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O<br />

REVISTA N.º 15 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · MARÇO 2013<br />

DESEMBAR UE


índice ficha técnica<br />

Editorial<br />

A Se<strong>de</strong> está sempre à disposição dos Associados 3<br />

Cooperação<br />

Visita do Comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Portugal<br />

aos <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Angola 4<br />

Notícias<br />

O Chefe do Estado-Maior da Armada almoça<br />

na <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> 5<br />

<strong>Fuzileiros</strong> visitam o Comando Territorial da GNR<br />

<strong>de</strong> Santarém 6<br />

Em memória <strong>de</strong> Jaime Neves 7<br />

Cultura e Memória<br />

Salpicos <strong>de</strong> Vida – SPM 0468 N.º 8 – <strong>Fuzileiros</strong> na piscina… 8<br />

Opinião<br />

Aproveitar Recursos 9<br />

O Direito <strong>de</strong> Dizer – O Advogado, o Dever <strong>de</strong> servir a Justiça<br />

e o seu Direito/Dever <strong>de</strong> Protestar 10<br />

Convívios<br />

Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 4 – Guiné 1965/67 13<br />

XXXI Encontro <strong>de</strong> Marinheiros da Beira Alta 14<br />

Companhia <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 3 – Guiné 1963/65 15<br />

Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 12 – Guiné 1967/69 16<br />

Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 8 – Guiné 1969/71 18<br />

“Escola” <strong>de</strong> 98 20<br />

Companhia <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 2 – Angola 1966/69 e Angola 1970/72 21<br />

Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Museu do Fuzileiro 22<br />

Homenagens<br />

A <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

presta homenagem ao seu antigo Presi<strong>de</strong>nte, Dr. Ilídio das Neves Luís 24<br />

Homenagem a Rebordão <strong>de</strong> Brito 26<br />

Entrevista<br />

Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias 27<br />

Divisões<br />

Divisão do Mar e das Activida<strong>de</strong>s Lúdicas e Desportivas 34<br />

Crónicas<br />

Breves estórias da Guiné 36<br />

Crónicas <strong>de</strong> Outros Tempos – Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa 37<br />

Orlando <strong>de</strong> Sousa Cristina<br />

Um herói a quem os <strong>Fuzileiros</strong> muito ficaram a <strong>de</strong>ver em Moçambique 39<br />

Cartas ao Director<br />

A história <strong>de</strong> um Fuzileiro e da sua namorada Fernanda 42<br />

Almoço <strong>de</strong> Natal<br />

O Almoço/Convívio <strong>de</strong> Natal – 16 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012 43<br />

Delegações<br />

Delegação do Algarve 46<br />

Delegação <strong>de</strong> Juromenha/Elvas 48<br />

Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia 49<br />

Reportagem<br />

Timor-Leste: entre as lembranças do passado e a realida<strong>de</strong> presente 51<br />

Obituário 55<br />

Diversos 55<br />

Publicação Periódica da<br />

<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Revista n.º 15 • Março 2013<br />

Proprieda<strong>de</strong><br />

<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.<br />

2830-356 Barreiro<br />

Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461<br />

email: afuzileiros@netvisao.pt<br />

www.associacaofuzileiros.pt<br />

Edição e Redacção<br />

Direcção da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Director<br />

Lhano Preto<br />

Directores Adjuntos<br />

Cardoso Moniz e Marques Pinto<br />

Colaborações<br />

Delegações da AFZ<br />

LP, MP, CM, Ribeiro Ramos,<br />

Miranda Neto, CMP, CCFZ, EFZ, BFZ,<br />

Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro<br />

Gonçalves<br />

Coor<strong>de</strong>nação gráfica<br />

e paginação electrónica<br />

Manuel Lema Santos<br />

mlema@mlemasantos.com<br />

Impressão e acabamento<br />

Gazela - Artes Gráficas, Lda.<br />

Rua Sebastião e SIlva, n.º 79 - Massamá<br />

2745-838 Queluz<br />

Tel.: 214 389 750 • Fax: 214 371 931<br />

www.gazela.pt<br />

Tiragem<br />

2.000 exemplares<br />

Exceptuando-se os artigos assinalados e da<br />

responsabilida<strong>de</strong> dos respectivos autores,<br />

a redacção <strong>de</strong>sta revista não está adaptada<br />

às regras <strong>de</strong> novo acordo ortográfico<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


Francisco Lhano Preto<br />

Nos últimos tempos a Se<strong>de</strong> da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong>, por uma razão ou por outra, não foi<br />

chamariz suficiente para que, sempre, os seus<br />

sócios e mesmo as Unida<strong>de</strong>s e ex-Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

fizessem os seus encontros <strong>de</strong> confraternização e diversão<br />

neste lugar tão agradável, acolhedor e tão nosso.<br />

Foi sempre uma das situações que me preocupou, já que<br />

muitos <strong>de</strong>stes convívios eram realizados quase sempre no<br />

município do Barreiro, <strong>de</strong>vido à nossa ligação à Escola-<br />

-mãe, e talvez só meta<strong>de</strong> eram concretizados no local,<br />

para nós tão místico “A nossa Se<strong>de</strong>”.<br />

Até porque para além <strong>de</strong> ser nossa, possui todos os ingredientes<br />

que um Fuzileiro possa sonhar; um rio Coina<br />

com muito lodo e uma praia em frente, on<strong>de</strong> quase por<br />

certo <strong>de</strong>sembarcou durante o dia e muitas vezes à noite.<br />

<strong>Mais</strong>, quem não quer relembrar um pôr-do-sol africano<br />

ou um reembarque em Pinheiro da Cruz, na explanada da<br />

<strong>Associação</strong>, no fim do dia?<br />

Por tal, <strong>de</strong>cidiu a Direcção tentar alterar a situação,<br />

mudando até a gerência do restaurante, dando assim<br />

mais um passo para que se possa iniciar uma nova era <strong>de</strong><br />

convívios dos <strong>Fuzileiros</strong>. A sala também foi restaurada e<br />

terá <strong>de</strong>ntro em breve um alto-relevo <strong>de</strong>dicado ao Fuzileiro.<br />

Esta nova fase já foi iniciada, tendo tido como teste, um<br />

jantar no dia dos namorados, porque “Fuzileiro que não<br />

está enamorado, não é certamente um bom Fuzileiro”.<br />

Para quem não esteve presente, adianto que neste serão<br />

houve muito convívio, muita animação e não faltou a bela<br />

música ao vivo. Este primeiro evento foi muito agradável e<br />

penso que toda a nossa gente saiu satisfeita.”<br />

Está <strong>de</strong> parabéns o senhor Cabrita e a esposa (Dona<br />

Alzira), tendo todos nós muito a esperar.<br />

Porque o número <strong>de</strong> telefone do Snack-Bar foi alterado,<br />

<strong>de</strong>ixo o novo contacto para marcação <strong>de</strong> algum evento:<br />

210 853 030.<br />

Termino concluindo “caro sócio a se<strong>de</strong> é tua, usa-a nos<br />

teus eventos para teu proveito, dos teus familiares e<br />

dos amigos”.<br />

“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre<br />

Lhano Preto<br />

Presi<strong>de</strong>nte da Direcção<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

editorial<br />

A Se<strong>de</strong> está sempre<br />

à disposição<br />

dos Associados<br />

3


cooperação<br />

Visita do Comandante do<br />

Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Portugal<br />

aos <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Angola<br />

No âmbito do programa da 1.ª Reunião<br />

Formal entre os Estados-maiores das<br />

Marinhas <strong>de</strong> Angola e <strong>de</strong> Portugal,<br />

realizada em Angola <strong>de</strong> 17 a 23 <strong>de</strong> Novembro<br />

<strong>de</strong> 2012, e em que o Comandante<br />

do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, Contra-almirante<br />

Cortes Picciochi, foi nomeado como chefe<br />

da <strong>de</strong>legação da Marinha Portuguesa, foi<br />

incluída uma <strong>de</strong>slocação ao Ambriz, on<strong>de</strong><br />

se encontram instaladas a Brigada <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Navais (BFN) e a Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Navais <strong>de</strong> Angola (EFN).<br />

A <strong>de</strong>slocação da <strong>de</strong>legação da Marinha<br />

portuguesa, que incluiu dois oficiais superiores<br />

da Divisão <strong>de</strong> Relações Externas<br />

do EMA, foi acompanhada pelo Diretor<br />

Técnico do Projeto 8 (Marinha) da CTM<br />

em Angola, CMG Xavier da Cunha, e por<br />

uma importante comitiva da Marinha <strong>de</strong><br />

Guerra Angolana, que integrou o Vice-almirante<br />

Jorge Correia da Silva, Chefe da<br />

Direção <strong>de</strong> Preparação Combativa e Ensino,<br />

o Contra-almirante Ferreira <strong>de</strong> Jesus,<br />

Chefe Adjunto da Direção <strong>de</strong> Operações, e<br />

o Contra-almirante João Cambole, Chefe<br />

Adjunto da Direção <strong>de</strong> Pessoal e Quadros.<br />

Após uma viagem por estrada, que requereu<br />

cerca <strong>de</strong> quatro horas para se percorrer<br />

os cerca <strong>de</strong> 170 quilómetros <strong>de</strong> distância,<br />

e que inclui um exigente troço <strong>de</strong><br />

picada em terra batida, a comitiva chegou<br />

às instalações da BFN, cerca das 10h30m,<br />

on<strong>de</strong> foi recebida pelo Contra-almirante<br />

Bamba Castro, ilustre comandante daquela<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuzileiros, e pelo assessor<br />

técnico permanente, CMG FZ Ova Correia.<br />

Depois das honras militares garbosamente<br />

prestadas por um pelotão da Polícia Naval,<br />

no exterior da unida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>u-se início ao<br />

programa da visita com um briefing sobre<br />

a organização, missão e dispositivo das<br />

unida<strong>de</strong>s operacionais que constituem a<br />

estrutura operacional da BFN, seguida <strong>de</strong><br />

uma breve visita às instalações, tendo sido<br />

no final oferecido um serviço <strong>de</strong> refrigerantes<br />

e café.<br />

De seguida, a comitiva e acompanhantes<br />

militares dirigiram-se para a praia da<br />

Kinfuca, situada a 14 kms a sul da vila do<br />

Ambriz, on<strong>de</strong> o Contra-almirante Cortes<br />

Picciochi assistiu a um “static display” dos<br />

equipamentos <strong>de</strong> C2 e do armamento orgânico<br />

das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fuzileiros, e ainda<br />

a uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s anfíbias<br />

em que elementos do <strong>de</strong>stacamento<br />

<strong>de</strong> ações especiais realizaram uma incursão<br />

em terra a partir do mar, enquadrado<br />

num ambiente <strong>de</strong> combate à pirataria.<br />

Apesar <strong>de</strong> algum atraso, a segunda parte<br />

do programa da visita à EFN teve início<br />

com uma guarda <strong>de</strong> honra à entrada<br />

daquela unida<strong>de</strong>, localizada na zona litoral<br />

norte da vila, e após os cumprimentos<br />

protocolares foi realizada uma apresentação<br />

pelo Comandante da EFN, CMG FZ<br />

Vaz Gonçalves, on<strong>de</strong> foram salientados os<br />

aspetos organizativos e funcionais daquela<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino militar, e enaltecida<br />

a importância das sucessivas equipas <strong>de</strong><br />

assessores fuzileiros portugueses, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o ano da criação da primeira Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

em 1994, na ilha <strong>de</strong> S. João da Cazanga,<br />

a sul <strong>de</strong> Luanda. Posteriormente,<br />

as entida<strong>de</strong>s visitantes percorreram o espaço<br />

interior da unida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> assistiram<br />

a <strong>de</strong>monstrações das ativida<strong>de</strong>s práticas<br />

<strong>de</strong> instrução militar básica dos cursos <strong>de</strong><br />

NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico<br />

ca<strong>de</strong>tes, sargentos e praças que ali <strong>de</strong>correm<br />

atualmente, assim como foram conhecidas<br />

algumas instalações essenciais<br />

ao apoio sanitário da guarnição, e outras<br />

recentemente inauguradas <strong>de</strong> apoio à formação.<br />

O almoço servido na messe <strong>de</strong> oficiais, <strong>de</strong><br />

ementa recheada com pratos e acepipes<br />

típicos constituiu um momento <strong>de</strong> franco<br />

convívio, on<strong>de</strong> se reviveram histórias da<br />

formação <strong>de</strong> alguns dos oficiais presentes<br />

nos cursos em Vale <strong>de</strong> Zebro, e <strong>de</strong> outros<br />

fuzileiros portugueses enquanto assessores<br />

em Angola, ressaltando sempre um<br />

forte espirito <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> partilha <strong>de</strong><br />

conhecimentos e experiências, <strong>de</strong> respeito<br />

mútuo, e <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> sempre renovada<br />

entre os elementos dos fuzileiros <strong>de</strong> Angola<br />

e <strong>de</strong> Portugal.<br />

Em ambas as visitas, foram efetuadas<br />

trocas <strong>de</strong> presentes institucionais e foi<br />

assinado o livro <strong>de</strong> honra <strong>de</strong>stas duas<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fuzileiros angolanos, on<strong>de</strong><br />

o Contra-almirante Cortes Picciochi<br />

<strong>de</strong>ixou missivas <strong>de</strong> reconhecimento pelo<br />

excelente acolhimento, profissionalismo<br />

na ação e relevância das nobres missões<br />

atribuídas à Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Navais<br />

e da Brigada <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Navais, quer<br />

na formação <strong>de</strong> novos marinheiros e<br />

fuzileiros, quer na <strong>de</strong>fesa dos interesses<br />

nacionais e da soberania nacional, nos<br />

diversos pontos do território on<strong>de</strong> se<br />

encontram posicionadas as forças e<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fuzileiros <strong>de</strong> Angola.<br />

Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre!<br />

Ova Correia<br />

CMG FZE/ATP<br />

4 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

notícias<br />

O Chefe do Estado-Maior da Armada almoça<br />

na <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

A<br />

convite da Direcção Nacional, o<br />

Chefe do Estado-Maior da Armada,<br />

Almirante Saldanha Lopes, almoçou<br />

no Snack-Bar da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />

no passado dia 25 <strong>de</strong> Fevereiro.<br />

Participaram também no que foi qualificado<br />

como um “almoço <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>”, o<br />

Comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, Contra-Almirante<br />

Cortes Picciochi, o Chefe<br />

<strong>de</strong> Gabinete do CEMA, Contra-Almirante<br />

Seabra <strong>de</strong> Melo, e o Capitão-Tenente<br />

Afonso e o 1.º Tenente Silva Ângelo, oficiais<br />

que integram o Gabinete do CEMA.<br />

Fizeram as honras da casa, o Contra-<br />

-Almirante Leiria Pinto, Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Assembleia-Geral da AFZ, o Comandante<br />

Lhano Preto, o Comandante Cardoso Moniz<br />

e o Doutor Marques Pinto, Presi<strong>de</strong>nte<br />

e Vice-Presi<strong>de</strong>ntes da Direcção, respectivamente.<br />

No final do almoço, o CEMA percorreu<br />

o Salão Polivalente da AFZ e esteve<br />

na esplanada do nosso Snack-Bar<br />

contemplando a vista sobre o rio Tejo e<br />

observou, particularmente, os “Moinhos<br />

<strong>de</strong> Maré” que dali se vislumbram em<br />

pequenas ilhotas.<br />

Um mundo <strong>de</strong> soluções para o seu lar...<br />

Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz <strong>de</strong> Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt<br />

Durante o almoço, que também foi <strong>de</strong><br />

trabalho, trataram-se vários temas rela-<br />

cionados com a AFZ e com a sua impor-<br />

tância para a Marinha, no quadro da sua<br />

influência e unida<strong>de</strong> nacional e, também,<br />

na colaboração que po<strong>de</strong>remos prestar,<br />

na semana da Marinha e Dia da Marinha,<br />

cujas comemorações <strong>de</strong>correrão na se-<br />

mana <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> Maio próximo, no Barreiro.<br />

