<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 18 Descrição <strong>de</strong> uma paisagem Estava Henrique à janela do quarto que habitava em Alvapenha. Gozava ali <strong>de</strong> um panorama extenso e ameníssimo. A tar<strong>de</strong> parecia <strong>de</strong> Primavera. Henrique corria com prazer a vista pelos diferentes lugares da quinta. Ro<strong>de</strong>ada por <strong>de</strong>nsas sebes e árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, a quinta, vasta, espaçosa era, sem dúvida, o lugar i<strong>de</strong>al para albergar um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> animais. Ao fundo, avistou os belos cavalos <strong>de</strong> competição, criados na lezíria, que se refrescavam nas águas límpidas e cristalinas do pequeno riacho, que nascia nas gran<strong>de</strong>s colinas por <strong>de</strong>trás do bosque e corria até ali. Os tratadores <strong>de</strong>slocavam-se, atarefadamente, em todas as direcções, transportando <strong>de</strong>scomunais fardos <strong>de</strong> feno e bal<strong>de</strong>s com alimento para os animais. Do lado esquerdo, sentada à sombra <strong>de</strong> um castanheiro, junto à horta, avistou Mariana. Com uma serenida<strong>de</strong> invulgar, lia um livro pacificamente. Contemplava-a, maravilhado, tudo nela era especial: os cabelos compridos, dourados, que esvoaçavam ao sabor do vento, a pele clara e <strong>de</strong>licada, os olhos ver<strong>de</strong>s que tanto o perturbavam…. Desviou o olhar daquela que tanta paz lhe transmitia e divertia-se a observar os comportamentos dos animais. Junto à fonte românica, <strong>de</strong> pedra, que se encontrava mesmo em frente à sua varanda, um grupo <strong>de</strong> galinhas lutava pelo milho, enquanto a água corria incessantemente. Mas, logo <strong>de</strong> repente, surgindo um pardal em voo picado, <strong>de</strong>pressa as afugentava. No pátio, o feroz pastor-alemão que guardava a quinta dormia sossegadamente. Henrique admirava, extasiado, os extensos campos floridos, que anunciavam já a chegada do mês <strong>de</strong> Março. Amplos, abertos, neles as flores <strong>de</strong>ixavam-se embalar pelo brisas primaveris. Uma imensa e extraordinária diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies era razão do seu fascínio: <strong>de</strong> todas as cores e tamanhos possíveis, malmequeres, tulipas, girassóis, <strong>de</strong>sfrutavam agora dos últimos raios <strong>de</strong> sol. Começava então a vislumbrar aquele que era o seu momento preferido do dia, o pôr-do-sol. Por <strong>de</strong>trás do bosque, à direita dos estábulos, dispunha <strong>de</strong> uma imagem avassaladora. Encantado, Henrique observava o astro-rei, que passava <strong>de</strong> um luminescente amarelo a alaranjado, adquirindo naquele instante uma magnífica cor avermelhada, lembrando um fogo incan<strong>de</strong>scente, ao mesmo tempo que <strong>de</strong>scia, vagarosamente, nas alturas, até <strong>de</strong>saparecer no meio da vegetação.
A noite chegava e tudo se tornava ainda mais tranquilo e silencioso. <strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 19 Era o recolher obrigatório dos animais e o pequeno riacho reflectia agora a lua, espelhada nas suas águas trémulas. A noite caía e Henrique entretinha-se a examinar as estrelas. Dispersas pelo céu, convertido num esplêndido azul, brilhavam intensamente, como uma luz resplan<strong>de</strong>cente, ofuscante, que nunca mais se iria apagar. Henrique mal <strong>de</strong>ra pelo passar do tempo. Andreia Men<strong>de</strong>s 10º B