização. Considerando as taxas de retorno diferencial<br />

entre os vários ciclos de ensino, Pedro Telhado Pereira e Pedro Silva Martins<br />

demonstram que para os anos 1982, 1991 e 1995 elas são sempre positivas,<br />

claramente superiores à média para as formações superiores, mas inferiores a essa<br />

média na comparação entre o nível secundário e a escolaridade obrigatória.<br />

20%<br />

18%<br />

16%<br />

14%<br />

12%<br />

10%<br />

8%<br />

6%<br />

4%<br />

2%<br />

0%<br />

Graph 8 - Average Marginal Returns to School Degrees , 1982, 1991 and 1998<br />

2nd/1st cycles 3rd/2nd cycles Sec/3rd cycle Bachar/Sec. Licenc/Sec.<br />

School Degrees Compared<br />

1982 1991 1998<br />

37 Pereita, P. T. e Martins, P. S. , Portugal, in C. Harmon, I. Walker and N. W. Nielsen (editors),<br />

Education and Earnings in Europe – A Cross Country Analysis of Returns to Education, Edward Elgar,<br />

Cheltenham, 2001. Um documento de trabalho apresentado numa conferência promovida pelo Banco<br />

de Portugal sobre esta problemática está disponível em<br />

http://www.uma.pt/Privado/ppereira/bportugal.doc .<br />

74


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Fonte: Extraída de Pedro Telhado Pereira e Pedro Silva Martins, “Education and Earnings in Portugal”, p.12.<br />

Ou seja, comparando os sucessivos graus de escolarização deduz-se que o retorno<br />

marginal da educação é positivo e sempre superior a 6%, mas enquanto as<br />

formações superiores apresentam os ganhos mais consideráveis e com sentido<br />

crescente, a conclusão do ensino secundário é, em termos relativos, a menos<br />

valorizada no mercado de trabalho.<br />

Esta conclusão está em linha com o que atrás identificámos como fraco dinamismo e<br />

pouca atractabilidade da escolarização de nível secundário em Portugal. O seu valor<br />

social só é significativo como requisito de acesso ao ensino superior, esse sim, o<br />

que proporciona maior retorno marginal entre os diferentes graus de ensino. Deduz-<br />

se ainda do que atrás enunciámos que qualquer orientação visando um aumento da<br />

escolarização secundária em Portugal, ela terá de vir mais do lado da oferta do que<br />

da procura.<br />

É nesta perspectiva que importa destacar o papel potencial que o Estado e as<br />

empresas poderão desempenhar na valorização social das formações secundárias<br />

com os consequentes efeitos na diminuição do abandono e da saída escolar<br />

precoce.<br />

Uma característica particular da saída escolar precoce que não é exclusiva de<br />

Portugal é o diferencial entre o grupo masculino e o feminino. Na esmagadora<br />

maioria dos países europeus a SEP masculina é superior à feminina e nesta<br />

particular característica Portugal não foge à regra. Considerando período de 1992 a<br />

2006 a evolução comparada dos indicadores revela algumas oscilações, sem que se<br />

altere o padrão.<br />

75


60<br />

55<br />

50<br />

45<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Saída Escolar Precoce, Portugal 1992-2006, total e por sexo<br />

SEPTotal SEPM SEPH<br />

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006<br />

Fonte: INE<br />

O quase paralelismo no comportamento das curvas não deixa de revelar que o<br />

diferencial se acentuou um pouco nos últimos anos devido, eventualmente, a um<br />

alteração da conjuntura económica e de uma maior dificuldade de acesso ao<br />

mercado de trabalho.<br />

Uma tentativa de explicação deste diferencial não cabe neste nível de análise, mas<br />

não será decerto impertinente considerar os diferentes papéis sociais, a diferença<br />

nas taxas de actividade feminina e uma maior resiliência feminina no processo de<br />

escolarização, como factores a serem ponderados numa futura investigação. O jogo<br />

de expectativas de escolarização diferenciadas entre os dois sexos bem como a<br />

diferente capacidade de inserção no mercado de trabalho continuam a constituir um<br />

quadro de referência não negligenciável.<br />

Num estudo recente de dois investigadores do Departamento de Economia da<br />

OCDE 38 , o retrato traçado não podia ser mais esclarecedor:<br />

The traditional bias of upper secondary towards general education - intended to lead<br />

to tertiary education – has lowered the added value of completing upper secondary<br />

education for those who did not want to go on to university and did not find training<br />

opportunities matching their needs. Moreover, although measured returns to upper<br />

38 Guichard, Stéphanie and Larre, Bénédicte, Enhancing Portugal’s Human Capital, OCDE,<br />

Economics Department Working Papers n.º 505, de 28 de Julho de 2006, pp. 8-9.<br />

76


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

secondary education are in line with the rest of the EU, in an economy that until<br />

recently created enough unskilled jobs, education was not highly valued by the labour<br />

market at the beginning of the career. Some surveys show that completing upper<br />

secondary would not have necessarily helped young workers to get better jobs right<br />

after they left school. On the other hand, returns to education tend to increase over<br />

the professional career as a better initial education gives better chances of career<br />

progression, notably via a strong ability to benefit from on-the-job training.5 The often<br />

uneducated and poor parents and their children might be short-sighted and not be<br />

fully aware of all the long-term benefits to continuing education and focus only on the<br />

easy entrance in the labour market. They might not fully appreciate either the<br />

potential benefits of more education or the likelihood that, in the new global<br />

environment, labour prospects for the less educated in Portugal will deteriorate<br />

significantly in coming years.<br />

Todos os indicadores convergem para o baixo valor social da educação como factor<br />

preponderante nas opções por uma inserção precoce no mercado de trabalho e<br />

pelas elevadas taxas de abandono, saída precoce e insucesso escolar em Portugal.<br />

Este é um cenário que justifica plenamente o recurso excepcional à acção do Estado<br />

como regulador e promotor de uma escolarização mais alargada, ainda que de<br />

forma coerciva.<br />

Mas o que estes indicadores sugerem também é a inadequação do próprio sistema<br />

de ensino, em especial na sua organização curricular, a esse objectivo de maior<br />

escolarização.<br />

Sem negar a importância de factores que se relacionam com o papel do aluno, a sua<br />

origem social, os contextos comunitários e escolares, o que esta abordagem permite<br />

identificar como hipótese de trabalho é que existe uma margem suficientemente<br />

considerável de ganhos de eficiência do sistema de ensino que, a ser utilizada,<br />

permitiriam uma qualificação efectiva dos níveis de adequação desse sistema aos<br />

objectivos de desenvolvimento económico e tecnológico que têm vindo a ser<br />

enunciados nas últimas décadas pela maior parte dos actores mais destacados da<br />

sociedade portuguesa.<br />

77


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Por último e ao contrário do que parece ser o senso comum, o abandono escolar<br />

parece ajustar-se menos ao trajecto escolar passado do aluno e muito mais às<br />

expectativas e objectivos futuros que os orientam e condicionam.<br />

4. Os contextos sociais locais<br />

Feito o enquadramento problemático para o que designámos de nível macro,<br />

importa ver como é que o problema se projecta a nível local. Conforme tivemos<br />

oportunidade de explicar na apresentação deste trabalho, partimos de três hipótese<br />

de trabalho, a saber:<br />

1. Que os fenómenos expressos pelo abandono e pela saída escolar precoce<br />

são multifactoriais, ou seja, há vários factores de ordem económica, social e<br />

cultural que se combinam de forma diversificada, consoante os contextos<br />

familiares, escolares e locais.<br />

2. Que esses fenómenos e essas combinatórias de factores são susceptíveis de<br />

tipificação.<br />

3. Que essa tipificação é susceptível se ser associada a grupos de comunidades<br />

locais e, assim, ser projectada para espaços sociais territorializados,<br />

associados a conjuntos de variáveis identificadoras de contextos sociais<br />

significantes daqueles dois fenómenos.<br />

A partir destas hipóteses construímos para todos os concelhos do Continente 12<br />

variáveis que passamos de imediato a caracterizar.<br />

78


ABAND: Abandono Escolar (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Total de indivíduos com 10-15 anos que não concluíram o 3º ciclo e não se encontram a frequentar o sistema educativo, por<br />

cada 100 indivíduos do mesmo grupo etário.<br />

Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />

Portugal (2001) = 2,8%<br />

79<br />

Continente:<br />

Máximo = 9,5% (Mondim de<br />

Basto)<br />

Mínimo = 0,0% (Arronches,<br />

Marvão)<br />

Desvio Padrão = 1,6<br />

Coeficiente de Variação = 186%<br />

Sendo um fenómeno já pouco<br />

expressivo em Portugal,<br />

persistem manchas territoriais<br />

onde os seus níveis ainda são<br />

críticos, como é o caso do Norte<br />

Interior, em especial a região do<br />

Tâmega (concelhos de Mondim<br />

de Basto, de Resende, de Cinfães<br />

e de Marco de Canaveses) e do<br />

Douro (concelho de Mesão Frio).<br />

Estes concelhos apresentaram,<br />

em 2001, os valores de Abandono<br />

Escolar mais altos do território<br />

continental, com pelo menos 8%<br />

das crianças em idade de<br />

escolaridade obrigatória sem o 3º<br />

ciclo completo e sem<br />

frequentarem a escola.


SEP: Saída Escolar Precoce (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Total de indivíduos com 18-24 anos que não concluíram o ensino secundário e não se encontram a frequentar o sistema<br />

educativo, por cada 100 indivíduos do mesmo grupo etário.<br />

Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />

Portugal (2001) = 44,8%<br />

80<br />

Continente:<br />

Máximo = 73,9% (Lousada)<br />

Mínimo = 23,8% (Oeiras)<br />

Desvio Padrão = 8,8<br />

Coeficiente de Variação =<br />

547%<br />

A incidência da Saída Escolar<br />

Precoce apresenta uma diversidade<br />

muito acentuada no território<br />

continental (C.V. de 547%). Os níveis<br />

mais baixos detectam-se nas áreas<br />

metropolitanas, merecendo também<br />

destaque outras manchas<br />

espalhadas pelo território (casos dos<br />

concelhos de Coimbra,<br />

Entroncamento, Porto, Condeixa - a -<br />

Nova, Faro, Torres Novas, Castelo<br />

Branco, Évora, Tomar, Bragança,<br />

Guarda e Portalegre) com níveis de<br />

SEP inferiores a 35%. Em<br />

contrapartida, existem regiões com<br />

níveis extremamente elevados, no<br />

Norte Interior (Tâmega, Ave, Cavado<br />

e Entre Douro e Vouga). Deste grupo<br />

podem destacar-se os concelhos de<br />

Lousada, Baião, Paços de Ferreira e<br />

Felgueiras, com níveis de SP<br />

superiores a 70%, em 2001.


ESCOL35-59: Escolaridade Média aos 35-59 anos (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Número médio de anos de escolaridade da população com 35-59 anos, obtido através da média ponderada 39 entre o nível<br />

máximo de instrução (concluído) e a duração normal de cada ciclo de estudos.<br />

Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />

Este indicador foi construído visando traduzir os níveis médios de escolarização da geração dos pais dos alunos residentes<br />

num determinado concelho. Trata-se de reflectir na análise a importância do capital cultural familiar no comportamento das<br />

variáveis escolares de abandono, saída precoce e insucesso.<br />

39 As ponderações correspondem ao número médio de anos que se esteve no sistema para quem já não o frequenta e baseiam-se na duração<br />

normal de cada ciclo de estudos:<br />

Não sabe<br />

ler/escrever<br />

1º ciclo<br />

incompleto<br />

1º ciclo<br />

completo<br />

2º ciclo<br />

incompleto<br />

2º ciclo<br />

completo<br />

Ponder<br />

Ponderaçã<br />

ação<br />

o<br />

0 3º ciclo 7,5 Médio<br />

incompleto<br />

completo<br />

2 3º ciclo completo 9 Bacharelato<br />

Incompleto<br />

4 Secundário 10,5 Bacharelato<br />

incompleto<br />

completo<br />

5 Secundário 12 Superior<br />

Completo<br />

incompleto<br />

6 Médio incompleto 10,5 Superior<br />

completo<br />

81<br />

Pondera<br />

ção<br />

12<br />

13,5<br />

15<br />

14<br />

16


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Portugal (2001) = 6,7 anos<br />

82<br />

Continente:<br />

Máximo = 9,6 (Oeiras)<br />

Mínimo = 4,2 (Baião)<br />

Desvio Padrão = 0,9<br />

Coeficiente de Variação =<br />

611%<br />

Com uma variação territorial<br />

significativa (C.V. de 611%), os níveis<br />

de escolaridade média da população<br />

adulta opõem a faixa litoral (entre o<br />

Minho e Setúbal), a região do Algarve<br />

e os concelhos mais urbanos do<br />

interior aos concelhos<br />

predominantemente localizados no<br />

Norte interior menos urbanos e<br />

economicamente mais pobres.<br />

Nestas regiões a escolaridade média<br />

da população adulta é<br />

significativamente baixa, chegando a<br />

corresponder a menos de metade do<br />

número médio de anos observado<br />

nos concelhos ou nas regiões mais<br />

urbanas do país.


DESEDU35-59: Desigualdade educativa aos 35-59 anos (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Razão entre o total de anos de escolarização dos 20% mais escolarizados e o total de anos da escolarização dos 20% menos<br />

escolarizados 40 , no grupo etário 35-59 anos.<br />

Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />

Este indicador foi construído por analogia com o indicador de desigualdade de distribuição de rendimentos utilizado pelo<br />

Eurostat e sinteticamente designado por S20-S80. Na presente situação, em vez de compararmos rendimentos, comparamos<br />

níveis médios de escolarização, confrontando os valores dos quintis superior e inferior através de um quociente.<br />

Na abordagem das desigualdades educativas pretendemos destacar a maior ou menor diferença entre níveis sociais como<br />

factor condicionador do abandono, da saída precoce ou mesmo do insucesso. Teoricamente poderemos colocar o problema<br />

de em sociedades com grandes desigualdades sociais e educativas as expectativas de mobilidade social ascendente são<br />

mais reduzidas, verificando-se o inverso em sociedades geralmente mais equilibradas e mais desenvolvidas. Se a educação,<br />

para além do retorno expresso em oportunidades e em remunerações que propicia, tende a propiciar o acesso a grupos<br />

sociais e a níveis de status mais elevados, então o seu valor social tende a ser maior e as expectativas de mais escolarização<br />

mais facilmente concretizáveis. Em situações inversas, as desigualdades sociais tentem a sustentar baixas expectativas e<br />

oportunidades de mobilidade social ascendente, baixo valor social da educação e menor procura por parte dos indivíduos e<br />

das famílias.<br />

40 Escolarização = N pessoas x número médio de anos de escolarização<br />

Fórmula: Valor Percentil (Escolarização ≥ 80%) / Valor Percentil (Escolarização ≤ 20%)<br />

As ponderações são idênticas às utilizadas para o cálculo da escolaridade média, salvo no caso da situação “Não sabe ler/escrever” em que a<br />

ponderação foi de 1.<br />

83


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Portugal (2001) = 9,8<br />

84<br />

Continente:<br />

Máximo = 108,5 (Penalva do<br />

Castelo)<br />

Mínimo = 4,3 (Porto)<br />

Desvio Padrão = 17,7<br />

Coeficiente de Variação =<br />

152%<br />

Verifica-se alguma<br />

complementaridade territorial entre os<br />

níveis de desigualdade educativa e<br />

de escolaridade média das<br />

populações. Se bem que estejamos<br />

perante duas variáveis diferentes em<br />

termos substantivos, o coeficiente de<br />

correlação entre ambas é elevado (de<br />

-0,76), significando que são<br />

essencialmente as regiões onde a<br />

escolaridade média da população<br />

adulta é menor que os níveis de<br />

desigualdade educativa se<br />

manifestam mais acentuados.


INSEBA: Insistência Escolar no ensino básico (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Total de indivíduos, com 15 e mais anos de idade, a frequentar qualquer ano de escolaridade do ensino básico, por cada 100<br />

indivíduos com 6 e mais anos de idade que se encontram a frequentar o ensino básico.<br />

Dado que o limite de idade normal para a frequência de ensino básico é 14 anos, o indicador Taxa de Insistência permite,<br />

assim, avaliar a importância de todos aqueles que para além de já não estarem abrangidos pela obrigatoriedade de<br />

frequência escolar e de, em princípio, já terem ficado retidos pelo menos um ano, persistem em frequentar o ensino. A leitura<br />

que se poderá fazer deste indicador poderá induzir uma medida de resiliência escolar ou, pelo contrário, menores<br />

oportunidades de inserção precoce no mercado de trabalho. Entre uma e outra, poderemos ainda admitir que se trata de uma<br />

expressão no sentido de diferir essa inserção laboral, pela reduzida atractabilidade das oportunidades de emprego.<br />

O cruzamento desta variável quer com variáveis de carácter escolar (por exemplo, abandono ou insucesso) quer com as de<br />

contexto económico e social poderá dar algumas pistas de interpretação interessantes.<br />

Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />

85


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Portugal (2001) = 15,2%<br />

86<br />

Continente:<br />

Máximo = 34,4 (Ourique)<br />

Mínimo = 10,0 (Lousada)<br />

Desvio Padrão = 2,9<br />

Coeficiente de Variação =<br />

570%<br />

A variação territorial do indicador é<br />

significativa (C.V. de 570%), sendo<br />

essencialmente nas regiões do<br />

Interior Norte e Centro e do Alentejo<br />

que os níveis de insistência escolar<br />

atingem valores mais elevados. No<br />

território, a insistência escolar não<br />

remete para a face complementar do<br />

Abandono Escolar ou da Saída<br />

Escolar Precoce. Com efeito, baixos<br />

níveis de insistência escolar podem<br />

coexistir com baixos níveis de<br />

abandono e de Saída Escolar<br />

Precoce (como acontece, por<br />

exemplo, com alguns concelhos da<br />

região de Lisboa) mas também<br />

podem coexistir com elevados níveis<br />

de abandono e de Saída Escolar<br />

Precoce (como acontece, por<br />

exemplo, com alguns concelhos da<br />

região do Tâmega). Essa relativa<br />

independência fica, aliás, confirmada<br />

pela fraca relação estatística da taxa<br />

de insistência escolar com o<br />

Abandono Escolar (Coeficiente de<br />

Correlação de 0,1) e com a Saída<br />

Escolar Precoce (Coeficiente de<br />

Correlação de -0,2).


RETBAS: Insucesso Escolar no ensino básico (1999/00)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Total de alunos do ensino básico (1º, 2º e 3º ciclos) que não transitou para o ano de escolaridade seguinte por cada 100<br />

alunos matriculados no ensino básico.<br />

Fonte (dados): Estatísticas da Educação (Ministério da Educação, Gabinete de informação e Avaliação do Sistema Educativo)<br />

Portugal (99/00) = 12,6%<br />

87<br />

Continente:<br />

Máximo = 26,9% (Monforte)<br />

Mínimo = 6,9% (Ansião)<br />

Desvio Padrão = 3,0<br />

Coeficiente de Variação =<br />

448%<br />

Os níveis de retenção no ensino<br />

básico são, em Portugal,<br />

relativamente altos, embora com uma<br />

significativa variação de valores no<br />

território.. Os valores mais altos da<br />

retenção observam-se em múltiplos<br />

concelhos do Norte e do Sul,<br />

podendo assinalar-se uma maior<br />

incidência deste fenómeno no interior<br />

destas regiões, nomeadamente em<br />

Trás-os-Montes, no Douro e no<br />

Alentejo Central. Em contrapartida, é<br />

na região Centro que predominam os<br />

concelhos com níveis de retenção<br />

mais baixos.


CONCURB: Concentração Urbana (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Total de indivíduos a residir em aglomerados com 2000 e + habitantes por cada 100 residentes no território.<br />

Fonte (dados): Censos 2001<br />

Portugal (2001) = 57,6%<br />

88<br />

Continente:<br />

Máximo = 100% (vários)<br />

Mínimo = 0% (vários)<br />

Desvio Padrão = 28,9<br />

Coeficiente de Variação =<br />

111%<br />

Os mais elevados níveis de<br />

concentração urbana são evidentes<br />

nos concelhos das duas áreas<br />

metropolitanas e nas principais<br />

cidades do litoral e do interior. Em<br />

contrapartida, cerca de ¼ dos<br />

concelhos (79 concelhos) não têm<br />

população a residir em aglomerados<br />

com mais de 2000 habitantes, traço<br />

que se afigura particularmente mais<br />

significativo nos concelhos do interior,<br />

em especial do Norte.


IPC: Poder de Compra per capita (2002)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Número índice que compara o poder de compra manifestado nos diferentes concelhos com o poder de compra médio de<br />

Portugal, assumindo o país o valor de referência de 100.<br />

Fonte: “Estudo sobre o poder de compra concelhio” (INE)<br />

Portugal (2002) = 100<br />

89<br />

Continente:<br />

Máximo = 220,2 (Lisboa)<br />

Mínimo = 36,2 (Celorico de<br />

Basto)<br />

Desvio Padrão = 27,3<br />

Coeficiente de Variação =<br />

186%<br />

A relação deste indicador com a<br />

concentração urbana é elevada<br />

(coeficiente de correlação de +0,75)<br />

sendo muito evidente a coincidência<br />

entre os principais centros urbanos do<br />

território continental e os concelhos<br />

com níveis de IPC mais elevados. É<br />

no Norte interior que se localizam<br />

predominantemente os concelhos<br />

com níveis mais baixos de IPC,<br />

embora deste grupo também façam<br />

parte outros concelhos do Interior<br />

Centro e Sul, como é o caso de<br />

Serpa, Alcoutim, Mértola e Santarém.


IDS: Índice de Desenvolvimento Social (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Índice composto por 3 componentes: longevidade (esperança de vida); educação (taxa de alfabetização); conforto<br />

(disponibilidade de água, electricidade e instalações sanitárias)<br />

Fonte: “Índices de Desenvolvimento para as Regiões Portuguesas - 2001” (Departamento de Prospectiva e Planeamento)<br />

Portugal (2001) = 0,915<br />

90<br />

Continente:<br />

Máximo = 0,943<br />

(Entroncamento)<br />

Mínimo = 0,802 (Alcoutim)<br />

Desvio Padrão = 0,01<br />

Coeficiente de Variação =<br />

3441%<br />

A variação dos níveis do IDS no<br />

território é significativa,<br />

nomeadamente em comparação com<br />

a variação do IPC. Os mais elevados<br />

níveis de IDS observam-se na faixa<br />

Litoral Ocidental até ao Sado, em<br />

especial nas Áreas Metropolitanas de<br />

Lisboa e Porto, orla Algarvia e<br />

principais pólos urbanos do interior.<br />

Em contrapartida, é no interior que<br />

se localizam os territórios com níveis<br />

de IDS mais baixos, com especial<br />

destaque para os concelhos das<br />

regiões do Baixo Alentejo, do<br />

Alentejo Litoral, da Beira Interior e de<br />

Trás-os-Montes.


EMPJOV: Emprego Jovem (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Percentagem de empregados com menos de 25 anos relativamente ao total da população empregada.<br />

Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />

Portugal (2001) = 13,7%<br />

91<br />

Continente:<br />

Máximo = 24,6% (Celorico de<br />

Basto)<br />

Mínimo = 8,5% (Miranda do<br />

Douro)<br />

Desvio Padrão = 3,1<br />

Coeficiente de Variação =<br />

458%<br />

O Norte contrasta claramente com as<br />

outras regiões do Continente em<br />

termos do comportamento deste<br />

indicador. Com efeito, é a Norte (em<br />

especial nas regiões em torno do<br />

Grande Porto) que os níveis de<br />

emprego jovem se assumem mais<br />

elevados. O caso da região do<br />

Tâmega merece, neste contexto,<br />

evidência pelo facto de, na larga<br />

maioria dos concelhos que integra,<br />

mais de 1/5 da população empregada<br />

ter menos de 25 anos. Acresce ainda<br />

a evidente proximidade territorial<br />

entre este fenómeno (emprego<br />

jovem) e a Saída Escolar Precoce,<br />

associação que corresponde ao<br />

coeficiente de correlação de +0,78.


ACTPRI: Activos no Sector Primário (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Percentagem de activos no sector primário com 15 e mais anos relativamente ao total da população activa com 15 e mais<br />

anos.<br />

Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />

Portugal (2001) = 5,0%<br />

92<br />

Continente:<br />

Máximo = 47,5% (S. João da<br />

Pesqueira)<br />

Mínimo = 0,3% (Amadora)<br />

Desvio Padrão = 8,8<br />

Coeficiente de Variação =<br />

133%<br />

É fundamentalmente no Interior Norte<br />

e Sul que localizam os concelhos<br />

onde a importância de activos no<br />

sector primário é maior. Estas regiões<br />

revelam simultaneamente baixos<br />

níveis de desenvolvimento social,<br />

sendo a relação estatística entre esta<br />

variável e o IDS bastante significativa<br />

(coeficiente de correlação de +0,70).


INDENV: Índice de Envelhecimento (2001)<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Número total de pessoas com 65 e mais anos por cada 100 pessoas com menos de 15 anos.<br />

Fonte (dados): Censos 2001 (INE)<br />

Portugal (2001) = 102,2%<br />

93<br />

Continente:<br />

Máximo = 522,5% (Vila<br />

Velha de Rodão)<br />

Mínimo = 39,3% (Paços de<br />

Ferreira)<br />

Desvio Padrão = 77,7<br />

Coeficiente de Variação =<br />

200%<br />

Em Portugal o número de pessoas<br />

em idade idosa (com 65 e mais<br />

anos) já é superior ao número de<br />

pessoas em idade jovem (com<br />

menos de 15 anos). É no Interior<br />

que se localizam as regiões mais<br />

envelhecidas do Continente, com<br />

concelhos a atingirem níveis de<br />

envelhecimento extremos, como é o<br />

caso de Penamacor, do Gavião, de<br />

Idanha-a-Nova, de Alcoutim e de<br />

Vila Velha de Ródão, onde o número<br />

de idosos é, pelo menos, 4 vezes<br />

maior que o número o número de<br />

jovens. No outro extremo (menos<br />

envelhecidos) estão os concelhos<br />

predominantemente localizados no<br />

Norte Litoral e na região da Grande<br />

Lisboa (excepto o concelho de<br />

Lisboa).


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Este conjunto de doze variáveis podem associar-se em dois grupos significativos:<br />

um primeiro grupo que integra indicadores educacionais e o segundo que reúne os<br />

restantes seis indicadores de contexto económico e social.<br />

QUADRO 4: Síntese das variáveis seleccionadas<br />

Indicadores educacionais Indicadores de contexto<br />

ABAND Abandono Escolar CONCURB Concentração<br />

SEP Saída Escolar<br />

Precoce<br />

ESCOL35-59 Escolaridade Média<br />

aos 35-59 anos<br />

DESEDU35-59 Desigualdade<br />

Educativa aos 35-59<br />

anos<br />

INSEBA Insistência Escolar<br />

no Ensino Básico<br />

RETBAS Insucesso Escolar<br />

no Ensino Básico<br />

94<br />

Urbana<br />

IPC Índice de Poder de<br />

Compra<br />

IDS Índice de<br />

Desenvolvimento<br />

Social<br />

EMPJOV Emprego Jovem<br />

ACTPRI Activos no Sector<br />

Primário<br />

INDENV Índice de<br />

Envelhecimento<br />

Houve o cuidado de cada variável seleccionada se reportar a um mesmo período.<br />

Dado que as informações mais consistentes e sistemáticas foram extraídas do<br />

Recenseamento Geral da População de 2001, este ao foi tomado como referência<br />

para todas as variáveis, à excepção das taxas de retenção no ensino básico que se<br />

reportam ao ano lectivo de 1999-2000 e ao Índice de Poder de Compra per capita<br />

que se refere a 2002.<br />

Para cada uma das variáveis reuniu-se a informação de 278 concelhos do<br />

Continente, na configuração da divisão administrativa de 1998 que considera já os<br />

novos concelhos criados naquele ano.<br />

Sobre estas doze variáveis aplicaram-se uma bateria de instrumentos de análise<br />

estatística multivariada cujos resultados passamos a apresentar.


