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Páginas - ed. 118 - Novembro 06.p65 - Arquidiocese de Florianópolis

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6<br />

- <strong>Novembro</strong> <strong>de</strong> 2006<br />

Conhecendo as cartas <strong>de</strong> São Paulo (32)<br />

Aos Hebreus (11-13): A Certeza da Fé<br />

A<br />

parte final da carta aos hebreus começa<br />

com uma surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>finição<br />

da fé: É a certeza daquilo<br />

que se espera, a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s<br />

que não se vêem (11,1). E a surpresa<br />

está em que a fé não é aí apresentada<br />

como um ato intelectual, uma aceitação<br />

interior <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s que nos ultrapassam,<br />

mas como “certeza” e “<strong>de</strong>monstração”,<br />

ou, segundo outras traduções,<br />

como “garantia” e “prova” daquilo que se<br />

espera. Ora, é a fé, sem a qual é impossível<br />

agradar a Deus (11,6), é ela que<br />

garante a aprovação divina, como a longa<br />

lista <strong>de</strong> exemplos da história bíblica<br />

vai <strong>de</strong>monstrar. É a fé que nos dá a disposição<br />

<strong>de</strong> caminhar para além do que<br />

se vê, e que nos impulsiona em direção<br />

ao novo, ao que humanamente parece<br />

impossível, mas que Deus po<strong>de</strong> fazer.<br />

Pela fé<br />

Segue a impressionante lista dos que<br />

pela fé caminharam, e pela fé nos <strong>de</strong>ixaram<br />

seu testemunho. Cerca <strong>de</strong> 20 vezes<br />

o autor vai começar suas frases com esta<br />

expressão – pela fé – a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar clara,<br />

aos seus <strong>de</strong>stinatários, a importância<br />

essencial <strong>de</strong>sta virtu<strong>de</strong>. Ele começa pelo<br />

livro do Gênesis, e alerta que é pela fé<br />

que compreen<strong>de</strong>mos que o universo não<br />

é um caos em <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, mas um cosmo<br />

harmonioso, planejado e criado por Deus<br />

(11,3). Segue a menção <strong>de</strong> Abel, justificado<br />

por sua fé, e cujo sangue ainda clama<br />

(11,4). Depois <strong>de</strong> Henoc, o autor recorda<br />

a fé <strong>de</strong> Noé, que acr<strong>ed</strong>itou na advertência<br />

divina e, mesmo ridicularizado ao construir<br />

a arca, nela salvou-se, no dilúvio (11,5-<br />

7). Mas o exemplo <strong>de</strong> fé por excelência é<br />

o <strong>de</strong> Abraão, que partiu rumo à terra da<br />

promessa, ob<strong>ed</strong>ecendo à palavra do Senhor,<br />

sem saber para on<strong>de</strong> ia (11,8), e que,<br />

<strong>de</strong> Sara estéril, gerou uma <strong>de</strong>scendência<br />

comparável às estrelas do céu e inumerável<br />

como a areia das praias do mar (11,11-<br />

12, citando Gn 15,5-6). Ainda Abraão, posto<br />

à prova, não hesitou em sacrificar seu filho<br />

único, Isaac, tendo a certeza da fé <strong>de</strong><br />

que Deus é aquele que po<strong>de</strong> até ressuscitar<br />

os mortos (11,19). Depois, numa visão<br />

<strong>de</strong> conjunto dos patriarcas, o autor<br />

observa que eles não chegaram a <strong>de</strong>sfrutar<br />

a realização da promessa, mas viveram<br />

como estrangeiros e peregrinos, aspirando<br />

a uma pátria melhor, símbolo daquela<br />

a que nós, cristãos, aspiramos (cf<br />

11,13-16).<br />

De Moisés até nós<br />

Depois <strong>de</strong> Abraão, a gran<strong>de</strong> figura da<br />

fé é Moisés. Já seus pais, movidos pela<br />

fé, <strong>de</strong>safiam o <strong>de</strong>creto do Faraó , escon<strong>de</strong>ndo<br />

