Entre o corpo e a poesia:o processo criativo - EMAC - UFG

importante ater-se a eles para uma expansão das potencialidades do ator. Com isso
contribuições surgiriam.
Observar também as pessoas, as casas, os prédios, as avenidas, os
objetos, enfim, a maior quantidade de informações que puder registrar na memória
e/ou em cadernos de anotações, contribui no processo de criação da personagem:
sua fala, seu sotaque, o modo de andar, a postura corporal e as ações em geral.
Como o meio físico interfere nas relações humanas? Como que as pequenas e
grandes construções interferem na locomoção das pessoas? Como que os
estímulos internos respondem aos externos e vice-versa?
O ator, dono e escravo de seu corpo e de suas limitações, deve se dedicar a
uma vigília incessante do meio que o cerca.
Um ator deve ser observador não só quando está em cena, mas também na
vida real. Deve concentrar-se, com todo o seu ser, em tudo o que chame
sua atenção. (…) Há pessoas naturalmente dotadas de poderes de
observação. (…) Ao ouvir essas pessoas falarem, ficamos admirados com o
grande número de coisas que passam despercebidas àqueles cuja
capacidade de observação é pouco desenvolvida. (…) Em média, as
pessoas não fazem ideia de como se deve observar a expressão facial, o
jeito do olhar e o tom de voz, para que possam entender o estado de
espírito daqueles com quem conversam. (…) Se pudessem fazê-lo, (…) o
seu trabalho criador seria infinitamente mais rico, sutil e profundo. Isto (…)
exige uma imensa quantidade de trabalho, tempo, vontade de ser bemsucedido
e prática sistemática (STANISLAVSKI, 1997, p. 144, grifos do
autor).
Com a observação aguçada, o ator pode se colocar dia após dia, mais
preparado e embasado para desenvolver seu trabalho de lapidador de personagens.
As informações colhidas por este ato o liberta da mesmice. Observar implica
apreender as características do outro, suas ações e usufruir dessas, pontos que
contribuam com o ato criador. Somente um bom observador conseguirá ser um bom
ator.
O ato de observar opera também além daquilo que é visível. Não é um ato
tão simples, ou melhor, é muito complicado, se entregarmos apenas os olhos para a
observação. Isso exige um pouco mais de preparo e tempo. Observar o que existe
ou que se passa por dentro de algo ou alguém necessita de dias de estudos e
pesquisas. Uma entrega ao silêncio, a observar a respiração e/ou a falta de ar. Calar
e deixar as sensações falarem. Observar com o corpo, com os olhos da
sensibilidade. Essa observação é uma leitura subjetiva do estado interior de outrem.
Um respeito com a intimidade alheia. Parar por algumas horas e ficar olhando até ter