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a odisseia de ulysses pernambucano: dos primórdios ao ... - FPS

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posteriormente, instalar o regime ditatorial do Estado Novo, em 1937. Esse evento<br />

ocorrido fazia parte <strong>de</strong> um contexto, na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> vários episódios extremistas políticosociais<br />

que ocorriam pelo país e pelo mundo, e que cada vez mais instalavam a intriga e a<br />

<strong>de</strong>sconfiança, a partir da polarização extrema entre a direita e a esquerda política.<br />

Clima esse <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança e traições que, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, recairia sobre<br />

Ulysses Pernambucano. Um psiquiatra que em um Estado regionalista, conservador e<br />

elitista, não somente falava como punha em prática reformas na educação, reformas no<br />

pensamento estudantil, que se misturava a negros praticantes <strong>de</strong> seitas afro-americanas,<br />

reconhecia-os em seus direitos e contribuições culturais, que reivindicava para os<br />

<strong>de</strong>sassisti<strong>dos</strong> do sistema psiquiátrico mais verbas, refeições <strong>de</strong>centes, boas condições <strong>de</strong><br />

vida para os mesmos. Em resumo, um “subversivo” em potencial. Po<strong>de</strong>ria ter sido as<br />

pesquisas que pretendia fazer sobre os trabalhadores <strong>de</strong> usinas em Pernambuco, ou<br />

sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>dos</strong> estudantes recifenses, ou até mesmo as inimiza<strong>de</strong>s<br />

políticas – como a que possuía com o novo interventor fe<strong>de</strong>ral do Estado, Agamenon<br />

Magalhães – que o fariam alegadamente entrar para a lista <strong>dos</strong> “in<strong>de</strong>seja<strong>dos</strong>” do Estado<br />

Novo; mas o fato é que inevitavelmente alguém como ele iria, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>,<br />

ser apontado como um transgressor, como um insurgente contra a or<strong>de</strong>m vigente.<br />

E assim foi que, em 1935, algum tempo após o episódio da Intentona, Ulysses é<br />

preso, acusado <strong>de</strong> subversão. Passa 60 dias <strong>de</strong> porta batida na imunda Casa <strong>de</strong><br />

Detenção do Recife, quando o Tribunal <strong>de</strong> Segurança Nacional – órgão criado pelo<br />

regime para julgar os acusa<strong>dos</strong> <strong>de</strong> subversão – <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> por soltá-lo. A partir daí, os<br />

inquéritos policiais tornam-se constantes, muitos <strong>dos</strong> quais por influência direta <strong>de</strong><br />

Agamenon Magalhães, que o perseguia incansavelmente por consi<strong>de</strong>rar a mente<br />

brilhante e contestadora <strong>de</strong> Ulysses uma ameaça à sua autorida<strong>de</strong> como Interventor. É<br />

nesse meio-tempo que sofre seu primeiro infarto, reflexo das injustiças e intolerâncias<br />

cometidas e o consequente <strong>de</strong>sgaste mental e físico.<br />

Além disso, não <strong>de</strong>ixariam aquele “subversivo perigoso”, entusiasta das<br />

escandalosas i<strong>de</strong>ias professadas pela ainda recente psicanálise, sem nenhuma restrição<br />

após sua soltura. Foi aposentado compulsoriamente <strong>de</strong> suas atribuições, sendo proibido<br />

<strong>de</strong> exercer quaisquer cargos públicos; na Faculda<strong>de</strong>, único reduto que lhe ainda restava,<br />

on<strong>de</strong> ensinava a cátedra <strong>de</strong> Semiótica Neuropsiquiátrica, foi proibido, por conta <strong>de</strong><br />

alterações feitas em regimento do Departamento Hospitalar, <strong>de</strong> utilizar pacientes,<br />

instalações ou material clínico para professar aulas ou cursos... Queriam em verda<strong>de</strong><br />

silenciar a voz e o braço ativos <strong>de</strong> Ulysses Pernambucano.<br />

Mas estavam engana<strong>dos</strong> os inimigos que pensavam que assim o haviam feito<br />

sucumbir <strong>ao</strong> conformismo e <strong>ao</strong> esquecimento. Pelo contrário: em 1936, funda o Sanatório<br />

Recife, instituição mo<strong>de</strong>lar, e primeira entida<strong>de</strong> privada <strong>de</strong>sse tipo no Estado. O Sanatório<br />

Recife se encontra em funcionamento, à rua Padre Inglês, na Boa Vista. Em 1938, funda<br />

a revista Neurobiologia, em substituição à antiga “Arquivos da Divisão <strong>de</strong> Assistência a<br />

Psicopatas”. Essa revista é até hoje publicada, sendo que mais ainda, é atualmente uma<br />

das principais publicações do gênero no país, <strong>de</strong> periodicida<strong>de</strong> trimestral, publicando<br />

trabalhos na área <strong>de</strong> Psiquiatria, Neurologia, Neurociências e adjacentes.<br />

Em 1938 igualmente funda a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Neurologia, Psiquiatria e Higiene<br />

Mental do Nor<strong>de</strong>ste, órgão <strong>de</strong> caráter inicialmente regional mas que, <strong>de</strong>vido <strong>ao</strong> trabalho<br />

permanente <strong>de</strong> Ulysses para sua consolidação e ampliação, logo passou a se expandir,<br />

tendo sido realizado um primeiro congresso em João Pessoa, nesse mesmo ano, seguido<br />

por um segundo em Aracaju, em 1940, e posteriormente em Natal, em outubro <strong>de</strong> 1943.

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