o menino (11,23). Adulto, Moisés<br />

renuncia à vida no palácio e, pela fé, partilha<br />

os sofrimentos do seu povo e o liberta,<br />

celebrando a primeira Páscoa e atravessando<br />

o mar Vermelho a pé enxuto<br />

(11,24-29). É também pela fé que <strong>de</strong>smoronam<br />

os muros <strong>de</strong> Jericó e se salva Raab,<br />

a prostituta (11,30-31). O restante da história,<br />

o autor o resume em poucas palavras:<br />

<strong>de</strong> G<strong>ed</strong>eão, Sansão, Jefté, Davi,<br />

Samuel, e os profetas, ele cita rapidamente<br />

alguns fatos mais conhecidos (11,32-<br />

35). Recorda também os mártires, especialmente<br />

os do tempo dos Macabeus,<br />

mas sem nomeá-los, os quais recusaram<br />

ser resgatados, porque esperavam uma<br />

ressurreição melhor (11,35). E o autor conclui:<br />

No entanto, embora pela fé tenham<br />

recebido bom testemunho, eles não alcançaram<br />

a realização plena da promes-<br />

BÍBLIA<br />

sa (11,39). Por quê? É porque, não que o<br />

merecêssemos, Deus reservara essa plena<br />

realização para nós (11,40).<br />

Nuvem <strong>de</strong> testemunhas<br />

Aplicando agora a lição da história, o<br />

autor retoma todos os heróis e santos<br />

antes mencionados e os compara, no seu<br />

conjunto, a uma nuvem <strong>de</strong> testemunhas<br />

(12,1) que ali estão, como num estádio,<br />

a apreciarem a nossa luta, ou seja, a<br />

competição na qual estamos envolvidos.<br />

E nos exorta a nos empenharmos com<br />

garra na disputa, tendo os olhos fixos em<br />

Jesus, o iniciador e consumador da nossa<br />

fé (12,2). A nossa fé em Jesus se inspira,<br />

portanto, na fé <strong>de</strong> Jesus, que, em<br />

vista da alegria que o esperava, suportou<br />

a cruz, não levando em conta a infâmia a<br />

que foi submetido, e assim assentou-se<br />

à direita <strong>de</strong> Deus (12,2). Tal é o exemplo<br />

que o cristão, na sua vida no mundo, <strong>de</strong>ve<br />

ter ante os olhos.<br />

Resistência e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />

Depois <strong>de</strong> tantos exemplos impactantes,<br />

o autor mostra que a comunida<strong>de</strong><br />

ainda não resistiu até o sangue, na luta<br />

contra o pecado (12,4). E que, no caso<br />

dos sofrimentos e provações, ninguém<br />

po<strong>de</strong> esquecer a sua dimensão <strong>ed</strong>ucativa.<br />

Nesse sentido ele cita Prov. 3,12: O Senhor<br />

corrige a quem ele ama, e castiga a<br />

quem aceita como filho (12,6). Lembra<br />

também que, na hora em que é feita, nenhuma<br />

correção agrada, mas <strong>de</strong>pois se<br />

reconhecem seus frutos (12,11). A seguir,<br />

exortando à fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, recomenda que nenhuma<br />

raiz venenosa cresça no meio dos<br />

irmãos, tumultuando e contaminando<br />

(12,15). E que ninguém seja como Esaú,<br />

que por um prato <strong>de</strong> comida per<strong>de</strong>u, irrem<strong>ed</strong>iavelmente,<br />

seus direitos <strong>de</strong> promogênito<br />

(12,16-17).<br />

A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cristã<br />

Mostrando o contraste entre a assembléia<br />

do Sinai, na qual Deus se revelou ao<br />

seu povo com sinais aterrorizantes (12,18-<br />

21), o autor afirma que a comunida<strong>de</strong> cristã,<br />

ao contrário, no seu culto, se aproxima<br />

da Jerusalém celeste, da reunião festiva <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> anjos, da assembléia dos eleitos<br />

