a odisseia de ulysses pernambucano: dos primórdios ao ... - FPS

diversos pavilhões do local, e uma diretriz de atendimento psiquiátrico de orientação
humanitária passou a ser incentivada na instituição, além de se iniciar ali a prática
sistemática de pesquisas acadêmicas.
Por motivação de pressões políticas, boatos e intrigas comuns ao reduto médicopolítico
no qual estava inserido, Ulysses encerra seu mandato como diretor em apenas
dois anos, em 1926 – em uma demonstração de o quão sensato parecia ser nas diversas
situações conflituosas pelas quais passou. Nesse primeiro momento de sua carreira,
também, é nomeado chefe do Serviço de Demografia Sanitária, Estatística e Propaganda
do Departamento de Saúde Pública de Pernambuco, um cargo que estava ligado ao que o
prof. Ulysses tanto insistiria, no decorrer de toda sua vida, como fundamental para o
funcionamento de qualidade dos serviços de saúde de um determinado local ou região: a
pesquisa epidemiológica, a organização estatística de dados, feitas com precisão,
orientando assim corretamente a divisão de verbas públicas e os recursos técnicos e
humanos. Daí se pode vislumbrar, de acordo com o já citado artigo de Mário Eduardo
Costa Pereira, o seu espírito de reconhecido e aclamado gestor público e de rigoroso
epidemiologista:
“Ao longo de toda sua carreira, Ulysses Pernambucano teria especial interesse nos
levantamentos estatísticos das condições de saúde geral e mental da população, chegando a
propor a criação de um órgão nacional que centralizasse os dados disponíveis e que promovesse
estudos regulares sobre epidemiologia psiquiátrica em todas as unidades da República. Segundo
seu ponto de vista, somente com o apoio de tais informações – e com o uso de um mesmo critério
para o diagnóstico das entidades mórbidas – seria possível estabelecer prioridades e uma política
racional de prevenção e de organização de recursos assistenciais.”
A faceta de um Ulysses Pernambucano educador iria se evidenciar, pela primeira
vez, em 1918, quando o mesmo concorreu à cátedra de Psicologia e Pedologia (antiga
disciplina que pretendia estudar a criança sob um ponto de vista integral – biológico,
psicológico e social) na Escola Normal Oficial de Pernambuco – instituição voltada à
formação de professoras primárias. Com a tese “Classificação das crianças anormais. A
parada do desenvolvimento e suas formas; a instabilidade e a astenia mental”, o prof.
Ulysses seria aclamado com o 1o lugar desse concurso; entretanto, por motivos políticos,
o então governador do Estado, Manoel Borba, nomeou o segundo colocado para ocupar a
cadeira, tendo ficado Ulysses apenas como professor substituto. Nesse mesmo ano, pois,
Ulysses Pernambucano decide concorrer também a uma vaga no Ginásio Pernambucano
– uma das grandes instituições para secundaristas (o atual Ensino Médio), à época – para
a cátedra de “Lógica, Psicologia e História da Filosofia”. Novamente obtém o primeiro
lugar e, dessa vez, é nomeado para o cargo.
Alguns anos mais tarde, estando o governo do Estado sob o comando de Sérgio
Loreto, Ulysses Pernambucano é nomeado diretor da Escola Normal, mais precisamente
em 1923. E é a partir dessa nomeação que tal escola iria passar por mudanças profundas.
Em primeiro lugar, trata ele de instituir um exame de seleção adequado, de base
psicológica, para ingressar nessa instituição, onde antes predominava o critério de idade
e itens não-acadêmicos, como amizades e apadrinhamentos. Reorganiza a logística do
local, distribuindo metodicamente as alunas em salas de aula. Institui serviço de merenda
escolar e de assistência dentária, além de estimular a fundação de um jornalzinho e um
coral.
Ademais dessas reformas, decide criar, em uma ideia altamente inovadora à
época, um serviço de visitadoras sociais, que seria de certo modo precursor das atuais
assistentes sociais. Atuavam as visitadoras, então, como uma ponte entre a escola e a