Edição 40 - Memorial da América Latina

FOTOS: REPRODUÇÃO
da trajetória hispânica como fator a ser
considerado por aqueles que procuram
o apoio político dessa comunidade.
Se bem existe a preocupação em
deixar clara a inexistência de uma pregação
autonomista, valorizando nessa
agenda um sentido de pertença “indiscutivelmente
americano”, sua concepção se
contrapõe à ideia de assimilação defendida
por Huntington. Os latinos “estão se
integrando rapidamente a esta sociedade
– sobretudo em nível econômico e político
– mas não acabarão se assimilando por
completo em nível cultural”.
Concluindo sua análise, Ramos
ilustra o otimismo com a Onda Latina ao
descrever uma apresentação do seu livro
frequentada por hispânicos de diversos
lugares dos Estados Unidos, quando vários
deles, ao lhe apresentarem seus filhos
pequenos, acrescentavam tratar-se do
futuro presidente do país, convencendo
Ramos de que essa confiança demonstrava
“que o primeiro presidente latino já
tinha nascido”.
Voltando ao início deste artigo, seria
Marco Rubio a expressão dos sonhos
de Ramos e dos pesadelos de Huntington?
Difícilmente. Sua plataforma eleitoral
não se concentrou na identidade de
origem, diluindo-se no conservadorismo
mais radical do Partido Republicano que
ameaçou reverter políticas “estatizantes”
e “socializantes” de Obama, como a reforma
da saúde. Rubio chegou inclusive
a abdicar da sua oposição às perseguições
dos imigrantes hispânicos no Estado do
Arizona. Por outro lado, apesar das vitórias
de candidatos republicanos, os
votantes latinos tenderam a manter seu
histórico apoio majoritário aos democratas.
Aqui também não se tratou de ação
afirmativa de raiz comunitária, mas de
uma percepção de custo-benefício centrada
na vida material.
Contrariamente a essas manifestações
de preferência pautadas na inserção
sócio-econômica dos cidadãos, e a despeito
das críticas aos fundamentalismos
separatistas, as etnicidades impulsionadas
pelo “Orgulho Ocidental” de Fallaci, o
“Orgulho Anglo-Protestante” de Huntington
e o “Orgulho Latino” de Ramos,
alimentam os particularismos essencialistas
que invadem a política contemporânea,
com o conhecido risco de derivar em
antagonismo e intolerância.
Luis Fernando Ayerbe é Coordenador do Instituto
de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp.
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O conflito entre Estados
Unidos e México se
acirrou depois da
construção do muro que
divide os dois países.