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firmou:<br />
— Não posso... Sei o que mamãe tem sofrido em tão longos anos de<br />
martírio, físico e moral, e espero que Deus nos estenda a mão, para que suas<br />
dores sejam aliviadas; no entanto, agora, não me é possível deixar Paris...<br />
A filha de D. Inácio esboçou um gesto de resignação, respeitando, sem<br />
discutir, a decisão da filha. Não assim, o pupilo de Damiano, que deixou<br />
transparecer no olhar uma profunda desconfiança.<br />
— Ah! compreendo agora — disse desapontado —, não podes sair de<br />
Paris! Louco que fui, presumindo que a vida aqui seria a mesma de Ávila. As<br />
atrações parisienses modificam as criaturas...<br />
Notando-lhe a profunda tristeza, a jovem Vilamil experimentou indefinível<br />
aflição por se declarar abertamente, revelar a natureza dos sagrados deveres<br />
que a escravizavam prisioneira, mas a verdade dolorosa lhe morria no coração.<br />
Ferida nos mais nobres sentimentos, encontrou fôrças para murmurar.<br />
— Não deves fazer semelhante juízo a meu respeito...<br />
E muito enleada sob o olhar indagador do rapaz, que a envolvia em<br />
atmosfera de humilhação, concluía:<br />
— Ouve. Carlos! Quando houver cumprido meus deveres, quando minha<br />
consciência permitir que pense em mim, irei procurar-te onde estiveres!<br />
Guardaremos, eu e mamãe, tôda a nossa gratidão e confiança em ti. Não<br />
importa hajas renunciado ao ministério sacerdotal, porque, então, quando me<br />
sinta livre, poderemos iniciar nova e venturosa tarefa.<br />
Clenaghan, entretanto, ouviu-a quase friamente, com o ciúme que lhe<br />
envenenava o coração. Conturbado pelas sugestões inferiores, cada afirmativa<br />
de Alcione, agora, lhe parecia diferente. Teve a impressão de que ela se<br />
deixara levar em Paris pelas promessas de algum homem criminoso e<br />
inconsciente. As palavras “quando me sinta livre” toavam-lhe dolorosamente.<br />
Sentia-se estranho a tudo e não pôde murmurar senão evasivas ligeiras, até ao<br />
momento em que se despediu para voltar ao hotel.<br />
Alcione compreendeu o que se passava com êle, mas, ainda que<br />
amargurada, chamou Luísa para os serviços de cada noite, relativos ao<br />
tratamento de sua mãe e cumpriu, rigorosamente, o programa do lar. Madalena<br />
Vilamil se envolvera num véu de tristeza silenciosa. Então, fazendo o possível<br />
por dissimular as amarguras íntimas, a jovem procurou desfazer o ambiente<br />
pesado, pedindo a Rohbie para tocar alguma coisa, enquanto lia à enfêrma<br />
certas páginas de sua predileção.<br />
No dia seguinte, pela manhã, saiu de casa como de costume, a fim de<br />
esperar o carro do Sr. Davenport, na pequena praça, defronte da igreja mais<br />
próxima. Um carro ia-lhe no encalço, discretamente, sem que ela o<br />
suspeitasse. Era Carlos que, informado na véspera por Madalena, das regalias<br />
e atenções que a filha desfrutava na casa onde servia, resolvera não deixar<br />
Paris sem uma prova da singular transformação que injustamente atribuía à<br />
criatura eleita. Cada pormenor da conversa com a senhora Vilamil, no dia<br />
anterior, gravara-se-lhe indelével no coração. Por que motivo ela não esperava<br />
o carro à porta de casa? Não havia necessidade de caminhar quase um<br />
quilômetro para encontrar a viatura. Preocupado com essa primeira<br />
observação, reparou a carruagem garbosa que Alcione tomou, a breve trecho.<br />
A suntuosidade do veículo pareceu-lhe excessivamente inadequada para a<br />
jovem humilde dos idos tempos de Ávila. Seguiu-a, mais ou menos de perto,<br />
até que chegou ao destino. Viu-a descer e receber com evidentes mostras de