Pedaços de Noz 2007 - Escola Secundária Stuart Carvalhais
Pedaços de Noz 2007 - Escola Secundária Stuart Carvalhais
Pedaços de Noz 2007 - Escola Secundária Stuart Carvalhais
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PEDAÇOS DE OZ<br />
Volume XV | Antologia | <strong>2007</strong><br />
<strong>Escola</strong> <strong>Secundária</strong> <strong>Stuart</strong> <strong>Carvalhais</strong><br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 1
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 2<br />
Título: <strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> oz<br />
Autores: Alunos da <strong>Escola</strong> <strong>Secundária</strong> <strong>Stuart</strong> <strong>Carvalhais</strong><br />
Capa: Gustavo Brito<br />
Coor<strong>de</strong>nação: Professores <strong>de</strong> Português e <strong>de</strong> Francês<br />
Colaboração: Professores <strong>de</strong> Artes Visuais<br />
<strong>Escola</strong> <strong>Secundária</strong> <strong>Stuart</strong> <strong>Carvalhais</strong> – 402825<br />
Rua dos Jasmins: 2745-796 Massamá<br />
Tel: 21 430 75 10 – Fax: 21 430 75 15<br />
E – mail: escolastuart@sapo.pt
Coisas em que penso…<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 3
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 4<br />
Madruga pontual pela alvorada.<br />
De meias axadrezadas<br />
Boceja, gargareja, bebe a sua água mineral<br />
(Não bebe nada <strong>de</strong>scalcificado<br />
Que é sem-sabor e à saú<strong>de</strong> faz mal).<br />
Tira a camisa engomada<br />
(Esta não, que tem uma nódoa<br />
E uma das mangas enxovalhada),<br />
O paletó e as meias axadrezadas<br />
(Não veste nada. Ficam direitas, dispostas<br />
Na cama feita e imaculada).<br />
Banha os ossos <strong>de</strong> fios <strong>de</strong> vidro<br />
Com glicerina e água-<strong>de</strong>-colónia,<br />
Lava os interstícios dos <strong>de</strong>dos esguios,<br />
As orelhas, o umbigo e os olhos sombrios.<br />
Depois, fuma na varanda o primeiro cigarro<br />
Sentado <strong>de</strong> ceroulas no banco envernizado.<br />
E tira então, do monte <strong>de</strong> papéis, a panóplia.<br />
Escolhendo os interesses dos jornais.<br />
Mergulhando a biqueira inquilina
Nos títulos económicos <strong>de</strong> letras garrafais.<br />
Caminha empalhado para o escritório<br />
De ombros erguidos, nunca curvado.<br />
Graceja, acena, fala ao povo que passa,<br />
Sentindo-se confiante na plenitu<strong>de</strong> da sua graça.<br />
Pica o ponto antes do horário<br />
E sai <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todos pelo trabalho extraordinário.<br />
E, voltando ao aconchego do seu lar,<br />
Prepara a salada e os biscoitos <strong>de</strong> água e sal.<br />
Janta sozinho,<br />
De pernas dobradas e televisor ligado.<br />
E acabando a refeição, lava os dignos <strong>de</strong>spojos<br />
Despojando-se <strong>de</strong>pois no leito arrumado.<br />
Adormece, na harmonia da sua perfeição.<br />
No arrumo direito da sua habitação.<br />
E dorme o sono dos justos, numa noite <strong>de</strong>scansada.<br />
Na ingénua perfeição <strong>de</strong> uma vida falhada.<br />
Carolina Geadas<br />
11º C<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 5
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 6<br />
Manhã <strong>de</strong> Prata<br />
Naquela manhã, o Sol brilhou com raios <strong>de</strong> prata<br />
E até mesmo as árvores pareciam inanimadas<br />
Assistindo imóveis e indiferentes<br />
A histórias ali para sempre marcadas.<br />
Elas não pu<strong>de</strong>ram chorar<br />
Com seus frutos e folhas ver<strong>de</strong>jantes.<br />
Não po<strong>de</strong>rão nunca contar<br />
Os olhos que viram lacrimejantes.<br />
Nas pedras caíram naquele dia<br />
Lágrimas que acabaram por silenciar.<br />
Gotas <strong>de</strong> tristeza e alegria<br />
De vivências que nunca po<strong>de</strong>rão apagar.<br />
Naquele dia, as nuvens não ousaram aparecer<br />
Os pássaros não se atreveram a cantar<br />
As flores pararam <strong>de</strong> crescer<br />
E o vento suspen<strong>de</strong>u-se no ar.<br />
Todo o Mundo parou para ver<br />
Toda a natureza para presenciar<br />
Tamanha força e ligação<br />
Tamanha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar.<br />
Naquele dia ficaram guardadas<br />
Memórias que a terra não po<strong>de</strong> enterrar<br />
Naquele dia ficaram vidas<br />
Que a terra conseguira um dia cruzar.<br />
Carolina Geadas<br />
11ºC
Há coisas que não entendo.<br />
Que simplesmente são.<br />
Coisas em que penso,<br />
Coisas que me atormentam,<br />
Que não <strong>de</strong>svendo.<br />
É o porquê <strong>de</strong>sta sabida arbitrarieda<strong>de</strong>,<br />
Deste <strong>de</strong>sconhecido cheio <strong>de</strong> previsão.<br />
Há a frieza do calor <strong>de</strong> quem não sabe<br />
E como há quem fale sem dizer palavra!<br />
São assim as tristes conversas dispersas,<br />
Os argumentos cheios <strong>de</strong> nada.<br />
Sendo<br />
E há os que sabem, que passam, que sentem<br />
E que, mesmo assim,<br />
Sabendo tudo, nada enten<strong>de</strong>m<br />
E não sabem que não é nada o que os atormenta<br />
Que são coisas que simplesmente são.<br />
Carolina Geadas<br />
11ºC<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 7
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 8<br />
Diário <strong>de</strong> Maria<br />
Meu fiel confi<strong>de</strong>nte! Uma vez mais a inquietação <strong>de</strong> minha alma, queixosa <strong>de</strong><br />
tantos tormentos sonhados, me persegue com presságios.<br />
Ao travesseiro <strong>de</strong> minha cama assoma-se a imagem do nosso nobre bom rei, esse<br />
gran<strong>de</strong> português D. Sebastião, que regressará numa manhã <strong>de</strong> nevoeiro. Surge tal as<br />
<strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> meu bom Telmo, com aquela testa tão austera dum rei moço, que jurou<br />
engran<strong>de</strong>cer e cobrir <strong>de</strong> glória o seu reino. Imagino-me cavaleiro, lutando pela minha<br />
nobre pátria, ao lado <strong>de</strong>sse soberano <strong>de</strong> olhos rasgados, montado no seu grandioso<br />
cavalo.<br />
Enfim, se apenas meus sonhos me inquietassem… há também meu pai e minha<br />
mãe e não sabem eles que lhes leio nos olhos essa inquietação. A <strong>de</strong> meu pai por minha<br />
saú<strong>de</strong>, mas não verá ele quão firme é o vigor <strong>de</strong> meu espírito e <strong>de</strong> meu físico? Já em<br />
minha mãe, que por tudo se apoquenta, noto nela uma preocupação <strong>de</strong> tal exagero! Bem<br />
que as estrelas me dizem esta inquietação, esta sombra que se a<strong>de</strong>nsou nas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta<br />
casa. E aquele retrato… aquele que meu pai me disse ser <strong>de</strong> D. João <strong>de</strong> Portugal, nobre<br />
fidalgo, que se quedou na fatídica batalha <strong>de</strong> Quibir. Mas esse retrato tormenta minha<br />
mãe, que lhe provoca um tal respeito mas, também, um tal terror! E não bastasse minha<br />
mãe, também meu Telmo se altera. Tentou não me dizer quem era aquele nobre senhor.<br />
Bem que as estrelas me dizem…<br />
Ana Mesquita<br />
Joana Neto<br />
11ºC
À maneira <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong><br />
De chuva<br />
Sexta-feira, a chuva cai intensamente na cida<strong>de</strong>,<br />
Rios que nascem nas nuvens<br />
Vêm <strong>de</strong>saguar à superfície da Terra.<br />
Pessoas apressadas fogem da chuva<br />
Como se esta os pu<strong>de</strong>sse dissolver,<br />
Os guarda-chuvas abrem-se,<br />
Armas <strong>de</strong> guerra contra a incessante ira das nuvens.<br />
Mas quando o vento murmura um pouco mais alto,<br />
Estas armas transformam-se<br />
Em meras armações <strong>de</strong> metal,<br />
Revoltas e <strong>de</strong>sfiguradas.<br />
As plantas ganham outra tonalida<strong>de</strong>,<br />
Mais carregada e intensa,<br />
É este banho revitalizante que as anima.<br />
O cheiro a terra molhada,<br />
Esse, lembra-me aventuras, jornadas saudosas<br />
A países longínquos e áridos.<br />
Imagino espelhos cruéis que reflectem<br />
Os <strong>de</strong>feitos dos seres,<br />
Ao longo <strong>de</strong> estradas molhadas.<br />
As nuvens escuras e tenebrosas<br />
Lembram-me cor<strong>de</strong>iros negros,<br />
Expulsos da família lívida dos cor<strong>de</strong>iros do céu.<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 9
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 10<br />
Como gosto do som monótono e tranquilizante<br />
Das gotas <strong>de</strong> chuva a baterem no meu rosto,<br />
São melodias autênticas <strong>de</strong> um instrumento musical.<br />
Tudo parece estar mais limpo, puro.<br />
A chuva elimina as impurezas que se incrustam nos edifícios e nos seres<br />
Estes brilham, iluminam-se<br />
E os meus olhos contraem-se com o reflexo do sol nas gotas da chuva.<br />
Ana Patrícia Cabaça<br />
11º B
Solidão<br />
Amiga, inimiga<br />
Morte dos meus sonhos<br />
Acordar dos meus medos<br />
Vem noite amiga<br />
Cortante como um punhal,<br />
Corta a minha mente<br />
Envolve-me na tua escuridão<br />
Escuridão,<br />
Imensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nada,<br />
Brilho <strong>de</strong> tudo, reflectida em mim.<br />
Fio <strong>de</strong> seda doce,<br />
Fio cortante e frio,<br />
Sufoca, reprime, vê morrer.<br />
Pesa<strong>de</strong>lo gélido<br />
Liberta-me os medos,<br />
Liberta-me das horas sufocantes,<br />
Liberta-me <strong>de</strong> mim.<br />
Sono profundo,<br />
Morte lenta,<br />
Lago sem fundo,<br />
Vida adormecida,<br />
Fonte <strong>de</strong> calor gélido.<br />
Vem até mim<br />
Tira-me o último sopro <strong>de</strong> vida<br />
Faz-me existir,<br />
Faz-me chorar.<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 11
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 12<br />
Sangue ar<strong>de</strong>nte<br />
Fica em mim<br />
Aquece o meu corpo,<br />
Aquece o meu pensamento morto (<strong>de</strong>ixa-o morrer)<br />
Sai, luz<br />
Entra, agonia<br />
Faz brotar a tristeza,<br />
Faz jorrar as lágrimas,<br />
Faz entrar a Dor.<br />
Água cristalina<br />
Manchada <strong>de</strong> sangue<br />
Devolve a espada,<br />
Devolve a lâmina,<br />
Devolve a morte,<br />
Devolve-me.<br />
Catarina Lopes<br />
10º A
Crónica<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 13<br />
É verda<strong>de</strong> que, sem nada para fazer, conto as diversas rachas da minha, mais<br />
amarela que branca, pare<strong>de</strong>, procurando um discorrer <strong>de</strong> palavras com um sentido<br />
literário profundo, reflectindo sobre o facto consumado <strong>de</strong> que escrever nunca foi a<br />
minha paixão e <strong>de</strong> que sobre a escrita nunca antes me <strong>de</strong>brucei, pelo menos, seriamente.<br />
É rara a <strong>de</strong>dicação a algo: escrita, pintura, <strong>de</strong>senho, fotografia… enfim, tudo<br />
aquilo que não nasce connosco e tudo aquilo que está relacionado com gran<strong>de</strong>s doses <strong>de</strong><br />
trabalho enfadonho e <strong>de</strong>morado, processos <strong>de</strong> aperfeiçoamento que, só <strong>de</strong> pensar neles,<br />
nem chego a começar.<br />
É assim que o comodismo vicioso, preguiçosamente difícil <strong>de</strong> quebrar, se torna o<br />
lema <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> ociosos como eu. É assim, também, que os preguiçosos como eu se<br />
tornam acomodados à sombra <strong>de</strong> uma ambição fantasma.<br />
E agora, não analisando as rachas, mas sim os buracos da minha, mais amarela<br />
que branca, pare<strong>de</strong>, reflicto sobre as muitas oportunida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>ixei fugir por entre os<br />
<strong>de</strong>dos. Essas oportunida<strong>de</strong>s que causam uma frustração sempre presente <strong>de</strong> quem sabe<br />
que podia ter dado mais um passo em direcção ao armário dos arquivos “que<br />
aconteceram”.<br />
sou eu.<br />
Joana Neto<br />
11ºC<br />
E é assim que chego à conclusão que, <strong>de</strong> facto, o maior buraco da minha pare<strong>de</strong>
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 14<br />
Deu-se conta da maravilha que o ro<strong>de</strong>ava
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 15<br />
Um leve passar <strong>de</strong> asas por aquela superfície espelhada libertou a ondulação natural<br />
das águas... o seu olhar seguiu a ave, percorreu o céu....<br />
Deu-se conta da maravilha que a ro<strong>de</strong>ava.<br />
Inspirou... fechou os olhos...<br />
O suave canto dos ventos preenchia o silêncio do vale, o leve murmúrio dos pássaros<br />
oferecia vida à paisagem, o restolhar das folhas transmitia a frescura da estação.<br />
À beira do lago, on<strong>de</strong> o Sol ainda não dava lugar à Lua, toda aquela natureza<br />
permanecia tal como o paraíso. Enquanto o pôr-do-sol se fazia reflectir na lagoa, era a<br />
harmonia quem coroava, inspirando uma melodia àqueles que a soubessem ouvir.<br />
Quebrando a monotonia do espelho e a melancolia do silêncio, cai a primeira gota,<br />
fazendo soar uma breve e <strong>de</strong>licada nota musical...<br />
Então ouve-se o som <strong>de</strong> violentos tambores, assustando os pássaros, rasgando os<br />
céus, iluminando o olhar!<br />
Toda aquela harmonia <strong>de</strong>saparecera... A violência da chuva obrigara até a astúcia dos<br />
mais fortes a recolher-se. O estalar dos céus, acompanhado pela frieza da chuva,<br />
compunha a sinfonia que iria perdurar até à aurora...<br />
Sofia Ribeiro<br />
10º B
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 16<br />
O Paraíso Mediterrânico<br />
Radiante, o sol iluminava, com pequenos feixes <strong>de</strong> luz, as profun<strong>de</strong>zas do<br />
Mediterrâneo. O calor era intenso e o brilho da água avistava-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pequena ca<strong>de</strong>ira<br />
<strong>de</strong> praia. Pequena, mas confortável, a ca<strong>de</strong>irinha azul e branca, situada no cima das<br />
dunas, possibilitava uma vista fabulosa. Sonhos e <strong>de</strong>sejos percorriam a areia molhada,<br />
ansiando alcançar a linha do horizonte. Era o sítio i<strong>de</strong>al para relaxar. O oceano, límpido e<br />
fresco, assemelhava-se a uma nascente <strong>de</strong> água pura e transparente, transmitindo uma<br />
sensação <strong>de</strong> paz e tranquilida<strong>de</strong> inexplicáveis. Não havia ondas nem espuma, apenas o<br />
azul-esver<strong>de</strong>ado cobria o magnífico mar calmo. A sua beleza era inconfundível.<br />
A alguns metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>, os corais enfeitavam o habitat <strong>de</strong> muitas<br />
espécies aquáticas, tornando o mar belo e selvagem. Os cardumes <strong>de</strong> peixes,<br />
movimentavam-se <strong>de</strong> um lado para o outro, causando uma certa agitação entre os seus<br />
predadores. Sob o areal, perto <strong>de</strong> duas anémonas, estava uma estrela-do-mar, que<br />
chamava particularmente a atenção pelas suas cores vistosas e elegantes. As imagens<br />
eram tão inspiradoras, que pareciam pertencer a outro mundo, invadindo-nos os olhos<br />
com uma facilida<strong>de</strong> extraordinária.<br />
Naquele paraíso oculto, a areia, fina e macia, coberta <strong>de</strong> vieiras coloridas e <strong>de</strong><br />
pequenos pedregulhos, ia ao encontro da frescura marinha, recebendo salpicos suaves<br />
quando a maré enchia. Vinda do oci<strong>de</strong>nte, a brisa incidia nos grãos finos <strong>de</strong> areia,<br />
arrastando-os para junto dos rochedos.<br />
Por <strong>de</strong>trás do <strong>de</strong>slumbrante oceano, erguiam-se grandiosas palmeiras, perfeitas<br />
para criar agradáveis sombras à beira-mar. O aroma a frutos tropicais, proveniente <strong>de</strong><br />
algumas árvores, <strong>de</strong>liciava todos os que contemplavam aquela paisagem maravilhosa,<br />
sendo, sem dúvida a mais esplendorosa do mundo.<br />
Ana Rita Silva<br />
10º B
Descrição <strong>de</strong> uma paisagem<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 17<br />
À sua volta estendiam-se extensos matagais numa calma e maravilhosa monotonia. Com<br />
a sua quietu<strong>de</strong> aquele lugar embalava-o como se fosse um bebé. Como música <strong>de</strong> fundo ouvia-se<br />
o melodioso cantar dos pássaros e o eco dos seus passos ao pisar as folhas secas e vivas do<br />
Outono.<br />
Aquilo <strong>de</strong> que mais gostava era <strong>de</strong> ouvir o som das folhas a <strong>de</strong>sfazerem-se <strong>de</strong>baixo dos<br />
seus pés. Naquela encantadora tranquilida<strong>de</strong> o som ecoava como se <strong>de</strong> tiros se tratasse,<br />
anunciando uma guerra futura e próxima. Por isso mesmo gostava <strong>de</strong> pisar as folhas! Não pelo<br />
seu som anunciar uma guerra, muito pelo contrário. Era precisamente o facto <strong>de</strong> conseguir ouvir<br />
os seus próprios passos que o alegrava e maravilhava, pois vinha mostrar-lhe a paz que reinava<br />
naquele lugar. A paz era reflexo do que pulsava no seu coração.<br />
Rodrigo adorava aquele lugar! Principalmente no Outono, quando o chão se enchia <strong>de</strong><br />
folhas secas, <strong>de</strong> inúmeros e incontáveis tons <strong>de</strong> amarelo, laranja e vermelho. As folhas que<br />
iluminavam o chão eram <strong>de</strong> cores tão vivas e quentes que parecia que este ardia <strong>de</strong>baixo dos seus<br />
pés, mas sem nunca o queimar. Estas eram como pequenas labaredas <strong>de</strong> fogo tão brilhante e<br />
intenso que, às vezes, parecia que o cegava. Nesse fogo ele gostava <strong>de</strong> se <strong>de</strong>itar para <strong>de</strong>scansar,<br />
pensar e reflectir.<br />
A luz e alegria naquele lugar era uma constante porque apesar <strong>de</strong> estar coberto <strong>de</strong> faias,<br />
por todo o lado, estas <strong>de</strong>ixavam passar clarida<strong>de</strong> suficiente para o iluminar tornando-o mágico e<br />
misterioso. O seu lugar secreto, o lugar que ele adorava!<br />
Procurou a faia à sombra da qual se costumava sentar. Era uma faia com um tronco<br />
ligeiramente mais grosso do que as outras. Des<strong>de</strong> pequeno que sempre a imaginara como sendo a<br />
mãe <strong>de</strong> todas as outras faias.<br />
Sentou-se. Conseguia sentir o tronco áspero e rugoso da faia nas suas costas e, nas suas<br />
mãos, a suavida<strong>de</strong> e macieza das folhas que se encontravam espalhadas pelo chão.<br />
Fechou os olhos e inspirou fundo diversas vezes. Conseguia sentir o ar puro, limpo e<br />
carregado <strong>de</strong> aromas <strong>de</strong>licados a entrar e a sair dos seus pulmões, purificando a sua alma. Os<br />
odores que mais conseguia sentir eram o da terra húmida que dava vida às árvores e o das folhas<br />
já mortas e secas.<br />
Rodrigo era capaz <strong>de</strong> ficar ali horas sem pensar nem fazer nada, livre dos problemas e<br />
protegido das malda<strong>de</strong>s do mundo pela fragilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rosa e grandiosa daquele faial.<br />
Rita Pereira<br />
10º A
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 18<br />
Descrição <strong>de</strong> uma paisagem<br />
Estava Henrique à janela do quarto que habitava em Alvapenha. Gozava ali <strong>de</strong><br />
um panorama extenso e ameníssimo. A tar<strong>de</strong> parecia <strong>de</strong> Primavera. Henrique corria com<br />
prazer a vista pelos diferentes lugares da quinta.<br />
Ro<strong>de</strong>ada por <strong>de</strong>nsas sebes e árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, a quinta, vasta, espaçosa era,<br />
sem dúvida, o lugar i<strong>de</strong>al para albergar um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> animais.<br />
Ao fundo, avistou os belos cavalos <strong>de</strong> competição, criados na lezíria, que se<br />
refrescavam nas águas límpidas e cristalinas do pequeno riacho, que nascia nas gran<strong>de</strong>s<br />
colinas por <strong>de</strong>trás do bosque e corria até ali.<br />
Os tratadores <strong>de</strong>slocavam-se, atarefadamente, em todas as direcções,<br />
transportando <strong>de</strong>scomunais fardos <strong>de</strong> feno e bal<strong>de</strong>s com alimento para os animais.<br />
Do lado esquerdo, sentada à sombra <strong>de</strong> um castanheiro, junto à horta, avistou<br />
Mariana. Com uma serenida<strong>de</strong> invulgar, lia um livro pacificamente. Contemplava-a,<br />
maravilhado, tudo nela era especial: os cabelos compridos, dourados, que esvoaçavam ao<br />
sabor do vento, a pele clara e <strong>de</strong>licada, os olhos ver<strong>de</strong>s que tanto o perturbavam….<br />
Desviou o olhar daquela que tanta paz lhe transmitia e divertia-se a observar os<br />
comportamentos dos animais.<br />
Junto à fonte românica, <strong>de</strong> pedra, que se encontrava mesmo em frente à sua<br />
varanda, um grupo <strong>de</strong> galinhas lutava pelo milho, enquanto a água corria<br />
incessantemente. Mas, logo <strong>de</strong> repente, surgindo um pardal em voo picado, <strong>de</strong>pressa as<br />
afugentava. No pátio, o feroz pastor-alemão que guardava a quinta dormia<br />
sossegadamente.<br />
Henrique admirava, extasiado, os extensos campos floridos, que anunciavam já a<br />
chegada do mês <strong>de</strong> Março. Amplos, abertos, neles as flores <strong>de</strong>ixavam-se embalar pelo<br />
brisas primaveris. Uma imensa e extraordinária diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies era razão do seu<br />
fascínio: <strong>de</strong> todas as cores e tamanhos possíveis, malmequeres, tulipas, girassóis,<br />
<strong>de</strong>sfrutavam agora dos últimos raios <strong>de</strong> sol.<br />
Começava então a vislumbrar aquele que era o seu momento preferido do dia, o<br />
pôr-do-sol. Por <strong>de</strong>trás do bosque, à direita dos estábulos, dispunha <strong>de</strong> uma imagem<br />
avassaladora. Encantado, Henrique observava o astro-rei, que passava <strong>de</strong> um<br />
luminescente amarelo a alaranjado, adquirindo naquele instante uma magnífica cor<br />
avermelhada, lembrando um fogo incan<strong>de</strong>scente, ao mesmo tempo que <strong>de</strong>scia,<br />
vagarosamente, nas alturas, até <strong>de</strong>saparecer no meio da vegetação.