5. Matriz de Correlações<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Os coeficientes de correlação entre as 12 variáveis dão uma primeira aproximação à<br />

identidade de características que entre elas se estabelece. Um coeficiente de<br />

correlação de 1 (unidade) significa uma correlação perfeita, podendo ser positiva<br />

(variação no mesmo sentido e na mesma proporção) ou negativa (variação e<br />

proporção inversas).<br />

95


QUADRO 5: Matriz de Correlações das 12 variáveis seleccionadas<br />

ABAND SEP<br />

ESC35-<br />

59<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

DEDU35-<br />

59 INSEBA RETBA CONCURB IPC IDS EMPJOV ACTPRI INDENV<br />

2001 2001 2001 2001 2001 _1999-2000 2001 2002 2001 2001 2001 2001<br />

ABAND 1,000 0,616 -0,502 0,499 -0,051 0,462 -0,271 -0,386 -0,244 0,542 0,417 -0,153<br />

SEP 0,616 1,000 -0,696 0,659 -0,200 0,264 -0,459 -0,569 -0,225 0,822 0,241 -0,171<br />

ESC35-59 -0,502 -0,696 1,000 -0,761 -0,207 -0,221 0,726 0,934 0,599 -0,521 -0,609 -0,295<br />

DEDU35-59 0,499 0,659 -0,761 1,000 0,019 0,132 -0,591 -0,643 -0,366 0,634 0,322 0,106<br />

INSEBA -0,051 -0,200 -0,207 0,019 1,000 0,151 -0,245 -0,276 -0,552 -0,435 0,498 0,650<br />

RETBA 0,462 0,264 -0,221 0,132 0,151 1,000 -0,070 -0,186 -0,224 0,115 0,356 0,010<br />

CONCURB -0,271 -0,459 0,726 -0,591 -0,245 -0,070 1,000 0,746 0,499 -0,358 -0,420 -0,363<br />

IPC -0,386 -0,569 0,934 -0,643 -0,276 -0,186 0,746 1,000 0,608 -0,385 -0,607 -0,379<br />

IDS -0,244 -0,225 0,599 -0,366 -0,552 -0,224 0,499 0,608 1,000 0,044 -0,706 -0,659<br />

EMPJOV 0,542 0,822 -0,521 0,634 -0,435 0,115 -0,358 -0,385 0,044 1,000 -0,024 -0,434<br />

ACTPRI 0,417 0,241 -0,609 0,322 0,498 0,356 -0,420 -0,607 -0,706 -0,024 1,000 0,484<br />

INDENV -0,153 -0,171 -0,295 0,106 0,650 0,010 -0,363 -0,379 -0,659 -0,434 0,484 1,000<br />

Valores mais significantes: [± 0,445, ± 0,644], [± 0,645, ± 0,844], [± 0,845, ± 1,000]<br />

96


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Um coeficiente de correlação igual a 0 (zero) significa inexistência de correlação. Na<br />

leitura do QUADRO 5, escalonámos os diferentes coeficientes da matriz em valores<br />

mais ou menos significantes em três níveis: razoável, bom e muito bom,<br />

distinguindo-os pela cor da respectiva célula.<br />

Desta primeira leitura poderemos retirar algumas linhas de interpretação dos dados,<br />

focando a análise sobre o conjunto das variáveis educacionais, na sua relação com<br />

as restantes variáveis de contexto:<br />

1. A variável Abandono Escolar apresenta apenas correlações razoáveis, sendo<br />

a mais acentuada com o indicador SEP (o que é compreensível dado<br />

tratarem-se de um mesmo fenómeno medido sobre momentos e grupos<br />

etários diferentes), seguindo-se o Emprego Jovem, a Desigualdade Educativa<br />

“dos pais” e o Insucesso Escolar, estas duas variáveis já no limite da<br />

“razoabilidade”. Há correlação negativa com o nível médio de escolarização<br />

“dos pais”, ou seja, quanto maior a escolarização “dos pais” menor a<br />

probabilidade de abandono escolar dos filhos.<br />

2. A variável Saída Escolar Precoce (SEP) apresenta coeficientes de correlação<br />

mais significativos do que o Abandono. Os valores mais elevados revelam-se<br />

nas correlações com o Emprego Jovem (o mais elevado), a Desigualdade<br />

Educativa e o Abandono. Significativas são as correlações negativas com o<br />

Nível Médio de Escolarização “dos pais”, a Concentração Urbana e o Índice<br />

de Poder de Compra. As conclusões que se podem tirar destes valores são<br />

pertinentes. A SEP está fortemente associada à empregabilidade dos jovens,<br />

a situações de maior desigualdade educativa das gerações activas de maior<br />

idade e menos escolarizadas, e em concelhos de menor concentração urbana<br />

e de menor poder de compra.<br />

3. O valor mais elevado da matriz de coeficientes de correlação relaciona a<br />

escolarização média no grupo etário 35-59 anos com o índice de poder de<br />

compra concelhio, com um coeficiente muito próximo da unidade: elevados<br />

níveis de escolarização “dos pais” associa-se estatisticamente com maior<br />

poder de compra.<br />

97


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

4. A maior desigualdade educativa tende a ser inversa dos níveis de<br />

escolarização, concentração urbana e de poder de compra, mas tende a<br />

associar-se à SEP, ao Emprego Jovem e ao Abandono Escolar.<br />

5. O que designámos por Insistência Escolar é um fenómeno identificado com<br />

as zonas rurais: maior peso dos Activos do Sector Primário e do<br />

Envelhecimento. Sugere uma rejeição da actividade primária “dos pais”,<br />

mantendo-se mais tempo na escola, retardando o abandono e a saída<br />

precoce.<br />

6. A Taxa de Insucesso no Ensino Básico é de todas as variáveis a que<br />

apresenta menores coeficientes de correlação com as restantes. Este facto<br />

sugere alguma dissociação com as restantes variáveis escolares e de<br />

contexto, à excepção do Abandono em que apresenta um coeficiente de<br />

correlação modesto (0,462). Na perspectiva do que pudemos explicitar, este<br />

facto sugere que o insucesso escolar tende a resultar de factores inerentes ao<br />

próprio sistema de ensino e não aos factores de contexto económico ou<br />

social.<br />

6. Análise das Componentes Principais<br />

O segundo passo de análise consiste na aplicação de um instrumento de análise<br />

multivariada designada por Análise Factorial, método das Componentes Principais.<br />

Este método permite reduzir a um conjunto reduzido de factores uma parte<br />

significativa da variância das 12 variáveis em análise. A hierarquia desses factores e<br />

o seu poder explicativo determinam os conjuntos com maior variância, tal como<br />

permitem associar as diferentes variáveis pela sua proximidade de comportamento.<br />

Os resultados da aplicação desta técnica podem ser analisados a partir do quadro<br />

seguinte:<br />

98


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

QUADRO 6: Análise das Componentes Principais – Valores próprios<br />

e proporção da variância explicada.<br />

Componente Valor Próprio % Explicação % Acumulada<br />

1 5,373791433 44,8% 44,8%<br />

2 2,954814907 24,6% 69,4%<br />

3 1,277002741 10,6% 80,0%<br />

4 0,484249965 4,0% 84,1%<br />

5 0,402121357 3,4% 87,4%<br />

6 0,360805601 3,0% 90,4%<br />

7 0,312787865 2,6% 93,0%<br />

8 0,286460534 2,4% 95,4%<br />

9 0,221495861 1,8% 97,3%<br />

10 0,181947361 1,5% 98,8%<br />

11 0,104329807 0,9% 99,7%<br />

12 0,040192438 0,3% 100,0%<br />

Como se pode constatar existem três componentes que apresentam valores próprios<br />

superiores à unidade, ou seja, têm uma capacidade explicativa superior à de cada<br />

uma das variáveis. Essas três primeiras componentes – também designadas por<br />

vectores característicos – explicam em conjunto 80% da variância total (os 100%<br />

são só explicáveis pelas 12 componentes tantas quantas as variáveis em análise).<br />

Estes resultados são estatisticamente consistentes, considerando-se os 80% da<br />

variância explicada como uma boa proporção do total que se pretende explicar.<br />

O problema agora é saber como é que as diferentes componentes se associam com<br />

as diferentes variáveis. A matriz de saturações (ou “loadings”) permite para cada<br />

uma das componentes identificar qual o peso que tem em cada uma das variáveis,<br />

conforme se pode constatar no QUADRO 7.<br />

Variável a variável identifica-se em que componente se situa o maior peso. A partir<br />

deste exercício é possível associar componentes com variáveis, agrupando estas<br />

com cada uma das três componentes com valor próprio superior à unidade.<br />

Convém, entretanto, distinguir as variáveis que têm associação positiva ou negativa<br />

para se perceber o sentido do contributo de cada uma para a variância da<br />

componente, conforme se poderá verificar pela representação no sistema de eixos<br />

factoriais nos GRÁFICO 7.<br />

99


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

São claramente identificáveis 3 grupos de variáveis, ficando uma variável isolada.<br />

Esta, a retenção no ensino básico, identifica-se com a componente três e não tem<br />

qualquer peso significativo em qualquer outra componente. Este resultado vem<br />

confirmar que o insucesso escolar expresso pela retenção tem muito pouco a ver<br />

com qualquer das onze variáveis restantes, sugerindo factores outros que os<br />

contextos sociais ou os níveis de escolarização. Só a proximidade com a variável<br />

Abandono é que é significativa (mesmo assim, com uma saturação na componente 3<br />

de apenas 0,4858) confirmando a associação estatística que já havíamos relevado.<br />

Dos restantes três grupos de variáveis comece-se por destacar os dois identificados<br />

com a componente 1: um grupo com elevadas saturações positivas (ABAND, SEP,<br />

DEDU35-59 e EMPJOV) e outro na posição oposta com elevadas saturações<br />

negativas (ESC35-59, CONCURB, IPC e IDS). O terceiro grupo associa as restantes<br />

três variáveis (INSEBA, INDENV e ACTPRI).<br />

100


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

QUADRO 7: Análise das Componentes Principais – Matriz de Saturações<br />

Variáveis Componentes<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />

ABAND 0,6173 0,3834 0,4858 0,2895 0,1728 -0,1266 -0,2477 -0,0934 0,1518 -0,1144 -0,0015 0,0007<br />

SEP 0,7193 0,5624 0,0132 -0,0058 -0,0085 0,1030 0,2144 -0,2086 0,1171 0,1570 -0,1645 0,0212<br />

ESC35-59 -0,9499 -0,0463 0,1438 -0,0029 0,0958 0,0209 -0,1132 -0,1193 -0,0669 0,0910 0,0039 0,1597<br />

DEDU35-59 0,7845 0,2870 -0,2076 -0,0132 0,3339 0,1789 -0,0969 0,2928 -0,1205 0,0340 -0,0617 0,0283<br />

INSEBA 0,2875 -0,7899 0,1125 -0,0747 0,3897 -0,2370 0,2491 -0,0686 -0,0063 -0,0002 0,0204 0,0013<br />

RETBA 0,3473 0,0205 0,8171 -0,4378 -0,0661 0,1011 -0,0134 0,0620 -0,0287 -0,0026 0,0135 -0,0025<br />

CONCURB -0,7697 0,0789 0,3605 0,2868 0,0557 0,2545 0,2798 0,1647 0,1011 -0,0658 0,0358 0,0076<br />

IPC -0,8991 0,0879 0,1944 0,0641 0,2015 0,1023 -0,1128 -0,1259 -0,1229 0,1838 -0,0189 -0,1144<br />

IDS -0,6939 0,5371 -0,0445 -0,1504 0,0533 -0,2719 -0,0113 0,2262 0,2326 0,1525 0,0069 -0,0058<br />

EMPJOV 0,5157 0,7919 -0,1045 -0,0191 0,0606 0,0301 0,0951 -0,1026 -0,0567 0,0669 0,2525 0,0077<br />

ACTPRI 0,6958 -0,4348 0,2977 0,3012 -0,2084 -0,1308 0,0109 0,1410 -0,1019 0,2362 0,0247 0,0137<br />

INDENV 0,3492 -0,8150 -0,1656 -0,0546 0,0406 0,2611 -0,1440 -0,0335 0,2681 0,1144 0,0825 -0,0007<br />

101


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

GRÁFICO 7: Análise das Componentes Principais – Associação das<br />

Componentes 1 e 2 com as Variáveis.<br />

IDS<br />

IPC CONCURB<br />

102<br />

Componente 2<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

-1,0<br />

ESC35-59<br />

-0,5 0,0 0,5 1,0<br />

-0,5<br />

-1,0<br />

RETBA<br />

INSEBA<br />

INDENV<br />

EMPJOV<br />

ACTPRI<br />

SEP<br />

ABAND<br />

DEDU35-59<br />

Não perdendo o sentido dos objectivos desta análise, precisamente os de<br />

tipificar os contextos sociais do abandono e da saída escolar precoce, a<br />

identificação das variáveis associadas positivamente àquelas duas são o<br />

Emprego Jovem e a Desigualdade Educativa no Grupo etário dos 35-59. Ou<br />

seja Abandono e SEP tendem a ser maiores onde for maior a empregabilidade<br />

dos jovens e a desigualdade educativa “dos pais”. Inversamente, tende a ser<br />

menor nos concelhos de maior concentração urbana, com maior poder de<br />

compra, maior nível de escolarização e maior desenvolvimento social. Ou seja,<br />

a análise das componentes principais vem reforçar e precisar a dualidade entre<br />

zonas mais urbanizadas e menos urbanizadas que a análise da matriz das<br />

correlações já havia sugerido.<br />

O terceiro grupo distingue, entre as zonas menos urbanizadas, aquelas com<br />

maior envelhecimento e com um peso dos activos no sector primário mais<br />

Componente 1


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

relevante. A variável escolar que se associa a este grupo, significativamente, é<br />

o que designámos de insistência escolar, ou seja, o maior peso de<br />

adolescentes e jovens para além da idade normal de frequência da escola.<br />

Nestes casos há insucesso, mas não há necessariamente abandono nem<br />

saída precoce, ou por falta de empregabilidade dos jovens ou pela pouco<br />

atractabilidade da actividade dominante, o sector primário.<br />

7. A análise dos “clusters” regionais<br />

Tal como foi possível e pertinente identificar grupos de variáveis com<br />

comportamento mais próximo, estamos em condições de ensaiar uma<br />

tipificação das observações, ou seja dos concelhos do Continente português. A<br />

técnica estatística de que nos iremos socorrer é a análise de “clusters”. Este<br />

instrumento permite associar os diferentes concelhos (observações) em função<br />

das suas saturações com as diferentes variáveis.<br />

Esta técnica deixa ao investigador a possibilidade de definir previamente o<br />

número de agrupamentos significantes. O critério que utilizámos foi o de<br />

considerar 3 agrupamentos de forma a podermos associá-los com as três<br />

componentes que identificámos na análise factorial.<br />

QUADRO 8: Matriz das Médias dos Clusters<br />

Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3<br />

ABAND -0,0514 -0,5187 1,4903<br />

SEP -0,0358 -0,5899 1,6260<br />

ESC35-59 -0,4732 0,9374 -0,9683<br />

DEDU35-<br />

59 0,1772 -0,7431 1,3707<br />

INSEBA 0,6071 -0,4328 -0,7373<br />

RETBA 0,1579 -0,3528 0,4260<br />

CONCURB -0,4225 0,7862 -0,7341<br />

IPC -0,5396 0,9274 -0,7402<br />

IDS -0,6593 0,8218 -0,1038<br />

EMPJOV -0,2885 -0,3787 1,8530<br />

ACTPRI 0,5941 -0,7750 0,1821<br />

INDENV 0,7090 -0,5621 -0,7155<br />

103


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Identificámos para cada agrupamento de concelhos os valores médios de cada<br />

variável mais elevados o que permite associar a esses agrupamentos os<br />

grupos de variáveis já identificados. O caso da variável Taxa de Retenção no<br />

Ensino Básico, mantivemo-la isolada, de acordo com os resultados da análise<br />

factorial pelo método das componentes principais, ainda que o seu valor mais<br />

elevado – mas, o mais baixo entre os valores significantes - seja no cluster 3.<br />

A representação cartográfica dos três agrupamentos de concelhos está<br />

expressa no mapa seguinte.<br />

104


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Com a visualização dos três agrupamentos e a sua identificação com as<br />

diferentes variáveis, são evidentes os tipos de desigualdades regionais, bem<br />

como essas desigualdades se projectam em termos das variáveis educativas.<br />

Sendo fenómenos presentes, com maior ou menor incidência, em todo o<br />

território, o abandono escolar e a saída precoce tendem a concentrar-se num<br />

105


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

conjunto muito bem definido de concelhos em que o papel da inserção precoce<br />

no mercado de trabalho, os baixos níveis de escolarização das gerações<br />

activas e as elevadas desigualdades educativas, atingem proporções mais<br />

elevadas.<br />

Esse agrupamento identifica-se com uma vasta região ao norte do país que<br />

assume funções de periferia da área Metropolitana do Porto, conhecida pela<br />

sua industrialização difusa e assente em elevada incorporação de trabalho<br />

desqualificado. É nesta região que a tradição do trabalho infantil e da inserção<br />

precoce no mercado de trabalho ganhou algum relevo, mantendo à entrada do<br />

século XXI as características de uma das regiões mais pobres do país. Alguns<br />

concelhos isolados mais a sul completam este agrupamento.<br />

Os dois outros agrupamentos distinguem os concelhos mais urbanizados,<br />

conhecidos pelo peso da classe média e pela concentração de infra-estruturas<br />

públicas, dos concelhos com um peso da ruralidade mais acentuado. Não se<br />

pode dizer que seja uma projecção da dicotomia litoral-interior: no litoral<br />

encontramos concelhos com características idênticas à maioria dos do interior,<br />

e nesta parte do país poderemos encontrar, em especial nas sedes de distrito e<br />

outras concentrações urbanas, características idênticas às dos seus<br />

congéneres do litoral. A concentração urbana e os níveis de rendimento e de<br />

escolarização “dos pais” são decisivos para diferenciar concelhos com melhor<br />

ou pior desempenho educativo.<br />

106


8. Conclusão<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A hipótese de que partimos estruturou-se em torno da multifactorialidade dos<br />

fenómenos do abandono e da saída escolar precoce, bem como das diferentes<br />

combinatórias desses factores poderem projectar-se de forma diferenciada em<br />

contextos sociais regionalmente identificados.<br />

Os resultados obtidos permitem confirmar a hipótese de as causas e contextos<br />

do abandono e da saída escolar precoce poderem diferenciar-se no espaço<br />

nacional e expressar-se através de lógicas e processos sociais e educativos<br />

sujeitos a dinâmicas diferenciadas.<br />

A partir daqui tem sentido colocar o problema do confronto entre a<br />

universalidade das medidas e políticas de combate ao abandono escolar e a<br />

especificidade regional que contextualizam o fenómeno. Ou seja, à unicidade<br />

das acções do lado da oferta de ensino contrapõe-se a diversidade dos<br />

contextos sociais e das respostas a essas acções.<br />

Nesta perspectiva, tem sentido identificar quais os tipos de combinatórias dos<br />

diferentes factores sociais bem como associá-los a espaços regionais onde a<br />

incidência dessas combinatórias poderá ser mais relevante. Também neste<br />

domínio, os resultados obtidos sustentam a tese da territorialização desses<br />

fenómenos e da necessidade de diferenciar as políticas e a acção preventiva<br />

ou remediadora em função das particulares características de cada um dos<br />

conjuntos identificados.<br />

Em qualquer desses conjuntos os chamados “factores sociais” são relevantes<br />

na associação com os fenómenos do abandono e da saída escolar precoce.<br />

Porém, ao decompor na sua diversidade esses factores, o complexo de<br />

interacções identificadas parece afastar as leituras mais lineares, geralmente<br />

sintetizadas na fórmula: baixo capital familiar ou comunitário (económico,<br />

cultural ou social) baixo desempenho escolar (insucesso) abandono ou<br />

saída precoce inserção desfavorável no mercado de trabalho. Para além<br />

dos efeitos de retroacção e da acção orientada por expectativas educativas<br />

mais ou menos elevadas, os vários contextos identificados nem sempre<br />

confirmam esse encadeamento causal. As baixas correlações entre as<br />

107


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

variáveis associadas ao insucesso ou ao abandono e destas ao capital familiar<br />

obrigam a ter alguma contenção com a generalização apressada daquele<br />

raciocínio causal. Por outro lado, o princípio da universalidade e o carácter<br />

homogeneizador do sistema de ensino tente a potenciar as desigualdades de<br />

capacidade adaptativa dos diferentes actores e nos diferentes contextos<br />

sociais.<br />

Por último, mas não menos importante, importa relembrar e reforçar que tanto<br />

as hipóteses de trabalho quanto os resultados obtidos só têm sentido e<br />

validade para níveis de análise macro e mezo, mantendo-se a focagem<br />

privilegiada do fenómeno do abandono e da saída precoce no nível micro, o<br />

dos contextos da decisão, das atitudes e dos comportamentos face aos valores<br />

e ao retorno individual da escolarização.<br />

108


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

C. ANÁLISE SOCIOCULTURAL DAS SITUAÇÕES DE TRABALHO<br />

INFANTIL SINALIZADO<br />

Neste capítulo, far-se-á uma descrição dos resultados obtidos em relação aos<br />

seguintes pontos: caracterização sociocultural dos inquiridos; trabalho infantil<br />

no passado; actividades desenvolvidas pelos inquiridos na última semana; e<br />

situações de trabalho infantil na última semana.<br />

Em anexo, poder-se-á encontrar todas as tabelas e valores estatísticos que<br />

possibilitaram a análise descritiva efectuada ao longo do texto, bem como dos<br />

gráficos construídos que evidenciam os aspectos mais relevantes.<br />

1. Caracterização sociocultural dos inquiridos<br />

1.1. As escolas e os alunos de PIEF<br />

No que se refere à tipologia das escolas onde decorrem os programas PIEF<br />

(ou às quais estão sedeados), podemos observar que 71% são escolas dos 2º<br />

e 3º ciclos do ensino básico. Encontramos, de seguida, escolas secundárias<br />

com o 3º ciclo, com 14% e 11% são escolas secundárias. Com uma<br />

percentagem muito residual (4%) encontramos as escolas Básicas Integradas.<br />

10,8%<br />

4,0%<br />

Gráfico 3 – tipologia das escolas<br />

14,3%<br />

0,4%<br />

70,5%<br />

E1 EB23 EBI ES ES3<br />

109<br />

Gráfico 4 – alunos de PIEF inseridos em<br />

programas PIEF empresa ou afins<br />

66,2%<br />

4,6%<br />

Sim Não Não sabe<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

29,2%


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A maioria dos alunos (66,2%) não está inserida em nenhum programa PIEF<br />

empresa ou programas afins, 4,6% não soube responder, e os restantes 29,2%<br />

respondeu afirmativamente.<br />

Em relação ao tipo de PIEF que os alunos frequentavam na altura do inquérito,<br />

53,8% deles frequentavam turmas de PIEF tipo 1 e 46,2% frequentavam<br />

turmas de PIEF tipo 2 (ver gráfico 3).<br />

Gráfico 5 - Inquiridos por tipo de PIEF frequentado<br />

46,2%<br />

Tipo 1 Tipo 2<br />

110<br />

53,8%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

1.2. Indicadores tradicionais de caracterização<br />

Como já referimos, inquiriram-se 1098 alunos PIEF. A caracterização que se<br />

segue diz respeito a estes alunos.<br />

A distribuição destes alunos por sexo é bastante assimétrica, com cerca de<br />

70% de rapazes e aproximadamente 30% de raparigas, como podemos ver<br />

pelo gráfico 4.<br />

Gráfico 6 - Alunos PIEF por sexo<br />

29,7%<br />

M F<br />

70,3%<br />

Quanto à idade dos inquiridos, importa<br />

antes de mais referir que, na<br />

construção do questionário, tivemos a<br />

preocupação de colocar esta questão<br />

de forma a podermos saber as idades


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

dos alunos em dois momentos diferentes. Pedimos sempre aos alunos para<br />

nos dizerem a data de nascimento, e apenas nos (poucos) casos em que não<br />

soubessem a resposta é que se assinalava a idade 41 .<br />

A média das idades dos alunos de PIEF à data de aplicação dos questionários<br />

é de aproximadamente 15 anos e meio (15,51) e o desvio-padrão de cerca de 1<br />

ano e meio (1,432). Se calcularmos esta média à data de inscrição, ela é<br />

naturalmente menor, em pouco menos de um ano (14,86), mas o desvio-<br />

padrão mantém-se sensivelmente o mesmo (1, 434).<br />

As idades à data de aplicação dos questionários, com escalões etários<br />

definidos a partir das idades correspondentes à frequência dos ciclos de<br />

ensino, mostram uma distribuição bastante desequilibrada, como se pode ver<br />

no gráfico abaixo.<br />

Gráfico 7 - Escalão etário dos alunos PIEF à data de aplicação<br />

51,2%<br />

2,4% 0,6%<br />

=18<br />

111<br />

45,8%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Uma vez que, por razões que já explicitámos, procurámos excluir à partida os<br />

alunos que tinham atingido a maioridade, dando instruções aos inquiridores<br />

para não realizarem questionários aos alunos nessas condições, encontramos<br />

41 Quanto ao tratamento desta variável, fizemos uma recodificação em dois tipos de escalões<br />

etários: no primeiro tivemos em conta as idades dos alunos à data de inscrição no ano lectivo<br />

de 2006-2007 (15 de Setembro de 2006), e definimos os escalões segundo os ciclos de ensino,<br />

tal como fizemos para a definição da nossa amostra emparelhada; na segunda variável<br />

utilizámos a idade à data de aplicação do questionário e definimos escalões segundo os limites<br />

definidos pela OIT para trabalho infantil e trabalho aceitável. A primeira recodificação foi feita<br />

com o intuito de perceber e readaptar o emparelhamento dos alunos de PIEF com os alunos do<br />

ER. Será o escalão etário construído a partir da idade à data de aplicação e definido a partir<br />

das idades estabelecidas pela OIT como limites ao trabalho infantil, aquele que aqui mais nos<br />

interessa explorar.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

neste escalão uma parcela muito pequena dos inquiridos (2,4% dos inquiridos,<br />

que corresponde a 26 alunos).<br />

No entanto, a parcela menor do gráfico representa os alunos com 12 ou menos<br />

anos (7 alunos, que representam 0,6% do jovens inquiridos), o que não é<br />

senão o resultado de este ser um estudo acerca de uma população com<br />

características muito particulares, nomeadamente no que respeita aos seus<br />

percursos escolares. De facto, os alunos inseridos nos programas de PIEF são,<br />

na generalidade dos casos, jovens com grandes taxas de insucesso escolar.<br />

Seria expectável que os alunos fossem maioritariamente mais velhos.<br />

Se cruzarmos estes escalões com o tipo de PIEF frequentado, verificamos que<br />

38,8% dos inquiridos com 16 ou 17 anos à data de aplicação dos questionários<br />

frequentava aulas PIEF de tipo 1, que dá equivalência ao 6º ano do ensino<br />

básico.<br />

Esta percentagem evidencia a persistência das retenções nos percursos<br />

escolares destes alunos (todos estes alunos terão de ter ficado retidos pelo<br />

menos três vezes, se partirmos do pressuposto de que entraram para o<br />

sistema escolar aos 6 anos e que a frequência do 2º ciclo corresponde a<br />

idades entre os 10 e os 12 anos).<br />

Assim, verificamos que, à excepção dos inquiridos com mais de 18 anos, os<br />

escalões etários dos 13-15 anos e dos 16-17 anos apresentam percentagens<br />

bastante próximas (45,8% e 51,2%, respectivamente), e juntos somam 97%<br />

dos alunos.<br />

Os escalões etários que utilizámos para a análise do trabalho infantil foram<br />

definidos com base nas idades relativas aos limites ao trabalho de crianças e<br />

jovens definidos pela OIT. Isto implica que, por razões de consistência e<br />

coerência, utilizaremos esse escalonamento para todas as análises que se<br />

farão daqui para a frente (=18<br />

anos). A distribuição dos inquiridos por estes escalões apresenta as seguintes<br />

percentagens: 0,1% tem menos de 11 anos; 19,3% tem entre 12 e 14 anos;<br />

26,9% tem 15 anos; 51,1% tem entre 16 e 17 anos; e 2,4% tem 18 ou mais<br />

anos.<br />

112


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

O cruzamento da idade com o sexo mostra que as distribuições etárias dos<br />

rapazes e raparigas são ligeiramente diferentes nos escalões etários dos 15<br />

anos e de 16-17 anos. Se no primeiro escalão encontramos uma maior<br />

percentagem de rapazes, a maioria das raparigas está no escalão dos 16-17<br />

anos (apesar de serem em menor número que os rapazes em valor absoluto, a<br />

sua distribuição por escalões revela uma preponderância de inquiridas neste<br />

escalão).<br />

Gráfico 8 – distribuição dos escalões etários dos alunos de PIEF por sexo<br />

%<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0,1<br />

0,0<br />

20,0<br />

17,8<br />

113<br />

27,6<br />

=18<br />

25,5<br />

M F<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Quanto à naturalidade dos inquiridos, 94,3% nasceu em Portugal e 5,7% no<br />

estrangeiro.<br />

Os 5,7% dos alunos de PIEF inquiridos que não nasceram em Portugal<br />

corresponde a 63 alunos, dos quais 36,5% são provenientes de países não<br />

categorizados, 22,2% de Cabo-Verde, 19,5% de Angola, 11,1% da Guiné, 9,5%<br />

do Brasil e 1,6% da Roménia.<br />

1.3. Características do agregado familiar<br />

Relativamente ao tipo de agregado familiar, 56,1% dos alunos fazem parte<br />

duma família nuclear (mãe/madrasta, pai/padrasto e irmãos, caso tenha),<br />

49,9<br />

54,3<br />

2,3<br />

2,5


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

24,2% duma família alargada, 16,3% família monoparental e 3,5% dos alunos<br />

encontram-se institucionalizados 42 .<br />

Gráfico 9 – Tipo de família a que<br />

pertencem os alunos de PIEF<br />

24,2%<br />

3,5%<br />

16,3%<br />

Família monoparental Família nuclear<br />

Família alargada Institucionalizado<br />

56,1%<br />

Gráfico 10 – Número de irmãos do inquirido<br />

114<br />

%<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

45,2<br />

28,0<br />

13,6<br />

7,2<br />

2,5 3,5<br />

1 2 3 4 5 Mais<br />

de 5<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Os alunos que afirmaram ter irmãos correspondem a 73,1% dos inquiridos.<br />

Destes alunos, 45,2% tem 1 irmão(a), 28% tem 2, 13,6% tem 3, 7,2% tem 4,<br />

3,5% tem mais que 5 e 2,5% tem 5 irmãos(as) (ver gráfico acima).<br />

Quanto à idade relativamente aos irmãos, a distribuição dos alunos é muito<br />

semelhante (37,4% tem apenas irmãos mais velhos; 29,4 tem irmãos mais<br />

novos; e 33,2% tem irmãos mais novos e mais velhos).<br />

Se olharmos agora para o número de pessoas com quem vive o inquirido<br />

(gráfico 9), verificamos que a categoria que concentra maior número de<br />

respostas corresponde a famílias com 3 pessoas (sem contar com o inquirido).<br />

Será interessante verificar que tais valores são claramente superiores aos<br />

observados nas estatísticas oficiais a nível nacional.<br />

42 Os dados recolhidos não nos revelam as instituições que acolhem estes alunos.


%<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 11 – Total de pessoas que habitam com o inquirido<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

5,9<br />

19,5<br />

28,3<br />

115<br />

22,3<br />

11,8<br />

12,1<br />

1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas 4 pessoas 5 pessoas Mais de 5<br />

pessoas<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

As características sociais, culturais e económicas do meio de socialização<br />

primária são reconhecidamente factores relevantes para o estudo das<br />

problemáticas aqui em causa. Faremos neste ponto uma caracterização do<br />

agregado familiar dos inquiridos, utilizando para isso algumas características<br />

da mãe e do pai.<br />

Como já vimos, a maioria dos inquiridos vive numa família nuclear. Por outro<br />

lado, das pessoas com quem vivem, a mãe, o pai e os irmãos representam as<br />

maiores percentagens de resposta, apresentando as restantes categorias<br />

apenas valores residuais. Optámos, então, por caracterizar aqui apenas a mãe<br />

e o pai 43 .<br />

Assim, e quanto à nacionalidade da mãe, 90,8% das mães dos alunos PIEF<br />

são de nacionalidade portuguesa. Valerá a pena fazer referência a 3% de mães<br />

Cabo-Verdianas. As restantes nacionalidades são residuais. Nos pais<br />

encontramos valores muito parecidos: 92,2% são de nacionalidade portuguesa<br />

e, novamente, a outra nacionalidade com maior representação (ainda que<br />

residual) é a Cabo-verdiana com 4%.<br />

43 As categorias residuais às quais nos referimos (no que diz respeito às pessoas que vivem<br />

com os alunos PIEF), e os seus respectivos valores, são os seguintes: alunos PIEF que não<br />

vivem nem com a mãe nem com o pai, 8,1% e alunos PIEF institucionalizados, 3,5%. As<br />

características do pai e da mãe dos alunos PIEF que vivem, por exemplo, com o pai e com a<br />

madrasta ou com a mãe e o padrasto (1,6% e 10,7% respectivamente), são igualmente<br />

contempladas na análise (excluindo-se apenas, e nestes casos, as características da madrasta<br />

e do padrasto ou outros elementos que possam habitar com os inquiridos PIEF, uma vez que,<br />

como já foi referenciado, falamos de percentagens residuais).


%<br />

60<br />

40<br />

20<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 12 – Escalão etário da mãe<br />

0<br />

13,0<br />

59,0<br />

25,4<br />

25-34 35-44 45-54 >=55<br />

2,7<br />

116<br />

%<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Gráfico 13 – Escalão etário do pai<br />

2,8<br />

50,9<br />

35,5<br />

10,8<br />

25-34 35-44 45-54 >=55<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A maioria dos pais das crianças e jovens inquiridos tem idades entre os 35 e os<br />

44 anos (59% das mães e 50,9% dos pais). No entanto, no escalão dos 25-34<br />

anos, encontramos um peso de mulheres relativamente superior (13% das<br />

mães e 2,8% dos pais têm uma idade compreendida entre os 25 e os 34 anos),<br />

inversamente ao que se verifica no escalão que agrega os 55 ou mais anos<br />

(aqui encontramos apenas 2,7% das mães e 10,8% dos pais).<br />

Quanto ao estado civil dos pais dos alunos PIEF, apresentamos os seguintes<br />

dados: 73,5% das mães são casadas ou juntas, seguidas de 12,1% que estão<br />

divorciadas/separadas. As restantes categorias do estado civil apresentam<br />

valores residuais. No que diz respeito aos pais dos alunos PIEF, 89,7% estão<br />

casados/juntos e apenas 4,3% estão divorciados/separados.<br />

Se olharmos, agora, para o nível de instrução dos pais, rapidamente<br />

percebemos que estamos perante famílias com baixos capitais escolar formal.


