Pedaços de Noz 2007 - Escola Secundária Stuart Carvalhais
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Apren<strong>de</strong>r...<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 77<br />
Este episódio ocorreu-me há dois anos. Apesar disso, ainda me lembro do<br />
martírio que era acordar às cinco da manhã para estar às seis e meia <strong>de</strong>ntro daquela água<br />
gelada. Ainda me lembro da música que ouvia com o meu pai no carro para <strong>de</strong>spertar,<br />
que por acaso era sempre a mesma. Ainda me lembro da sombra que o carro fazia nas<br />
árvores com as luzes da frente… Mas, como eu dizia: “se estou aqui, tenho que dar o<br />
meu melhor”.<br />
Era por volta das quatro da tar<strong>de</strong>, num ambiente abafador e insuportável <strong>de</strong>vido<br />
ao calor do vapor da água. Eu estava sentada nas bancadas com ar sério a tentar<br />
concentrar-me. Os nervos eram muitos e a tensão que colocavam em cima <strong>de</strong> mim nem<br />
me <strong>de</strong>ixava respirar. Eu sabia que aquela era a minha última oportunida<strong>de</strong>. Nesse<br />
momento recor<strong>de</strong>i-me <strong>de</strong> tudo por que passei. Não sei se foi relevante ou não, mas pelo<br />
menos levou-me a enten<strong>de</strong>r que tinha <strong>de</strong> dar o meu melhor.<br />
A certo momento, chamaram todas as nadadoras que iriam participar na prova <strong>de</strong><br />
duzentos metros mariposa. Os nervos subiram-me à cabeça. A partir daquele momento,<br />
estava tudo por minha conta. Saí das bancadas e dirigi-me ao local <strong>de</strong> chamada das<br />
atletas. Nem uma palavra <strong>de</strong> conforto do meu treinador. Sentia-me mal por isso, mas<br />
naquele instante senti que nada me podia afectar. Apesar <strong>de</strong> tudo, tremia <strong>de</strong> cima a baixo.<br />
As minhas adversárias vinham ter comigo para me pressionar ainda mais. Naqueles<br />
minutos só me recordo <strong>de</strong> pensar que a única coisa que tinha a fazer era dar o meu<br />
melhor. Assim que me chamaram, dirigi-me para o bloco on<strong>de</strong> ia nadar. Era na pista<br />
quatro, uma do centro como eu gostava. Não sei porquê mas isso fez-me sentir bem. Na<br />
verda<strong>de</strong>, era um ponto a favor, porque podia controlar melhor as minhas adversárias e<br />
ter uma noção do <strong>de</strong>correr da prova. Ainda estavam a competir as atletas da prova<br />
anterior. Quando olhei para a placa on<strong>de</strong> estavam registados os tempos comecei a<br />
assustar-me. Sabia que tinha <strong>de</strong> me esforçar muito para atingir o meu objectivo. Elas<br />
saíram da água e finalmente tinha chegado a minha vez. O árbitro apitou. Coloquei-me<br />
em cima do bloco na posição correcta e não me mexi, pois podia ser <strong>de</strong>sclassificada. Ele<br />
disse: “aos seus lugares”, eu baixei-me e apitou. Eu parti e senti um alívio enorme em<br />
cima <strong>de</strong> mim. Foi uma <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> nervos. Tinha chegado o momento <strong>de</strong> concentração<br />
psicológica.