You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O controle do cultivo<br />
<strong>da</strong> folha na agen<strong>da</strong><br />
do governo.<br />
Oúltimo Relatório Mundial<br />
sobre Drogas,<br />
lançado pela ONU<br />
em junho deste ano,<br />
aponta um crescimento<br />
de 44% <strong>da</strong>s<br />
plantações de coca na Bolívia, o que<br />
representa uma extensão superior a 30<br />
mil hectares, valor bem acima dos 12<br />
mil hectares permitidos pelas próprias<br />
leis bolivianas. O controle do cultivo <strong>da</strong><br />
folha entra na agen<strong>da</strong> do governo, porque<br />
o excedente ilegal de produção vai<br />
para o narcotráfico, e também porque,<br />
desde 2005, o governo é exercido pelo<br />
indígena e ex-camponês plantador <strong>da</strong><br />
folha de coca, Evo Morales, cujas bases<br />
16<br />
políticas são o amplo movimento indígena<br />
e principalmente o combativo sindicato<br />
dos produtores de coca.<br />
A defesa do cultivo <strong>da</strong> folha de<br />
coca, entretanto, não decorre apenas<br />
pelo fato de ser o sustento material<br />
dos cocaleiros. Nas últimas déca<strong>da</strong>s,<br />
a defesa <strong>da</strong> coca transformou-se em<br />
bandeira dos movimentos indígenas<br />
nacionais porque se trata de reafirmar<br />
um consumo cultural tradicional, amplamente<br />
generalizado entre os povos<br />
originários. Além disso, proteger<br />
a folha representa um ato de soberania<br />
nacional e contestação às políticas<br />
de controle intervencionistas norteamericanas<br />
na região. Lembremos que<br />
desde a organização sindical na déca<strong>da</strong><br />
de 80, os cocaleiros sob a liderança<br />
de Morales envolveram-se em diversas<br />
polêmicas contra os sucessivos governos<br />
sintonizados com as políticas repressivas<br />
norte-americanas na região,<br />
que abriram suas portas para efetivos<br />
militares norte-americanos no país.<br />
Recentemente, já no governo do Movimiento<br />
al Socialismo, a agência americana<br />
antidrogas (DEA) foi finalmente<br />
expulsa do país acusa<strong>da</strong> de trabalhar<br />
contra o processo de mu<strong>da</strong>nças introduzi<strong>da</strong>s<br />
pelo governo de Morales.<br />
Nesse contexto confrontam-se<br />
duas reali<strong>da</strong>des opostas, a do consumo<br />
tradicional <strong>da</strong> folha e de defesa de um<br />
projeto soberano de país, e a <strong>da</strong> expansão<br />
<strong>da</strong>s plantações <strong>da</strong> folha que, com<br />
um cultivo regional de quase 20%, converte<br />
o país no terceiro maior fornecedor<br />
de cocaína para o mundo – atrás <strong>da</strong><br />
Colômbia e do Peru.<br />
A origem <strong>da</strong> polêmica que subjaz<br />
esta situação, e que coloca o governo<br />
no centro <strong>da</strong> tensão entre o sindicato<br />
dos cocaleiros e as pressões internacionais<br />
por maior controle remonta a<br />
um estudo <strong>da</strong> DEA dos anos 80 concluindo<br />
que apenas 10% <strong>da</strong> produção<br />
<strong>da</strong> folha na Bolívia se destinariam ao FOTOS:<br />
REPRODUÇÃO