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A<br />
obra de Braun-Vega<br />
é construí<strong>da</strong> em torno<br />
de um sincretismo<br />
artístico, étnico e político.<br />
Suas telas ativam<br />
a memória do espectador<br />
ao se apropriar <strong>da</strong> iconografia dos<br />
grandes mestres <strong>da</strong> pintura ocidental e<br />
introduzir episódios contemporâneos.<br />
Alguns problemas <strong>da</strong> hegemonia<br />
estética, imposta historicamente pelo<br />
eurocentrismo, são discutidos sob viés<br />
de descolonização. Braun é peruano,<br />
mora na França há 30 anos e pertence<br />
à geração latino-americana que era considera<strong>da</strong><br />
periferia cultural dos anos 80.<br />
Ele trabalhou duro para furar o cerco<br />
do circuito de arte parisiense e chegar<br />
aonde chegou. Com ousadia e humor,<br />
optou por um pastiche cultural que funciona<br />
como sátira também à sacralização<br />
do modelo (europeu) de arte.<br />
A mostra organiza<strong>da</strong> pela galeria<br />
Marta Traba, do <strong>Memorial</strong> <strong>da</strong> <strong>América</strong><br />
<strong>Latina</strong>, reuniu pinturas e trabalhos gráficos<br />
que abrangem 20 anos de trabalho,<br />
como as telas cria<strong>da</strong>s a partir de obras-<br />
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primas de Rembrandt, Ingrès, Manet,<br />
Goya. Ao materializar essa simbiose, ele<br />
coloca em foco a questão <strong>da</strong> autonomia<br />
<strong>da</strong> obra e do uso deliberado de procedimentos<br />
artísticos heterogêneos.<br />
Quando Braun-Vega começa a<br />
desenvolver seu discurso pictórico as<br />
galerias de todo o mundo estavam inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
por telas neoexpressionistas, com<br />
forte influência alemã e italiana. Ao<br />
evitar pintura na mo<strong>da</strong> ele opta por outro<br />
atalho e pesquisa obras de mestres<br />
antigos, colocando em prática uma diversi<strong>da</strong>de<br />
temática com novas soluções<br />
plásticas. Os temas, na ver<strong>da</strong>de, sempre<br />
foram meros pretextos para chegar a<br />
uma observação realista e solucionar<br />
problemas plásticos.<br />
Entre dezenas de obras Lição de<br />
Anatomia, de Rembrandt, foi o destaque,<br />
envolvendo a foto de Che Guevara<br />
morto e a tela do pintor holandês.<br />
Essa foto, distribuí<strong>da</strong> pelas autori<strong>da</strong>des<br />
bolivianas logo após o assassinato de<br />
Guevara, exibia o líder revolucionário<br />
deitado na mesma posição em que o<br />
mendigo foi retratado por Rembrandt.<br />
Braun-Vega<br />
em seu ateliê,<br />
em Paris.<br />
FOTOS: ÂNGELA BARBOUR