A noite chegava e tudo se tornava ainda mais tranquilo e silencioso.<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 19<br />
Era o recolher obrigatório dos animais e o pequeno riacho reflectia agora a lua,<br />
espelhada nas suas águas trémulas.<br />
A noite caía e Henrique entretinha-se a examinar as estrelas. Dispersas pelo céu,<br />
convertido num esplêndido azul, brilhavam intensamente, como uma luz resplan<strong>de</strong>cente,<br />
ofuscante, que nunca mais se iria apagar.<br />
Henrique mal <strong>de</strong>ra pelo passar do tempo.<br />
Andreia Men<strong>de</strong>s<br />
10º B
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 20<br />
Descrição <strong>de</strong> uma paisagem<br />
Lá ao fundo no horizonte, o céu azul dominava a tar<strong>de</strong> longa e preguiçosa que<br />
teimava em não ir embora.<br />
As companheiras do dia, <strong>de</strong> cores quentes que se misturavam numa imensidão <strong>de</strong><br />
varieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> formas que seduziam o nosso olhar, paradas no tempo... um raio que<br />
passava entre elas, o sol... com a sua luz forte e quente que agora se punha, lá longe no<br />
horizonte.<br />
Mais perto, o campo repousava, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um dia árduo, tinha um ar cansado.<br />
Um cheiro a terra cultivada pairava sobre o ar, uma tranquilida<strong>de</strong> invadia-nos ao<br />
olharmos à nossa volta, era tudo tão calmo.<br />
Os pássaros voltavam aos seus ninhos, lá no cimo das árvores, chilreavam<br />
melodicamente, aquelas pequenas criaturas tão ágeis no seu <strong>de</strong>stino.<br />
As árvores eram cheias <strong>de</strong> vida, no início da Primavera, cobertas <strong>de</strong> mantos<br />
ver<strong>de</strong>s e reluzentes e <strong>de</strong> flores <strong>de</strong> cor rosa que começavam a <strong>de</strong>sabrochar.<br />
Os campos <strong>de</strong> trigo, à nossa frente, transbordavam calma e serenida<strong>de</strong><br />
transmitidas pela sua cor dourada, que o pôr-do-sol intensificava, esses campos tão<br />
extensos pareciam não mais ter fim...<br />
Miriam Esteves<br />
10º A
Descrição <strong>de</strong> uma paisagem<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 21<br />
A noite caía lentamente, um tumulto vago e abafado <strong>de</strong> mil sons reboava ao longe, à<br />
medida que a chuva começava a cair suavemente provocando um leve tilintar sempre<br />
que chegava ao parapeito frio da janela.<br />
Lá fora, a escuridão já envolvia toda a cida<strong>de</strong>, que se ia recolhendo<br />
melancolicamente.<br />
A chuva tornava-se cada vez mais forte e começavam-se a levantar enormes rajadas<br />
<strong>de</strong> vento que chicoteavam as árvores, fazendo restolhar as folhas e estremecer tudo a sua<br />
volta.<br />
Ao longe, o ribombar <strong>de</strong> um trovão fez-se sentir pela primeira vez. Adivinhava-se<br />
mais uma noite em que se conseguiria ouvir o grito das pedras e o gemido do vento.<br />
Através do vidro espelhado da janela era possível reconhecer a luz intensa e misteriosa<br />
<strong>de</strong> mais um relâmpago.<br />
A chuva continuava forte, <strong>de</strong> tal modo que parecia não querer parar tão cedo e o vento<br />
fustigava tudo por on<strong>de</strong> passava.<br />
Um silêncio constrangedor pairava sobre a cida<strong>de</strong>.<br />
Catarina Antunes<br />
10ºB
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 22<br />
Praia<br />
Enterrou os pés na areia quente que o sol, agora a pôr-se no horizonte, aquecera durante<br />
a tar<strong>de</strong>. Fechou os olhos por um momento e inspirou profundamente o odor intenso da brisa<br />
marítima. Sentiu um leve enjoo, por isso, abriu os olhos novamente.<br />
Caminhou em direcção ao mar, agora a <strong>de</strong>scansar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um dia <strong>de</strong> batalhas travadas<br />
e <strong>de</strong> espuma <strong>de</strong>rramada. Sentou-se e per<strong>de</strong>u-se por um breve momento nos rochedos à sua<br />
esquerda. Como eram altos e laminados, sofridos das guerras que haviam travado com o furioso<br />
mar. Desviou novamente o olhar para o mar. O mar… rebelião, fúria, beleza, tranquilida<strong>de</strong>. Uma<br />
mistura <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>s e azuis imperceptivelmente separados numa imensidão <strong>de</strong> sentimentos.<br />
Distraidamente, passou a mão na areia leve, branca, eterna amante do mar. Reparou nas<br />
pegadas que foram outrora <strong>de</strong>ixadas por gaivotas estri<strong>de</strong>ntes, por pessoas que apenas queriam<br />
aproveitar o Senhor Sol, em vez <strong>de</strong> apreciarem a beleza daquele lugar. As pessoas… gente<br />
mesquinha e <strong>de</strong>masiado ocupadas para apreciar o que quer que fosse, para além dos seus<br />
sobrecarregados horários.<br />
Voltou novamente a olhar para as pegadas, para a areia mártir, que se <strong>de</strong>ixava pisar…<br />
Uma pequena onda, filha bastarda do mar, trouxe novamente a brisa com sabor a sonhos.<br />
Desta vez não enjoou. Ficou sim, a tentar separar os diferentes odores e as histórias que a eles<br />
vinham agarradas, <strong>de</strong> terras distantes, talvez.<br />
Pegou numa concha trazida pelo mar. Era quebrada numa das pontas mas, mesmo assim,<br />
nenhuma das circundantes se lhe comparava em beleza e perfeição.<br />
Fechou, mais uma vez, os olhos, tentando captar a essência dos sons. A conversa das<br />
gaivotas, o som contínuo das ondas a darem, cansadas, à costa; o uivo do vento que, suavemente<br />
fazia com que o seu cabelo doirado, como a areia, dançasse ao sabor das ondas.<br />
Per<strong>de</strong>u-se. Em pensamentos, no mar, nas rochas, em si.<br />
O sol, esse, já ia longe, iluminar a outra meta<strong>de</strong> do mundo. Dava agora lugar á lua, rainha da<br />
noite, esplendorosa e extremosa mãe para com as suas pequenas, formosas e brilhantes filhas –<br />
as estrelas.<br />
Mariana adormeceu ali mesmo, na praia que tanto adorava, amiga <strong>de</strong> pensamentos e<br />
brinca<strong>de</strong>iras. Mariana adormeceu embalada pelas ondas frias e acolhedoras. Mariana adormeceu.<br />
Catarina Lopes<br />
10º A
L’ Amour et l’ Amitié<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 23
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 24<br />
Chère Colombine<br />
Lettres <strong>de</strong> Pierrot à Colombine<br />
Mon amour, mon amie d’enfance, ma belle voisine. Je sais que tu travailles pendant le jour, mais<br />
la nuit est belle aussi.<br />
Je t’écris pour te dire que la nuit est le temps <strong>de</strong>s étoiles... le temps <strong>de</strong> rêver...<br />
La nuit est illuminée aussi ; la lune illumine la nuit.<br />
Les secrets <strong>de</strong> la nuit tu peux les découvrir si tu veux... Je peux te montrer la beauté <strong>de</strong> la nuit.<br />
La nuit n’est pas synonyme d’obscurité et <strong>de</strong> monstruosités ; elle est secrète et tranquille.<br />
Ton amour pour toujours.<br />
Sa<strong>de</strong>line Faria<br />
10º E<br />
Pierrot
Chère Colombine<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 25<br />
La nuit n’est pas l’obscurité, un trou noir <strong>de</strong> couleurs foncées ; la nuit a beaucoup <strong>de</strong> secrets<br />
et moi, je les connais.<br />
Pendant la nuit, la rivière chante et sent bon, le ciel est plein d’étoiles. Il y a aussi la<br />
lune, elle est belle et bien sculptée. La nuit est tranquille et silencieuse ; tout le mon<strong>de</strong> dort.<br />
Si tu voulais, on pourrait se promener ce soir, et je te montrerais comme la nuit est belle.<br />
Je t’attends dans ma boulangerie.<br />
Vânia Simões<br />
10º E<br />
Un bisou et à bientôt.<br />
Pierrot
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 26<br />
Cruel amor, por vezes também puro!<br />
Com boa aparência por fora,<br />
Mas por <strong>de</strong>ntro é tão pouco maduro.<br />
Po<strong>de</strong>rá aparecer numa hora,<br />
Tão forte mas também inseguro,<br />
Dificilmente se vai embora<br />
Mas quando vai, é mesmo tão duro<br />
Que até mesmo o brilhante Sol chora!<br />
Porque quando existe uma paixão,<br />
A todos toca no coração!<br />
Deixa mágoa e <strong>de</strong>silusão,<br />
A qualquer um que forte o sente<br />
Larga restos duma frustração,<br />
Paupérrima mas muito influente,<br />
Mas isto tudo sem intenção<br />
Pois po<strong>de</strong> ser uma chama ar<strong>de</strong>nte<br />
Por vezes uma mera atracção<br />
Vivida muito exoticamente.<br />
Mas o que interessa é o interior,<br />
É a isso que se <strong>de</strong>ve dar valor!<br />
Transmite sensações frustrantes,<br />
Mas também cria muitos sorrisos<br />
Melhores que estrelas cintilantes<br />
Reflecte cabelos lindos, lisos<br />
São sonhos enormes e brilhantes.<br />
Mais harmónico que o som dos guizos,<br />
É a paixão platónica <strong>de</strong> amantes,<br />
Eleva a perfeição vários pisos.<br />
É invisível e incolor,<br />
Mas senhor; isto sim é o amor!<br />
Ricardo Araújo<br />
9ºA<br />
O Amor
Meu amor, que te direi eu?<br />
Que te amo?<br />
Que te adoro?<br />
Tudo coisas que já sabes.<br />
Praia das Lágrimas<br />
Como irei suportar a dor <strong>de</strong> não te ter a meu lado?<br />
A sauda<strong>de</strong> por não te ter à minha volta?<br />
O receio <strong>de</strong> não mais te ver?<br />
A cama fria sem o calor do teu corpo?<br />
O sonho <strong>de</strong> te ter a meu lado se quando acordo não te encontras lá?<br />
A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> beijar esses lábios doces?<br />
Como viverei sem o calor do teu abraço?<br />
Como carregarei nos braços este filho que acaba <strong>de</strong> nascer se ele<br />
De ti me faz lembrar tanto?<br />
Como farei tudo isto, meu amor, sem ti ao meu lado?<br />
Como suportarei a dor <strong>de</strong> não te ter aqui?<br />
O sofrimento <strong>de</strong> não te ter por perto?<br />
Quero que fiques!<br />
Quero que me ames como sempre o fizeste.<br />
Quero que me abraces com o mesmo carinho.<br />
Quero beijar-te.<br />
Amo-te <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia.<br />
Quero-te como sempre quis.<br />
Sonho contigo todas as noites.<br />
O meu amor cresce a cada dia.<br />
Tudo me lembra o teu sorriso.<br />
Quero voltar a sentir a tua boca, o teu amor…<br />
Só quero que Deus perceba, meu amor,<br />
Só quero que Ele perceba que prefiro um gran<strong>de</strong> amor a uma gran<strong>de</strong> pátria.<br />
Digo e repito…só te queria ter aqui, a meu lado, para sempre.<br />
Deus queira que tudo isto acabe cedo, todo este tormento, toda esta angústia.<br />
O meu coração chora quando penso na <strong>de</strong>spedida.<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 27
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 28<br />
A minha alma sofre quando imagino o último beijo.<br />
Dos meus olhos caem gotas <strong>de</strong> água sempre que me lembro <strong>de</strong> ti.<br />
Porque tens tu <strong>de</strong> navegar por esse mar tão vasto e incerto?<br />
Agora seco as últimas lágrimas,<br />
Escrevo as últimas linhas,<br />
Pois tenho <strong>de</strong> me preparar para tão dolorosa <strong>de</strong>spedida.<br />
Promete-me que não morres.<br />
Promete-me que não <strong>de</strong>ixarás <strong>de</strong> me amar.<br />
Pois eu prometo-te que esta distância,<br />
Por mais longa que seja,<br />
Não irá o nosso amor separar<br />
Um beijo daquela que sempre te amou.<br />
Ana Fonseca<br />
9º H
L’Amitié<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 29<br />
Le mot « Amitié » peut avoir beaucoup <strong>de</strong> significations, mais pour que l’amitié existe, il<br />
doit forcément y avoir au moins <strong>de</strong>ux personnes, <strong>de</strong> la confiance, <strong>de</strong> la sincérité, <strong>de</strong><br />
l’affection, <strong>de</strong> la gaieté...<br />
Rappelons qu’il est fondamental que l’Amitié soit présente entre les peuples pour<br />
maintenir la paix dans le mon<strong>de</strong> entier...<br />
N’oublions pas finalement que les marques d’amitié on les sent à l’intérieur <strong>de</strong> notre<br />
cœur et personne n’est dupe.<br />
Nádia Martins<br />
10º E<br />
Un amour silencieux, un amour véritable<br />
Ami vrai, ami à temps plein<br />
Un amour d’échanges, <strong>de</strong> partages<br />
Un amour entre amis...<br />
Un amour qui vient du cœur, un amour <strong>de</strong> dévotion<br />
Un amour qui échange <strong>de</strong>s sourires, qui échange <strong>de</strong>s larmes<br />
Un amour que je sens<br />
Un amour rien qu’entre amis.<br />
Sa<strong>de</strong>line Faria<br />
10º E
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 30<br />
… haverá sempre uma criança a tornar o mundo real num mundo mágico
Valeu a pena?<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 31<br />
Ser criança é acreditar que o nosso mundo é um mundo <strong>de</strong> sonho, on<strong>de</strong> toda a<br />
fantasia é capaz <strong>de</strong> se tornar real. Mas não somos crianças para sempre.<br />
Há momentos na vida em que somos obrigados a crescer, a ver, por vezes, os sonhos<br />
<strong>de</strong> que mais gostamos serem <strong>de</strong>struídos numa fracção <strong>de</strong> segundos.<br />
Será que valeu a pena <strong>de</strong>ixar para trás todos aqueles sonhos <strong>de</strong> criança e passar a ser<br />
uma pequena dona <strong>de</strong> casa? Valeu a pena crescer?<br />
Tudo ficou arrumado num baú <strong>de</strong> lembranças. As fadas, os príncipes e princesas <strong>de</strong><br />
encantar, as bruxas e os dragões que tanto temia. Tudo isto foi trocado pelo mundo real.<br />
Até as bonecas <strong>de</strong> brincar a que me <strong>de</strong>dicava quando tinha tempo, foram trocadas por<br />
dois pequenos bonecos reais a quem passei a <strong>de</strong>dicar-me a tempo inteiro.<br />
Por um lado, ainda tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> voltar ao tempo das brinca<strong>de</strong>iras hilariantes e<br />
dos disparates que podia fazer. E podia porquê? Porque era uma criança num mundo<br />
diferente e era feliz sem medo <strong>de</strong> viver.<br />
Sim, valeu a pena crescer mas não da maneira que teve <strong>de</strong> ser. Tornei-me uma<br />
pequena dona <strong>de</strong> casa que apren<strong>de</strong>u muito, apren<strong>de</strong>u a dar importância a pequenas coisas<br />
que a vida nos dá, apren<strong>de</strong>u a agir como os adultos e só <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> tudo isto mais<br />
tar<strong>de</strong>.<br />
Não é o <strong>de</strong>safio que <strong>de</strong>fine quem somos nem o que somos capazes <strong>de</strong> fazer. O que<br />
nos <strong>de</strong>fine é o modo como enfrentamos esse <strong>de</strong>safio.<br />
Se na altura em que me tornei uma pequena adulta me perguntassem “Vale a pena<br />
tudo isto?”, talvez respon<strong>de</strong>sse que não, pois estava muito confusa. Era a altura <strong>de</strong><br />
muitas mudanças e, ainda, havia muitos obstáculos por ultrapassar. Mas agora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
tomar consciência <strong>de</strong> que crescer não é mau, tenho a certeza que vale a pena correr riscos<br />
e aceitar novos <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> braços abertos. É uma forma <strong>de</strong> nos conhecermos a nós<br />
próprios. Eu passei a saber quem realmente sou e do que sou capaz ao permitir que me<br />
“obrigassem” a crescer, ao permitir que não me <strong>de</strong>ixassem brincar mais e evaporassem<br />
os meus sonhos.<br />
Agora digo com toda a certeza que não vou <strong>de</strong>sistir pois, sei que no fundo haverá<br />
sempre uma criança <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim e que nunca me impedirá <strong>de</strong> sonhar e <strong>de</strong> tentar tornar<br />
o mundo real num mundo mágico.<br />
Raquel Ferreira<br />
12ºA
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 32<br />
Memórias <strong>de</strong> Infância<br />
Hoje, recordo os Natais passados na casa dos meus avós maternos.<br />
A casa dos meus avós fica situada numa pequena al<strong>de</strong>ia, chamada Al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Santa<br />
Margarida, no concelho <strong>de</strong> Idanha-a-Nova.<br />
Quando se aproximava a época natalícia, lembro-me <strong>de</strong> contar os dias, parecia que o<br />
tempo nunca mais passava.<br />
A casa dos meus avós era muito acolhedora, existia um gran<strong>de</strong> jardim on<strong>de</strong> as camélias<br />
brancas e vermelhas alegravam os dias cinzentos e frios do Inverno. Ao fundo do jardim havia<br />
um forno a lenha, oliveiras e laranjeiras.<br />
Guardo na memória o sorriso da minha avó, os seus abraços e beijos. Quando chegava,<br />
ela abraçava-me com tanto carinho…<br />
Na véspera da Noite <strong>de</strong> Natal, havia sempre gran<strong>de</strong> agitação. Eu, os meus primos e os<br />
meus avós íamos à quinta cortar o pinheiro e apanhar musgo para <strong>de</strong>corarmos a árvore <strong>de</strong> Natal e<br />
o presépio. A ida à quinta era sempre um divertimento, adorava apanhar o musgo macio e bem<br />
verdinho. Ao longe, avistava-se a Serra da Estrela coberta <strong>de</strong> neve, era um espectáculo<br />
maravilhoso.<br />
A casa era <strong>de</strong>corada com a colaboração <strong>de</strong> todas as crianças. A minha avó, a minha mãe<br />
e as minhas tias faziam as filhós e outras sobremesas. A casa enchia-se <strong>de</strong> aromas. As crianças<br />
gostavam <strong>de</strong> mexer na massa das filhós e eu divertia-me a ajudar. Ainda hoje guardo na memória<br />
o cheiro do forno a lenha on<strong>de</strong> se cozia o pão.<br />
Na noite <strong>de</strong> Natal toda a família se reunia. Havia muita comida, risos e brinca<strong>de</strong>iras. À<br />
meia-noite, toda a família ia à Missa do Galo. No adro da igreja ardia um gran<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iro. No<br />
final da missa, beijava-se o menino Jesus por entre cânticos <strong>de</strong> alegria. À saída, havia sempre um<br />
magnífico fogo <strong>de</strong> artifício e um gran<strong>de</strong> balão. Por volta das duas da manhã, íamos para casa e<br />
toda a gente colocava uma bota na chaminé para que o Pai Natal <strong>de</strong>ixasse os presentes. A<br />
agitação e ansieda<strong>de</strong> eram tão gran<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>morava muito tempo para adormecer. A primeira<br />
criança a acordar, chamava as outras e por entre correrias e gritos <strong>de</strong> alegria, cada um procurava<br />
a sua bota e com nervosismo abriam-se os presentes.<br />
Agora, continuo a passar os Natais na casa dos meus avós maternos mas, infelizmente, já<br />
não posso partilhar a sua companhia. Os meus primeiros Natais ficarão para sempre guardados<br />
na minha memória.<br />
Cátia Domingues<br />
7ºC
A Trapezista Azarada<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 33<br />
Estou eu agora sentada na ca<strong>de</strong>ira da minha secretária, num daqueles momentos<br />
<strong>de</strong> calma e relaxamento, quando me vem à memória um episódio muito engraçado que<br />
me aconteceu por volta dos seis anos. Vou contar-vos. Tinha acabado <strong>de</strong> entrar para a<br />
escola primária. Tudo aconteceu numa tar<strong>de</strong> em que eu fazia os meus trabalhos <strong>de</strong> casa.<br />
Eu já estava farta daquilo, simplesmente preferia estar a brincar em vez <strong>de</strong> estar sentada<br />
naquela secretária a olhar para ca<strong>de</strong>rnos cheios <strong>de</strong> letras e números. Então, para me livrar<br />
um pouco daquela “seca” (nem que fosse por uns minutos), inventei uma ida à casa <strong>de</strong><br />
banho.<br />
Quando voltei ao quarto, reparei no can<strong>de</strong>eiro <strong>de</strong> tecto que estava mesmo por<br />
cima da caixa dos meus brinquedos e tive uma i<strong>de</strong>ia. Já tinha visto muitas vezes na<br />
televisão os macacos baloiçarem-se sobre as lianas, ou os trapezistas lá no alto do circo.<br />
Foi nesse momento que eu achei que também era capaz <strong>de</strong> fazer aquilo. Subi à caixa <strong>de</strong><br />
brinquedos e pendurei-me no can<strong>de</strong>eiro que balançou e balançou. Como vi que nada<br />
acontecia, repeti a peripécia, mas <strong>de</strong>sta vez… BUM! CATAPUM! Eu e o can<strong>de</strong>eiro<br />
caímos <strong>de</strong>ixando o chão cheio <strong>de</strong> vidros. Eu apanhei um susto tão gran<strong>de</strong> e chorei tanto<br />
nesse dia, que nunca mais ousei tocar no can<strong>de</strong>eiro lá do quarto.<br />
Por isso, quando vos apetecer baloiçar um bocadinho, vão a um parque infantil e<br />
an<strong>de</strong>m <strong>de</strong> baloiço, porque nos can<strong>de</strong>eiros lá <strong>de</strong> casa não é boa i<strong>de</strong>ia!<br />
Rita Reis<br />
7ºB
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 34<br />
Havia sempre… solução<br />
Todo o mundo nos sorria<br />
Tínhamos na nossa mão<br />
O Po<strong>de</strong>r da Alegria.<br />
Havia sempre felicida<strong>de</strong><br />
E facilida<strong>de</strong>.<br />
Já tenho sauda<strong>de</strong><br />
Desses tempos <strong>de</strong> infantilida<strong>de</strong>s.<br />
Havia sempre coisas novas<br />
Para <strong>de</strong>scobrir<br />
E novos projectos<br />
Para investir.<br />
Na minha infância<br />
Não existia tempo nem distância<br />