“O Desembarque” cumprimenta o CEMA<br />

e, particularmente, o Almirante Saldanha<br />

Lopes, a quem convidou para ser um<br />

próximo entrevistado da nossa Revista.<br />

5


notícias<br />

6<br />

<strong>Fuzileiros</strong> visitam<br />

o Comando Territorial<br />

da GNR <strong>de</strong> Santarém<br />

Os movimentos <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> para<br />

Santarém estão normalmente associados<br />

a missões <strong>de</strong> apoio às populações<br />

ciclicamente atingidas pelas cheias<br />

do Rio Tejo que, <strong>de</strong> tempos a tempos,<br />

galgando as margens, transforma estradas<br />

em perigosos canais e a Lezíria num<br />

gran<strong>de</strong> lago on<strong>de</strong> os botes <strong>de</strong> borracha ou<br />

as lanchas <strong>de</strong> pequeno calado se tornam<br />

imprescindíveis.<br />

Neste 7 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012 a missão<br />

foi <strong>de</strong> cariz diferente e obe<strong>de</strong>ceu a um plano<br />

traçado pelo Comandante do Comando<br />

Territorial <strong>de</strong> Santarém, o senhor Coronel<br />

Corte-Real Figueiredo que com muita honra,<br />

como fez questão <strong>de</strong> referir, continua<br />

ligado aos <strong>Fuzileiros</strong> pela mística da boina<br />

FZ que em <strong>de</strong>terminada e talvez <strong>de</strong>terminante<br />

fase da sua vida, envergou.<br />

Estavam assim reunidas as condições<br />

para que o convite que dirigiu a vários oficiais<br />

fuzileiros que com ele mais <strong>de</strong> perto<br />

privaram, fosse aceite por quase todos e<br />

se transformasse num dia <strong>de</strong> confraternização<br />

entre fuzileiros e militares da GNR<br />

sob seu comando.<br />

Muitos outros oficiais <strong>de</strong>sse Corpo Militar<br />

que, tal como o Coronel Figueiredo, passaram<br />

pelos <strong>Fuzileiros</strong> e agora ocupam funções<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na GNR, também aceitaram<br />

o convite e estiveram presentes.<br />

Talvez aqui se <strong>de</strong>va referir que este transvaze<br />

<strong>de</strong> oficiais fuzileiros para a GNR, segundo<br />

julgamos, teve a sua maior expressão<br />

na década <strong>de</strong> oitenta mas continuou<br />

<strong>de</strong>ste então e continua, sendo uma excelente<br />

forma <strong>de</strong> adaptação e rentabilização<br />

<strong>de</strong> recursos humanos qualificados com<br />

vantagens para ambas as organizações.<br />

Mas voltando ao evento versado nesta<br />

pequena nota, salienta-se ainda que a<br />

“<strong>de</strong>legação” dos <strong>Fuzileiros</strong> que se <strong>de</strong>slocou<br />

a Santarém que, como se disse, era<br />

constituída por oficiais <strong>Fuzileiros</strong> que estiveram<br />

mais directamente relacionados<br />

com o nosso anfitrião, foi encabeçada pelo<br />

senhor Contra-Almirante Cortes Picciochi,<br />

actual comandante do CCF, o que muito<br />

nos honrou.<br />

O dia correu <strong>de</strong>pressa preenchido com um<br />

excelente “briefing” sobre a activida<strong>de</strong><br />

da GNR no Distrito <strong>de</strong> Santarém, um jogo<br />

<strong>de</strong> futebol disputado a muito bom ritmo e<br />

com excelentes exibições dos suspeitos<br />

do costume e um almoço <strong>de</strong> nota <strong>de</strong>z on<strong>de</strong><br />

os produtos regionais pontuaram alto e<br />

estiveram ao nível do acontecimento.<br />

Ao nível do acontecimento esteve também<br />

a fidalguia e o ambiente camarada e amigo<br />

com que o Coronel Figueiredo e os seus<br />

oficiais nos receberam.<br />

Estamos-lhe gratos por nos ter proporcionado<br />

estes momentos tal como ele<br />

se manifestou grato pela compreensão e<br />

apoio que lhe foram dados aquando da<br />

sua difícil <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> sair dos <strong>Fuzileiros</strong> e<br />

abraçar um outro Corpo <strong>de</strong> Tropas que tão<br />

bem o recebeu e enquadrou. Nessa altura<br />

o oficial em questão <strong>de</strong>sempenhava precisamente<br />

as funções <strong>de</strong> Oficial Imediato da<br />

CF 22 companhia da qual o signatário era<br />

então o comandante.<br />

Quanto ao resultado do futebol… não me<br />

lembro bem mas julgo que foi um empate.<br />

Benjamim Correia<br />

Sóc. Orig. n.º 1351<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


O voto <strong>de</strong> pesar votado pela morte<br />

do major-general Jaime Neves no<br />

Parlamento resultou num episódio<br />

ruidoso nas galerias.<br />

Depois <strong>de</strong> os partidos do PS, PSD<br />

e CDS terem aprovado o voto <strong>de</strong><br />

pesar, apesar dos votos contra do<br />

PCP, BE e Ver<strong>de</strong>s, um grupo na assistência<br />

– alguns <strong>de</strong>les com boinas<br />

militares – levantou-se para<br />

verbalizar o grito dos comandos,<br />

unida<strong>de</strong> que Jaime Neves chefiava<br />

durante o período da revolução e<br />

consequente “Verão Quente”.<br />

Em memória <strong>de</strong><br />

Jaime Neves<br />

A<br />

Direcção da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, reunida em 5 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong><br />

2013, na sua Se<strong>de</strong> Social, no Barreiro, em sessão n.º 187/03/13 <strong>de</strong>liberou por<br />

unanimida<strong>de</strong>:<br />

“Prestar sentida e patriótica homenagem ao Major-General, Jaime Neves que se consi<strong>de</strong>ra<br />

herói da verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>mocracia e acompanhar a Sua Família e a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> Comandos<br />

no pesar que todos os Portugueses sentem pelo seu recente <strong>de</strong>saparecimento”.<br />

A Direcção <strong>de</strong>cidiu, após um minuto <strong>de</strong> silêncio, transcrever em Acta o seguinte texto:<br />

General Jaime Neves (1936-2013)<br />

1 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2013<br />

Gritou-se “Mama Sume” no Parlamento<br />

O plenário foi surpreendido com o<br />

grito “Mama Sume!” que <strong>de</strong>ixou a<br />

mesa da Assembleia da República<br />

(AR) sem reacção.<br />

A expressão foi adoptada pela<br />

unida<strong>de</strong> militar a partir do grito<br />

<strong>de</strong> uma tribo Banto do Sul do<br />

continente africano na cerimónia<br />

que precedia a caça ao leão.<br />

Traduzida significa “Aqui estamos<br />

prontos para o sacrifício”.<br />

Ao contrário <strong>de</strong> outros momentos,<br />

a presi<strong>de</strong>nte da AR não solicitou<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

notícias<br />

aos agentes da autorida<strong>de</strong> que<br />

evacuasse as galerias. Quem<br />

assiste às sessões do plenário não<br />

po<strong>de</strong> manifestar-se enquanto os<br />

trabalhos <strong>de</strong>correm. E Assunção<br />

Esteves já <strong>de</strong>u no passado or<strong>de</strong>ns<br />

para evacuar a assistência <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> algumas manifestações.<br />

De qualquer maneira, os cidadãos<br />

em causa abandonaram as galerias<br />

logo após o inci<strong>de</strong>nte.<br />

A <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> junta-se à <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> Comandos e ao seu grito “Mama Sume” e, do Barreiro e <strong>de</strong> Portugal,<br />

respon<strong>de</strong> com o grito dos fuzileiros:<br />

“Fuzos: prontos. do mar: p’ra terra. <strong>de</strong>sembarcar: ao assalto. <strong>de</strong>sembarcar: ao assalto”<br />

7


cultura e memória<br />

Na operação “Altair”, em 26 Outubro<br />

<strong>de</strong> 1966, o DFE 4 <strong>de</strong>sembarcou<br />

”a nadar” na Pt a Canabém, no rio<br />

Cacine, com apoio <strong>de</strong> fogo <strong>de</strong> duas LFG’s,<br />

a Hidra e a Lira. Como todos os locais na<br />

zona sul da Guiné esta era uma área <strong>de</strong><br />

real perigo, on<strong>de</strong> corríamos o risco <strong>de</strong><br />

sermos atacados no momento crítico do<br />

<strong>de</strong>sembarque, que ia acontecer <strong>de</strong> dia.<br />

O baú das memórias, às vezes já difícil <strong>de</strong><br />

abrir, recorda-nos os momentos difíceis<br />

que o nosso grupo, tão jovem, viveu com<br />

muita intensida<strong>de</strong> e generosida<strong>de</strong> em<br />

terras <strong>de</strong> África.<br />

Eram 7h00 quando a LDM 307 nos<br />

tentou <strong>de</strong>sembarcar na Pt a Canabém. Por<br />

infortúnio do <strong>de</strong>stino, surgiu <strong>de</strong> repente o<br />

chamado “imprevisto nunca previsto”: a<br />

LDM encalhou em fundo baixo, a cerca <strong>de</strong><br />

100 m <strong>de</strong> uma margem cheia <strong>de</strong> tarrafo,<br />

ficando ao alcance das armas do IN.<br />

Nesse momento crítico havia que tomar<br />

uma <strong>de</strong>cisão urgente, e executá-la muito<br />

rapidamente: ou <strong>de</strong>sembarcar ou abortar a<br />

operação. A escolha feita pelo Comandante<br />

foi fácil. A LDM estava mesmo encalhada<br />

e não mexia.<br />

Assim, era urgente aliviar a carga para<br />

que ela ganhasse flutuabilida<strong>de</strong> e pu<strong>de</strong>sse<br />

navegar. De facto naquela posição, a lancha<br />

seria um alvo muito fácil, e diria até<br />

que estávamos a oferecer a “lotaria” ao<br />

IN, pois podíamos ser atacados sem termos<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r. O nosso<br />

Comandante não teve portanto outra<br />

alternativa que não fosse gritar a or<strong>de</strong>m<br />

“todos para a água”, para <strong>de</strong>sembarcar<br />

rapidamente a nado, acontecesse o que<br />

acontecesse.<br />

8<br />

Salpicos <strong>de</strong> Vida<br />

SPM 0468<br />

N.º 8<br />

<strong>Fuzileiros</strong> na piscina…<br />

Felizmente, beneficiávamos da ajuda das<br />

peças <strong>de</strong> 40 mm das LFG’s Hidra e Lira,<br />

que se reposicionaram e nos <strong>de</strong>ram a<br />

protecção possível nestes momentos <strong>de</strong><br />

aflição.<br />

As fotografias juntas evi<strong>de</strong>nciam bem as<br />

dificulda<strong>de</strong>s por que passámos e recordo<br />

que nas nossas mentes todos os pensamentos<br />

negativos nos surgiram. Saberíamos<br />

todos nadar o suficiente para chegar<br />

a terra com todo o pesado equipamento?<br />

Conseguiríamos evitar molhar as armas e<br />

as munições? Iriam funcionar os RPG’s e<br />

os rockets? Conseguiríamos manter a disciplina,<br />

a nadar em fila indiana? Haveria<br />

algum erro dos artilheiros das LFG’s que<br />

nos acertariam com alguns tiros? Estaria o<br />

IN à nossa espera no tarrafo ainda connosco<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> água? etc…<br />

Resumindo, a nossa moral naqueles momentos<br />

não era propriamente das mais<br />

elevadas, pois na verda<strong>de</strong>, quer quiséssemos<br />

quer não, estávamos a fazer um<br />

<strong>de</strong>sembarque dando todas as vantagens<br />

ao IN. Recordo que esta operação se efectuava<br />

<strong>de</strong> dia e o factor surpresa há muito<br />

que <strong>de</strong>saparecera.<br />

A 1.ª secção avançou com muita <strong>de</strong>terminação,<br />

“não propriamente num crawl<br />

perfeito”, mas tentando que as coisas<br />

importantes não se molhassem. Refiro-<br />

-me ao material vital para andar no mato,<br />

armas, munições, cartas e equipamentos<br />

<strong>de</strong> comunicações.<br />

Lá fomos vencendo todas as dificulda<strong>de</strong>s<br />

com um esforço titânico tanto no plano<br />

físico como emocional. Recordo-me que<br />

após nadarmos aquele primeiro troço visível<br />

até a uma curva, fomos então surpreendidos<br />

com um gran<strong>de</strong> percurso <strong>de</strong><br />

água que nos separava ainda do início do<br />

tarrafo e das primeiras árvores que nos<br />

proporcionariam abrigo.<br />

É nesse momento que nos assalta a velha<br />

pergunta “mas isto está a acontecer-me<br />

mesmo a mim ou é tudo um sonho do qual<br />

ainda não acor<strong>de</strong>i?”. Infelizmente, tudo era<br />

mesmo real e nós tínhamos mesmo que resolver<br />

aquela “papeleta”, fosse <strong>de</strong> que maneira<br />

fosse, e a única solução era ganhar a<br />

orla da mata tão cedo quanto possível.<br />

Neste ultimo canal, as LFG’s já não nos<br />

viam e estávamos portanto totalmente entregues<br />

a nós próprios.<br />

Quando atingimos o meio do tarrafo, com<br />

a vonta<strong>de</strong> imensa que <strong>de</strong>saparecesse o<br />

cansaço acumulado no <strong>de</strong>sembarque,<br />

sentimos com intensida<strong>de</strong>, o enorme <strong>de</strong>sconforto<br />

<strong>de</strong> ainda não termos ninguém na<br />

orla das primeiras árvores, o que simplesmente<br />

significava estarmos ainda à mercê<br />

do IN.<br />

Finalmente a 1.ª secção “agarrou” a orla<br />

da mata, e a tranquilida<strong>de</strong> começou a<br />

confortar os nossos espíritos. Os restantes<br />

homens do DFE 4 já po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>sembarcar<br />

com alguma tranquilida<strong>de</strong> pois o<br />

nosso pessoal já lhes podia dar protecção<br />

na situação imprevisível que o <strong>de</strong>stino nos<br />

criou.<br />

Assim, esta operação ficou conhecida<br />

para a história pela situação inesperada e<br />

imprevisível, do <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> um DFE<br />

nadando num dos sítios <strong>de</strong> maiores riscos<br />

operacionais da antiga Guiné.<br />

Por incrível que pareça, as fotos que<br />

acompanham este SPM <strong>de</strong>ram volta aos<br />

três TO’s, Guiné, Angola e Moçambique,<br />

e apareceram em revistas <strong>de</strong> outros ramos<br />

das Forças Armadas, ligadas a outras<br />

unida<strong>de</strong>s que não o nosso DFE 4. Não ficámos<br />

zangados que outros se tivessem<br />

apropriado das nossas imagens, mas é<br />

tempo <strong>de</strong> repormos a verda<strong>de</strong> dos factos e<br />

dar o seu a seu dono, principalmente por<br />

se tratar <strong>de</strong> momentos tão intensamente<br />

vividos na nossa juventu<strong>de</strong>, e permanecendo<br />

bem vivos na nossa memória.<br />

Nunca é <strong>de</strong>mais recordar a inscrição que<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantos anos, <strong>de</strong>ixámos gravada<br />

na placa do DFE 4 na Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>:<br />

“Pelo que somos e pelo que fomos”.<br />

CMG Francisco Rosado<br />

Sócio Originário N.º 1900<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


António Ribeiro Ramos<br />

A<br />

ausência da guerra, sabemo-lo bem, não é só por si<br />

suficiente para que uma nação possa viver em Paz. Se<br />

prevalecer a insegurança resultante da sua fragilida<strong>de</strong><br />

tanto externa como interna, esta po<strong>de</strong> levar, e inevitávelmente<br />

leva, à perda da estabilida<strong>de</strong> necessária ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> valoração justa, <strong>de</strong> organização eficiente,<br />

<strong>de</strong> coesão nacional e <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> generalizada, fácilmente se<br />

instalam formas subtis <strong>de</strong> violência, tanto no plano material como<br />

no plano moral, per<strong>de</strong>ndo-se irremediávelmente os benefícios<br />

da Paz.<br />

Fragilizar primeiro é aliás, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre e por razões óbvias,<br />

uma preocupação essencial para qualquer potencial opositor. Em<br />

“A Arte da Guerra”, o mais antigo tratado militar que se conhece,<br />

escrito há mais <strong>de</strong> dois mil anos, falando <strong>de</strong> estratégia ofensiva, já<br />

Sun Tzu afirmava; “os habilidosos na arte <strong>de</strong> guerrear dominam o<br />

exército inimigo sem lhe dar batalha. Conquistam-lhe as cida<strong>de</strong>s<br />

sem ter que as assaltar, <strong>de</strong>rrubam-lhe o Estado sem operações<br />

prolongadas”.<br />

Por outro lado, a fragilida<strong>de</strong> diminui quando a segurança aumenta.<br />

Etimológicamente, a palavra segurança resulta da junção <strong>de</strong> duas<br />

outras palavras. “Se”, que significa “sem”. E “cura” que significa<br />

“cuidado”. Portanto “sem cuidado”, ou seja, “sem ansieda<strong>de</strong>”<br />

ou ainda, “sem medo” (Prof. Carvalho Rodrigues – Seminário<br />

no Instituto <strong>de</strong> Altos Estudos Militares em Dez. 1999). Mas, sem<br />

medo <strong>de</strong> quê? Eu diria que, sem medo <strong>de</strong> enfrentar dificulda<strong>de</strong>s,<br />

tanto na estabilida<strong>de</strong> como na mudança. Não pela via irracional<br />

da <strong>de</strong>svalorização das suas potenciais consequências, mas<br />

pela certeza <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r contar com as capacida<strong>de</strong>s e meios<br />

suficientes para que, quando aquelas não possam ser evitadas,<br />

sejam enfrentadas com elevada coesão, agilida<strong>de</strong>, e com<br />

garantidas probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> êxito.<br />

Mas a segurança é também complexa e multifacetada, porque<br />

se alarga a todos os sectores da activida<strong>de</strong> social, e precisa <strong>de</strong><br />

recursos para se manter, que são sempre limitados. Daí que,<br />

algumas ajudas viáveis e reconhecidamente úteis, possam ter<br />

aproveitamento na prática.<br />

Particularizando, e até porque muitos elementos militares, militarizados<br />

e civis que hoje zelam pela nossa segurança interna,<br />

ganharam e ostentaram anteriormente a bóina azul ferrete <strong>de</strong><br />

Fuzileiro, e levando em conta que não é possível aumentar ilimitadamente<br />

o numero <strong>de</strong>stes profissionais, vejamos dois exemplos<br />

curiosos <strong>de</strong> aproveitamento <strong>de</strong> recursos.<br />

Tanto nas minhas numerosas estadias nos portos, como na navegação<br />

em águas americanas, em face da necessida<strong>de</strong> que tinha<br />

<strong>de</strong> conhecer em pormenor a legislação aplicável naquele país,<br />

consultei vezes sem conta o CFR (Co<strong>de</strong> of Fe<strong>de</strong>ral Regulations),<br />

publicação que se compõe <strong>de</strong> vários volumes, que regulamenta<br />

<strong>de</strong> forma exaustiva tudo o que diz respeito aos navios e à navegação<br />

nos Estados Unidos, e que po<strong>de</strong> óbviamente também, ser<br />

consultado via Internet. Por vezes, alargava a minha leitura para<br />

além daquilo que procurava e, em 33 CFR, Chapter I, Subchapter<br />

A, Part 5, encontrei <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre uma curiosa organização <strong>de</strong><br />

voluntários <strong>de</strong>ntro da USCG (United States Coast Guard), <strong>de</strong>signada<br />

por “Auxiliary”. Não obstante a sua po<strong>de</strong>rosa Guarda Costeira,<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

Aproveitar Recursos<br />

opinião<br />

os Estados Unidos contam com 361 portos comerciais (revista<br />

“Proceedings”, U.S. Naval Institute, Abril 2007), com 200 milhas<br />

<strong>de</strong> Zona Económica Exclusiva tanto no Atlântico como no Pacífico,<br />

e ainda com uma enorme área oceânica <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> SAR<br />

(Search and Rescue – Busca e Salvamento) que, curiosamente no<br />

Atlântico e para Leste, confina com a que está atribuída a Portugal<br />

e que é igualmente vastíssima.<br />

Fundado em 23 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1939, o United States Coast Guard<br />

Auxiliary, conta actualmente com 32000 voluntários que sob a<br />

divisa “Always Ready” (“Sempre Prontos”) efectuam: Patrulhas,<br />

tanto <strong>de</strong> “safety” (segurança <strong>de</strong> navegação), como <strong>de</strong> “security”<br />

(contra activida<strong>de</strong>s ilícitas e terrorismo); Missões <strong>de</strong> busca e salvamento<br />

