Entre o corpo e a poesia:o processo criativo - EMAC - UFG
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construídos com palitinhos, avenidas com folhas de bananeira e uma vida corrida<br />
pela pressa da alegria, da fascinação e da descoberta.<br />
Letras, palavras e frases, tecem pouco a pouco a dissertação sobre a vida<br />
de uma pessoa que marcou e ainda marca a literatura brasileira. Pelo simples fato<br />
de escrever <strong>poesia</strong>s ele proporcionou uma reviravolta nos conceitos já existentes e<br />
superou a gramática, não de qualquer jeito, mas, por conhecê-la demais, ele preferiu<br />
ir além. E foi.<br />
Vim, conhecendo por vielas poéticas, a vida de um senhor muito simples e<br />
tímido, que se desfazia em desmaios e vômitos quando pediam para que ele se<br />
pronunciasse em público e/ou de frente a uma câmera. Um senhor que ensina a<br />
enxergar torto esse mundo reto demais e embaraçado, quase que como um vulto,<br />
aquilo que o poder da ganância nomeou como valor. Um senhor que se desmancha<br />
nas frases que escreve, que sente nas palavras um conforto para seus sonos<br />
tranquilos e que diz ser verdade somente aquilo que está redigido em suas <strong>poesia</strong>s.<br />
Um sacerdócio apaixonante pela palavra. Tendo essas características como sua<br />
personalidade, peço que ele mesmo se apresente:<br />
Auto-Retrato Falado<br />
Venho de um Cuiabá de garimpos<br />
e de ruelas entortadas.<br />
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha,<br />
onde nasci.<br />
Me criei no Pantanal de Corumbá<br />
entre bichos do chão, aves, pessoas humildes,<br />
árvores e rios.<br />
Aprecio viver em lugares decadentes<br />
por gosto de estar entre pedras e lagartos.<br />
Já publiquei 10 livros de <strong>poesia</strong>:<br />
ao publicá-los me sinto meio desonrado<br />
e fujo para o Pantanal<br />
onde sou abençoado a garças.<br />
Me procurei a vida inteira e não me achei<br />
— pelo que fui salvo.<br />
Não estou na sarjeta<br />
porque herdei uma fazenda de gado.<br />
Os bois me recriam.<br />
Agora eu sou tão ocaso!<br />
Estou na categoria de sofrer do moral<br />
porque só faço coisas inúteis.<br />
No meu morrer tem uma dor de árvore (BARROS, 2010).<br />
Desvendado o mistério pelo próprio Manoel de Barros, façamos, ―apesar do<br />
poeta não amar colocar data na sua existência‖ (CEZAR, 2008) sem a pretensão de<br />
magoá-lo, um breve caminho por sua trajetória de vida.