no céu, do próprio Deus, Juiz <strong>de</strong> todos<br />

e, especialmente, <strong>de</strong> Jesus, o m<strong>ed</strong>iador<br />

da nova aliança com seu sangue (12,22-<br />

24; cf 4,16). Entretanto, é preciso ter cuidado!<br />

Assim como foram punidos os que,<br />

no <strong>de</strong>serto, se rebelaram, menos ainda<br />

escaparemos nós do castigo, se voltarmos<br />

as costas a quem nos fala do alto do céu<br />

(12,25). E o autor conclui esta passagem,<br />

recomendando: Já que entramos na posse<br />

<strong>de</strong> um reino inabalável, sejamos gratos.<br />

E mostremos essa gratidão servindo<br />

a Deus com pi<strong>ed</strong>a<strong>de</strong> e temor (12,28). “Temor”,<br />

naturalmente não o temor servil, mas<br />

o temor amoroso <strong>de</strong> quem reconhece que<br />

nosso Deus, que é Pai, é também fogo<br />

<strong>de</strong>vorador (12,29: cf Dt 4,24).<br />

Conselhos práticos<br />

Recomendando a perseverança no<br />

amor fraterno (13,1), o autor ressalta a prática<br />

da hospitalida<strong>de</strong>, a acolhida aos missionários<br />

itinerantes e outros migrantes. E<br />

argumenta com o que aconteceu a Abraão,<br />

junto ao carvalho <strong>de</strong> Mambré (cf Gn 18,1-<br />

8): sem o perceber, ele hosp<strong>ed</strong>ou anjos<br />

(13,2). P<strong>ed</strong>e também que os presos não<br />

sejam esquecidos, como se estivésseis<br />

presos com eles. Nem se esqueçam os<br />

maltratados : pois também vós ten<strong>de</strong>s um<br />

corpo (13,2). Recomenda ainda que o matrimônio<br />

seja honrado por todos (13,4) e<br />

que, na sua conduta, os fiéis não se <strong>de</strong>ixem<br />

levar pelo amor ao dinheiro (13,5).<br />

Quanto aos que anunciaram a fé à comunida<strong>de</strong>,<br />

o autor exorta a que sua memória<br />

seja preservada, e seu exemplo, imitado<br />

(13,7). Assim fazendo, e perseverando na<br />

fé em Jesus, o Cristo, que é o mesmo,<br />

ontem, hoje e sempre (13,8), os fiéis não<br />

se <strong>de</strong>ixarão extraviar por qualquer doutrina<br />

estranha, nem por regras alimentares – dos<br />

judaizantes – que não trazem proveito algum<br />

para os que as observam (13,9).<br />

O nosso altar<br />

Tendo falado das regras alimentares,<br />

o autor alu<strong>de</strong> ao “altar cristão”, provavelmente<br />

a Eucaristia, afirmando que <strong>de</strong>le<br />

não se po<strong>de</strong>m alimentar os que servem<br />

à Tenda (13,10), isto é, no Templo. E,<br />

recordando que os animais sacrificados<br />

são queimados fora do acampamento,<br />

observa que Jesus foi sacrificado do lado<br />

<strong>de</strong> fora da porta (13,12). Por isso, diz ele,<br />

saiamos ao seu encontro, fora do acampamento<br />

– isto é, fora do recinto sagrado<br />

– carregando a sua humilhação (13,13).<br />

Por quê? Porque não temos aqui cida<strong>de</strong><br />

permanente, isto é, mesmo morando e<br />

atuando na cida<strong>de</strong> terrena, a nossa cidadania,<br />

como o lembra também a carta<br />

aos filipenses (Fl 3,20), está no céu.<br />

Os nossos sacrifícios<br />

Retomando o tema dos sacrifícios, tão<br />

importantes na prática judaica e tão comentados<br />

nos capítulos centrais da carta,<br />

o autor conclui lembrando que é por<br />

meio <strong>de</strong> Jesus, o nosso Sumo Sacerdote,<br />

que oferecemos a Deus o perene sacrifício<br />