%<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 14 – Grau de instrução da mãe de alunos de PIEF inquiridos<br />

5,5<br />

Não<br />

estudou<br />

2,4<br />

Sabe ler e<br />

escrever<br />

50,9<br />

16,9<br />

1º Ciclo do 2º Ciclo do<br />

ensino ensino<br />

básico (4ªa básico (6º<br />

classe) Ano)<br />

117<br />

10,7<br />

3º Ciclo do<br />

ensino<br />

básico<br />

3,1<br />

Ensino<br />

secundário<br />

ou pós<br />

secundário<br />

0,8<br />

Ensino<br />

superior<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

9,5<br />

Não sabe<br />

No que se refere ao nível de instrução da mãe, podemos ver que 50,9% das<br />

mães dos alunos PIEF têm o 1º ciclo do ensino básico, de resto percentagem<br />

parecida encontramos nos pais, uma vez que 57,2% deles têm também o 1º<br />

ciclo do ensino básico. O nível de instrução seguinte com maior representação<br />

é o 2º ciclo do ensino básico: 16,9% das mães de alunos PIEF têm este nível<br />

de escolaridade, enquanto que os pais perfazem 14%.<br />

%<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Gráfico 15 – Grau de instrução do pai dos alunos de PIEF inquiridos<br />

4,8<br />

Não<br />

estudou<br />

1,5<br />

Sabe ler e<br />

escrever<br />

57,2<br />

1º Ciclo do<br />

ensino<br />

básico (4ªa<br />

classe)<br />

14,0<br />

2º Ciclo do<br />

ensino<br />

básico (6º<br />

Ano)<br />

7,5<br />

3º Ciclo do<br />

ensino<br />

básico<br />

2,8<br />

Ensino<br />

secundário<br />

ou pós<br />

secundário<br />

0,3<br />

Ensino<br />

superior<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

12,0<br />

Não sabe


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A nível profissional, e, em primeiro lugar, quanto à situação na profissão, 47%<br />

das mães dos alunos PIEF estão empregadas. A percentagem seguinte, e mais<br />

representativa, são as mães domésticas com 38,2%. De referir, ainda, 10,3%<br />

de mães de alunos PIEF que estão desempregadas. Relativamente à<br />

profissão, 23,5% das mães são Trabalhadoras não Qualificadas e 16,7%<br />

pertencem ao Pessoal de Serviços e Vendedores, sendo as restantes<br />

categorias residuais.<br />

Quanto à situação perante a profissão dos pais, 76,2% estão empregados,<br />

10,9% desempregados e 6,4% reformados. No que se refere às profissões, a<br />

grande maioria dos pais dos alunos PIEF (41,6%) insere-se no grupo<br />

profissional Operários, Artífices e Trabalhadores Similares, seguidos de 20%<br />

de Trabalhadores não Qualificados. Com igual percentagem (10,7%),<br />

encontramos pais que pertencem ao grupo profissional de Pessoal de Serviços<br />

e Vendedores e os Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e<br />

Pescas.<br />

Em 69,7% dos casos, o encarregado de educação dos alunos inquiridos é a<br />

mãe, em 16% dos casos é o pai, 4,4% a avó/avô, 4% outro não familiar, 2,4% o<br />

tio ou a tia, 1,8% o irmão ou a irmã, 0,7% o padrasto, 0,6% outros familiares<br />

não categorizados e por fim em 0,4% dos casos o encarregado de educação<br />

dos alunos é a madrasta.<br />

Gráfico 16 – Encarregado de Educação dos alunos de PIEF inquiridos<br />

16,0%<br />

14,3%<br />

Mãe Pai Outros<br />

118<br />

69,7%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Será interessante constatar esta particular responsabilidade das mães pela<br />

educação dos filhos, sobretudo se aliada ao facto de em quase metade dos<br />

casos elas trabalharem fora de casa e terem níveis de instrução formal<br />

bastante baixos.<br />

De facto, tudo indica que os alunos PIEF transportam para a escola os<br />

problemas sociais e culturais existentes na família de origem, pelo que a acção<br />

da escola deveria ser reforçada no sentido da sua superação.<br />

Quanto às condições de habitabilidade, a maior parte dos alunos (47,5%) vive<br />

numa casa que é propriedade da família/pessoas com quem vive, 45,3% reside<br />

numa casa alugada (arrendada), 3,7% vive numa instituição de acolhimento,<br />

1,9% afirmou que não sabia e 1,5% vive num outro tipo de habitação.<br />

45%<br />

Gráfico 17 – Tipo de residência<br />

4%<br />

2% 2%<br />

Alugada(arrendada) Instituição de acolhimento<br />

119<br />

47%<br />

Propriedade da família / das pessoas com quem vives Outra situação<br />

Não sei<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Quanto ao número de divisões que tem a casa onde vivem, 38% respondeu<br />

que a sua casa tinha mais 4 divisões, 24,6% 3 divisões, 18% disse 5, 7,1% 6,<br />

4,3% mais de 7, 3,9% 7 divisões, 3% tem 2, 0,5% tem 1 e a mesma<br />

percentagem afirmou que não sabia.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 18 – Sem contar com a cozinha e casa-de-banho, quantas divisões tem a casa<br />

onde moram os inquiridos<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

1<br />

0,5<br />

2<br />

3,0<br />

24,6<br />

3<br />

4<br />

38,0<br />

18,0<br />

5<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Gráfico 19 – Tem um quarto só para si<br />

61%<br />

Sim Não<br />

120<br />

6<br />

7,1<br />

7<br />

3,9<br />

Mais de 7<br />

4,3<br />

Não sei<br />

0,5<br />

Gráfico 20 – Mora num bairro social?<br />

30%<br />

5%<br />

Sim Não Não sei<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A maior parte (61%) dos inquiridos tem um quarto só para si, os restantes<br />

(39%) partilham-no com outros indivíduos.<br />

Relativamente ao tipo de residência/bairro em que reside, 65,7% dos alunos<br />

inquiridos não mora num bairro social, 29,7% reside num bairro deste tipo e<br />

4,6% disse que não sabia.<br />

39%<br />

65%


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

No que se refere à existência de infraestruturas nas suas habitações, a grande<br />

maioria afirmou ter casa de banho (99%), água canalizada fria (98,5%), água<br />

canalizada quente (95,1%), electricidade (99,8%), máquina de lavar roupa<br />

(97,6%), frigorífico (99,2%), fogão (99,6%) e gás (98%).<br />

Quanto a outro tipo de equipamentos, que não se incluem na categoria de bens<br />

de primeira necessidade, verifica-se que o acesso não é tão generalizado.<br />

62%<br />

0,2% afirmou não ter nenhuma televisão.<br />

121<br />

De acordo com a informação do<br />

gráfico 19, e tendo em conta as<br />

respostas obtidas, 61,7% dos alunos<br />

tem aquecimento em casa, mas<br />

38,3% não tem.<br />

A televisão é o equipamento mais<br />

acessível a todos os inquiridos. De<br />

facto, 99,8% dos alunos tem uma ou<br />

mais televisões em casa, e apenas<br />

Aos que afirmaram que tinham televisão em casa, foi-lhes questionado quantas<br />

tinham, e apurou-se que 30,9% tem três televisões, 29% tem duas, 17,8% tem<br />

quatro, 12,7% tem uma, 6,8% tem cinco, 2,1% tem seis, 0,4% tem 7 e 0,3%<br />

tem oito.<br />

Gráfico 21 – Tem aquecimento?<br />

Sim Não<br />

comunicação privilegiado.<br />

38%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-<br />

38%<br />

UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Gráfico 22 – Tem telefone fixo?<br />

Sim Não<br />

62%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-<br />

UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Quanto à existência de telefone fixo<br />

nas suas casas, 62,3% dos<br />

inquiridos afirmou não dispor deste<br />

equipamento, contra 37,7% que<br />

respondeu afirmativamente.<br />

A taxa elevada de inquiridos sem<br />

telefone fixo contrasta com a<br />

grande percentagem que afirmou<br />

ter telemóvel (86,9%), que é, como<br />

se sabe, cada vez mais um meio de


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

No que diz respeito à posse de computador em casa, 50,4% dos alunos de<br />

PIEF inquiridos afirmou não ter computador em casa, os restantes 49,6%<br />

disseram que sim.<br />

50%<br />

Gráfico 23 – Tem computador?<br />

Sim Não<br />

122<br />

50%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Aos que responderam afirmativamente à existência de computador na sua<br />

residência foi lhes questionado quantos equipamentos é que tinham, 78% tem<br />

1 computador apenas, 15,8% tem 2, 3,2% tem 3, 1,1% tem 8, 0,8% tem 5 e<br />

0,4% tem 4, 6 ou 7 computadores.<br />

Gráfico 24 – Tem internet?<br />

18%<br />

Sim Não<br />

82%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-<br />

UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A este propósito, é interessante<br />

notar que a maioria (81,5%) das<br />

residências dos alunos não está<br />

equipada com Internet, as<br />

restantes (18,5%) têm este tipo de<br />

equipamento.<br />

Em 87,2% das residências há um<br />

ou mais sistemas áudio, em 12,8%<br />

não existe nenhum.<br />

Em relação a um qualquer outro<br />

tipo equipamento não especificado, 68,4% dos alunos disse que não tinha mais<br />

nada a referir na casa onde mora, 31,6% afirmou que sim, sem contudo<br />

especificar que tipo de equipamento se poderia tratar.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 25 – Tem telemóvel?<br />

87%<br />

Sim Não<br />

13%<br />

há 4 anos e 1,9% disse que não sabia.<br />

Como foi já referido, uma grande maioria<br />

dos inquiridos afirmou ter telemóvel. A<br />

estes foi ainda perguntado há quanto<br />

tempo tem ou usa este tipo de<br />

equipamento, e 35,3% disse que há mais<br />

de 4 anos, 17,8% há 3 anos, 12,9% há 2<br />

anos, 12,3% há menos de um ano, 9,3%<br />

Relativamente ao uso que dão ao telemóvel, 52,8% dos inquiridos não usa o<br />

telemóvel para outras funções para além de telefonemas e mensagens, os<br />

restantes 47,2% usam-nos para outras funções para além das referidas.<br />

Gráfico 26 – Há quanto tempo tem telemóvel?<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

12,3 10,5<br />

Há menos de 1 ano<br />

Há 1 ano<br />

12,9<br />

Há 2 anos<br />

Há 3 anos<br />

123<br />

17,8<br />

Há 4 anos<br />

9,3<br />

35,3<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Os resultados descritos revelam que, no essencial, as necessidades básicas<br />

relacionadas com alojamento e condições sanitárias estão satisfeitas. A maioria<br />

tem mesmo um quarto só para si e uma percentagem considerável tem acesso<br />

a bens de consumo não essenciais, como o telemóvel, várias televisões, e<br />

computadores. No entanto, o acesso à Internet é ainda um bem pouco<br />

acessível a uma pequena percentagem de alunos.<br />

Há mais de 4 anos<br />

Não sei<br />

1,9


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

1.4. A situação face à escola<br />

Uma questão que se coloca várias vezes é a de saber em que medida a<br />

distância que separa a residência do aluno da escola pode ser um factor<br />

condicionante do seu sucesso escolar, e eventual abandono. No caso dos<br />

alunos PIEF analisados, a maioria (cerca de 80%) faz trajectos curtos até à<br />

escola, de até meia hora, 41,1% refere levar entre 15 minutos e meia hora e<br />

39,2% menos de 15 minutos. A maioria (59,5%) utiliza os transportes públicos<br />

e 21,2% vai a pé.<br />

Gráfico 27 – Quanto tempo demora a chegar à escola<br />

15,9%<br />

41,1%<br />

3,7%<br />

124<br />

39,2%<br />

Menos de 15<br />

minutos<br />

Entre 15 minutos<br />

e meia hora<br />

Entre meia hora e<br />

uma hora<br />

Mais de uma hora<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Conclui-se ainda que a maioria dos inquiridos (58,9%) frequentou a educação<br />

pré-escolar; o que significa que nestes casos, a influência actual da escola<br />

deve ser entendida também como uma etapa de uma trajectória escolar que<br />

também é necessário analisar.<br />

1.4.1. Insucesso e abandono<br />

Tratando-se de alunos PIEF, era expectável que o insucesso escolar fosse<br />

elevado. Realmente, os valores observados, de quase 100%, são<br />

particularmente significativos.<br />

O insucesso escolar apresenta valores bastante elevados, com 97,1% dos<br />

inquiridos a referirem ter reprovado em anos anteriores. Para a maior parte dos


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

inquiridos (36,8%) tal aconteceu por três vezes, seguindo-se as categorias<br />

“duas vezes” (23,5%) e “quatro vezes” (20,5%).<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

8,7<br />

Gráfico 28 – Quantas vezes ficou retido<br />

23,5<br />

125<br />

36,8<br />

20,5<br />

10,4<br />

1 vez 2 vezes 3 vezes 4 vezes 5 ou mais<br />

vezes<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Na opinião dos alunos, a grande maioria das famílias reagiu mal: 68,6%<br />

falaram com o jovem ou ralharam-lhe e 24,6% castigaram-nos mesmo. As<br />

razões mais referidas para ter chumbado foram faltar muito às aulas e mau<br />

comportamento.<br />

Todavia, apesar da elevada taxa de insucesso escolar, 75% dos inquiridos<br />

afirma nunca ter deixado de se matricular, contra 25% que já o fez.<br />

Gráfico 29 – Alguma vez abandonou a escola<br />

75%<br />

Sim Não<br />

25%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Entre os que alunos que formalmente abandonaram a escola, a grande maioria<br />

(78,5%) fê-lo num ano lectivo. Durante o período de abandono, 50,4% dizem<br />

não ter feito nada, 36,9% que estiveram a trabalhar e 12,8% refere outra


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

actividade. Interessaria questionar se as actividades dos 36,9% se prendem ou<br />

não com trabalho infantil.<br />

Gráfico 30 – O que esteve a fazer quando abandonou a escola<br />

50%<br />

13%<br />

126<br />

37%<br />

Estive a trabalhar Nada Outra<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Os principais motivos de abandono alegados foram sobretudo não gostarem<br />

das aulas e acharem que a escola não servia para nada.<br />

É de notar ainda que a maioria (59,7%) dos menores que não abandonaram a<br />

escola reconhecem que, mesmo nunca tendo deixado de se matricular, não<br />

compareceram nas aulas durante um grande período de tempo.<br />

Gráfico 31 – Mesmo tendo-se matriculado sempre, alguma vez deixou de ir à escola<br />

40,3%<br />

Sim Não<br />

59,7%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Relativamente aos que, embora se tenham sempre matriculado, não<br />

compareceram na escola durante um longo período de tempo, 65,2% refere<br />

que tal aconteceu numa ocasião e 16,1% em duas.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 32 – Quantas vezes deixou de ir à escola por um longo período (%)<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

65,4<br />

16,2<br />

127<br />

9,0<br />

1 vez 2 vezes 3 vezes 4 vezes 5 ou mais<br />

vezes<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A grande maioria (68,9%) dos menores que não compareciam regularmente à<br />

escola diz não ter feito nada em alternativa, com apenas 16,6% a afirmar terem<br />

estado a trabalhar. A principal razão apontada para as faltas prolongadas foi<br />

não gostar das aulas.<br />

Gráfico 33 – O que esteve a fazer quando deixou de ir à escola<br />

14,5%<br />

68,9%<br />

16,6%<br />

2,2<br />

Estive a trabalhar Nada Outra<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A mudança para o programa PIEF alterou algumas destes comportamentos.<br />

Agora, quase dois terços dos alunos refere que muito raramente ou nunca falta<br />

às aulas (50,7% e 19,1%, respectivamente) 44 , porque querem acabar o 9º ano<br />

e gostam das aulas.<br />

44 Há, ainda assim, 15,3% que falta às aulas pelo menos uma vez por semana e 2,8% quase<br />

todos os dias, por razões como quererem fazer outras coisas, sentirem-se cansados e<br />

quererem estar com os amigos.<br />

7,2


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 34 – Frequência com que falta às aulas desde que está em PIEF (%)<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

19,1<br />

nunca<br />

falto<br />

50,7<br />

muito<br />

raro<br />

128<br />

12,0<br />

1/2<br />

vezes /<br />

mês<br />

15,3<br />

pelo<br />

menos 1<br />

vez /<br />

semana<br />

2,8<br />

quase<br />

todos<br />

os dias<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A grande maioria dos jovens (84,5%) diz ter disciplinas preferidas: destacam-se<br />

a educação física, seguida da matemática e do português. Entre os aspectos<br />

de que os alunos mais gostam na escola estão os amigos/colegas, alguns<br />

professores, brincar/conviver e os intervalos. Por outro lado, afirmam gostar<br />

menos sobretudo de algumas disciplinas, das aulas e de alguns professores.<br />

A quase totalidade (97,7%) dos jovens acha que o que aprende na escola é<br />

importante para a vida, por uma multiplicidade de razões, entre as quais se<br />

destacam o facto de acharem que escola os pode ajudar a ter um emprego e<br />

um bom futuro e por mais tarde irem precisar do que aprenderam.<br />

A avaliação que fazem do programa PIEF é também bastante positiva. Com<br />

efeito, mais de 90% dos alunos pensam que o que aprendem é importante para<br />

a vida futura e que aprendem coisas mais práticas (96,9% e 93,1%,<br />

respectivamente). Ainda, cerca de 80% a 85% dos alunos afirmam gostar mais<br />

de ir às aulas, aprender mais, ter melhores notas e estar mais interessado;<br />

além disso, 64,4% diz ter agora mais vontade de estudar e cerca de 51%<br />

admite ajudar mais a família e falar mais sobre a escola em casa.


100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

84,5<br />

80,3<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

37,4<br />

50,9<br />

11,4 12,5 11,7<br />

7,2<br />

4,1<br />

Gosta mais ir<br />

às aulas<br />

Aprende mais<br />

nas aulas<br />

Mais<br />

obrigações<br />

escolares<br />

93,1<br />

2,8 4,1<br />

Aprende<br />

coisas mais<br />

práticas<br />

Gráfico 35 – Avaliação de PIEF (%)<br />

78,2<br />

11,7 10,0<br />

Ttem menos<br />

trabalho<br />

85,0<br />

3,4<br />

Tem melhores<br />

notas<br />

11,6<br />

4,5<br />

129<br />

87,9<br />

Falta mais<br />

7,7<br />

56,9<br />

31,7<br />

Mais tempo<br />

livre<br />

11,3<br />

Sim Não Não influencia<br />

64,4<br />

11,7<br />

Mais vontade<br />

estudar<br />

24,0<br />

81,0<br />

12,2<br />

6,8 6,0<br />

Mais<br />

interessado<br />

escola<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

51,0 51,1<br />

Entre a percentagem dos jovens que está ao corrente de que a escola tem<br />

actividades de tempos livres, um pouco mais do que a metade (56,9%) diz que<br />

costuma participar nelas.<br />

Quanto ao acompanhamento que os encarregados de educação fazem das<br />

actividades escolares dos filhos, a grande maioria dos alunos (82,9%) afirma<br />

que eles costumam ir às reuniões na escola, sendo 17,1% os que referem o<br />

contrário.<br />

Em relação aos que são chamados à escola, em 57,7% isso aconteceu por<br />

motivos rotineiros.<br />

Um outro indicador importante é o facto dos encarregados de educação serem<br />

chamados à escola e comparecerem. No nosso caso, 95% dos alunos dizem<br />

que os pais comparecem.<br />

Ajuda mais<br />

família<br />

43,0<br />

13,3<br />

Fala mais<br />

família<br />

35,6<br />

44,1<br />

10,9<br />

Tem menos<br />

brigas<br />

45,0


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

1.5. Expectativas de vida<br />

As expectativas dos alunos PIEF inquiridos em relação à importância do<br />

sistema de ensino para o seu futuro não excedem muito o 9º ano de<br />

escolaridade. De facto, 39,7% considera suficiente estudar até ao 9º ano para<br />

exercer a profissão desejada, 21,6% acha que será necessário atingir o 12º<br />

ano e apenas 10% considera que necessita de chegar até à universidade.<br />

É interessante notar que 41,8% destes alunos diz que aceitaria um trabalho<br />

remunerado, caso lhes fosse proposto, enquanto que 39,7% respondeu<br />

negativamente e 18,5% referiu não saber se aceitaria ou não.<br />

Quando analisamos mais de perto as condições em que aceitariam tal trabalho,<br />

verifica-se o seguinte:<br />

• 78,9% considera que o facto de não interferir com a escola e o sucesso<br />

escolar influenciaria a decisão;<br />

• 55,8% considera que o facto de ser bem pago influenciaria a decisão;<br />

• cerca de um terço (63,2%) considera que o facto de não ter de trabalhar<br />

todos os dias influenciaria a decisão;<br />

• 68,1% considera que o facto de não ter de trabalhar aos fins-de-semana<br />

influenciaria a decisão;<br />

• 53,5% considera que o facto de trabalhar apenas ao fim-de-semana<br />

influenciaria a decisão;<br />

• 72% considera que o facto de trabalhar apenas depois das aulas<br />

influenciaria a decisão;<br />

• 73,7% considera que o facto de ter tempo para estar com os amigos<br />

influenciaria a decisão;<br />

• 82,3% considera que o facto de ter tempo livre influenciaria a decisão<br />

130


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Ao nível do discurso dos alunos inquiridos, a escola assume uma grande<br />

importância para o seu futuro. De facto, a grande maioria (84,7%) considera<br />

que precisa de continuar a estudar para concretizar os seus principais sonhos.<br />

Contudo, por um lado, o facto de quase metade dos alunos PIEF inquiridos<br />

(41,8%) referir que aceitaria um trabalho remunerado, e por outro lado, a<br />

importância que atribuem ao montante da remuneração e aos espaços e<br />

tempos relativos à diversão e convivência com os amigos, são um indicador da<br />

existência de factores exteriores ao sistema de ensino, relacionados com o<br />

sistemas económico e social do contexto local, e que poderão condicionar as<br />

dinâmicas do trabalho infantil.<br />

Este resultado obtido numa escala mais micro torna-se ainda significativo, pois<br />

vem de encontro a algumas das conclusões obtidas com a análise<br />

anteriormente efectuada na escala macro, a partir das estatísticas oficiais.<br />

1.6. Análise de comportamentos desviantes<br />

Ainda que os resultados sobre a inquirição de “auto-revelação” de<br />

comportamentos desviantes devam ser interpretados com os cuidados<br />

metodológicos inerentes a este tipo de pesquisas 45 , as respostas revelam que<br />

quase metade dos alunos de PIEF inquiridos (47,2%) afirmam já ter tido um<br />

processo disciplinar.<br />

Quanto aos alunos que disseram ter tido processos disciplinares, 28% deles<br />

tiveram-no uma vez. No entanto, 27,1% destes alunos PIEF já teve processos<br />

disciplinares mais de 5 vezes. Encontramos ainda 16,4% que já teve um<br />

processo disciplinar 2 vezes e 9,7% com 3 processos disciplinares.<br />

A maioria dos alunos PIEF (83,3%) diz nunca ter sido expulso da escola, contra<br />

16,7% que confessou o contrário.<br />

45 Cf. Gersão, Eliana, e Lisboa, Manuel, “The Self-Report Delinquency Study In Portugal”, in<br />

Delinquent Behavior among Young People in The western World- First Results Of The<br />

International Self-Report Delinquency Study, Kugler Publications, Amsterdam/New York, 1994.<br />

131


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Dos alunos PIEF que já foram expulsos da escola, cerca de dois terços (64,5%)<br />

foi-o uma vez; 19,7% foram-no por duas vezes. De realçar, ainda, que 8,7%<br />

dos alunos PIEF já foram expulsos 3 vezes.<br />

A maioria dos alunos (66,2%) diz nunca ter tido problemas com a polícia. Mas<br />

uma percentagem ainda considerável (33,8%), confessou o contrário.<br />

Dos alunos que já tiveram problemas com a polícia, 46,1% tiveram-nos por<br />

uma vez, 17% por duas vezes e 14% por mais de 5 vezes.<br />

132


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2. Trabalho infantil no passado<br />

A análise que se segue diz respeito aos alunos de PIEF inquiridos, cujos<br />

indicadores recolhidos remetem para a existência de trabalho infantil num<br />

tempo anterior à última semana 46 .<br />

2.1. Das actividades em geral ao trabalho infantil no passado<br />

A percentagem de alunos de PIEF que afirmou ter realizado algum tipo de<br />

actividade antes da semana de referência é de 50,1% (que corresponde a 550<br />

alunos). Destes 550, 76% são do sexo masculino e 24% do sexo feminino.<br />

A distribuição tipológica das tarefas permitiu detectar quatro formas<br />

predominantes de actividades: trabalho numa empresa/negócio (26,4%), no<br />

campo (18,4%), ajuda num negócio familiar (16%) e nas “obras” (15,8%).<br />

De forma a ter uma noção mais aproximada da proporção de casos que<br />

poderão corresponder a situações de trabalho infantil no passado, foi criado um<br />

índice que agrega informação relativa ao grupo etário do inquirido, à<br />

quantidade de dias por semana que este afirmou ter trabalhado e ao número<br />

de horas de actividade por dia. Assim, e de acordo com o estabelecido pela<br />

OIT, podemos dizer que 52,5% dos casos que afirmam ter tido uma actividade<br />

no passado (550) poderão corresponder a situações de trabalho infantil. Esta<br />

percentagem refere-se a 289 alunos, cujo peso relativo à totalidade de<br />

indivíduos inquiridos que constituem a nossa base de dados corresponde a<br />

26,3%.<br />

Passaremos de seguida a analisar algumas das características das crianças e<br />

jovens nesta situação.<br />

Ao olharmos simultaneamente para o peso relativo das actividades realizadas<br />

no passado em termos totais e em termos de possível trabalho infantil, vemos<br />

46 A caracterização das situações de trabalho infantil no passado deve ser efectuada com a<br />

reserva decorrente do facto da informação recolhida dizer respeito a respostas de alunos que<br />

obrigam a um exercício de memória.<br />

133


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

algumas diferenças interessantes. Apesar das três actividades com maior<br />

percentagem de respostas serem as mesmas nas duas situações, o trabalho<br />

no campo e a ajuda num negócio familiar ganham preponderância na situação<br />

de trabalho infantil; o mesmo se passa com o trabalho numa fábrica. As<br />

situações em que se nota uma diminuição quando comparamos o trabalho<br />

infantil com a prática genérica de uma actividade são as tarefas em casa,<br />

trabalho a dias, o trabalho nas obras e o trabalho numa empresa ou negócio<br />

não familiar.<br />

Gráfico 36 – Tipo de actividades e trabalho infantil realizado no passado pelos alunos de<br />

PIEF inquiridos<br />

outra<br />

desporto competição<br />

castings/tv<br />

na rua<br />

obras<br />

campo<br />

a dias em casa de outra pessoa<br />

empresa/negócio<br />

fábrica<br />

tarefas domésticas<br />

negócio/empresa familiar<br />

1,0<br />

0,9<br />

0,2<br />

0,7<br />

0,5<br />

0,7<br />

1,5<br />

1,4<br />

1,5<br />

7,6<br />

6,4<br />

134<br />

12,5<br />

12,5<br />

14,9<br />

15,8<br />

18,4<br />

18,0<br />

16,0<br />

21,1<br />

22,1<br />

26,4<br />

0 5 10 15 20 25 30<br />

actividade no passado trabalho infantil no passado<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

2.2. Trabalho infantil no passado por região e situação actual nos PIEF<br />

A distribuição regional dos alunos passíveis de serem considerados como<br />

tendo estado em situação de trabalho infantil é a seguinte: 45% dos alunos<br />

%


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

pertencem a escolas da região Norte; a região de Lisboa e Vale do Tejo acolhe<br />

a segunda maior percentagem (26,6%), seguida da zona Centro com 16,6%;<br />

por outro lado, as regiões do Alentejo e Algarve reúnem 11,8% de alunos nesta<br />

situação.<br />

Destes alunos em provável situação de trabalho infantil no passado, 48,9%<br />

frequentam turmas de PIEF tipo 1 e 51,1% turmas de PIEF tipo 2.<br />

Quanto à inserção em programas de formação em empresas (do tipo PIEF<br />

empresa ou programas afins) verificamos que, actualmente, cerca de um terço<br />

frequenta este tipo de formação. De facto, 31,5% afirmou desenvolver algum<br />

tipo de trabalho como parte da sua formação em PIEF (o que corresponde a 91<br />

alunos de PIEF inquiridos onde se detectaram situações prováveis de trabalho<br />

infantil anterior à última semana). Por contraste, 65,4% afirmou não estar<br />

inserido em qualquer tipo de formação em empresas (ou programas afins) 47 .<br />

2.3. Idade e sexo dos inquiridos que estiveram em situação de trabalho<br />

infantil no passado<br />

Dos 289 alunos passíveis de estarem em situação de trabalho infantil no<br />

passado, 75,8% são rapazes e 24,2% raparigas (respectivamente 219 e 70).<br />

Utilizando a variável idade agregada segundo os escalões etários com que<br />

temos estado a trabalhar, vemos que 51,2% dos 289 alunos tinham, à data de<br />

administração do questionário, idades compreendidas entre os 16 e 17 anos.<br />

Quanto à idade com que começaram a trabalhar, verifica-se que 44,6% afirmou<br />

tê-lo feito com idades entre os 12 e os 14 anos, 24,9% com menos de 11 anos<br />

e 30,4% com 15 anos.<br />

47 Apenas 3,1% afirmou não saber responder a esta questão.<br />

135


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 37 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos em situação de trabalho infantil<br />

no passado pelo escalão etário à data em que começou a trabalhar, segundo a idade que<br />

tinha na altura de aplicação dos questionários (agregada em escalões)<br />

% 70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

49,0<br />

24,1<br />

16,9<br />

33,3<br />

49,0<br />

58,6<br />

34,5<br />

136<br />

66,7<br />

2,0<br />

17,2<br />

=18<br />

48,6<br />

0,0<br />

Idade no início<br />

da actividade<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A leitura do gráfico anterior, relativo à idade em que começaram a trabalhar em<br />

função dos escalões etários actuais, permite-nos retirar algumas conclusões<br />

interessantes. Os inquiridos que actualmente têm 15 anos afirmaram na sua<br />

maioria (58,6%) ter iniciado o exercício da actividade com uma idade incluída<br />

no escalão dos 12 aos 14 anos, muito embora uma percentagem não<br />

negligenciável (24,1%) afirme tê-lo feito com idades inferiores aos 11 anos, e<br />

17,2% tenha começado a trabalhar com a idade que tem actualmente.<br />

Em quase metade dos casos (48,6%), os alunos com 16 e 17 anos afirmam ter<br />

iniciado a sua actividade com 15 anos, seguidos dos que afirmam ter<br />

começado com idades entre os 12 e os 14 anos (34,5%). Ainda neste grupo,<br />

continuamos a observar uma percentagem expressiva (16,9%) que diz ter<br />

começado a actividade com idade igual ou inferior a 11 anos.<br />

Por fim, 66,7% dos inquiridos que tinham 18 ou mais anos na altura da<br />

realização dos questionários afirmou ter iniciado a actividade com 12 a 14 anos<br />

e 33,3% disse ter sido com 11 ou menos anos.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2.4. Trabalho infantil no passado e actividades realizadas na última semana<br />

Com o objectivo de analisar as dinâmicas sociais inerentes ao trabalho infantil,<br />

analisaram-se as actividades actuais dos alunos que anteriormente tinham<br />

efectuado trabalho infantil.<br />

É certo que tais actividades não são necessariamente trabalho infantil, nem<br />

podem ser um indicador das trajectórias que têm seguido ao longo do tempo.<br />

Assim, observou-se que 24,9% dos inquiridos que estão em situação de<br />

trabalho infantil no passado, realizaram uma actividade económica na semana<br />

de referência (o que corresponde a 72 inquiridos). Destes 72, 44 trabalharam<br />

por conta de outrem na última semana e 28 fizeram um trabalho familiar não<br />

remunerado (que corresponde, respectivamente, a 15,2% e 9,7% dos<br />

inquiridos em situação de trabalho infantil no passado).<br />

Quanto ao tipo de trabalho familiar não remunerado realizado na semana de<br />

referência por estes inquiridos, 26 realizaram trabalho agrícola, apenas 2<br />

trabalharam numa empresa ou negócio familiar e um inquirido trabalhou em<br />

ambos os sectores.<br />

No que respeita ao tipo de actividade económica por conta de outrem realizada<br />

pelos 72 inquiridos na semana de referência 48 , 38 trabalharam na agricultura, 8<br />

no sector dos serviços (que incluir o sector da restauração), 5 na construção, 4<br />

afirmaram fazer desporto de competição, apenas 1 trabalhou em feiras ou<br />

mercados, e em 10 casos não temos especificação da actividade realizada. A<br />

caracterização das actividades económicas e das tarefas domésticas<br />

realizadas pelos inquiridos na semana de referência, bem como as situações<br />

de trabalho infantil, serão apresentadas nos pontos 3 e 4 deste capítulo. Nessa<br />

altura, será feita uma articulação entre as situações de trabalho infantil no<br />

passado e na semana anterior à aplicação dos questionários.<br />

48 Não esqueçamos que estas actividades e trabalhos foram realizados na última semana por<br />

inquiridos em situação de trabalho infantil no passado. Estas actividades realizadas na última<br />

semana não são as mesmas do passado, nem trabalhos que colocaram os inquiridos em<br />

situação de trabalho infantil na semana de referência.<br />

137


quando<br />

começav<br />

a a<br />

trabalhar<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2.5. Alguns elementos de caracterização das situações que indiciam trabalho<br />

infantil no passado: intensidade, frequência, interferência com a escola,<br />

remuneração e vínculo contratual<br />

Relativamente aos dias em que os inquiridos afirmaram ter estado a trabalhar<br />

