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a odisseia de ulysses pernambucano: dos primórdios ao ... - FPS

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como acadêmico interno do Hospital Nacional <strong>de</strong> Aliena<strong>dos</strong> (no serviço do professor<br />

Juliano Moreira). Apresentou, a título <strong>de</strong> receber o grau <strong>de</strong> doutor, a tese <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong><br />

curso intitulada “Sobre algumas manifestações nervosas da Heredo-sífilis”.<br />

Após sua formatura, Dr. Ulysses inicia sua carreira médica clinicando na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Vitória <strong>de</strong> Santo Antão – PE e, posteriormente, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lapa, localida<strong>de</strong> interiorana<br />

do Paraná. Nesse período, por <strong>de</strong>corrência das extremas situações <strong>de</strong> precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

assistência médica e <strong>de</strong> pobreza das populações com que passa a ter contato, Ulysses<br />

termina por atuar como um médico generalista. Esse contato precoce com uma realida<strong>de</strong><br />

social em condições avessas a uma vida com saú<strong>de</strong>, tanto física como mental, influenciou<br />

profundamente aquele médico <strong>de</strong> refinada formação que se servia então <strong>de</strong> parteiro,<br />

cirurgião, oftalmologista, pediatra ou, até mesmo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntista. Parece que é, a partir <strong>de</strong>sse<br />

momento, que se inicia, mais <strong>de</strong>stacadamente, sua caminhada rumo <strong>ao</strong> encontro <strong>de</strong> uma<br />

psiquiatria não mais <strong>de</strong> orientação eminentemente organicista, mas antes fundamentada<br />

em pressupostos sociais, conforme atesta Mário Eduardo Costa Pereira em seu artigo<br />

“Ulysses Pernambucano e a questão da 'Higiene Mental' “:<br />

“Aquela que viria a ser sua concepção <strong>de</strong> 'prevenção primária' em saú<strong>de</strong> mental<br />

encontrava, assim, seus alicerces em fatores muito concretos relaciona<strong>dos</strong> <strong>ao</strong> surgimento <strong>de</strong><br />

quadros mentais que po<strong>de</strong>riam chegar <strong>ao</strong> consultório do psiquiatra: a neurossífilis e outras<br />

infecções com repercussões neurológicas, o alcoolismo, as intoxicações exógenas, os malefícios<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>de</strong>snutrição. Sua observação diária das dificulda<strong>de</strong>s escolares oriundas da fome e<br />

da falta <strong>de</strong> alimentação a<strong>de</strong>quada das crianças foi, certamente, um <strong>dos</strong> fatores que o levou a<br />

instituir, quando investido <strong>de</strong> funções públicas, um amplo programa <strong>de</strong> merenda escolar e <strong>de</strong><br />

visitadoras familiares.”<br />

É durante esse período, mais precisamente em 1915, que se casa com a Sra.<br />

Albertina Carneiro Leão, que era sua prima. Desse casamento nasceram dois filhos:<br />

Jarbas Pernambucano <strong>de</strong> Mello seguiu a carreira do pai, tendo inclusive assumido a<br />

cátedra <strong>de</strong> Clínica Neurológica na UFPE, entretanto morreu precocemente, em 1958.<br />

Aliás, esse tipo <strong>de</strong> tragédia parecia insistir em cruzar o caminho <strong>de</strong> Ulysses, já que o seu<br />

querido discípulo nos estu<strong>dos</strong> da psiquiatria, Gildo Neto, também partiria muito cedo, bem<br />

jovem, em 1935; e, a<strong>de</strong>mais, o próprio Ulysses seria vítima <strong>de</strong> uma morte prematura,<br />

como se verá adiante. O outro filho do casal foi José Antônio Gonsalves <strong>de</strong> Mello,<br />

renomado historiador, catedrático da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco e autor <strong>de</strong><br />

livros importantes na historiografia nacional, como “Tempos <strong>dos</strong> Flamengos”.<br />

Em 1916, Ulysses Pernambucano, já constituído no Paraná, sente sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

sua terra e sua gente, e resolve voltar para Recife. Estabelecendo-se como psiquiatra,<br />

com fama <strong>de</strong> ter sido aprendiz, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> nomes consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> unanimida<strong>de</strong>s<br />

na medicina nacional, logo passa a trabalhar como alienista, no Hospital <strong>de</strong> Aliena<strong>dos</strong> da<br />

Tamarineira. O local era, então, sem vida, <strong>de</strong>stinado a tão-somente “recolher” os<br />

in<strong>de</strong>seja<strong>dos</strong> “loucos” que vagavam pelas ruas ou viviam trancafia<strong>dos</strong> em porões nos<br />

fun<strong>dos</strong> das casas das famílias recifenses. O tratamento <strong>de</strong>sse local superlotado era o <strong>de</strong><br />

contenção, castigos e maus-tratos físicos e morais. E foi então, a partir <strong>de</strong>sse primeiro<br />

contato, que uma gran<strong>de</strong> história – que reverbera até os dias hodiernos – se iniciaria na<br />

psiquiatria pernambucana, tendo como o gran<strong>de</strong> núcleo <strong>de</strong>ssas mudanças tal hospital.<br />

Tendo já em 1919 <strong>de</strong>nunciado o episódio das três órfãs, o Dr. Ulysses<br />

Pernambucano assumiria, em 1924, sua primeira nomeação como diretor da instituição. E<br />

é nesse momento que se anunciaria o início <strong>de</strong> uma nova Tamarineira, sob o comando<br />

<strong>de</strong>sse brilhante psiquiatra: foram extintas, sob sua or<strong>de</strong>m, as práticas <strong>de</strong> contenções<br />

agressivas e castigos em calabouços, reformas foram realizadas na estrutura física <strong>dos</strong>

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