<strong>de</strong> louvor das nossas vidas (13,15).<br />

E retomando a insistência dos profetas na<br />

dimensão ética da religião (cf Os 6,6), insiste<br />

em que os sacrifícios que verda<strong>de</strong>iramente<br />

agradam a Deus são a prática do<br />

bem e a partilha (13,16).<br />

1) O que é a fé, para o autor <strong>de</strong> Hebreus?<br />

O que nos dá a fé? 2) Por que esse autor,<br />

cerca <strong>de</strong> 20 vezes, no capítulo 11, começa suas<br />

afirmações com a expressão “pela fé”? 3) Que<br />

Para refletir:<br />

Divulgação/JA<br />

Recomendações e conclusão<br />

Concluindo a carta, o autor exorta a<br />

comunida<strong>de</strong> a facilitar o trabalho das li<strong>de</strong>ranças:<br />

Ob<strong>ed</strong>ecei aos vossos dirigentes<br />

e segui suas orientações (13,17). P<strong>ed</strong>e<br />

também que orem por ele mesmo, para<br />

que possa retornar logo ao seu convívio<br />

(13,19). A doxologia final celebra a ressurreição<br />

e exaltação do Senhor Jesus<br />

que, pelo sangue <strong>de</strong> uma aliança eterna,<br />

se tornou o gran<strong>de</strong> pastor das ovelhas<br />

(13,20). E p<strong>ed</strong>e ainda: o mesmo Deus<br />

que exaltou Jesus torne os fiéis aptos<br />

para todo o bem e realize em nós tudo o<br />

que lhe é agradável, pelo mesmo Jesus<br />

Cristo, a quem seja dada a glória para<br />

sempre (13,21). Esta doxologia final une,<br />

na mesma visão, o Cristo ressuscitado,<br />

sumo sacerdote que nos aproxima do Pai,<br />

e nós que, lutando ainda aqui na terra,<br />

fazemos a sua vonta<strong>de</strong>.<br />

Bilhete <strong>de</strong> envio<br />

Após o v. 21, que com o seu “Amém”<br />

indica o final da mensagem do autor original,<br />

vemos um “pós-escrito”, recomendando<br />

aos <strong>de</strong>stinatários que acolham <strong>de</strong> boa<br />

vonta<strong>de</strong> esse discurso <strong>de</strong> exortação, expresso<br />

com poucas palavras – embora <strong>de</strong><br />

fato não tenham sido tão “poucas” assim!<br />

Quem é que faz a recomendação? Seria o<br />

próprio Paulo, ainda mais que, logo a seguir,<br />

se refere à libertação <strong>de</strong> Timóteo<br />

(13,23) e envia saudações dos irmãos da<br />

Itália (13,24), isto é, provavelmente <strong>de</strong><br />

Roma? Infelizmente, não temos certeza.<br />

O último versículo expressa com brevida<strong>de</strong><br />

o voto que, com palavras semelhantes,<br />

conclui outras cartas: A graça esteja com<br />

todos vós (13,25). E esteja também<br />

conosco, que temos o privilégio <strong>de</strong>, através<br />

<strong>de</strong>sta carta, reconhecer no Senhor Jesus<br />

o nosso Sumo Sacerdote, iniciador e<br />

consumador da nossa fé (12,2).<br />

Pe. Ney Brasil Pereira<br />

Professor <strong>de</strong> Exegese Bíblica no ITESC<br />

quer dizer a expressão “nuvem <strong>de</strong> testemunhas”,<br />

em 12,1? 4) Que significa “servir a Deus<br />

com pi<strong>ed</strong>a<strong>de</strong> e temor” (12,28)? 5) Quais são<br />

os sacrifícios que Deus espera <strong>de</strong> nós?<br />

Faça como Clésio <strong>de</strong> Luca, <strong>de</strong> <strong>Florianópolis</strong>, escreva para o Jornal da<br />

<strong>Arquidiocese</strong>, responda as questões <strong>de</strong>sta página e participe do sorteio <strong>de</strong> uma<br />

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