Edição 40 - Memorial da América Latina

FOTOS: REPRODUÇÃO
TRAGÉDIA INDÍGENA
EM NOVO ROMANCE DO ESCRITOR
Para John Updike, um dos
mais importantes escritores
norte-americanos, Vargas
Llosa não é apenas
um grande romancista,
mas “um dos melhores
do mundo”. Seu novo livro El Sueño del
Celta, que a editora Objetiva lança em
meados de 2011, é mais um exemplo de
sua obra nesse aspecto. Retoma o caso
de um genocídio de índios no vilarejo de
La Chorrera, na Amazônia, entre o Peru
e a Colômbia, que sediava a central de
operações da Peruvian Amazon Company,
de extração de borracha, cujo capital
era negociado na Bolsa de Londres.
Llosa trabalhou quatro anos no
novo livro, já publicado na Espanha, pela
Alfaguara, com tiragem de 500 mil exemplares.
Chegou ao tema casualmente,
pesquisando outros assuntos, quando se
deparou com uma menção a Roger Casement
(1864-1916), cônsul geral da Inglaterra
no Brasil, em princípios do século
XX, convocado pelo governo inglês para
investigar o caso. “Era um personagem
Vilarejo de La Chorrera:
cerca de 30 mil índios foram
mortos, a tiros, por afogamento,
de inanição e outras formas
cruéis de sacrifício.
pronto para um romance”, disse o escritor,
que repassou a temporada de investigações
de Casement nessa remota região
encravada às margens do rio Putucuayo.
A estada do cônsul rendeu ao governo
inglês, e ao romance de Llosa, várias cartas,
diários e um dossiê de 136 páginas
que foi enviado ao rei em 1912. Cerca de
30 mil índios foram mortos, a tiros, por
afogamento, de inanição e outras formas
cruéis de sacrifício; e, se sobreviviam,
eram mais uma vez torturados.
A história que Llosa aborda em
seu romance é duplamente trágica. Além
do massacre dos índios, e da inutilidade
da missão, já que não evitou que o genocídio
continuasse, há também o drama
pessoal de Casement. Logo após voltar à
Inglaterra, ele se desligou do governo e
passou a lutar pelos separatistas da Irlanda,
onde nascera. Foi condenado à morte,
em 1916, por traição à pátria, e também
por sodomia – na época inadmissível –,
suspeita que jamais se confirmou.
Ana Candida Vespucci é jornalista da área cultural.
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