(referimo-nos às situações contabilizadas como trabalho infantil no passado),<br />

25,3% dos alunos na situação referida trabalharam todos os dias da semana e<br />

41,5% trabalhou todos os dias menos ao fim-de-semana.<br />

Quanto às horas dispendidas no trabalho realizado, 75,8% destes inquiridos<br />

declarou ter trabalhado mais de 6 horas por dia.<br />

O cruzamento da altura do dia em que começavam a trabalhar com a altura do<br />

dia em que afirmaram geralmente terminar mostra uma clara preponderância<br />

de trabalho diurno que termina ao fim do dia.<br />

Tabela 2 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos em situação de trabalho infantil no<br />

passado, pela altura do dia em que começava a trabalhar segundo a altura em que<br />

terminava<br />

de manhã<br />

ao fim da tarde<br />

depois do jantar / novela<br />

varia, não tem hora fixa<br />

para começar<br />

ns/nr<br />

Total<br />

quando acabava de trabalhar<br />

depois do<br />

varia, não<br />

tem hora fixa<br />

para<br />

de manhã ao fim da tarde jantar / novela começar ns/nr Total<br />

N 15 188 17 12 1 233<br />

% 6,4% 80,7% 7,3% 5,2% ,4% 100,0%<br />

N 2 19 11 1 0 33<br />

% 6,1% 57,6% 33,3% 3,0% ,0% 100,0%<br />

N 3 0 2 1 0 6<br />

% 50,0% ,0% 33,3% 16,7% ,0% 100,0%<br />

N 1 2 1 11 0 15<br />

% 6,7% 13,3% 6,7% 73,3% ,0% 100,0%<br />

N 0 1 0 0 1 2<br />

% ,0% 50,0% ,0% ,0% 50,0% 100,0%<br />

N 21 210 31 25 2 289<br />

% 7,3% 72,7% 10,7% 8,7% ,7% 100,0%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

138


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

O cruzamento representado na tabela acima permite-nos constatar que a<br />

maioria dos inquiridos que esteve em situação de trabalho infantil no passado<br />

(dentro dos limites que se impõem a esta análise, que já foram estabelecidos<br />

anteriormente) se recorda ter iniciado o trabalho de manhã. De entre estes 233<br />

inquiridos, a maioria afirmou terminar habitualmente o trabalho ao final da<br />

tarde.<br />

Estes valores indicam que a maioria dos inquiridos que estão aqui em análise<br />

trabalhou antes das 8 da noite. De facto, 234 inquiridos de entre o total de 289<br />

afirmou ter trabalhado antes das 8 horas da noite (que representa 81%).<br />

Relativamente à interferência com a frequência escolar, 62,6% destes alunos<br />

afirmau não ter tido de faltar às aulas para fazer o trabalho, 5,5% respondeu<br />

que teve de faltar, e uns expressivos 31,8% afirmou não estar a frequentar a<br />

escola na altura em que esteve a trabalhar.<br />

Praticamente metade dos inquiridos (49,1%) afirmou ter trabalhado durante um<br />

determinado período do ano. Os restantes repartem-se pelos que afirmaram ter<br />

trabalhado: apenas “daquela vez” (14,1%); de vez em quando (15,8%); e todas<br />

as semanas (16,2%). As categorias ‘só quando conseguia arranjar trabalho’ e<br />

‘outra’ apresentam valores residuais.<br />

No que respeita à execução das tarefas e à sua morosidade, 61,2% dos<br />

inquiridos considerou-as fáceis, 19% nem fáceis nem difíceis e 18,7% difíceis.<br />

Daqueles que as consideraram difíceis (que corresponde a 55 inquiridos), 36<br />

justificaram a penosidade das tarefas pelo cansaço que causavam, 10<br />

referiram a perigosidade, e 5 responderam que não gostaram de as fazer (4<br />

disseram que as razões eram outras que não as especificadas).<br />

Em relação à satisfação retirada do trabalho realizado, 75,8% afirmou ter<br />

gostado de o fazer, 10,4% respondeu negativamente e 13,8% gostou ‘mais ou<br />

menos’.<br />

139


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

No que respeita ao tempo dispendido a trabalhar relativamente ao tempo<br />

escolar, 48,8% disse ter trabalhado nas férias 49 . A restante distribuição reparte-<br />

se em categorias com as seguintes percentagens: 1,4% antes e depois das<br />

aulas; 8,3% antes ou depois das aulas; 3,8% durante o tempo de escola; e<br />

6,9% durante o fim-de-semana. É também expressivo o número de inquiridos<br />

que afirmou que a questão não se aplicava, já que, na altura, não<br />

frequentavam a escola (29,4%, que corresponde a 85 inquiridos). Este valor é<br />

especialmente relevante se tivermos em conta que, na altura a que estão a<br />

fazer referência, os inquiridos não teriam mais de 15 anos. De facto, 3 destes<br />

85 inquiridos tinham 11 ou menos anos, 46 tinham entre 12 e 14 anos, e 36<br />

tinham 15 anos.<br />

Gráfico 38 – Distribuição do tempo dispendido a trabalhar relativamente ao tempo<br />

escolar, por escalão etário relativo à altura em que esteve a trabalhar<br />

% 60,0<br />

50,0<br />

40,0<br />

30,0<br />

20,0<br />

10,0<br />

0,0<br />

5,6<br />

18,1<br />

1,4<br />

23,6<br />

44,4<br />

4,2<br />

2,8<br />

0,0<br />

3,9<br />

5,4<br />

2,3<br />


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Outro factor a ter em conta na caracterização do trabalho infantil detectado nos<br />

alunos de PIEF inquiridos remete para as recompensas recebidas pelo trabalho<br />

realizado.<br />

A grande maioria dos alunos (85,5%) afirmou ter recebido algum tipo de<br />

recompensa pelos trabalhos realizados, e 14,5% diz não ter sido<br />

recompensado. Quanto à forma como foi paga essa recompensa, a maioria dos<br />

entrevistados (87% dos 247 inquiridos que afirmaram ter recebido alguma<br />

recompensa) recebeu-a em dinheiro. Os restantes 32 inquiridos que foram<br />

pagos distribuem-se igualmente entre os que receberam em géneros e os que<br />

receberam em dinheiro e géneros.<br />

Dos inquiridos que receberam em géneros, a maioria (23 dos 32) foi pago pela<br />

família ou pessoas com quem vive, e apenas 9 foram pagos pelo empregador<br />

(dos quais 2 disseram ter recebido os géneros do empregador e da família ou<br />

pessoas com quem vivem).<br />

Igualmente se verifica que 78,6% dos inquiridos afirma ter ficado com a<br />

totalidade da remuneração, enquanto que 7,1% assegura que entregou tudo à<br />

família/pessoas com quem vive. Cerca de 14% refere que reparte com a<br />

família/pessoas com quem vive.<br />

Ainda relativamente àqueles que receberam em géneros, 26 ficaram com a<br />

totalidade dos géneros recebidos e 6 deram tudo ou parte à família / pessoas<br />

com quem vivem.<br />

Dos 231 inquiridos que receberam dinheiro como compensação<br />

(independentemente de terem recebido também géneros), 73,6% foram pagos<br />

pelo empregador e 20,8% foram pagos pela família / pessoas com quem vivem.<br />

Apenas 2 receberam o dinheiro de clientes e 7 não especificaram.<br />

A maioria daqueles que receberam dinheiro pelo trabalho realizado comprou<br />

roupa, ténis ou sapatos (49,2%), 19,1% comprou computador, consola de jogos<br />

ou telemóvel, 6,3% comprou uma bicicleta ou uma mota, e 25,4% não<br />

especificou em que é que gastou o dinheiro.<br />

141


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Quanto ao modo de pagamento, 65,4% dos 231 inquiridos que receberam<br />

dinheiro foram pagos à hora, à semana ou ao mês. Os restantes receberam no<br />

fim do trabalho ou à tarefa.<br />

Em 70,6% dos casos (204 situações) o dinheiro foi recebido pelos próprios<br />

inquiridos. Nas restantes situações, recebeu a família ou as pessoas com quem<br />

vivem.<br />

Dos 204 inquiridos que receberam o dinheiro pelo trabalho realizado, apenas<br />

10,4% (21) deram a totalidade à família, e 47% não deram nada (95). Dos<br />

restantes 88, 17,5% (35) deu a maior parte, 25,2% (51) apenas uma pequena<br />

parcela, e 2 não responderam.<br />

Dos 27 inquiridos que afirmam ter sido a família a receber o dinheiro, 14<br />

disseram que a família lhes deu uma pequena parte, 8 que lhes deu a<br />

totalidade e 4 que não lhes deu nada. Apenas 1 afirmou ter recebido da família<br />

a maior parte do pagamento pelo seu trabalho.<br />

Olhando agora para a questão da formalização contratual do trabalho<br />

desempenhado pelos alunos de PIEF inquiridos, a esmagadora maioria<br />

trabalhou sem qualquer tipo de vínculo contratual (97,9%).<br />

2.6. Trabalho infantil no passado e núcleo familiar e redes de sociabilidade<br />

Uma grande maioria dos inquiridos que esteve em situação de trabalho infantil<br />

no passado vive com a mãe e/ou com o pai (86,9%) e 39,4% vive numa família<br />

nuclear com irmãos. Refira-se ainda que 10 destes inquiridos estão<br />

actualmente institucionalizados. Quanto aos inquiridos que não vivem com<br />

nenhum dos pais, a percentagem que representam é residual (30 inquiridos,<br />

que corresponde a 10,4%)<br />

Olhando agora para esta variável agregada por tipo de família a que pertence o<br />

inquirido, 59,9% afirmou viver numa família de tipo nuclear (mãe/madrasta e<br />

142


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

pai/padrasto, com ou sem irmãos), 14,2% vive apenas com um dos pais, 22,5%<br />

pertence a uma família alargada, e os restantes estão institucionalizados.<br />

17,2% dos inquiridos referiu que pelo menos um membro do agregado familiar<br />

costuma estar ausente (não dormir em casa), dos quais 22 disseram ser o pai e<br />

4 referiram a mãe.<br />

Relativamente ao encarregado de educação, 70,9% disse ser a mãe a<br />

desempenhar essa função e 13,1% o pai. As restantes percentagens, todas<br />

residuais, referem um dos avós (4,8%), um irmão ou irmã (2,1%), a madrasta<br />

ou padrasto (1,4%), um tio ou tia (3,1%), e um outro familiar ou não familiar<br />

(4,5%).<br />

O espaço onde os inquiridos passam a maioria dos seus tempos livres distribui-<br />

se de forma muito semelhante entre os que ficam em casa e os que saem<br />

(54,3% e 45,7%, respectivamente).<br />

No que se refere às pessoas com quem se dão melhor, as categorias que<br />

apresentam as percentagens mais elevadas são a mãe (23,4%), os amigos<br />

(16,3%), os irmãos/irmãs (15,8%) e o pai (15,7%).<br />

A maioria afirmou ter por hábito passar tempo com os pais (84,1%). Mas, no<br />

que toca à ajuda dos pais nos estudos destes inquiridos (medida<br />

exclusivamente pela ajuda nos trabalhos de casa ou a tirar dúvidas sobre as<br />

matérias ensinadas na escola), ela é maioritariamente ausente (64% dos<br />

inquiridos afirmou que os pais não os ajudam nestas tarefas escolares).<br />

2.7. Trabalho infantil no passado e condições de habitabilidade<br />

O tipo de habitação dos alunos com trabalho infantil no passado reparte-se<br />

entre alugada (41,9%) e propriedade da família (51,9%).<br />

Por outro lado, relativamente ao bairro onde moram, 74,7% diz não ser um<br />

bairro social.<br />

Quanto às infraestruturas da casa onde moram, os que não têm equipamentos<br />

que podemos considerar básicos (casa de banho, água canalizada fria e<br />

143


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

quente, electricidade, gás, máquina de lavar a roupa, frigorífico, fogão e, para<br />

todos os efeitos, televisão) apresentam valores muito residuais. O aquecimento<br />

não está incluído no conjunto dos indicadores referidos acima por se verificar<br />

que uma percentagem expressiva de inquiridos diz não o ter em sua casa<br />

(43,6%).<br />

Telefone fixo e acesso à Internet são os bens que os inquiridos menos<br />

possuem (56,7% e 78,9%, respectivamente, diz que não tem estes<br />

equipamentos).<br />

É de referir que, apesar de 44,6% afirmar não ter computador em casa, a<br />

percentagem daqueles que têm é superior à dos que afirmaram ter telefone<br />

fixo.<br />

A percentagem elevada de inquiridos que não tem telefone fixo contrasta com a<br />

percentagem dos que nos disseram ter telemóvel – 87,2%. Esta poderá ser<br />

esta uma das principais razões para que não tenham telefone em casa.<br />

Verificou-se também que 64,4% destes alunos de PIEF tem um quarto só para<br />

si.<br />

2.8. Trabalho infantil no passado e vida escolar antes e depois do PIEF<br />

Se tivermos em conta que estamos perante alunos de PIEF, não ficaremos<br />

admirados com as taxas de insucesso escolar anterior à sua inserção neste<br />

programa integrado de educação e formação. De facto, 99,3% afirmou ter já<br />

sido alvo de pelo menos uma retenção escolar.<br />

Olhando para o número retenções escolares, 70,9% diz já ter ficado retido pelo<br />

menos 3 vezes (dos quais 8,8% só repetiu um ano escolar) e 9,5% (27<br />

inquiridos) afirmou já ter ficado retido 5 ou mais vezes.<br />

144


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Muito embora a percentagem de abandonos escolares 50 seja expressiva<br />

(31,1%, que corresponde a 90 alunos), a percentagem de desistências é maior<br />

(43,3%).<br />

A maioria dos abandonos escolares ocorreram apenas uma vez, e 53,3%<br />

destes inquiridos ocuparam o tempo daí resultante a trabalhar (48 dos 90<br />

inquiridos que abandonaram a escola). 33,6% dos alunos que desistiram (que<br />

podemos chamar de abandonos não oficializados) ocuparam o tempo daí<br />

resultante a trabalhar.<br />

Os dados analisados revelam existir uma relação entre o insucesso e<br />

abandono escolares e o trabalho infantil no passado. De facto, o cruzamento<br />

entre estas variáveis e a realização ou não de trabalho infantil no passado<br />

mostra não só que elas são dependentes, como que há uma maior<br />

probabilidade de se verificarem situações de abandono e insucesso escolar em<br />

alunos que já estiveram em situação de trabalho infantil 51 . No entanto, o<br />

mesmo não se verifica no cruzamento das situações de trabalho infantil com as<br />

desistências escolares (ou abandonos não oficializados)<br />

Relativamente à autoavaliação do desempenho escolar, 45,5% dos inquiridos<br />

considerou satisfatório; 34,6% bom; 14,4% muito bom ou excelente e 5,4%<br />

insuficiente ou mau.<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Gráfico 39 – Como avalia o seu desempenho escolar (%)<br />

4,2<br />

10,2<br />

34,6<br />

145<br />

45,5<br />

Excelente Muito bom Bom Satisfatório Insuficiente Mau<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

50 Recorde-se que a definição de abandono escolar implica a desistência da escola sem que<br />

haja uma inscrição no ano seguinte, e sem que o aluno ingresse em qualquer tipo de programa<br />

de educação ou formação alternativo ao ensino regular.<br />

51 Resíduos ajustados estandardizados de 2,6 relativamente ao insucesso e 2,8 relativamente<br />

aos abandonos escolares.<br />

3,6<br />

1,8


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Quanto ao apoio escolar, 199 dos 289 inquiridos em análise neste ponto<br />

beneficiam de Serviços de Apoio Social Escolar.<br />

Nas questões relativas à frequência dos PIEF, começou por se perguntar se<br />

estes alunos recebiam alguma bolsa de formação. A maioria (69,9%)<br />

respondeu negativamente e 29,8% afirmou receber alguma ajuda no âmbito<br />

deste programa (que corresponde a 86 alunos). Nestes casos, a maioria das<br />

bolsas são de carácter monetário (nunca superior a 75 Euros mensais), muito<br />

embora 36 inquiridos tenham recebido algum tipo de apoio em géneros<br />

(alimentação, material escolar ou vestuário).<br />

A avaliação expressa por estes alunos, que conheceram experiências de<br />

trabalho infantil no passado, é bastante positiva para o programa PIEF onde<br />

estão inseridos, quer no que se refere à vida escolar, quer em relação à vida<br />

com a família e amigos.<br />

De facto, a maioria afirmou considerar o que aprende em PIEF importante para<br />

a sua vida futura (97,2%).<br />

Igualmente, os indicadores relativos à satisfação e envolvimento na vida<br />

escolar após inserção nos programas PIEF revelam uma tendência geral para<br />

uma melhoria e maior participação nos processos de aprendizagem por parte<br />

destes inquiridos.<br />

De facto, uma expressiva maioria afirmou que, desde que está inserida nos<br />

programas integrados de educação e formação, gosta mais de ir às aulas<br />

(84,4%), acha que aprende mais do que anteriormente (82,7%), considera<br />

aprender coisas de carácter mais prático (94,8%), sente que tem menos<br />

trabalho (78,2%), tem melhores notas (86,9%), está mais interessado na escola<br />

(82%), e não falta mais às aulas (90%). Com valores mais reduzidos, mas<br />

ainda assim maioritários, estão a maior vontade de estudar (67,5%), a ajuda à<br />

família (50,9%) e o falar mais com os pais/pessoas com quem vive (50,2%).<br />

A variável relativa à ida dos encarregados de educação à escola revela uma<br />

tendência muito expressiva. De facto, os resultados mostram que 82% dos<br />

encarregados de educação têm o hábito de se deslocar com regularidade à<br />

escola para reuniões.<br />

146


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Quanto às idas dos encarregados de educação à escola por razões<br />

excepcionais, a distribuição entre as respostas positivas e negativas não é<br />

muito díspar (45,3% diz que o encarregado já foi chamado à escola por outras<br />

razões que não as reuniões e 52,6% diz que não).<br />

2.9. Trabalho infantil no passado e expectativas de vida<br />

Relativamente à profissão que desejam ter no futuro, 30,4% diz sonhar com um<br />

trabalho que não exige a obtenção de qualificações escolares superiores ao<br />

12º ano (mecânico, agricultor, etc.), o que pode indiciar que, apesar dos<br />

indicadores favoráveis em relação ao PIEF, a Escola continua a ser um espaço<br />

pouco desejado.<br />

Praticamente metade dos inquiridos (45,6%) acredita necessitar, pelo menos,<br />

do 9º ano de escolaridade para vir a exercer a profissão desejada e apenas<br />

9,3% considera o diploma universitário como requisito básico para tal.<br />

Os resultados apurados mostram que mais de metade destes jovens (52,1%)<br />

pensa estudar até ao 9º ano de escolaridade, 21,8% até ao 12º, e que os<br />

estudos universitários fazem parte das ambições somente de 5,1% dos alunos<br />

inquiridos.<br />

Perguntou-se ainda se, para realizarem alguns sonhos de vida, os inquiridos<br />

achavam que precisam de estudar, de forma a tentar perceber se as<br />

representações acerca da escolaridade os levavam ou não a ver<br />

consequências menos directas noutras dimensões das suas vidas, que não<br />

apenas a profissional. A grande maioria respondeu afirmativamente (70,9%).<br />

É relevante que 77,9% dos alunos não ponderam levar os estudos além do 12º<br />

ano de escolaridade (56,1% diz mesmo pretender estudar apenas até ao 9º<br />

ano do ensino básico). Por outro lado, os que pretendem ir para a universidade<br />

representam apenas 4,2% dos 289 inquiridos em situação de trabalho infantil<br />

no passado.<br />

147


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2.10. Trabalho infantil no passado e desvio<br />

Esta parte da análise incide sobre um conjunto de indicadores onde se<br />

pretende averiguar até que ponto os inquiridos tiveram ou têm comportamentos<br />

que se afastam da “norma”.<br />

Começando pelos processos disciplinares, 53,6% declarou já ter tido pelo<br />

menos um, valores um pouco mais expressivos do que se encontrou<br />

anteriormente para os alunos que tinham tido uma actividade,<br />

independentemente de ter sido trabalho infantil (50,3% dos inquiridos com uma<br />

actividade no passado já tiveram processos disciplinares).<br />

O cruzamento entre a situação de trabalho infantil e os processos disciplinares<br />

permite-nos ainda verificar que estas duas variáveis são dependentes, e que a<br />

os alunos que estiveram em situação de trabalho infantil no passado têm maior<br />

probabilidade de ter tido processos disciplinares 52 .<br />

As expulsões são menos frequentes, mas ainda assim com uma percentagem<br />

próxima dos 20%.<br />

A maioria dos inquiridos (63,7%) afirma nunca ter tido qualquer tipo de<br />

problema com a polícia.<br />

52 Resíduo ajustado estandardizado de 2,5.<br />

148


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

3. Actividades desenvolvidas na semana de referência<br />

Neste capítulo far-se-á uma caracterização das actividades em geral realizadas<br />

pelos inquiridos na semana de referência.<br />

A semana de referência corresponde à semana anterior à data de<br />

administração do questionário aos alunos.<br />

A partir desta análise procurar-se-á chegar às dinâmicas conducentes às<br />

situações de trabalho infantil, distinguindo o trabalho feito apenas no espaço da<br />

família (o que chamamos de tarefas domésticas) e o trabalho em sentido<br />

estritamente económico (que tem por base a definição da OIT).<br />

Dos 1098 alunos de PIEF inquiridos, 162 (14,8%) afirmaram ter realizado um<br />

trabalho na última semana, exclusivamente fora do seio familiar (apenas<br />

trabalho por conta de outrem). Este valor corresponde aos número de<br />

inquiridos que disse ter realizado algum trabalho na última semana, que não<br />

tivesse sido realizado em casa ou em negócio ou empresa familiar.<br />

O trabalho familiar não remunerado está inserido num módulo de questões<br />

relativas ao trabalho realizado em âmbito familiar. Assim, tivemos de fazer a<br />

distinção entre trabalho familiar não remunerado (nas duas dimensões de que<br />

falámos anteriormente – trabalho em empresa familiar e trabalho em contexto<br />

familiar) e tarefa doméstica, de forma a poder analisar estas duas formas de<br />

trabalho separadamente. A forma como foram agregadas estas respostas<br />

numa só categoria vem explicada abaixo.<br />

Relativamente às tarefas domésticas, agregaram-se as respostas que diziam<br />

apenas respeito às ajudas familiares realizadas no espaço da casa, onde<br />

61,4% do total de alunos de PIEF inquiridos respondeu afirmativamente.<br />

Esta grande percentagem de inquiridos que afirmou ter participado / realizado<br />

tarefas domésticas engloba todo o tipo de ajudas familiares, que passam,<br />

também, pela participação nas tarefas da casa que podemos entender como<br />

fazendo parte de um processo de socialização na família (ajudar a pôr a mesa,<br />

fazer a cama, etc.). Não devemos, portanto, precipitar-nos na análise destes<br />

valores.<br />

149


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Faremos a breve caracterização destas situações, de forma a distinguir entre o<br />

apoio familiar que não interfere na vida escolar ou no saudável<br />

desenvolvimento das crianças e jovens inquiridos (não ocupando um número<br />

de horas excessivo, ou que não interfira directamente com a frequência<br />

escolar), e as tarefas domésticas que, pela sua intensidade ou duração, devem<br />

ser motivo de uma maior atenção.<br />

Em cada ponto, apresentamos os resultados relativos à realização de<br />

actividade económica na última semana, seguida da análise dos resultados<br />

relativos às tarefas domésticas.<br />

3.1. Actividades económicas e tarefas domésticas desenvolvidas pelos<br />

inquiridos na semana de referência<br />

Relembramos a distinção entre actividade económica em sentido estrito,<br />

entendida como uma actividade desenvolvida num sector da economia formal,<br />

e tarefas domésticas, que são desenvolvidas no espaço da família, e não<br />

podem ser inseridas em nenhum sector formal da economia (dizem respeito ao<br />

trabalho realizado exclusivamente no espaço da casa).<br />

Dentro do que se denominou de actividades económicas em sentido estrito,<br />

fez-se a distinção entre trabalho por conta de outrem e trabalho familiar não<br />

remunerado. O trabalho por conta de outrem (TCO) diz respeito a uma<br />

actividade que se encontra dependente economicamente de um empresário,<br />

com um vínculo contratual que pode ou não estar formalizado. O trabalho<br />

familiar não remunerado (TFNR) remete para todo o trabalho em que o<br />

empregador é um familiar ou pessoa com quem o inquirido vive, e que, não<br />

sendo remunerado, pode ser incluído num sector de actividade concreto.<br />

Dentro desta categoria fazemos ainda a distinção entre trabalho em empresa<br />

familiar e trabalho em contexto familiar, onde na primeira destas vertentes de<br />

TFNR se encontram todas as actividades em empresas ou negócios familiares,<br />

e na segunda o trabalho agrícola realizado num contexto de ajuda familiar.<br />

Relembramos ainda que, para determinar as situações de trabalho infantil no<br />

espaço da casa, onde as actividades desenvolvidas não são susceptíveis de<br />

150


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

ser inseridas num qualquer sector de actividade (as tarefas domésticas),<br />

utilizaram-se os mesmos critérios de idade e intensidade (número de horas<br />

semanais de trabalho) a que se recorreu para a definição de trabalho infantil<br />

em sentido estrito proposta pela OIT. Assim, todos os inquiridos que cumpram<br />

simultaneamente os critérios de idade e horas semanais de trabalho, que<br />

delimitam as situações de trabalho infantil, serão contabilizados como tal, mas<br />

agora enquanto situações de trabalho infantil pela realização de tarefas<br />

domésticas.<br />

Começando por caracterizar as actividades desenvolvidas pelos inquiridos na<br />

semana de referência, devemos estabelecer qual o volume de inquiridos que<br />

está nestas condições.<br />

Importa neste ponto clarificar a forma como, a partir do nosso questionário,<br />

construímos duas novas variáveis, onde numa diferenciámos os alunos<br />

inquiridos por exercício ou não de actividade económica na última semana, e<br />

noutra fizemos a distinção entre trabalho familiar não remunerado e trabalho<br />

por conta de outrem.<br />

Uma vez que as questões foram colocadas aos alunos em separado, o primeiro<br />

passo foi perceber, nos casos em que os inquiridos afirmaram<br />

simultaneamente ter desempenhado trabalho familiar (numa empresa ou<br />

negócio, no campo, etc.) e trabalho por conta de outrem, qual destas duas<br />

respostas deveria ser considerada. Nestas situações, utilizámos o critério do<br />

tempo despendido em cada uma das actividades, privilegiando aquela onde<br />

despendeu mais tempo.<br />

Construídas as duas variáveis (denominámos de ‘AE’ aquela que indica se o<br />

aluno desenvolveu uma actividade económica na última semana ou não, e<br />

‘tipo_AE’ para diferenciar o tipo de actividade económica exercida), tivemos de<br />

agregar todos os indicadores relativos à caracterização da actividade exercida,<br />

que se encontravam separados, consoante o inquirido tivesse trabalhado na<br />

família ou por conta de outrem.<br />

Construímos, assim, 15 novas variáveis, através das quais podemos<br />

caracterizar a actividade económica segundo os seguintes indicadores: sector<br />

de actividade (‘AE_sector’); tempo despendido no exercício da actividade<br />

151


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

(‘AE_horas’, ‘AE_início’ e ‘AE_termo’); dias em que exerceu a actividade<br />

(‘AE_dias’); altura do dia em que esteve a trabalhar (‘AE_alturaDia’); se o<br />

exercício da actividade económica interferiu com a frequência das aulas<br />

(‘AE_faltarAulas’); grau de dificuldade atribuído pelo inquirido ao trabalho<br />

desenvolvido (‘AE_dificuldade’); razão pela qual o inquirido trabalhou<br />

(‘AE_razão’); se gostou ou não de exercer as actividades (‘AE_gosto’); se as<br />

actividades que realizou na última semana são novas ou se já as fazia antes<br />

(‘AE_novas); no caso de já as fazer antes, desde que idade faz a actividade<br />

económica que referiu (‘AE_IdadeInício’); e por fim, se, antes da última<br />

semana, alguma vez teve de faltar às aulas para cumprir as tarefas referidas<br />

(AE_faltava).<br />

Como já referimos, nas situações em que o inquirido afirmou ter desenvolvido<br />

simultaneamente trabalho por conta de outrem e trabalho familiar não<br />

remunerado, foi considerada a actividade na qual despendeu mais tempo.<br />

Olhando para os dados relativos à prática de uma actividade económica na<br />

última semana, aqueles que responderam afirmativamente representam pouco<br />

mais de um quinto dos alunos de PIEF inquiridos (o que corresponde a 240<br />

alunos).<br />

Gráfico 40 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos segundo o exercício de uma<br />

actividade económica (em sentido estrito) na última semana<br />

78,1%<br />

152<br />

21,9%<br />

Exerceu uma AE Não exerceu uma AE<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Far-se-á de seguida a caracterização dos inquiridos que realizaram uma<br />

actividade económica na última semana.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Tendo em conta o objectivo deste estudo, não nos interessa neste ponto<br />

estudar os indivíduos que atingiram a maioridade. Assim, faremos uma<br />

caracterização destas actividades para os inquiridos com idades inferiores ou<br />

iguais a 17 anos, distribuídos por três escalões etários: entre 12 e 14 anos; 15<br />

anos; e entre 16 e 17 anos (verificou-se não existirem inquiridos com menos de<br />

11 anos que tenham realizado uma actividade económica na última semana).<br />

3.1.1. Actividade económica em geral<br />

Tendo em conta a totalidade dos alunos de PIEF inquiridos menores de 18<br />

anos, que exerceram uma actividade económica na última semana (233<br />

inquiridos, que representam 21,2% da totalidade dos alunos que responderam<br />

ao questionário), vemos a partir do gráfico 39 que têm maioritariamente entre<br />

