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Pedaços de Noz 2007 - Escola Secundária Stuart Carvalhais

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<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 59<br />

obe<strong>de</strong>cer às regras, um casal que se <strong>de</strong>itou numa manta para fazer um piquenique, os<br />

meninos a jogar à bola, uma ca<strong>de</strong>la a <strong>de</strong>fecar na via pública, uma criança a andar <strong>de</strong><br />

baloiço a dar gargalhadas ensur<strong>de</strong>cedoras, andorinhas a fazer o ninho…<br />

Daqui, on<strong>de</strong> estou sentada, tenho uma visão privilegiada. Vejo tudo, e esse<br />

“tudo” é meu e <strong>de</strong> mais ninguém, porque ninguém está on<strong>de</strong> estou, a olhar para as<br />

mesmas coisas que eu. O meu campo <strong>de</strong> visão é único. Tem um alcance personalizado,<br />

uma panóplia <strong>de</strong> cores misturadas pelos meus olhos, figuras geométricas e figuras sem<br />

forma aparente. É por isso que a minha visão é privilegiada. Mais ninguém a vê para<br />

além <strong>de</strong> mim. E mesmo que eu fique cega um dia, mais ninguém irá “não ver” o que eu<br />

“não vejo”. Ninguém irá ver o que vi hoje.<br />

Está a escurecer. Tornou-se visível no céu um outro planeta. Dizem que se chama<br />

Lua e que até o Homem já lá foi. Quem é esse homem, eu <strong>de</strong>sconheço, mas não dou<br />

importância ao que se diz por aí. Eu também já fui à Lua, e qualquer um po<strong>de</strong> lá ir. Eu vou à<br />

Lua do canto on<strong>de</strong> estou sentada.<br />

Agora há pequenos pontos a brilhar, como se fossem pontinhos, com o propósito<br />

<strong>de</strong> se ligarem por rectas, tal como aqueles jogos das revistas que nos entretêm. Fico perdida a<br />

olhar para o céu sem noção do tempo. Sinto então que ele é eternamente meu.<br />

Mas as minhas pálpebras começam a ficar pesadas e a minha garganta seca. É o<br />

passar do tempo a alterar o meu corpo. Se fosse outro alguém, acharia que talvez<br />

estivesse a “chocar” alguma coisa e dirigir-se-ia a um médico. Ridículo o que essas pessoas<br />

fazem, a achar que os médicos hão-<strong>de</strong> fazê-las felizes. Nem eles o são. Eles mexem nas entranhas<br />

das pessoas, sujam-se com fluidos e escrevem papéis on<strong>de</strong> dizem o que é que elas <strong>de</strong>vem<br />

comprar para serem felizes. Idiotas.<br />

Não sabem que as árvores são alegria, as flores são felicida<strong>de</strong>, a Terra é<br />

felicida<strong>de</strong>, o mar é alegria… o mundo é a felicida<strong>de</strong> que todos procuramos…<br />

A minha pálpebra direita já está quase fechada.<br />

Às vezes fico atormentada quando me assombro com questões nocturnas tais<br />

como: Porque é que das flores saem frutos? Porque é que as folhas das árvores ficam<br />

castanhas e caem? Porque é que cai água do céu? Quem é que inventou a escrita e a<br />

linguagem? Porque é que temos <strong>de</strong> dormir? Porque é que inspiramos ar e expiramos mais ar<br />

ainda?!<br />

Depois paro. Paro quando fico triste e sobrecarregada.<br />

Não sei muito. Não sei absolutamente nada. E assim sou feliz. Mais feliz do que<br />

aqueles que sabem quanto é 2+2. Ainda mais feliz do que aqueles que sabem quem é

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