(SAR); Assistência a feridos ou em aci<strong>de</strong>ntes marítimos;<br />

Patrulhas e combate à poluição marítima; Promoção da eficiência<br />

da condução e assistência à segurança das embarcações <strong>de</strong> recreio;<br />

Exames para as diversas cartas da navegação <strong>de</strong> recreio, e<br />

ainda apoio às missões da Guarda Costeira, nas funções que lhes<br />

forem superiormente atribuídas.<br />

O “Auxiliary”, encontra-se distribuído por áreas, distritos e regiões,<br />

e frequentemente utilizou, e utiliza, embarcações, meios<br />

aéreos e estações <strong>de</strong> rádio, que são proprieda<strong>de</strong> dos seu próprios<br />

elementos. Daí que as condições <strong>de</strong> admissão envolvem; ser óbviamente<br />

<strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> norte americana, ter ida<strong>de</strong> superior a<br />

17 anos, ser proprietário <strong>de</strong> não menos <strong>de</strong> 25% <strong>de</strong> uma embarcação,<br />

<strong>de</strong> uma aeronave ou <strong>de</strong> uma estação <strong>de</strong> rádio, ou, possuir<br />

treino anterior a<strong>de</strong>quado e reconhecido. No entanto, os elementos<br />

do “Auxiliary” não po<strong>de</strong>m ser simultâneamente membros <strong>de</strong> outra<br />

instituição <strong>de</strong> natureza militar. Em caso <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m<br />

ser ainda integrados na Coast Guard Reserve, na perspectiva<br />

do reforço das capacida<strong>de</strong>s operacionais da USCG.<br />

O uso do uniforme da USCG é autorizado, com as características<br />

e nas condições superiormente <strong>de</strong>terminadas.<br />

De um outro modo e <strong>de</strong> forma mais discreta, também no Reino<br />

Unido, é possível estabelecer uma relação, <strong>de</strong> maior proximida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> colaboração com a Polícia local, por meio da constituição <strong>de</strong><br />

“Neighbourhood Watch” ou <strong>de</strong> “Home Watch Groups”, equipas<br />

<strong>de</strong> vigilância a partir das próprias residências, que promovem,<br />

segundo a orientação da Polícia, o controle regular das suas áreas<br />

vizinhas. Estes cidadãos britânicos voluntários não usam uniforme,<br />

mas participam ainda assim em acções préveamente <strong>de</strong>finidas<br />

e promovidas sob a tutela das autorida<strong>de</strong>s policiais.<br />

Os membros do “Auxiliary” ou até mesmo <strong>de</strong>stas equipas <strong>de</strong><br />

colaboração com a Polícia, po<strong>de</strong>m a seu tempo beneficiar <strong>de</strong> algum<br />

prestígio, e até <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> reconhecimento social como a<br />

facilitação da procura e da obtenção <strong>de</strong> emprego na socieda<strong>de</strong><br />

civil, por exemplo. Mas não se lhes atribui qualquer privilégio em<br />

relação ao normal funcionamento das próprias instituições que<br />

apoiam e que valorizam. Trata-se apenas, o que não é pouco, <strong>de</strong><br />

aproveitar recursos patrióticos e motivações vocacionais específicas.<br />

E <strong>de</strong> simplesmente os colocar com dignida<strong>de</strong> ao serviço da<br />

nação.<br />

António Ribeiro Ramos<br />

Sócio A<strong>de</strong>rente n.º 1053<br />

9


opiniao<br />

Carla Marques Pinto<br />

(Advogada)<br />

No final do artigo anterior, publicado na “O Desembarque”<br />

N.º 14, <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012, escrevemos: “Para a próxima<br />

cá estaremos, se os homens e a Providência <strong>de</strong>ixarem<br />

com um tema particularmente interessante, qual seja «O<br />

Advogado, o Dever <strong>de</strong> Servir a Justiça e o seu Direito/Dever <strong>de</strong><br />

Protestar»”.<br />

De facto, mesmo a feroz e alucinante velocida<strong>de</strong> da vida <strong>de</strong><br />

hoje, que cada vez mais tritura e condiciona, aliada ao início<br />

do ano judicial, não foram suficientes para <strong>de</strong>sajudar a minha<br />

Providência. E os homens <strong>de</strong>ixaram…<br />

Mas vamos ao tema que nos parece particularmente interessante<br />

e actual, nesta fase em que o Advogado e a Justiça parecem ser<br />

os bo<strong>de</strong>s expiatórios da incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r político mudar,<br />

mas <strong>de</strong> mudar bem.<br />

Parece óbvio que, no rol dos muitos e diversificados <strong>de</strong>veres – e,<br />

porventura, dos poucos direitos – e das muitíssimas e “apertadas”<br />

incompatibilida<strong>de</strong>s que o actual Estatuto da Or<strong>de</strong>m impõe ao<br />

Advogado estará implícito o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> servir a Justiça, embora a<br />

afirmação não tenha ficado expressamente <strong>de</strong>clarada.<br />

Porém, e porque só assim enten<strong>de</strong>mos a nossa profissão e missão,<br />

perante a Comunida<strong>de</strong> e o Estado <strong>de</strong> Direito, não resistimos<br />

à tentação <strong>de</strong> citar, na integra, o n.º 1 do artigo 76.º do anterior<br />

estatuto da OA pelo que tem <strong>de</strong> força histórica e intrínseca:<br />

«O advogado <strong>de</strong>ve, no exercício da profissão e fora <strong>de</strong>la,<br />

consi<strong>de</strong>rar-se um servidor da justiça e do direito e, como tal,<br />

mostrar-se digno da honra e das responsabilida<strong>de</strong>s que lhe<br />

são inerentes».<br />

O Código <strong>de</strong> Deontologia dos Advogados da União Europeia, no<br />

seu ponto 1.1., já anteriormente referenciado, na “Advocacia<br />

como Profissão <strong>de</strong> Interesse Público”, preten<strong>de</strong>, em nossa opinião,<br />

transmitir a mesma i<strong>de</strong>ia, porventura ampliando-a sem contudo<br />

conseguir uma fórmula mais forte, clara e incisiva.<br />

Mas, o Dr. António Arnaut, no seu “Estatuto anotado” (Fora do Texto<br />

– Coimbra – 1992) ao <strong>de</strong>senhar <strong>de</strong> forma relevante “a função ético-<br />

-social da advocacia” afirma que do Advogado se exige “um comportamento<br />

moral e irrepreensível tanto no exercício da profissão<br />

como fora <strong>de</strong>la” chegando mesmo a adiantar que “o advogado<br />

serve a justiça e o direito mais do que a lei, ao contrário do juiz<br />

que lhe <strong>de</strong>ve estrita obediência”.<br />

De facto, enquanto o actual Estatuto reclama a in<strong>de</strong>pendência<br />

do Advogado afirmando que, “no exercício da profissão, mantém<br />

sempre em quaisquer circunstâncias a sua in<strong>de</strong>pendência,<br />

<strong>de</strong>vendo agir livre <strong>de</strong> qualquer pressão, especialmente a que<br />

resulte dos seus próprios interesses ou <strong>de</strong> influências exteriores,<br />

abstendo-se <strong>de</strong> negligenciar a <strong>de</strong>ontologia profissional no intuito<br />

<strong>de</strong> agradar ao seu cliente, aos colegas, ao tribunal ou a terceiros”<br />

(art.º 84) – e isto é, sem dúvida, servir a justiça – o texto do anterior,<br />

<strong>de</strong> forma clara, impunha-lhe “recusar o patrocínio a questões que<br />

consi<strong>de</strong>re injustas” (art.º 78, alínea c-).<br />

A justiça é, por isso mesmo, um dos seus valores e – seguramente<br />

o <strong>de</strong>terminante – que para o Advogado, o direito <strong>de</strong>verá<br />

prosseguir.<br />

O Direito <strong>de</strong> Dizer<br />

O Advogado, o Dever <strong>de</strong> servir a Justiça<br />

e o seu Direito/Dever <strong>de</strong> Protestar<br />

Como refere Gue<strong>de</strong>s da Costa, “não foi certamente por acaso que<br />

a lei passou a referir-se ao Advogado como servidor da justiça<br />

e do direito, quando anteriormente apenas falava <strong>de</strong> servidor do<br />

direito” (570.º do E.J.).<br />

Temos assim o Advogado como servidor da lei e do direito<br />

mas, acima <strong>de</strong> todos os valores, da justiça sendo que, o <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> obediência à lei, <strong>de</strong> não advogar contra lei expressa, <strong>de</strong> não<br />

litigar <strong>de</strong> má-fé, <strong>de</strong> não promover diligências reconhecidamente<br />

dilatórias ou prejudiciais à <strong>de</strong>scoberta da verda<strong>de</strong> – não são mais<br />

do que obrigações tacitamente subordinadas ao primordial <strong>de</strong>ver<br />

<strong>de</strong> servir a justiça, dando corpo à nobre e inalienável missão <strong>de</strong><br />

intervir na <strong>de</strong>fesa dos direitos liberda<strong>de</strong>s e garantias e na busca<br />

da salvaguarda dos direitos humanos.<br />

O Advogado ganhou ao longo dos anos e dos séculos, por mérito<br />

próprio, o estatuto <strong>de</strong> meio indispensável para se atingir o objectivo<br />

<strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática e justa.<br />

A abolição da escravatura e da pena <strong>de</strong> morte e a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

todos os cidadãos perante a lei (nas Or<strong>de</strong>nações distinguiam-se<br />

nobres e plebeus para aplicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas penas) “nasceram<br />

da oposição <strong>de</strong> muitos advogados ao direito positivo e à<br />

justiça legal em <strong>de</strong>terminado momento histórico” (Gue<strong>de</strong>s da Costa<br />

– obr. cit.).<br />

Ao <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> servir a justiça – e por isso mesmo – soma-se o<br />

direito/<strong>de</strong>ver, do Advogado, protestar.<br />

Para além do direito <strong>de</strong> protesto mesmo em audiência <strong>de</strong><br />

julgamento (art.º 75.º do EOA) é seu <strong>de</strong>ver para com a Comunida<strong>de</strong><br />

“<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos, liberda<strong>de</strong>s e garantias” e “pugnar pela boa<br />

aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo<br />

aperfeiçoamento da cultura e instituições jurídicas” (art.º 85.º).<br />

Mas visando uma abordagem, por via mais pragmática, <strong>de</strong><br />

protestar, <strong>de</strong> lutar contra as violações <strong>de</strong> direitos humanos e <strong>de</strong><br />

salvaguardar as liberda<strong>de</strong>s e as garantias dos cidadãos, vejamos<br />

o que nos dizia o anterior estatuto da OA (art.º 78, alínea e-) cujo estilo<br />

frontal nos toca particularmente:<br />

«É <strong>de</strong>ver do Advogado para com a comunida<strong>de</strong>:<br />

e)- Protestar contra as violações dos direitos humanos e<br />

combater as arbitrarieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que tiver conhecimento no<br />

exercício da profissão».<br />

Sabido como é que esses direitos e garantias que estão hoje consagrados<br />

na Constituição e nas leis, ao nível da execução da justiça,<br />

são muitas vezes <strong>de</strong>srespeitados, não apenas pelos órgãos<br />

<strong>de</strong> polícia criminal que, sob a pressão da opinião pública e da hierarquia<br />

e fruto as mais das vezes das suas juventu<strong>de</strong>s se revelam<br />

impantes <strong>de</strong> mostrar serviço e arrecadar troféus mas, algumas<br />

vezes, pelas próprias Magistraturas. Uns e outras cometem o erro<br />

<strong>de</strong> se avaliarem pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acusações formuladas e <strong>de</strong><br />

processos <strong>de</strong>spachados e julgados e não pela sua qualida<strong>de</strong>!<br />

É claro que a postura dos Advogados ao longo dos anos e, sobretudo,<br />

no regime anterior <strong>de</strong> ditadura, foi seguramente <strong>de</strong>terminante<br />

para que algumas situações mudassem.<br />

10 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


Outrossim, a organização da actual advocacia em muitos dos países<br />

evoluídos do Planeta e, nomeadamente, ao nível da Europa –<br />

utilizando o mo<strong>de</strong>lo da advocacia colegiada, em contraposição<br />

com a advocacia livre (EUA, Suíça, Finlândia e Noruega) e com a<br />

advocacia <strong>de</strong> Estado (que vigorou nas republicas socialistas da<br />

ex-União Soviética) em que o princípio da in<strong>de</strong>pendência não foi<br />

sacrificado e com o interesse público se estabeleceu um rigoroso<br />

equilíbrio – foi factor <strong>de</strong>terminante para se abolir o anátema dos<br />

estados centralistas e todos po<strong>de</strong>rosos, se arrogarem o exclusivo<br />

da administração da justiça sendo também óbvio que a consolidação<br />

legal na prática da in<strong>de</strong>pendência da profissão contribuíram<br />

para se reafirmarem as garantias individuais.<br />

Porém, em nossa opinião tudo isto ainda é pouco. E também não<br />

basta que se afirme o direito/<strong>de</strong>ver do Advogado protestar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

os direitos, liberda<strong>de</strong>s e garantias, apenas no âmbito da<br />

profissão.<br />

Acreditamos que ser advogado constitui um estado <strong>de</strong> alma inteiro<br />

não se sabendo on<strong>de</strong> se encontra a sua ética pessoal com a<br />

fronteira da <strong>de</strong>ontologia profissional.<br />

E tudo isto para dizer que os quadros normativos e jurídicos po<strong>de</strong>m<br />

assegurar, na teoria, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protesto mas, se eles<br />

próprios, os advogados, ou a sua Or<strong>de</strong>m, não dispuserem dos<br />

meios práticos para ultrapassar resistências, autismos e mentalida<strong>de</strong>s,<br />

restam-se como vozes pregando no <strong>de</strong>serto dos ouvidos<br />

moucos do sistema e dos Políticos.<br />

Ficam uns poucos – os Homens e as Mulheres <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> –<br />

que vão fazendo ouvir-se pelos lugares que ocupam na estrutura<br />

da Or<strong>de</strong>m ou pelos seus próprios prestígios pessoais.<br />

Mas não chegam.<br />

Quedam-se, a esmagadora maioria, pelo silêncio quase mórbido<br />

e as mais das vezes revoltante, dos seus anonimatos.<br />

E são estes que são esmagados pelas tradicionais e algo<br />

frequentes prepotências dos tribunais e pela embriaguez dos<br />

po<strong>de</strong>res constituídos, muito ao jeito corporativista porque são,<br />

<strong>de</strong> facto estes, os anónimos, os que se confrontam, no seu diaa-dia,<br />

com as <strong>de</strong>fesas dos direitos e das liberda<strong>de</strong>s dos mais<br />

“pequenos”, isto é, dos menos po<strong>de</strong>rosos, não estando eles<br />

próprios, ainda, em condições <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> prestígio, <strong>de</strong> saber e<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, para lançarem – sem grave prejuízo – os seus gritos <strong>de</strong><br />

“protesto” e <strong>de</strong> “combate”.<br />

Parece-nos pacífico que a intervenção ao nível dos Direitos<br />

Humanos não se po<strong>de</strong> reduzir ao cidadão que, quando da<br />

<strong>de</strong>tenção, foi eventualmente agredido pela polícia. Porventura<br />

começará aqui alguma parte da acção. Mas a missão terá <strong>de</strong> ser,<br />

seguramente, mais ampla.<br />

Porque a angústia e o <strong>de</strong>safio serão comuns, os mais jovens que<br />

por vocação abraçaram a Advocacia po<strong>de</strong>rão questionar-se,<br />

assim:<br />

– Como po<strong>de</strong>remos continuar a permitir que cidadãos sejam<br />

<strong>de</strong>tidos com tamanha leveza permanecendo em prisão<br />

preventiva ao abrigo <strong>de</strong> uma lei que, mais por interpretação<br />

cómoda e abusiva do que por ela própria, po<strong>de</strong> consentir que<br />

lhes não seja comunicado o on<strong>de</strong>, o como, o quem e o porquê,<br />

sem a mínima possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercerem o contraditório e<br />

<strong>de</strong> o tempo e os prazos <strong>de</strong> prisão preventiva se prolongarem<br />

para além do que, Francisco Salgado Zenha, antes do 25 <strong>de</strong><br />

Abril criticava por o prazo <strong>de</strong> seis meses ser <strong>de</strong>masiadamente<br />

alargado e a que chamava “o regime prisional <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção<br />

policial”!?<br />

– Ficamos pelo recurso?<br />

opinião<br />

– Não intervimos para além do burocratizado mecanismo judicial?<br />

– Não protestamos?<br />

– Não exigimos que – se a lei é <strong>de</strong>masiado perfeita para os juízes<br />

que temos, no fundo, para o Povo que somos – se mu<strong>de</strong> e se<br />

adapte às mentalida<strong>de</strong>s, ao contrário <strong>de</strong> se conceber uma lei<br />

para o século XXII que não somos capazes <strong>de</strong> bem aplicar no<br />

século XXI?<br />

– Como po<strong>de</strong>remos continuar a conviver com esta realida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cidadãos presumíveis inocentes serem “linchados” e <strong>de</strong>struídos<br />

em praça pública em acesas fogueiras mediáticas, por via <strong>de</strong><br />

um estafado segredo <strong>de</strong> justiça que todos os dias é violado,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, pelas investigações, em <strong>de</strong>scaradas cumplicida<strong>de</strong>s<br />

com agentes da comunicação social?<br />

– E será legítimo pedir ao Advogado que tem o seu cliente preso,<br />

muito mais para ser investigado do que por o ter sido já,<br />

que sem “armas” para esgrimir, se mantenha disciplinada e<br />

humil<strong>de</strong>mente amordaçado por o recomendarem as melhores<br />

normas <strong>de</strong>ontológicas?<br />

– E será possível ficarmos indiferentes ao nosso elevadíssimo<br />

rácio <strong>de</strong> prisão incluindo a preventiva (cerca <strong>de</strong> 130 presos<br />

por 1000.000 habitantes), dos maiores da Europa Comunitária<br />

(que mantém, há muitos anos, médias estabilizadas <strong>de</strong> 80) em<br />

contraposição com as mais baixas taxas <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> e,<br />

sobretudo, <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> violenta?<br />