Só havia felicida<strong>de</strong><br />
E agora… um pouco <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>.<br />
Ana Rita Amaral<br />
7º D<br />
Havia sempre…
Havia sempre um brinquedo para eu brincar<br />
O colo para eu me <strong>de</strong>itar<br />
Uma mão para eu apertar<br />
E uma chupeta para me acalmar.<br />
Havia sempre uma ca<strong>de</strong>ira para eu me sentar<br />
Um babete para eu não me sujar<br />
Um amigo com quem eu podia contar<br />
E uma Auxiliar para me levantar.<br />
Havia sempre uma cama na sala <strong>de</strong> dormir<br />
Eu já estava farta <strong>de</strong> cair<br />
Mas hoje vejo uma cama na sala, ao partir<br />
E peço para lá me colocarem outra vez<br />
Para voltar a ser feliz e a rir.<br />
Ana Rita Pereira<br />
7º D<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 35
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 36<br />
Havia sempre<br />
Alguma coisa para brincar<br />
Um carrinho, um barco,<br />
Um avião a planar.<br />
Des<strong>de</strong> manhã<br />
Ao anoitecer<br />
O dia era feito<br />
Sempre a brincar.<br />
De chucha na boca<br />
Estava sempre sorri<strong>de</strong>nte<br />
Com um carrinho na mão<br />
Eu brincava com toda a gente.<br />
Ricardo Vieira<br />
7º D
Já fui pequenina<br />
E mal sabia andar<br />
Hoje sou crescida<br />
E sei bem falar.<br />
Recordo dos tempos <strong>de</strong> infância<br />
Muitas coisas para contar.<br />
Só sei que tinha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma criança<br />
Que gostava <strong>de</strong> sonhar.<br />
Hoje olho-me ao espelho<br />
E vejo que tudo mudou<br />
Continuo a ter sauda<strong>de</strong>s<br />
Do tempo que já passou.<br />
Rita Reis<br />
7º B<br />
Só sei que tinha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma criança<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 37
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 38<br />
Há alguns anos atrás<br />
Era eu pequenina<br />
Vestia bibe<br />
E dançava na cantina.<br />
Não tinha vergonha <strong>de</strong> nada<br />
Brincava com bichos<br />
Corria a brincar à apanhada<br />
E no cabelo tinha totichos.<br />
Só sei que tinha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma criança<br />
Toda suja <strong>de</strong> tinta<br />
Tocava às portas da vizinhança<br />
E fazia disso sinal <strong>de</strong> patifaria<br />
Mas com toda a alegria.<br />
Um dia cresci,<br />
Soprei as velas do meu bolo<br />
Ainda em cima <strong>de</strong> um banquinho<br />
E quando <strong>de</strong>sci<br />
Fiquei sem o meu po<strong>de</strong>r<br />
Sem aquele po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma criança.<br />
Marisa Baptista<br />
7º C
Quando eu era pequenina<br />
Estava sempre a sonhar<br />
Com gatos a comer espinhas<br />
E que eu era capaz <strong>de</strong> voar.<br />
Voar, voava<br />
Mas com a imaginação<br />
Tão alta ia<br />
Que acabava por dar<br />
Um gran<strong>de</strong> trambolhão.<br />
Mas não <strong>de</strong>sistia<br />
E com as minhas almofadas<br />
Abanava os bracinhos<br />
E, já cansada,<br />
Caía<br />
E ria, ria, ria.<br />
Com a minha irmã<br />
Passei uma infância <strong>de</strong> encantar<br />
Tanto sonhei<br />
Que acabei por acordar.<br />
Ainda hoje tenho sauda<strong>de</strong>s<br />
Desses tempos <strong>de</strong> criança<br />
Em que vivia <strong>de</strong>spreocupada.<br />
Só sei que tinha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma criança.<br />
Margarida Rosa<br />
7º C<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 39
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 40<br />
Era eu pequenina,<br />
Ainda não sabia andar<br />
Quando me ofereceram a minha primeira boneca<br />
Já não me lembro que nome lhe <strong>de</strong>i<br />
Mas se que brincava com o meu pai e a minha mãe.<br />
Hoje vejo as minhas manas<br />
A brincar ao que eu brinquei<br />
E posso recordar<br />
A feliz infância que passei.<br />
Só que agora tudo mudou<br />
Sei que tenho <strong>de</strong> estudar<br />
Mas isso não me impe<strong>de</strong><br />
De a infância recordar.<br />
Sara Oliveira<br />
7º B
É urgente terminar a guerra<br />
Acabar com a solidão<br />
Fortalecer as amiza<strong>de</strong>s<br />
E da ganância e malda<strong>de</strong>s<br />
Manter livre o coração<br />
É urgente apagar as tristezas<br />
Construir novos sorrisos<br />
É urgente manter viva a chama do amor<br />
Fazer renascer a alegria<br />
Queimar o ódio e a inveja<br />
Vencendo os problemas do dia-a-dia.<br />
Sara Oliveira<br />
7º B<br />
É urgente…<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 41
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 42<br />
É urgente a paz<br />
É urgente ver todas as pessoas felizes…<br />
É urgente com as guerras acabar<br />
E todos estarmos unidos<br />
É urgente o nosso caminho encontrar<br />
E nunca mais ficarmos perdidos!<br />
É urgente ver uma pessoa sorrir<br />
Sem nenhuma razão especial.<br />
É urgente todos po<strong>de</strong>rmos sentir<br />
O que realmente nos é essencial!<br />
É urgente sentir amor<br />
E ter alguém que nos ama<br />
É urgente acabar com a dor<br />
E ficar sem gente que nos engana!<br />
É urgente novas pessoas conhecer<br />
E com elas partilhar,<br />
Sem ter nada a temer,<br />
Tudo o que nos atormentar.<br />
É urgente o reencontro com aqueles que mais amamos<br />
É urgente a saú<strong>de</strong><br />
É urgente o amor<br />
É urgente a paz…<br />
Daniela Lima<br />
7º B
É urgente um sorriso<br />
É urgente um gargalhar<br />
É urgente o improviso<br />
E não <strong>de</strong>corar!<br />
É urgente ver gente contente<br />
É urgente o sol que alegra<br />
É urgente a gente ser gente<br />
E não um coração <strong>de</strong> pedra!<br />
Rita Reis<br />
7º B<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 43
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 44<br />
Quando estou contente<br />
Há flores para toda a gente<br />
Há novos mundos por <strong>de</strong>scobrir<br />
E já nada é urgente<br />
Pois tudo me faz sorrir<br />
Quando estou contente!<br />
Rita Reis<br />
7º B
Conhecer-se a si mesmo…<br />
… agora que acordou para si<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 45
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 46<br />
Morena <strong>de</strong> pele<br />
E <strong>de</strong> olhos castanhos,<br />
Cabelo comprido,<br />
De cor escura<br />
Como a terra molhada<br />
Num dia <strong>de</strong> Inverno.<br />
A família e os amigos,<br />
Esses são o seu tesouro<br />
Mais precioso que qualquer ouro.<br />
Viver a vida é o seu lema<br />
Aproveitar cada lágrima,<br />
Sorriso, dilema.<br />
Para assim apren<strong>de</strong>r<br />
O que <strong>de</strong> mais importante há:<br />
Feliz ser!<br />
Miriam Esteves<br />
10º A<br />
Auto-Retrato
vida, ao mundo.<br />
Auto-Retrato<br />
“Para quê continuar a sonhar?” “ Valerá a pena?”<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 47<br />
Perguntas que vagueiam constantemente na sua mente, que a pren<strong>de</strong>m a cada segundo à<br />
Passa os dias num turbilhão <strong>de</strong> emoções, paixões…<br />
Ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> amigos e, mesmo assim, consegue sentir-se por vezes sozinha, isolada.<br />
Consegue transpor no olhar a fúria e beleza eternas do mar, que tanto ama, que tanto<br />
tenta <strong>de</strong>svendar mistérios. Olhar que consegue por vezes cortar sem dizer uma única palavra. Em<br />
olhos que choram <strong>de</strong> alegria, medo, fúria, paixão, consegue ao mesmo tempo dar tranquilida<strong>de</strong> e<br />
apoio aos amigos, aos verda<strong>de</strong>iros irmãos.<br />
Mantém uma relação <strong>de</strong> amor-ódio com os sonhos, com a felicida<strong>de</strong>, enfim, com a Vida.<br />
Desespera em silêncio e é capaz <strong>de</strong> sorrir estando a morrer por <strong>de</strong>ntro. Passou por<br />
momentos <strong>de</strong> imensa felicida<strong>de</strong>, mas passou por mais momentos <strong>de</strong> tristeza, angústia e medo.<br />
Talvez por isso seja tão receosa e dê a conhecer, por vezes, aquilo que não é, escon<strong>de</strong>ndo-se por<br />
<strong>de</strong>trás da fina máscara da adolescente extrovertida e sorri<strong>de</strong>nte, sarcástica, irónica, que critica<br />
quando não gosta, sendo na verda<strong>de</strong> muito mais frágil do que pensam.<br />
Quem a conhece verda<strong>de</strong>iramente sabe que não passa sem música (o seu refúgio), sem a<br />
família (eternos apoiantes) e sem os seus AMIGOS (porto <strong>de</strong> abrigo e refúgio).<br />
Adora a Natureza, é interessada em assuntos que a aju<strong>de</strong>m a conhecer-se melhor para<br />
conseguir assim compreen<strong>de</strong>r os outros, gosta <strong>de</strong> falar do filme que foi ver ao cinema, da<br />
camisola que viu numa montra <strong>de</strong> uma loja, dos planos para as tão esperadas férias e <strong>de</strong> tantas<br />
outras coisas…<br />
Apaixona-se, tornando-se esse muitas vezes o seu tormento, o que lhe tira o sono à noite,<br />
o que lhe faz jorrar as lágrimas, conseguindo também sentir borboletas na barriga sempre que<br />
está junto <strong>de</strong> quem gosta, que a faz ficar com um sorriso tolo na cara, que a faz corar (ainda<br />
mais)!<br />
Deseja ser criminologista por amor à ciência e ao conhecimento constante, para po<strong>de</strong>r<br />
conseguir resolver e <strong>de</strong>svendar os cantos mais recônditos e obscuros da mente humana.<br />
Assim sou EU, Catarina Lopes. Sim, vale a pena continuar a sonhar para po<strong>de</strong>r pensar<br />
que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma terrível <strong>de</strong>sgraça aparece sempre um fio <strong>de</strong> esperança, um”réstia <strong>de</strong> luz”, para<br />
continuar a acreditar que nem tudo está perdido, que a vida é um mistério constante, mas que<br />
po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>scobrir o que existe no amanhã, vivendo o presente.<br />
Catarina Lopes<br />
10º A
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 48<br />
Auto-retrato<br />
Exageradamente sonhadora, romântica incurável, imprevisível...<br />
Rapariga <strong>de</strong> ciências exactas, <strong>de</strong> mistérios nunca resolvidos, <strong>de</strong> leituras gigantes e<br />
famosas por pouca gente conseguir acabá-las...<br />
Ama os animais, as plantas, a Terra, o Universo e, acima <strong>de</strong> tudo, ama aqueles<br />
que a amam, os seus amigos, a sua família...<br />
Tem o péssimo hábito <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sconfiada, <strong>de</strong> não se dar a conhecer, <strong>de</strong> ser<br />
ríspida, irritante, ru<strong>de</strong> para aqueles que po<strong>de</strong>m apenas querer conhecê-la... mas dêem-lhe<br />
o benefício da dúvida. Formou-se assim, obrigou-se a ser assim e ainda está a tentar dar<br />
um passo em frente <strong>de</strong>pois do gran<strong>de</strong> muro que construiu à sua volta.<br />
Começou agora a apren<strong>de</strong>r que nem todas as pessoas a <strong>de</strong>sprezam e que alguns<br />
até se preocupam com ela e chegam a ser verda<strong>de</strong>iros amigos neste mundo cheio <strong>de</strong> ódio<br />
e podridão em que se segue a lei da selva.<br />
É hipermegasuper-consciente dos problemas dos jovens, dos adultos, da<br />
socieda<strong>de</strong>, do Mundo (não é por acaso que está sempre agarrada à televisão a ver a<br />
Oprah, o Dr. Phil, documentários sobre tudo e mais alguma coisa)... Ainda não<br />
conseguiu <strong>de</strong>finir exactamente o que lhe interessa mais...<br />
E sarcástica, comenta nos momentos certos e, às vezes, nos errados também...<br />
Tenta ser a melhor amiga para toda gente, só quer ser boa e não <strong>de</strong>siludir<br />
ninguém mas, por causa disso, acaba por se magoar e por magoar os outros mesmo sem<br />
querer...<br />
Sonha com uma vida melhor, sem se preocupar com todos os problemas que<br />
agora enfrentamos e, por isso, quer trabalhar para a ciência e <strong>de</strong>scobrir alguma coisa que<br />
nos aju<strong>de</strong> a acabar com tudo isto.<br />
É assim ela... eu... Mariana... cabelo preto rebel<strong>de</strong>, gran<strong>de</strong>s olhos castanhos <strong>de</strong><br />
encantos tamanhos como já dizia a canção <strong>de</strong> que a minha mãe tanto gosta...<br />
Mariana Marques<br />
10ºA
Auto-Retrato<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 49<br />
Talvez apenas agora consiga <strong>de</strong>screver algo <strong>de</strong> si própria, no entanto é<br />
exactamente agora que é mais difícil essa <strong>de</strong>scrição. Conhecer-se a si mesmo...,<br />
talvez ninguém na vida algum dia o consiga, mas, para ela, esse conhecimento<br />
começou agora... agora que acordou para si.<br />
Reconhecem-na como uma pessoa calma e com voz suave e pouco sonora,<br />
apenas não a reconhecem quando os seus sentimentos se revelam, quando o seu<br />
eu habitual dá lugar a um eu diferente, contraditório, que abandona toda a<br />
serenida<strong>de</strong> e a monotonia, e abraça a instabilida<strong>de</strong>. Esse eu que raros são os que<br />
chegam a conhecer.<br />
O espelho reflecte os seus cabelos escuros, reflecte os seus olhos gran<strong>de</strong>s e<br />
profundos que <strong>de</strong>ixam escapar os pensamentos, reflecte as suas finas e <strong>de</strong>licadas<br />
mãos.<br />
Mas no espelho, para além da sua figura magra, ela consegue ver os seus<br />
<strong>de</strong>feitos. Precipitada... talvez a caracterize bem, e a teimosia ... <strong>de</strong> certo modo<br />
também possui alguma, mesmo que pouca. Altruísta ... isso sim, sempre se<br />
criticou por ter uma faceta assim, quantas vezes se sentiu mal e prejudicada no<br />
passado...<br />
Gosta <strong>de</strong> libertar a sua imaginação, <strong>de</strong>ixar fluír os seus pensamentos e<br />
sonhar, como se voasse... a maioria das vezes através <strong>de</strong> um lápis <strong>de</strong> grafite e <strong>de</strong><br />
um papel. Quando era pequena, adorava <strong>de</strong>senhar vestidos e, por isso, queria ser<br />
estilista. Mas agora cresceu e, apesar <strong>de</strong> esse sonho ainda se encontrar guardado<br />
no fundo do peito, os seus olhos já não o olham como futuro... talvez se a vida<br />
assim quiser, um dia, quem sabe, ainda realize um sonho <strong>de</strong> infância... quem<br />
sabe...<br />
Sofia Ribeiro<br />
10º B
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 50<br />
Como todos, sou humano,<br />
Ninguém o po<strong>de</strong> negar.<br />
Neste planeta mundano,<br />
Ando a navegar.<br />
Jovem estudante, nada mais<br />
Que um mero sonhador.<br />
Os momentos especiais,<br />
Esses, guardo-os sem temor.<br />
Não me julguem pelo exterior,<br />
Não cedam ao preconceito.<br />
Não alimentem esta dor,<br />
De um mundo imperfeito.<br />
E assim termina este dilema,<br />
Pois acabo <strong>de</strong> fazer<br />
Este belo poema:<br />
Essência Do Meu Ser.<br />
Rui Marques<br />
10ºA<br />
Essência do meu ser
Não procuro o significado da vida, existo apenas.<br />
Não penso, sinto.<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 51
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 52<br />
O meu mundo é sensação…<br />
Au! Aleijaram-me! Mas parece que estou viva… Sinto algo que escorrega pela<br />
minha face. Algo que brota <strong>de</strong> mim e não conheço. Sinto-o frio e molha, cobrindo-me o<br />
rosto <strong>de</strong> emoção. E, <strong>de</strong> repente, <strong>de</strong>scubro a sensação do choro. Sim, <strong>de</strong>stes que são os<br />
meus olhos, janelas para o mundo, brota a sensação da dor, e transparece o choque <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>spertar para a vida por uma palmada, na simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma lágrima. Assim começo<br />
a revelar ao mundo o que sinto na ponta dos <strong>de</strong>dos e na emoção dos olhos.<br />
As mãos, essas tão pequenininhas, vão-se pondo lado a lado na ânsia <strong>de</strong> sentir a<br />
textura das coisas numa curiosida<strong>de</strong> tão pueril. E o meu corpo ergue-se para o mundo.<br />
Vou dando os primeiros passos e apreendo o quão é áspero o mundo e difícil <strong>de</strong><br />
percorrer <strong>de</strong>scalça. Por isso peço sempre colo. Custa menos. Vejo o mundo lá <strong>de</strong> cima<br />
on<strong>de</strong> tudo é mais bonito. Estico os braços tentando chegar ao céu, mas não consigo.<br />
Desejo crescer. Desejo tocar o céu e escorregar pelo arco-íris até cair no cal<strong>de</strong>irão com<br />
moedas <strong>de</strong> ouro que dizem existir no seu limite. Mas eu não quero as moedas <strong>de</strong> ouro.<br />
São frias e não sabem a nada. Por isso, se calhar, é melhor ficar pelo colo, porque pelo<br />
menos aqui sou a maior pessoa pequena! Posso não ter as moedas <strong>de</strong> ouro, mas tenho as<br />
maçãs que consigo arrancar cá do alto, as estrelas que roubo do céu à noitinha, sem<br />
ninguém perceber, e até consigo baloiçar naquela dita mentirosa, a Lua, e <strong>de</strong> lá abraço o<br />
mundo por completo. Mas não chega. Quero abraçar o mundo <strong>de</strong> perto. É bonito <strong>de</strong>mais<br />
para ser apenas admirado. E é aí que <strong>de</strong>sço do colo e começo, passo a passo, a andar<br />
sozinha. Quero tocá-lo com as mãos. Vê-lo, senti-lo, cheirá-lo, tocá-lo, quero-me<br />
entranhar por completo, não me diluir nele, porque assim <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ser vista. Quero<br />
gritar ao mundo que estou aqui, quero que me vejam, que me sintam, cheirem, toquem,<br />
oiçam, provem. Quero provar um bocado <strong>de</strong> cada pedacinho do Mundo, pois tendo ou<br />
não cobertura <strong>de</strong> chocolate, tenho a certeza que cada fatia será apetecível. Quero, quero,<br />
quero… mais um quilograma <strong>de</strong> Vida, por favor (não, não é preciso tirar as gorduras,<br />
essas também lhe dão gosto).<br />
Quero unir os cinco sentidos numa perfeita alquimia, buscando o mistério da<br />
vida. Tenho a certeza que o segredo está aí. Se consigo reconhecer uma fruta só pelo<br />
toque e pelo cheiro, hei-<strong>de</strong> conseguir chegar on<strong>de</strong> ninguém chegou. Se provar o mundo,<br />
cheirá-lo, tocá-lo e ouvi-lo, consigo. Eu sei. O tempo tem-se <strong>de</strong>sfeito em rotinas e as
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 53<br />
pessoas ficam perdidas, agem por conveniência e só se importam com a aparência.<br />
Criam máscaras em seu redor e esquecem o verda<strong>de</strong>iro significado do amor. Mas eu<br />
acredito na Natureza, e sei que o Sol um dia há-<strong>de</strong> <strong>de</strong>rreter todas essas máscaras, a Terra<br />
há-<strong>de</strong> comer-lhes os pés e não haverá Água suficiente para limpar toda a sujida<strong>de</strong> e,<br />
rapidamente, as suas memórias serão levadas pelo Vento.<br />
Au! Cada vez sinto mais. O mundo oscila em mim como as cordas <strong>de</strong> uma<br />
guitarra. E gosto da música. As notas da minha vida vibram nos ouvidos e pulsam no<br />
coração. E o mundo é sensação.<br />
Inês Fernan<strong>de</strong>s<br />
12ºA
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 54<br />
Apren<strong>de</strong> a Viver!<br />
O meu mundo é sensação. Eu quero que o meu mundo seja sensação. Não quero<br />
pensar tanto, aliás não quero pensar mais. Não quero compreen<strong>de</strong>r mais nada. Para quê?<br />
As palavras elaboradas só complicam, as frases feitas só servem para nos enganar e só<br />
enganam quem as quer enten<strong>de</strong>r. Não preciso <strong>de</strong> perceber, as coisas que não são para<br />
perceber, são apenas para serem sentidas e vividas <strong>de</strong> uma maneira pura, bela, alegre<br />
apenas com simplicida<strong>de</strong>, naturalida<strong>de</strong> e passivida<strong>de</strong>. Para quê querer falar quando não<br />
há nada para dizer, para quê querer explicar se não há explicação possível? Porque<br />
teimas em arranjar resposta para tudo o que fazes? Nada disso interessa, só interessa o<br />
que sentimos no momento, o que queremos fazer naquele instante e agir, agir sem pensar<br />
no que acontece <strong>de</strong>pois. Esquece o passado e o futuro, só importa o agora. Porque se<br />
pensarmos garanto-te que não vai saber tão bem, não vai ser tão mágico como se o<br />
fizeres voluntária e espontaneamente. O instante não se repete, se não fizeres na altura o<br />
que sentes, como se fosse uma força que te empurra, que te move o corpo e te faz actuar<br />
sem dares por isso, não o vais fazer nunca mais. Porque, por mais que o queiramos<br />
repetir, a ocasião já passou, aí já estamos a pensar no que vamos fazer, já não são as<br />
sensações que nos movem e já nada será igual. E são esses instantes perdidos que <strong>de</strong>pois<br />
dão lugar a <strong>de</strong>sculpas, a explicações que tentam cobrir o vazio que <strong>de</strong>ixámos porque não<br />
agimos quando sentíamos que o <strong>de</strong>víamos ter feito. Mas também te digo que são esses<br />
instantes em que po<strong>de</strong>mos fazer das nossas acções mil palavras e sentimos que dissemos<br />
tudo sem precisar <strong>de</strong> dizer nada, porque não há nada para dizer, apenas para sentir.<br />
Quero apren<strong>de</strong>r a ver sem estar a pensar, vou tentar não encontrar um sentido às<br />
