Pescaria, foto de Andrés Louiseau. pretendem dominar, também provocam paixões desmesura<strong>da</strong>s: John Martin ilustrou o inferno do Paraíso perdido com imagens do túnel sob o Tâmisa. O conflito entre a construção humana e a legali<strong>da</strong>de natural – a ecologia e o progresso tecnológico –, tópico de apaixona<strong>da</strong>s discussões a bordo, revelou até que ponto a percepção – estética, embora não artística: conhecimento sensível – altera os princípios apreendidos. Aqueles que, como eu, apoiavam o progresso universal, não podiam evitar se deixar levar pela estranha felici<strong>da</strong>de dos entardeceres no meio do na<strong>da</strong> marrom, quando as máquinas se detinham e o céu mostrava suas cores: a profun<strong>da</strong> feri<strong>da</strong> <strong>da</strong> beleza e de suas utópicas felici<strong>da</strong>des instalava-se no coração. Outros se perguntaram de que maneira a vi<strong>da</strong> natural cobriria as necessi<strong>da</strong>des básicas sem alteração: a cruel<strong>da</strong>de do mundo não se deve apenas ao homem. Diante <strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong>de de episódios que iam surgindo perante nós, refleti sobre as razões que nos leva- 14 vam a tal oscilação polar, e achei que não pouco tinha a ver com o fascínio perante aquilo que se desconhece: a natureza e a tecnologia, <strong>da</strong>s quais se descreve o funcionamento, e não sua enti<strong>da</strong>de. Assim, a discussão adquire, pela desmesura de ambas as posições, a cor masculina do adversário. Na experiência dessa viagem na qual permitimos que reinasse a percepção, não a lógica, mantive apenas uma convicção: a figura que responde a estas perguntas não se encontra nos eixos habituais disto ou <strong>da</strong>quilo. A experiência <strong>da</strong> pequena companhia navegante, às vezes sem outra comunicação com o mundo que aquela esporádica com os habitantes <strong>da</strong>s margens (os pescadores, os macacos, os pássaros, os mosquitos, os camalotes), ensinou-me que o fato de saber que todos estavam “no mesmo barco” – no mesmo mundo – permite escutar. O barco se transformou em um espaço que, sendo material e não ideal, foi diferente do cotidiano. As discussões foram resolvi<strong>da</strong>s com felici<strong>da</strong>de, e não por termos todos chegado a um acordo: a felici<strong>da</strong>de é o que todos perseguimos, sabendo que ela nunca será alcança<strong>da</strong>. Nota: a expedição multidisciplinar Paraná Ra ‘Anga (a figura do Paraná) partiu em março de 2010 de Buenos Aires. Foi financia<strong>da</strong> pelos centros culturais <strong>da</strong> Espanha na Argentina e no Paraguai e pela Agência Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo (Aecid) Está planeja<strong>da</strong> uma exposição que, viajando de Assunção a Buenos Aires, dê conta dos temas e problemas debatidos e representados. Graciela Silvestri é arquiteta e doutora em História (Universi<strong>da</strong>d de Buenos Aires), professora titular de Teoria <strong>da</strong> Arquitetura (Universi<strong>da</strong>d Nacional de La Plata). Autora de diversos livros e artigos. FOTOS: REPRODUÇÃO
FOTOS: REPRODUÇÃO DROGAS O CONTINENTE SOB O NARCOTRÁFICO Polêmica produção boliviana no centro <strong>da</strong>s atenções Vivian Urquidi