16 e 17 anos.<br />

Por outro lado, a percentagem das raparigas que exerceu actividade<br />

económica na última semana com idades entre os 12 e os 14 anos tem um<br />

peso superior ao dos rapazes.<br />

Gráfico 41 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram uma<br />

AE (em sentido estrito) na última semana por escalões etários e sexo<br />

%<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

22,3<br />

28,9 27,1 26,7<br />

153<br />

50,5<br />

12-14 15 16-17<br />

M F<br />

44,4<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Quanto ao tipo de actividade económica exercida por estes inquiridos, 65,2%<br />

trabalhou por conta de outrem e 34,8% fez trabalhos familiares não<br />

remunerados.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Vejamos agora como se distribuem estes inquiridos relativamente ao tipo de<br />

actividade económica realizada, segundo o sexo e o escalão etário.<br />

Gráfico 42 – Distribuição dos alunos de PIEF<br />

inquiridos < 18 anos que exerceram uma AE (em<br />

sentido estrito) na última semana pelo tipo de<br />

actividade, segundo o escalão etário<br />

%<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

65,5<br />

61,9 67,0<br />

34,5<br />

TCO TFNR<br />

38,1 33,0<br />

12-14 15 16-17<br />

154<br />

Gráfico 43 – Distribuição dos alunos de PIEF<br />

inquiridos < 18 anos que exerceram uma AE (em<br />

sentido estrito) na última semana pelo tipo de<br />

actividade, segundo o sexo<br />

%<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

63,3<br />

73,3<br />

36,7<br />

TCO TFNR<br />

M F<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Nos gráficos anteriores vemos que, muito embora o trabalho por conta de<br />

outrem (TCO) seja preponderante, a proporção de raparigas é superior neste<br />

tipo de actividade, mas inferior no que respeita ao trabalho familiar não<br />

remunerado (TFNR). Inversamente, encontramos um maior peso de rapazes a<br />

realizar trabalho familiar não remunerado.<br />

Dos 233 inquiridos com idades inferiores ou iguais a 17 anos que afirmaram ter<br />

desenvolvido pelo menos uma actividade económica durante a última<br />

semana 53 , apenas 4 afirmam ter realizado dois ou mais trabalhos por conta de<br />

outrem.<br />

A caracterização das actividades que faremos diz apenas respeito à primeira<br />

que foi referida pelo inquirido, segundo o critério de tempo destinado ao seu<br />

cumprimento (foi especificado aos inquiridos que a primeira actividade a<br />

considerar teria de ser aquela na qual tinham despendido mais tempo).<br />

53 Como já vimos, este valor representa 21,3% do total de alunos de PIEF que constam da<br />

nossa base de dados.<br />

26,7


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

3.1.2. Tarefas domésticas<br />

A análise do indicador relativo às tarefas domésticas realizadas na última<br />

semana implicou a construção de seis novas variáveis, onde se agregaram as<br />

respostas dos inquiridos segundo alguns critérios. A primeira variável agregou<br />

ajudas familiares que podem ser consideradas leves, e que remetem, por<br />

exemplo, para a responsabilização dos menores pela arrumação do seu<br />

espaço individual (arrumar o quarto, fazer a cama, etc.). Na segunda<br />

agregámos tarefas de limpeza do espaço da casa (arrumar/limpar a casa). A<br />

terceira variável engloba as tarefas que implicam uma responsabilização pelo<br />

cuidado de familiares / pessoas com quem vivem (tomar conta de crianças,<br />

idosos ou deficientes). A variável seguinte inclui apenas as reparações<br />

domésticas. As outras duas variáveis englobam a preparação de refeições<br />

(cozinhar/aquecer a comida) e os trabalhos de tratamento da roupa<br />

(lavar/passar roupa).<br />

A maioria dos alunos PIEF inquiridos revela ter realizado algum tipo de tarefa<br />

doméstica na última semana (61,4%), que corresponde a 674 casos.<br />

Para a caracterização das tarefas domésticas, tal como fizemos anteriormente<br />

para as actividades económicas realizadas na semana de referência,<br />

excluiremos todos os inquiridos com 18 ou mais anos. Assim, 61,3% afirmou<br />

ter realizado alguma tarefa doméstica durante a semana anterior à aplicação<br />

do questionário (que corresponde a 655 inquiridos, todos com idades inferiores<br />

a 18 anos).<br />

Relativamente ao tipo de tarefas realizadas, 79,9% afirmou ter arrumado o<br />

quarto, posto e levantado a mesa ou ido às compras, 53,2% disse ter limpo o<br />

pó ou arrumado a casa, 24,7% cozinhou ou aqueceu a comida, 15,7% lavou ou<br />

passou a roupa, 10,1% tomou conta de crianças, idosos ou deficientes e<br />

apenas 0,9% afirmou ter feito reparações domésticas. Estas percentagens<br />

representam a proporção de inquiridos que fez as tarefas referidas,<br />

relativamente aos que não as fizeram (as categorias não são mutuamente<br />

exclusivas, os inquiridos podem ter realizado mais de uma das tarefas<br />

referidas).<br />

155


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A proporção de cada tipo de tarefa relativamente à totalidade de tarefas<br />

domésticas referidas pelos inquiridos é apresentada no gráfico abaixo.<br />

Gráfico 44 – Tarefas domésticas realizadas pelos inquiridos menores de 18 anos na<br />

última semana<br />

43,3% 28,8%<br />

8,5%<br />

13,4%<br />

156<br />

0,5%<br />

5,5%<br />

arrumar o quarto/pôr ou levantar a mesa/ir às compras<br />

limpar o pó/arrumar a casa<br />

tomar conta de crianças/idosos/deficientes<br />

fazer reparações domésticas<br />

cozinhar/aquecer a comida<br />

lavar/passar a roupa<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Como dissemos acima, as tarefas que se consideram leves, como arrumar o<br />

quarto, pôr e levantar a mesa ou ir às compras, são entendidas como trabalho<br />

aceitável, que fazem parte de um processo de socialização na família. Os<br />

inquiridos que tenham apenas realizado este tipo de tarefa doméstica não<br />

estão em situação de trabalho infantil, o que significa que, no ponto onde se<br />

apresenta a caracterização das situações de trabalho infantil, estes alunos<br />

nunca estarão incluídos.<br />

Há diferenças significativas entre rapazes e raparigas quanto à realização<br />

destas tarefas. De facto, muito embora se verifique, em termos absolutos, um<br />

maior número de rapazes a realizar tarefas domésticas, a proporção das<br />

raparigas que afirmou ter feito tarefas em casa é muito superior à verificada<br />

entre os rapazes (apenas 11% das raparigas responderam não ter ajudado em<br />

casa em nenhuma medida, por oposição à maioria dos rapazes).


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A análise do cruzamento entre estas duas variáveis revelou efectivamente uma<br />

maior probabilidade de as raparigas terem realizado tarefas domésticas<br />

(resíduo ajustado de 12,1).<br />

Quanto aos escalões etários, verifica-se que foram os mais velhos quem mais<br />

participou em actividades domésticas na última semana (27,5% tem 15 anos e<br />

55% tem 16-17 anos). Este aumento verifica-se tanto entre os rapazes como<br />

entre as raparigas. No entanto, a percentagem de raparigas aumenta mais<br />

acentuadamente entre os 15 anos e o escalão dos 16-17.<br />

3.2. Actividade económica e tarefas domésticas por região<br />

A distribuição das respostas relativas à realização de uma actividade<br />

económica na última semana apresenta uma distribuição interessante em<br />

termos geográficos. Se olharmos para a distribuição dos alunos com actividade<br />

económica por região, verificamos que a maior percentagem se encontra na<br />

região Norte, seguida das regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Centro. As<br />

regiões do Alentejo e do Algarve apresentam percentagens muito mais<br />

reduzidas.<br />

Gráfico 45 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />

estrito) na última semana por região<br />

5,6%<br />

9,0%<br />

21,9%<br />

19,7%<br />

NORTE CENTRO<br />

ALENTEJO ALGARVE<br />

Lisboa e Vale do Tejo<br />

157<br />

43,8%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Curiosamente, se caminharmos de Norte para Sul verificamos que as<br />

percentagens vão diminuindo, independentemente do tipo de actividade<br />

económica exercida. A única excepção é a região de Lisboa e Vale do Tejo,<br />

que é, como vimos acima, a segunda região com maior prevalência de<br />

inquiridos a exercer uma actividade económica.<br />

Gráfico 46 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />

estrito) na última semana por região, segundo o tipo de actividade<br />

Lisboa e Vale do Tejo<br />

ALGARVE<br />

ALENTEJO<br />

CENTRO<br />

NORTE<br />

3,7<br />

6,6<br />

8,6<br />

9,2<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A distribuição do tipo de actividade económica por região permite-nos perceber<br />

que mais de metade dos inquiridos que realizaram um trabalho familiar não<br />

remunerado é da região Norte.<br />

14,8<br />

21,0<br />

19,1<br />

Por outro lado, a segunda região com mais inquiridos a realizar trabalho<br />

familiar não remunerado é a região centro, que é a terceira região com maior<br />

incidência de inquiridos com actividade económica. Na região de Lisboa e Vale<br />

do Tejo, o trabalho por conta de outrem é preponderante.<br />

É ainda de salientar o facto de, no Centro e Norte, as maiores prevalências<br />

corresponderem ao trabalho familiar não remunerado, ao contrário do que se<br />

verifica nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Alentejo, onde<br />

predominam aos trabalhos por conta de outrem.<br />

158<br />

25,7<br />

39,5<br />

51,9<br />

0 10 20 30 40 50 60<br />

TCO TFNR<br />

%


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Olhando agora para a distribuição por região dos alunos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última, continua a verificar-se um peso muito superior das<br />

regiões Norte e LVT, seguidas da região do Centro.<br />

Gráfico 47 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última semana por região<br />

34,2%<br />

6,6%<br />

7,6%<br />

159<br />

15,0%<br />

NORTE CENTRO<br />

ALENTEJO ALGARVE<br />

Lisboa e Vale do Tejo<br />

36,6%<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Quanto ao tipo de tarefa doméstica por região, verifica-se que predominam em<br />

todas elas as tarefas mais leves, como arrumar o quarto ou fazer a cama. A<br />

limpeza da casa é o segundo tipo de tarefas que se destacam em todas as<br />

regiões. Quanto à preparação de refeições e ao tratamento da roupa, a região<br />

do Alentejo apresenta uma alteração nas percentagens relativas. Mesmo<br />

assim, podemos dizer que, de forma geral, as distribuições regionais do tipo de<br />

tarefas realizadas pelos alunos são muito semelhantes.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 48 – Distribuição do tipo de tarefa doméstica realizada na última semana pelos<br />

inquiridos


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Por outro lado, o peso das actividades segundo o sexo é bastante diferentes.<br />

As raparigas têm uma maior percentagem no sector dos serviços e nas feiras<br />

ou mercados, não têm qualquer tipo de expressão na construção, que é um<br />

tipo de trabalho mais frequentemente realizado por rapazes 54 . Por outro lado, o<br />

trabalho realizado em feiras ou mercados ocupa poucos rapazes, e é no sector<br />

da agricultura que encontramos a maior parcela destes inquiridos.<br />

O desporto de alta competição e a indústria são categorias residuais.<br />

Gráfico 49 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que trabalharam por<br />

conta de outrem na última semana pelos sectores de actividade, segundo o sexo<br />

%<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

23,5<br />

12,1<br />

21,1<br />

7,6<br />

6,1<br />

7,2<br />

16,8<br />

39,4<br />

Agricultura Indústria Serviços Construção Feiras /<br />

mercados<br />

21,7<br />

17,6<br />

161<br />

0,0<br />

13,8<br />

4,2<br />

30,3<br />

M F Total<br />

9,9<br />

9,2<br />

0,0<br />

7,2<br />

Desporto de<br />

alta<br />

competição<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

21,0<br />

12,1<br />

19,1<br />

Observando agora o tipo de trabalho familiar não remunerado realizado pelos<br />

inquiridos, percebemos que a maioria trabalhou em contexto familiar, que se<br />

refere exclusivamente ao trabalho agrícola realizado no espaço da família.<br />

Apenas 11 dos 78 inquiridos que disseram ter realizado TFNR (com respostas<br />

válidas relativamente ao tipo de TFNR) fizeram-no numa empresa familiar.<br />

Quanto às distribuições do tipo de TFNR segundo o sexo, podemos verificar<br />

que são muito semelhantes, com uma percentagem ligeiramente maior de<br />

raparigas a realizar trabalho em contexto familiar.<br />

54 Vejam-se as conclusões do estudo pelo SIETI de 2001, p. 80 (SIETI, Trabalho Infantil em<br />

Portugal 2001: caracterização social dos agregados familiares portugueses com menores em<br />

idade escolar, Lisboa, Ministério da Segurança Social e do Trabalho, IEFP, 2003)<br />

Outro


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 50 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram TFNR<br />

pelo tipo de trabalho realizado, segundo o sexo<br />

%<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

85,1 90,9 85,9<br />

162<br />

14,9<br />

9,1<br />

14,1<br />

Trabalho em contexto familiar Trabalho em empresa familiar<br />

M F Total<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Olhando agora para o tipo de tarefas que os inquiridos afirmaram ter realizado<br />

na semana anterior à aplicação dos questionários segundo o sexo, verificamos<br />

que, embora os rapazes participem nas tarefas domésticas mais do que os<br />

estereótipos de género fariam supor (se olharmos para os resultados de outras<br />

pesquisas, as assimetrias entre rapazes e raparigas relativamente às tarefas<br />

domésticas é bastante mais acentuada), a percentagem de raparigas que ajuda<br />

nas tarefas da casa é superior em todas as categorias, com a excepção da<br />

arrumação do quarto e das reparações domésticas.<br />

Gráfico 51 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

A natureza das tarefas domésticas deve ser motivo de especial atenção. Uma<br />

criança que arrume o próprio quarto ou ajude a pôr e levantar a mesa faz um<br />

tipo de tarefas que dificilmente poderá ser considerada pesada, e que ocupará<br />

um tempo reduzido. A natureza deste tipo de tarefas faz com que não possam<br />

ser consideradas trabalho infantil, muito embora a sua caracterização possa<br />

ser importante, mas agora funcionando essencialmente como um factor de<br />

integração e participação na vida familiar. Assim, o cruzamento entre o tipo de<br />

tarefas e os vários indicadores que as caracterizam é essencial.<br />

3.4. Dias por semana, horas diárias e altura do dia<br />

A distribuição dos inquiridos pelos dias em que estiveram a exercer a<br />

actividade económica permite-nos facilmente perceber que a maioria destes<br />

alunos não está em situação de trabalho infantil. De facto, se olharmos para o<br />

critérios que delimitam o conceito de trabalho infantil tal como é aqui<br />

operacionalizado, e se tivermos em conta que não temos inquiridos com menos<br />

de 11 anos com uma actividade económica na última semana, percebemos que<br />

todos aqueles que afirmaram ter exercido a actividade económica apenas<br />

durante o fim-de-semana ou durante apenas um dia da semana não estão em<br />

situação de trabalho infantil, uma vez que as horas de trabalho semanal e os<br />

dias de trabalho na semana não ultrapassam os limites definidos (o que<br />

corresponde a 49,4% ou 115 inquiridos com exercício de uma actividade<br />

económica na última semana) 55 .<br />

É de referir que cerca de 16% destes inquiridos (que corresponde a 37<br />

inquiridos) afirmam ter realizado as actividades económicas durante os sete<br />

dias da semana. Importa agora saber quantas horas foram dispendidas nestas<br />

actividades.<br />

55 Também aqueles que estão na categoria ‘Outra’ não podem ser incluídos no conjunto de<br />

situações de trabalho infantil, por uma óbvia impossibilidade em medir o tempo despendido nas<br />

actividades económicas da última semana.<br />

163


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 52 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />

estrito) na última semana pelos dias em que estiveram a trabalhar<br />

%<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

15,9<br />

Todos os<br />

dias,<br />

incluindo<br />

fim-desemana<br />

3,9<br />

Todos os<br />

dias,<br />

menos ao<br />

fim-desemana<br />

3,0<br />

Seis dias<br />

por<br />

semana<br />

164<br />

13,7<br />

Dia sim dia<br />

não<br />

30,9<br />

Só ao fim<br />

de semana<br />

18,5<br />

14,2<br />

Um dia Outra<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Antes de mais, note-se que, do total de inquiridos com actividade económica na<br />

última semana, houve um que não respondeu às questões relativas ao tempo<br />

diário despendido nestas actividades. Por isso, estamos a considerar apenas<br />

232 respostas válidas.<br />

Verifica-se que apenas 18 dos inquiridos na situação em análise estiveram<br />

ocupados menos de uma hora por dia em actividades económicas (que<br />

corresponde a 7,8%).<br />

Gráfico 53 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />

estrito) na última semana por horas diárias de trabalho, segundo o escalão etário<br />

%<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

9,1<br />

8,1<br />

7,0<br />

Menos de 1<br />

hora<br />

21,8<br />

19,4<br />

18,3<br />

Entre 1 a 2<br />

horas<br />

25,5<br />

30,6<br />

23,5<br />

Entre 2 a 4<br />

horas<br />

16,4<br />

12,9<br />

18,3<br />

Entre 4 a 6<br />

horas<br />

12-14 15 16-17<br />

27,3<br />

29,0<br />

33,0<br />

Mais de 6<br />

horas<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Os resultados revelam que 30,6% dos inquiridos afirma ter despendido mais de<br />

6 horas diárias a cumprir as actividades referidas.<br />

Com a excepção da categoria de 4 a 6 horas, que sofre um decréscimo em<br />

todos os escalões etários, verifica-se um acréscimo na percentagem de<br />

inquiridos com actividade económica à medida que as horas de trabalho diárias<br />

aumentam. Este resultado verifica-se independentemente do sexo.<br />

No caso dos inquiridos com 15 anos, destacam-se aqueles que trabalharam<br />

entre 2 e 4 horas diárias. Relativamente aos inquiridos com idades entre os 12<br />

e os 14 anos, destacam-se os que afirmaram ter trabalhado mais de 6 horas<br />

por dia, tal como acontece no escalão dos 16-17 anos (embora neste caso a<br />

percentagem dos que afirmaram ter trabalhado esse número de horas por dia<br />

seja superior àquele verificado nos outros dois escalões etários).<br />

É claro que não basta sabermos o número de horas diárias para perceber se<br />

os inquiridos estão ou não em situação de trabalho infantil. Sabemos no<br />

entanto que, dentro do conjunto dos indicadores que seleccionámos para a<br />

operacionalização do conceito, o número de horas diárias despendidas a<br />

trabalhar é um indicador importante. Assim, é pouco provável que os inquiridos<br />

que afirmaram ter trabalhado 2 ou menos horas por dia estejam em situação de<br />

trabalho infantil na última semana, o que exclui à partida 27,2% dos 232 alunos<br />

de PIEF que responderam a esta questão (que corresponde a 63 inquiridos).<br />

Mas não podemos já afirmar quantos são os inquiridos em situação de trabalho<br />

infantil. Para isso, temos de cruzar este indicador com outras variáveis (importa<br />

nomeadamente saber durante quantos dias da semana trabalharam o número<br />

165


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 54 – Distribuição dos alunos de PIEF<br />

inquiridos < 18 anos com AE (em sentido estrito)<br />

na última semana, pela altura do dia em que<br />

estiveram a cumprir essas actividades<br />

14,2%<br />

7,7%<br />

78,1%<br />

Antes das 8 da noite<br />

Antes das 8 da noite|Depois das 8 da noite<br />

Depois das 8 da noite<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-<br />

UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

166<br />

de horas diárias referido).<br />

Se olharmos agora para a<br />

altura do dia em que os<br />

inquiridos afirmam ter<br />

trabalhado, uma grande<br />

maioria afirmou tê-lo feito<br />

antes das 8 horas da noite. No<br />

entanto, 21,9% disse ter<br />

trabalhado antes e depois, ou<br />

apenas depois das 8 da noite.<br />

Estas situações devem ser<br />

analisadas com alguma<br />

cautela, já que, como foi já referido na discussão teórica apresentada, este é<br />

também um critério importante na definição das situações de trabalho infantil.<br />

Falaremos sobre isto mais adiante.<br />

Olhando agora para a altura do dia em que afirmaram ter começado a<br />

trabalhar, 46,4% diz ter começado de manhã, e apenas 4,7% afirmou ter sido<br />

depois do jantar ou depois da novela.<br />

O cruzamento da altura do dia em que afirmaram ter começado a trabalhar com<br />

a variável que nos indica a altura do dia em que terão terminado o trabalho<br />

permite-nos perceber/controlar as respostas dadas a algumas questões que<br />

foram já tratadas, como o número de horas diárias que os inquiridos disseram<br />

ter trabalhado, ou se foi antes ou depois das 8 horas da noite.


Quando<br />

iniciou a<br />

actividade<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Tabela 3 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />

estrito) pela altura do dia em que começou a trabalhar segundo a altura em que acabou<br />

de trabalhar<br />

de manhã<br />

ao fim da tarde<br />

depois do jantar /<br />

novela<br />

varia, não tem hora<br />

fixa para começar<br />

não sabe<br />

Total<br />

Quando acabou a actividade<br />

depois do varia, não tem<br />

ao fim da jantar / hora fixa para<br />

de manhã tarde novela terminar não sabe Total<br />

N 29 68 7 4 0 108<br />

% 26,9% 63,0% 6,5% 3,7% ,0% 100,0%<br />

N 1 54 20 5 0 80<br />

% 1,3% 67,5% 25,0% 6,3% ,0% 100,0%<br />

N 3 0 8 0 0 11<br />

% 27,3% ,0% 72,7% ,0% ,0% 100,0%<br />

N 0 5 1 26 1 33<br />

% ,0% 15,2% 3,0% 78,8% 3,0% 100,0%<br />

N 0 1 0 0 0 1<br />

% ,0% 100,0% ,0% ,0% ,0% 100,0%<br />

N 33 128 36 35 1 233<br />

% 14,2% 54,9% 15,5% 15,0% ,4% 100,0%<br />

Dos 11 inquiridos que afirmaram ter começado a trabalhar depois do jantar, 8<br />

disseram-nos que acabaram antes de ir para a cama, e 3 só de manhã. De<br />

facto, no cruzamento entre a hora em que terminaram de trabalhar e a altura do<br />

dia em que estiveram a trabalhar (antes ou depois das 8 da noite), verificamos<br />

que existem três inquiridos que terminaram o trabalho de manhã, e estiveram a<br />

trabalhar depois das 8 horas da noite. Também no cruzamento com o número<br />

de horas diárias de trabalho verificamos que existem 4 inquiridos que<br />

terminaram o trabalho de manhã e trabalharam mais de 6 horas diárias.<br />

Estes quatro inquiridos que aqui referimos (dos quais três são os mesmos de<br />

que falámos acima, que começaram a trabalhar depois do jantar e acabaram<br />

de manhã) trabalharam depois ou antes e depois das 8 da noite, e terminaram<br />

o trabalho de manhã cedo. Cruzando esta informação com o escalão etário dos<br />

inquiridos, ficamos a saber que 2 têm 15 anos e os outros 2 têm entre 16-17<br />

anos. Estes últimos não estão em situação de trabalho infantil (estão fora dos<br />

limites etários estabelecidos pela OIT), mas os outros dois inquiridos<br />

hipoteticamente poderão estar. Se olharmos para o número de dias em que<br />

167


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

estiveram a trabalhar vemos que, tanto um como outro, trabalharam apenas um<br />

dia durante a última semana e que não consideraram o trabalho difícil 56 .<br />

Refira-se ainda que, com a excepção dos inquiridos que afirmaram ter iniciado<br />

o exercício da actividade de manhã, a maioria dos restantes afirma ter<br />

concluído as actividades no mesmo período do dia em que as iniciaram.<br />

Se olharmos para os dias ocupados pelos inquiridos na realização de tarefas<br />

domésticas e os compararmos com as respostas dadas relativamente às<br />

actividades económicas, verifica-se que, no caso das tarefas domésticas, o<br />

número de dias que ocupam é bastante superior.<br />

De facto, 36,9% dos alunos inquiridos afirmou ter realizado tarefas domésticas<br />

todos os dias, incluindo ao fim-de-semana (relativamente às actividades<br />

económicas esta categoria correspondia a 15,9% das respostas). No entanto,<br />

como veremos mais adiante, encontramos menos situações de trabalho infantil<br />

em tarefas domésticas do que nas actividades económicas.<br />

Gráfico 55 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última semana pelos dias em que realizaram as tarefas<br />

%<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

36,9<br />

Todos os<br />

dias,<br />

incluindo o<br />

fim de<br />

semana<br />

6,0<br />

Todos os<br />

dias,<br />

menos ao<br />

fim de<br />

semana<br />

1,1<br />

Seis dias<br />

por<br />

semana<br />

168<br />

20,3<br />

12,4<br />

Só ao fim Dia sim, dia<br />

de semana não<br />

13,7<br />

9,6<br />

Um dia Outra<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

56 Dois destes inquiridos são das regiões Norte (município de Moimenta da Beira e Resende),<br />

um do Algarve (município de Tavira) e um de LVT (município de Sintra). Três frequentam PIEF<br />

de tipo 2, e um PIEF de tipo 1, são todos rapazes, dois têm 15 anos, e dois entre 16 e 17 anos.<br />

Quanto ao tipo de trabalho realizado, todos trabalharam por conta de outrem, um no sector dos<br />

serviços e três não especificaram o que fizeram.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Ao contrário do que se verificava na análise homóloga da actividade económica<br />

desenvolvida, aqui apercebemo-nos, conforme se pode observar no gráfico<br />

seguinte, que há um decréscimo na percentagem de inquiridos que realizaram<br />

tarefas domésticas na última semana à medida que as horas de trabalho<br />

diárias aumentam.<br />

É de salientar que, independentemente do escalão etário que observarmos, a<br />

maior percentagem de inquiridos se concentra nas categorias ‘menos de 1<br />

hora’ e ‘entre 1 a 2 horas’, sendo que os alunos que despendem mais de 6<br />

horas a realizar tarefas domésticas apresentam percentagens residuais.<br />

Gráfico 56 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última semana pelas horas diárias de trabalho, segundo o escalão etário<br />

%<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

41,2<br />

42,7<br />

38,7<br />

Menos de 1<br />

hora<br />

36,0<br />

33,7<br />

36,5<br />

Entre 1 a 2<br />

horas<br />

14,0<br />

17,4<br />

19,5<br />

169<br />

Entre 2 a 4<br />

horas<br />

7,9<br />

4,5<br />

4,2<br />

Entre 4 a 6<br />

horas<br />

12-14 15 16-17<br />

0,9<br />

1,7<br />

1,1<br />

Mais de 6<br />

horas<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Gráfico 57 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última semana, pela altura do dia em que estiveram a cumprir essas<br />

tarefas<br />

12,7%<br />

8,5%<br />

78,8%<br />

Antes das 8 da noite<br />

Antes das 8 da noite|Depois das 8 da noite<br />

Depois das 8 da noite<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007


Quando<br />

começou a<br />

cumprir as<br />

tarefas<br />

domésticas<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Se olharmos agora para a altura do dia em que os inquiridos afirmam ter<br />

realizado tarefas domésticas, à semelhança do que se verificava na actividade<br />

económica, uma grande maioria afirmou tê-lo feito antes das 8 horas da noite,<br />

21,2% diz tê-la realizado antes e depois, ou apenas depois das 8 da noite.<br />

Observando agora o cruzamento da informação dada acerca da altura do dia<br />

em que começaram e acabaram de cumprir as tarefas domésticas, podemos<br />

ver que existe uma maior concentração de percentagens nas células que<br />

indicam terem começado no mesmo período do dia em que terminaram as<br />

tarefas. Isto vem corroborar o que já foi dito anteriormente na análise do<br />

número de horas despendido e do período do dia em que foram realizadas as<br />

tarefas; ou seja, a maioria terá efectivamente despendido poucas horas nas<br />

tarefas e tê-las-á efectuado, também, maioritariamente, em período diurno.<br />

Tabela 4 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última semana pela altura do dia em que começaram, segundo a altura<br />

em que acabaram as tarefas<br />

de manhã<br />

ao fim da tarde<br />

depois do jantar /<br />

novela<br />

varia, não tem hora<br />

fixa para começar<br />

não sabe<br />

Total<br />

Quando terminou de cumprir as tarefas domésticas<br />

depois do varia, não tem<br />

ao fim da jantar / hora fixa para<br />

de manhã tarde novela terminar não sabe Total<br />

N 158 41 9 9 2 219<br />

% 72,1% 18,7% 4,1% 4,1% 0,9% 100<br />

N 2 181 59 13 1 256<br />

% 0,8% 70,7% 23,0% 5,1% 0,4% 100<br />

N 0 0 42 2 0 44<br />

% 0% 0% 95,5% 4,5% 0% 100<br />

N 4 8 3 116 0 131<br />

% 3,1% 6,1% 2,3% 88,5% 0% 100<br />

N 0 0 0 1 2 3<br />

% 0% 0% 0% 33,3% 66,7% 100<br />

N 164 230 113 141 5 653<br />

% 25,1% 35,2% 17,3% 21,6% 0,8% 100<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

170


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

3.5. Grau de dificuldade atribuída pelo inquirido, gosto e motivos apontados<br />

para o exercício da actividade económica e das tarefas domésticas<br />

No que se refere ao grau de dificuldade atribuído pelos inquiridos à actividade<br />

desempenhada na última semana, a maioria afirmou considerar a actividade<br />

fácil (68,7%), 19,7% disse não ter sido nem fácil nem difícil, e 11,6% (que<br />

corresponde a 27 inquiridos) diz que foi difícil.<br />

Gráfico 58 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />

estrito) pelo grau de dificuldade atribuído à actividade, segundo o escalão etário<br />

%<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

61,8<br />

69,8<br />

71,3<br />

12,7<br />

171<br />

6,3<br />

13,9<br />

25,5<br />

23,8<br />

14,8<br />

Fácil Difícil Nem fácil nem difícil<br />

12-14 15 16-17<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Relativamente àqueles que afirmaram ter sido um trabalho difícil, 4 disseram<br />

que era perigoso e os restantes que foi cansativo ou simplesmente não<br />

gostaram de o fazer.<br />

Se olharmos para a distribuição do grau de dificuldade atribuído pelos<br />

inquiridos à actividades em cada um dos escalões etários, rapidamente<br />

confirmamos que a maioria considerou o trabalho fácil.<br />

Quanto aos motivos apontados para o exercício da actividade, a observação do<br />

gráfico seguinte revela que a maioria o fez para ajudar a família / pessoas com<br />

quem vive. Ter sido obrigado(a) a trabalhar e não estar interessado(a) na<br />

escola são os dois motivos que apresentam percentagens mais residuais.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 59 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />

estrito) pelos motivos apontados para a realização da actividade<br />

outra<br />

foi obrigado(a)<br />

para ganhar dinheiro<br />

não está interessado(a) na escola<br />

para aprender um ofício<br />

tem obrigação disso<br />

para a judar a família/pessoas com quem vive<br />

1,4<br />

0,7<br />

5,0<br />

172<br />

8,2<br />

15,0<br />

18,9<br />

50,7<br />

0 10 20 30 40 50 60 %<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A análise dos motivos apontados para o exercício da actividade na última<br />

semana, por sexo, não revelou grandes assimetrias entre as respostas dos<br />

rapazes e das raparigas.<br />

Quando inquiridos acerca de terem ou não gostado de realizar as actividades<br />

que referiram, a maioria afirmou ter gostado (81,5%), e apenas 6% respondeu<br />

que não.<br />

Quanto às tarefas domésticas, na totalidade, apenas 3,2% dos 655 alunos de<br />

PIEF que disseram ter realizado tarefas domésticas na última semana, afirmou<br />

considerá-las difíceis (o que corresponde a 21 alunos). Se olharmos para os<br />

motivos apontados, verificamos que 14 referiram o facto de serem muito<br />

cansativas, 6 não gostaram de as fazer e apenas 1 referiu a sua perigosidade.<br />

Independentemente do escalão etário, a maioria dos inquiridos afirmou<br />

considerar fáceis as tarefas domésticas que realizou na última semana (83%).<br />

As distribuições dos graus de dificuldade atribuídos às tarefas domésticas<br />

desempenhadas na semana de referência pelos escalões etários mostra que,<br />

muito embora as percentagens daqueles que consideraram essas tarefas<br />

difíceis sejam sempre muito residuais, os inquiridos com idades entre os 12 e<br />

os 14 anos representam, neste caso, a maior fatia (ver gráfico 58).


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 60 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última semana pelo grau de dificuldade às tarefas, segundo o escalão<br />

etário<br />

%<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

78,1<br />

86,0<br />

83,1<br />

5,3<br />

173<br />

2,2<br />

3,1<br />

Fáceis Difíceis Nem fáceis nem difíceis<br />

12-14 15 16-17<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Olhando agora para os motivos apontados para a realização das tarefas<br />

domésticas, vemos que são menos diversos do que os apontados para o<br />

exercício da actividade económica.<br />

Gráfico 61 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última semana pelos motivos apontados para a realização das tarefas<br />

outra<br />

para ajudar a família / pessoas com quem vive<br />

porque acha que tem obrigação disso<br />

porque o(a) obrigaram<br />

4,2<br />

14,9<br />

26,6<br />

16,7<br />

11,7<br />

13,9<br />

54,3<br />

0 10 20 30 40 50 60 %<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Dos quatro tipos de respostas dadas a esta questão, destaca-se a ajuda<br />

familiar como principal motivo. Por outro lado, são poucos os que afirmaram<br />

terem sido obrigados a cumprir as tarefas referidas (34 inquiridos deram esta<br />

resposta).