coisas. Não quero imaginar se está certo ou errado. Só me interessa viver. Utilizar todos<br />
os meus sentidos, privilegiando a visão, para po<strong>de</strong>r observar o mundo e senti-lo <strong>de</strong> todas<br />
as maneiras possíveis. Envolver-me com tudo o que me ro<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um modo intenso e<br />
completo, para po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> toda a sua beleza. E tu <strong>de</strong>vias fazer o mesmo, já te<br />
disse que também te po<strong>de</strong>s sentir assim…Pára! Sente o cheiro do mar, ouve o barulho<br />
das ondas e das gaivotas, <strong>de</strong>scalça-te e sente a areia nos pés. Não é bom sentires a praia<br />
como aquilo que ela é mesmo na realida<strong>de</strong>?<br />
Não gostas que te diga estas coisas, porque para ti tudo o que fazes tem um<br />
propósito, uma razão <strong>de</strong> ser, para ti a vida tem <strong>de</strong> ser meticulosamente calculada, como<br />
aqueles gráficos estatísticos que, por exemplo, analisam os meios <strong>de</strong> transporte que os<br />
portugueses habitualmente usam. E se um dia todos <strong>de</strong>cidirem trocar, se aqueles que
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 55<br />
normalmente vão <strong>de</strong> carro para o trabalho resolverem ir <strong>de</strong> comboio e se os que<br />
costumam andar <strong>de</strong> comboio resolverem ir <strong>de</strong> autocarro? E ainda mais, se numa manhã<br />
acordarem e resolverem ir todos <strong>de</strong> bicicleta, ou <strong>de</strong> trotineta, ou a pé? E aí o que fazes?<br />
As percentagens já não contam, os teus números <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> existir, mas as pessoas<br />
existem e não foi porque, num lindo dia, <strong>de</strong>cidiram aproveitar o sol e não ir nos habituais<br />
transportes que <strong>de</strong>ves ignorá-las, que <strong>de</strong>ves apagá-las das barrinhas das percentagens.<br />
A vida não vem com um manual <strong>de</strong> instruções como tu achas que existe! Diz-me<br />
uma coisa: quantas vezes já esboçaste um sorriso sem saber porquê e só viste que o<br />
fizeste porque passaste por uma loja e te observaste reflectido na vitrina? Quantas vezes<br />
não impediste que chorasses e <strong>de</strong>ixasses escorrer uma lágrima pelo teu rosto? Quantas<br />
vezes abriste os braços e <strong>de</strong>ste uma volta na rua, como que a dançar porque estavas feliz?<br />
Quantas vezes a viste a chorar e a abraçaste, e a envolveste em ti como se lhe quisesses<br />
dar o mundo, porque quiseste sentir o corpo <strong>de</strong>la, o calor <strong>de</strong>la? Quantas? Por favor,<br />
sente, sente sem pensar, <strong>de</strong>ixa uma vez na vida a razão <strong>de</strong> lado.<br />
É só isto que quero que faças. Que cheires, que vejas, que toques, sem<br />
racionalizar, sem intelectualizar. Envolve-te com a natureza, <strong>de</strong>ixa que os sons, os<br />
cheiros, os paladares, tudo aquilo que vês te cerque e te faça viver. Porque ali, agora, não<br />
há <strong>de</strong>pois, só existes tu e as tuas sensações. É assim tão difícil? Sabes, quanto mais me<br />
tentam explicar o mundo, toda a conjuntura do universo e da natureza que nos ro<strong>de</strong>ia,<br />
menos eu percebo. Porque quanto mais mo querem explicar, mais se complicam a eles<br />
mesmos e acabam por <strong>de</strong>struir toda a beleza do momento.<br />
Mas queres que te conte um segredo? Vou dizer-to baixinho, aliás, nem importa,<br />
mesmo que o gritasse aos quatro cantos eles não iam ouvir. A verda<strong>de</strong> é que eles não<br />
conseguem agir sem pensar, têm inveja das pessoas que vivem apenas a sentir e têm<br />
inveja porque sabem que seriam felizes se o conseguissem fazer. Goza a vida pensando o<br />
menos possível, não procures um sentido para a vida, porque a vida não é para ter<br />
sentido, é para tu lhe dares o teu próprio sentido, sentindo.<br />
Joana Laborinho<br />
12º A
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 56<br />
O meu mundo é sensação!<br />
Perco-me a olhar o horizonte, tentando saber on<strong>de</strong> o mar <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser mar para passar a<br />
ser céu. Perco-me no cheiro da maresia matinal. Perco-me entre a rugosida<strong>de</strong> da areia e a<br />
frescura das ondas, que me envolvem os pés. Perco-me com o som triunfante do mar a bater nas<br />
rochas impetuosas.<br />
O meu mundo é sensação!<br />
Deixaria <strong>de</strong> ser meu, se assim não fosse. Pensar em mim, construir-me tal como sou, é<br />
enumerar uma visão apurada e curiosa, um olfacto meloso, um tacto <strong>de</strong>licado, uma audição<br />
suave, enfim um lote ilimitado <strong>de</strong> sensação. Toda a minha vida gira em torno <strong>de</strong>ste mundo, que<br />
não sendo meu não é <strong>de</strong> ninguém!<br />
Ao longe, avisto um velhote pescando, junto às rochas. Parado, ouve a música que passa<br />
na rádio, enquanto espera que um peixe, enganado pela gula, puxe o seu anzol. Só e abandonado,<br />
recorda fragmentos da sua memória. No seu olhar, o brilho <strong>de</strong>u lugar ao cansaço. De mansinho, a<br />
solidão fora-se alojando na vida <strong>de</strong>ste homem.<br />
Velhotes como ele, corpos <strong>de</strong>ambulando pela areia, sentimentos perdidos, palavras<br />
gastas, gestos não realizados. Assim é a praia pela manhã! Os mais jovens questionam o sentido<br />
da vida, os mais idosos, como o velhote que avisto, envelhecem com a dor. Nós, os humanos,<br />
temos um curso como o dos rios. Nascemos, vivemos e, já perto da foz, somos anulados pelo<br />
mar. Não há nada que nos digam, que nos dêem a conhecer que possa alterar as leis da Natureza!<br />
Não seria tudo mais fácil se nos apegássemos ao presente, às coisas que vemos, que<br />
sentimos? O melhor é entregarmo-nos àquilo que está aqui agora, porque instantes <strong>de</strong>pois, essas<br />
coisas po<strong>de</strong>m ter já <strong>de</strong>saparecido. Se todos os que passeiam nesta praia a vissem como eu, toda<br />
ela teria mais luz!<br />
Ver o mar como mar, aquela mancha azul <strong>de</strong> dimensões incertas, cheia <strong>de</strong> dinamismo;<br />
ver o céu como céu, aquele paraíso celestial, on<strong>de</strong> tudo começa e acaba. Po<strong>de</strong> haver realida<strong>de</strong><br />
melhor? Que me interessa saber que é no mar que vivem peixes, plantas, navios naufragados, que<br />
me interessa? Não é isso que vejo, não é isso que sinto! Para quê <strong>de</strong>negrir as imagens<br />
harmoniosas que a visão nos dá?<br />
Não adianta esperarmos eternamente por alguém que nos compreenda, que nos aceite<br />
como somos, capaz <strong>de</strong> nos oferecer a felicida<strong>de</strong>. A verda<strong>de</strong>ira felicida<strong>de</strong>, a genuína, está em nós,<br />
está em sermos nós próprios como somos, únicos e sensacionais!<br />
Sim, o meu mundo é sensação! O <strong>de</strong>les não!<br />
Joana Martins Jerónimo<br />
12ºA
O meu mundo é sensação…<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 57<br />
O meu mundo é sensação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia em que nasci. Para ser mais preciso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o momento em que abri os olhos, em que ouvi os primeiros ruídos, cheirei os primeiros<br />
odores, as minhas mãos tocaram em algo e o meu paladar sentiu o gosto.<br />
À medida que fui crescendo fui conhecendo o mundo que me ro<strong>de</strong>ia, sempre com<br />
os cinco sentidos. Assim sendo, conheci um mundo maravilhoso e encantado, on<strong>de</strong><br />
basicamente tudo se vê, aprecia-se com os outros sentidos, toca-se (para confirmar que é<br />
real) e, intuitivamente, percebe-se e sente-se.<br />
Mais recentemente, tudo tem sido mais fácil pois com o <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />
meus sentidos, a percepção do mundo torna-se mais simples, clara e objectiva. Tenho a<br />
salientar o papel da visão na construção do meu mundo pois é com ela que, para além <strong>de</strong><br />
ver, sinto e <strong>de</strong>scodifico o que surge em meu redor. Sinto que os meus olhos têm um<br />
po<strong>de</strong>r tal, que por vezes até <strong>de</strong>sprezo os meus outros sentidos. Contudo, tenho a<br />
consciência <strong>de</strong> que nunca o faço totalmente pois só com os cinco sentidos a funcionar<br />
conjuntamente consigo ter uma percepção i<strong>de</strong>al do meu mundo.<br />
Se me perguntarem se tudo o que tenho <strong>de</strong>riva dos sentidos, obviamente<br />
respon<strong>de</strong>rei que não pois a maior parte do conhecimento que possuo, apesar da sua<br />
aquisição ter inicialmente implicado o uso dos sentidos, requer o uso da razão e do<br />
pensamento. Contudo, quanto ao mundo que me ro<strong>de</strong>ia, nunca o intelectualizei nem<br />
pretendo vir a intelectualizar pois tendo o conhecimento <strong>de</strong> como muitas coisas são na<br />
realida<strong>de</strong>, pretendo continuar com a minha percepção do mundo, através dos sentidos,<br />
por esta ser a mais pura, digna e aquela que me faz acreditar que, <strong>de</strong> facto, vivo no<br />
mundo i<strong>de</strong>al, um mundo <strong>de</strong> sensação…<br />
Luís Carlos Fernan<strong>de</strong>s<br />
12ºA
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 58<br />
O meu mundo é sensação…<br />
Sonhei com um mundo <strong>de</strong> chocolate. Eu podia mergulhar nos lagos <strong>de</strong> chocolate<br />
quente, correr nas tabletes <strong>de</strong> chocolate, colher bombons e dormir a sesta num bolo<br />
fofinho.<br />
Depois acor<strong>de</strong>i.<br />
Abri os meus olhos para o mundo real, tão castiço como ele mesmo. No parapeito<br />
da janela, estava uma bela ave que entoava um cântico, agradando a minha audição.<br />
Aquela canção soava como um hino <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, vindo da mais dócil criatura que vive<br />
alegre na sua pura ignorância, sem traços <strong>de</strong> malda<strong>de</strong>.<br />
Ao sentir um buraco no estômago, coloquei os pés no chão frio para obe<strong>de</strong>cer aos<br />
meus instintos primitivos. Nesse momento, sentia o mais básico <strong>de</strong>les. A fome.<br />
Vi-me como um animal moribundo, procurando <strong>de</strong>sesperadamente por uma presa.<br />
Não com a intenção <strong>de</strong> a ferir, mas sim <strong>de</strong> me nutrir. Como sou um animal irracional,<br />
não penso. Sinto fome, e a única forma <strong>de</strong> a saciar, é atacando alguém inferior a mim na<br />
or<strong>de</strong>m natural das coisas.<br />
Em cima da mesa estava uma cesta com frutas saudáveis e <strong>de</strong>liciosas. Laranjas,<br />
pêras, abacaxis, mangas, maçãs vermelhas, uvas brancas e redondas, diospiros que se<br />
assemelham a tomates, figos, ameixas, pêssegos, cerejas…Uma enorme varieda<strong>de</strong>.<br />
Então comi uma san<strong>de</strong>s mista e um iogurte <strong>de</strong> banana.<br />
Quando assassinei a fome, senti que não <strong>de</strong>tinha mais a minha fragrância pessoal.<br />
Cheirava aos lençóis amarrotados on<strong>de</strong> vivi a passada noite <strong>de</strong> sono. Por isso meti-me na<br />
banheira.<br />
Deixei que a água percorresse toda a superfície do meu corpo, à medida que<br />
espalhava sabão. Aquele cheiro agradava-me. Porquê não sei.<br />
Limpei-me, vesti-me e saí pela porta para a rua.<br />
O gato angorá da vizinha roçou-se nas minhas pernas a ronronar. Não sei o que é<br />
que ele queria, mas o seu pêlo era macio e suave e a sua silhueta era elegante e esbelta.<br />
Depois o gato foi-se embora e subiu para uma árvore, saltando <strong>de</strong> galho em galho. É<br />
bastante ágil, o animal.<br />
Fui para um jardim. Sentei-me no banco a olhar para a paisagem. Vejo os cães a<br />
correr atrás uns dos outros, as folhas das árvores a cair sem vida, o vento a abanar o mais<br />
ínfimo pedaço <strong>de</strong> relva no chão, o riso das crianças que brincam às “escondidas”, sem
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 59<br />
obe<strong>de</strong>cer às regras, um casal que se <strong>de</strong>itou numa manta para fazer um piquenique, os<br />
meninos a jogar à bola, uma ca<strong>de</strong>la a <strong>de</strong>fecar na via pública, uma criança a andar <strong>de</strong><br />
baloiço a dar gargalhadas ensur<strong>de</strong>cedoras, andorinhas a fazer o ninho…<br />
Daqui, on<strong>de</strong> estou sentada, tenho uma visão privilegiada. Vejo tudo, e esse<br />
“tudo” é meu e <strong>de</strong> mais ninguém, porque ninguém está on<strong>de</strong> estou, a olhar para as<br />
mesmas coisas que eu. O meu campo <strong>de</strong> visão é único. Tem um alcance personalizado,<br />
uma panóplia <strong>de</strong> cores misturadas pelos meus olhos, figuras geométricas e figuras sem<br />
forma aparente. É por isso que a minha visão é privilegiada. Mais ninguém a vê para<br />
além <strong>de</strong> mim. E mesmo que eu fique cega um dia, mais ninguém irá “não ver” o que eu<br />
“não vejo”. Ninguém irá ver o que vi hoje.<br />
Está a escurecer. Tornou-se visível no céu um outro planeta. Dizem que se chama<br />
Lua e que até o Homem já lá foi. Quem é esse homem, eu <strong>de</strong>sconheço, mas não dou<br />
importância ao que se diz por aí. Eu também já fui à Lua, e qualquer um po<strong>de</strong> lá ir. Eu vou à<br />
Lua do canto on<strong>de</strong> estou sentada.<br />
Agora há pequenos pontos a brilhar, como se fossem pontinhos, com o propósito<br />
<strong>de</strong> se ligarem por rectas, tal como aqueles jogos das revistas que nos entretêm. Fico perdida a<br />
olhar para o céu sem noção do tempo. Sinto então que ele é eternamente meu.<br />
Mas as minhas pálpebras começam a ficar pesadas e a minha garganta seca. É o<br />
passar do tempo a alterar o meu corpo. Se fosse outro alguém, acharia que talvez<br />
estivesse a “chocar” alguma coisa e dirigir-se-ia a um médico. Ridículo o que essas pessoas<br />
fazem, a achar que os médicos hão-<strong>de</strong> fazê-las felizes. Nem eles o são. Eles mexem nas entranhas<br />
das pessoas, sujam-se com fluidos e escrevem papéis on<strong>de</strong> dizem o que é que elas <strong>de</strong>vem<br />
comprar para serem felizes. Idiotas.<br />
Não sabem que as árvores são alegria, as flores são felicida<strong>de</strong>, a Terra é<br />
felicida<strong>de</strong>, o mar é alegria… o mundo é a felicida<strong>de</strong> que todos procuramos…<br />
A minha pálpebra direita já está quase fechada.<br />
Às vezes fico atormentada quando me assombro com questões nocturnas tais<br />
como: Porque é que das flores saem frutos? Porque é que as folhas das árvores ficam<br />
castanhas e caem? Porque é que cai água do céu? Quem é que inventou a escrita e a<br />
linguagem? Porque é que temos <strong>de</strong> dormir? Porque é que inspiramos ar e expiramos mais ar<br />
ainda?!<br />
Depois paro. Paro quando fico triste e sobrecarregada.<br />
Não sei muito. Não sei absolutamente nada. E assim sou feliz. Mais feliz do que<br />
aqueles que sabem quanto é 2+2. Ainda mais feliz do que aqueles que sabem quem é
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 60<br />
Jesus Cristo. Ainda mais feliz do que aqueles que sabem como se forma o arco-íris. Mas<br />
muito mais feliz do que aqueles que inventaram teorias, fórmulas que toda a gente usa no<br />
seu dia-a-dia. Isso não me interessa para nada.<br />
Não procuro o significado da vida, existo apenas. Não penso, sinto.<br />
Sou feliz assim, sabendo o que mais ninguém sabe. O segredo da felicida<strong>de</strong>.<br />
Até po<strong>de</strong>ria revelá-lo ao mundo, mas não o sei ao certo.<br />
Já me esqueci.<br />
Mas sinto que tem algo a ver com a alma, o coração. Não tem nada a ver com a<br />
cabeça, e disso tenho certeza, se é que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> certeza à intuição… Oh! Não<br />
interessa. Não é nada <strong>de</strong> especial.<br />
Já tenho apenas a pálpebra esquerda semiaberta. Vou para casa, <strong>de</strong>itar-me na<br />
cama, cobrir-me com a colcha <strong>de</strong> retalhos e fechar os olhos. Acabou este novo dia, que<br />
me faz feliz cada vez que termina e cada vez que renasce. Vou <strong>de</strong>ixar os meus olhos<br />
<strong>de</strong>scansar, para ver <strong>de</strong>pois outras coisas novas, sem medo <strong>de</strong> não os voltar a abrir.<br />
Márcia Santos<br />
12ºA
Não esqueço…<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 61
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 62<br />
Um Vazio Cheio <strong>de</strong> ada<br />
Não esqueço o gosto do chocolate <strong>de</strong>rretido<br />
Nem o toque suave da chuva.<br />
Não esqueço o rodopiar do vestido<br />
Nem o equilibrar fugaz e distorcido<br />
Num passeio qualquer <strong>de</strong> rua.<br />
Não <strong>de</strong>ixo passar a música<br />
Nem o acenar da viatura.<br />
Não passa o riso aturdido<br />
Nem o incumprimento da conduta.<br />
E não esqueço nem <strong>de</strong>ixo passar a vida<br />
Nem esse breve suspiro da loucura<br />
Em que se é feliz por um momento difuso<br />
E que logo se espraia por esse instante confuso<br />
Naquilo que é vazio, afinal, <strong>de</strong> sentido<br />
Naquilo que é, afinal, cheio <strong>de</strong> tudo.<br />
Carolina Geadas<br />
11ºC
O que é a vida?<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 63<br />
Cada um tem a sua maneira <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> ver a vida. Todas as pessoas têm as suas<br />
teorias… mas nenhuma <strong>de</strong>las totalmente certa!<br />
Certas pessoas dizem que “a vida são dois dias!” e querem dizer que a vida é<br />
<strong>de</strong>masiado curta para <strong>de</strong>sperdiçarmos tempo!<br />
Outras dizem que o que é preciso é aproveitar a vida ao máximo para mais tar<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r recordá-la com um sorriso…<br />
Há ainda pessoas que passam a vida inteira com medo da morte, acabando por não<br />
<strong>de</strong>sfrutar dos prazeres que a vida nos po<strong>de</strong> dar…!<br />
E, numa mínima percentagem, existem pessoas que dizem que a vida é um sonho<br />
on<strong>de</strong> há partes boas e partes más!<br />
No fundo, ninguém sabe o que é a vida… todos a imaginam, todos a sonham, todos a<br />
vivem… mas, no fundo, ninguém a conhece!<br />
Eu não a conheço mas, na verda<strong>de</strong>, também não a quero conhecer… pois a verda<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong> magoar, fazer-nos sofrer ou, simplesmente, iludir-nos! Gosto da minha vida como<br />
ela é! Já vivi coisas que talvez ninguém da minha ida<strong>de</strong> tenha vivido… mas a verda<strong>de</strong> é<br />
que ainda só tenho 15 anos e a minha vida está, simplesmente, a começar!<br />
Ana Sofia Fonseca<br />
9ºH
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 64<br />
Partidas do Destino<br />
A vida prega partidas. Partidas daquelas que não se libertam da memória, que ficam<br />
gravadas no próprio ser e na alma, partidas que nos fazem chorar e duram a vida toda...<br />
Conheceram-se no infantário on<strong>de</strong> estavam, ainda em pequenas, apenas com a<br />
diferença <strong>de</strong> um ano. Nada indiciava amiza<strong>de</strong> naquela relação relativamente conflituosa,<br />
mas não era verda<strong>de</strong>, o tempo podia alterar as coisas.<br />
E o <strong>de</strong>stino assim o fez. Na creche, ficaram juntas na mesma sala, e na escola os<br />
horários eram coinci<strong>de</strong>ntes. Estavam cada vez mais próximas e começaram a conhecer-<br />
se. A amiza<strong>de</strong> cresceu... cresceu... e continuou a crescer. Tornaram-se amigas, tão<br />
amigas que era quase impossível viver uma sem a outra! Eram inseparáveis, tal como<br />
irmãs. Para on<strong>de</strong> uma ia, a outra acompanhava; quando uma estava triste, a outra sabia<br />
exactamente como animá-la; estavam presentes na vida uma da outra em todos os<br />
momentos, quer estes fossem bons, quer fossem maus. Passavam fins-<strong>de</strong>-semana juntas,<br />
tinham planos <strong>de</strong> vida em conjunto, pensavam em sintonia (quem sabe se não liam os<br />
pensamentos?). Riam-se e brincavam, divertiam-se apenas com a companhia uma da<br />
outra. Conheciam-se melhor que ninguém... Tornaram-se “amigas do peito”.<br />
Mas alguém manda no Destino? No dia em que isso acontecer, será o caos total.<br />
Apenas temos o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> tomar certas <strong>de</strong>cisões, estas que já estavam <strong>de</strong>stinadas.<br />
E então foram obrigadas a separar-se...<br />
Uma, ao passar <strong>de</strong> ano, entra no 2º ciclo e muda <strong>de</strong> escola, abandona o colégio.<br />
Outra continua a frequentá-lo, ainda na escola primária. As raras ocasiões para se<br />
encontrarem eram passadas o melhor possível.<br />
“Era Natal... Época <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> alegria. Ou pelo menos assim o <strong>de</strong>veria ser. O<br />
telefone tocou. Eu atendi:<br />
“- Olá, Isabel! Tudo bem?... Bom Natal para si também, e claro para a Inês, e para o<br />
resto da família!... Beijinhos a todos e Boas Festas!... Obrigada. Vou chamar a mãe.”<br />
Era a mãe da Inês para <strong>de</strong>sejar Boas festas a todos. Chamei a minha mãe ao telefone,<br />
ficou a falar mais <strong>de</strong> uma hora! Mas era habitual, afinal era conversa entre mães <strong>de</strong><br />
amigas.