– E no que respeita às prisões?<br />

– Quando é que lá chegamos?<br />

– Quando po<strong>de</strong>remos furar a cortina e alcançar aqueles que, já<br />

con<strong>de</strong>nados e sob tutelado Estado (que ao contrário do que<br />

<strong>de</strong>sejaríamos tem tido alguma dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>monstrar que<br />

é uma pessoa <strong>de</strong> bem) se encontram numa posição altamente<br />

fragilizada e muitas vezes impossibilitados <strong>de</strong> flexibilizarem as<br />

suas penas porque esperam por cúmulos jurídicos que nunca<br />

mais chegam?<br />

– Po<strong>de</strong>remos nós, Advogados, continuar a conviver com o<br />

colossal atropelo dos direitos dos arguidos, em processo penal<br />

e com a ditadura do direito penitenciário e da execução das<br />

penas, on<strong>de</strong> se mudam leis e “as moscas” continuam?<br />

– E a efectiva reparação das vítimas?<br />

– E as vítimas das vítimas?<br />

Perguntas incómodas que revelarão verda<strong>de</strong>s incómodas e que,<br />

os mais jovens po<strong>de</strong>rão questionar-se!<br />

Mas ainda com algum alento, o que vale por dizer com alguma<br />

ponta <strong>de</strong> esperança apetece-nos, também, perguntar:<br />

– Contra quê ou contra quem <strong>de</strong>vemos “protestar” e “combater”<br />

como na tradição portuguesa, e não apenas na nossa, tantos<br />

Advogados o fizeram ao longo dos anos, <strong>de</strong>signadamente, nos<br />

mais difíceis da 1.ª República e do Estado Novo?<br />

– Contra a lei que o Prof. Doutor Jorge Figueiredo Dias afirma ser<br />

uma das mais evoluídas da Europa?<br />

– Contra o po<strong>de</strong>r Politico/Administrativo que, em todas as<br />

<strong>de</strong>mocracias oci<strong>de</strong>ntais é cada vez mais fraco e conformado<br />

com os <strong>de</strong>spotismos dos Po<strong>de</strong>res Judicial (e Económico) e<br />

que, em Portugal, se vem revelando receoso <strong>de</strong> estabelecer<br />

o “equilíbrio equilibrado” (perdoe-se-nos o pleonasmo) <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res, indispensável ao verda<strong>de</strong>iro Estado <strong>de</strong> Direito?<br />

– Ou contra a in<strong>de</strong>pendência “<strong>de</strong> facto” que não “<strong>de</strong> jure” do<br />

Ministério Público?<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 11


opiniao<br />

– Ou contra as in<strong>de</strong>pendências, inamovibilida<strong>de</strong>s e irresponsabilida<strong>de</strong>s<br />

das Magistraturas Judiciais, sem dúvida, indispensáveis<br />

aos <strong>de</strong>sempenhos livres da função mas, não valores absolutos e<br />

inquestionáveis, ainda mais quando são conhecidos erros grosseiros<br />

ou corrosivos comprometimentos políticos ou corporativos<br />

que induzem ao dramático erro em ca<strong>de</strong>ia?<br />

– Contra as cumplicida<strong>de</strong>s das Magistraturas, munidas <strong>de</strong><br />

estruturas sindicais que se alternam nos respectivos Conselhos<br />

Superiores, ou as partilhas dos mesmos espaços funcionais?<br />

– Ou contra os corporativismos por <strong>de</strong>ntro dos quais a Revolução<br />

não passou?<br />

– E po<strong>de</strong>remos nós, Advogados “da regra” que não “da excepção”<br />

intervir sozinhos?<br />

– E será minimamente eficaz qualquer eventual intervenção?<br />

Seguramente não nos parece.<br />

Parece-nos, isso sim, possível intervir como Classe forte, combativa,<br />

credível e prestigiada.<br />

Parece-nos possível através da estrutura da Or<strong>de</strong>m dos Advogados<br />

(que cada vez mais gostaríamos <strong>de</strong> ver mais consistente, coesa e<br />

solidária) e especificamente por via da sua Comissão <strong>de</strong> Direitos<br />

Humanos, em acções dirigidas com espírito equivalente ao dos<br />

verda<strong>de</strong>iros grupos <strong>de</strong> pressão (preferimos a expressão francesa<br />

A Direcção Nacional informa que já foram assinados os seguintes<br />

protocolos que proporcionam várias vantagens e benefícios aos<br />

nossos Associados:<br />

– Universida<strong>de</strong> Lusófona;<br />

– Instituto Superior <strong>de</strong> Segurança da Universida<strong>de</strong> Lusófona;<br />

– Grupo <strong>de</strong> Amigos do Museu <strong>de</strong> Marinha (GAMMA);<br />

– Motricida<strong>de</strong> Humana - <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> Formação Desportiva;<br />

– KANGAROO - Gimnoparque;<br />

– Casa <strong>de</strong> Repouso “Quinta da Relva”;<br />

– Casa <strong>de</strong> Repouso “Villa Pinhal Novo”;<br />

– Casa <strong>de</strong> Repouso “S. João <strong>de</strong> Deus”;<br />

– ARISTON Termo Grupo;<br />

– ANASP - <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> Agentes <strong>de</strong> Segurança Privada;<br />

– Manuel J. Monteiro & Cª., Lda. - Equipamentos Electródomésticos;<br />

Informamos os nossos Associados que o encerramento do Snack-<br />

-Bar da AFZ nos dias 4 e 5 <strong>de</strong> Fevereiro p.p. ficou a <strong>de</strong>ver-se<br />

às obras <strong>de</strong> conservação e manutenção que <strong>de</strong>correm na nossa<br />

Se<strong>de</strong> Social.<br />

A sua activida<strong>de</strong> normal reiniciou-se no dia 6 <strong>de</strong> Fevereiro,<br />

abrindo com novo concessionário, novas ementas e novos<br />

preços, esperando-se uma maior dinâmica para que possamos<br />

servir melhor os Sócios.<br />

Daqui os exortamos a que frequentem a nossa/Vossa Se<strong>de</strong> e o<br />

Bar e o Salão polivalente e <strong>de</strong> refeições e a que os Camaradas<br />

INFORMAÇÕES<br />

por mais genuína) rigorosamente coor<strong>de</strong>nadas e sujeitas a um<br />

planeamento e a uma programação institucionalmente <strong>de</strong>finidos<br />

e apoiados.<br />

De facto, só nos parece possível empenhar os advogados na luta<br />

dos direitos, liberda<strong>de</strong>s e garantias, enquanto integrantes <strong>de</strong> um<br />

corpo profissionalizado e historicamente responsável quando<br />

cada um, no seu “terreno”, tiver força e apoio, necessariamente<br />

advindos <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong>scentralizadas, ao nível distrital e<br />

concelhio, que permitam aproximarmo-nos das realida<strong>de</strong>s e<br />

especificida<strong>de</strong>s locais.<br />

Como agora se usa dizer: funcionando em re<strong>de</strong>.<br />

Teríamos, assim, o Advogado mais próximo do cidadão e,<br />

consequentemente, uma Or<strong>de</strong>m ainda mais credibilizada e<br />

reconhecida.<br />

E para a próxima, caros consócios fuzileiros, famílias, não fuzileiros<br />

mas Amigos <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> “família”, enfim, a todo o universo<br />

da AFZ incomodar-vos-ei e terminarei esta temática genérica sobre<br />

<strong>de</strong>ontologia, propondo-vos como tema específico, «A Advocacia<br />

e o Direito dos Cidadãos ao Acesso à Justiça».<br />

Até lá, fiquem bem e … “<strong>Fuzileiros</strong> para sempre”.<br />

– Revista <strong>de</strong> Marinha.<br />

Snack-Bar/Salão polivalente e <strong>de</strong> refeições<br />

Carla Marques Pinto<br />

Sócia Descen<strong>de</strong>nte n.º 1870<br />

Email: carlamarquespinto@msn.com<br />

Continuamos em negociações com quatro Companhias <strong>de</strong> Seguros,<br />

embora nos pareça que estas apenas estão interessadas se a AFZ<br />

lhes garantir um número mínimo <strong>de</strong> sócios tomadores <strong>de</strong> seguros,<br />

a que a <strong>Associação</strong>, como é óbvio, não po<strong>de</strong>rá obrigar-se.<br />

Estamos também a negociar um Protocolo com empresa <strong>de</strong><br />

turismo.<br />

Os Protocolos estão publicados no site da AFZ e foram remetidos<br />

para todos os sócios <strong>de</strong> que conhecemos o respectivo en<strong>de</strong>reço<br />

electrónico.<br />

Aconselhamos os nossos Sócios a consultarem o site, na Internet<br />

– www.associacaofuzileiros.pt – ou a informarem-se através <strong>de</strong><br />

email: afuzileiros@netvisao.pt, do tel.: 212 060 079 ou do telem.:<br />

927 979 461.<br />

Aconselhamos também os nossos associados a remeterem-nos os<br />

seus en<strong>de</strong>reços <strong>de</strong> correio electrónico para facilitar as comunicações<br />

que esta direcção preten<strong>de</strong> estabelecer em tempo real.<br />

organizadores dos habituais Almoços/Convívios, consultem<br />

sempre a AFZ e/ou o respectivo concessionário do Snack-Bar,<br />

porque encontrarão, por certo, condições <strong>de</strong> relação qualida<strong>de</strong>/<br />

/preço muito favoráveis, para além <strong>de</strong> um ambiente agradável e<br />

muito propício à realização <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong>sta natureza, em que<br />

as nostálgicas sauda<strong>de</strong>s, as alegrias, a amiza<strong>de</strong>, a solidarieda<strong>de</strong>,<br />

as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se po<strong>de</strong>m revelar em<br />

toda a sua plenitu<strong>de</strong>.<br />

Saudações a todos os Sócios e suas Famílias.<br />

A Direcção Nacional da AFZ<br />

12 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


convívios<br />

Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 4<br />

Guiné 1965/67<br />

6 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2012<br />

Decorreu no passado dia 6 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2012, na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Peniche, um convívio <strong>de</strong> partilha <strong>de</strong> emoções, <strong>de</strong> ex-<br />

<strong>Fuzileiros</strong> que integraram o Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Especiais n.º 4 (DFE 4) para comemorarem o seu 47.º Aniversário<br />

da partida para a Guiné, em 11 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1965, a bordo do<br />

N.R.P. Vouga, on<strong>de</strong> experimentaram as agruras da guerra durante<br />

aproximadamente dois anos, regressando o DFE 4 a Portugal<br />

sem baixas, o que é <strong>de</strong> realçar, apesar dos 20% <strong>de</strong> feridos em<br />

combate.<br />

Para esse convívio, foi programada uma visita guiada à fortaleza<br />

e Museu Municipal. Aí tomaram conhecimento dos muitos episódios<br />

ali passados e <strong>de</strong> como eram tratados os presos políticos<br />

pela PIDE, durante o governo <strong>de</strong> Salazar, realçando-se a fuga do<br />

Dr. Álvaro Cunhal e <strong>de</strong> mais nove prisioneiros. Histórias que, para<br />

aqueles que não sabiam, nem conheciam por <strong>de</strong>ntro aquela fortaleza,<br />

os admirou e até mesmo angustiou.<br />

No final da visita, rumamos pela marginal Sul da cida<strong>de</strong>, junto à<br />

costa, até ao Cabo Carvoeiro, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>mos ver, à distância <strong>de</strong><br />

6 milhas marítimas da costa, o Arquipélago das Ilhas Berlengas,<br />

(Berlenga Gran<strong>de</strong>, Farilhões, à excepção das Estelas que não<br />

eram visíveis pelo facto <strong>de</strong> permanecer sobre elas nevoeiro).<br />

Viajando pela marginal Norte da Cida<strong>de</strong>, dirigimo-nos para Sul,<br />

até à Consolação, Freguesia da Atouguia da Baleia, “acampando”<br />

no Restaurante Maresol para aí <strong>de</strong>gustar uma <strong>de</strong>liciosa cal<strong>de</strong>irada<br />

<strong>de</strong> peixe à moda <strong>de</strong> Peniche.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 13


convívios<br />

A <strong>de</strong>terminada altura, o ex-Comandante do DFE 4, usando<br />

da palavra, realçou o espírito <strong>de</strong> camaradagem, respeito pela<br />

hierarquia, espírito <strong>de</strong> coragem e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, entre<br />

os Homens do DFE 4, passados que são 47 anos.<br />

A seguir, o promotor <strong>de</strong>ste evento recordou os <strong>Fuzileiros</strong> que já<br />

partiram, e ao anunciar o nome <strong>de</strong> cada um, <strong>de</strong> viva voz, os outros<br />

respondiam,”SEMPRE PRESENTE”.<br />

Seguiu-se o toque do Hino da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, que todos<br />

emocionalmente cantaram, não escon<strong>de</strong>ndo algumas lágrimas<br />

que corriam pelo rosto <strong>de</strong> muitos dos presentes.<br />

E o autor <strong>de</strong>stas linhas, como promotor do evento tem <strong>de</strong> recordar,<br />

com emoção, as palavras do Autor do Hino: “Só tem Pátria quem<br />

sabe lutar, só tem Pátria quem sabe morrer”.<br />

Para acalmar as emoções, o Comandante do Destacamento,<br />

Comt Santos Paiva foi convidado a partir o Bolo <strong>de</strong> Aniversário<br />

que ele próprio ofereceu como, aliás, tem vindo a ser seu hábito,<br />

em todos os convívios do DFE 4.<br />

E no brin<strong>de</strong> que fez, o Comt do Destacamento prometeu que ,no<br />

aniversário dos 50 anos, haverá uma gran<strong>de</strong> festa. Esperamos lá<br />

chegar se Deus quiser.<br />

O convívio continuou com música ao vivo, até “ao <strong>de</strong>sembarque”<br />

do último elemento<br />

Nota da Redacção: Ao camarada Comt Lopes Henriques agra<strong>de</strong>cemos as suas iniciativas e<br />

formulamos votos <strong>de</strong> que, este ano, comemoremos, todos, com saú<strong>de</strong>,<br />

o 48.º Almoço/Convívio do DFE4-Guiné-65/67, na Se<strong>de</strong> da AFZ, para<br />

cujo evento daremos todo o apoio.<br />

Realizou-se em Ton<strong>de</strong>la, no passado<br />

dia 8 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012 mais um<br />

convívio <strong>de</strong> Marinheiros e ex-Marinheiros<br />

da Beira Alta, on<strong>de</strong> estiveram representadas<br />

as Associações <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la,<br />

Arganil, Carregal do Sal, Nelas, Viseu,<br />

Aveiro etc.<br />

Do programa constou a visita, li<strong>de</strong>rada<br />

pelo Camarada Carlos Borges, ao Museu<br />

<strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la com salas recheadas <strong>de</strong> loiças<br />

<strong>de</strong> barro preto, artefactos <strong>de</strong> agricultura,<br />

rochas graníticas <strong>de</strong> outros tempos e<br />

representações históricas dos usos e<br />

costumes das populações.<br />

Seguiu-se um cortejo automóvel, via<br />

Ferreira do Dão, aon<strong>de</strong> se prosseguiu o<br />

“ataque ao inimigo”, sendo que, já com a<br />

barriga a dar horas, lá conseguimos atingir<br />

o objectivo: o almoço convívio.<br />

Depois do repasto cada um regressou à<br />

sua “Base” com a habitual <strong>de</strong>terminação<br />

e com os objectivos <strong>de</strong>lineados cumpridos<br />

e, o que foi mais importante, sem baixas<br />

no asfalto.<br />

Lopes Henriques<br />

Sócio Originário n.º 938<br />

XXXI Encontro <strong>de</strong> Marinheiros da<br />

Beira Alta<br />

8 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012<br />

Para o próximo ano, haverá novamente outras “acções” semelhantes a <strong>de</strong>senvolver. Neste evento, tivemos a colaboração do nosso<br />

Sócio e Membro Suplente da Direcção da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />

José <strong>de</strong> Oliveira Pinto<br />

Sócio nº 1049<br />

14 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


Aconteceu no dia 27 <strong>de</strong> Outubro<br />

último, o 4.º Almoço/Convívio da<br />

Companhia <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 3 que<br />

serviu na Guiné nos anos 1963/1965.<br />

O Convívio <strong>de</strong>correu com muita alegria e<br />

camaradagem.<br />

Para o ano vamos comemorar os 50 anos<br />

da nossa partida para a Guiné.<br />

Fernando Maudslay<br />

Sóc. Orig. n.º 1772<br />

Nota da Redacção: Formulamos votos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para todos<br />

e <strong>de</strong> que, para o ano, se comemorem<br />

os vossos 50 anos <strong>de</strong> operacionais, no<br />

Snack-Bar da Se<strong>de</strong> Nacional da nossa<br />

<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, no Barreiro.<br />

Companhia <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 3<br />

Guiné 1963/65<br />

27 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2012<br />

convívios<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 15


convívios<br />

Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 12<br />

Guiné 1967/69<br />

Também uma história <strong>de</strong> querer e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />

3 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<br />

Comemorou-se, no passado dia 3 <strong>de</strong> Novembro, na Quinta da<br />

Alegria, o 45.º aniversário do DFE N.º 12 – Guiné 1967/69 e<br />

o seu 35.º Almoço/Convívio.<br />

Estiveram presentes cerca <strong>de</strong> 70 pessoas entre fuzileiros e famílias.<br />

Os nossos Oficiais eram:<br />

Comandante – Fernando A. Pedrosa; Imediato – Serradas Duarte;<br />

3.º Oficial – Rebordão <strong>de</strong> Brito; 4.º Oficial – Benjamim Lopes<br />

Abreu.<br />

O Convívio, como sempre, foi muito agradável mas, este ano, tivemos<br />

a presença <strong>de</strong> um Camarada a respeito do qual vale a pena<br />

contar uma pequena história e por isso é <strong>de</strong>la que vou falar.<br />

O Fre<strong>de</strong>rico Boia, para nós conhecido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre pelo “Bebé”<br />

saiu da Marinha <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> termos terminado a comissão na Guiné<br />

e emigrou para a Inglaterra mas manteve-se sempre em contacto<br />

com o que se passava com os <strong>Fuzileiros</strong> e, em especial, com o<br />

nosso DFE 12, embora estivéssemos cerca <strong>de</strong> 10 anos um pouco<br />