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Quanto à questão relativa ao gosto pelas tarefas realizadas, verificamos que,<br />

tal como aconteceu relativamente às actividades económicas, a maioria dos<br />

inquiridos afirmou ter gostado das tarefas domésticas (69,9%). No entanto,<br />

9,8% dos inquiridos respondeu não ter gostado das tarefas; um valor bastante<br />

superior, em termos absolutos, ao verificado para as actividades económicas.<br />

Do cruzamento desta variável com o sexo, verifica-se que as raparigas têm<br />

maior probabilidade de dizer que gostam das tarefas domésticas do que os<br />

rapazes (resíduo ajustado de 2,1).<br />

3.6. Interferência da actividade económica e das tarefas domésticas com a<br />

frequência escolar<br />

Perguntou-se ainda se o trabalho realizado na última semana interferiu<br />

directamente com a frequência escolar, com o objectivo de avaliar se o<br />

exercício da actividade referida implicou alguma vez, durante a última semana,<br />

a necessidade de faltar às aulas.<br />

Apenas 13 inquiridos responderam afirmativamente a esta questão (o que<br />

representa 5,6% dos inquiridos com exercício de uma actividade económica na<br />

última semana) 57 .<br />

Para além de todo o conjunto de questões necessárias à caracterização do<br />

trabalho, o questionário contemplava ainda alguns indicadores relativos aos<br />

seus antecedentes, permitindo assim traçar o historial do trabalho realizado na<br />

última semana e a sua articulação com prática presente e passada. Para isto,<br />

perguntou-se aos inquiridos se a actividade que afirmaram ter exercido na<br />

última semana era nova, ou se a teriam iniciado num tempo anterior a essa<br />

semana.<br />

Apenas 18 inquiridos afirmaram que a actividade económica referida foi<br />

realizada apenas na última semana. Os restantes 215 inquiridos disseram que<br />

estas actividades vinham do passado.<br />

57 Para uma comparação do volume de inquiridos que afirmou ter de faltar às aulas na última<br />

semana e num tempo anterior a essa semana (nos casos em que a actividade económica<br />

tenha sido também realizada antes da semana de referência) por motivos relacionados com a<br />

actividade económica, ver gráfico 61 da página 171.<br />

174


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Olhando agora apenas para as situações em que a actividade económica foi<br />

realizada num tempo anterior à última semana, perguntou-se ainda se se<br />

recordavam da idade com que tinham começado a praticá-las.<br />

Gráfico 62 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em sentido<br />

estrito) pelo escalão etário quando iniciou o exercício da actividade, segundo o escalão<br />

etário actual<br />

% 80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

69,8<br />

36,8<br />

32,4<br />

24,5<br />

49,1<br />

27,6<br />

0,0<br />

10,5<br />

18,1<br />

175<br />

0,0<br />

0,0<br />

20,0<br />

5,7<br />

3,5<br />

1,9<br />


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Estes dados permitem-nos perceber a importância do trabalho que foi realizado<br />

na última semana, muito embora não possamos retirar conclusões acerca dos<br />

contornos que essas actividades assumiam no passado, já que as questões<br />

relativas à caracterização da actividade diziam apenas respeito à última<br />

semana.<br />

Quando analisamos a interferência da actividade na frequência escolar num<br />

tempo anterior à última semana, verificamos que a necessidade de faltar às<br />

aulas era maior (percentualmente) no passado do que foi na última semana. De<br />

facto, se na última semana apenas 5,6% dos inquiridos afirmou ter tido<br />

necessidade de faltar às aulas para trabalhar (o que corresponde a 13<br />

indivíduos), aqueles que responderam da mesma forma para o passado<br />

representam 12,1% (da totalidade de inquiridos que afirmou ter realizado a<br />

mesma actividade num tempo anterior à última semana).<br />

Gráfico 63 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram uma<br />

actividade económica e que tiveram de faltar às aulas na última semana e no passado<br />

(nos casos em que a actividade económica foi também realizada antes da última<br />

semana)<br />

%<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

5,6<br />

12,1<br />

176<br />

94,4<br />

Sim Não<br />

última semana passado<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Relativamente às tarefas domésticas, é de salientar que a esmagadora maioria<br />

dos inquiridos afirma que já realizava anteriormente as tarefas domésticas<br />

referidas, sendo que apenas 8 jovens em PIEF afirmam serem tarefas novas.<br />

87,9


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Como podemos observar pelo gráfico seguinte, uma percentagem reduzida<br />

(cerca de 3%) afirma ter tido de faltar às aulas para cumprir as tarefas<br />

domésticas na semana de referência. É interessante ainda fazer uma análise<br />

comparativa com a necessidade de faltar às aulas no passado. Assim,<br />

verificamos que cerca de 6% dos alunos (40 casos) em PIEF que afirmaram ter<br />

realizado tarefas domésticas tiveram para tal de faltar às aulas no passado,<br />

exactamente o dobro dos alunos que afirmam ter tido de faltar às aulas na<br />

semana anterior à realização do inquérito.<br />

Gráfico 64 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas e que tiveram de faltar às aulas na última semana e no passado (nos casos<br />

em que as tarefas foram também realizada antes da última semana)<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

3,1<br />

6,2<br />

177<br />

96,9<br />

93,8<br />

Sim Não teve de faltar<br />

às aulas<br />

última semana passado<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

Ao analisarmos o cruzamento das idades com que os alunos começaram as<br />

tarefas domésticas com a sua idade actual, podemos ver que a maioria dos<br />

inquiridos afirma ter iniciado a actividade com idades inferiores às actuais.<br />

Note-se que 50,8% dos inquiridos que tinham 15 anos à data de aplicação dos<br />

questionários afirmou ter começado a fazer as tarefas domésticas com 11 ou<br />

menos anos, e 40,1% com uma idade compreendida entre os 12 e os 14 anos.<br />

Também aqueles com idades entre os 16 e os 17 anos começaram a cumprir<br />

as tarefas domésticas que realizaram na última semana com 14 ou menos


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

anos (43,7% destes inquiridos afirmou ter começado com menos de 11 anos e<br />

38,4% com idades dos 12 aos 14 anos).<br />

Gráfico 65 – Distribuição dos alunos de PIEF inquiridos < 18 anos que realizaram tarefas<br />

domésticas na última semana pelo escalão etário em que iniciou, segundo o escalão<br />

etário actual<br />

% 80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

74,1<br />

50,8<br />

43,7<br />

22,3<br />

40,1<br />

38,4<br />

0,0<br />

1,7<br />

8,7<br />

178<br />

0,0<br />

0,0<br />

3,4<br />

3,6<br />

7,3<br />

5,9<br />


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 66 – Distribuição dos alunos de<br />

PIEF inquiridos < 18 anos com AE (em<br />

sentido estrito) na última semana, pelo<br />

recebimento de compensação<br />

33,6%<br />

recebeu recompensa<br />

não recebeu recompensa<br />

66,4%<br />

179<br />

Gráfico 67 – Distribuição dos alunos de<br />

PIEF inquiridos < 18 anos que receberam<br />

uma recompensa pelo tipo de recompensa<br />

recebida (TCO)<br />

5,9%<br />

9,9%<br />

84,2%<br />

Dinheiro Géneros Dinheiro e géneros<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

A distribuição do tipo de recompensas não revelou assimetrias entre rapazes e<br />

raparigas.<br />

Relativamente aos géneros recebidos, apenas 2 receberam ajudas de<br />

alimentação e 7 receberam vestuário. Os restantes receberam brinquedos ou<br />

telemóveis.<br />

Olhando agora para os inquiridos que afirmaram ter recebido dinheiro (85 que<br />

receberam apenas em dinheiro e 10 que receberam em dinheiro e géneros, ou<br />

seja, 94,1% do total de inquiridos que afirmaram ter recebido alguma<br />

recompensa pela actividade realizada), 63,4% recebeu menos de 50 Euros (59<br />

inquiridos) e apenas 7 inquiridos receberam mais de 300 Euros. Os restantes<br />

receberam quantias entre estes dois valores (2 dos inquiridos não<br />

responderam).<br />

Ainda relativamente aos inquiridos que receberam uma recompensa monetária<br />

pela actividade económica exercida, 89 afirmaram ter sido eles próprios a<br />

receber e apenas 6 disseram que foi a família / pessoas com quem vivem.


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Daqueles que ganharam dinheiro, 22 deram a maior parte ou todo o dinheiro<br />

que receberam à família / pessoas com quem vivem e 67 deram uma pequena<br />

parte ou nada.<br />

Nos 6 casos em que foi a família a receber o dinheiro pelo trabalho do<br />

inquirido, eles repartem-se igualmente entre os que deram a totalidade do<br />

dinheiro ao inquirido, os que lhe deram uma pequena parte e os que não deram<br />

nada.<br />

Quanto à celebração de contratos de trabalho, apenas 7 dos 152 inquiridos que<br />

afirmaram ter trabalhado por conta de outrem dizem tê-lo celebrado.<br />

180


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

4. As situações de trabalho infantil na última semana<br />

Neste ponto procede-se a uma análise detalhada da trajectória de vida dos<br />

jovens que foram detectados em situação de trabalho infantil na semana de<br />

referência do inquérito, devido ao excessivo número de horas em que<br />

desempenharam actividade económica e/ou tarefas domésticas.<br />

O total de alunos detectados em situação de trabalho infantil na semana de<br />

referência do inquérito é de 39. Estes alunos residem nos seguintes distritos:<br />

Vila Real (7 casos), Porto (6 casos), Viana do Castelo (5 casos), Braga e<br />

Lisboa (4 casos cada), Guarda, Santarém e Viseu (3 casos cada), Évora (2<br />

casos) e Beja e Castelo Branco (1 caso cada).<br />

A maioria destes jovens (21) são rapazes, havendo 18 raparigas. No que<br />

respeita à idade, 25 deles tinham 15 anos à data de aplicação do questionário,<br />

10 tinham 14 anos e havia ainda 4 com 13. Vinte e um dos menores<br />

frequentam PIEF tipo 1 (para conclusão do 6º ano) e 16 estão em PIEF tipo 2<br />

(para conclusão do 9º ano).<br />

Dos 39 jovens que na semana de referência estavam em situação de trabalho<br />

infantil, 20 resultavam do desempenho de uma actividade económica, 17 da<br />

realização de tarefas domésticas e dois estão em situação de trabalho infantil<br />

pelo exercício de uma actividade económica e de tarefas domésticas.<br />

Apesar de esta ser uma análise do conjunto das situações de trabalho infantil,<br />

parece pertinente para um conhecimento mais detalhado dos contornos de<br />

cada uma das situações, analisar alguns aspectos em separado (sector de<br />

actividade, remuneração, motivação para trabalhar, dias e horas em que o<br />

fizeram, até que ponto isso prejudicou a frequência escolar), consoante os<br />

menores se enquadrem na situação de trabalho infantil por actividade<br />

económica ou por tarefas domésticas.<br />

181


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

4.1. Trabalho infantil devido ao exercício de actividade económica<br />

Nos casos em que os jovens estavam em trabalho infantil devido ao exercício<br />

de uma actividade económica (22) 58 , a agricultura foi o sector de actividade em<br />

que a maior parte trabalhou na semana de referência. Houve ainda jovens que<br />

trabalharam nos serviços (estabelecimentos comerciais), um na indústria<br />

(numa fábrica de calçado 59 ) e dois em actividades não especificadas.<br />

Relativamente ao jovem detectado como podendo estar em situação de<br />

trabalho infantil no sector da indústria, que afirmou ter trabalhado numa fábrica<br />

de calçado, importa esclarecer que este trabalho foi realizado numa fábrica<br />

familiar, propriedade do pai do jovem, e que esse trabalho foi remunerado.<br />

Catorze destes jovens eram trabalhadores familiares não remunerados. Os<br />

restantes desenvolveram actividade por conta de outrem, ainda que bastante<br />

relacionada com o contexto familiar. Cinco dos oito jovens que tinham<br />

actividade por conta de outrem referem receber o pagamento de<br />

pais/familiares; há um caso em que a inquirida afirma mesmo não receber<br />

qualquer remuneração. Nenhum destes jovens celebrou qualquer contrato de<br />

trabalho.<br />

Dos sete jovens que desempenharam actividade por conta de outrem e<br />

receberam remuneração, apenas uma recebeu em dinheiro e géneros (5 a 10<br />

euros por semana, roupas e uma bicicleta). Nas situações em que os inquiridos<br />

receberam valores mais elevados (mais de 500 euros por mês) esses<br />

pagamentos foram efectuados pelo empregador.<br />

Apenas num caso foi a família que recebeu o pagamento pelo trabalho do<br />

menor. Nos restantes o pagamento foi feito aos próprios jovens. Apesar disso,<br />

praticamente todos deram dinheiro à família ou compraram coisas para a casa.<br />

Para si próprios compraram artigos como ténis, roupa e sapatos (num dos<br />

casos, também um telemóvel).<br />

58<br />

Destes 22 casos, 20 referem-se só a actividade económica e 2 a esta actividade mais o<br />

desempenho de tarefas domésticas.<br />

59<br />

Este inquirido é um rapaz de 15 anos, de Felgueiras.<br />

182


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Relativamente ao número de dias da semana em que trabalharam, 9 inquiridos<br />

referem tê-lo feito todos os dias, incluindo ao fim-de-semana. Oito dão<br />

respostas algo contraditórias, uma vez que referem numa das perguntas ter<br />

trabalhado só ao fim-de-semana e na outra afirmam tê-lo feito dia sim, dia não.<br />

Há ainda dois jovens que respondem “seis dias por semana” e outros dois “de<br />

2ª a 6ª”.<br />

A grande razão apontada por praticamente todos os inquiridos para terem<br />

trabalhado na última semana foi para ajudar a família/pessoas com quem<br />

vivem. Apenas um afirma que foi por ter querido ganhar algum dinheiro e outro<br />

que foi obrigado pela família. A grande maioria dos jovens afirmou ter gostado<br />

de fazer esse trabalho.<br />

Só um dos inquiridos refere ter faltado à escola 60 na última semana por causa<br />

do exercício da actividade. Sete referem ter realizado trabalho também após as<br />

oito da noite 61 e um afirmou só trabalhar depois dessa hora 62 .<br />

Os oito inquiridos que trabalharam depois das oito da noite<br />

(independentemente de terem também trabalhado antes dessa hora)<br />

realizaram os seguintes trabalhos: três trabalharam para a família, dos quais<br />

um rapaz e uma rapariga, ambos com 15 anos, e realizaram trabalho<br />

agrícola 63 , e um rapaz de 14 anos trabalhou num negócio ou empresa familiar,<br />

a tender clientes 64 ; os restantes cinco trabalharam por conta de outrem, dois no<br />

sector dos serviços (um rapaz de 15 anos trabalhou num negócio ou empresa,<br />

a atender clientes 65 , e uma rapariga, também com 15 anos, trabalhou num<br />

restaurante ou café, a servir à mesa e a atender clientes 66 ), dois no sector da<br />

agricultura (dois rapazes, um com 14 e outro com 15 anos, que disseram ter<br />

trabalhado nas vindimas, na apanha da fruta, a tratar de animais, a semear e<br />

60 Este aluno trabalhou por conta de outrem, mas não especificou o trabalho que fez.afirmou<br />

ainda ter faltado outras vezes à escola para trabalhar. Este aluno é um rapaz de 15 anos de do<br />

município de Seia, que frequenta um PIEF de tipo 1 na Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos<br />

Guilherme Carvalho<br />

61 Destes sete, dois são do distrito de Santarém, 3 de Vila Real, um de Trancoso e um de<br />

Évora. Quatro são rapazes e três são raparigas; quatro têm 15 anos e três têm 14.<br />

62 É uma rapariga, do distrito de Serpa, com 15 anos.<br />

63 Ambos afirmaram ter começado a trabalhar com menos de 11 anos.<br />

64 Este rapaz afirmou ter começado a trabalhar com menos de 11 anos.<br />

65 Este rapaz afirmou fazer este trabalho desde os 12 anos.<br />

66 Esta rapariga disse ter iniciado este trabalho com 13 anos.<br />

183


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

na apanha da azeitona 67 ), e uma rapariga de 14 anos não especificou o<br />

trabalho que fez. O rapaz de 15 anos que trabalhou por conta de outrem no<br />

sector da agricultura foi o único destes oito que considerou o trabalho difícil, e<br />

atribuiu o grau de dificuldade à perigosidade.<br />

4.2. Trabalho infantil devido a tarefas domésticas<br />

Conforme foi referido anteriormente, há 19 jovens em situação de trabalho<br />

infantil devido a tarefas domésticas em excesso. A tarefa doméstica mais<br />

referida foi limpar o pó/arrumar a casa (por 17 dos jovens) 68 . As tarefas<br />

“cozinhar/aquecer comida”, “lavar/passar roupa”, “tomar conta de<br />

crianças/idosos” e “fazer reparações domésticas” foram mencionadas por 7, 6,<br />

3 e 2 jovens, respectivamente 69 .<br />

Praticamente todos estes inquiridos cumpriram estas tarefas todos os dias,<br />

incluindo fim-de-semana; só um refere tê-lo feito seis dias por semana e outro<br />

de 2ª a 6ª. A maioria (13) ocupou duas a quatro horas diárias a fazê-lo; quatro<br />

respondem “entre 4 a 6 horas” e dois “mais de 6 horas”. Nenhum refere ter<br />

faltado às aulas na última semana devido ao desempenho destas tarefas,<br />

embora seis já tivessem faltado à escola por este motivo no passado.<br />

Apesar de a maioria dos inquiridos (11) ter realizado estas tarefas durante o<br />

dia, há dois que as fizeram exclusivamente depois das oito da noite e seis<br />

também à noite.<br />

No que respeita às razões pelas quais fizeram estas tarefas, 17 dos jovens<br />

referem “para ajudar a família”, 4 consideram ter esse dever e um afirma ter<br />

sido obrigado 70 .<br />

67<br />

Ambos disseram fazer este trabalho desde os 10 anos de idade.<br />

68<br />

16 destes jovens fizeram ainda tarefas leves em casa, como arrumar o quarto, fazer a cama<br />

ou ir às compras.<br />

69<br />

O total de resposta ultrapassa as 19 por esta ser uma pergunta de resposta múltipla.<br />

70<br />

O total de resposta ultrapassa as 19 por esta ser uma pergunta de resposta múltipla.<br />

184


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Apenas um considerou as tarefas domésticas difíceis, por as achar cansativas<br />

e não ter gostado de as fazer; três disseram que não eram fáceis nem difíceis e<br />

os restantes acharam-nas fáceis. A grande maioria (14) gostou de as realizar.<br />

Todos já desempenhavam estas tarefas antes da última semana. A idade em<br />

que as raparigas começaram a desempenhar essas tarefas varia entre os 5 e<br />

os 11 anos, enquanto a dos rapazes varia entre os 7 e os 14 anos.<br />

Os dados revelam também que cinco destes jovens realizaram algum outro tipo<br />

de trabalho em paralelo (para além das tarefas domésticas) na semana de<br />

referência - um na agricultura, três nos serviços (dois dos quais num<br />

restaurante/café) e um noutra ocupação não especificada.<br />

Quanto à periodicidade do trabalho em actividade económica, feito em paralelo<br />

com as tarefas domésticas aqui em análise, dois deles fizeram-no todos os<br />

dias, incluindo fim-de-semana (durante mais de 6 horas por dia) e outros dois<br />

trabalharam um dia por semana (um de 2 a 4 horas e outro de 4 a 6 horas). Um<br />

destes jovens realizou trabalho exclusivamente nocturno 71 , enquanto dois o<br />

fizeram tanto de dia como após as oito da noite 72 .<br />

A principal razão invocada por estes cinco inquiridos para ter trabalhado na<br />

última semana foi o ajudar a família. Um dos inquiridos refere tê-lo feito por não<br />

estar interessado na escola. A maioria considera que o trabalho que efectuou<br />

era fácil e já o fazia antes da última semana. As idades de início desta<br />

actividade foram 5, 8 e 13 anos. Um afirma já ter faltado à escola por causa<br />

desta actividade.<br />

Apenas um dos jovens recebeu alguma recompensa por este trabalho (50 a 60<br />

Euros por tarefa, que lhe foram pagos pelos pais/familiares). Apesar de ter<br />

ficado com todo o dinheiro, comprou coisas para a casa e para a família,<br />

nomeadamente roupas.<br />

Voltando à análise das tarefas domésticas no seu sentido mais estrito (apenas<br />

realizadas na esfera do lar), nota-se claramente que as raparigas têm muito<br />

mais atribuições neste campo que os rapazes. Praticamente todas as raparigas<br />

71 Uma rapariga, de 14 anos, do distrito de Lisboa.<br />

72 Estes estão tanto em situação de trabalho por actividade económica e por tarefas<br />

domésticas.<br />

185


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

referiram arrumar o quarto, ajudar na cozinha em tarefas como lavar e limpar<br />

loiça ou pô-la na máquina e outras, havendo apenas um rapaz que afirmou<br />

desempenhar várias tarefas no lar e três que deram ajudas pontuais, tipo fazer<br />

a cama e arrumar o quarto.<br />

4.3. Trajectórias de trabalho no passado<br />

Dezoito dos inquiridos referem que já tiveram pelo menos outra actividade no<br />

passado (16 mencionam ter tido apenas uma actividade no passado, e 2<br />

disseram ter já tido dois ou mais trabalhos). Destes, 12 são rapazes e 6 são<br />

raparigas. Os sectores de actividades em que trabalharam foram a agricultura,<br />

a construção civil (apenas os rapazes), os serviços e a indústria: seis<br />

trabalharam nas obras (quatro começaram com 12 anos, um com 13 e um com<br />

14), seis no campo (três começaram com 8 anos e os restantes três entre os<br />

12-14 anos), dois numa empresa ou negócio (começaram com 13 e 14 anos),<br />

dois numa fábrica (começaram com 14 anos) e um num negócio familiar<br />

(começou com 9 anos).<br />

Os que trabalharam nas obras desempenharam funções como carregar<br />

cimento e tijolos; um destes revela ainda que serrava e pintava. As tarefas<br />

desempenhadas no âmbito do trabalho agrícola incluíram trabalhar nas<br />

vindimas, apanhar fruta, azeitonas, tratar de animais e semear, entre outras.<br />

Os que trabalhavam na fábrica faziam embrulhos e embalagens e outros<br />

serviam às mesas e atendiam clientes, num restaurante ou café.<br />

A razão mais invocada para terem trabalhado foi o ajudar a família (11 casos).<br />

O “querer ganhar algum dinheiro” foi mencionado por oito jovens. Dois referem<br />

ter o dever de o fazer e um diz ter sido obrigado.<br />

Só um inquirido refere ter trabalhado exclusivamente ao fim de semana. Todos<br />

os outros trabalharam pelo menos cinco dias por semana (7 respondem de<br />

segunda a sexta, 4 seis dias por semana e 7 todos os dias incluindo fim-de-<br />

semana). No que respeita ao número de horas que trabalham por dia, a maior<br />

parte dos inquiridos (10) fê-lo mais de 6 horas; cinco referem 4 a 6 horas, dois<br />

186


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2 a 4 horas e um 1 a 2 horas. Três dos inquiridos realizavam também trabalho<br />

nocturno (após as oito da noite) e apenas um celebrou contrato de trabalho,<br />

com a duração de 3 meses.<br />

Igualmente se nota que 11 só trabalhavam nas férias escolares, cinco todas as<br />

semanas, um de vez em quando e outro diz que apenas uma única vez: só um<br />

diz ter tido de faltar à escola para fazer esse trabalho. No entanto, há 3 que<br />

nessa altura estavam em situação de abandono escolar, ou pelo menos de<br />

absentismo, uma vez que, quando se lhes pergunta “quando é que realizavam<br />

esse trabalho relativamente ao tempo escolar”, optam pela resposta “não se<br />

aplica porque não andava na escola”.<br />

Quanto ao grau de dificuldade do trabalho, a maior parte dos jovens (10)<br />

avalia-o como fácil, 4 como difícil e 4 como nem fácil nem difícil. Os que o<br />

consideram difícil são três dos que trabalharam nas obras e um no campo;<br />

todos referem que era muito cansativo e dois consideram ainda que era<br />

perigoso. Ainda assim, a maioria dos jovens (11) diz ter gostado de o fazer,<br />

com apenas dois a responder que não e cinco que mais ou menos.<br />

A grande maioria destes jovens (16) recebeu alguma recompensa pelo trabalho<br />

que realizou no passado. Quatro dizem ter recebido em géneros (um destes<br />

recebeu também algum dinheiro). Os géneros recebidos foram comida,<br />

telemóvel e vestuário, na sua maioria pagos pela família. Apenas um deu tudo<br />

o que recebeu a membros da família.<br />

Nos casos em que o pagamento foi feito em dinheiro, foram sempre os próprios<br />

jovens que o receberam, à excepção de uma situação. Os pagamentos foram<br />

quase sempre efectuados pelo empregador. Apesar disso, metade deu pelo<br />

menos algum dinheiro à família. Todos os menores referem ter comprado<br />

coisas para si (vestuário, telemóvel, entre outras), à excepção de um que diz<br />

não ter gasto nada porque está a poupar.<br />

187


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

4.4. Núcleo familiar e redes de sociabilidade<br />

A situação mais frequente é aquela em que os inquiridos vivem pelo menos<br />

com a mãe e pai (27 dos 39 casos). Oito dizem viver com a mãe ou com o pai,<br />

três vivem com outros familiares e um está institucionalizado. A maioria (11<br />

jovens) tem apenas um irmão, seguindo-se os que têm dois (8) e os que têm<br />

três (7). A maior parte dos jovens (12) vive com três pessoas; seguem-se os<br />

que vivem com quatro (8) e os que vivem com cinco (7). Apenas em dois casos<br />

há um membro da família (o pai) que costuma estar ausente de casa.<br />

Na grande maioria dos casos (28), são as mães as encarregadas de educação.<br />

Só em 5 casos essa responsabilidade é do pai, em três de um irmão ou irmã,<br />

em dois de avós e em um de um não familiar. Os encarregados de educação<br />

costumam também ir às reuniões na escola (em 30 dos casos).<br />

Relativamente à profissão e instrução dos pais, as mães são na maioria<br />

domésticas (13) e trabalhadoras não qualificadas (10) e têm instrução ao nível<br />

do 1º ciclo do ensino básico (19); seguem-se as que têm o 2º ciclo (7) e há uma<br />

com o ensino superior e três que não estudaram. Os pais são essencialmente<br />

operários, artífices e similares (12), trabalhadores da agricultura e pescas (5) e<br />

trabalhadores não qualificados (4). Apresentam um nível de instrução muito<br />

baixo, semelhante ao das mães: vinte têm o 1º ciclo do básico e quatro o 2º<br />

ciclo do básico.<br />

Em geral, os jovens dizem manter boas relações com vários membros da<br />

família (20 pelo menos com o pai e com a mãe e 14 pelo menos com a mãe).<br />

Apenas dois referem pessoas de fora da família como aquelas com quem se<br />

relacionam melhor. Em cerca de metade dos casos, os pais ajudam-nos nos<br />

trabalhos da escola e a estudar. Todos dizem passar tempo com os pais<br />

durante a semana e apenas quatro não o fazem ao fim-de-semana.<br />

Embora a maioria dos inquiridos refira que passa grande parte dos seus<br />

tempos livres em casa, todos têm amigos (na maioria vizinhos e/ou colegas de<br />

188


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

escola) e ocupações de tempos livres; entre as quais conversar, passear, ir ao<br />

café, praticar desporto, entre outras.<br />

A maioria destes jovens (28) diz não ter amigos que trabalhem e sejam pagos<br />

por isso; o que pode revelar a reduzida escala do fenómeno, ou, tratando-se de<br />

actividades socialmente condenáveis, preferem omiti-las.<br />

4.5. Condições de habitabilidade<br />

A maioria dos inquiridos (28) diz viver numa casa que é propriedade da família;<br />

10 vivem numa casa alugada e um numa instituição de acolhimento. Apenas<br />

quatro vivem num bairro social.<br />

As condições de habitabilidade são em geral boas. Ainda assim, três dos<br />

menores revelaram não ter casa de banho e água canalizada, dois não têm<br />

gás, um não tem máquina de lavar roupa e outro não tem frigorífico.<br />

Os equipamentos mais em falta são o computador (em 20 casos), aquecimento<br />

(19) e telefone fixo (18). Apenas sete dispõem de ligação à Internet. Quase<br />

todos os jovens (33) dispõem de telemóvel próprio.<br />

Na maioria dos alunos (28) as casas onde habitam têm três ou mais<br />

assoalhadas e cada aluno tem um quarto só para si.<br />

4.6. Vida escolar antes e depois do PIEF<br />

A inserção na vida escolar fez-se, para a cerca de metade destes alunos, no<br />

ensino pré-escolar, pela frequência de um infantário ou jardim de infância.<br />

Em termos de insucesso escolar, apenas dois destes alunos afirmaram nunca<br />

ter tido uma retenção escolar 73 . A maior parte (14) ficou retido três vezes, 10<br />

73 No entanto, estes dois alunos estiveram em situação de abandono não formalizado uma vez,<br />

um no 6º ano e outro no 5º ano de escolaridade; um aponta como causa deste absentismo<br />

escolar o facto de “não gostar do ambiente da escola” e o outro não especifica as razões. O<br />

189


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

ficaram-no duas vezes e 8 uma vez. Só 8 destes jovens nunca chumbaram<br />

durante o 1º ciclo.<br />

Os resultados revelam uma certa dispersão nos motivos referidos para terem<br />

ficado retidos: não gostar da escola, faltar muito, mau comportamento, entre<br />

outros.<br />

As famílias reagiram a esta situação de insucesso de várias formas: a maioria<br />

(27) ralhou ao jovem ou pelo menos falou com ele e algumas (10) chegaram a<br />

castigá-los.<br />

Relativamente ao abandono escolar, 10 fizeram-no formalmente (um por ter<br />

estado doente, outro por ter um familiar doente, outro por ter de ir trabalhar e<br />

os restantes por razões como não gostar das aulas, dos colegas ou ter<br />

dificuldades de aprendizagem). Na maioria dos casos (7), os inquiridos<br />

abandonaram a escola uma vez; nenhum o fez durante o 1º ciclo.<br />

Mesmo entre os 29 que não abandonaram formalmente a escola, há 17 que<br />

deixaram de ir às aulas por um longo período de tempo; na maioria das<br />

situações tal aconteceu durante um ano lectivo. Apenas três dos menores<br />

disseram tê-lo feito por se encontrarem doentes. As principais razões<br />

apontadas estão ligadas ao não gostar da escola ou dos colegas, não<br />

aprender/dificuldades de aprendizagem ou mau comportamento, entre outras.<br />

Apesar destes percursos de insucesso, é visível que a ida para PIEF permitiu<br />

uma mudança de perspectiva face à escola. Desde que estes alunos estão em<br />

PIEF, a maioria diz que actualmente muito raramente ou nunca falta às aulas<br />

(19 respostas nos dois casos), essencialmente porque querem acabar o 9º<br />

ano/continuar a estudar. Assim, afirmam faltar apenas quando estão doentes<br />

ou vão ao médico. Os 10 inquiridos que faltam pelo menos uma a duas vezes<br />

por mês alegam que querem fazer outras coisas (ex: estar com amigos) e/ou<br />

não gostam de ter aulas; um destes diz que é por ir à feira e outro porque está<br />

muitas vezes doente.<br />

aluno que deixou de ir à escola durante o 5º ano falta regularmente às aulas porque “quer fazer<br />

outras coisas (estar com os amigos, etc.)”.<br />

190


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Aliás, quase todos (36) reconhecem que o que aprendem em PIEF é<br />

importante para a vida futura 74 , sobretudo porque lhes ensina “coisas práticas<br />

que os podem ajudar a arranjar um emprego”. A avaliação que fazem do PIEF<br />

é globalmente positiva: 37 dos 39 jovens referem estar mais interessados na<br />

escola, 36 dizem que têm melhores notas, 35 que aprendem coisas mais<br />

práticas e 34 que aprendem mais nas aulas.<br />

Note-se ainda que a maioria afirma que agora ajuda mais a família e fala mais<br />

com ela sobre a escola (24 e 25 respostas positivas, respectivamente), bem<br />

como que sente que têm menos trabalho e mais tempo livre. É ainda de<br />

acrescentar que apenas um destes jovens avalia o seu desempenho escolar<br />

como mau: 21 consideram-no que satisfatório, 14 bom e 3 avaliam o seu<br />

desempenho escolar de excelente.<br />

A maioria destes jovens não recebe bolsa de formação por estar em PIEF. Dos<br />

