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Carlos Fernando de Quadros - XI Encontro Estadual de História ...

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duras da vida na escravidão teriam <strong>de</strong>stituído os escravos da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representar o mundo a partir<br />

<strong>de</strong> categorias e significados sociais que não aqueles instituídos pelos próprios senhores. […] Procurei<br />

<strong>de</strong>monstrar também que a outra face da teoria do escravo-coisa é a ênfase na rebeldia negra. Apesar das<br />

diferenças <strong>de</strong> formulação, a idéia sempre presente aqui é a <strong>de</strong> que as práticas mais abertas <strong>de</strong> resistência<br />

por parte dos negros eram a única maneira <strong>de</strong> eles se afirmarem como pessoas humanas, como sujeitos <strong>de</strong><br />

sua própria história. 10<br />

Dois autores que Chalhoub preten<strong>de</strong>u contestar nesta sua obra são citados<br />

nominalmente na conclusão <strong>de</strong> sua tese (apesar do historiador ter afirmado não haver<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “arrolar nomes”): <strong>Fernando</strong> Henrique Cardoso e Jacob Goren<strong>de</strong>r. Os<br />

“autores-protótipo” da “teoria do escravo-coisa” - todos os termos cunhados pelo autor<br />

do estudo – são contrariados com a justificativa <strong>de</strong> possuírem problemas tanto na or<strong>de</strong>m<br />

da pesquisa quanto da explicação histórica. Com uma análise <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> “[...] o<br />

mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança [...]” (1990: 250), ambos os pensadores citados transcrevem<br />

em sua literalida<strong>de</strong> os testemunhos racistas dos séculos anteriores, concebendo a priori<br />

pensamento e ação dos escravos, ambos no que chama <strong>de</strong> “[...] termos <strong>de</strong> alternância<br />

[…] entre passivida<strong>de</strong> e ativida<strong>de</strong>, conformismo e resistência, ou coisificação e rebeldia”<br />

(1990: 250). Sidney Chalhoub – <strong>de</strong> acordo com suas próprias afirmações - busca romper<br />

com tais dicotomias, produzindo uma obra em que recupera as “[...] visões ou percepções<br />

[...]” (1990: 250) dos atores históricos, através das suas experiências.<br />

Goren<strong>de</strong>r reagirá às críticas recebidas através <strong>de</strong> outro livro “A escravidão<br />

reabilitada”, publicado em 1991. Em tal obra, no lugar da interpretação estrutural do<br />

passado brasileiro, realiza um estudo sobre as tendências então recentes da historiografia<br />

brasileira sobre a escravidão (e, em especial, as contrárias a si). Sua intenção crítica está<br />

sintetizada abaixo:<br />

Meu propósito é o <strong>de</strong> examinar o procedimento analítico que conduziu a re<strong>de</strong>senhar o perfil da escravidão<br />

com o objetivo explícito ou tácito <strong>de</strong> reabilitá-la. Daí a atenção temática seletiva, sem pretenções <strong>de</strong><br />

balanço geral. Porque a escravidão brasileira continua a atrair pesquisadores nacionais e estrangeiros e, nos<br />

últimos anos, foi objetivo <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> elevada <strong>de</strong> teses acadêmicas, artigos <strong>de</strong> revistas e jornais e livros<br />

especializados. Fato positivo, em si mesmo, uma vez que a quantida<strong>de</strong> alcance o teor <strong>de</strong> massa crítica que<br />

se converte em nova qualida<strong>de</strong>. 11<br />

Na obra o autor percorre uma ampla bibliografia referente à escravidão, através<br />

<strong>de</strong> uma divisão temática que contempla as gran<strong>de</strong>s teses que concernem tal problema,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser citadas: a brecha camponesa, o abolicionismo, a violência, a família escrava<br />

e as varieda<strong>de</strong>s do ser escravo. Tais tendências não são recebidas por ele com muito<br />

entusiasmo, pois reprova os referenciais com que dialogam, como po<strong>de</strong>mos perceber na<br />

citação a seguir:<br />

O estudo da escravidão por historiadores, sociólogos e antropólogos foi afetado por tendências chegadas<br />

não só dos Estados Unidos, on<strong>de</strong> se concentra a maior massa <strong>de</strong> trabalhos sobre o escravismo nas Américas.<br />

Os ventos também sopraram <strong>de</strong> Paris e Londres. E sopraram com força na mesma direção <strong>de</strong> ataque ao<br />

marxismo. 12<br />

É nos ventos antimarxistas que Goren<strong>de</strong>r localiza Sidney Chalhoub, Sílvia Lara<br />

e muitos outros historiadores famosos pelo estudo da escravidão. Em sua maioria são<br />

caracterizados como “neopatriarcalistas”, pois estariam reabilitando as teses <strong>de</strong> Gilberto<br />

Freyre, em especial Lara, a qual, <strong>de</strong> acordo com o autor, negaria a existência da violência<br />

nas relações <strong>de</strong> trabalho escravistas (importante é lembrar a sua acusação <strong>de</strong> que a mesma<br />

basearia tão forte afirmação em paupérrima evidência empírica). O consenso seria a<br />

tônica da historiografia da década <strong>de</strong> 1980, em sua conclusão. Suas críticas ao material<br />

produzido sobre o tema são duras, e a reação a estas, como será apresentado agora, virão<br />

em tom ainda mais pesado e para o alcance <strong>de</strong> maior audiência.<br />

10 CHALHOUB, Sidney. Visões da liberda<strong>de</strong>: uma história da escravidão nas últimas décadas da<br />

corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. pp. 249-250.<br />

11 I<strong>de</strong>m, p. 18.<br />

12 I<strong>de</strong>m, p. 16.<br />

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