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 65<br />
Até que a minha mãe saiu do escritório, com a cara banhada em lágrimas...Fala com<br />
o meu pai, em privado, ignorando os meus protestos para saber o que se passava.<br />
Quando soube, a minha mentalida<strong>de</strong> não me <strong>de</strong>ixava pensar noutra coisa: ela vai<br />
conseguir curar-se e ficar boa. Ela vai sobreviver, ela é forte...”<br />
E foi. Foi mais forte do que o esperado. Resistiu ao que muitos não teriam resistido.<br />
O contacto entre as duas foi diminuindo cada vez mais. Os internamentos e as<br />
sessões sucessivas <strong>de</strong> quimioterapia, e o estudo mais exigente <strong>de</strong> outra, não <strong>de</strong>ixavam<br />
oportunida<strong>de</strong> para uma reaproximação...<br />
Até que chegaram as férias <strong>de</strong> Verão. Entre visitas, a amiza<strong>de</strong> renasceu e a<br />
cumplicida<strong>de</strong> retornou. Foram as últimas férias que passaram juntas...<br />
Alguns meses <strong>de</strong>pois, a esperança <strong>de</strong> uma recuperação apareceu ao fundo do túnel:<br />
havia um dador compatível <strong>de</strong> medula na Holanda! Após <strong>de</strong>sesperadas tentativas (vãs)<br />
<strong>de</strong> encontrar alguém que fosse compatível com ela, nem mesmo alguém da família,<br />
nem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> vários apelos a tanta gente, talvez se conseguisse!<br />
Mas o corpo não aceitou o transplante...<br />
Mais meses <strong>de</strong> sofrimento...<br />
Qualquer doença podia <strong>de</strong>itá-la abaixo. No Inverno, apanhava infecções e tinha que<br />
ficar mais tempo internada no hospital.<br />
Mas uma das infecções não passava...<br />
Mesmo doente, ela aceitou arriscar. Havia ainda a hipótese <strong>de</strong> fazer um transplante<br />
<strong>de</strong> medula, <strong>de</strong> um dador que não era totalmente compatível. O seu corpo já tinha<br />
rejeitado o outro transplante, e isso quase lhe roubara a vida... Mas estava <strong>de</strong>cidida a<br />
arriscar. Tinha que arriscar, não se podia <strong>de</strong>ixar escapar a esperança <strong>de</strong> acabar com o<br />
sofrimento que a perseguia há tanto tempo, tinha que tentar.<br />
“Mas a vida prega partidas.”<br />
O transplante estava marcado para a semana seguinte, mas a infecção não foi<br />
curada, e alastrou-se pelo corpo <strong>de</strong>bilitado e sem <strong>de</strong>fesa...<br />
O transplante nunca chegou a ser feito.<br />
Sofia Ribeiro<br />
10º B
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 66<br />
On<strong>de</strong> me encontro?<br />
perguntam vocês.<br />
E eu respondo:<br />
nem eu sei . . .<br />
É um mundo cruel<br />
on<strong>de</strong>, por vezes,<br />
nem o pôr-do-sol me seduz!<br />
É um sítio escuro e feio,<br />
on<strong>de</strong> a alegria e o amor<br />
estão a um canto,<br />
tristes e na solidão . . .<br />
É um lugar<br />
que me traz tristeza,<br />
pois levou a minha Mãe!<br />
Era nela…<br />
Era nela que os pássaros<br />
se inspiravam<br />
para as suas lindas melodias!<br />
Era nela…<br />
Era nela que as flores<br />
iam buscar a sua beleza<br />
e o seu encanto!<br />
Neste mundo on<strong>de</strong> me encontro,<br />
escon<strong>de</strong>ram a linda pomba branca . . .<br />
Soltem-na!!!<br />
Soltem a pomba branca<br />
e <strong>de</strong>ixem-na voar<br />
por esse Mundo fora,<br />
On<strong>de</strong> os corvos negros,<br />
espalham a sua maldição!<br />
On<strong>de</strong> me encontro?<br />
Nem eu sei . . .<br />
Marta Lopes<br />
9º F<br />
On<strong>de</strong> me encontro
Longas eram as horas…<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 67
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 68<br />
O Gordo Coronel Vasconcelos<br />
Longas eram as horas em que o gordo Coronel Vasconcelos se <strong>de</strong>bruçava sobre a<br />
sua vastíssima colecção <strong>de</strong> caleidoscópios. A sua atenção permitia-lhe esquecer-se <strong>de</strong>le<br />
próprio e da frustração em que se encontrava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da guerra. A guerra, essa<br />
aliada perpétua da sua vida, que era já tão velha e tão acabada como ele.<br />
Um dia, no seu pequeno quarto, isolado do mundo por meio metro <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> e<br />
muito mau feitio, enquanto exercia a tarefa tão minuciosa <strong>de</strong> moldar o latão <strong>de</strong> um<br />
minúsculo caleidoscópio, o sol entrou pela pequena janela da pare<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tal forma<br />
prepotente, que o gordo Coronel Vasconcelos não teve como não se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r da tarefa<br />
que tinha em mãos e levar as mãos aos olhos, para tapar o enca<strong>de</strong>amento do sol.<br />
Lembrou-se da noite em que partiu para a guerra. Lembrou-se dos seus trinta e<br />
três amores fugazes <strong>de</strong> adolescência. Lembrou-se <strong>de</strong> Mariana, amor eterno dos seus<br />
sonhos, já falecida há anos que não se contam pelos <strong>de</strong>dos. Lembrou-se da noite em que<br />
tomou <strong>de</strong> assalto, juntamente com os seus vinte e sete homens, o quartel-general do<br />
magro General Medina e lembrou-se daquela remota tar<strong>de</strong> em que comeu pela primeira<br />
vez um gelado. E sentiu-se velho e <strong>de</strong>crépito, numa oficina <strong>de</strong>corada por inúmeros<br />
caleidoscópios às cores e inúmeras teias <strong>de</strong> aranha. Sentiu raspar na pele a dor da solidão<br />
e a amargura <strong>de</strong> tantos anos <strong>de</strong>saproveitados com propósitos <strong>de</strong> guerras, agora, idiotas.<br />
Sentiu-se respirar o pó do ar que agora o fazia sentir-se pó também. E sentiu-se assim<br />
durante os longos anos em que continuaria a fabricar pequeníssimos caleidoscópios<br />
sobre as nuvens <strong>de</strong> pó, sobre a sopa com nata e a carne arrefecida.<br />
Joana Neto<br />
11ºC
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 69<br />
Acor<strong>de</strong>i com as ondas. Esmagavam ferozmente o tapete <strong>de</strong> areia que persistia em<br />
invadir o meu terraço e adornar as minhas tulipas <strong>de</strong> um amarelo gasto e velho. O dia<br />
cinzento adivinhava chuva, embora o sol espreitasse aqui e além, com o cheiro do mar a<br />
convidar-se, agressivo, a entrar em minha casa, pelas janelas entreabertas <strong>de</strong> cortinados<br />
laranja <strong>de</strong>smaiado.<br />
O cântico do mar fazia dançar a fila interminável <strong>de</strong> búzios que subia a ma<strong>de</strong>ira<br />
em espiral para o alto das nuvens envidraçadas cá <strong>de</strong> baixo.<br />
Chovia. A roupa lá fora, molhada, ganhava forma e corpo, belas curvas e<br />
proporções carnais que o vento, alegremente, esculpia. Dançavam pela praia, penas <strong>de</strong><br />
cetim alumiando a manhã.<br />
O meu palácio <strong>de</strong> sal erguia-se, altivo, no meio das ramagens <strong>de</strong>nsas e os<br />
vizinhos nos ninhos <strong>de</strong> palha convidavam-me para a ceia no sol nascente. E o cheiro do<br />
mar tentava <strong>de</strong>saconchegar-me do meu pe<strong>de</strong>stal <strong>de</strong> seda carmim…<br />
Joana Neto<br />
11ºC
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 70<br />
Abusivo<br />
Apenas se ouviam os meus passos…os meus compassados passos a pisar aquelas<br />
brasas. A brisa, já <strong>de</strong> si fraca, estava quente e levantava a poeira do chão. Esta, seca e<br />
irritante, ro<strong>de</strong>ava-me…secava-me a garganta…acompanhava-me ou empurrava-me…<br />
arrastava-me ou torturava-me por aquele caminho <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosamente…quente! Enquanto<br />
percorria aquele manto branco que à minha frente se fundia, ouvia os guinchos que<br />
daquelas celas saíam. Guinchos ou berros selvagens. Oh, como eles se mexiam,<br />
ameaçando quem passava com o seu olhar negro! Os movimentos suaves que eles faziam<br />
sob pernas elegantes, sob membros graciosos. Ambiciosos eram eles pela sua beleza<br />
obsessiva. Seres nobres, mas ao mesmo tempo tão agressivos… O meu pensamento<br />
voava em conseguir dominá-los num passo perfeito e com isso…um sorriso soltou-se.<br />
Um último passo e lá estava eu. Lá estava eu naquele recinto enorme, on<strong>de</strong> o céu<br />
era tecto e o chão era fogo; on<strong>de</strong> eu fora alma e ele, mais uma vez, corpo.<br />
A uns escassos metros vi mais um dos meus, sentado e altivo naquele corpo<br />
selvagem. Um olhar avaliativo era crime, mas era mais forte do que eu.<br />
Foi então que ele entrou: passo ante passo, pé ante pé. Sentia-lhe a respiração,<br />
inicialmente calma, inspira…expira…inspira.... Virei-me. Um servo guiava-o na minha<br />
direcção. A cabeça do meu amante erguia-se com aspereza, os seus olhos olhavam-me <strong>de</strong><br />
alto…olhavam-me com <strong>de</strong>safio. A crina preta voava…voava ao sabor da fraca brisa,<br />
brilhava ao sabor do forte sol. Os pés energéticos batiam no chão em protesto pela corda<br />
que ao pescoço levava. Parou…estacou e, ali, livre ficou. Avancei calmamente, mas cá<br />
por <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sejosa, <strong>de</strong> encontro à minha montada. Num movimento uno subi, num<br />
movimento uno…fugimos.<br />
Aterrei no seu dorso…puxei-lhe as ré<strong>de</strong>as…senti-o erguer as patas dianteiras e<br />
impulsionar-se para a frente.<br />
Primeiro um galope, mais tar<strong>de</strong> uma carga. A velocida<strong>de</strong> aumentava a cada<br />
passada. Conseguia ouvir, apesar do vento, os seus passos pesados e <strong>de</strong>cisivos<br />
ladrilharem a avenida à sua frente. A minha fita voou perante tamanha ousadia. Senti-me<br />
livre: livre por aqueles campos ilimitados, livre como o vento ou como a águia; livre<br />
como o ser selvagem que sou. Quem era ele ou quem era eu, não o sabia dizer. Só me
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 71<br />
lembro <strong>de</strong> sentir as lágrimas, não sei se pelo vento se pela liberda<strong>de</strong>. Não sei se por mim<br />
ou por aqueles que nas celas choravam. Apenas sabia que não era apenas eu que<br />
gritava…<br />
”Corre! E nunca mais pares.”<br />
Parou! O meu coração falhou uma pulsação, assim como as ré<strong>de</strong>as que falharam<br />
na sua missão. Oh, se ré<strong>de</strong>as! Serpentes! As malditas <strong>de</strong>slizaram pelos meus <strong>de</strong>dos,<br />
ficando pen<strong>de</strong>ntes no pescoço do garanhão. Instalou-se o pânico. O cavalo não parava,<br />
não abrandava <strong>de</strong> maneira nenhuma. Tentava-me agarrar com as pernas, o que apenas<br />
contribuía para aumentar a velocida<strong>de</strong>. Olhei para o meu parceiro, para aquele meu igual,<br />
que ao meu lado já voava, mas a única ajuda fora um sorriso <strong>de</strong> escárnio. Numa última<br />
tentativa inclinei-me um pouco mais, <strong>de</strong> forma a apanhá-las. Fora aí que vira mais <strong>de</strong><br />
perto o abismo, ou, talvez, tenha sido a vez em que espreitei a sua altura.<br />
Apanhei-as! Suspirei. Puxei-as o mais que pu<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontro ao meu peito<br />
palpitante. O cavalo ergueu as patas dianteiras e relinchou. A outra alma que <strong>de</strong>vastava<br />
os campos ao meu lado atravessou-se no meu caminho. O meu cavalo virou-se num<br />
passe vacilante e pousou fortemente as patas no chão.<br />
Seria mais um daqueles momentos que não nos saem da memória, aqueles<br />
momentos únicos, curtos ou até mesmo perigosos.<br />
Inês Costa<br />
10º B
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 72<br />
Não fique a ver os comboios a passar, venha daí!
