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CARTA<br />

FAXINALENSE<br />

Nós, 103 lideranças faxinalenses entre crianças, jovens, mulheres e homens<br />

organiza<strong>do</strong>s no movimento social da Articulação Puxirão <strong>do</strong>s Povos de<br />

Faxinalenses-APF estivemos reuni<strong>do</strong>s nos dias 26, 27 e 28 de Agosto de 2011, em<br />

Guarapuava, para o 4º Encontro Estadual <strong>do</strong>s Povos Faxinalenses, no qual também<br />

participaram pelo menos 45 pessoas entre autoridades, grupos de apoio e<br />

convida<strong>do</strong>s. Mais uma vez, afirmamos quem somos, onde estamos, como vivemos e<br />

quantos somos, frente à invisibilidade que opera sobre a existência <strong>do</strong>s povos<br />

faxinalenses enquanto sujeitos de direitos como comunidades tradicionais com<br />

territorialidade específica no Sul <strong>do</strong> Brasil.<br />

A afirmação de nosso mo<strong>do</strong> de vida faxinalense e a preservação da cultura<br />

<strong>do</strong>s faxinais marcaram os vários momentos <strong>do</strong> Encontro. Destacamos que a nossa<br />

existência está diretamente vinculada às milhares de práticas e conhecimentos<br />

tradicionais existentes nas comunidades, entre as quais o uso comum que fazemos<br />

<strong>do</strong>s recursos naturais, os quais assumimos como parte de nossa cultura transmitida<br />

de geração em geração há pelo menos 300 anos, como reafirmamos no lema “Na<br />

Defesa da Sociobiodiversidade”.<br />

Porém, hoje operamos ações coletivas no movimento social da APF para<br />

defesa <strong>do</strong>s faxinais, por meio <strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong>s sujeitos faxinalenses e <strong>do</strong><br />

território que envolve nossa existência, vistos os vários ataques que temos sofri<strong>do</strong><br />

em cada uma das mais de 227 comunidades de faxinais existentes no Paraná, pelos<br />

mais de 40.000 faxinalenses que moram nelas, como os desmatamentos,<br />

envenenamentos, fechamento de áreas de uso comum (fechos), venda de áreas <strong>do</strong>s<br />

“cria<strong>do</strong>res comunitários”, ameaças de lideranças, a não efetivação das resoluções<br />

judiciárias ganhas pelos faxinalenses geran<strong>do</strong> um clima de impunidade nas<br />

comunidades, ofensiva <strong>do</strong>s poderes públicos municipais em extinguir os faxinais,<br />

não aplicação/repasse <strong>do</strong>s recursos provenientes <strong>do</strong> ICMS Ecológico nas


comunidades, ataques ao patrimônio coletivo <strong>do</strong>s faxinais (cercas, mataburros,<br />

portões, locais sagra<strong>do</strong>s, olhos d´água, placas de identificação, etc.), avanços <strong>do</strong><br />

monocultivo de pinus, eucalipto, fumo e soja, redução <strong>do</strong>s territórios faxinalenses<br />

pela construção de obras de infraestrutura (PCH´s, barragens, estradas, etc.).<br />

Esses ataques podem ser exemplifica<strong>do</strong>s com situações concretas vividas por<br />

comunidades faxinalenses: 1) a anulação pela SEMA <strong>do</strong>s decretos 080 e 081 de<br />

2010 que reconheciam as comunidades Faxinal <strong>do</strong> Meleiro, Espigão das Antas,<br />

Pedra Preta, Campestre <strong>do</strong>s Paulas (Mandirituba) como Áreas Especiais de Uso<br />

Regulamenta<strong>do</strong>-ARESUR, ameaçan<strong>do</strong> o direito de autodefinição das comunidades<br />

faxinalenses e favorecen<strong>do</strong> a parcialidade e a intransigência <strong>do</strong> poder público local;<br />

2) a morosidade <strong>do</strong> ICMBio em encaminhar efetivamente os procedimentos técnicos,<br />

<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s prévios à criação, das RDS´s (Reservas de <strong>Desenvolvimento</strong><br />

Sustentável) solicitadas pelas comunidades <strong>do</strong> Faxinal <strong>do</strong> Marcondes<br />

(Prudentópolis), Faxinal <strong>do</strong> Bom Retiro e Faxinal São Roquinho (Pinhão), que desde<br />

2008 esperam a implementação; 3) notificação para o sacrifício <strong>do</strong>s suínos cria<strong>do</strong>s à<br />

solta imposto pelo MAPA e pela SEAB, por meio da Vigilância Sanitária, nos faxinais<br />

de Água Amarela (Antônio Olinto), Ribeiros (Pinhão), Paraná Anta Gorda<br />

(Prudentópolis) e Emboque (São Matheus <strong>do</strong> Sul) em função de informações<br />

coletadas incorretamente; 4) falta de fiscalização e omissão <strong>do</strong> IAP e Força Verde<br />

frente aos acor<strong>do</strong>s comunitários e termos de ajuste de conduta nos conflitos<br />

denuncia<strong>do</strong>s de desmatamento e contaminação das águas no Faxinal <strong>do</strong>s Kruger<br />

