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Edição 40 - Memorial da América Latina

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Peça feita de<br />

argila com<br />

técnica e<br />

acabamento<br />

primorosos.<br />

planos urbanísticos, <strong>da</strong> produção escultórica<br />

e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> artística e educacional<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Criou um busto do educador<br />

Sarmento, até hoje na praça dedica<strong>da</strong> ao<br />

grande professor, e ain<strong>da</strong> de San Martín,<br />

Pasteur e Garibaldi; esta última uma estátua<br />

de mais de dois metros de altura,<br />

feita por encomen<strong>da</strong> <strong>da</strong> próspera socie<strong>da</strong>de<br />

italiana de Santa Fé. E continuava<br />

como professor naquela rica região<br />

austral, formando jovens artistas com o<br />

mesmo rigor clássico.<br />

Em 1907, então com 46 anos de<br />

i<strong>da</strong>de e no auge de seu reconhecimento<br />

artístico, Marsal vê sua esposa adoecer. O<br />

casal recebe a recomen<strong>da</strong>ção de mu<strong>da</strong>rse<br />

para Assunção, no Paraguai, em busca<br />

de ares mais puros. Marsal teria de começar<br />

tudo de novo, agora numa ci<strong>da</strong>de<br />

menor, mais afasta<strong>da</strong> e sem a intensa vi<strong>da</strong><br />

artística <strong>da</strong> Argentina. E, certamente,<br />

também sem as possibili<strong>da</strong>des de encomen<strong>da</strong>s<br />

que possibilitavam ao casal e aos<br />

seus filhos uma vi<strong>da</strong>, se não confortável,<br />

pelo menos sem sobressaltos.<br />

Em Assunção, Serafin Marsal<br />

foi logo admitido na Escola de<br />

Artes. Era um privilégio para a escola<br />

ter um mestre <strong>da</strong>quela categoria<br />

ensinando em suas<br />

salas. Um dos primeiros<br />

trabalhos<br />

de Marsal, realizado<br />

provavelmente<br />

sem custos, foi um<br />

presépio de cerâmica,<br />

com argila<br />

recolhi<strong>da</strong> do Rio<br />

Picolmayo, em que<br />

as figuras orientais<br />

eram substituí<strong>da</strong>s<br />

por pequenas representações<br />

de gente do<br />

povo paraguaio, camponeses<br />

e pessoas modestas<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, vendedores<br />

de legumes, frutas e do<br />

famoso pão de quei-<br />

20<br />

jo paraguaio, a “chipa”. Curiosamente,<br />

até hoje não se conhecem as figuras<br />

centrais do presépio, assim como não<br />

se conhece nenhuma imagem de santo<br />

feita por Marsal.<br />

As figurinhas paraguaias de Marsal<br />

encantavam de imediato quem as<br />

via. Pequenas, de no máximo 30 cm de<br />

altura, tinham um acabamento refinadíssimo.<br />

Representavam pessoas pobres,<br />

mas to<strong>da</strong>s bem vesti<strong>da</strong>s em seus<br />

tecidos modestos, sempre com limpeza<br />

e digni<strong>da</strong>de. Até mesmo uma pequena<br />

figura de uma mãe limpando seu bebê<br />

era apresenta<strong>da</strong> com o maior encanto.<br />

E Marsal não intitulava suas pequenas<br />

esculturas em espanhol, mas em guarani,<br />

a língua do povo.<br />

A vi<strong>da</strong> em Assunção, no entanto,<br />

mostrava-se mais difícil. Encomen<strong>da</strong>s<br />

eram raras, e Marsal teve de<br />

tomar iniciativas por conta própria.<br />

Um dos amigos que fez por lá foi o<br />

general Artigas, isolado numa casa<br />

modesta depois de uma vi<strong>da</strong> de revoluções<br />

e intrigas políticas no Uruguai;<br />

apesar de tudo, o militar continuava<br />

sendo visto como herói em sua pátria,<br />

de onde vieram correligionários para<br />

homenageá-lo e construir uma escola<br />

com seu nome, a ser manti<strong>da</strong> pelo governo<br />

de Montevidéu.<br />

A Marsal foi encomen<strong>da</strong>do o busto<br />

de seu amigo. Na comitiva que visitou<br />

Assunção encontrava-se o poeta Zorilla<br />

de San Martín, que também ficou amigo<br />

do já maduro escultor, e prometeu a ele<br />

uma exposição <strong>da</strong>s pequenas estatuetas,<br />

nunca realiza<strong>da</strong>. Dominando a técnica,<br />

Marsal fez de ca<strong>da</strong> figura um molde, de<br />

onde extraía a peça fun<strong>da</strong>mental; mas o<br />

sistema não era de múltiplos, o acabamento<br />

de ca<strong>da</strong> peça era feito à mão, e<br />

uma era diferente <strong>da</strong> outra. Porém, o material<br />

– a argila do Rio Picolmayo – com o<br />

tempo mostrou-se excessivamente frágil.<br />

Marsal faleceu em 1954, aos 93<br />

anos de i<strong>da</strong>de. Em notas autobiográfi-<br />

FOTOS: REPRODUÇÃO

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