<strong>de</strong>sligados porque ainda havia a guerra e, naturalmente, as pessoas<br />

estavam, ainda, sem para<strong>de</strong>iro certo.<br />

Porém, em 1977, houve alguém que se lembrou <strong>de</strong> começar a<br />

procurar on<strong>de</strong> paravam os elementos <strong>de</strong> DFE 12 e, a partir <strong>de</strong>ssa<br />

iniciativa, foi possível realizar este ano o 35.º Almoço/Convívio<br />

sem interrupções!<br />

O nosso “Bebé” – que tem uma Alma do “fuzileiro uma vez,<br />

fuzileiro para sempre” – vinha todos os anos <strong>de</strong> Inglaterra para<br />

confraternizar com os seus camaradas!<br />

Fre<strong>de</strong>rico Boia “Bebé”<br />

16 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


convívios<br />

Até que, em 2004, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter vindo ao almoço que, por minha<br />

iniciativa, organizamos, há mais <strong>de</strong> 20 anos, no 1.º Sábado <strong>de</strong> Novembro,<br />

recebi a triste notícia <strong>de</strong> que o nosso Camarada “Bebé”<br />

tinha sofrido um AVC.<br />

Em Setembro <strong>de</strong>ste ano, foi obrigado a regressar a Portugal para<br />

viver num Lar <strong>de</strong> idosos na sua Terra Natal, Trancoso; com sérios<br />

problemas <strong>de</strong> locomoção é obrigado a <strong>de</strong>slocar-se numa ca<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> rodas.<br />

Mas temos que louvar e honrar o Espírito <strong>de</strong> Fuzileiro, a força <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong> e a solidarieda<strong>de</strong> que o “Bebé” ainda conserva!<br />

Este ano, <strong>de</strong>cidiu conversar com a Direcção do Lar, agora a sua<br />

casa, que <strong>de</strong>cidiu trazê-lo ao nosso convívio, dando-nos uma<br />

enorme satisfação.<br />

O “Bebé” comprovou ser também um gigante, dando uma gran<strong>de</strong><br />

lição a alguns Camaradas que, por vezes, se “esquivam” a marcar<br />

presença, sem motivo aparente.<br />

Um gran<strong>de</strong> abraço <strong>de</strong> apoio e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos nós para<br />

o “Bebé”.<br />

Força! Vai em frente.<br />

Manuel Ramos (Porto)<br />

Sócio Originário n.º 90<br />

Nota da Redacção: A Direcção Nacional da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> envia um gran<strong>de</strong><br />

abraço <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> ao Camarada Fe<strong>de</strong>rico José <strong>de</strong> Almeida Boia<br />

– Sócio Originário n.º 643 – (com quem entraremos em contacto)<br />

disponibilizando-se para eventual apoio necessário) e releva, louvando,<br />

a atitu<strong>de</strong> do Lar Santa Catarina, sito na Av.ª da Ribeirinha – Reboleiro<br />

– 6420-592 Trancoso, (Tel: 271 829 800), com cuja instituição<br />

<strong>de</strong>sejaríamos subscrever um Protocolo <strong>de</strong> Colaboração.<br />

Ao camarada Manuel Ramos agra<strong>de</strong>cemos as suas iniciativas e<br />

formulamos votos <strong>de</strong> que, para o próximo ano, comemoremos, todos,<br />

com saú<strong>de</strong>, o 36.º Almoço/Convívio, na Se<strong>de</strong> da AFZ, para cujo evento<br />

daremos todo o apoio.<br />

A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS VIVE DAS VOSSAS QUOTAS<br />

Prezados Camaradas:<br />

Pela estima que temos por todos os Sócios, <strong>Fuzileiros</strong> ou não, aqui estamos <strong>de</strong> novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa<br />

participação.<br />

Todos somos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> um património <strong>de</strong> que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições <strong>de</strong> levar em frente a tarefa a que<br />

nos propusemos é <strong>de</strong>terminante po<strong>de</strong>rmos contar com a quotização <strong>de</strong> todos nós, <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> Família que, à volta da sua <strong>Associação</strong><br />

se vai juntando.<br />

Temos a consciência <strong>de</strong> que o atraso no pagamento <strong>de</strong> quotas po<strong>de</strong>m ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais<br />

evi<strong>de</strong>ntemente pon<strong>de</strong>rosas. Porém, para todas elas haverá uma solução <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema.<br />

Esperamos pela vonta<strong>de</strong> e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta família <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> no sentido <strong>de</strong> ultrapassarmos esta dificulda<strong>de</strong> já que as portas da<br />

<strong>Associação</strong> e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.<br />

Pensamos que uma das razões, <strong>de</strong> menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento.<br />

Para obstar a isto aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, <strong>de</strong> 6 em 6 ou <strong>de</strong> 12 em 12 meses.<br />

Já pensaram que o valor <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> quotas representa apenas cerca <strong>de</strong> quatro cafés por mês?<br />

Por razões <strong>de</strong> custos – e <strong>de</strong>sta vez será em <strong>de</strong>finitivo – vamos suspen<strong>de</strong>r o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro<br />

à <strong>Associação</strong>, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos ser este um acto <strong>de</strong> justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não <strong>de</strong>vem suportar as <strong>de</strong>spesas dos que não<br />

pagam.<br />

Cordiais e amigas saudações associativas.<br />

A Direcção<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 17


convívios<br />

Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 8<br />

Guiné 1969/71<br />

4 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012<br />

O<br />

8.º Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais<br />

– Guiné 1969/1971 levou a<br />

efeito mais um momento <strong>de</strong> confraternização<br />

com um almoço/convívio nas<br />

instalações da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />

no dia 4 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012, evento<br />

este on<strong>de</strong> as sauda<strong>de</strong>s foram bem patentes<br />

nos abraços sentidos a toda esta “ família”<br />

que foi e será sempre o DFE 8.<br />

Estiveram presentes 23 ex-militares,<br />

16 familiares e convidados, embora o<br />

mesmo tivesse tido lugar num dia <strong>de</strong><br />

semana por imperativos pessoais da<br />

sempre carismática figura do Comandante<br />

Teixeira da Silva, a viver na Região<br />

Autónoma dos Açores que nos honrou com<br />

a sua presença.<br />

Por esta razão, não foi possível a presença<br />

<strong>de</strong> mais elementos, o que lamentamos.<br />

Constituição do DFE 8 e embarque<br />

O 8.º DFE comandado pelo saudoso Comandante,<br />

1TEN João Eduardo da Costa<br />

Xavier e pelo Imediato 2TEN Fernando<br />

Sanches Oliveira, e por 2STEN RN Carlos<br />

Manuel Pacheco Teixeira da Silva e António<br />

José Jorge Barreira – e composto<br />

por 5 Sargentos e 1 Sargento H, 2 Cabos,<br />

22 Marinheiros, 22 Primeiros Grumetes<br />

e 24 Segundos Grumetes – embarcou a<br />

14 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1969, no NRP S. Gabriel<br />

e chegou à Provincia da Guiné em 19 <strong>de</strong><br />

Abril <strong>de</strong> 1969, dando inicio à sua activida<strong>de</strong><br />

operacional (P.T.O.) em 2 <strong>de</strong> Maio<br />

<strong>de</strong> 1969, sob a coor<strong>de</strong>nação táctica do<br />

DFE13 e sob o Comando Operacional da<br />

TG 27.3, Comandada pelo CTEN Guilherme<br />

Almôr <strong>de</strong> Alpoim Galvão.<br />

18 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


Algumas curiosida<strong>de</strong>s que fazem parte do historial<br />

do 8º DFE<br />

1 – 1.º Contacto com o IN, em 7 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1969: baixas ao IN<br />

e capturada a 1.ª arma;<br />

2 – Em 2 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1970, o 8.º DFE, <strong>de</strong>stacou para a Vila<br />

do Cacheu, com um registo <strong>de</strong> 35 acções e operações<br />

em terra, 5.700 horas em emboscadas e 119 horas em<br />

patrulhas <strong>de</strong> botes.<br />

3. – Na Vila do Cacheu, sob o Comando Operacional do<br />

CAOP1, totalizou 11 acções e operações e 109 horas em<br />

emboscadas em botes;<br />

4 – Em 6 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1970, o 8.º DFE <strong>de</strong>stacou para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Teixeira Pinto, ficando sob o Comando Operacional CAOP1,<br />

on<strong>de</strong> realizou, até 7 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1969, 10 operações e<br />

acções, 72 horas em emboscadas em botes e cerca <strong>de</strong> 156<br />

horas <strong>de</strong> patrulhas<br />

5 – Em 7 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1969, o 8.º DFE <strong>de</strong>stacou para Buba,<br />

com uma breve passagem por Bissau e até 26 <strong>de</strong> Novembro<br />

realizou 6 reconhecimentos, 480 horas em patrulhas e 427<br />

horas em emboscadas em botes;<br />

6 – Em 26 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1970 <strong>de</strong>stacámos para a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Teixeira Pinto, on<strong>de</strong> permanecemos até 6 <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>de</strong> 1971, tendo efectuado 5 acções e operações em terra,<br />

12 horas em emboscadas e patrulhas em botes e cerca <strong>de</strong><br />

282 horas em protecção aos trabalhos da estrada Teixeira<br />

Pinto-Cacheu;<br />

7 – O DFE 8 sofreu as seguintes baixas em combate: 5 mortos,<br />

6 feridos graves, 20 feridos ligeiros;<br />

8 – Muitas baixas infligidas ao IN, nem sempre i<strong>de</strong>ntificadas;<br />

9 – Armamento, munições e equipamento apreendido ao IN:<br />

3 espingardas MOSIN NAGANT; 1 espingarda MAUSER; 1<br />

carabina SIMONOV; 1 P/M PPSM; 1 M/L MG-34; 1 KALASH-<br />

NIKOV; 1 P/M M-25; 2 granadas <strong>de</strong> Morteiro 60; 2 granadas<br />

RPG-2; 5 Gr/m Defensivas; 5 Gr/m Ofensivas; 2 Gr/m Defensivas<br />

montadas em armadilhas; 48 Detonadores; 3 disparadores<br />

mecânicos; 300 cartuchos impulsores <strong>de</strong> morteiro 82;<br />

1.700 munições <strong>de</strong> armas ligeiras; 1 Base <strong>de</strong> Metralhadora<br />

pesada; etc., etc.<br />

10 – Foram efectuadas 22 <strong>de</strong>tenções em zona <strong>de</strong> operações e<br />

<strong>de</strong>struídas: 49 canoas, 35 casas <strong>de</strong> mato, duas pontes <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira e outros, etc., etc.<br />

Prémios, Louvores e Recompensas<br />

convívios<br />

Foram atribuídas as seguintes con<strong>de</strong>corações: 1 Medalha <strong>de</strong><br />

Valor Militar/cobre; 1 Medalha da Cruz <strong>de</strong> Guerra <strong>de</strong> 1.ª classe; 1<br />

Medalha <strong>de</strong> Cruz <strong>de</strong> Guerra <strong>de</strong> 2.ª classe; 2 Medalhas <strong>de</strong> Cruz <strong>de</strong><br />

Guerra <strong>de</strong> 3.ª classe; 1 Medalha <strong>de</strong> Cruz <strong>de</strong> Guerra <strong>de</strong> 4.ª classe;<br />

1 Medalha <strong>de</strong> Serviços Distintos Prata; 4 Medalhas <strong>de</strong> Serviços<br />

Distintos Cobre; 1 Medalha <strong>de</strong> Mérito Militar <strong>de</strong> 3.ª classe; 16<br />

Medalhas <strong>de</strong> Mérito Militar <strong>de</strong> 4.ª classe; 23 louvores individuais;<br />

2 Premios Governador da Guiné; 5 Prémios Movimento Nacional<br />

Feminino; 2 Menções <strong>de</strong> Apreço; 4 louvores colectivos conferidos<br />

pelas seguintes Entida<strong>de</strong>s: GEN Comandante Chefe das Forças<br />

Armadas da Guiné (2) COR <strong>de</strong> Artilharia Freitas do Amaral, CTEN<br />

FZE Gilherme Almôr <strong>de</strong> Alpoim Galvão.<br />

O historial que aqui se procurou fazer, modo abreviado, do nosso<br />

DFE 8 faz justiça a um punhado <strong>de</strong> HOMENS que souberam estar<br />

sempre com orgulho e prontos nas mais diferentes e exigentes<br />

missões a que foram chamados, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo, com muita honra a<br />

Pátria, a Marinha e elevando bem alto os FUZILEIROS.<br />

Que o País reconheça todo o empenho, sofrimento, que os<br />

HOMENS não sejam esquecidos e que a Pátria nos abençoe.<br />

Afinal, somos os seus filhos.<br />

Para terminar é justo referenciar e dar o merecido valor à<br />

“comissão”, que sempre soube, com elevado empenho, organizar<br />

os Almoços/Convívios da “família” do 8.º DFE.<br />

Para todos os que a integraram o nosso muito obrigado.<br />

Comt J. S. Batista<br />

Sócio Originário n.º 2138<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 19


convívios<br />

A<br />

fraternida<strong>de</strong> que se adquire nos <strong>Fuzileiros</strong> exige que,<br />

pelo meno, um convívio anual se não dispense. É pois<br />

nessa senda, que os Filhos da Escola <strong>de</strong> 98, mais uma<br />

vez estiveram reunidos para darem satisfação, ao espirito <strong>de</strong><br />

camaradagem que, dia após dia, se foi conquistando, enquanto<br />

se dispuseram enfrentar as muitas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que se reveste<br />

o Curso <strong>de</strong> Fuzileiro, para obtenção da boina azul ferrete.<br />

Estiveram presentes, mais <strong>de</strong> 50 elementos. E foi assim que uma<br />

vez mais, iniciámos o dia que iremos lembrar até ao próximo ano.<br />

Respon<strong>de</strong>ram à chamada camaradas do activo, reserva e, ainda,<br />

dois fuzileiros que muito estimamos que nos honraram com a sua<br />

presença, e que são a prova mais que provada, <strong>de</strong> terem sido<br />

como todos os presentes, infectados por uma invisível bactéria,<br />

que contagia a maioria dos que passam pelas agruras, que resultam<br />

das muitas dificulda<strong>de</strong>s que a todos impõe, uma universida<strong>de</strong>,<br />

que se chama Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />

Rever os camaradas <strong>de</strong>sta família, que um dia, por vonta<strong>de</strong><br />

própria <strong>de</strong>cidimos abraçar, é como satisfazer uma necessida<strong>de</strong><br />

intrínseca ao bem-estar emocional do ser humano.<br />

E porque assim é, sentida e vivida, é digno <strong>de</strong> resisto a eufórica<br />

alegria que em pequenos grupos se fez sentir. Em quase todos os<br />

eles emergiam as conversas que retractavam momentos vividos,<br />

cuja intensida<strong>de</strong>, nos marcou para todo o sempre.<br />

Por iniciativa <strong>de</strong> alguns elementos, resolvemos pedir ao camarada<br />

Mário Manso que aceitasse ser o patrono da “nossa Escola”.<br />

O ilustre camarada, logo nos disse que aceitaria participar<br />

no convívio, apenas como se <strong>de</strong> um elemento da “Escola <strong>de</strong> 98”<br />

“Escola” <strong>de</strong> 98<br />

2 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2013<br />

se tratasse e sem quaisquer mordomias. Sugerimos que falasse<br />

com o Parreira, por quem também referenciamos muita estima.<br />

Foi assim que, em “família, estivemos mais uma vez juntos cultivando<br />

os nossos valores, enraizando o nosso espírito <strong>de</strong> corpo<br />

e sustentando a nossa camaradagem, que é para cada um <strong>de</strong><br />

nós importante que envelheça connosco, a exemplo dos nossos<br />

amigos Mário Manso e Parreira, cuja amiza<strong>de</strong> já tem décadas.<br />

Honrámos os camaradas mortos, com um minuto <strong>de</strong> silêncio, antes<br />

<strong>de</strong> iniciarmos a refeição.<br />

20 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


E chegada a hora <strong>de</strong> partir o bolo e por razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m vária,<br />

quase meta<strong>de</strong> dos camaradas já se tinham <strong>de</strong>spedido, mas a sua<br />

falta, não se fez sentir no grito que todos os presentes <strong>de</strong>ram,<br />

como sinal do nosso orgulho <strong>de</strong> fuzileiro.<br />

Sendo um dos organizadores, coube-me impor a disciplina que<br />

o momento seguinte exigia. O silêncio impôs-se <strong>de</strong> imediato, o<br />

que nem sempre é fácil! Nunca tantos me tiveram tanto respeito.<br />

Sentindo-me senhor da situação, solicitei aos nossos mais veteranos<br />

que nos premiassem com algumas palavras. E foi num<br />

silêncio absoluto que os camaradas Mário Manso e José Parreira<br />

preencheram os minutos que se seguiram, em que a atenção dispensada<br />

aprovava o interesse <strong>de</strong> todos, no que pelos dois camaradas<br />

foi dito.<br />

convívios<br />

A fechar este momento muito especial, que nos transportou a<br />

uma época, em que alguns <strong>de</strong> nós, ainda saltávamos entre pernas,<br />

o amigo Parreira ofereceu-nos como sobremesa especial:<br />

um poema, “Os medronhos na serra da Arrábida”.<br />

<strong>Mais</strong> um a vez, uma prática já conhecida não faltou e todos os<br />

ainda não sócios da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, foram convidados,<br />

pelo nosso Mário Manso, a inscreverem-se, dispondo-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

logo para assinar as propostas, como sócio proponente. Só<br />

unidos, jovens e veteranos faremos jus ao porquê, <strong>de</strong> porque<br />

somos diferentes!<br />

«Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre».<br />

Fernando Jorge Monteiro<br />

1.º MAR FZ<br />

Sóc. proposto da AFZ<br />

Nota da Redacção: Com os nossos parabéns aos “Escolas 98” <strong>de</strong>sejamos muita saú<strong>de</strong> para todos e propomos que, para o ano, organizem o vosso “almoço/convívio” na se<strong>de</strong> da AFZ, a<br />

vossa “Casa”, on<strong>de</strong> encontrarão com certeza, espaço, ambiente amigo e qualida<strong>de</strong>/preço a<strong>de</strong>quados, às <strong>de</strong>scargas das vossas sauda<strong>de</strong>s e nostalgias.<br />