(Boa Ventura de São Roque), Marmeleiro de Cima (Rebouças), Água Amarela de<br />

Cima (Antonio Olinto), Mato Preto/Paiol (Lapa), Bom Retiro e Ribeiro (Pinhão),<br />

Paraná Anta Gorda (Prudentópolis), Salso (Quitandinha) e no Faxinal Saudade<br />

Santa Anita (Turvo).<br />

Diante de um avanço <strong>do</strong> capital que não respeita a sociobiodiversidade <strong>do</strong>s<br />

territórios faxinalenses, expandin<strong>do</strong> as monoculturas, envenenan<strong>do</strong> a terra e<br />

esvazian<strong>do</strong> o campo; diante da passividade de um Esta<strong>do</strong> que não garante os<br />

direitos, nem acompanha as demandas das comunidades faxinalenses, mas<br />

promove com agilidade e recursos fartos a expansão <strong>do</strong> agronegócio; e diante <strong>do</strong><br />

nosso processo de organização como povos faxinalenses, que vêm se fortalecen<strong>do</strong><br />

desde 2005 e não admitem continuar sen<strong>do</strong> trata<strong>do</strong>s como resquícios sociais, como<br />

se não merecêssemos ser reconheci<strong>do</strong>s na nossa organização e nas nossas


eivindicações, colocamos mais uma vez nossas demandas, esperan<strong>do</strong> uma ação<br />

urgente, articulada e eficaz <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Demandas<br />

• Criação de um Grupo Intersecretarial de encontro bimestral para efetivação<br />

das demandas <strong>do</strong>s faxinalenses.<br />

• Que o IAP faça o enquadramento como ARESUR <strong>do</strong>s faxinais já solicita<strong>do</strong>s<br />

pelas comunidades e pauta<strong>do</strong> pela APF;<br />

• Que o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> regulamente a Lei Estadual 15.673;<br />

• Realização por parte <strong>do</strong> IAP e ITCG de lau<strong>do</strong>s ambientais, antropológicos,<br />

sociais, econômicos, fitoterápicos e fundiários visan<strong>do</strong> a defesa coletiva das<br />

identidades <strong>do</strong>s faxinalenses;<br />

• Criação de portarias <strong>do</strong> IAP para destinação de servi<strong>do</strong>res com papel<br />

exclusivo de acompanhar as demandas das comunidades de faxinais, com<br />

recursos e infraestrutura necessários para trabalhar junto com as<br />

comunidades faxinalenses.<br />

• Que o Governo Estadual apóie a busca de reconhecimento das identidades<br />

coletivas instituin<strong>do</strong> a Política Estadual de Povos e Comunidades Tradicionais<br />

e efetive maior eficácia na operacionalização das políticas públicas já<br />

existentes.<br />

• Que a Força Verde desempenhe ações enérgicas contra os crimes ambientais<br />

causa<strong>do</strong>s nos territórios <strong>do</strong>s faxinais;<br />

• Que a Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação incorpore nos currículos escolares a<br />

educação faxinalense, garantin<strong>do</strong> que os saberes tradicionais façam parte <strong>do</strong>s<br />

processos educativos das crianças, jovens, adultos e i<strong>do</strong>sos de mo<strong>do</strong> a<br />

contribuir no fortalecimento das lutas, da cultura e da identidade <strong>do</strong>s povos<br />

faxinalenses;<br />

• Que o ITCG proceda a demarcação <strong>do</strong>s perímetros e memoriais descritivos<br />

<strong>do</strong>s faxinais <strong>do</strong> Paraná, segun<strong>do</strong> a solicitação da APF;<br />

• Que se agilize a execução <strong>do</strong>s convênios protocola<strong>do</strong>s pelas comunidades<br />

faxinalenses no IAP e SEMA para manutenção de cercas e colocação de<br />

placas de identificação nos faxinais;


• Que a Secretária de Segurança Pública no Paraná oriente suas delegacias a<br />

registrarem B.O’s denuncia<strong>do</strong>s pelos faxinalenses atuan<strong>do</strong> na averiguação<br />

das ameaças e conflitos pratica<strong>do</strong>s contra os faxinalenses;<br />

• Que o IAP promova ações de formação de agentes fiscais da comunidade,<br />

para que atuem diariamente na fiscalização <strong>do</strong>s territórios tradicionalmente<br />

ocupa<strong>do</strong>s, garantin<strong>do</strong> as condições mínimas de trabalho e infra-estrutura.<br />