A menina dos olhos <strong>de</strong> oiro<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 73<br />
Sentada neste velho banco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira fazia o que <strong>de</strong> mais penoso há nesta<br />
raquítica vida: esperar. Inspirava silenciosamente a saturação <strong>de</strong> um ar poluído enquanto<br />
o chinfrim ensur<strong>de</strong>cedor do comboio da linha oposta vinha agravar a banal e já habitual<br />
enxaqueca das sextas-feiras. “Não fique a ver os comboios a passar, venha daí!” Olhei<br />
para o slogan como que por obrigação da própria rotina… as letras gastas pelo tempo<br />
per<strong>de</strong>ram o encanto no meio <strong>de</strong> multidões <strong>de</strong> olhares cansados. Alguns indivíduos<br />
corriam <strong>de</strong>sesperados, por todos os lados. (Por vezes chego a achar que correm só por<br />
puro prazer!) O comboio voltou a fugir levando os que por ele esperavam para mais<br />
perto da capital e <strong>de</strong>ixando ao alcance da minha vista uma triste árvore que dançava<br />
numa penosa angústia. Embalada pelo vento procurava a clarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um raio <strong>de</strong> sol<br />
roubado pela alteza <strong>de</strong> um prédio que em troca a algemou na escura sombra <strong>de</strong> um dia <strong>de</strong><br />
sol.<br />
Foi quando, bem mais perto <strong>de</strong> mim jurei ver o brilho <strong>de</strong> duas pérolas no azul do<br />
olhar profundo <strong>de</strong> uma criança que passava. Intimidada pela inocente beleza do seu<br />
sorriso, <strong>de</strong>sviei o olhar… um olhar que outrora pertencera à menina dos olhos <strong>de</strong> oiro.<br />
Mas a menina cujo olhar reflectia a luz dum sol que queimara a sua pele, continuava a<br />
observar-me incessantemente. Ousei mergulhar os meus olhos <strong>de</strong> oiro no profundo<br />
oceano do seu olhar e senti, como que pintado por uma criatura divina, um sorriso nascer<br />
em mim. De mão dada com a mãe a menina cujos olhos eram pedaços <strong>de</strong> mar, procurava<br />
agora a cor <strong>de</strong> outros sorrisos, o aroma <strong>de</strong> outros olhares… Mas aqui na cida<strong>de</strong> as<br />
pessoas vivem afogadas noutros mares… e esquecem-se <strong>de</strong> rir e <strong>de</strong> morrer em ondas <strong>de</strong><br />
puro prazer. E eu? Terei eu esquecido o puro prazer <strong>de</strong> rir… o puro prazer <strong>de</strong> correr pelo<br />
campo… <strong>de</strong> ousar respirar a limpi<strong>de</strong>z do ar dum vale que viu nascer a menina dos olhos<br />
<strong>de</strong> oiro?<br />
“Atenção senhores passageiros, o comboio suburbano com <strong>de</strong>stino a Sintra vai<br />
entrar na linha número um. Na entrada para os comboios atenção à distância entre as<br />
portas e a plataforma.” Quase que à velocida<strong>de</strong> da luz o comboio <strong>de</strong>sfilou perante mim<br />
<strong>de</strong> uma forma bruta e pouco elegante. Levantei-me ainda com o pensamento mergulhado<br />
numa total confusão. Voltei a olhar para o slogan e recor<strong>de</strong>i o primeiro dia que o havia<br />
contemplado. Fora na altura em que os meus olhos reflectiam o doirado <strong>de</strong> um raio <strong>de</strong><br />
sol e a alegria que sentia por saber sorrir <strong>de</strong> puro prazer. Nessa altura senti-me<br />
verda<strong>de</strong>iramente lisonjeada por obe<strong>de</strong>cer ao pedido do slogan e por pensar no quão
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 74<br />
aborrecido seria ficar o dia inteiro a olhar para os comboios a passar. Com os meus olhos<br />
<strong>de</strong> oiro contemplava a cida<strong>de</strong> com uma infinita admiração e invejava aquelas pessoas<br />
que viviam muito alto nos prédios, tão perto do céu… conseguiriam elas tocar nas<br />
nuvens? E nas estrelas? Escolhi uma porta e vi o meu olhar reflectido no vidro…<br />
procurei perceber se nele havia ainda um brilho <strong>de</strong> oiro, mas a porta abriu-se sobre o<br />
olhar sombrio <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> negócios que saiu veloz baloiçando com elegância uma<br />
pastinha, como compete aos homens <strong>de</strong> negócios. Entrei no comboio tentando, à<br />
semelhança da menina cujos olhos eram pérolas, pintar sorrisos em rostos pálidos. Mas,<br />
na cida<strong>de</strong>, as pessoas <strong>de</strong>ixam-se morrer pelo inalcançável…<br />
Sentei-me ao lado <strong>de</strong> uma senhora fina e intelectual que escondia o cansaço <strong>de</strong><br />
uma face cor <strong>de</strong> neve por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> um livro, como para se escon<strong>de</strong>r, pois eu bem sei que<br />
se envergonhava da sua própria futilida<strong>de</strong>. Lançou um olhar discreto para mim, como se<br />
a minha presença alegre e banal estivesse a incomodar madame. O comboio voltou a<br />
entrar em movimento e vi afastar-se o velho banco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que continuaria a ver os<br />
comboios a passar sem nunca po<strong>de</strong>r sair dali. Um passageiro irrequieto passou pela nossa<br />
carruagem, porque aqui na cida<strong>de</strong> as pessoas competem com o tempo e nunca param<br />
quietas. “Próxima paragem, Cacém”. Quando os meus olhos eram <strong>de</strong> oiro sonhava em ter<br />
uma voz tão bonita como a da senhora que anunciava a chegada a cada uma das estações<br />
e acreditava que era uma das profissões mais bonitas que havia.<br />
O sol, prestes a <strong>de</strong>spedir-se do dia, veio aquecer o meu rosto com uma ternura tal,<br />
que ousaria ficar eternamente a <strong>de</strong>spedir-me do último raio <strong>de</strong> sol. A senhorita franziu a<br />
testa, os seus sensíveis olhos não suportavam aquela “agressão” luminosa, e a sua<br />
<strong>de</strong>licada pele não podia ser exposta assim, sem mais nem menos a uma radiação tão<br />
intensa.<br />
Novos rostos entraram, prontos para se escon<strong>de</strong>rem em revistas, livros e jornais.<br />
O comboio <strong>de</strong> novo voou e <strong>de</strong>cidi contemplar a paisagem que se afastava dum olhar cor<br />
<strong>de</strong> oiro renascido em mim. E assim hei-<strong>de</strong> contemplar todas as paisagens, todos os<br />
sorrisos, todos os olhares cor <strong>de</strong> alegria que esta vida tem para me oferecer. Porque o<br />
valor dos tesoiros do mundo não está nos tesoiros em si, mas sim na forma como<br />
olhamos para eles.<br />
Jessica Gomes<br />
11º B
A primeira vez que caminhei sobre o mar<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 75<br />
Já alguma vez sentiram a brisa do mar nos vossos cabelos? E o cheiro a maresia a<br />
limpar-vos todas as mágoas e tristezas?<br />
É o que sinto quando, já <strong>de</strong>ntro do barco, ouço as ondas a baterem no casco e<br />
sinto o vento na minha cara. É aí que penso que po<strong>de</strong> afundar, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> me levar<br />
para on<strong>de</strong> quero, e então o medo apo<strong>de</strong>ra-se <strong>de</strong> mim, mas não é um medo mau, não... é<br />
aquele medo que nos dá uma sensação <strong>de</strong> segurança e <strong>de</strong> insignificância perante o<br />
imenso mar.<br />
Mas nem sempre foi assim... Há já alguns anos, talvez há sete ou oito, os meus<br />
pais levaram-me até Belém e, embora não tivessem a certeza se a passagem estava<br />
aberta, <strong>de</strong>cidiram que íamos atravessar o Tejo como já o fazem há centenas <strong>de</strong> anos.<br />
Nunca antes tinha saído <strong>de</strong> terra, nem sequer tinha andado naqueles barcos<br />
pequenos <strong>de</strong> recreio que se vêem em todo o lado... Estava com tanto medo...<br />
Chorei, gritei, agarrei-me a tudo o que podia só para não chegar lá, mas feliz ou<br />
infelizmente, os meus pais conseguiram levar-me até ao local on<strong>de</strong> se compram os<br />
bilhetes e se entra para o barco.<br />
Aí ainda chorei mais, não queria mesmo ir, tinha <strong>de</strong>masiado medo que o barco se<br />
virasse quando as pessoas quisessem ver alguma coisa <strong>de</strong> um lado ou que o comandante<br />
se enganasse e nos levasse para outro lugar...<br />
Mas, quando entrei e, finalmente, o barco começou a andar, senti-me tão bem...<br />
Foi a melhor sensação que alguma vez tive... Tudo o que estava errado começou a<br />
<strong>de</strong>saparecer e por uma vez o mundo tornou-se feito <strong>de</strong> coisas maravilhosas.<br />
Foi a única vez que visitei um local e estive cheia <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> me vir embora,<br />
só mesmo para experimentar aquela sensação outra vez.<br />
A verda<strong>de</strong> é que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aí, tenho experimentado barquinhos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, navios<br />
on<strong>de</strong> cabem os carros dos passageiros e até já an<strong>de</strong>i num catamaran com dois cascos, o<br />
que foi uma experiência única...<br />
Agora... Agora só gostava mesmo <strong>de</strong> fazer um cruzeiro pelas águas do<br />
Mediterrâneo ou até pelo Nilo e experimentar, então, ver o Egipto dos meus sonhos...<br />
Mariana Marques<br />
10ºA
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 76<br />
Margarida acordou às oito horas. Era quase Dezembro; amanhecia tar<strong>de</strong>. Atirou com a<br />
dobra do lençol e, enfiando o robe <strong>de</strong> chambre, procurou com o pé as chinelinhas no chão.<br />
Chegou à janela.<br />
Ao olhar o céu, avistou umas gran<strong>de</strong>s nuvens negras, pensou que talvez naquele dia<br />
pu<strong>de</strong>sse nevar. Na verda<strong>de</strong>, era isso que ela <strong>de</strong>sejava.<br />
No horizonte, avistou, por breves instantes, os montes e os campos, reparou que estes já<br />
se encontravam cobertos por uma fina camada <strong>de</strong> neve. Alguns pássaros sobrevoavam o céu,<br />
procuravam um local on<strong>de</strong> se pu<strong>de</strong>ssem proteger do frio.<br />
As pessoas, perante aquele magnífico cenário <strong>de</strong> Inverno, começavam a sair à rua,<br />
contudo era um dia como outro qualquer. Margarida encontrou nos rostos uma profunda tristeza,<br />
nos olhos sonolentos encontrava uma espécie <strong>de</strong> angústia e os movimentos eram lentos.<br />
Pareciam dormir sobre si mesmos como quem se <strong>de</strong>ixa levar pelo <strong>de</strong>stino.<br />
Margarida percebeu que as crianças eram, sem dúvida, as mais entusiasmadas, com toda<br />
a situação, embora os seus pais contrariassem a alegria que elas sentiam. No meio da rua, elas<br />
brincavam com a neve, como loucas, atirando-a à cara umas das outras e, por momentos,<br />
apreciavam a textura suave e a cor branca da neve.<br />
No lado direito da casa Margarida, encontrava-se uma mãe juntamente com o filho.<br />
Estavam ambos a construir um boneco <strong>de</strong> neve, junto <strong>de</strong>les tinham um chapéu preto, um<br />
cachecol vermelho, uma cenoura e dois gran<strong>de</strong>s botões negros, para <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terminado o<br />
enfeitarem. Os rostos transmitiam alegria, os olhos e os seus sorrisos, esperança.<br />
No fundo da rua estava um mendigo que vestia roupas velhas, muito finas e envolvido<br />
em mantas remendadas. Os olhos <strong>de</strong>ste homem, ao contrário dos da mãe e do filho, pareciam<br />
estar perdidos no meio da solidão. Margarida sentiu uma nostalgia no olhar daquela pobre<br />
pessoa, parecia-lhe que talvez ele quisesse transmitir um pedido <strong>de</strong> ajuda.<br />
Embora ainda fosse Novembro, alguns pinheiros já apresentavam luzes <strong>de</strong> várias cores e<br />
os jardins já estavam <strong>de</strong>corados com enfeites que os tornavam bastante coloridos, que<br />
contrastavam com o branco da neve.<br />
O cheiro a fumo que provinha das chaminés, começava a ser cada vez mais intenso.<br />
Margarida concluiu que o mendigo que observou seria apenas um exemplo <strong>de</strong> uma<br />
pessoa levada pela ida<strong>de</strong> e, consequentemente pela vida. Percebeu que, por <strong>de</strong>trás da felicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cada um, po<strong>de</strong> existir também a tristeza.<br />
Após estes breves instantes <strong>de</strong> observação e reflexão, Margarida sentia-se preparada para<br />
recomeçar mais um dia da sua vida.<br />
Ana Torrado<br />
10º B
Apren<strong>de</strong>r...<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 77<br />
Este episódio ocorreu-me há dois anos. Apesar disso, ainda me lembro do<br />
martírio que era acordar às cinco da manhã para estar às seis e meia <strong>de</strong>ntro daquela água<br />
gelada. Ainda me lembro da música que ouvia com o meu pai no carro para <strong>de</strong>spertar,<br />
que por acaso era sempre a mesma. Ainda me lembro da sombra que o carro fazia nas<br />
árvores com as luzes da frente… Mas, como eu dizia: “se estou aqui, tenho que dar o<br />
meu melhor”.<br />
Era por volta das quatro da tar<strong>de</strong>, num ambiente abafador e insuportável <strong>de</strong>vido<br />
ao calor do vapor da água. Eu estava sentada nas bancadas com ar sério a tentar<br />
concentrar-me. Os nervos eram muitos e a tensão que colocavam em cima <strong>de</strong> mim nem<br />
me <strong>de</strong>ixava respirar. Eu sabia que aquela era a minha última oportunida<strong>de</strong>. Nesse<br />
momento recor<strong>de</strong>i-me <strong>de</strong> tudo por que passei. Não sei se foi relevante ou não, mas pelo<br />
menos levou-me a enten<strong>de</strong>r que tinha <strong>de</strong> dar o meu melhor.<br />
A certo momento, chamaram todas as nadadoras que iriam participar na prova <strong>de</strong><br />
duzentos metros mariposa. Os nervos subiram-me à cabeça. A partir daquele momento,<br />
estava tudo por minha conta. Saí das bancadas e dirigi-me ao local <strong>de</strong> chamada das<br />
atletas. Nem uma palavra <strong>de</strong> conforto do meu treinador. Sentia-me mal por isso, mas<br />
naquele instante senti que nada me podia afectar. Apesar <strong>de</strong> tudo, tremia <strong>de</strong> cima a baixo.<br />
As minhas adversárias vinham ter comigo para me pressionar ainda mais. Naqueles<br />
minutos só me recordo <strong>de</strong> pensar que a única coisa que tinha a fazer era dar o meu<br />
melhor. Assim que me chamaram, dirigi-me para o bloco on<strong>de</strong> ia nadar. Era na pista<br />
quatro, uma do centro como eu gostava. Não sei porquê mas isso fez-me sentir bem. Na<br />
verda<strong>de</strong>, era um ponto a favor, porque podia controlar melhor as minhas adversárias e<br />
ter uma noção do <strong>de</strong>correr da prova. Ainda estavam a competir as atletas da prova<br />
anterior. Quando olhei para a placa on<strong>de</strong> estavam registados os tempos comecei a<br />
assustar-me. Sabia que tinha <strong>de</strong> me esforçar muito para atingir o meu objectivo. Elas<br />
saíram da água e finalmente tinha chegado a minha vez. O árbitro apitou. Coloquei-me<br />
em cima do bloco na posição correcta e não me mexi, pois podia ser <strong>de</strong>sclassificada. Ele<br />
disse: “aos seus lugares”, eu baixei-me e apitou. Eu parti e senti um alívio enorme em<br />
cima <strong>de</strong> mim. Foi uma <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> nervos. Tinha chegado o momento <strong>de</strong> concentração<br />
psicológica.
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 78<br />
Nos primeiros cinquenta metros não houve gran<strong>de</strong>s avanços. Na<strong>de</strong>i <strong>de</strong> forma<br />
solta para não me cansar e resultou. Nos cem metros seguintes comecei a sentir cansaço<br />
e ainda me faltavam mais cinquenta. A maioria <strong>de</strong>las já tinha ficado para trás. Apenas<br />
três estavam à minha frente. O que eu tinha a fazer era aguentar e tentar ultrapassar uma<br />
para po<strong>de</strong>r alcançar uma posição no pódio, apesar <strong>de</strong> já não ter muitas hipóteses. Acabei<br />
a prova. Olhei para a placa e nem queria acreditar no que estava a ver. Tinha feito um<br />
tempo ainda melhor do que aquele que estava à espera. Nunca tive capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me<br />
valorizar a mim própria. Saí da água. Pela primeira vez o meu treinador elogiou-me.<br />
Senti-me realizada. E aprendi a dar mais valor a mim própria e a lutar para atingir<br />
os meus objectivos.<br />
Maria João Bila<br />
10º A
Desejar um sorriso<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 79<br />
Quantas vezes nos aconselham a sorrir, mesmo quando estamos tristes? E porque o<br />
fazem? Porque um sorriso é algo muito importante!<br />
Quantas vezes as revistas referem o facto <strong>de</strong> um sorriso po<strong>de</strong>r conquistar corações?<br />
Facto com o qual eu não podia estar mais <strong>de</strong> acordo, porque o meu coração já foi conquistado<br />
por um sorriso!<br />
Todas as pessoas têm <strong>de</strong>sejos e pe<strong>de</strong>m para que sejam concretizados. Já é famoso o<br />
conselho: “Tem cuidado com aquilo que <strong>de</strong>sejas!”, porque muitas vezes aquilo que <strong>de</strong>sejamos<br />
cumpre-se, mas não exactamente como nós queríamos. Outras vezes, por muito que se implore<br />
um <strong>de</strong>sejo, este nunca é realizado.<br />
Eu tive a sorte <strong>de</strong> pedir um <strong>de</strong>sejo e vê-lo cumprir-se.<br />
Quantas vezes os meus pais me ouviram pedinchar um irmão? Devem ter sido muitas!<br />
Porém estou convencida <strong>de</strong> que se eu não tivesse insistido muito, neste momento seria filha<br />
única.<br />
irmãozinho.<br />
Mal soube que a minha mãe estava grávida, fiquei ansiosa pelo nascimento do meu<br />
Durante os nove meses da gravi<strong>de</strong>z fui dizendo que era um rapaz, enquanto que o meu<br />
pai dizia o contrário. Muito provavelmente ele sabia que era uma menina, mas nem ele nem a<br />
minha mãe me disseram nada.<br />
No dia do nascimento, os meus pais prepararam as coisas para irem para o hospital e eu<br />
fiquei com os meus avós.<br />
no berço.<br />
Quando fui ver a minha mãe, fiquei muito feliz, pois já estava com muitas sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>la.<br />
Depois <strong>de</strong> ter matado as sauda<strong>de</strong>s, alguém me disse para ir ver a minha irmã que estava<br />
Quando vi que era uma rapariga não fiquei nada <strong>de</strong>siludida, muito pelo contrário!<br />
Como o berço era alto tive que me pôr em bicos dos pés para po<strong>de</strong>r espreitar lá para<br />
<strong>de</strong>ntro e ver a minha irmãzinha. Estava a dormir, mas enquanto eu estava a olhar, lentamente, ela<br />
entreabriu os olhos, olhou para mim… e sorriu. Foi o sorriso mais importante da minha vida e<br />
que conquistou o meu coração!<br />
Por muito que eu me zangue com a minha irmã não esqueço que é ela o meu único<br />
<strong>de</strong>sejo realizado… e a dona do sorriso pelo qual me apaixonei!...<br />
Rita Pereira<br />
10º A
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 80<br />
O dia que marcou Portugal<br />
O dia-a-dia dos jardins públicos <strong>de</strong> Portugal é muito repetitivo. Todos os dias<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> cães inva<strong>de</strong>m estes espaços supostamente ver<strong>de</strong>s e enchem-nos <strong>de</strong> <strong>de</strong>jectos,<br />
que tornam estes jardins tudo menos agradáveis.<br />
Mas este dia não era um dia como os outros, este dia ficaria marcado na história do<br />
nosso pacato país como o dia em que se cumpre a lei! Sim, por mais incrível que pareça,<br />
existe mesmo uma lei que proíbe os cães <strong>de</strong> <strong>de</strong>jectarem em espaços públicos sem que os<br />
seus respectivos donos apanhem os ditos <strong>de</strong>jectos. Existem mesmo uns recipientes <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> se retiram sacos <strong>de</strong> plástico para apanhar os presentinhos <strong>de</strong>sagradáveis que os cães<br />
tão docilmente <strong>de</strong>positam. Agora é que me apercebo das coisas que não sei!<br />
Provavelmente a maioria da população também não está informada, assim como os<br />
polícias, pois nunca os vi escondidos nos jardins, prontos a multar os donos dos<br />
cãezinhos que <strong>de</strong>jectam nos espaços ver<strong>de</strong>s, nunca vi as autorida<strong>de</strong>s atrás <strong>de</strong>les para os<br />
apanhar em flagrante <strong>de</strong>lito.<br />
Mas como eu ia dizendo, neste dia aconteceu um fenómeno raríssimo: um senhor<br />
que passeava o seu animal doméstico apanhou os <strong>de</strong>jectos do dito cão <strong>de</strong>positados no<br />
jardim. Mas que situação anormal! Imagino a luta interior que aquele senhor <strong>de</strong>ve ter<br />
sentido quando pensou em fugir ao que é normal e usual. Admiro esse senhor, bem como<br />
todas as pessoas que correram ao jardim para observar o fenómeno, esta situação<br />
extraordinária no nosso país. Até a imprensa compareceu em peso para relatar o sucedido<br />
e fotografar este acontecimento. Na verda<strong>de</strong>, aquele senhor que cometeu a proeza, até<br />
aqui era uma pessoa igual a muitas outras, mas a partir <strong>de</strong>ste dia foi elevado ao título <strong>de</strong><br />
herói nacional. Qual Afonso Henriques, Cristiano Ronaldo, os miúdos <strong>de</strong> hoje em dia<br />
querem é ser iguais ao “senhor-que-apanhou-os-<strong>de</strong>jectos-do-cão”, o “senhor-cumpridor-<br />
da-lei”! Houve até uma cerimónia <strong>de</strong> entrega <strong>de</strong> uma medalha ao tal senhor e ao seu cão,<br />
realizada no Palácio <strong>de</strong> Belém, pelo Presi<strong>de</strong>nte da República. Se querem saber, eu e os<br />
meus amigos ficámos <strong>de</strong>sapontados por este dia não ser consi<strong>de</strong>rado feriado nacional,<br />
era o que o senhor merecia, tal a nobreza dos seus actos e o seu altruísmo.<br />
Este dia ficará para sempre marcado: o dia em que uma lei não aplicável e que não<br />
é cumprida é caricaturada!<br />
Ana Patrícia Cabaça<br />
11º B
A aventura começou…<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 81
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 82<br />
melhor!<br />
Querido diário:<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa<br />
Estou <strong>de</strong> volta! Sinceramente, é óptimo ir <strong>de</strong> férias, mas regressar a casa é ainda<br />
Bem, tenho tantas coisas para te contar, que nem sei por on<strong>de</strong> começar… É que,<br />
simplesmente, estas férias foram espectaculares, fora do normal, enten<strong>de</strong>s? Acho que ir<br />
<strong>de</strong> férias pela primeira vez com os meus amigos, sozinhos, para uma casa junto à praia,<br />
foi um acontecimento que ficará para sempre na minha memória!<br />
É lógico que não te vou contar tudo, mas aquela adrenalina, aquela aventura, aquele<br />
acontecimento tem que ficar, hoje, aqui escrito!<br />
Estávamos nós muito bem a andar <strong>de</strong> patins numa faixa própria para isso, quando nos<br />
apeteceu ir à esplanada comer um gelado (ah, ah! Ora aqui está o bom das férias: o que<br />
nos apetece, fazemos!), até que ouvimos alguém a chamar “Psst, psst! Hei, vocês aí da<br />
mesa 4!”. Olhámos e vimos, colado na nossa mesa, um papelinho on<strong>de</strong> se encontrava o<br />
nº 4. Olhámos, procurámos e não vimos ninguém com uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas, até que eu vi<br />
uma coisa esquisita, mais ou menos cor-<strong>de</strong>-rosa, a espreitar por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> um poste<br />
situado num local pouco movimentado. Disse que ia à casa-<strong>de</strong>-banho, mas na verda<strong>de</strong> fui<br />
dar resposta à minha curiosida<strong>de</strong> e ver com os meus próprios olhos o que era aquela<br />
coisa cor-<strong>de</strong>-rosa. De repente, salta-me à frente um coelho gigante (alto! Gigante?!<br />
Realmente, para o tamanho que eles costumam ter era gigante, mas ele <strong>de</strong>via ter a minha<br />
altura!) com um tom rosado. Fiquei sem reacção e, minutos <strong>de</strong>pois, cheguei a pensar que<br />
estava maluca (bem, maluca os meus amigos costumam dizer que já sou, mas não ao<br />
ponto <strong>de</strong> ver coisas que não existem!). Mas, quando esfreguei os olhos e <strong>de</strong>i uma<br />
estalada a mim própria para ficar consciente e não imaginar ver coisas, voltei a vê-lo. Ele<br />
ria-se, ria-se, ria-se, enfim, parecia que tinha “parva” escrito na testa… Quando <strong>de</strong>i por<br />
mim, estava a correr para junto dos meus amigos, mas ele veio atrás e agarrou-me.<br />
Disse-me para eu os chamar e assim o fiz.<br />
Vieram para junto <strong>de</strong> nós, e <strong>de</strong>sta vez fui eu que me ri da reacção <strong>de</strong>les ao ver o<br />
coelho. Dei uma estalada a cada um para perceberem que era real (eles ficaram cá com<br />
uma fúria…eheh).<br />
O coelho nem cinco minutos lá ficou. Só nos <strong>de</strong>u um saquinho a cada um com<br />
amêndoas e chocolates, <strong>de</strong>sejou-nos uma boa Páscoa e disse-nos para continuarmos a
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 83<br />
amarmo-nos e a sermos amigos uns dos outros! Mostrou-nos um gran<strong>de</strong> sorriso e levou-<br />
me para um canto, on<strong>de</strong> me disse que tinha sido óptimo aproveitar o dia <strong>de</strong> Páscoa para<br />
ganhar vida (o que acontece todos os anos), conhecer-nos e ter conseguido atingir o<br />
objectivo das vindas que faz todos os anos à vida humana: transmitir a tal mensagem <strong>de</strong><br />
que temos <strong>de</strong> ser bons uns para os outros, pois só assim conseguiremos ter uma vida<br />
melhor! Quando lhe ia agra<strong>de</strong>cer, o coelho fez “puff” e <strong>de</strong>sapareceu…<br />
Corri para junto dos meus amigos, abracei-os e fomos para casa jogar matraquilhos.<br />
Como vês, estas férias foram únicas e espectaculares, e confesso que, naquele<br />
momento, apercebi-me que nem sempre dou o <strong>de</strong>vido valor àqueles que merecem!<br />
Adorei esta última semana…<br />
Mas, como o que é bom dura pouco, aqui estou eu, em casa a escrever-te e com uma<br />
mochila à espera <strong>de</strong> ser preparada para amanhã me levar para a escola!<br />
E agora, essa aventura fica apenas na memória, juntamente com a questão que me<br />
coloco todos os dias:<br />
-Terei visto o coelhinho da Páscoa ou terei apenas confundido com um sonho<br />
maravilhoso?<br />
Bárbara Coimbra<br />
7ºD<br />
Beijinhos, Bárbara!