Companhias <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 2<br />

Angola 1966/69 - 3 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<br />

Angola 1970/72 - 17 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<br />

No passado dia 3 Novembro, reuniu em<br />

almoço/convívio no Restaurante da nossa<br />

<strong>Associação</strong>, a CF N.º 2 - guarnição <strong>de</strong> Angola<br />

em 1966/69 e, no dia 17 Novembro,<br />

reuniu a CF N.º 2 - guarnição <strong>de</strong> Angola em<br />

1970/72.<br />

Em cada um <strong>de</strong>les, estiveram presentes<br />

cerca <strong>de</strong> 40 pessoas, camaradas d’Armas<br />

e familiares.<br />

Solicita-se aos Camaradas que não têm<br />

sido contactados porque não sabemos o<br />

seu para<strong>de</strong>iro que contactem o Sequeira<br />

(1622/65) através da <strong>Associação</strong>.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 21


corpo <strong>de</strong> fuzileiros<br />

O<br />

Museu do Fuzileiro está situado na<br />

Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> em Vale <strong>de</strong> Zebro,<br />

Barreiro. A i<strong>de</strong>ia da obra foi-se<br />

colocando no início da década <strong>de</strong> oitenta,<br />

quando após o fecho do ciclo ultramarino,<br />

uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> peças-<br />

-memória foi oferecida à Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />

por personalida<strong>de</strong>s militares e civis,<br />

sobretudo antigos e atuais fuzileiros e para<br />

a preservação e apreciação das quais não<br />

havia espaço a<strong>de</strong>quado.<br />

Após um notável e raro trabalho <strong>de</strong> restauro<br />

no piso térreo do edifício em que se<br />

encontra localizado, pondo «a <strong>de</strong>scoberto<br />

os apontamentos [<strong>de</strong> alguns] dos antigos<br />

Fornos do Biscoito e as respectivas saídas<br />

<strong>de</strong> ar», por <strong>de</strong>dicação e conhecimento <strong>de</strong><br />

alguns fuzileiros foi em 1984 inaugurada a<br />

“Sala-museu” do Fuzileiro.<br />

Museu do Fuzileiro<br />

O seu interior dá-nos uma imagem singular<br />

da sólida traça pombalina, on<strong>de</strong> domina o<br />

tijolo a cutelo e os tetos se organizam em<br />

abóbadas <strong>de</strong> “barrete” e <strong>de</strong> “berço”. Nele<br />

se encontra exposto algum do acervo que<br />

ilustra o historial dos fuzileiros.<br />

No atual itinerário do museu expõem-<br />

-se ainda alguns dos bens museológicos<br />

alusivos ao fabrico do biscoito, “ração” <strong>de</strong><br />

400 gramas diários a que na época dos<br />

Descobrimentos cada tripulante tinha direito<br />

assim como os que garantiam serviço<br />

nas “Fortalezas do Reino”.<br />

Os fornos reais do Vale <strong>de</strong> Zebro, só entre<br />

1505 e 1507, fabricariam 300 toneladas<br />

<strong>de</strong> biscoito por ano, tendo sido o motor<br />

da “história das navegações». Neste contexto<br />

encontra-se também aqui a muito<br />

apreciada “Sala do Biscoito” patrocinada<br />

NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico<br />

pela Câmara Municipal do Barreiro, com<br />

objetos cerâmicos encontrados no campo<br />

arqueológico da Mata Nacional da Machada,<br />

datados dos séculos XV e XVI.<br />

Como valor simbólico e afetivo, o Museu<br />

dos <strong>Fuzileiros</strong> é local <strong>de</strong> visita obrigatória<br />

dos fuzileiros, extensiva às suas famílias e<br />

amigos, que frequentemente se reencontram<br />

nesta Escola, em datas comemorativas,<br />

para recordarem momentos transatos<br />

e manterem vivas as referências.<br />

As visitas constantes, quase diárias, são<br />

vastíssimas, como se po<strong>de</strong> constatar pelos<br />

números dos gráficos em anexo on<strong>de</strong><br />

realça que a maioria provém <strong>de</strong> escolas e<br />

<strong>de</strong> outras instituições da área educativa,<br />

sobretudo do Concelho do Barreiro e da<br />

Área Metropolitana <strong>de</strong> Lisboa. Têm também<br />

passagem obrigatória pelo Museu do<br />

22 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


Fuzileiro os formandos <strong>de</strong> todos os cursos<br />

que anualmente passam pela Escola <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong>, incluindo centenas <strong>de</strong> “civis”,<br />

pertencentes a instituições com as quais<br />

a Marinha tem protocolos <strong>de</strong> formação,<br />

merecendo uma particular referência os<br />

alunos do ISCTE/INDEG e os quadros superiores<br />

do BPI.<br />

Têm ainda passado por esta tão nobre<br />

referência do Fuzileiro uma multiplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> investigadores, professores e estudiosos<br />

<strong>de</strong> diversas áreas do conhecimento.<br />

Todas estas razões levaram a equacionar<br />

uma beneficiação e remo<strong>de</strong>lação dos<br />

espaços e do património do museu, cuja<br />

primeira fase terminou em 29 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 2005. Uma nova fase <strong>de</strong> ampliação,<br />

abrindo mais uma ala ao Museu, foi<br />

iniciada em julho <strong>de</strong> 2006.<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

2 3 3<br />

50<br />

13<br />

9<br />

100 Visitas<br />

14<br />

18<br />

5<br />

14<br />

13<br />

Janeiro<br />

Fevereiro Março<br />

Abril Maio<br />

Junho Julho<br />

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro<br />

Período das Visitas<br />

50<br />

5<br />

Dias Úteis<br />

Fins-<strong>de</strong>-semana/Feriados<br />

1<br />

O Museu do Fuzileiro está incluído nas<br />

visitas guiadas no âmbito do programa<br />

dos Itinerários Culturais da Comissão<br />

Cultural da Marinha, inseridos no Plano <strong>de</strong><br />

Ação Cultural da Margem Sul.<br />

Aguçamos assim o interesse daqueles<br />

que porventura ainda <strong>de</strong>sconhecem este<br />

Museu e uma vez que “olhos que não vêm<br />

coração que não sente”, venham senti-lo<br />

numa próxima visita.<br />

Lembramos que o Museu do Fuzileiro<br />

po<strong>de</strong> ser visitado diariamente, por qualquer<br />

pessoa, durante a hora <strong>de</strong> expediente,<br />

individual ou coletivamente. Po<strong>de</strong>rão<br />

também fazê-lo aos fins-<strong>de</strong>-semana e<br />

feriados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que previamente calendarizado<br />

na Seção <strong>de</strong> Protocolo da Escola <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong>, através dos seguintes contatos:<br />

VISITAS EM 2012*<br />

N.º Visitas<br />

corpo <strong>de</strong> fuzileiros<br />

– Telefs: 210 927 288 / 910 410 298;<br />

– Email: m8a22651@marinha.pt;<br />

– Fax: 211 938 542<br />

O Museu po<strong>de</strong> ainda ser visitado<br />

virtualmente nos sítios:<br />

http://fuzileiros.marinha.pt/PT/Sala%20<br />

Museu%20do%20Fuzileiro/Pages/<br />

Sala%20Museu%20do%20Fuzileiro.aspx<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 23<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100 88 70<br />

0<br />

215<br />

e,<br />

http://www.marinha.pt/conteudos_<br />

externos/visitas_virtuais/museufuzileiros/<br />

entrada/e/in<strong>de</strong>x.html<br />

Visitantes: 3225<br />

525<br />

500<br />

428 442<br />

* Visitas externas. Não se incluem os cursos internos da Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

140<br />

Janeiro<br />

Fevereiro Março<br />

Abril Maio<br />

Junho Julho<br />

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro<br />

Colaboração da Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Vale <strong>de</strong> Zebro<br />

399<br />

318<br />

97<br />

Visitas/Entida<strong>de</strong>s = 100<br />

41<br />

35<br />

24<br />

G.Escolares<br />

G.Escolares<br />

G.Escolares<br />

3<br />

Visitantes


homenagens<br />

Prestando homenagem ao Sócio, ao Homem e ao Dirigente<br />

damos à estampa alguns dos textos que tivemos oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> elaborar e/ou registar, após o <strong>de</strong>saparecimento do nosso<br />

Sócio e antigo Dirigente:<br />

24<br />

COMUNICADO FÚNEBRE<br />

Falecimento do Antigo Presi<strong>de</strong>nte da Direcção Nacional da<br />

<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, Sócio n.º 155, Sr. Dr. Ilídio das<br />

Neves Luís<br />

A <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> cumpre o doloroso <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

comunicar o falecimento do seu antigo Vice-Presi<strong>de</strong>nte e<br />

Presi<strong>de</strong>nte da Direcção Nacional, sócio n.º 155, Sr. Dr. Ilídio<br />

das Neves Luís, ocorrido ontem, dia 19 do corrente mês <strong>de</strong><br />

Novembro, informando que o nosso Camarada ficará em<br />

camara ar<strong>de</strong>nte, a partir das 17h00 horas <strong>de</strong> hoje, dia 20, na<br />

Igreja <strong>de</strong> N.ª Srª. da Assunção (Av.ª D. João I – junto ao antigo<br />

Tribunal) em Almada.<br />

O cortejo fúnebre partirá, amanhã, dia 21, pelas 9h30 horas<br />

para o Cemitério da sua terra natal – Ansião – Pombal –<br />

Coimbra.<br />

A AFZ far-se-á representar por significativa <strong>de</strong>legação.<br />

A Direcção da AFZ apresenta à Família enlutada, do nosso<br />

Ilustre Camarada, os mais sentidos pêsames.<br />

Barreiro, 20 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012.<br />

O ACOMPANHAMENTO<br />

O Sr. Dr. Ilídio Neves Luís, por quem nos reclinamos em <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />

homenagem, era figura altamente consi<strong>de</strong>rada e exerceu as<br />

funções <strong>de</strong> Vice-Presi<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte da AFZ, com gran<strong>de</strong><br />

dignida<strong>de</strong> e competência, dando o melhor <strong>de</strong> si próprio à sua<br />

<strong>Associação</strong> e tendo sido também o fundador da nossa revista<br />

“O Desembarque”, então <strong>de</strong>nominada boletim.<br />

A Direcção Nacional da AFZ teve conhecimento do seu falecimento<br />

na noite <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> Novembro p.p. e, logo na manhã do dia<br />

seguinte, ainda mal se sabiam dos pormenores das cerimónias<br />

fúnebres, publicou no seu site um comunicado e remeteu-o, via<br />

correio electrónico, a todos sócios que dispõem <strong>de</strong>ste meio <strong>de</strong><br />

comunicação;<br />

Imediatamente foram dadas instruções ao Secretariado Nacional<br />

para encomendar uma coroa <strong>de</strong> flores com a dignida<strong>de</strong> merecida<br />

e o próprio Presi<strong>de</strong>nte da Direcção pediu que se constituísse uma<br />

<strong>de</strong>legação para estar presente na Capela, no <strong>de</strong>curso do velório,<br />

local on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>veria colocar o Guião da AFZ e, a mesma ou outra<br />

<strong>de</strong>legação <strong>de</strong>veria acompanhar o cortejo fúnebre, se tal fosse da<br />

vonta<strong>de</strong> da Família enlutada.<br />

Imediatamente a seguir à chegada da urna à Igreja, em Almada,<br />

apresentaram-se a acompanhar a Família vários elementos<br />

dos Órgãos Sociais, <strong>de</strong>signadamente: da Direcção Nacional: os<br />

dois Vice-Presi<strong>de</strong>ntes, o 2.º Vogal Efectivo, o 4.º Vogal Efectivo<br />

e o 1.º Vogal Suplente; da Assembleia-Geral: o 1.º Secretário<br />

da Mesa; do Conselho Fiscal: o Presi<strong>de</strong>nte e o Vice-Presi<strong>de</strong>nte.<br />

A <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

presta homenagem ao seu antigo Presi<strong>de</strong>nte,<br />

Dr. Ilídio das Neves Luís<br />

Muitos sócios fuzileiros e não fuzileiros, militares, ex-militares e<br />

civis também estiveram presentes.<br />

Um dos Vice-Presi<strong>de</strong>ntes, após autorização da Família, <strong>de</strong>positou<br />

a coroa <strong>de</strong> flores, colocou o Guião da AFZ, em local a<strong>de</strong>quado e<br />

<strong>de</strong>positou uma Boina Azul Ferrete, com âncora, sobre a urna, ainda<br />

aberta. Pediu-se ao 2.º Vogal da Direcção Nacional, elemento<br />

que sempre foi mantendo muito próximo contacto com o nosso<br />

Ilustre Camarada Ilídio e com a sua Família, que estabelecesse as<br />

comunicações e tomasse as iniciativas que consi<strong>de</strong>rasse convenientes,<br />

em nome da Direcção Nacional da AFZ.<br />

A Missa <strong>de</strong> Corpo Presente foi rezada pelo Capelão do Corpo <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong>, Capitão-Tenente Licínio Silva.<br />

Dado que o cortejo fúnebre seguia, no dia seguinte, para Ansião<br />

– Pombal, a AFZ enviou a sua viatura <strong>de</strong> nove lugares com elementos<br />

dos seus Órgãos Sociais (2.º Vogal da Direcção, 4.º Vogal<br />

e 6.º Vogal, 1.º Vogal Supl. – gente prestigiada na AFZ) na qual<br />

também viajaram o Presi<strong>de</strong>nte da Delegação <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Juromenha/Elvas<br />

e mais dois elementos <strong>de</strong>sta Delegação e ainda o<br />

Capelão do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />

Deslocados do Norte para Ansião estiveram, também presentes,<br />

na última cerimónia fúnebre, o Presi<strong>de</strong>nte da Direcção da Delegação<br />

<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia e ainda outro camarada<br />

daquela direcção.<br />

Infelizmente, por impossibilida<strong>de</strong> absoluta, que foram explicadas,<br />

à Família por um dos Vice-Presi<strong>de</strong>ntes, nem o Presi<strong>de</strong>nte da Direcção<br />

nem os dois Vice-Presi<strong>de</strong>ntes pu<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>slocar-se a Ansião,<br />

acompanhando o cortejo que integrou, aliás, várias viaturas.<br />

A Memória do nosso Ilustre Camarada Ilídio Neves Luís foi tratada,<br />

pelos Dirigente Nacionais e Regionais, sublinhe-se, com a<br />

máxima dignida<strong>de</strong> e, sobretudo, com elevado espírito ético, e <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong>, camaradagem e amiza<strong>de</strong>, mas também <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong><br />

e do necessário recato, sendo que a sua imagem figurará<br />

nos escaparates <strong>de</strong> quem serviu com excepcional <strong>de</strong>dicação e<br />

alta competência a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />

Quando o corpo <strong>de</strong>sceu à terra, com autorização da Família, ouviu-se<br />

o “Grito do Fuzileiro”.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


VOTO DE PESAR<br />

A AFZ recebeu, da Assembleia Municipal <strong>de</strong> Almada, um Voto<br />

<strong>de</strong> Pesar aprovado por unanimida<strong>de</strong>, pelo falecimento do nosso<br />

antigo Presi<strong>de</strong>nte da Direcção, Dr. Ilídio Neves Luís.<br />

Pela iniciativa da AMA nos congratulamos, já que o Dr. Ilídio<br />

constituiu, para a nossa Instituição, motivo <strong>de</strong> particular orgulho,<br />

representando o que <strong>de</strong> melhor teve a AFZ, sendo que a sua<br />

memória continuará sempre viva e a sua obra preservada com<br />

a maior dignida<strong>de</strong>, a mesma com que o acompanhámos e à sua<br />

Família, em momentos que apenas consi<strong>de</strong>rámos um “até já,<br />

Caro Ilídio”.<br />

É pois com particular interesse que publicamos, na íntegra, o Voto<br />

<strong>de</strong> Pesar da Assembleia Municipal <strong>de</strong> Almada, Concelho em que o<br />

nosso malogrado Amigo residia há muitos anos.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

homenagens<br />

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homenagens<br />

Manuel dos Reis Florindo<br />

(1.º S H FZE)<br />

Sócio nº. 2074<br />

Tinha terminado o meu curso <strong>de</strong><br />

Enfermagem Geral no HM (Hospital da<br />

Marinha) havia meses. Era espectável<br />

que em qualquer momento seria colocado<br />

em uma qualquer unida<strong>de</strong> naval. Mas,<br />

contra todas as minhas espectativa, e<br />

recebi guia <strong>de</strong> marcha para a Escola <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong> para frequentar o curso <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong> Especiais.<br />

Terminado este e com aproveitamento fui<br />

convidado a integrar o DFE 12 que mais<br />

tar<strong>de</strong> seguiria para a Guiné-Bissau em<br />

missão <strong>de</strong> soberania. Essa mítica unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> elite que naquelas paragens tão bem<br />

soube honrar as características genuínas<br />

e guerrilheiras dos <strong>Fuzileiros</strong> Especiais,<br />

integrava um Homem com o qual já antes<br />

iniciara uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, alicerçada<br />

em muitas horas <strong>de</strong> convívio durante e<br />

após o curso <strong>de</strong> fuzileiros e até, em algumas<br />

<strong>de</strong>las, em minha casa. Esta amiza<strong>de</strong>,<br />

este relacionamento, pautou-se sempre<br />

por uma inegável reciprocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito<br />

e senso comuns, norteando-se por uma<br />

comunhão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais convergentes que<br />

cimentaram um entendimento amistoso,<br />

on<strong>de</strong> imperava a consi<strong>de</strong>ração e respeito<br />

mútuo que haviam <strong>de</strong> se perpetuar ao<br />

longo do tempo que juntos tivemos (tive)<br />

a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partilhar antes, durante e<br />

