a odisseia de ulysses pernambucano: dos primórdios ao ... - FPS

espírito que avivaria essa era de cuidados aos pacientes mentais:
“O psiquiatra é o protetor do doente mental. Essa função é inerente à sua pessoa. Quando
um governo nomeia um diretor para um hospital de psicopatas não faz um funcionário de sua
confiança. Designa, antes, um curador nato para esses doentes, um defensor de seus direitos a
tratamento humano, a alimentação sadia, a cuidados de enfermagem, a dedicação dos médicos.”
É criada, também, uma Colônia agrícola na cidade de Barreiros, para os pacientes
ditos “alienados” (pacientes psicóticos crônicos), a qual receberia o nome de “Colônia de
Alienados Vicente Gomes de Matos” (homenagem ao 1o diretor do local). Nessa colônia,
os pacientes tinham por meta maior conseguirem algum grau de reabilitação, que seria
incentivada principalmente através de atividades laborativas – a praxiterapia (equivalente
à atual Terapia Ocupacional). Ou seja, buscava-se a reintegração dos enfermos à uma
vida produtiva, um vínculo social de trabalho, de utilidade, através das atividades de
agricultura oferecidas na Colônia e de outros tipos de produção manual em que o
paciente manifestasse interesse. Também seriam enfatizadas a assistência familiar,
elemento de fundamental importância na ressocialização, e foi inclusive implantado um
projeto de Assistência hetero-familiar, através do qual famílias acolheriam em suas
residências, recebendo o devido apoio material e de saúde, os pacientes da Colônia.
Esse projeto, uma ideia tão bonita quanto demasiadamente idealista do prof. Ulysses,
lamentavelmente não daria certo.
Também um Manicômio Judiciário foi planejado e, inicialmente, posto em préfuncionamento
nas dependências do próprio Hospital da Tamarineira, contrariamente ao
projeto inicial de Ulysses, que o havia desejado instalar em um terreno próximo ao
Hospital. O seu funcionamento regular foi postergado, entretanto, e só se daria em caráter
definitivo em agosto de 1953, nas dependências do Engenho Monjope, em Igarassu.
Atualmente funciona em anexo à Penitenciária Agrícola de Itamaracá.
Nos parece correto crer, contudo, que sua mais destacada realização, além de
todas essas comentadas, foi a criação do Serviço de Higiene Mental. Tratava-se de um
órgão voltado não para o atendimento psiquiátrico, ou para a reabilitação dos enfermos
mentais; mas sim voltado para a prevenção em saúde mental, para a abordagem do
neuro-sanitarismo – um projeto pioneiro e, por que não dizer, revolucionário para a
psiquiatria nacional. O Serviço contava com três vertentes: a estatística, a de divulgação,
e a de assistência social. Na vertente estatística, destacam-se as regulares pesquisas e
coleta de dados epidemiológico-estatísticos realizados, principalmente entre as classes
sociais mais pobres, entre a população praticante de religiões africanas e outras religiões
populares, entre os escolares recifenses, etc. Na vertente de divulgação, os meios de
comunicação de massa foram postos ao serviço de neuro-profilaxia, através de
programas, textos, palestras que abordavam temas como a sífilis, o alcoolismo, o uso de
substâncias psicotrópicas, etc. A partir de 1933 passaria a ser veiculado um Boletim de
Higiene Mental. Em relação à assistência social, pode-se colocar como destacada a ação
das visitadoras sociais, que eram, na realidade, auxiliares técnicas que desempenhavam
funções de serviço social. As visitadoras receberiam do mestre Ulysses, posteriormente, a
seguinte referência elogiosa: “A Visitadora social é um elemento indispensável para a
saúde psiquiátrica”.
Poder-se-ia considerar também uma vertente de psicologia, se considerarmos que
o Instituto de Psicologia, já então denominado Instituto de Seleção e Orientação
Profissional, fora anexado, durante esse rol de reformas da Assistência a Psicopatas, ao
funcionamento do Serviço de Higiene Mental. É importante ainda destacar que, sob a
supervisão desse Serviço, as seitas e manifestações religiosas populares passariam da