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 84<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa<br />
Durante as férias da Páscoa, eu e um grupo <strong>de</strong> amigas <strong>de</strong>cidimos visitar uma das<br />
maravilhas naturais estudadas na disciplina <strong>de</strong> Área <strong>de</strong> Projecto: as Cataratas Vitória,<br />
que se situam em África, na fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabué, mais exactamente no<br />
rio Zambeze. Organizar a viagem não foi fácil, mas optámos por ir até lá <strong>de</strong> helicóptero e<br />
acampar.<br />
Depois <strong>de</strong> dois dias <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, durante os quais o tema <strong>de</strong> conversa era sempre a<br />
tão esperada viagem, chegou o momento: pegámos nas malas e entrámos no helicóptero.<br />
A viagem parecia interminável, mas, quando chegámos, todo o nervosismo <strong>de</strong>sapareceu,<br />
para dar lugar a um estado <strong>de</strong> espanto e maravilha, pois a paisagem era muito diferente<br />
daquela à qual estamos habituadas: o ver<strong>de</strong> era a cor predominante, ouviam-se pequenos<br />
barulhos (originados pelo rastejar dos animais) e o suave canto dos pássaros e água a<br />
correr, não muito longe dali no rio Zambeze, era como uma agradável música <strong>de</strong> fundo,<br />
que tornou o ambiente tão harmonioso que <strong>de</strong>cidimos acampar mesmo ali.<br />
Entusiasticamente montámos as tendas e fomos “à <strong>de</strong>scoberta”.<br />
Com o passar das horas, o nosso espanto e encanto por aquele lugar crescia:<br />
<strong>de</strong>scobrimos espécies <strong>de</strong> animais fascinantes e plantas que conseguem germinar em<br />
ambientes curiosos, árvores com uma altura inimaginável e seres que, mesmo sendo<br />
muito pequenos, transportam facilmente os seus alimentos…tudo isto era extraordinário!<br />
Com a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir mais coisas novas fomo-nos afastando cada vez<br />
mais do acampamento, até que, quando o Sol se pôs, optámos por dormir ao relento. No<br />
dia seguinte, assim que acordámos, fizemos uma pequena fogueira (seguindo as regras<br />
que nos tinham ensinado no mini curso <strong>de</strong> preparação que havíamos feito antes da<br />
viagem) e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> comermos, tentámos procurar o caminho <strong>de</strong> volta ao acampamento,<br />
mas em vão, pois em vez <strong>de</strong> regressarmos, dirigimo-nos para perto das Cataratas (que<br />
segundo sabíamos estavam bastante longe do acampamento).<br />
Ali, a paisagem era ainda mais maravilhosa e o som do “cair” das águas e a brisa<br />
que soprava suavemente proporcionavam um ambiente tão agradável que <strong>de</strong>cidimos<br />
dormir ali durante a noite.<br />
Ao fim <strong>de</strong> alguns dias, passados longe das tendas, a comida que tínhamos nas<br />
mochilas começava a escassear e nem mesmo a beleza da paisagem nos dava ânimo e<br />
forças para tentarmos procurar o caminho <strong>de</strong> volta para o acampamento, mas a situação
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 85<br />
melhorou quando uma <strong>de</strong> nós se lembrou <strong>de</strong> enviar as coor<strong>de</strong>nadas da nossa localização<br />
para um dos radares daquela zona.<br />
Em resultado <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ia, o nosso sinal foi recebido e, no dia seguinte, um<br />
helicóptero veio resgatar-nos e a aventura acabou em bem, mas serviu para apren<strong>de</strong>rmos<br />
que, mesmo entusiasmadas, não nos po<strong>de</strong>mos distrair, pois nem sempre as aventuras<br />
acabam da melhor forma.<br />
Sara Oliveira<br />
7º B
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 86<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa<br />
Há tempos, conheci um amigo chamado Packo Ibañes. Era argentino, vivia em<br />
Córdoba, uma bonita cida<strong>de</strong> da gran<strong>de</strong> Argentina. Packo era muito ligado à sua cida<strong>de</strong>,<br />
gostava muito <strong>de</strong>la, mas eu não via gran<strong>de</strong> coisa naquele local. Ele dizia que adorava<br />
aquelas fontes, que continham os cristais mais reluzentes <strong>de</strong> toda a América Latina.<br />
Vivia numa humil<strong>de</strong> casa no meio da cida<strong>de</strong>.<br />
Durante as férias, <strong>de</strong> manhãzinha, Packo acordava ao primeiro raio <strong>de</strong> sol,<br />
brilhante como uma moeda <strong>de</strong> prata a chocar com a luz clara e reluzente que entrava<br />
através da sua janela. Costumava levar a bola a passear pelas ruas da cida<strong>de</strong> e beber um<br />
pouco <strong>de</strong> água da fonte.<br />
Packo queria viajar, conhecer novas terras, monumentos, amigos... mas nunca<br />
tinha saído da sua cida<strong>de</strong> natal.<br />
Um dia, resolveu arranjar uma bolsa <strong>de</strong> estudo, para entrar num intercâmbio<br />
escolar. Tinha já catorze anos e <strong>de</strong>cidiu escolher a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Agra para o seu <strong>de</strong>stino <strong>de</strong><br />
férias da Páscoa. Agra é uma cida<strong>de</strong> que fica na Índia.<br />
Uma semana antes da Páscoa, Packo viajou para Agra, mas antes teve <strong>de</strong> se<br />
dirigir a Buenos Aires, pois era lá que se encontrava o único aeroporto do país.<br />
Quando chegou a Agra, saiu do aeroporto e tentou dirigir-se à sua casa <strong>de</strong><br />
acolhimento. Tinha apenas um papel a indicar a morada, olhava continuamente para<br />
aquele papel, que cada vez mais o baralhava. Foi perguntando, mas ninguém o conseguiu<br />
ajudar, pois não percebiam a sua língua.<br />
Entretanto, chegou a noite. Não tinha on<strong>de</strong> dormir e tentou encontrar um lugar<br />
seguro. Quando ia a passar por umas ruazinhas estreitas, foi parar a uma espécie <strong>de</strong> beco<br />
sem saída, ou um labirinto... sei lá! Só sei é que encontrou dois homens com cara <strong>de</strong><br />
poucos amigos...pessoas más, ou seja, terroristas. Apontaram-lhe uma faca e ele, sem<br />
reacção, tentou fugir por entre aquelas ruas, que cada vez mais o iam baralhando. De<br />
repente, viu uma luz ao fundo e tentou segui-la. Aquela luz era como se fosse um oásis,<br />
no meio do <strong>de</strong>serto quente e seco. Seguiu os caminhos indicados pela luz, até que<br />
encontrara um santuário, ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> belos e extensos jardins que o contornavam. Packo<br />
escon<strong>de</strong>u-se entre os arbustos, acabando por <strong>de</strong>spistar os assaltantes.<br />
Passado o susto, Packo dirigiu-se à porta do santuário e por lá adormeceu.
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 87<br />
No dia seguinte, com o dinheiro que lhe restava, como não chegava para comprar<br />
um bilhete <strong>de</strong> avião para Buenos Aires, comprou um bilhete <strong>de</strong> autocarro para Nova<br />
Deli. Lá, a cida<strong>de</strong> era mais <strong>de</strong>senvolvida, pois era a capital da Índia. O sol abrasador,<br />
batia-lhe na cara por cada vez que passava nas ruas calcetadas <strong>de</strong> granito torrado, durante<br />
o dia. Aquela cida<strong>de</strong> era bastante populosa e ali também se fazia muito comércio. Packo<br />
andava a passear pela feira, sem nada para comer. Em cada tenda havia diversos<br />
produtos, mas foi a barraca das especiarias que o fez parar no seu passeio. Observou as<br />
malaguetas encarnadas e sentiu o cheiro a caril. O ven<strong>de</strong>dor, com um ar curioso, falou-<br />
lhe...não sei o que lhe disse, mas Packo ficou contente, porque ele e o ven<strong>de</strong>dor tinham<br />
algo em comum, o idioma, ambos eram argentinos. O ven<strong>de</strong>dor era emigrante e ao ouvir<br />
a história <strong>de</strong> Packo, resolveu ajudá-lo, dando-lhe um saco com comida e algum dinheiro<br />
para voltar para casa. Essa noite Packo dormiu em casa do ven<strong>de</strong>dor e <strong>de</strong> manhã cedo,<br />
viajou <strong>de</strong> locomotiva até Istambul, apanhou uma locomotiva em Nova Deli, parou no<br />
Afeganistão, <strong>de</strong>pois apanhou um comboio industrial até Teerão e, por fim, viajou até<br />
Istambul, na Turquia, passando pelo Paquistão e também pelo Irão.<br />
Já em Istambul, com o dinheiro que lhe restava, alugou um quarto por uma noite,<br />
para que pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>scansar da viagem e na madrugada seguinte pôs-se a caminho <strong>de</strong> sua<br />
casa. Packo estava cansado, pois tinha viajado <strong>de</strong> um continente para outro apenas num<br />
dia, <strong>de</strong> locomotiva. Parou em frente a uma cabina telefónica e telefonou para casa, para<br />
dar notícias, contando que estava na Turquia. Agora tinha um mar para atravessar, o mar<br />
Mediterrâneo, mas como não tinha dinheiro para o atravessar <strong>de</strong> barco, resolveu<br />
embarcar num barco <strong>de</strong> pescadores até Sicília, que é uma ilha italiana. Depressa apanhou<br />
outro barco, mas <strong>de</strong>sta vez até Valência em Espanha.<br />
Valência era uma cida<strong>de</strong> que o fazia respirar <strong>de</strong> alívio, porque falavam a sua<br />
língua. Continuou a sua viagem, seguiu a rota em direcção ao Oceano Atlântico, até que<br />
chegou a Sesimbra, terra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pescadores, em Portugal. Lá, aconselharam-no a ir<br />
para Lisboa, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apanhar um avião até ao Funchal, na Ma<strong>de</strong>ira. A falta<br />
<strong>de</strong> dinheiro não era um problema, pois alguns pescadores pagaram-lhe certo dinheiro,<br />
por Packo lhes arrumar os materiais e ferramentas <strong>de</strong> pesca. Com esse dinheiro apanhou<br />
o primeiro avião em direcção ao Funchal e <strong>de</strong> seguida o próximo <strong>de</strong>stino foi o Brasil.<br />
De chegada ao Brasil, o rapaz atracou em Fortaleza e seguiu até ao Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
passando por Salvador. Agora, já estava no seu continente e com muito ânimo, Packo<br />
continuou a sua viagem, com algum dinheiro mandado pelos pais, através <strong>de</strong> pessoas<br />
conhecidas.
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 88<br />
Estava no Brasil e seguira <strong>de</strong> comboio, até Montevi<strong>de</strong>u, no Uruguai, foi<br />
dormindo em cada estalagem que encontrava e com ânimo, apanhou um autocarro <strong>de</strong><br />
turismo, <strong>de</strong> Montevi<strong>de</strong>u até Buenos Aires. De seguida voltou para casa <strong>de</strong> autocarro, até<br />
Córdoba, acabando por chegar no final das férias da Páscoa. Enfim, chegou a casa são e<br />
salvo.<br />
Passados uns dias, ao consultar um livro sobre a Ásia, foi folheando as páginas até<br />
chegar à Índia. Ao consultar aquele livro, observou o tal santuário, on<strong>de</strong> dormira no dia<br />
<strong>de</strong> Páscoa e reparou que era o monumento mais famoso da Índia, o grandioso “Taj<br />
Mahal”. Descobriu que este monumento foi mandado construir pelo antigo rei Shah<br />
Jahan. Pensou então, que a tal luz que o salvou, tivesse sido o espírito <strong>de</strong> Shah Jahan,<br />
que o protegeu das pessoas más ou <strong>de</strong>mónios que estivessem em redor do Taj Mahal,<br />
como se fosse o protector do Taj Mahal, o seu monumento.<br />
Toda esta história foi vivida e contada pelo meu gran<strong>de</strong> amigo Packo Ibañes.<br />
Eduardo Salzedas<br />
7º B
Uma Aventura Misteriosa<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 89<br />
Nas férias da Páscoa, num dia <strong>de</strong> muito calor, o Ricardo e os amigos <strong>de</strong>cidiram ir<br />
fazer canoagem para um rio perto da casa <strong>de</strong>les. Pegaram nos caiaques e nas pagaias e lá<br />
foram eles. Quando chegaram ao pé do rio ficaram maravilhados com toda a beleza<br />
daquelas margens. Vestiram os coletes, meteram-se <strong>de</strong>ntro dos caiaques e seguiram<br />
viagem. Pelo caminho, o Carlos (um amigo do Ricardo) exclamou:<br />
- Tanta fauna e flora que existe neste rio!!!<br />
Quando estavam a andar <strong>de</strong>pararam-se com uma garça real que estava a comer no meio<br />
das canas.<br />
- Que maravilhoso!!!!! – exclamou o Paulo (outro amigo do Ricardo).<br />
À medida que iam avançando no rio iam vendo mais fauna e flora. Viram trutas e<br />
salmões com as suas escamas prateadas e brilhantes, viram bandos <strong>de</strong> patos bravos que<br />
grasnavam bem alto e também encontraram uma Marsilea quadrifolia (Trevo-<strong>de</strong>-quatro-<br />
folhas) que é espécie muito rara.<br />
- Estou com fome – disse o Paulo.<br />
- Vamos parar os barcos e vamos almoçar!!- disse o Ricardo.<br />
Depois <strong>de</strong> almoçarem, seguiram viagem.<br />
- Estou com sono – disse o Paulo.<br />
- E eu também – exclamaram o Ricardo e o Carlos.<br />
- Mas, apesar <strong>de</strong> estarmos todos com sono, é melhor não pararmos, para não<br />
per<strong>de</strong>rmos nada <strong>de</strong>sta linda paisagem. Mas ninguém aguentou e todos adormeceram<br />
<strong>de</strong>ntro dos caiaques ficando à <strong>de</strong>riva.<br />
Quando acordaram viram que se tinham <strong>de</strong>sviado muito para Oeste. Pararam os<br />
caiaques e foram perceber on<strong>de</strong> estavam. À sua volta só viam gran<strong>de</strong>s árvores.<br />
Começaram a andar e, quando chegaram à orla da floresta, <strong>de</strong>pararam-se com uma<br />
pequena igreja que estava aberta e entraram.<br />
- Uau!! Olhem para ali!! – disse o Ricardo.<br />
- É a gran<strong>de</strong> máscara <strong>de</strong> ouro do cavaleiro Kchaval.<br />
- É magnífica! Vou tocar-lhe – disse o Carlos.<br />
- Espera, não toques na máscara disse o Paulo.<br />
- Porquê?<br />
- Porque diz-se que o cavaleiro Kchaval morreu nesta igreja a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a máscara<br />
para não a roubarem e diz a lenda que antes <strong>de</strong> morrer amaldiçoou este lugar.
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 90<br />
- Ahhhh! Não acredito nessas coisas – disse o Carlos.<br />
Então, o Carlos pegou na máscara e ouviu-se um gran<strong>de</strong> estrondo. E, quando olharam<br />
para cima, viram o tecto <strong>de</strong>sabar.<br />
- Fujam – gritou o Paulo.<br />
E começaram a correr para a saída da igreja. Quando chegaram cá fora gritaram e<br />
<strong>de</strong>sataram a correr para os barcos, mas, quando estavam a aproximar-se, o Paulo<br />
tropeçou numa pedra e caiu <strong>de</strong> cara no chão e, quanto à máscara, essa escorregou-lhe da<br />
mão e caiu ao rio.<br />
rápido.<br />
- Oh não!!! – disse o Paulo.<br />
- Não te preocupes e entra no barco – disse o Carlos.<br />
Depois <strong>de</strong> entrarem nos barcos pegaram nas pagaias e começaram a remar muito<br />
- Que pena, per<strong>de</strong>mos a máscara – disse o Paulo.<br />
- Não te preocupes com a máscara, preocupa-te mas é com a cana do teu nariz que<br />
ficou partida – disse o Carlos.<br />
- Quando chegarmos tens <strong>de</strong> ir cuidar do teu nariz.<br />
Ao chegarem à margem <strong>de</strong> on<strong>de</strong> tinham partido, foram ao hospital cuidar do<br />
nariz do Paulo. Depois foram todos a casa do Paulo jantar. A meio da refeição <strong>de</strong>cidiram<br />
fazer um brin<strong>de</strong>.<br />
- Vamos brindar a esta aventura e à próxima que iremos ter <strong>de</strong>ntro em breve – disse<br />
o Ricardo.<br />
- E vão haver fantasmas nesta próxima aventura – disse o Paulo.<br />
fantasmas.<br />
- Eu não vou a essa aventura – disse o Carlos – já sabem que eu tenho medo <strong>de</strong><br />
Enquanto o Carlos e o Paulo falavam, o Ricardo foi mascarar-se <strong>de</strong> fantasma para<br />
assustar o Carlos. Quando chegou à sala, o Ricardo tocou no ombro do Carlos e <strong>de</strong>u um<br />
grito assustador. O Carlos <strong>de</strong>u um berro, saltou da ca<strong>de</strong>ira e caiu <strong>de</strong> rabo no chão.<br />
- Au!!! Isto doeu – disse o Carlos.<br />
Depois do Carlos dizer isto, toda a gente começou a rir-se. Em seguida,<br />
levantaram os copos com sumo e disseram:<br />
Ricardo Vieira<br />
7ºD<br />
- VIVA A OSSA AVETURA!!!!!