<strong>de</strong>pois da nossa missão daquela unida<strong>de</strong><br />

militar na Guiné. Já no INAB passávamos<br />

longas horas em amena cavaqueira on<strong>de</strong><br />

se ventilavam os assuntos mais variados,<br />

não só relacionados com o DFE12 mas<br />

também com os que se relacionavam com<br />

aspectos disciplinares do pessoal da forma<br />

como os militares se alimentavam, com o<br />

que faziam nas horas <strong>de</strong> ócio, com o seu<br />

estado sanitário, matéria para a qual eu<br />

tinha particular responsabilida<strong>de</strong>. Eram<br />

normais as conversas sobre a guerrilha na<br />

qual estávamos envolvidos, o porquê da<br />

nossa presença naquele território ultramarino,<br />

do êxito ou fracasso do nosso esforço<br />

bélico, da política local e nacional, etc. etc.<br />

Este Homem, que sempre confiou nos<br />

meus conhecimentos técnicos como<br />

Enfermeiro ao serviço do DFE12 (Obrigado<br />

Comandante Rebordão <strong>de</strong> Brito) senhor <strong>de</strong><br />

um espírito fortemente solidário, abnegado,<br />

criterioso, <strong>de</strong> profunda sensibilida<strong>de</strong><br />

humana, foi sempre visto pela comunida<strong>de</strong><br />

militar do DFE12 e não só, como um<br />

ídolo, um mentor, um estratega, com uma<br />

visão subtil e discernida no T.O. (teatro<br />

Homenagem a Rebordão <strong>de</strong> Brito<br />

operacional) interagindo <strong>de</strong> uma forma<br />

peculiar com a “maralha” que sempre,<br />

mas sempre, o acompanhava sem hesitar<br />

na preparação e execução dos “golpes <strong>de</strong><br />

mão”, quaisquer que fossem os obectivos<br />

traçados e os riscos previsíveis daí<br />

resultantes.<br />

Terminada a comissão <strong>de</strong> serviço o DFE12<br />

regresso a Lisboa mas, logo aseguir, por<br />

opção pessoal regresso à Guiné na Companhia<br />

N.º 11 <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>. Dois anos <strong>de</strong>pois<br />

passo a integrar o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do<br />

CDMG. Meses mais tar<strong>de</strong>, por exigências<br />

estratégicas do CDMG sou enviado para<br />

Bolama. Tive aí a sorte <strong>de</strong> encontrar novamente<br />

o Comt Rebordão <strong>de</strong> Brito. Foi mais<br />

uma oportunida<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>rmos dissecar<br />

temas já nossos conhecidos, acrescidos<br />

agora <strong>de</strong> situações militares e pessoais diferentes<br />

que culminaria com a entrega do<br />

espólio das existências <strong>de</strong> material bélico,<br />

infraestruturas e material <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> aos<br />

militares do PAIGC. <strong>Mais</strong> uma vez constato<br />

que aquele Homem mantinha integro<br />

o carácter que conheci nos primeiros dias<br />

do curso <strong>de</strong> fuzileiros mantendo incólume<br />

a sua personalida<strong>de</strong> e atitu<strong>de</strong> cívica, nunca<br />

ostentando os “galões” para a resolução<br />

<strong>de</strong> quaisquer problemas disciplinares<br />

inerentes à sua condição <strong>de</strong> Comandante<br />

mas, nunca se inibindo <strong>de</strong> imprimir no seu<br />

discurso, a sua posição <strong>de</strong> oficial competente<br />

e responsável pela <strong>de</strong>fesa e condução<br />

dos militares ali instalados. Aquando<br />

do regresso <strong>de</strong>finitivo à Metrópole os nossos<br />

contactos pessoais diminuíram drasticamente.<br />

De quando em quando, num encontro<br />

casual ou nos tradicionais almoços<br />

anuais do DFE12 era pretexto para longos<br />

minutos <strong>de</strong> conversa, rememorando-se<br />

episódios e factos vividos e sofridos, naquela<br />

terra distante on<strong>de</strong> tantos homens<br />

<strong>de</strong>rramaram sangue suor e lágrimas e outros,<br />

infelizmente, per<strong>de</strong>ram a vida.<br />

Um dia... Inesperadamente ou talvez não,<br />

soube que o Comandante <strong>de</strong>ra entrada no<br />

HM por patologia clínica <strong>de</strong>sfavorável complicando-se<br />

o seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Com<br />

prognóstico bastante reservado fiquei com<br />

a nítida sensação <strong>de</strong> que a evolução da sua<br />

doença iria progressiva e vertiginosamente<br />

diminuir a sua presença entre nós. Fui<br />

visitá-lo várias vezes ao HM e sempre que<br />

o abraçava para me <strong>de</strong>spedir tinha a noção<br />

<strong>de</strong> que não era viável voltar a fazê-lo<br />

muitas mais vezes. Apesar <strong>de</strong> todo o seu<br />

optimismo contagiante, era evi<strong>de</strong>nte que a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disfrutar da sua companhia<br />

estava cada vez mais comprometida.<br />

O fatídico <strong>de</strong>senlace era, infelizmente, previsível.<br />

Volvidos anos após a sua morte,<br />

não quero <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> prestar publicamente<br />

a minha sincera homenagem <strong>de</strong> gratidão e<br />

respeito para com este Homem que moldou<br />

subtilmente o meu ego, impregnando-<br />

-o <strong>de</strong> uma maior clarividência nas formas<br />

e conteúdos <strong>de</strong> como se <strong>de</strong>ve estar e viver<br />

na vida.<br />

A forma como fui recebido e tratado no<br />

seio dos fuzileiros Especiais do DFE12 com<br />

especial relevância para o Comandante<br />

Rebordão <strong>de</strong> Brito, foi e será sempre um<br />

traço in<strong>de</strong>lével na minha conduta como<br />

homem, militar e, com muito orgulho,<br />

como FUZILEIRO.<br />

Obrigado comandante por ter permitido<br />

partilhar consigo tantos momentos <strong>de</strong> sã<br />

camaradagem militar, pessoal e familiar.<br />

Paz à sua alma...<br />

26 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


Almirante Nuno Gonçalo<br />

Vieira Matias<br />

NOTA: Entrevista conduzida pelos Vice-Presi<strong>de</strong>ntes da AFZ Cardoso Moniz e Marques Pinto<br />

e conversão para texto escrito <strong>de</strong> Maria Cecília e Marques Pinto<br />

O<br />

Almirante Nuno Vieira Matias é o Socio Originário, n.º 1590, da <strong>Associação</strong> Nacional<br />

<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, tendo sido distinguido pela respectiva Assembleia-Geral, com a<br />

<strong>de</strong>signação honorífica <strong>de</strong> Sócio Honorário. Atingiu o posto <strong>de</strong> Almirante, o mais alto<br />

da carreira da Marinha <strong>de</strong> Guerra Portuguesa e, simultaneamente, o cargo máximo da<br />

Marinha, <strong>de</strong> Chefe do Estado-Maior da Armada, funções que exerceu entre 1997 e 2002.<br />

O Almirante Vieira Matias concluiu a sua licenciatura na Escola Naval em 1961, tendo-se<br />

oferecido como voluntário para embarcar na então Fragata “Vasco da Gama” para uma<br />

comissão <strong>de</strong> serviço em Angola (1961/1963).<br />

Especializou-se em artilharia e em fuzileiro, tendo combatido na Guiné, como Comandante<br />

do Destacamento N.º 13 <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais (1968/1970).<br />

entrevista<br />

Desempenhou sucessivamente as seguintes funções: Professor da Escola Naval em acu-<br />

O Almirante Vieira Matias enquanto CEMA<br />

mulação com Director do Laboratório <strong>de</strong> Explosivos, comandante da Força <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

do Continente (1976/1978), Capitão dos Portos <strong>de</strong> Portimão e <strong>de</strong> Lagos, Comandante do N.R.P. “João Belo”, Chefe <strong>de</strong> Divisão do<br />

Estado-Maior da Armada e Professor do Instituto Superior Naval <strong>de</strong> Guerra.<br />

Além da sua formação em Escolas Nacionais frequentou, em países NATO, uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>staca o “Naval Command<br />

College” nos EUA (1988/89).<br />

Nos postos <strong>de</strong> Almirante <strong>de</strong>sempenhou ainda os seguintes cargos: Subchefe do Estado-Maior da Armada, Superinten<strong>de</strong>nte dos Serviços<br />

<strong>de</strong> Material, Comandante Naval em acumulação com o cargo NATO “Coman<strong>de</strong>r-in-Chief Iberian Atlantic Área” (1995-1997).<br />

Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>sligado do serviço (2002) foi membro da Comissão Estratégica dos Oceanos e do “European Security Research Advisory<br />

Board” da Comissão Europeia e é: Presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Marinha, Vice-Presi<strong>de</strong>nte da Direcção da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geografia <strong>de</strong><br />

Lisboa, Membro efectivo da Aca<strong>de</strong>mia das Ciências <strong>de</strong> Lisboa, membro <strong>de</strong> Mérito da Aca<strong>de</strong>mia Portuguesa da História e do Conselho <strong>de</strong><br />

Honra do Instituto <strong>de</strong> Ciências Sociais e Políticas da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, Presi<strong>de</strong>nte do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes<br />

e Membro do Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação, em representação da ACL e Professor Convidado do Instituto <strong>de</strong> Estudos Políticos da<br />

Universida<strong>de</strong> Católica Portuguesa.<br />

É, ainda, autor <strong>de</strong> diversos trabalhos e artigos sobre estratégia marítima, segurança nacional e economia do mar.<br />

Foi agraciado com 16 con<strong>de</strong>corações nacionais (incluindo a Grã-Cruz da Or<strong>de</strong>m Militar <strong>de</strong> Cristo e a Grã-Cruz <strong>de</strong> Aviz) e com 10 con<strong>de</strong>corações<br />

estrangeiras (Brasil, Espanha, Estados Unidos da América, França e Itália).<br />

De personalida<strong>de</strong> serena, <strong>de</strong> extrema simplicida<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> arguta inteligência, homem <strong>de</strong> cultura que conjuga um pragmatismo<br />

executivo notável com um inato perfil <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, o Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias é do melhor que já teve e têm, a Marinha<br />

<strong>de</strong> Guerra, as Forças Armadas Portuguesas e Portugal.<br />

Tê-lo como consócio, entrevistado da revista “O Desembarque” e como camarada <strong>de</strong> armas é subida honra para a Instituição que ora<br />

servimos e para quem teve a dita <strong>de</strong> o entrevistar.<br />

Marques Pinto (MP): O que levou o Sr. Almirante a optar pela Marinha <strong>de</strong> Guerra? Foi por tradição familiar? Por vocação? Faça-nos, por<br />

favor, um pouco da sua história <strong>de</strong> vida, até ingressar na Escola Naval.<br />

Almirante Vieira Matias (VM): É como muito gosto que falo para a revista da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> – a nossa <strong>Associação</strong> – e começo<br />

por dizer que conheci o Mar, que vi o Mar pela primeira vez com os meus 3 anos, na Nazaré. E não gostei, provavelmente porque a areia<br />

me entrava pelas sandálias… <strong>Mais</strong> tar<strong>de</strong>, o meu Pai que era funcionário público foi colocado em Portimão. Eu tinha 11 anos e então o<br />

Mar foi para mim uma revelação extraordinária. O porto <strong>de</strong> Portimão tinha um enorme movimento <strong>de</strong> embarcações e tudo aquilo foi um<br />

verda<strong>de</strong>iro paraíso que se me abriu. Aprendi a nadar nesse Verão e, em Outubro, estava inscrito na Vela da Mocida<strong>de</strong> Portuguesa, on<strong>de</strong><br />

comecei a apren<strong>de</strong>r a “arte <strong>de</strong> velejar”. Gostei imenso da Vela. Gostava sobretudo daquelas saídas <strong>de</strong> Portimão. Ir para o Mar, passar<br />

pelo meio das pedras do molhe, limpar a embarcação era para mim <strong>de</strong> um supremo bem-estar e, adolescente que era, constituiria<br />

também um <strong>de</strong>safio. É curioso que não gostava das regatas: a competição e até uma certa confusão retiravam à vela – pensava eu – a<br />

serenida<strong>de</strong> do Mar… Mas, a certa altura disseram-me que iria disputar-se um Campeonato Nacional, em Lisboa, cida<strong>de</strong> capital que eu<br />

não conhecia e que, quem ganhasse as regatas, em Portimão, seria selecionado para ir a Lisboa. Percebi, então, que era altura <strong>de</strong> me<br />

aplicar. Fiz as regatas e vim a Lisboa. Foi quando o “bicho” do Mar tomou conta <strong>de</strong> mim. Conhecer as embarcações e tentar perceber<br />

o que seria a vida do mar <strong>de</strong>spertou-me especial encanto. A somar às minhas motivações, o facto <strong>de</strong> o meu Pai ter sido uma pessoa<br />

extremamente culta, gostando muito <strong>de</strong> ler a História. Nos fins-<strong>de</strong>-semana – não havia televisão nessa época em casa – liam-se os<br />

cronistas e, por vezes, o Pai punha-me a ouvi-lo ler o Zurara ou as viagens <strong>de</strong> Fernão <strong>de</strong> Magalhães, <strong>de</strong> Stefan Zweig. Enfim, tudo isso<br />

“ia entrando em mim” como uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> hipótese <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong> vida. E foi assim que – embora tendo outras opções pelas<br />

notas que tinha no Liceu e tendo pensado mesmo em medicina e engenharia – <strong>de</strong>cidi concorrer à Escola do Exército, para fazer os<br />

preparatórios, e po<strong>de</strong>r ingressar na Escola Naval.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 27


entrevista<br />

Cardoso Moniz (CM): Então, és natural <strong>de</strong> Leiria?<br />

VM: Não, <strong>de</strong> Porto <strong>de</strong> Mós… Sou da terra <strong>de</strong> um Almirante da<br />

lenda da Praia do Sítio, D. Fuas Roupinho.<br />

Mas, continuando: fiz o primeiro ano dos preparatórios na Escola<br />

do Exército, concorri (com imensos concorrentes) à Escola Naval,<br />

mas fui apurado porque só tinha 19 anos, era dos mais novos, e<br />

as notas também eram boas.<br />

CM: Eu estava a tentar perceber como é que tu foste da Nazaré<br />

para Portimão sem passar por Lisboa.<br />

VM: Como já disse, o meu Pai era funcionário público e naquele<br />

tempo os funcionários do Estado tinham mobilida<strong>de</strong>, por várias<br />

razões e quase sempre quando eram promovidos. De facto, não<br />

passei por Lisboa. Só vim a Lisboa, pela primeira vez, às regatas<br />

da Mocida<strong>de</strong> Portuguesa.<br />

CM: Então, ficaste apurado…<br />

VM: Exactamente. Fiquei apurado. Vim às regatas e <strong>de</strong>pois entrei para a Escola Naval (1958).<br />

Como já tenho, algumas vezes, referido a Marinha já nessa altura estaria a prever ou tinha mesmo previsto que po<strong>de</strong>ria haver problemas<br />

nos nossos territórios ultramarinos, porque as in<strong>de</strong>pendências dos territórios africanos (ingleses, belgas, franceses) estavam a ocorrer<br />

a um ritmo impressionante, em zonas <strong>de</strong> fronteira com os territórios portugueses. Isto para dizer que entrei para a Escola Naval com o<br />

1.º Curso da Reserva Naval, que integrava uma reforma da Marinha que consi<strong>de</strong>ro brilhante e que previa aumentar os efectivos, com<br />

gente especializada com formação superior, ao nível <strong>de</strong> oficiais, recrutados do serviço militar obrigatório. É também <strong>de</strong>ste ano (1958)<br />

a proposta do Estado-Maior da Armada para que fossem formados fuzileiros, uma espécie <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> comandos, semelhante<br />

aos “marines” da Royal Navy, mandando especializar como monitores/formadores em Inglaterra, os primeiros 4 elementos que, <strong>de</strong>pois<br />

viriam a ser instrutores dos cursos <strong>de</strong> fuzileiros: um Oficial (Pascoal Rodrigues) e quatro praças, das quais ainda vive o célebre (ora<br />

sargento reformado) Santos Silva o “Piçarra”. Resumindo: foi esta perspectiva, esta previsão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance que consi<strong>de</strong>ro brilhante<br />

na Marinha <strong>de</strong>ssa época. A tudo isto juntou-se a aquisição <strong>de</strong> navios para a tradicional Marinha (missões em África, da NATO e <strong>de</strong><br />

soberania, no nosso território, aqui, na Europa)…<br />

MP: E portanto é assim, Sr. Almirante, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> promovido a Guarda-Marinha o seu percurso <strong>de</strong>corre nos navios, até que foi<br />

chamado a frequentar o Curso <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />

VM: Exactamente. Quando começa o terrorismo, em Março <strong>de</strong> 1961, em Angola (sim, porque aquilo foi um verda<strong>de</strong>iro terrorismo,<br />

uma selvajaria) eu estava quase no fim do curso da Escola Naval. Então a Marinha antecipou-nos o final do curso e mandou-nos, imediatamente<br />

em viagem <strong>de</strong> instrução <strong>de</strong> guardas-marinhas, na então Fragata “Pêro Escobar” (navio que ficou conhecido como “Gina<br />

Lollobrigida” pela beleza das suas linhas). Chegados a Angola, o navio foi integrado no dispositivo naval <strong>de</strong> contra penetração, <strong>de</strong> apoio<br />

às operações em terra e <strong>de</strong> apoio logístico. Acabado o tempo <strong>de</strong> instrução, fomos mandados regressar a Lisboa <strong>de</strong> avião. Logo que me<br />

apresentei na Direcção do Serviço <strong>de</strong> Pessoal ofereci-me como voluntário para qualquer comissão <strong>de</strong> serviço em Angola.<br />

MP: Como Fuzileiro?<br />

VM: Não, ainda como Oficial da Classe <strong>de</strong> Marinha. Tinha ficado tão impressionado com o que se tinha passado em Angola, que me<br />

ofereci imediatamente para voltar. Quinze dias <strong>de</strong>pois, estava a sair a barra como Oficial <strong>de</strong> Navegação da Fragata “Vasco da Gama”<br />

que, entretanto, tinha chegado <strong>de</strong> Inglaterra. Desempenhei as funções <strong>de</strong> Oficial <strong>de</strong> Navegação e Chefe do Serviço <strong>de</strong> Informações<br />

<strong>de</strong> Combate. Cheguei novamente a Angola, em Dezembro <strong>de</strong> 1961. Dois dias antes <strong>de</strong> chegar a Luanda, a 18 <strong>de</strong> Dezembro, ocorreu<br />

a invasão da Índia, o que nos marcou profundamente, para toda a vida. Cumpri, pois, a comissão em Angola <strong>de</strong> dois anos, (1961/63)<br />

tendo <strong>de</strong>sembarcado por 3 vezes, para patrulha do rio Chiloango, em Cabinda, por períodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z dias, on<strong>de</strong> pela primeira vez tive<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comandar <strong>Fuzileiros</strong>, embarcado nas lanchas “Lué Gran<strong>de</strong> e “Lué Pequeno” e também em botes. A primeira vez<br />

que <strong>de</strong>sembarquei, foi só com pessoal do navio, da segunda e da<br />

terceira já levei uma secção <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>. Foi, por assim dizer,<br />

o meu primeiro contacto com os fuzileiros, fuzileiros que tinham<br />

sido formados há pouco tempo, que eram constantemente solicitados<br />

e que estavam em fase <strong>de</strong> adaptação àquele conjunto<br />

diversificado <strong>de</strong> missões, com exigências muito gran<strong>de</strong>s, talvez<br />

excessivas, pelas condições adversas on<strong>de</strong> tinham <strong>de</strong> actuar.<br />

