13.04.2013 Views

Pedaços de Noz 2007 - Escola Secundária Stuart Carvalhais

Pedaços de Noz 2007 - Escola Secundária Stuart Carvalhais

Pedaços de Noz 2007 - Escola Secundária Stuart Carvalhais

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 52<br />

O meu mundo é sensação…<br />

Au! Aleijaram-me! Mas parece que estou viva… Sinto algo que escorrega pela<br />

minha face. Algo que brota <strong>de</strong> mim e não conheço. Sinto-o frio e molha, cobrindo-me o<br />

rosto <strong>de</strong> emoção. E, <strong>de</strong> repente, <strong>de</strong>scubro a sensação do choro. Sim, <strong>de</strong>stes que são os<br />

meus olhos, janelas para o mundo, brota a sensação da dor, e transparece o choque <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>spertar para a vida por uma palmada, na simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma lágrima. Assim começo<br />

a revelar ao mundo o que sinto na ponta dos <strong>de</strong>dos e na emoção dos olhos.<br />

As mãos, essas tão pequenininhas, vão-se pondo lado a lado na ânsia <strong>de</strong> sentir a<br />

textura das coisas numa curiosida<strong>de</strong> tão pueril. E o meu corpo ergue-se para o mundo.<br />

Vou dando os primeiros passos e apreendo o quão é áspero o mundo e difícil <strong>de</strong><br />

percorrer <strong>de</strong>scalça. Por isso peço sempre colo. Custa menos. Vejo o mundo lá <strong>de</strong> cima<br />

on<strong>de</strong> tudo é mais bonito. Estico os braços tentando chegar ao céu, mas não consigo.<br />

Desejo crescer. Desejo tocar o céu e escorregar pelo arco-íris até cair no cal<strong>de</strong>irão com<br />

moedas <strong>de</strong> ouro que dizem existir no seu limite. Mas eu não quero as moedas <strong>de</strong> ouro.<br />

São frias e não sabem a nada. Por isso, se calhar, é melhor ficar pelo colo, porque pelo<br />

menos aqui sou a maior pessoa pequena! Posso não ter as moedas <strong>de</strong> ouro, mas tenho as<br />

maçãs que consigo arrancar cá do alto, as estrelas que roubo do céu à noitinha, sem<br />

ninguém perceber, e até consigo baloiçar naquela dita mentirosa, a Lua, e <strong>de</strong> lá abraço o<br />

mundo por completo. Mas não chega. Quero abraçar o mundo <strong>de</strong> perto. É bonito <strong>de</strong>mais<br />

para ser apenas admirado. E é aí que <strong>de</strong>sço do colo e começo, passo a passo, a andar<br />

sozinha. Quero tocá-lo com as mãos. Vê-lo, senti-lo, cheirá-lo, tocá-lo, quero-me<br />

entranhar por completo, não me diluir nele, porque assim <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ser vista. Quero<br />

gritar ao mundo que estou aqui, quero que me vejam, que me sintam, cheirem, toquem,<br />

oiçam, provem. Quero provar um bocado <strong>de</strong> cada pedacinho do Mundo, pois tendo ou<br />

não cobertura <strong>de</strong> chocolate, tenho a certeza que cada fatia será apetecível. Quero, quero,<br />

quero… mais um quilograma <strong>de</strong> Vida, por favor (não, não é preciso tirar as gorduras,<br />

essas também lhe dão gosto).<br />

Quero unir os cinco sentidos numa perfeita alquimia, buscando o mistério da<br />

vida. Tenho a certeza que o segredo está aí. Se consigo reconhecer uma fruta só pelo<br />

toque e pelo cheiro, hei-<strong>de</strong> conseguir chegar on<strong>de</strong> ninguém chegou. Se provar o mundo,<br />

cheirá-lo, tocá-lo e ouvi-lo, consigo. Eu sei. O tempo tem-se <strong>de</strong>sfeito em rotinas e as

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!