Uma aventura nas férias da Páscoa<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 91<br />
Era uma vez um rapaz chamado Miguel, tinha 13 anos, vivia em Massamá e andava na<br />
<strong>Escola</strong> <strong>Secundária</strong> <strong>Stuart</strong> <strong>Carvalhais</strong>.<br />
No dia 23 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> <strong>2007</strong>, quando Miguel estava na sua última aula do 2º Período, ele<br />
estava tão entusiasmado, tão entusiasmado por as aulas acabarem que, <strong>de</strong> minuto em minuto,<br />
olhava para o relógio à espera que a campainha tocasse.<br />
De repente, ouve-se: triiiiiiiii!!!! E toda a gente começa a gritar:<br />
-Boa, as férias da Páscoa chegaram!!!<br />
-Finalmente férias!!!<br />
-Ainda bem que as aulas já acabaram!!!<br />
Nesse momento, no portão da escola, o porteiro estava a ler o jornal e, quando acabou,<br />
olhou para o lado e viu toda a gente a correr na sua direcção. Ele assustou-se e apenas fez duas<br />
coisas: abriu os portões e escon<strong>de</strong>u-se com medo <strong>de</strong> ser apanhado pela barafunda.<br />
Miguel foi calmamente para o portão, mas aí algo aconteceu. Quando ele passou o<br />
portão todas as pessoas <strong>de</strong>sapareceram e apareceu um cenário completamente diferente como se<br />
tivesse entrado noutro mundo.<br />
Ele encontrava-se numa sala apenas com portas e, por cima <strong>de</strong> cada uma, ele reparou que<br />
havia letras. Ele chegou à conclusão que aquelas letras eram as iniciais das várias disciplinas que<br />
ele tinha no seu dia-a-dia escolar, pois ele viu: Mat. (Matemática), L.P. (Língua Portuguesa),<br />
F.Q. (<br />
Físico-Química) … mas existia uma porta que tinha três pontos <strong>de</strong> interrogação. Naquele<br />
momento, ele não ligou muito a isso e <strong>de</strong>cidiu começar pela porta da Matemática e terminar na<br />
porta dos três pontos <strong>de</strong> interrogação.<br />
Miguel nunca teria esperado mas, na verda<strong>de</strong>, no interior <strong>de</strong> cada porta encontrava<br />
colegas <strong>de</strong> turma presos e, para os salvar, tinha <strong>de</strong> resolver um enigma sobre a disciplina. Ele,<br />
apesar dos perigos, como era um aluno muito inteligente, conseguiu <strong>de</strong>cifrar todos os enigmas.<br />
No final estava ele e todos os seus colegas em frente da porta misteriosa. Quando Miguel<br />
reparou, estava sozinho e à sua frente dois caminhos: um ia dar aos seus amigos, o outro ia dar a<br />
um baú cheio <strong>de</strong> dinheiro. É claro que ele escolheu o caminho on<strong>de</strong>, por surpresa <strong>de</strong>le, estavam,<br />
não só os seus colegas, como também o baú <strong>de</strong> dinheiro.<br />
Ficaram todos muito contentes, mas, <strong>de</strong> repente… PUFF!!!<br />
Miguel estava na sua cama e tudo aquilo não passava <strong>de</strong> um sonho. Apesar <strong>de</strong> não<br />
parecer, ele estava no último dia <strong>de</strong> férias e naquele momento lembrou-se como se tinha<br />
divertido com todos os seus amigos durante as férias!<br />
Sérgio Fernan<strong>de</strong>s<br />
7ºD
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 92<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa<br />
Era Páscoa e, no último dia <strong>de</strong> férias, quando regressava a casa, adormeci. Foi<br />
então que a aventura começou, viajei no tempo, para o passado, quando acor<strong>de</strong>i não<br />
sabia on<strong>de</strong> estava nem em que época me encontrava.<br />
Comecei a andar pelas ruas tentando perceber em que cida<strong>de</strong> estava. Percebi que<br />
estava em Florença, pois tinha visto uma ponte que me pareceu familiar, fiz um esforço<br />
<strong>de</strong> memória e lembrei-me que já a tinha visto em fotografias: era a Ponte Vecchia, pelo<br />
seu aspecto percebi que estava recém-construída. Assim solucionei dois mistérios, estava<br />
em Florença no século XVI.<br />
Entretanto, eu tinha <strong>de</strong>cidido ir passear pelas ruas da cida<strong>de</strong>, enquanto estava a dar<br />
o passeio, um homem aproximou-se <strong>de</strong> mim e pediu-me que fizesse uma escultura <strong>de</strong><br />
Cristo na Cruz, fiquei atrapalhado, pois não sabia esculpir estátuas mas, por outro lado,<br />
não podia recusar o trabalho, porque não conhecia ninguém na cida<strong>de</strong> que me pu<strong>de</strong>sse<br />
ajudar e não tinha dinheiro nenhum.<br />
Foi então que vi uma pessoa cometer um assassinato, na cara da vítima vi uma<br />
expressão <strong>de</strong> dor e <strong>de</strong> sofrimento duma pessoa à beira da morte, tal como Cristo na Cruz,<br />
foi essa a minha inspiração.<br />
Decidi ir esculpir a estátua com a maior rapi<strong>de</strong>z possível, pois temia esquecer-me<br />
da expressão da cara daquela pessoa a morrer. Quando estava a acabar a estátua, entrou<br />
na oficina <strong>de</strong> trabalho o homem que me tinha encomendado a escultura, escondi-me,<br />
porque tinha vergonha do trabalho que tinha feito, pois pensava que estava horrível, mas<br />
o homem começou a elogiar-me porque o rosto <strong>de</strong> Cristo tinha muita expressão e<br />
realismo e, por isso, pagou-me 50 moedas <strong>de</strong> oiro.<br />
Quando acor<strong>de</strong>i, vi que faltavam uns minutos para chegar a casa e aproveitei para<br />
dormir mais um bocado.<br />
Joaquim Couto<br />
7.º A
Eu aí não entro, com o Inferno não me contento…<br />
Talvez um dia embarque contigo p’ró Paraíso…<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 93
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 94<br />
O Político<br />
Vem um Político com o livro das leis nos braços e dirige-se ao batel infernal<br />
Diabo – Cá vens tu! Finalmente!<br />
Político – Não queria eu cá estar tão cedo! Assassinado fui!<br />
Diabo – E porque será que morreste assim? Sabes <strong>de</strong> algum motivo?<br />
Político – Não! Fiz muitas leis para que o mau povo ficasse feliz. Não entendo o porquê<br />
do assassinato.<br />
Diabo – E não terá sido por causa <strong>de</strong>ssas leis que criaste? Não terá sido por isso que o<br />
teu povo se virou contra ti?<br />
Político – Não! Não po<strong>de</strong> ter sido! Criei imensas leis para que as fábricas que não davam<br />
lucro fechassem. Só tinham que me agra<strong>de</strong>cer!<br />
Diabo – E os trabalhadores? Não pensaste neles?<br />
Político – Mas é claro que não! Se as fábricas não lucravam é porque, com certeza, os<br />
trabalhadores não faziam nada para que acontecesse o contrário!<br />
Diabo – Pois, sim. Mas foi um <strong>de</strong>sses trabalhadores que te assassinou! E não foi julgado!<br />
Deram vivas pela tua morte.<br />
Político – Ingratos!<br />
Diabo – Anda. Entra nesta barca e terás a tua vingança.<br />
Político – Para on<strong>de</strong> se dirige esta barca?<br />
Diabo – Para a praia mais quente que tu alguma vez conhecerás.<br />
Político – Verda<strong>de</strong>? E como se chama essa praia tão quente?<br />
Diabo – Inferno!<br />
Político – Não po<strong>de</strong> ser! Em tal barca não entro!<br />
Diabo – Irás entrar.<br />
Político – Recuso-me! Juro pela minha amante que não entro!<br />
Diabo – Ora! Ora! E tiveste amante?<br />
Político – Tive, sim! E bem formosa ela era. Bem diferente <strong>de</strong> minha mulher: feia que<br />
nem um sapo!<br />
Diabo – Pois, sim! Agora, entra aqui.<br />
Político – Já te disse que não!<br />
Diabo – Ai não? Então, diz-me lá o que é que te faz pensar isso?
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 95<br />
Político – Man<strong>de</strong>i construir muitos monumentos novos e aju<strong>de</strong>i muitas lojas a<br />
recuperarem o negócio. Ah! E também doei dinheiro para hospitais e<br />
maternida<strong>de</strong>s. E não foi só isso! Graças à minha competência, fui eleito<br />
duas vezes seguidas!<br />
Diabo – Ah! Ah! E essas eleições foram bem executadas? Se não fosses tu a trocar as<br />
percentagens, nunca serias presi<strong>de</strong>nte!<br />
Político – Mas… mas e quanto ao resto? Não me vale?<br />
Diabo – Mas é claro que não! Só fizeste tudo aquilo com a ganância <strong>de</strong> conseguires<br />
ganhar mais dinheiro!<br />
Político – Ainda assim, não entro! Esta outra barca me parece melhor.<br />
O Político dirige-se à barca do Anjo<br />
Político – Ó da barca! Deixas-me entrar nesta barca divina?<br />
Anjo – Obviamente que não.<br />
Político – Mas porquê? Sou <strong>de</strong>putado da República Portuguesa e or<strong>de</strong>no-te que me <strong>de</strong>ixes<br />
entrar!<br />
Anjo – Neste porto não mandas em nada! Aliás, está aqui um servo teu. Disse-me que tu<br />
não davas valor ao que ele fazia! Disse-me que tu não lhe pagavas o suficiente<br />
para ele e a sua família sobreviverem. Também me disse que tu os maltratavas, a<br />
ele e aos seus colegas, quando ninguém os estava a observar!<br />
Político – Queixinhas <strong>de</strong> meia tigela!<br />
Anjo – Aqui não po<strong>de</strong>s chamar nada a ninguém! Agora, vai-te!<br />
O Político regressa à barca do Inferno<br />
Político – Venha essa prancha maldita! Tenho mesmo que quebrar a jura que fiz à minha<br />
amada!<br />
Diabo – Mas que pena tenho eu! Agora entra! Pega nesses remos e rema com todas as<br />
9º H<br />
tuas forças para o porto da perdição.
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 96<br />
O Juiz<br />
Aí vem o Sr. Dr. Juiz com uma toga, os processos na mão e um martelo.<br />
Juiz – Oh da barca, está aí alguém?<br />
Diabo – Oh meritíssimo, já aqui te encontras?<br />
Juiz – Sim, queria eu não pôr aqui os pés! Mas dizei-me, para on<strong>de</strong> vai esta barca?<br />
Diabo – Para o Inferno, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> instantes te encontrarás.<br />
Juiz – Como? Mas que mal fiz eu a Deus para merecer tal caminho? Eu que tanto avaliei, julguei<br />
e aju<strong>de</strong>i os <strong>de</strong>mais.<br />
Prestigioso como sou, mereço bem melhor.<br />
Mas dizei-me para on<strong>de</strong> vai esta barca.<br />
Diabo – Em primeiro lugar, não invoques o nome do teu Deus na minha presença. Deves estar<br />
um tanto esquecido; olha que eu sei <strong>de</strong> tudo!<br />
Juiz – Tudo o quê, oh maldito? Não há nada para saber.<br />
Diabo – Ora, então eu vou avivar-te a memória.<br />
Meu precioso irmão…regista:<br />
1º Acusaste gente inocente e protegeste os culpados em troca <strong>de</strong> dinheiro;<br />
Juiz – Eh eh, dinheiro que foi bem chorudo, diga-se <strong>de</strong> passagem.<br />
Diabo – Não me interrompas! Aqui quem fala sou eu.<br />
Prossigamos:<br />
2º Sendo tu um Juiz tão prestigioso, como dizes ser, a tua profissão não estava a ser<br />
bem representada.<br />
Juiz – Olha, quem te <strong>de</strong>ra ter meta<strong>de</strong> do meu êxito!<br />
Diabo – Deixa-me rir! Olha, meu caro, enquanto tu mal ou bem julgavas as poucas pessoas que<br />
queriam que lhes prestasses serviço, já eu andava a recolher as alminhas boas como tu,<br />
aqui para esta doce e humil<strong>de</strong> barca.<br />
Bem, mas <strong>de</strong>ixa-me lá continuar a informar-te acerca <strong>de</strong> alguns dos teus bons e<br />
amáveis actos para com os outros.<br />
3º Foste subornado, calaste-te e <strong>de</strong>ixaste que os inocentes fossem prejudicados por<br />
algo que os teus “parentes” fizeram.<br />
E não digo mais, caso contrário estarias mais enterrado que alguns mortos que por aqui<br />
passaram.<br />
Juiz – Olha lá, nunca ouviste dizer que “paga o justo pelo pecador”?<br />
Diabo – Ah ah, afinal confessas! Oh alma suja, como foste capaz <strong>de</strong> tal cruelda<strong>de</strong>? Não tens<br />
vergonha <strong>de</strong> ser tão reles? Já para não falar que pouco ou nada fazes para cumprires<br />
com as tuas obrigações.
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 97<br />
Juiz – Ora, quem lhes manda cometer erros que põem as suas vidas em risco? Ninguém po<strong>de</strong><br />
julgar a minha pessoa, a minha reputação. Eu tenho uma imagem a manter.<br />
Sim, porque eu sou um homem justo…todos necessitam <strong>de</strong> mim, quer seja para resolver<br />
alguns problemas básicos, quer para serem julgados por um crime.<br />
Diabo – Tu, que foste tão bom, tão docinho, não é?<br />
Oh, como pô<strong>de</strong> isso acontecer à doçura da tua pessoa?<br />
Juiz – Sou doce não é? Realmente, tenho que admitir, embora seja um tanto mo<strong>de</strong>sto.<br />
Diabo – Mas o que é isto?! Que atrevimento! Sai, vai-te embora, vai tentar a tua mísera sorte na<br />
outra barca, que não quero gente reles comigo.<br />
Juiz – Pois fica sabendo que vou mesmo, porque ninguém me fala assim estás a ouvir? Fica aí<br />
nesse horror <strong>de</strong> barca que eu me vou para a outra.<br />
isto, o Juiz dirige-se à barca do Anjo, muito ternamente para ver se este lhe facilita a entrada<br />
na sua barca.<br />
Juiz – Oh meu doce barqueiro, como haveis passado? Bem, espero eu!<br />
Anjo – Oh maldito, como te atreves a dirigir-me a palavra, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> teres sido em vida um<br />
homem com o coração tão negro?!<br />
Juiz – Maldito, Negro? Também tu? Mas julgas que estás a falar com quem? Deixa-te <strong>de</strong><br />
arrogâncias e arranja espaço nessa tua barca, que quero embarcar.<br />
Anjo – Tu que sempre juraste a Deus que não mentirias e, por dinheiro o fizeste!<br />
Traíste o teu Deus e por isso não tens perdão.<br />
Agora sai daqui, na minha barca não entrarás, pois eu não levo pessoas com o coração<br />
tão negro e com tão pouco discernimento.<br />
Juiz – Mas o que se passa hoje com estes dois? Tiraram o dia para me carregar <strong>de</strong> males, foi?<br />
isto o Diabo grita para o Juiz, da sua barca para a barca do Anjo:<br />
Diabo – Psst. Sr. Juiz, oh florzinha do bem, aqui cada um tem o tratamento que merece.<br />
Anjo – Por uma vez, tenho <strong>de</strong> concordar com a alma das trevas.<br />
Oh Lúcifer levas esta alma contigo ou fica no cais?<br />
Diabo – Pois, não sei. Tenho <strong>de</strong> pensar.<br />
Por um lado pecou muito e é mais um no meu batel, o que me faz somar pontos e<br />
seguir, por outro lado é uma alma sem escrúpulos e merece ir a reboque.<br />
Juiz – Está difícil! Sou tão preciso que até discutem para ver quem fica comigo.
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 98<br />
Diabo – Cala-te, imbecil. Não vês que ninguém te quer?! És tão culto e não enten<strong>de</strong>s isso. Seja<br />
abençoada tanta inteligência!<br />
Juiz – Bem, quando <strong>de</strong>cidirem diga qualquer coisa.<br />
Enquanto isso, man<strong>de</strong>m-me para terra, que ainda tenho alguns assuntos pen<strong>de</strong>ntes!<br />
Anjo – Mas tu julgas que vais voltar? Olha, quando tu exercias o teu trabalho, <strong>de</strong>volvias o<br />
dinheiro que ganhavas, sendo subornado?<br />
Juiz – Claro que não! Olha que quem dá e tira para o Inferno gira!<br />
Anjo – Ora aí está. Ao mesmo tempo que <strong>de</strong>ste liberda<strong>de</strong> aos pecadores, tiraste-a aos inocentes.<br />
Por isso para o Inferno vais!<br />
E não adianta falares…sai daqui! Faz a vonta<strong>de</strong> ao barqueiro da Ilha Perdida.<br />
Diabo – Hihihihihi! Vá, anda lá que eu ainda tenho um espacinho para ti!<br />
Juiz – Está bem, mas aviso já que pretendo ser bem servido. E para começar é melhor falarmos<br />
acerca da minha remuneração.<br />
Diabo – Pensas que o teu cargo se mantém nesta barca?<br />
Pois enganas-te, porque tu agora estás sobre os meus comandos.<br />
Juiz – Oh que triste vida e que infernal <strong>de</strong>stino. Porque me <strong>de</strong>ixei seduzir <strong>de</strong> tal maneira?<br />
Diabo – O dinheiro falou mais alto.<br />
Mas vai entrando e falando ao mesmo tempo.<br />
Aqui faz-se tudo simultaneamente, Hihihihihi.<br />
Juiz – Oh, barqueiro, traz então essa prancha que assim me vou!<br />
E assim, o Juiz com um gran<strong>de</strong> custo embarcou com o Diabo.<br />
Todos os seus feitos em vida foram pecaminosos e Lúcifer não perdoa.<br />
O <strong>de</strong>stino foi traiçoeiro com o Juiz, mas ao que parece, este apren<strong>de</strong>u com os seus erros.<br />
Não há nada melhor que uma boa lição <strong>de</strong> vida para nos apercebermos quando erramos.<br />
O Anjo, como sempre, avaliou e julgou quem na sua barca queria entrar, mas o facto <strong>de</strong><br />
o Juiz ter sido arrogante e ter pecado fortemente fez com que o Anjo per<strong>de</strong>sse um pouco a doçura<br />
que o caracteriza e fosse um tanto ríspido para o Juiz.<br />
O Diabo, como sempre, foi maléfico e irónico, criticou, ofen<strong>de</strong>u e <strong>de</strong>cidiu o <strong>de</strong>stino do<br />
réu. O Juiz mexeu com os princípios do Diabo e, como tal, este não queria o Juiz na sua barca.<br />
Este foi tão pecador, que a negação pela parte do Anjo e do Diabo, fez com que os<br />
mesmos dialogassem <strong>de</strong> barca para barca, <strong>de</strong>cidindo assim o <strong>de</strong>stino do Sr. Dr. Juiz.<br />
Tânia Graça<br />
Ana Fonseca<br />
9º H
O toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
Vem um toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte com a seringa na mão e um ar perdido...<br />
Diabo – Já por cá, seu drogado! Vejo que vens bem ganzado!<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 99<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – E o que tens tu a ver com isso, Berzebu?! Vê lá se não queres que o<br />
inferno te queime o cu!<br />
Diabo – Bem... De mau humor faleceste, mas conta-me... <strong>de</strong> que morreste?<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Seringa contaminada, <strong>de</strong>ixou borbulhas <strong>de</strong> cor encarnada!<br />
Diabo – Pois bem... Entra, criatura sofrida, nesta barca que está <strong>de</strong> partida<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Eu aí não entro, seu Demónio Infernal! Eu irei seguir viagem na Barca<br />
Celestial!<br />
Diabo – Isso só po<strong>de</strong> ser da ganza que fumaste, ou já não te lembras das muitas vezes<br />
que pecaste?<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Muitas vezes eu pequei, mas por mal não errei.<br />
Diabo – Por mal não erraste, mas mentiste e roubaste, muitas pessoas enganaste só para a<br />
droga po<strong>de</strong>res comprar. Agora o teu <strong>de</strong>stino é nesta barca entrar!<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Eu aí não entro, com o Inferno não me contento! Vai mijar à mata,<br />
vai p’ró raio que te parta! Nariz <strong>de</strong> batata, cada narina tem uma<br />
barata! Cabeça <strong>de</strong> repolho, cada cabelo tem um piolho! Seringa<br />
<strong>de</strong>ficiente, oxalá partas um <strong>de</strong>nte!<br />
O Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dirige-se à barca do Anjo...<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Oh, meu anjo doce, que terrível <strong>de</strong>stino aqui me trouxe.<br />
Anjo – Que queres <strong>de</strong> mim? Vejo que trazes pecados sem fim!<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Quero ir na tua barca! Oh, por favor, peço-te por tudo! Não quero<br />
embarcar na barca do cornudo!<br />
Anjo – Levaste uma vida a roubar e a enganar... Achas que mesmo assim tu mereces cá<br />
entrar?<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Não tive opção, foi a minha única solução.<br />
Anjo – Vejo que por mal não o fizeste, mas na tua vida foste uma autêntica peste!
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 100<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Eu faço qualquer coisa para contigo embarcar, até posso, se calhar, a<br />
minha seringa dar...<br />
Anjo – Com uma vida tão boa pela frente, porque <strong>de</strong>cidiste armar-te em valente? A droga<br />
<strong>de</strong>strói as pessoas, até as que no início são boas.<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – A minha vida não fazia sentido, perdi a minha família, sentia-me<br />
perdido... Como gostava <strong>de</strong> atrás voltar para no caminho das<br />
drogas não entrar!<br />
Anjo – Vejo que estás arrependido. No Purgatório ficas suspendido.<br />
Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – Uma <strong>de</strong>cisão tão certa como o chão que piso, talvez um dia mais<br />
Inês Cardoso<br />
9º H<br />
tar<strong>de</strong> embarque contigo p’ró Paraíso!
De meias axadrezadas<br />
Manhã <strong>de</strong> prata<br />
Sendo<br />
Diário <strong>de</strong> Maria<br />
De chuva<br />
Solidão<br />
Crónica<br />
Um leve passar <strong>de</strong> asa<br />
O Paraíso Mediterrânico<br />
Descrição <strong>de</strong> uma Paisagem I<br />
Descrição <strong>de</strong> uma Paisagem II<br />
Descrição <strong>de</strong> uma Paisagem III<br />
Descrição <strong>de</strong> uma Paisagem IV<br />
Praia<br />
Lettres <strong>de</strong> Pierrot à Colombine<br />
O Amor<br />
Praia das Lágrimas<br />
L’Amitié<br />
Valeu a pena?<br />
Memórias <strong>de</strong> infância<br />
A trapezista azarada<br />
Havia sempre I<br />
Havia sempre II<br />
Textos<br />
Índice<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 101
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 102<br />
Havia sempre III<br />
Já fui pequenina<br />
Há alguns anos<br />
Quando eu era pequenina<br />
Era eu pequenina<br />
É urgente I<br />
É urgente II<br />
É urgente III<br />
Quando estou contente<br />
Auto-retrato I<br />
Auto-retrato II<br />
Auto-retrato III<br />
Auto-retrato IV<br />
Essência do meu ser<br />
O meu mundo é sensação I<br />
Apren<strong>de</strong> a viver!<br />
O meu mundo é sensação II<br />
O meu mundo é sensação III<br />
O meu mundo é sensação IV<br />
Um vazio cheio <strong>de</strong> nada<br />
O que é a vida?<br />
Partidas do <strong>de</strong>stino<br />
On<strong>de</strong> me encontro<br />
O Gordo Coronel Vasconcelos<br />
Acor<strong>de</strong>i com as ondas
Abusivo<br />
A menina dos olhos <strong>de</strong> oiro<br />
A primeira vez que vi o mar<br />
Margarida acordou<br />
Apren<strong>de</strong>r<br />
Desejar um sorriso<br />
O dia que marcou Portugal<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa I<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa II<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa III<br />
Uma aventura misteriosa<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa IV<br />
Uma aventura nas férias da Páscoa V<br />
O Político<br />
O Juiz<br />
O Toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
<strong>Pedaços</strong> <strong>de</strong> <strong>Noz</strong> | 103