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Entre o corpo e a poesia:o processo criativo - EMAC - UFG

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Como visto, a desconstrução tem como finalidade lapidar não só a<br />

personagem, mas também o ator. Com ela se alcançam patamares múltiplos que<br />

possibilitam uma criação não enrijecida. Promove ao ator uma descoberta acerca do<br />

seu eu subjetivo, que, antes do seu eu ator, esconde um rico repertório de eus<br />

jamais vistos. Se desconstruindo como pessoa o ator fornece lugar e abre<br />

possibilidades para grandes novidades e estas por sua vez enriquecem sua<br />

bagagem profissional.<br />

Para se desconstruir, o ator deve se conhecer bem. Ter consciência das<br />

suas limitações e tentar superá-las. Deve fazer uma análise cuidadosa do seu<br />

interior e ter domínio da sua massa <strong>corpo</strong>ral 13 . Deve permear e sentir com<br />

delicadeza seu espírito. Depois de realizado um diagnóstico de si mesmo chega a<br />

hora de acolher a personagem e fazer o mesmo <strong>processo</strong> analítico, levando em<br />

consideração todas as necessidades e singularidades da mesma, que ao final,<br />

depois de muito trabalho e desconstrução será interpretada, ou melhor, vivida pelo<br />

ator.<br />

O ator que ―não tem medo de ir além de todos os limites normalmente<br />

aceitáveis, atinge uma espécie de harmonia interior e de paz de espírito‖<br />

(GROTOWSKI, 1992, p. 39). Para atingir esse estado harmônico ao qual se refere<br />

Grotowski, o ator precisa explorar o espírito artístico da criação. Estar apto a uma<br />

limpidez e preparado para uma viagem de conhecimento, de liberdade e transição,<br />

na qual o ator assista com os próprios olhos os seus (re)nascimentos.<br />

Muitas vezes, o ator se depara, durante a criação de sua personagem, com<br />

dois caminhos: o cômodo e o da pesquisa. O caminho cômodo, porém utilizado<br />

dentro da zona de conforto do ator, proporciona uma interpretação vazia, sem<br />

muitos mistérios e novidades podendo dar margem a uma arte fragilizada. O<br />

caminho da pesquisa é trabalhoso, demanda tempo e uma entrega total àquilo que<br />

está sendo desenvolvido. Nesse caminho habita a difícil tarefa da desconstrução do<br />

<strong>corpo</strong> que em cena esbanjará um resultado dado pelo trabalho intenso e<br />

desconcertante dos músculos, da voz e das limitações.<br />

O <strong>corpo</strong> do ator ultrapassa os limites das conveniências e dos bons modos,<br />

torna-se desafiador de regras e padrões, é menino malcriado, falador com<br />

todas as letras do que antes se podia apenas sussurrar entre quatro<br />

paredes, nosso cúmplice em nossos maiores, belos, vergonhosos e<br />

secretos pensamentos. Para além do desempenho visa ser um outro,<br />

intimamente, um outro ele mesmo (AZEVEDO, 2010, p. 130).<br />

13 Entende-se em sua completude: <strong>corpo</strong>, voz e espírito.

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