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Entre o corpo e a poesia:o processo criativo - EMAC - UFG

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prostituta da obra ‗Vestido de Noiva‘ de Nelson Rodrigues; Shylock, um agiota judeu<br />

da obra ‗O mercador de Veneza‘ de William Shakespeare; os mendigos e a mulher<br />

da obra ‗Estado de Sítio‘ de Albert Camus; os personagens da obra ‗Ralé‘ de Maxim<br />

Gorki, dentre outros.<br />

Manoel de Barros, frente a sua posição como vagabundo profissional e seu<br />

apego pelas inutilezas, nos coloca uma reflexão acerca da sua colheita entre sapos<br />

e lagartos da essência da vida não condicionada ao consumismo. Por isso o poeta<br />

berra pela natureza, mostrando que tudo tem sua importância, apesar de os<br />

sistemas sociais insistirem e nos viciarem em classificações e valorizações<br />

diversas. E mais, apresenta a plenitude de cada pequena coisa e liberdade<br />

no seu mais amplo e elevado espectro, pois somente sendo plenamente<br />

cada coisa em cada momento nos libertamos realmente desta nossa<br />

aderente armadura que se chama ―eu‖ (PASCALI, 1997, p. 1, grifos da<br />

autora).<br />

Manoel de Barros cavouca canto a canto do seu próprio imaginário e retira<br />

dessa escavação restolhos de trapos onde dormem os diamantes. Os diamantes ele<br />

deixa para trás e faz reluzir dos trapos o brilho do mesmo mineral que dorme.<br />

Seu derramar pela natureza 8 , como uma cascata, molha com limpidez as<br />

pequenas e marcantes páginas da sua existência. A mistura da sua vida com a vida<br />

dos vários seres existentes no pantanal fez do poeta o responsável por transfigurar<br />

esse habitat em vez de simplesmente descrevê-lo. Essa localidade tem forte<br />

influência na carga emotiva, sensível e poética de Manoel de Barros, por isso, ele<br />

proporcionou aos leitores uma visão distendida do que ela é. Foi além das imagens<br />

visíveis. Mostrou a profundidade do brejo, o interior das rãs, a ferocidade dos grilos e<br />

a voz do mato. Com a ponta do seu lápis, como o próprio poeta diz, ele faz<br />

nascimentos, sendo assim, ele fez e faz nascer a cada dia, um novo pantanal, ele o<br />

transcreve, o liberta da descrição.<br />

Sua <strong>poesia</strong> não nasce do existir, daquilo que é tangível e sim do que ele<br />

inventa. Para o poeta tudo o que ele não inventa é falso. Essas invencionices<br />

levadas ao ponto da letra, ou melhor, na ponta do seu lápis, participam de uma<br />

comunhão com o nascer da <strong>poesia</strong> dentro de um lugarzinho que o poeta apelidou<br />

como o lugar de ser inútil. Nesse lugar, as frases são fecundadas no íntimo do seu<br />

eu poético e a sua transposição para o papel é trabalhosa, demorada e, ―como um<br />

parto, dói e sangra‖ (BARROS apud PIZZINI, 2006).<br />

8 Deve-se ater aos cuidados para não rotular Manoel de Barros como o poeta da paisagem, ecológico<br />

e pelas personagens que cria, como o poeta do folclore.

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