10 que respondem afirmativamente, oito recebem em géneros (alimentação,<br />

material escolar e vestuário), um recebe apenas em dinheiro e outro em<br />

dinheiro e géneros.<br />

4.7. Desvio à norma e sanções<br />

No que se refere às condutas desviantes e inerentes sanções, verifica-se que a<br />

maioria (26) nunca teve um processo disciplinar, contra treze que respondem<br />

afirmativamente (destes, 10 são rapazes e 3 são raparigas). A maior parte (5)<br />

dos que tiveram refere que isso aconteceu uma vez e as categorias “2 vezes” e<br />

“mais de 5 vezes” têm cada uma três respostas. As raparigas respondem todas<br />

“uma vez”.<br />

Dos 39 alunos, três (todos rapazes) já foram expulsos da escola por uma vez.<br />

As razões que justificaram as expulsões são: ter estragado material escolar;<br />

agressão/insultos a professores; e mau comportamento nas aulas.<br />

74 Dos três que respondem negativamente, um refere que não aprende nada de novo e os<br />

restantes dizem que não sabem explicar porque é que o que aprendem em PIEF não é<br />

importante.<br />

191


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Igualmente os problemas com a polícia são referidos por uma minoria. De<br />

facto, 9 dos inquiridos (5 rapazes e 4 raparigas) disseram que já tiveram<br />

problemas com a polícia. Quanto às razões pelas quais tal aconteceu, uma das<br />

raparigas diz ter sido por faltar muito/abandono escolar, duas por outras razões<br />

e uma não responde. Dois dos rapazes mencionam disseram que os<br />

problemas com a polícia resultaram de faltas regulares às aulas, abandono<br />

escolar e agressão (um destes refere ainda roubo), um refere problemas<br />

relacionados com droga, um apenas agressão e outro justifica-o por outra<br />

razão, que não especifica.<br />

4.8. Expectativas para o futuro<br />

Relativamente à profissão que desejam ter no futuro, os rapazes referem<br />

sobretudo profissões como mecânico, motorista das obras, jogador de futebol,<br />

agricultor, médico e outras, havendo ainda dois que não sabem. As raparigas<br />

optam por educadora de infância, cabeleireira, massagista, médica, arquitecta<br />

e outras.<br />

Quando se lhes pergunta quais as qualificações que julgam necessárias para<br />

ter a profissão que gostavam, a maior parte (13) responde ser 9º ano,<br />

seguindo-se os que referem o 12º ano (8), a universidade (6) e os que pensam<br />

que têm de tirar um curso profissional (4).<br />

Já quando se lhes pergunta até onde pensam estudar, quinze referem “até ao<br />

9º ano”, onze “até ao 12º ano”, seis querem tirar um “curso profissional” e dois<br />

apenas “até ao o 6º ano”.<br />

A maioria destes inquiridos (18) afirma que se nesta altura das suas vidas lhes<br />

oferecessem trabalho remunerado aceitá-lo-iam. Dos restantes, há 12 que não<br />

mudariam de ideias em circunstância nenhuma. Os aspectos que mais<br />

pesariam na decisão de aceitar trabalho remunerado são ter tempo livre, ser<br />

bem pago e ter tempo para estar com os amigos.<br />

192


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Os sonhos explicitados por estes jovens para o futuro são essencialmente ter<br />

uma casa (23 respostas), tirar a carta de condução (15), ter filhos/família (14),<br />

casar (13), viajar e ter dinheiro (11 respostas cada) e ter saúde (10).<br />

193


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

D. SITUAÇÕES EMERGENTES E ANÁLISE DAS CONDICIONANTES<br />

SOCIAIS DO TRABALHO INFANTIL<br />

As escolas onde decorrem os PIEF são igualmente frequentadas por alunos do<br />

ensino regular. A coexistência numa mesma escola de alunos com as duas<br />

características, permite-nos assegurar um conjunto de características mínimas<br />

de homogeneidade destes alunos para o mesmo local.<br />

Estão assim reunidas as condições metodológicas necessárias para que seja<br />

possível uma análise comparativa entre duas amostras: aluno de PIEF e alunos<br />

do ensino regular.<br />

Uma vez que entre os alunos PIEF vamos encontrar uma percentagem elevada<br />

de jovens que já experimentaram o trabalho infantil, a análise comparativa 75<br />

entre os alunos de PIEF e os alunos do ensino regular será importante para<br />

perceber quais as condições sociais, económicas e culturais que com maior<br />

probabilidade podem conduzir a situações de trabalho infantil.<br />

A construção da amostra emparelhada foi feita com base nos valores iniciais de<br />

questionários a realizar aos alunos de PIEF. Tínhamos inicialmente previsto o<br />

emparelhamento de 1228 alunos de PIEF com alunos do ER. Este valor ficou<br />

reduzido a 684 parelhas (cerca de 56% relativamente à nossa previsão inicial).<br />

Os pressupostos metodológicos da construção de duas amostras<br />

emparelhadas são descritos de seguida.<br />

75 A análise comparativa das múltiplas variáveis objecto de estudo foi efectuada a partir de<br />

testes não-paramétricos, como o cálculo do Qui 2 , V de Cramer, Phi, tabelas cruzadas e, dentro<br />

destas, o resíduo ajustado e estandardizado da diferença entre o valor observado e o esperado<br />

célula a célula (só foram considerados significativos os que são superiores, em módulo, a 1,96,<br />

valor a partir do qual a assimetria da distribuição é estatisticamente significativa).<br />

194


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

1. Critérios de emparelhamento: idade, ano escolar, sexo e escola<br />

Como se referiu no capítulo metodológico 76 , os emparelhamentos foram feitos<br />

com base em três critérios: o sexo, o ciclo de escolaridade e a escola.<br />

Relativamente ao ciclo de escolaridade, relembramos que os alunos de PIEF<br />

emparelham com os alunos de ensino regular a partir da sua idade no início do<br />

ano lectivo, agregada em escalões etários correspondentes às idades de<br />

frequência dos ciclos escolares (


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

2. Dinâmicas de trabalho infantil nos alunos do PIEF e do ensino regular<br />

Como vimos na caracterização e análise das actividades desenvolvidas pelos<br />

jovens e crianças inseridos em PIEF, o número de alunos em situação de<br />

trabalho infantil na semana de referência não ultrapassava os 3,6% da<br />

totalidade de alunos de PIEF inquiridos (que corresponde, como já vimos, a 39<br />

alunos de PIEF). Isto significa que, uma vez que os 684 alunos de PIEF que<br />

constam na base de dados de emparelhamentos foram retirados da totalidade<br />

de alunos já estudada, não encontraremos aqui outras situações para além das<br />

que foram analisadas em pontos anteriores deste relatório.<br />

A questão subjacente à análise a efectuar neste ponto é a de saber se os<br />

alunos do ensino regular têm uma probabilidade de conhecer práticas de<br />

trabalho infantil diferente dos que frequentam o programa PIEF. De facto, por<br />

um lado, a penalização do trabalho infantil enquanto problema social e, por<br />

outro lado, a estigmatização dos jovens que o praticam face aos “outros”, que<br />

seriam os “normais”, apontaria nesse sentido.<br />

Vejamos a evidência empírica resultante do estudo comparativo entre alunos<br />

PIEF e do ensino regular, que constituem a base de dados emparelhada.<br />

Fazendo a análise para os alunos que conheceram situações de trabalho<br />

infantil no passado, já que este é numericamente mais relevante que o da<br />

semana de referência, verifica-se que há uma relação estatística de<br />

dependência entre a “prática de trabalho infantil” e o “ser aluno PIEF ou do<br />

ensino regular”.<br />

Só por si, tal facto é significativo da pertinência da questão colocada<br />

inicialmente, o que vai ter implicações no nível da análise dos pontos<br />

seguintes. Mas centremo-nos agora na análise mais detalhada da estrutura da<br />

relação entre estas duas variáveis.<br />

Em primeiro lugar, refira-se que a percentagem dos alunos que conheceram<br />

trabalho infantil no passado é menor do que a dos que não tiveram tal<br />

experiência, tanto nos alunos PIEF, como nos do ensino regular<br />

(respectivamente, 27,3% e 14,5%).<br />

196


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Todavia, a diferença existente entre tais percentagens nos dois tipos de alunos<br />

é estatisticamente significativa (resíduo ajustado e estandardizado igual a 5,9),<br />

podendo mesmo calcular-se que a probabilidade de haver trabalho infantil nos<br />

alunos PIEF é cerca de duas vezes superior à dos do ensino regular 77 . No que<br />

se refere ao tipo de trabalho efectuado, a única situação estatisticamente<br />

significativa consiste na maior probabilidade dos alunos PIEF terem trabalhado<br />

numa empresa e dos do ensino regular em tarefas de casa ou no campo.<br />

Centremos agora a análise só nos alunos do ensino regular que praticaram<br />

trabalho infantil no passado e na semana de referência, já que os do PIEF<br />

foram objecto de tratamento em alíneas anteriores.<br />

Começando pelo trabalho infantil no passado, e de um ponto de vista<br />

geográfico, nota-se que a região Norte tem a maior percentagem de alunos do<br />

ensino regular com tal situação. Este fenómeno é igualmente mais frequente<br />

entre os rapazes (82.8%), afecta o sucesso escolar de cerca de metades dos<br />

alunos (45,5%), mas apenas 15,2% diz ter abandonado a escola.<br />

No que se refere às expectativas, a prática de trabalho infantil parece não<br />

afectar significativamente as intenções de continuar os estudos até à<br />

licenciatura universitária de 48,5% dos alunos, já que só 10,1% diz não<br />

pretende ultrapassar o 9º ano da escolaridade obrigatória. Estes valores<br />

contrastam com os obtidos para os alunos PIEF, onde encontramos mais<br />

alunos que referiam o contrario. A maioria diz, também, que nunca teve um<br />

processo disciplinar (76,8%), nem que foi expulsa da escola (98%).<br />

Os valores obtidos para os alunos do ensino regular que praticaram trabalho<br />

infantil na semana de referência, ainda que menos expressivos em algumas<br />

variáveis (p. ex., o peso dos rapazes é de 57,1%) são em tudo semelhantes<br />

aos descritos anteriormente.<br />

Passemos em seguida à análise comparativa de alunos PIEF e do ensino<br />

regular.<br />

77 Ainda que com valores menos expressivos, os resultados em relação à semana de referência<br />

também revelam uma maior incidência de trabalho infantil entre os alunos PIEF. Refira-se que,<br />

mesmo tendo um menor peso, na amostra emparelhada também se detectaram 21 casos<br />

classificáveis como trabalho infantil, entre os alunos do ensino regular.<br />

197


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

3. Núcleo familiar e redes de sociabilidade<br />

Os contextos sociais, culturais e económicos em que se inserem os alunos de<br />

PIEF e os alunos do ER apresentam características muito diferentes. A análise<br />

comparada destas dimensões é central para a problematização das questões<br />

do insucesso e abandono escolar, bem como do trabalho infantil.<br />

O primeiro factor que aponta para uma assimetria nos dois grupos de alunos<br />

diz respeito à mobilidade geográfica, que é um elemento do contexto<br />

envolvente que nos pode indicar a presença ou ausência de alguma<br />

estabilidade, nomeadamente no que respeita aos percursos escolares (uma<br />

maior mobilidade pode implicar a mudança de escola que, como se sabe, é um<br />

factor destabilizador na vida escolar dos jovens e crianças). Verifica-se que a<br />

maioria dos alunos viveu sempre no mesmo município (o total marginal de<br />

inquiridos que deu esta resposta corresponde a 77,6% dos 1368 inquiridos).<br />

Mas, relativamente àqueles que afirmaram não ser assim, os alunos de PIEF<br />

destacam-se (59,3% dos inquiridos que afirmaram não ter vivido sempre no<br />

mesmo município são alunos de PIEF). A esta assimetria está associada ainda<br />

uma significativa probabilidade dos alunos com maior mobilidade geográfica<br />

serem alunos de PIEF 78 .<br />

Se olharmos para as características das famílias destes alunos, encontramos<br />

algumas assimetrias importantes. O tipo de agregado familiar onde se insere a<br />

maioria destes alunos (independentemente do tipo de ensino frequentado) tem<br />

características de família nuclear 79 . No entanto, olhando para a distribuição dos<br />

inquiridos com famílias alargadas ou que estão institucionalizados (que<br />

representam, respectivamente, 20% e 2% da nossa amostra emparelhada),<br />

percebemos existir uma maior probabilidade de os alunos de PIEF se inserirem<br />

nestas categorias 80 (o que se traduz numa maioria de alunos de PIEF que<br />

78 O resíduo ajustado estandardizado é de 3,7, que indica um volume de respostas nesta<br />

categoria muito superior ao esperado se a distribuição fosse simétrica.<br />

79 Tínhamos já visto também que, para os alunos de PIEF cujas características foram tratadas<br />

em capítulos anteriores, a maioria pertencia a uma família nuclear.<br />

80 Resíduos ajustados estandardizados de 3,7 e 4,6, respectivamente.<br />

198


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

afirmaram viver numa família alargada ou numa instituição, uma vez que<br />

estamos a trabalhar com amostras de igual dimensão).<br />

Na análise das respostas relativas ao número de pessoas com quem vive, as<br />

conclusões que podemos retirar vão no mesmo sentido: no que respeita aos<br />

alunos inquiridos que afirmaram viver apenas com uma pessoa, não<br />

encontramos grandes assimetrias entre aluno de PIEF e alunos do ER; nos<br />

agregados constituídos por 2 a 3 pessoas, os alunos do ensino regular estão<br />

em maioria; e, há medida que aumenta o número de membros pertencentes<br />

aos agregados familiares, muito embora se verifique um decréscimo em valor<br />

absoluto do número de alunos de PIEF pertencentes a agregados mais<br />

numerosos, a probabilidade de estes alunos fazerem parte destas famílias<br />

aumenta progressivamente, quando comparados com os alunos do ER.<br />

Esta análise repete-se ainda relativamente ao número de irmãos que estes<br />

inquiridos afirmaram ter. Do total dos 1368 alunos de PIEF e do ER que<br />

constituem a nossa amostra, 70,8 afirmou ter irmãos. Olhando agora apenas<br />

para os alunos que têm irmãos, 60,3% disse ter apenas um irmão. No entanto,<br />

o cruzamento desta variável com o tipo de ensino frequentado aponta para<br />

uma probabilidade significativamente alta de serem os alunos do ER aqueles<br />

com menos irmãos. De facto, muito embora os valores absolutos nos indiquem<br />

que, independentemente do tipo de ensino frequentado, estes inquiridos têm<br />

um número reduzido de irmãos, à medida que este número cresce, aumenta<br />

também o peso relativo de alunos de PIEF. Isto significa que, relativamente aos<br />

alunos que afirmaram ter dois ou mais irmãos, a probabilidade de estarem<br />

inseridos em PIEF é maior.<br />

Noutro capítulo deste relatório, fez-se uma caracterização breve dos pais dos<br />

alunos de PIEF inquiridos, e chegou-se à conclusão que eram, na sua maioria,<br />

detentores de fracos capitais escolares. Se voltarmos a olhar para esses<br />

indicadores, mas agora recorrendo ao emparelhamento como instrumento de<br />

controlo, que nos permite fazer uma análise comparativa dos factores de<br />

contexto envolvente dos alunos que constituem as duas amostras com que<br />

temos vindo a trabalhar, encontramos alguns elementos interessantes.<br />

199


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Do total de inquiridos que constam da nossa base de dados de<br />

emparelhamentos, 91,8% vive com a mãe e/ou o pai (independentemente de<br />

viver com mais familiares ou não familiares) 81 .<br />

Relativamente à idade da mãe, as distribuições são semelhantes para os dois<br />

grupos, com a maioria das mães a terem idades entre os 35 e os 44 anos<br />

(62,4%).<br />

Quanto à idade do pai, verificamos que a maioria tem também entre 35 e 44<br />

anos (53,8%). No entanto, os alunos de PIEF têm uma maior probabilidade de<br />

terem pais mais velhos, com idades superiores a 55 anos 82 .<br />

A maioria das mães e pais destes alunos são casados, muito embora esta<br />

percentagem seja superior nos alunos do ER, que surgem aqui com uma maior<br />

probabilidade associada.<br />

Se olharmos agora para as habilitações dos pais destes alunos, encontramos<br />

assimetrias significativas. Os gráficos abaixo representam as distribuições dos<br />

níveis de instrução da mãe e do pai de alunos de PIEF e alunos do ER.<br />

A ausência de instrução, que está representada nas duas primeiras categorias,<br />

apresenta percentagens muito residuais, mas que ainda assim são mais<br />

elevadas nos pais de aluno de PIEF.<br />

81 Destes inquiridos que vivem com a mãe e/ou o pai, 65,9% vive com os dois, 87,9% vivem<br />

com a mãe (independentemente de viver com outros familiares ou não familiares) e 69,9% vive<br />

com o pai (independentemente de viver também com outros familiares ou não familiares).<br />

82 Encontramos 45 alunos de PIEF e apenas 16 do ER cujo pai tem 55 ou mais anos. Nesta<br />

categoria, o resíduo ajustado estandardizado de 5,0 indica existir uma maior probabilidade de<br />

estes serem pais de alunos de PIEF.<br />

200


%<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 68 – Grau de instrução da mãe de alunos de PIEF e do ER e total<br />

5,5<br />

0,2<br />

2,7<br />

Não<br />

estudou<br />

2,8<br />

0,5<br />

1,6<br />

Sabe ler /<br />

escrever<br />

51,2<br />

29,8<br />

39,8<br />

15,3<br />

19,4<br />

17,5<br />

201<br />

11,0<br />

23,6<br />

17,7<br />

2,8<br />

14,5<br />

9,1<br />

1º Ciclo EB 2º Ciclo EB 3º Ciclo EB Ensino<br />

secundário<br />

PIEF ER TOTAL<br />

1,1<br />

7,3<br />

4,4<br />

Ensino<br />

superior<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

10,3<br />

4,7<br />

7,3<br />

Não sabe<br />

Os pais dos alunos de PIEF estudaram na sua maioria apenas até ao 1º ciclo<br />

do Ensino Básico. Encontramos efectivamente uma maior probabilidade de<br />

alunos de PIEF terem pais com níveis de instrução mais baixos.<br />

Quanto aos alunos do ER, não encontramos nenhuma categoria que agregue a<br />

maioria dos pais destes alunos. No entanto, comparando os diferentes níveis<br />

de qualificação, continua a ser o 1º ciclo aquele com percentagem mais alta,<br />

quer relativamente às mães, quer relativamente aos pais.<br />

%<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Gráfico 69 – Grau de instrução do pai de alunos de PIEF e do ER e total<br />

4,1<br />

0,4<br />

2,0<br />

Não<br />

estudou<br />

1,7<br />

0,2<br />

0,8<br />

Sabe ler /<br />

escrever<br />

57,5<br />

28,8<br />

41,2<br />

13,3<br />

18,2<br />

16,1<br />

7,3<br />

23,1<br />

16,3<br />

3,4<br />

16,1<br />

10,7<br />

1º Ciclo EB 2º Ciclo EB 3º Ciclo EB Ensino<br />

secundário<br />

PIEF ER TOTAL<br />

0,2<br />

7,2<br />

4,2<br />

Ensino<br />

superior<br />

FONTE: Inquérito aos alunos de PIEF, SociNova – FCSH-UNL/<strong>PETI</strong>/INE, 2007<br />

12,4<br />

6,1<br />

8,8<br />

Não sabe


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Numa leitura mais transversal, verifica-se que, muito embora os capitais<br />

escolares dos pais destes inquiridos sejam globalmente baixos (a percentagem<br />

de alunos que afirmou ter pai ou mãe com licenciatura é muito reduzida, tanto<br />

relativamente aos alunos de PIEF – onde é quase nula –, como relativamente<br />

aos alunos do ER), os alunos do ER tendem a ter pais com níveis de<br />

escolaridade mais altos, verificando-se a mesma tendência relativamente à<br />

mãe e ao pai.<br />

Outros dois indicadores de caracterização socioeconómica e cultural das<br />

famílias igualmente importantes, que estão intimamente relacionados com os<br />

graus de instrução, são a profissão e a situação na profissão. Muito embora a<br />

percentagem de pais com profissões que se enquadram nas primeiras quatro<br />

categorias da Classificação Nacional de Profissões, que correspondem a<br />

profissões a que estão associados lugares mais elevados na estrutura social de<br />

classe, bem como níveis de qualificação mais altos 83 (a tendência é hierárquica<br />

decrescente), seja sempre reduzida, ela é superior em pais de alunos do<br />

ensino regular. Por outro lado, é maior a probabilidade de pais de alunos de<br />

PIEF se inserirem nos grupos profissionais de Agricultores e Trabalhadores<br />

não Qualificados da Agricultura e Pescas e dos Trabalhadores não<br />

Qualificados 84 .<br />

Ainda relativamente à profissão das mães, as domésticas representam a<br />

categoria com maior percentagem de resposta (28,3%). No entanto, também<br />

aqui a probabilidade de serem alunos de PIEF a ter mães domésticas é maior<br />

relativamente aos alunos do ER.<br />

Uma grande parcela dos pais destes alunos tem um emprego (85,1% dos pais<br />

e 56,5% das mães). Esta percentagem é inferior relativamente às mães, já que<br />

muitas são domésticas (30,5%). No entanto, verifica-se novamente uma<br />

discrepância entre as respostas em função do tipo de ensino frequentado pelos<br />

83 Sabemos que a relação entre a profissão e a posição de classe ou o nível de instrução não é<br />

directa, mas apenas indicativa e, no máximo, provável. As primeiras quatro categorias da<br />

Classificação Nacional de Profissões são: Quadros Superiores da Administração Pública,<br />

Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa; Especialistas das Profissões Intelectuais e<br />

Científicas; Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio; e Pessoal Administrativo e Similares.<br />

84 Relativamente às mães, as categorias dos Agricultores e Trabalhadores não Qualificados da<br />

Agricultura e Pescas e dos Trabalhadores não Qualificados apresentam resíduos ajustados<br />

estandardizados de 2,5 e 3,1. Quanto aos pais, estes resíduos são 3,6 e 5,9, respectivamente.<br />

202


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

inquiridos. De entre os pais empregados, a maior percentagem (e também<br />

maior probabilidade associada 85 ) corresponde a pais de alunos do ER (62,4%<br />

das mães e 60,9% dos pais empregados são pais de alunos do ER). Por outro<br />

lado, o pai desempregado é uma situação mais comum em alunos de PIEF 86 .<br />

O encarregado de educação é, na maioria dos casos, a mãe. Na análise<br />

comparada, verificamos que é mais comum a mãe ser encarregada de<br />

educação de alunos do ER. De facto, todas as restantes categorias de resposta<br />

que distinguem os alunos dos dois tipos de currículo escolar são mais<br />

frequentemente referidas pelos alunos de PIEF 87 .<br />

Relativamente às rotinas diárias destes alunos, a análise comparada de alunos<br />

de PIEF e alunos do ER mostra também algumas assimetrias interessantes.<br />

Começando por olhar para a hora a que se costumam deitar, percebemos que<br />

a maioria dos alunos costuma ir para a cama depois das 10 de noite (55,6%).<br />

No entanto, dentro da categoria dos alunos que se deitam a estas horas, os<br />

alunos do ER estão em maioria. Isto significa também que são os alunos do ER<br />

aqueles com maior probabilidade de se deitarem a esta hora. No entanto, o que<br />

é mais relevante na leitura do cruzamento destas variáveis é que os alunos que<br />

se deitam depois da meia-noite ou que não têm uma hora fixa para se deitar<br />

são sempre maioritariamente alunos de PIEF. Muito embora estas categorias<br />

agreguem apenas 14,3% e 11,3% do total de respostas dos alunos inquiridos<br />

(o que corresponde, respectivamente, a 196 e 155 alunos), os alunos de PIEF<br />

têm sempre uma maior probabilidade de estar aqui incluídos.<br />

No que respeita à hora de levantar, o comportamento desta variável é muito<br />

semelhante à anterior, mas agora com uma alteração importante: os alunos de<br />

PIEF, se atrás eram aqueles com maior probabilidade de se deitar mais tarde,<br />

são agora aqueles com maior probabilidade de se levantar mais cedo (antes<br />

85<br />

Resíduo ajustado estandardizado de 7,3 nos alunos do ensino regular cuja mãe está<br />

empregada e 5,9 cujo pai está empregado.<br />

86<br />

Muito embora a percentagem de pais desempregados seja reduzida nos dois grupos (10,2%<br />

em alunos de PIEF e 2,9% em alunos do ER), o resíduo ajustado estandardizado aponta para<br />

uma maior probabilidade de serem os pais de alunos de PIEF que estão nesta situação<br />

profissional.<br />

87<br />

As categorias que apresentam resultados distintivos entre alunos PIEF e ER referem os<br />

avós, os tios e outros familiares como encarregados de educação. Em todas estas categorias<br />

os totais marginais apresentam percentagens reduzidas, mas significativamente maiores em<br />

alunos de PIEF.<br />

203


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

das 7 horas da manhã). Isto não significa que a maioria dos alunos de PIEF<br />

acorde a estas horas 88 , mas sim que, daqueles que o fazem, é mais provável<br />

que sejam alunos de PIEF.<br />

A maioria dos alunos afirmou tomar pequeno-almoço antes das aulas. No<br />

entanto, é bastante mais provável que aqueles alunos que afirmaram não o<br />

fazer por hábito (16,1%, que corresponde a 220 alunos) sejam alunos<br />

integrados em programas PIEF 89 .<br />

Para além da socialização na família, a utilização de indicadores relativos às<br />

redes de amizade é também importante para a problematização dos processos<br />

de produção e reprodução de práticas e representações sociais, que nos<br />

permitem enquadrar a análise dos percursos escolares e das expectativas de<br />

vida destes alunos.<br />

A forma como ocupam os tempos livres com os amigos mostra que os alunos<br />

do ER fazem mais actividades culturais (ir ao cinema, teatro ou outros<br />

espectáculos) do que os alunos de PIEF. Também são estes alunos que mais<br />

ocupam o seu tempo livre a estudar. Por outro lado, os alunos de PIEF passam<br />

mais tempo nos cafés ou a passear.<br />

Ainda relativamente aos tempos livres, os alunos de PIEF afirmaram passá-los<br />

menos em casa do que os alunos do ER 90 .<br />

Quando se perguntou a estes alunos se tinham amigos da mesma idade que<br />

trabalhavam e eram pagos por isso, a maioria respondeu negativamente. É no<br />

entanto relevante que, daqueles que nos disseram que sim, mais do dobro<br />

sejam alunos de PIEF (65,1%). Esta diferença é muito significativa, com um<br />

número de respostas afirmativas dos alunos de PIEF muito superior ao<br />

esperado se a distribuição fosse simétrica para os dois grupos de alunos 91 .<br />

88<br />

De facto, a maioria dos alunos de PIEF (e também do ER), acorda por norma entre as 7 e as<br />

8 da manhã.<br />

89<br />

Dos alunos que não tomam o pequeno-almoço antes das aulas, 65% são alunos de PIEF<br />

(que corresponde a 143 alunos). O resíduo ajustado estandardizado assume o valor de 4,9.<br />

90<br />

Relativamente a esta variável, verifica-se que os alunos do ER têm maior probabilidade de<br />

passar o tempo livre em casa (resíduo ajustado estandardizado de 2,2).<br />

91<br />

De facto, o valor do resíduo ajustado estandardizado é de 6,5, que aponta para uma grande<br />

assimetria das respostas de alunos de PIEF e do ER, o que nos leva a concluir que alunos de<br />

PIEF têm maior probabilidade de terem amigos da mesma idade que trabalham e são pagos<br />

por isso.<br />

204


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

4. Condições de habitabilidade<br />

Os indicadores relativos ao tipo de casa onde moram e às condições das<br />

habitações revelam também alguns elementos de diferenciação entre os alunos<br />

que frequentam os dois currículos escolares.<br />

As casas que são propriedade da família ou das pessoas com quem vive o<br />

inquirido são maioritariamente habitações onde moram alunos do ER. Nestes<br />

casos, verificamos ainda que a distribuição dos alunos é muito assimétrica, e<br />

que a probabilidade de este ser um tipo de habitação de alunos do ER é muito<br />

significativa 92 . Por outro lado, aqueles que moram numa casa alugada são na<br />

sua maioria alunos de PIEF. Relativamente à relação entre estas duas<br />

variáveis (tipo de propriedade sobre a habitação e currículo escolar<br />

frequentado), verifica-se que elas são dependentes, com um grau de<br />

associação fraco, mas ainda assim significativo.<br />

Dos 259 inquiridos que moram num bairro social (18,9% do total de inquiridos<br />

de PIEF e do ER), 69,5% são alunos de PIEF e 30,5% alunos do ER. A esta<br />

grande diferença está também associada uma probabilidade não negligenciável<br />

de aqueles que moram em bairros sociais serem alunos de PIEF.<br />

Os inquiridos que disseram ter um quarto só para si são a maioria, e destes<br />

destacam-se os alunos do ER. A análise da relação entre estas duas variáveis<br />

indica que elas não são independentes, e que têm um grau de associação<br />

fraco mas significativo.<br />

Analisando agora os indicadores de qualidade de vida, praticamente todos os<br />

alunos inquiridos referiram ter em casa algumas infra-estruturas habitacionais,<br />

como casa de banho, água canalizada fria, electricidade, gás, máquina de lavar<br />

roupa, frigorífico, fogão e televisão. Relativamente aos restantes indicadores<br />

(ter água canalizada quente, aquecimento, telefone fixo, computador, sistema<br />

92 Neste caso, o resíduo ajustado estandardizado é de 11,7.<br />

205


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

áudio e Internet), são os alunos de PIEF aqueles que mais afirmam não ter na<br />

casa onde vivem os equipamentos e infra-estruturas referidos 93 .<br />

De todos estes indicadores, aqueles que mostraram um grau de associação<br />

maior relativamente ao tipo de ensino frequentado pelos inquiridos foram a<br />

posse de computador e de Internet. De facto, não só se rejeita a hipótese de<br />

independência destas variáveis, como as medidas de associação nos levam à<br />

conclusão de que elas são dependentes, com um grau de associação<br />

significativo, muito embora não seja muito forte.<br />

Olhando para as respostas dos inquiridos segundo o tipo de ensino<br />

frequentado, os alunos do ensino regular têm uma probabilidade bastante<br />

superior de ter Internet ou computador, quando comparados com os alunos que<br />

frequentam os PIEF.<br />

Perguntou-se ainda aos inquiridos se tinham telemóvel, e a maioria respondeu<br />

afirmativamente. Também aqui, as variáveis estão associadas, e verifica-se<br />

que, apesar de muitos alunos de PIEF afirmarem ter telemóvel, há um<br />

desfasamento grande entre as respostas segundo o tipo de ensino<br />

frequentado, sendo em alunos do ensino regular que encontramos a maior<br />

percentagem a ter telemóvel.<br />

5. Percursos escolares<br />

Dizer que os percursos dos alunos de PIEF são problemáticos não deixa de ser<br />

redundante, uma vez que a finalidade destes programas passa por trazê-los de<br />

volta à escola, o que acontece, logicamente, em situações em que se detectam<br />

grandes níveis de insucesso ou abandono escolares, que podem ocorrer por<br />

uma multiplicidade de factores. Apesar de sabermos isto, não deixa de ser<br />

93 Dos 39 inquiridos que afirmaram não ter água canalizada quente, 29 são alunos de PIEF;<br />

dos 429 alunos inquiridos que referiram não ter aquecimento em casa (que corresponde a<br />

