Entre o corpo e a poesia:o processo criativo - EMAC - UFG
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O ator é um ser humano que não se esgota, enche ou paralisa. Ele se<br />
dilacera, transborda de curiosidade, explora possibilidades, se arrisca em ir a<br />
lugares sombrios fora e dentro dele mesmo. Ativo em sua arte, rompeu com os<br />
espaços arquitetônicos do teatro e ocupou as ruas, praças, lugares abandonados e<br />
alternativos e, alguns atores, ao reverso, levam as experiências adquiridas e<br />
histórias desses lugares para as casas de teatro. Os locais possíveis para o<br />
envolvimento dessa arte se comunicam e os atores libertos, os integram.<br />
Tomando como partida esse ator liberto, o diretor polonês de teatro Jerzy<br />
Grotowski, com sua visão distendida sobre a arte teatral baseada no princípio pobre,<br />
porém rico em essência, sentido e significado, traça uma linha de raciocínio que<br />
transcende a quarta parede, o texto, o figurino, a sonorização, a iluminação, etc,<br />
fixando-se na arte do ator e na recepção/participação do público:<br />
Existe algo de incomparavelmente íntimo e produtivo no trabalho com um<br />
ator que confia em mim. Ele deve ser atencioso, seguro e livre, pois nosso<br />
trabalho consiste em explorar ao máximo suas possibilidades. Seu<br />
desenvolvimento é atingido pela observação, pela perplexidade e pelo<br />
desejo de ajudar; o meu desenvolvimento se reflete nele, ou melhor, está<br />
nele – e nosso desenvolvimento comum transforma-se em revelação. Não<br />
se trata de instruir um aluno, mas de se abrir completamente para outra<br />
pessoa, na qual é possível o fenômeno de ―nascimento duplo e partilhado‖.<br />
O ator renasce – não somente como ator mas como homem – e, com ele<br />
renasço eu. É uma maneira estranha de se dizer, mas o que se verifica,<br />
realmente, é a total aceitação de um ser humano por outro (GROTOWSKI,<br />
1992, p. 22, grifos do autor).<br />
Ciclo: vida e morte, nascer e renascer. O ator aglomera dentro de sua massa<br />
<strong>corpo</strong>ral e espiritual essa sequência, essa passagem evolutiva e transformadora. Em<br />
vida ele morre, com a morte ele renasce. Ele apaga características, aprende outras<br />
e quando necessário recorre às características apagadas e as resgata. Sua vida<br />
profissional exige uma flexibilidade para transitar entre o dentro e fora, passado e<br />
futuro, o já feito e o que será realizado. O ator purifica-se no vai e vem dos<br />
(re)nascimentos das personagens.<br />
O ator, formado pelas vivências, consegue alargar suas potencialidades. O<br />
fator biológico, tateável e visível, permite e interfere muito nesse <strong>processo</strong>. As ações<br />
se materializam no <strong>corpo</strong>. O <strong>corpo</strong> é responsável por levar ao público até mesmo as<br />
informações ocultas, geradas de dentro pra fora, mais ainda, mostrar o micro<br />
elemento que deu impulso para tal informação. As informações envolvem dos<br />
grandes gestos até a mais imperceptível corrida do sangue nas veias.