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prédio, as despesas com o lacaio e duas servas, os dispêndios com o<br />
tratamento da enfêrma, as inadiáveis aquisições de gêneros e utilidades<br />
domésticas. Não obstante o auxílio de Antero, o quadro íntimo era formado de<br />
amargas apreensões. A saúde de D. Margarida ia de mal a pior, impondo à filha<br />
profundos desgostos e dolorosas vigílias.<br />
Certa vez em que mãe e filha comentavam as aperturas do lar, D.<br />
Margarida lembrou duas velhas amigas da infância, em ótima situação financeira.<br />
Eram as senhoras Josefina Fourcroy de Falguiêre e Alexandrina de<br />
Saint-Medard, que lhe haviam sido companheiras de meninice, nos dias<br />
formosos do pretérito, em Toulouse. Quem sabe estariam dispostas a auxiliálas<br />
com o empréstimo de algumas centenas de francos? Essa idéia acendeu<br />
muitas esperanças no cérebro cansado da enfêrma. Certo, ouvir-lhe-iam o<br />
apêlo, ajudando-a naquelas angustiosas circunstâncias, com a desejável<br />
discrição. Madalena ouviu as sugestões da genitora, que lhe pediu as<br />
procurasse em particular, consultando-as em seu nome, para que fôssem<br />
atendidas as necessidades mais urgentes. A espôsa de Cirilo, no intimo,<br />
revoltava-se contra os propósitos maternais; todavia, como proceder ante a<br />
insistência da enfêrma querida, de cuja ternura sempre havia recebido os mais<br />
doces carinhos?<br />
D. Margarida não desejava importunar o sobrinho em coisas mínimas e<br />
supunha que o expediente seria bem sucedido. Madalena não podia<br />
desatender aos seus desejos afetuosos.<br />
Um dia, pela manhã, demandou a rua das Nonnains-d’Hyéres e parou diante<br />
da Abadia dos Celestinos, em cuja vizinhança se levantava a residência<br />
aristocrática de Madame Falguiêre, que a recebeu depois de largo movimento<br />
de criados, arrogantes em face dos seus trajes modestos. Expôs, humilhada e<br />
receosa, o motivo da visita e, no entanto, as maneiras tímidas e sinceras não<br />
comoveram a dona da casa, que respondeu altivamente:<br />
— Lamento muito não poder servi-la, pois há de reconhecer que sua mãe é<br />
apenas minha conhecida de tempos remotos e não existe entre nós credenciais<br />
de intimidade que justifiquem qualquer apêlo a meu marido, em seu favor.<br />
— Ah! sim! compreendo... — murmurou Madalena, afogando as lágrimas<br />
no peito.<br />
— Diga a Margarida — prosseguiu a velha dama com rigorosa austeridade<br />
— que se resigne com a situação. Quanto a mim, é preciso que ela saiba que,<br />
se fui bafejada por um casamento feliz, tenho a vida repleta de grandes<br />
dissabores. Se os pobres padecem com as necessidades, os abastados sofrem<br />
muito mais com as obrigações.<br />
E depois de um olhar impiedoso e severo para com a visitante humilhada,<br />
acentuou:<br />
— Além disso, você está moça e não será difícil arranjar trabalho. Que<br />
quer, minha filha? São as contingências da sorte. Há muitas casas nobres a<br />
procura de governantas.<br />
A moça ruborizou-se. Não saberia dizer se a emoção lhe provinha da<br />
dignidade ofendida, se da extrema vergonha que lhe cobriu o coração. Quis<br />
lançar-lhe em rosto a repugnância que sua descaridosa atitude lhe causava,<br />
mas, limitou-se a responder:<br />
— De qualquer modo, senhora, minha mãe e eu lhe ficamos reconhecidas.<br />
Deus permita que nunca venha a experimentar nossa angústia.<br />
A senhora Falguiêre esboçou um sorriso intraduzível e Madalena saiu, tomada<br />
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