31,4% do total de inquiridos, alunos de PIEF e do ER), mais de metade são alunos de PIEF<br />

(62% dos 429 que não têm aquecimento em casa); dos 698 alunos inquiridos que afirmaram<br />

não ter telefone fixo em casa (51% da totalidade de inquiridos), 61,3% são alunos de PIEF; dos<br />

152 alunos inquiridos que afirmaram não ter sistema áudio em casa (11,1% do total de<br />

inquiridos), 57,9% são alunos de PIEF.<br />

206


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

pertinente a análise comparada dos percursos de alunos de PIEF e alunos do<br />

ER.<br />

O tempo que os alunos levam a chegar à escola é um indicador interessante a<br />

analisar neste ponto, que indicia diferentes graus de acessibilidade geográfica<br />

da escola. De facto, o tempo que os alunos demoram a chegar à escola<br />

depende do currículo escolar frequentado, e são os alunos do PIEF aqueles<br />

que têm maior probabilidade de demorar mais tempo (mais de meia hora).<br />

Os alunos do ER têm uma maior probabilidade de ter frequentado um<br />

infantário, o que aponta para uma inserção dos alunos de PIEF na vida escolar<br />

mais tardia. De facto, a frequência dos dois programas escolares (PIEF e ER)<br />

não é independente de uma inserção tardia na escola (frequência ou não do<br />

ensino pré-escolar). Quanto às percentagens, verifica-se que, dos 70,3% de<br />

alunos que frequentaram um infantário ou jardim-de-infância (960 alunos<br />

inquiridos), 57,6% são alunos do ER. Por outro lado, se olharmos para a<br />

distribuição dos alunos de PIEF pela frequência ou não do ensino pré-escolar,<br />

68,1% afirmou não ter sido inserido em nenhum infantário ou jardim-de-<br />

infância.<br />

De uma forma geral, os alunos de PIEF têm percursos escolares mais<br />

problemáticos, com níveis muito superiores de retenções escolares (dos alunos<br />

que disseram ter ficado retidos pelo menos uma vez, 73,2% são alunos de<br />

PIEF). Efectivamente, a variável que mede o sucesso ou insucesso escolares<br />

depende do plano curricular frequentado pelos alunos inquiridos (PIEF ou ER),<br />

e a associação que se estabelece entre estas duas variáveis é estatisticamente<br />

relevante. Por outro lado, o resíduo ajustado é muito elevado (24,2), o que<br />

indica que os alunos inseridos nestes programas têm uma probabilidade<br />

bastante maior de terem percursos escolares de insucesso.<br />

Relativamente ao número de retenções escolares, e tendo em conta que, muito<br />

embora os alunos de PIEF tenham uma maior taxa insucesso escolar<br />

(encontramos 26,8% de alunos do ER que já tiveram pelo menos uma retenção<br />

escolar) verificamos que, à medida que aumenta o número de vezes que o<br />

aluno não passou de ano, a discrepância na percentagem de respostas dos<br />

alunos de PIEF e do ER vai sendo cada vez maior. Isto significa que,<br />

207


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

relativamente aos alunos que já tiveram alguma retenção escolar, é mais<br />

provável que isto aconteça mais vezes a alunos de PIEF do que a alunos do<br />

ER.<br />

Esta assimetria entre os alunos de PIEF e do ER repete-se relativamente aos<br />

abandonos e às desistências escolares. Nos casos de abandono escolar,<br />

verificamos que está muito associado ao tipo de ensino frequentado pelos<br />

alunos, e que, muito embora a percentagem marginal seja reduzida (10,5% dos<br />

alunos inquiridos abandonou a escola, independentemente do plano curricular<br />

frequentado, o que corresponde a 114 alunos), os alunos de PIEF representam<br />

quase a totalidade (apenas 2 alunos do ER afirmaram já ter abandonado a<br />

escola). A esta grande diferença percentual está associada uma probabilidade<br />

muito superior de serem alunos de PIEF aqueles que alguma vez<br />

abandonaram a escola.<br />

As situações de abandono não formalizado (ou seja, situações em que os<br />

alunos deixaram de ir à escola por longos períodos de tempo, mas que não<br />

deixaram de se inscrever no ano escolar seguinte) são mais frequentes do que<br />

aquelas de abandono efectivo. Nestes casos, os alunos que alguma vez<br />

deixaram de ir à escola por grandes períodos de tempo representam 32,1%<br />

dos alunos de PIEF e do ER inquiridos (que corresponde a 393 alunos<br />

inquiridos). Destes alunos, uma grande maioria são alunos de PIEF (83,7%).<br />

Esta assimetria entre os dois grupos de alunos permite-nos ainda concluir que<br />

os alunos de PIEF têm uma probabilidade maior de estar numa situação de<br />

absentismo escolar 94 . A esta análise podemos ainda acrescentar que as<br />

variáveis têm uma relação de dependência e o grau de associação entre elas é<br />

significativo.<br />

A frequência com que os alunos faltam às aulas depende dos planos<br />

curriculares frequentados. Embora a associação entre as duas variáveis seja<br />

relativamente fraca, podemos ainda assim dizer que os alunos de PIEF têm<br />

uma maior probabilidade de faltar com mais frequência, pelo menos uma vez<br />

94 O resíduo ajustado estandardizado toma aqui o valor de 19,1.<br />

208


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

por semana 95 . Note-se no entanto que, independentemente de serem alunos<br />

de PIEF ou do ER, o total marginal daqueles que afirmaram raramente ou<br />

nunca faltar representa 77,6% dos alunos que constituem a nossa amostra<br />

emparelhada.<br />

Os alunos de PIEF têm uma menor probabilidade de ter uma disciplina favorita.<br />

Este pode ser um indicador indirecto do grau de envolvimento dos alunos na<br />

vida escolar. Por outro lado, não podemos esquecer que o professor é<br />

geralmente um factor determinante nas preferências dos alunos.<br />

Quanto à frequência com que os alunos fazem os trabalhos de casa, ela é<br />

muito dependente do tipo de ensino frequentado pelos alunos. De facto, uma<br />

vez que, por razões que se prendem com a natureza dos planos curriculares<br />

adaptados aos alunos de PIEF (que tendem a privilegiar o trabalho na sala de<br />

aula e uma formação mais prática), os alunos que frequentam estes programas<br />

educativos não levam, por regra, trabalhos para casa. Por isto, esta é a<br />

resposta mais frequentemente referida pelos alunos de PIEF (84,2% destes<br />

alunos não têm trabalhos de casa). Apesar da associação que se estabelece<br />

entre o trabalho escolar feito em casa e os programas educativos dos alunos,<br />

esta relação pouco nos diz acerca dos hábitos de estudo dos inquiridos.<br />

As relações mais problemáticas dos alunos de PIEF com a escola<br />

transparecem ainda na análise de indicadores relativos à transgressão e ao<br />

desvio. Olhando para os alunos que afirmaram já ter tido algum processo<br />

disciplinar, verificamos não só que quase metade dos alunos de PIEF entra<br />

nesta categoria (48,1% dos alunos de PIEF que são contabilizados nesta<br />

análise comparada já tiveram pelo menos um processo disciplinar), como que<br />

aproximadamente três quartos dos alunos que já tiveram algum processo<br />

disciplinar são alunos de PIEF (mais exactamente, 74,7% dos alunos que<br />

afirmaram já ter tido um processo disciplinar são alunos de PIEF 96 ).<br />

95 O resíduo ajustado estandardizado assume o valor de 9,4 (ou seja, o valor observado é<br />

bastante superior ao valor esperado de respostas nesta categoria). Os alunos de PIEF que<br />

faltam pelo menos uma vez por semana representam 20,4% do total de alunos de PIEF que<br />

constituem a nossa amostra emparelhada.<br />

96 Os alunos que afirmaram já ter tido algum processo disciplinar correspondem a 32,1% do<br />

total de alunos que constituem a nossa amostra emparelhada (o que corresponde a 439<br />

alunos).<br />

209


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Também no que respeita ao número de processos disciplinares que os alunos<br />

tiveram, encontramos uma relação de dependência com o tipo de ensino, onde<br />

os alunos de PIEF têm maior probabilidade de ter mais de um processo<br />

disciplinar, e aqueles que tiveram apenas um são mais provavelmente alunos<br />

do ER. Note-se ainda que a maioria dos alunos de PIEF teve mais de um<br />

processo disciplinar ao longo do seu percurso escolar.<br />

Podemos ainda estabelecer uma relação de dependência entre as expulsões<br />

escolares e o plano educativo frequentado pelos alunos. Mesmo observando-<br />

se uma reduzida percentagem de alunos que afirmou já ter sido expulso da<br />

escola (apenas 9%, que corresponde a 123 alunos), os alunos de PIEF estão<br />

em grande maioria, com uma maior probabilidade associada.<br />

Os alunos que beneficiam de Serviços de Acção Social Escolar são<br />

maioritariamente alunos de PIEF, que representam 67,2% dos alunos com<br />

acesso a este tipo de apoio social. Podemos aliás afirmar que são estes alunos<br />

que mais provavelmente estão abrangidos por esta medida de ajuda social.<br />

O envolvimento da família na vida escolar dos jovens e crianças que estão<br />

inseridos nos processos educativos pode ser um elemento central para a<br />

percepção da importância que a educação assume nos vários contextos<br />

sociais, económicos e culturais em que se inserem os alunos.<br />

A valorização que assumem os capitais educacionais formais nos meios<br />

envolventes, percebida através da participação dos encarregados de educação<br />

e dos pais e familiares na escolaridade destes jovens (explicitadas pelas idas a<br />

reuniões de encarregados de educação ou a ajuda nos trabalhos da escola, por<br />

exemplo), pode ser uma variável explicativa importante para interpretar as<br />

diferentes práticas e representações que os inquiridos têm acerca da escola e<br />

do seu papel.<br />

Olhando para a participação regular dos encarregados de educação em<br />

reuniões na escola, verificamos que esta variável não é independente do tipo<br />

de ensino frequentado pelos alunos, muito embora a associação entre elas seja<br />

fraca. Isto significa que não vamos ter uma distribuição semelhante quanto à<br />

frequência com que os encarregados de educação dos alunos de PIEF e do ER<br />

vão a reuniões na escola. De facto, se por um lado é verdade que a maioria<br />

210


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

dos encarregados de educação dos alunos de ambos os programas escolares<br />

vão frequentemente à escola, os alunos de PIEF têm menor probabilidade de<br />

serem representados pelo encarregado de educação em reuniões desta<br />

natureza.<br />

Ainda relativamente à ida dos encarregados de educação à escola, perguntou-<br />

se aos alunos se houve razões excepcionais para tal acontecer, e verificou-se<br />

que os encarregados de educação de alunos de PIEF têm uma maior<br />

probabilidade de serem chamados à escola por outras razões que ultrapassam<br />

as reuniões habituais 97 .<br />

No que diz respeito às ajudas familiares nas tarefas escolares destes jovens e<br />

crianças, a assimetria entre alunos de PIEF e alunos do ER é ainda maior. Em<br />

termos percentuais, os alunos que afirmaram que os pais ou pessoas com<br />

quem vivem costumam ajudar nos trabalhos ou dúvidas escolares representam<br />

45,5% do total de inquiridos do ensino regular e de PIEF que estão a ser aqui<br />

analisados (o que corresponde a 620 alunos). No entanto, são os alunos do ER<br />

que mais contribuem para esta percentagem, já que, daqueles que contam com<br />

a ajuda dos pais ou familiares na aprendizagem escolar, 61,1% são alunos do<br />

ER.<br />

6. Expectativas de vida<br />

Hoje sabemos pela Sociologia que uma parte significativa da acção dos actores<br />

sociais é condicionada pelas expectativas que eles têm em relação à sua vida<br />

no futuro.<br />

De facto, as representações sociais que eles fazem dos contextos em que<br />

vivem e percepcionam à sua volta tendem a estruturar-se em valores, atitudes,<br />

que funcionam como grelhas de leitura do real e marcam os seus<br />

comportamentos (Jodelet, 1984).<br />

97 60% dos alunos que afirmaram que os encarregados de educação foram chamados à escola<br />

por outras razões que não as reuniões habituais são alunos de PIEF, e o cruzamento destas<br />

duas categorias apresenta um resíduo ajustado estandardizado de 4,9<br />

211


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Frequentemente, as expectativas formadas contribuem para a construção de<br />

um “clima comportamental”, onde os vários tipos de acção podem ocorrer: seja<br />

de maior empenhamento no percurso escolar e saída profissional, seja no<br />

alheamento destes meios e na adopção de soluções imediatamente<br />

percepcionadas como mais fáceis, seja na aceitação de um trabalho<br />

remunerado, ou no recurso a práticas de laxismo, ou mesmo desviantes.<br />

É neste contexto que ganha pertinência a análise comparativa entre os alunos<br />

PIEF e de ensino regular., relativamente a alguns indicadores sobre as<br />

expectativas futuras.<br />

Começando pela oferta de trabalho remunerado, a maioria dos alunos<br />

inquiridos com base nos dados do emparelhamento dizia que não (49,6%),<br />

contra 30,7% que referia que sim e 19,8% que não sabe.<br />

Todavia, quando comparamos os alunos PIEF com os do ensino regular, é<br />

evidente a maior probabilidade dos primeiros aceitarem um trabalho<br />

remunerado 98 . Tal probabilidade é de cerca de 2,5 vezes maior nos alunos<br />

PIEF.<br />

Tratando-se de alunos que se encontram ainda a estudar, a aceitação de tal<br />

trabalho não só poderá ter consequências ao nível escolar, como, para uma<br />

parte deles, implicar trabalho infantil.<br />

Quando analisamos os factores que os poderiam fazer mudar de ideias em<br />

relação à aceitação do trabalho remunerado, nota-se que, enquanto os alunos<br />

PIEF referem essencialmente o ser bem pago (resíduo ajustado e<br />

estandardizado de 2,4), nos do ensino regular a principal razão é o não<br />

interferir com o rendimento escolar (resíduo ajustado e estandardizado de 4,8).<br />

Aliás, a importância diferenciada atribuída pelos alunos PIEF e do ER em<br />

relação à escola está bem patente na pergunta “se para concretizar as<br />

expectativas/desejos futuros achavam que precisavam de continuar na escola”.<br />

A maioria dos alunos diz que sim (88,5%). Todavia, enquanto os alunos PIEF é<br />

mais provável acharem que não (resíduo ajustado e estandardizado de 3,2), os<br />

alunos do ER dizem o contrário (resíduo ajustado e estandardizado igual a 2,3).<br />

98 Resíduo ajustado e estandardizado de PIEF que dizem sim ao trabalho remunerado é de 9,5.<br />

212


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Esta percepção em relação à importância da escola é igualmente patente no<br />

número de anos até onde pensam estudar: enquanto os alunos PIEF não<br />

ultrapassam o 9º ano de escolaridade (resíduo ajustado e estandardizado de<br />

5,3 e 17,6, relativamente ao sim no 6º e 9º ano, respectivamente), os alunos do<br />

ensino regular referem sobretudo a licenciatura (resíduo ajustado e<br />

estandardizado de 20,8).<br />

De facto, a menor importância atribuída pelos alunos PIEF ao que aprendem<br />

na escola para a vida futura, quando comparada com os do ensino regular, é<br />

bem patente quando a questão lhes é colocada directamente, sendo mais<br />

provável encontrar respostas negativas nos alunos PIEF do que nos do ER<br />

(resíduo ajustado e estandardizado de 2,9).<br />

213


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

E. BREVE ANÁLISE DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL<br />

(dados da CNPCJR)<br />

Este capítulo tem como objectivo a análise das “Piores formas de trabalho<br />

infantil”, pelo que convém relembrar novamente as implicações empíricas da<br />

explicitação do conceito.<br />

Caixa 1 – Definição das Piores Formas de Trabalho Infantil, segundo a Convenção 189/99 da OIT<br />

Piores formas de Trabalho Infantil (Convenção 182/99 da OIT):<br />

Todas as formas de escravatura ou práticas análogas: venda e tráfico de<br />

crianças, servidão por dívidas ou por outra qualquer razão, utilização de<br />

crianças em conflitos armados;<br />

Utilização de crianças para prostituição, produção de<br />

materiais/espectáculos pornográficos;<br />

Utilização de crianças para actividades ilícitas, nomeadamente produção e<br />

tráfico de estupefacientes;<br />

Trabalhos susceptíveis de prejudicar gravemente a saúde, segurança e<br />

desenvolvimento moral da criança.<br />

Atendendo à especificidade deste tipo de trabalho infantil, a sua observação é<br />

particularmente difícil. Daí que seja compreensível a ausência de referências a<br />

estes tipos de actividades no inquérito realizado nas escolas onde decorrem<br />

programas PIEF.<br />

Assim, a estratégia de investigação deverá orientar-se para espaços de<br />

intervenção onde à partida não seja tão problemática a sua observação.<br />

Sem dúvida que os dados existentes na CNPCJR, pela amplitude a nível<br />

nacional e pelo tipo de actividades que normalmente chegam ao seu<br />

conhecimento, constituem uma fonte da maior importância.<br />

Deste modo, e mesmo tendo em consideração as limitações metodológicas dos<br />

dados existentes na base de dados, que serão objecto de “crítica das fontes”, a<br />

214


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

informação permite ter uma visão “macro” do fenómeno a nível nacional e com<br />

desagregações regionais.<br />

Nesse sentido, a análise dos dados fornecidos pela Comissão Nacional de<br />

Protecção de Crianças e Jovens, respeitantes ao ano de 2006 procurará<br />

cumprir os seguintes objectivos:<br />

1. Analisar a distribuição geográfica das situações assinaladas pelas<br />

Comissões de Protecção, em todo o território nacional (Portugal<br />

Continental e Ilhas);<br />

2. Analisar a distribuição por Sexo e por Idade das crianças envolvidas nas<br />

problemáticas mais directamente associadas às Piores Formas do<br />

Trabalho Infantil.<br />

Em anexo, far-se-á uma breve caracterização do universo global de crianças e<br />

jovens que foram objecto da actuação das Comissões de Protecção, e<br />

respectivos agregados familiares, por forma a contextualizar, de algum modo, a<br />

informação analisada com maior pormenor.<br />

1. Crítica das fontes<br />

A base empírica com a qual trabalhamos apenas permite a produção de<br />

análises parcelares, tendo em conta a natureza das bases de dados<br />

disponíveis.<br />

Estas bases de dados, embora contenham informação relevante para a<br />

pesquisa que se pretende desenvolver, não permitem a contabilização caso a<br />

caso e um cruzamento mais alargado das variáveis, tendo em conta que a<br />

informação já vem agregada, em conjuntos de apuramentos autónomos 99 .<br />

O primeiro problema com que nos deparámos diz respeito às diferenças de<br />

apuramentos encontradas entre as bases de dados relativas aos processos<br />

instaurados, transitados e reabertos, e a base de dados relativa ao volume<br />

99 A estrutura destas bases de dados podem ser consultadas em anexo - Estrutura das bases<br />

de dados da CNPCJR<br />

215


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

global de processos. Embora o volume global constitua a soma dos processos<br />

transitados, instaurados e reabertos, os apuramentos apresentados não<br />

coincidem 100 . Optou-se, então, por utilizar, de forma agregada, as bases de<br />

dados primárias, dos processos transitados, instaurados e reabertos.<br />

Os restantes problemas – a impossibilidade de contabilizar caso a caso e a<br />

impossibilidade de cruzar os diferentes conjuntos de apuramentos – não<br />

puderam ser ultrapassados, ditando a natureza e alcance da análise<br />

desenvolvida.<br />

2. Distribuição por sexo e por idade das crianças envolvidas nas<br />

problemáticas mais directamente associadas às Piores Formas do<br />

Trabalho Infantil<br />

Das 54 746 situações inventariadas pela CNPCPCJ, 53,3% dizem respeito a<br />

rapazes e as restantes a raparigas.<br />

Igualmente, a partir dos mesmos dados, e tendo em conta a tipologia de<br />

situações de perigo utilizada pela CNCPCJ e respectivas Comissões de<br />

Protecção 101 , vemos que a negligência é, de longe, o tipo mais reportado. O<br />

abandono escolar surge em segundo lugar, seguido da exposição a modelos<br />

de comportamento desviante (ver Gráfico 1) 102 .<br />

100 Estas diferenças podem ser consultadas no anexo – Teste Base de Dados.<br />

101 A Tipologia das situações de perigo pode ser consultada em anexo.<br />

102 Uma mesma criança pode estar associada a mais do que uma problemática, o que implica<br />

que o número de problemáticas sinalizadas (50190) é superior ao número de crianças e jovens<br />

abrangidos (47977).<br />

216


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 70 – Problemáticas assinaladas (%)<br />

Uso de estupefacientes<br />

Prostituição infantil<br />

Problemas de saúde<br />

Prática de facto qualificado como crime<br />

Pornografia infantil<br />

Negligência<br />

Mendicidade<br />

Maus tratos psicológicos / abuso emocional<br />

Maus tratos físicos<br />

Ingestão de bebidas alcoólicas<br />

Exposição a modelos de comportamento desviante<br />

Exploração do trabalho infantil<br />

Exercício abusivo de autoridade<br />

Corrupção de menores<br />

Abuso sexual<br />

Abandono escolar<br />

Abandono<br />

0,8%<br />

0,2%<br />

1,6%<br />

0,2%<br />

0,9%<br />

0,8%<br />

0,4%<br />

1,2%<br />

0,4%<br />

2,4%<br />

2,3%<br />

217<br />

3,5%<br />

9,7%<br />

9,4%<br />

13,6%<br />

16,0%<br />

36,5%<br />

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%<br />

FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />

Cruzando agora a tipologia acima referida com a definição das “Piores formas<br />

de Trabalho Infantil” (Convenção 189/99 da OIT) (ver Caixa 1), foram<br />

seleccionados os seguintes tipos, para uma análise mais pormenorizada:<br />

Mendicidade, Exploração do trabalho infantil, Pornografia Infantil e Prostituição<br />

Infantil 103 .<br />

As situações de perigo mais directamente associadas às Piores Formas do<br />

Trabalho Infantil representam 1,7% do total de problemáticas reportadas no<br />

ano de 2006 (ver Gráfico 1). Destas 978 sinalizações, 50% correspondem a<br />

situações de mendicidade (ver Gráfico 2).<br />

103 Embora os tipos Corrupção de menores e Prática de facto qualificado como crime podem<br />

pela sua descrição, estar associados às Piores Formas, não serão objecto de análise mais<br />

pormenorizada, tendo em conta a impossibilidade de uma maior explicitação das situações<br />

assinaladas (consultar anexo).


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Gráfico 71 – Situações de Perigo mais directamente associadas às Piores Formas<br />

Pornografia<br />

infantil<br />

14%<br />

Prostituição<br />

infantil<br />

13%<br />

Mendicidade<br />

49%<br />

FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />

218<br />

Exploração do<br />

trabalho infantil<br />

24%<br />

Quando comparamos os dados por sexo, a Pornografia Infantil aparece mais<br />

associada aos rapazes e a Exploração do Trabalho Infantil, e em menor grau a<br />

Prostituição infantil, às raparigas.<br />

Gráfico 72 – Situações de perigo mais directamente associadas às Piores Formas por sexo<br />

80,0<br />

70,0<br />

60,0<br />

50,0<br />

40,0<br />

30,0<br />

20,0<br />

10,0<br />

0,0<br />

42,3<br />

57,7<br />

Exploração do<br />

trabalho infantil<br />

50,3<br />

49,7<br />

66,9<br />

33,1<br />

Mendicidade Pornografia<br />

infantil<br />

Rapazes Raparigas<br />

FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />

46,7<br />

53,3<br />

Prostituição<br />

infantil


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

No que respeita à distribuição por grupos de idade, os dados revelam que a as<br />

crianças mais jovens surgem menos associadas à Exploração do Trabalho<br />

Infantil. A Prostituição Infantil apresenta um padrão diferenciado: rapazes dos<br />

0-5 anos e raparigas dos 13-14 e mais 15 anos.<br />

Relativamente à Exploração do trabalho infantil, as raparigas com 11 e 12 anos<br />

situam-se sobretudo no Distrito de Santarém, mais concretamente na área de<br />

actuação da CPCJ de Abrantes.<br />

219


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

3. Distribuição geográfica das situações de perigo assinaladas pelas<br />

Comissões de Protecção<br />

Em seguida far-se-á uma descrição cartográfica das piores formas, pelos vários<br />

concelhos do Continente.<br />

3.1. Exploração do trabalho infantil<br />

Quando falamos em Exploração do trabalho infantil, estamos a falar de<br />

situações em que, para obter benefícios económicos, a criança/jovem é<br />

obrigada à realização de trabalhos (sejam ou não domésticos) que excedem os<br />

limites do habitual, que deveriam ser realizados por adultos e que interferem<br />

claramente na vida escolar da criança, excluindo-se a utilização da criança em<br />

tarefas específicas por temporadas.<br />

Pelo menos um período de tempo concreto, a criança não pode participar nas<br />

actividades da sua idade (escola, etc.) por se encontrar a trabalhar 104 .<br />

Relativamente a esta problemática, a única CPCJ que se destaca é a de<br />

Lisboa, sendo que Abrantes, Sintra Ocidental, Leiria, Montijo, Oeiras, Maia e<br />

Seixal apresentam apuramentos entre 10 e 20 casos.<br />

104 Descrição constante da TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES DE PERIGO da CNPCJR.<br />

220


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Mapa 1 – Exploração do trabalho infantil<br />

FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />

221


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

3.2. Mendicidade<br />

Quando falamos de Mendicidade, estamos a falar de situações em que a<br />

criança/jovem é utilizada habitualmente ou esporadicamente para mendigar, ou<br />

é a criança que exerce a mendicidade por sua iniciativa 105 .<br />

Relativamente a esta problemática, são as CPCJ de Abrantes e Lisboa que<br />

surgem com algum destaque.<br />

105 Descrição constante da TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES DE PERIGO da CNPCJR.<br />

222


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Mapa 2 – Mendicidade<br />

FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />

223


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

3.3. Pornografia infantil<br />

Quando falamos de Pornografia infantil, estamos a falar da oferta, distribuição,<br />

difusão, importação, exportação, venda ou posse para os fins de pornografia<br />

infantil, de qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança no<br />

desempenho de actividades sexuais explícitas reais ou simuladas ou qualquer<br />

representação dos órgãos sexuais de uma criança para fins<br />

predominantemente sexuais 106 .<br />

Relativamente a esta problemática, destacam-se a CPCJ de Vila Nova de<br />

Famalicão e Barcelos, a Norte, e Lisboa e Almada, na Área da Grande Lisboa.<br />

Abrantes e Caldas da Rainha aparecem com algum destaque.<br />

106 Descrição constante da TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES DE PERIGO da CNPCJR.<br />

224


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Mapa 3 – Pornografia infantil<br />

FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />

225


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

3.4. Prostituição Infantil<br />

A prostituição infantil aqui analisada refere-se à utilização de uma criança em<br />

actividades sexuais contra remuneração ou qualquer outra retribuição,<br />

implicando a oferta, obtenção, procura ou entrega de uma criança para fins de<br />

prostituição infantil.<br />

Relativamente a esta problemática 107 , destaca-se a CPCJ de Vila Nova de<br />

Famalicão, a Norte, e as CPCJ de Lisboa e Vila Franca de Xira, na Área<br />

Metropolitana de Lisboa.<br />

Surge, ainda, uma pequena mancha no Interior Norte de Portugal,<br />

correspondente à CPCJ de Celorico de Basto.<br />

107 Descrição constante da TIPOLOGIA DAS SITUAÇÕES DE PERIGO da CNPCJR.<br />

226


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Mapa 4 – Prostituição infantil<br />

FONTE: <strong>Relatório</strong> CPCJ, 2006<br />

227


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

F. BIBLIOGRAFIA E FONTES<br />

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Belknap Press.<br />

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Paris: PUF.<br />

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Publications, Amsterdam/New York.<br />

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Press.<br />

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Paper. SIETI.<br />

Nóvoa, António (2005), Evidentemente – Histórias da Educação. Porto: Asa.<br />

Pestana, Catalina (2001), Plano para eliminação da exploração do trabalho<br />

infantil: medidas políticas e legislativas. MTSS, PEETI.<br />

Pinto, Graça Alves (2003), O Trabalho e a escola no quotidiano das crianças<br />

dos meios rurais, MTSS, PEETI.<br />

229


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Sarmento, Manuel Jacinto (2005), “Trabalho Infantil em Portugal: Controvérsias<br />

e Realidades”, in Ensaios sobre o Comportamento Humano. Do Diagnóstico à<br />

Intervenção. Contributos Nacionais e Internacionais, Coimbra, Almedina.<br />

Sarmento, Manuel Jacinto (coord.) (2005), Avaliação Externa do Plano para<br />

Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil (PEETI) – Dinâmica Institucional<br />

e Acção Sócio-Educativa (<strong>Relatório</strong> <strong>Final</strong>), Universidade do Minho, Instituto de<br />

Estudos da Criança.<br />

Sarmento, Manuel Jacinto, Bandeira, Alexandra e Dores, Raquel (2000),<br />

Trabalho domiciliário infantil: um estudo de caso no Vale de Ave, MTSS,<br />

PEETI.<br />

Sharma, B.K. e Mittar, Vishwa (1990), Child Labour and Urban Informal Sector,<br />

New Delhi, Deep and Deep Publications.<br />

Tooley, James, (2002), “The Changing Role of Government in Education”,<br />

Encyclopaedia of Education,<br />

http://www.ncl.ac.uk/egwest/pdfs/Encyclopdia%20of%20education.pdf<br />

SIETI (2003), Trabalho Infantil em Portugal 2001, Caracterização social dos<br />

agregados familiares portugueses com menores em idade escolar. MTSS,<br />

SIETI.<br />

2. Fontes<br />

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Programme on the Elimination of Child Labour. International Labour Office.<br />

Convenção nº 138 da OIT sobre a Idade Mínima de Admissão ao Emprego:<br />

http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-<br />

dh/tidhuniversais/emp-conv-oit-138.html<br />

230


Caracterização das Actividades Desenvolvidas pelas Crianças e Jovens em Portugal<br />

Convenção nº 182 da OIT Relativa à Interdição das Piores Formas de Trabalho<br />

das Crianças e à Acção Imediata com Vista à sua Eliminação:<br />

http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-<br />

dh/tidhuniversais/emp-conv-oit-182.html<br />

Despacho n° 14026/07. "D. R. 2ª série", nº 126, 3 de Julho 2007, 18807<br />

(http://www.dgidc.min-edu.pt/fichdown/Despacho%2014026-07.pdf. Consultado<br />

em Outubro 2007).<br />

Estatísticas do Trabalho Infantil: Manual de Metodologias para Recolha de<br />

Dados através de Inquéritos (2004). Programa de Monitorização e Informação<br />

Estatística sobre o Trabalho Infantil (SIMPOC), Genebra, Bureau Internacional<br />

do Trabalho.<br />

Guia de Legislação e Recursos sobre Trabalho Infantil (1999), Ministério do<br />

Trabalho e da Solidariedade Social e PEETI – Plano para Eliminação da<br />

Exploração do Trabalho Infantil: Lisboa.<br />

Lei nº 35/2004 (Capítulo VIII, relativo à Participação de Menores em<br />

Espectáculos e Outras Actividades) –<br />

http://www.dre.pt/pdfgratis/2004/07/177a00.pdf<br />

Manual para Análise de Dados sobre o Trabalho Infantil e Redacção de<br />

<strong>Relatório</strong>s Estatísticos. Programa de Monitorização e Informação Estatística<br />

sobre o Trabalho Infantil (SIMPOC), Genebra, Bureau Internacional do<br />

Trabalho.<br />

Recomendação 190 da OIT relativa às Piores Formas de Trabalho das<br />

Crianças e à Acção Imediata com Vista à sua Eliminação -<br />

http://www.cnpcjr.pt/preview_documentos.asp?r=1168&m=PDF<br />

231

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