• Garantir que os territórios tradicionalmente ocupa<strong>do</strong>s que geram ICMS<br />

Ecológico por meio de Unidades de Conservação ou Áreas de Uso Especial<br />

Regulamenta<strong>do</strong> recebam diretamente o valor <strong>do</strong> rapasse <strong>do</strong> ICMS para a<br />

comunidade e/ou que o mesmo valor seja investi<strong>do</strong> de forma integral nas<br />

comunidades faxinalenses por meio <strong>do</strong>s planos de uso sustentável;<br />

• Que as atividades de subsistência tradicionalmente praticadas (roças,<br />

extrativismo, pesca, criações e outros) sejam garantidas junto com o<br />

reconhecimento <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s territórios.<br />

• Que o Esta<strong>do</strong> promova para os servi<strong>do</strong>res públicos <strong>do</strong>s órgãos ambientais,<br />

conjuntamente com o <strong>Ministério</strong> Público uma formação continuada e com<br />

urgência para os servi<strong>do</strong>res atuarem nas comunidades de faxinais,<br />

consideran<strong>do</strong> a lei estadual, o POP-Procedimento Operacional Padrão/IAP,<br />

leis municipais e demais acor<strong>do</strong>s coletivos das comunidades.<br />

• Que ICMBio efetive imediatamente as ordens de serviço para que os<br />

servi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> órgão possam desenvolver com maior agilidade os<br />

procedimentos para estu<strong>do</strong>s e criação das RDS <strong>do</strong> Faxinal <strong>do</strong>s Marcondes<br />

(Prudentópolis), Faxinal Bom Retiro e São Roquinho (Pinhão), garantin<strong>do</strong><br />

recursos, infraestrutura e diárias para as comunidades.<br />

• Que o ICMBio estabeleça uma parceria com o INCRA e agilize os estu<strong>do</strong>s<br />

preliminares por meio <strong>do</strong>s termos de referencia já encaminha<strong>do</strong>s.<br />

• Que seja instituí<strong>do</strong> pelo ICMBio o Grupo de Trabalho das RDS <strong>do</strong>s Faxinais,<br />

que já tem desenvolvi<strong>do</strong> ações há pelo menos 16 meses.<br />

• Que os governos estaduais e municipais atendam as demandas da juventude<br />

faxinalense, garantin<strong>do</strong> educação, geração de renda, saúde, lazer, entre<br />

outros, reconhecen<strong>do</strong> e valorizan<strong>do</strong> a cultura e a identidade jovem, amplian<strong>do</strong><br />

as possibilidades destes permanecerem na comunidade em que vivem.


• Que o INCRA assuma o papel de regularização <strong>do</strong>s territórios faxinalenses,<br />

segun<strong>do</strong> relatório final <strong>do</strong> GT encaminha<strong>do</strong> a instituição nacional em 2007.<br />

• Que o IAP coordene imediatamente a criação <strong>do</strong>s conselhos gestores nos<br />

municípios que possuem ARESUR’s.<br />

Finalizan<strong>do</strong>, reafirmamos nossa mobilização social como Povos Faxinalenses<br />

<strong>do</strong> Paraná, fortaleci<strong>do</strong>s pela articulação de nossa diversidade e com a certeza de<br />

que não mediremos esforços em nos mobilizar para garantir nossos direitos como<br />

povos e comunidades tradicionais, sen<strong>do</strong> que assumimos coletivamente neste 4º<br />

Encontro Estadual <strong>do</strong>s Povos Faxinalenses os seguintes compromissos e desafios:<br />

Compromissos<br />

• Defender nosso território e nossa cultura faxinalense <strong>do</strong> avanço <strong>do</strong><br />

agronegócio, da contaminação <strong>do</strong>s agrotóxicos e <strong>do</strong> descaso <strong>do</strong>s poderes<br />

públicos.<br />

• Continuar protegen<strong>do</strong> a natureza <strong>do</strong> faxinal de qualquer agressão.<br />

• Lutar por um campo vivo, onde nós faxinalenses decidiremos como queremos<br />

Desafios<br />

viver.<br />

• Avançar na organização por meio da formação <strong>do</strong>s faxinalenses para a<br />

defesa de nossos compromissos de demandas.<br />

• Denunciar sistematicamente e com informações contundentes todas as<br />

agressões aos nossos direitos e aos nossos territórios.<br />

• Estabelecer novas alianças com organizações sociais que lutam pela<br />

diversidade no campo e na sociedade.<br />

Guarapuava, 28 de Agosto de 2011.<br />

ARTICULAÇÃO PUXIRÃO DOS POVOS FAXINALENSES – APF<br />

Informações:<br />

http://redepuxirao.blogspot.com<br />

faxinalenses@bol.com.br 42 3422 5619 e 42 3622 5599

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