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Edição 40 - Memorial da América Latina

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tradicionais, origem <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des que<br />

tendem a se reunir em sua expansão, e<br />

os novos portos privados – onde chegam<br />

enormes navios contêiners, nome<br />

que revela que os portos não são mais<br />

os espaços francos que visitávamos aos<br />

domingos quando éramos crianças,<br />

mas estranhas ci<strong>da</strong>des de acesso limitado,<br />

com enormes caixas metálicas de<br />

cores brilhantes. A escala <strong>da</strong>s máquinas<br />

não pode ser aprecia<strong>da</strong> nas fotos: os<br />

barcos parecem maquetes no espaço<br />

neutro do rio; os silos, guin<strong>da</strong>stes, pontes<br />

e esteiras que levam os produtos<br />

ao barco só revelam sua imponência<br />

quando ela é vista <strong>da</strong> água.<br />

A vi<strong>da</strong> industriosa e o ritmo urbano<br />

distinguem esse trecho, em aberto<br />

contraste com as cenas do Paraná médio,<br />

que parece impermeável à civilização<br />

(como já tinham notado tantos<br />

viajantes no século XIX). A potência<br />

do Paraná engole tudo aquilo que não<br />

é cui<strong>da</strong>do com perseverança, o que dá<br />

a impressão de que estamos diante <strong>da</strong><br />

mesma paisagem vista por Schmidl.<br />

O rio, carregado com os sedimentos<br />

andinos trazidos pelos seus afluentes<br />

Bermejo e Pilcomayo, evoca a informe<br />

hybris que, segundo os textos clássicos,<br />

precedia quaisquer cosmos. Este barroso<br />

espaço altera a percepção do tempo:<br />

se um ritmo normal nos acompanhou<br />

no primeiro trecho, aqui, sem ci<strong>da</strong>des à<br />

vista – sem Internet nem celular –, nos<br />

regíamos pelo ciclo <strong>da</strong> natureza – os<br />

dias e as noites, as marés e as tormentas.<br />

Ambas as cenas contrastavam com<br />

a aprazível viagem pelo rio Paraguai, de<br />

águas limpas e margens cultiva<strong>da</strong>s. E as<br />

grandes obras humanas que desafiam a<br />

majestade natural também adquirem sua<br />

terribilità, quando se apresentam em uma<br />

dimensão que os homens não podem<br />

abranger. Os megaprojetos, tão desmedidos<br />

quanto a própria natureza que<br />

13<br />

Atardecer en la<br />

barranca, aquarela<br />

de Felix Rodriguez<br />

e Coco Bedoya.

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