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Essa sociedade pouco-a-pouco conseguiu tomar proporções nacionais, e funcionou como um embrião da futura Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), fundada em 1966. Essa sociedade representou, ademais, juntamente com a revista Neurobiologia, uma característica importante da constituída Escola de Psiquiatria do Recife: a primazia pela união das diversas ciências da mente (neurologia, psiquiatria, neurociências, etc.), atuando contrariamente à separação das mesmas. No dia 5 de dezembro de 1943, fisicamente debilitado por um coração que já há anos sofria crescentemente das consequências de um infarto, falece Ulysses Pernambucano de Mello Sobrinho, estando o mesmo no Rio de Janeiro, aos 51 anos de idade. Não assiste ao fim do Estado Novo, que se daria dois anos após, em 1945. Não assiste, igualmente, a um extenso período de retrocesso em relação às suas ideias, com o reavivamento do modelo hospitalocêntrico e da tão vil “indústria de leitos”, situação que só mudaria no Brasil a partir da década de 90 do século XX. Entretanto, deixaria Ulysses – afora todas as conquistas que realizou, todas as inovações, ideias, projetos e trabalhos acadêmicos – ainda mais uma contribuição: a de tacitamente fundar, e deixar o legado de perpetuação, de toda uma escola de pensamento médico-psiquiátrico atualmente difundida pelo país: uma psiquiatria de bases fundamentalmente sócio-culturais. Embora tenha tido uma formação biologicista e vivido em uma época onde as teses eugenistas predominavam no pensamento social, soube Ulysses romper as amarras da ideologia e ampliar sua visão médica a ponto de uni-la a campos aparentemente distantes como a Antropologia e a Sociologia, e a partir daí entender como poucos a importância das estruturas sociais, do fenômeno da coletividade, em questões estritamente ligadas ao aparecimento de enfermidades mentais isoladas. Não restam dúvidas de que as ações e os pensamentos de Ulysses Pernambucano permanecem atuais. Poucos meses antes de morrer, em 1943, proclamou o seu famoso texto “A Ação Social do Psiquiatra”, durante a abertura do 3o Congresso da Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental do Nordeste, em Natal. Nesse texto, curiosamente, há uma passagem que, de imediato, nos faz depararmos mais uma vez em o quão atual não nega ser a voz e o pensamento desse genial psiquiatra brasileiro – dessa vez o assunto envolveria recentes acontecimentos, ligados a um possível fechamento e demolição do antigo Hospital de Alienados da Tamarineira, atualmente o “Hospital Ulysses Pernambucano”. E é assim mesmo, que encontramos escrito em seu discurso final: “O que permite que seus doentes andem nus, cobertos de vermina e cheios de equimoses – não é um psiquiatra. O que consente, ainda que por simples omissão de protesto, que se destrua um grande hospital psiquiátrico, ligado, por tantos títulos ao desenvolvimento e história da assistência a alienados – não é um psiquiatra. O que não afronta poderosos para defender o doente mental quando privado de qualquer de seus sagrados direitos a assistência e proteção por comodismo, interesse pessoal ou receio de represálias – não é um psiquiatra.”
Referências Bibliográficas: BARRETO, Anita P. Ulysses Pernambucano, educador. Psicologia: ciência e profissão. V. 12, n.1, Brasília 1992. Disponível em:. Acesso em: 21 out. 2010. BASTOS, Othon. A Atualidade de Ulysses Pernambucano. In: ______. A História da Psiquiatria em Pernambuco e outras Histórias. São Paulo: Leme Editorial, 2002. cap. 12, p. 103-112. BASTOS, Othon et al. Atenção à Saúde Mental em Pernambuco: Perspectiva Histórica e Atual. Neurobiologia. Recife. n. 1. p. 183 - 197. jan./mar. 2010. Disponível em: . Acesso em: 21 out. 2010. CODECEIRA, Zília de Aguiar. A Psiquiatria que conheci. Recife: ED-Micro, 2009. FUNDAJ. Ulysses Pernambucano. In: Pesquisa Escolar FUNDAJ. 10 mar. 2010. Disponível em: . Acesso em: 21 out. 2010. MEDEIROS, Tácito A. Primórdios. In: BASTOS, Othon. A História da Psiquiatria em Pernambuco e outras Histórias. São Paulo: Leme Editorial, 2002. cap. 11, p. 97-102. MELO, Walter. Ulysses Pernambucano: o enamorado da liberdade. Mnemosine. V. 1, n. 0, p.185-192 . 2004. Disponível em: . Acesso em: 21 out. 2010. MIRANDA, Carlos A.C. A arte de curar nos tempos da colônia. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2004. PEREIRA, Mário E. Costa. Ulysses Pernambucano e a questão da “Higiene mental”. Rev. Latinoam. Psicop. Fund., ano VIII , n.1, p. 123 - 129, mar. 2005. Disponível em: . Acesso em: 21 out. 2010. PERNAMBUCANO, Ulysses. A ação social do Psiquiatra. Rev. Latinoam. Psicop. Fund., ano VIII , n.1, p. 130-136, mar. 2005. Disponível em: . Acesso em: 21 out. 2010. PICCININI, Walmor J. Voando sobre a Psiquiatria Brasileira: ULYSSES PERNAMBUCANO (1892-1943). Psychiatry on line Brasil.v. 6 n. 2. Fev. 2001. Disponível em: . Acesso em: 21 out. 2010. * Acadêmico de Medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde – FPS / IMIP
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