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Entre o corpo e a poesia:o processo criativo - EMAC - UFG

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momentos em que o ator fragiliza ou enriquece a interpretação. Podendo até mesmo<br />

proporcionar uma série de caminhos que facilite o trabalho do ator.<br />

O outro também possui um repertório rico em ações que pode contribuir com<br />

a personagem em desenvolvimento. Ele é um agente da desconstrução. Sugere<br />

movimentos, exercícios de expansão e aprisionamento de gestos e depois de ter<br />

assistido o ensaio, sabendo das necessidades do ator, incumbe-se em retirar do<br />

mesmo suas potencialidades. Ele pode dinamizar as ações e em algum momento se<br />

propor a realizá-las no lugar do ator, levando-o a observar uma nova proposta de<br />

interpretação.<br />

A ajuda mútua entre o outro e o ator contribui de forma satisfatória com o<br />

desenvolvimento da cena em geral. Essa inter-relação sempre será importante<br />

durante o <strong>processo</strong> de construção da personagem. Uma ajuda capaz de superar<br />

limitações, unir divergências e refletir sobre elas, descobrir o quanto do ator existe<br />

escondido dentro dele mesmo e o quanto o outro pode contribuir com o que está<br />

sendo construído. Uma produção de conhecimento.<br />

A humildade de se reconhecer como ser incompleto e inacabado é um ato<br />

de dignidade do ator frente aos obstáculos existentes. Esse ato contribui com a<br />

flexibilidade para desconstruir tudo o que o ator já se apegou e que desde então<br />

abre mão para que novidades surjam. A humildade do ator para com a interpretação<br />

é sinônimo de mobilidade, seriedade, compromisso e facilita qualquer tipo de ação.<br />

Talvez uma das principais companheiras da desconstrução.<br />

A ação de desconstruir, sabe-se, é uma tarefa muito cautelosa e difícil. Ela<br />

age após um exame diagnosticado de cada parte do <strong>corpo</strong>. Após um raio-X que<br />

mostra profundamente onde se encontra a fratura/limitação que impede a locomoção<br />

e/ou expansão das possibilidades, e ao invés de engessar as partes fraturadas tenta<br />

superá-las. Essa ação às vezes tão cruel, porém necessária, é fator vital na arte<br />

desconstrutora do ator.<br />

A arte como operação de ―refazer-se‖, através de uma experimentação<br />

rigorosa e às vezes cruel. Cruel porque o artista deve cultivar uma<br />

determinação sem limites, uma entrega absoluta, alcançar a mobilização<br />

total de si, colocando-se em jogo sem subterfúgios.<br />

[…]<br />

Cruel também porque o <strong>processo</strong> de criação deste ―outro <strong>corpo</strong>‖ é<br />

inseparável de uma destruição, de uma decomposição dos obstáculos. É<br />

necessário abrir espaço, para que este ―verdadeiro ato de gênese‖ possa se<br />

dar: ―Senti (…) que se fazia o vazio que me permitia avançar. (…) Somos<br />

nesta época pouco os empenhados em atentar contra as coisas, em criar<br />

em nós mesmos espaços para a vida‖ (Artaud em o ―Pesa-Nervos‖)<br />

(QUILICI, 2004, p. 199, grifos do autor).

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