Edição 40 - Memorial da América Latina

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DESCOBERTA DESCIDA DO RIO PARANÁ Uma expedição repleta de contrastes Graciela Silvestri
Em março de 2010 coordenei uma expedição pelos rios Paraná e Paraguai, de Buenos Aires a Assunção. O objetivo inicial foi o de seguir as pegadas do primeiro cronista da bacia do rio da Prata, Ulrico Schmidl, embora logo tenhamos ampliado as referências às múltiplas crônicas daqueles que fizeram, através dos séculos, a mesma viagem fluvial. A estas leituras foi acrescentada a informação que os tripulantes foram apresentando, a partir de diversas disciplinas; por meio dessa acumulação de materiais podíamos verificar o contraste entre aqueles vívidos quadros do rio, quando o Paraná e seus afluentes constituíam a rota habitual dos habitantes da bacia, e a situação atual. Até a década de 1970, a viagem de barco era um trâmite cotidiano. Navegava-se em pequenas embarcações de uma margem à outra, antes que as grandes pontes e túneis subfluviais tornassem acessíveis outras formas de transporte; as cidades e povoados da bacia eram unidos por barcos com rodas que transportavam passageiros e carga. A presença da água foi um motivo fundamental de muitas escolas pictóricas regionais; inspiração para a literatura, o cinema e a música. Atualmente, só os amantes dos veleiros sabem das profundidades do rio, das cores da água e dos camalotes; e só aqueles que, desamparados, vivem nas margens inundáveis, estimam mais uma pequena canoa que uma casa. Nós, habitantes metropolitanos, só percebemos o rio como pano de fundo do passeio matinal pela Avenida Costanera. Entretanto, a diminuição do uso social não oculta que o sistema hídrico está sendo transformado radicalmente, alterando a vida daqueles que dele dependiam – por seus ofícios, por sua origem, por sua cultura. As transformações podem ser visíveis – como na área do Tigre, onde a frágil formação do delta é ameaçada pela construção de torres e con- 11 Página ao lado, Atardecer en el barco, foto de Facundo de Zuviria. Acima Detenidos por el rio, de Zuviria.
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