Entre o corpo e a poesia:o processo criativo - EMAC - UFG
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Toda e qualquer entrega absoluta demanda riscos, desconfortos e muitas<br />
vezes, até, mal-estar. Nunca estamos preparados para abdicar do que é nosso em<br />
prol do outro. Este pensamento não pode rondar o ator, é bom, ao mesmo, pensar<br />
que tudo o que existe dentro e fora dele é passível de mudança, sacrifício e<br />
desconstrução.<br />
Metamorfose<br />
Um eu, um outro, um encontro. Uma permissão, um ato de fundir <strong>corpo</strong>s e<br />
descobrir alteridades: modos distintos de observar, estar e viver no mundo. Uma<br />
maneira singular e única de ser algo diferente dentro de si mesmo. O ator,<br />
profissional das várias vidas, comunga dessa possibilidade em abrir seu <strong>corpo</strong>, sua<br />
voz, seu espírito a outrem, a doar a sua vida à vida da personagem. O ator ―não<br />
pode tornar-se outra pessoa senão com as suas próprias emoções, e que<br />
permanecendo ele mesmo‖, ―faz da vida do personagem a sua própria vida‖<br />
(ROUBINE, 1998).<br />
Como em um casulo, o ator redesenha seu eu em prol do outro que ele irá<br />
desenvolver. A personagem é gerada, nascida, fortificada e reconstruída no interior<br />
do ator e conquista pelo mesmo, sua vida exterior. A metamorfose acontece. Ao sair<br />
do casulo, o ator sai diferente, modificado. Sai rascunhando, sentindo e vivendo a<br />
personagem.<br />
Durante a vida, por quantos casulos não passaram e passam muitos atores?<br />
Quantas personagens obtiveram e obtém vida pela vida deste profissional? O ator,<br />
assim como qualquer ser humano, tem suas especificidades, características, sua<br />
individualidade, seu <strong>corpo</strong> e seu modo de viver. Sabe-se, que o ator como pessoa,<br />
não deixará de ser ele mesmo durante o <strong>processo</strong> de construção e interpretação da<br />
personagem, mas durante sua caminhada construtiva sempre emprestará sua vida<br />
para a que a da personagem floresça.<br />
Na vida cotidiana, identificamo-nos como ―eu‖; somos os protagonistas de<br />
―eu desejo, eu sinto, eu penso‖. Associamos esse ―eu‖ a nosso <strong>corpo</strong>,<br />
hábitos, modos de vida, família, posição social e a tudo o mais que a<br />
existência normal compreende. Mas, em momentos de inspiração, o eu de<br />
um artista sofre uma espécie de metamorfose. Tende recordar-se de si<br />
mesmo em tais momentos. O que aconteceu a seu ―eu‖ cotidiano? Não se