No âmbito da estratégia da Marinha, ao nível da contenção, e da<br />

contra penetração, nos rios e no mar, os fuzileiros eram também<br />

necessários para operações em terra. A minha percepção foi que<br />

talvez tivessem nessa altura (embora como oficial muito jovem)<br />

exigências excessivas. Mas, mesmo assim, os fuzileiros cumpriram<br />

e <strong>de</strong>sempenharam muito bem as suas missões.<br />

Vestido <strong>de</strong> mandinga - Bissau<br />

Em operação na Guiné, Rio Cacheu - Concolim - 16/08/1968<br />

Terminada a comissão <strong>de</strong> serviço, não tive direito a férias. Cheguei<br />

no navio a Lisboa, e dois ou três dias <strong>de</strong>pois fui mandado<br />

frequentar o curso <strong>de</strong> especialização em artilharia que já estava a<br />

<strong>de</strong>correr. Para me casar tive que aproveitar, no período <strong>de</strong> Natal,<br />

28 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


entrevista<br />

o intervalo entre duas divisões <strong>de</strong> serviço diário no Grupo N.º 2 <strong>de</strong> Escolas da Armada. Terminado o curso fui servir na Direcção dos<br />

Serviços <strong>de</strong> Material <strong>de</strong> Guerra e Tiro Naval, on<strong>de</strong> fiquei quase três anos, tendo sido, a partir <strong>de</strong> certa altura, inscrito numa lista <strong>de</strong><br />

indisponíveis para ir para África, face à importância que era dada à Secção que eu chefiava, <strong>de</strong> munições <strong>de</strong> artilharia e <strong>de</strong> armamento<br />

portátil. Só que, a <strong>de</strong>terminada altura, havia necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oficiais <strong>de</strong> Marinha para o curso <strong>de</strong> fuzileiros especiais e… <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> ser<br />

indispensável.<br />

CM: Mobilizaram-te …<br />

VM: Exactamente. Em 1967, fui tirar o curso <strong>de</strong> Fuzileiro Especial, com as dificulda<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> quem estava há três anos em<br />

lugar <strong>de</strong> secretária. Tive, porém, a noção <strong>de</strong> que tinha <strong>de</strong> me empenhar ao máximo, já que o que estaria em causa era a segurança<br />

dos homens que eu fosse comandar e a minha própria segurança. No fim do curso fui<br />

escolhido para ir comandar o Destacamento N.º 13 <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais, para a Guiné.<br />

E lá estivemos durante dois anos (Abril <strong>de</strong> 1968/ Fevereiro <strong>de</strong> 1970).<br />

MP: Diga-nos alguma coisa sobre o comando do seu DFE. E conte-nos o que foi a sua<br />

Comissão <strong>de</strong> Serviço na Guiné. Como viu a guerra do Ultramar ao tempo e como a vê<br />

hoje, à distância <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> trinta anos?<br />

VM: Sim, senhor. Eu tenho uma visão, que venho comunicando em várias conferências,<br />

em estudos superiores militares, em activida<strong>de</strong> civil, etc.<br />

Começando pelo aspecto mais geral: a África Portuguesa era muito cobiçada e aquilo<br />

a que chamam os “ventos da história”, não eram ventos da história. Eram “ventos da<br />

cobiça”. África era cobiçada pelas gran<strong>de</strong>s potências: Estados Unidos <strong>de</strong> um lado, União<br />

Soviética do outro, para falar só <strong>de</strong> duas. Em Angola, por exemplo, a guerrilha começou<br />

sob influência dos Estados Unidos. A sua Igreja Baptista tinha particular influência na<br />

UPA, (União dos Povos <strong>de</strong> Angola) o movimento que lançou o terror em Angola, a partir<br />

<strong>de</strong> 1961. Alguns dos nossos territórios ultramarinos eram muito ricos, pelo que não<br />

ficaram imunes ao movimento <strong>de</strong> cobiça dos países que tinham sido colonizadores<br />

ou ditos “colonizadores” e também <strong>de</strong> outros que o não tinham sido, mas com claras<br />

apetências para essa área do Mundo. O que se gerou foi um movimento no sentido<br />

<strong>de</strong> dar a in<strong>de</strong>pendência ou promover a in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>sses territórios, atribuindo-se<br />

aos povos locais a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se governarem, mas continuando, os países<br />

promotores a ter a possibilida<strong>de</strong> da exploração das suas matérias-primas. Houve um<br />

gran<strong>de</strong> cinismo da comunida<strong>de</strong> internacional. Preten<strong>de</strong>u-se obter o melhor <strong>de</strong> dois<br />

Guiné, no Rio Buba - Dezembro <strong>de</strong> 1969<br />

mundos, isto é, apoiavam, promoviam as in<strong>de</strong>pendências, mas continuavam a obter as<br />

mais valias da economia… e, <strong>de</strong>pois “eles” que se governassem . Não tinham responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> governação, <strong>de</strong> apoiar o povo, mas<br />

iam tirar partido das mais valias <strong>de</strong>sses territórios. Foi um pouco o que aconteceu. E eu já o disse a oficiais superiores africanos que,<br />

numa conferência, levantaram o <strong>de</strong>do e referiram: - “O Sr. Almirante está cheio <strong>de</strong> razão”.<br />

MP: Passemos ao seu percurso no seu Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, na Guiné. E <strong>de</strong>pois? Como foi a sua vida? Um homem que, inicialmente<br />

não tinha como projecto ir para os fuzileiros e que se vê <strong>de</strong> repente, a comandar 75 homens, numas condições como eram as<br />

da Guiné… Como encarou tudo isso?<br />

VM: A questão é importante. Vi “tudo isso” como vi tudo na minha carreira. Era uma imposição <strong>de</strong> serviço. Eu estava na Marinha<br />

para servir e portanto teria que servir o melhor que pu<strong>de</strong>sse e soubesse. E por isso, da mesma forma como assumi outras funções<br />

empenhei-me, também, no comando da activida<strong>de</strong> do meu Destacamento até ao limite das minhas capacida<strong>de</strong>s, apesar das difíceis<br />

condições operacionais, logísticas e humanas em que nos encontramos a maior parte do tempo. Claramente, o Comando da Defesa<br />

Marítima da Guiné não estava preparado para apoiar os DFE’s fora da base, em Bissau, e nem sempre fez o esforço necessário para se<br />

adaptar. Havia até quem pensasse que para os <strong>Fuzileiros</strong> qualquer coisa servia!!! Mas assumi a missão com toda a energia, procurando<br />

mesmo suprir lacunas, lançando mão da enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação e da sagacida<strong>de</strong> do nosso pessoal. Se não nos apoiavam<br />

com “intelligence” nós tratávamos disso na zona, se não nos mandavam alimentação, nós caçávamos ou pescávamos à granada, etc .<br />

Na verda<strong>de</strong> a comissão <strong>de</strong> serviço na Guiné teve duas fases: numa primeira, muito curta, tínhamos base em Bissau, com instalações<br />

muito bem estruturadas e organizadas, na sequência do emprego operacional dos <strong>Fuzileiros</strong> que estava a ser feito, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há anos.<br />

CM: Ainda lá estava o Ferrer?<br />

VM: Já não estava. Teria saído havia relativamente pouco tempo.<br />

Portanto, como estava a dizer, nessa primeira fase saíamos nas lanchas – e também aconteceu algumas vezes, sairmos <strong>de</strong> helicóptero,<br />

em operações helitransportadas – mas, sobretudo, saíamos nas lanchas para vários locais. Também fazíamos operações <strong>de</strong> vigilância<br />

e contra penetração, <strong>de</strong>stacando Secções ou partes dos Grupos <strong>de</strong> Combate do Destacamento para os rios, como Mansoa, Cacheu,<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> Buba, etc<br />

Apenas como exemplo, refiro que, nas vésperas do Natal <strong>de</strong> 1968, tivemos <strong>de</strong> ocupar uma ilha, durante dois dias, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os morteiros<br />

82, russos, podiam atingir o aeroporto <strong>de</strong> Bissau como, aliás, tinha acontecido no Natal <strong>de</strong> 1967.<br />

Com a chegada do General Spínola, <strong>de</strong>senha-se uma segunda fase fruto <strong>de</strong> ele ter tido, na minha perspectiva, uma boa visão estratégica<br />

do conflito. É que a guerrilha não se alimenta exclusivamente da população, contrariamente ao pensamento <strong>de</strong> Mao-tse-tung que<br />

pretendia ensinar que “a população está para o guerrilheiro como a água está para o peixe”. Isso é parcialmente verda<strong>de</strong>. A água dá<br />

oxigénio ao peixe. A população dá comida aos guerrilheiros mas não lhe dá munições nem armamento.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 29


entrevista<br />

Percebeu-se então – com base nas nossas informações – on<strong>de</strong> se situavam os corredores <strong>de</strong> infiltração: um no Norte, a partir do<br />

Senegal, sobretudo pela península <strong>de</strong> Sambuiá, e outro no Sul. O Comando-Chefe atribuiu à Marinha uma zona <strong>de</strong> operações em<br />

permanência no Norte, no rio Cacheu. Aqui, a nossa Marinha <strong>de</strong>senhou uma excelente operação que foi a “Via Láctea” que <strong>de</strong>morou<br />

meses, com pessoal no terreno, e no rio, 24 horas sobre 24 horas, com lanchas dos vários tipos e com fuzileiros emboscados em botes<br />

e com pontuadas nas margens. Ora, durante esse tempo, a penetração <strong>de</strong> armamento foi reduzida <strong>de</strong> tal maneira que a flagelação dos<br />

quartéis, do lado Sul do Cacheu, que era da or<strong>de</strong>m das 60 a 70 vezes por mês, passou para 3, 4, ou pouco mais, exactamente porque<br />

a guerrilha não tinha munições nem renovação <strong>de</strong> armamento.<br />

Só que, como não havia meios para permanecer naqueles locais, tendo a base em Bissau, mandaram-nos instalar em Ganturé. Ficámos<br />

em péssimas condições. Os primeiros DFE’s a iniciar tal prática foram o 12 (Cte Pedrosa) e o 13 (o meu) aproveitando 3 barracões em<br />

ruínas que tinham servido para armazenar mancarra (amendoim), junto ao rio e aos campos <strong>de</strong> arroz, as bolanhas. Nem sequer levámos<br />

mosquiteiros…! É interessante relembrar a imagem <strong>de</strong> um camarada nosso da Marinha que escreveu – referindo-se ao tempo em que<br />

tinha permanecido num sítio semelhante – que “os mosquitos eram tantos que <strong>de</strong>itava-se a mão ao ar, espremia-se e escorria sangue”.<br />

CM: Uma pergunta que vem na sequência da minha experiência em Angola. Junto à fronteira nos locais <strong>de</strong> penetração, seria possível<br />

fazer patrulhamento com viaturas <strong>de</strong> tracção às quatro rodas, a corta mato?<br />

Com Oficiais e ca<strong>de</strong>tes na EFZ<br />

VM: Não. O terreno da Guiné é extremamente ensopado, cortado por inúmeras linhas <strong>de</strong><br />

água. E os rios que correm no sentido Norte/Sul têm nas margens, quantida<strong>de</strong>s brutais<br />

<strong>de</strong> “mangal” selvagem, aquele mangal <strong>de</strong>nsíssimo, só penetrável por forças anfíbias<br />

muito bem preparadas, no fundo, pelos <strong>Fuzileiros</strong>. Quando acaba o “mangal” não começa<br />

abruptamente a mata, isto é, há a “bolanha” <strong>de</strong> permeio até à mata encharcada. Trata-se<br />

<strong>de</strong> terrenos quase impossíveis <strong>de</strong> serem trilhados por quaisquer viaturas. A maior eficácia<br />

era conseguida pela patrulha dos rios com lanchas e botes dos <strong>Fuzileiros</strong> e pela acção<br />

<strong>de</strong>stes também em terra, com aconteceu na longa operação “Via Láctea”.<br />

A propósito: em consequência dos resultados que se obtiveram, entretanto, o General<br />

Spínola mandou 3 ou 4 companhias do exército entrarem na península <strong>de</strong> Sambuiá<br />

limitada a Sul pelo Cacheu, e no sentido Norte/Sul pelos rios Talicó e Sambuiá. A coisa<br />

não correu bem. Uma companhia teve uns mortos, outras não conseguiram entrar nos<br />

rios e, então, o General Spínola <strong>de</strong>u or<strong>de</strong>ns (<strong>de</strong> uma quinta-feira para segunda-feira)<br />

que avançassem os fuzileiros. Foi o DFE 12, do Pedrosa e fui eu (DFE 13). Levámos<br />

cada um só meio Destacamento, ficando os outros meios em “stand-by”, nos rios para<br />

<strong>de</strong>sembarcarem, em manobra, on<strong>de</strong> fosse necessário. Fomos, penetrámos e tivemos<br />

sucesso. Eu trouxe cerca <strong>de</strong> 20 prisioneiros e algumas armas.<br />

Apenas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> capturados esses prisioneiros, se veio a saber da existência <strong>de</strong><br />

arrecadações, <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> armamento que os guerrilheiros traziam em colunas do<br />

Senegal e que, naquela altura, <strong>de</strong>veriam estar a chegar ao Cacheu.<br />

Presumo que os guerrilheiros e as suas chefias pensassem que nós não teríamos a<br />

persistência suficiente para continuar no terreno em condições extremamente hostis.<br />

De facto, lanchas e fuzileiros permanecemos nos locais <strong>de</strong> emboscada e <strong>de</strong> patrulha 24 horas por dia fazendo abortar as tentativas <strong>de</strong><br />

“cambança” do IN, ou interceptando mesmo as travessias do Cacheu.<br />

Depois, acabei por fazer uma operação helitransportada sobre a Península do Sambuiá, próximo do Senegal com apenas 30 homens.<br />

Foi a operação “Gran<strong>de</strong> Colheita”. Apanhámos cerca <strong>de</strong> 200 armas entre ligeiras e pesadas e 150.000 munições. Para recuperar o<br />

armamento, conduzindo-o para Bigene, foram empregues cinco helicópteros que andaram uma tar<strong>de</strong> inteira a carregar e <strong>de</strong>scarregar<br />

armamento.<br />

Foi uma operação para que me ofereci directamente ao General Spínola, quando ele foi a Bigene indagar como tinha corrido uma<br />

operação do Comando Operacional 3 nessa zona, mas sem gran<strong>de</strong>s resultados. Pretendia mandar lá Paraquedistas, mas eu apesar <strong>de</strong><br />

ter chegado do mato horas antes fiz prssão para ir lá com os meus <strong>Fuzileiros</strong>. Aceitou, mas que fosse só uma vaga <strong>de</strong> helicópteros com<br />

30 homens! Preparei o meu grupo para essa emergência e <strong>de</strong>terminei que se levasse o máximo <strong>de</strong> munições, que ninguém levasse<br />

água (eram só uma horas. Eu próprio levava uma ou duas granadas <strong>de</strong> bazooka. Fizemos essa apreensão, e cheguei ao fim do dia para<br />

reembarcar e dizem-me: “Não, fica para o dia seguinte.” Fiquei no mato para o dia seguinte, próximo do Senegal, com cerca <strong>de</strong> 30<br />

homens, on<strong>de</strong> eles tinham umas centenas largas <strong>de</strong> guerrilheiros. E o General Spínola (pelo piloto do helicóptero da última vaga que<br />

levou o material) manda-me dizer para ficar ali, no sítio on<strong>de</strong> eu estava e que, num raio <strong>de</strong> 3 quilómetros iria mandar fazer fogo <strong>de</strong><br />

artilharia batendo o terreno <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ponto on<strong>de</strong> eu estava, <strong>de</strong> noite. E eu disse ao piloto: “Diga ao Sr. General que eu não quero fogo<br />

<strong>de</strong> artilharia (eu sabia como era… sou artilheiro) e que não vou ficar aqui “. Assinalei na carta do piloto o local (eu já tinha i<strong>de</strong>ntificado<br />

aquilo, segundo a boa táctica <strong>de</strong> fuzileiro). Então, eu que tinha estado ali um dia inteiro …toda a “gente” (os guerrilheiros) sabia… Era<br />

óbvio que caíam em cima <strong>de</strong> nós – ainda por cima, numa zona junto ao rio, com terreno aberto <strong>de</strong> lado –aquilo seria um morticínio<br />

completo, era um massacre, se ficasse lá. De facto, tive a coragem <strong>de</strong> dizer: “Diga ao Sr. General que eu não fico aqui”. E disse ao<br />

piloto on<strong>de</strong> iria ficar.<br />

CM: E nessa noite bombar<strong>de</strong>aram-te ou não?<br />

VM: Fizeram fogo <strong>de</strong> morteiros e Foram lá. E eu fiquei na mata, num sítio que tinha i<strong>de</strong>ntificado, segundo a boa táctica que apren<strong>de</strong>mos<br />

na Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, à noite e tudo caladinho. E fiz outra coisa: man<strong>de</strong>i retirar as pilhas todas aos rádios, para o pessoal não ter a<br />

tentação <strong>de</strong> comunicar. Do outro lado da fronteira havia cubanos e guerrilheiros que nos po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>tectar. No dia seguinte continuei,<br />

por ali acima, numa operação típica dos fuzileiros.<br />

30 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


MP: Depois da Guiné…<br />

Imposição <strong>de</strong> distintivo pelo Comt Bacharel na EFZ<br />

entrevista<br />

MP: À distância <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 30 anos como vê a situação <strong>de</strong> Portugal<br />

e esta guerra que nós fizemos?<br />

VM: Foi uma guerra que <strong>de</strong>monstrou aquilo que <strong>de</strong> melhor os<br />

portugueses têm que é capacida<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> sacrifício, uma<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ultrapassar dificulda<strong>de</strong>s inopinadas e por vezes<br />

muito gran<strong>de</strong>s. Foi aquilo que o português sempre <strong>de</strong>monstrou<br />

ao longo da história. Demonstrou também outra coisa: a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> nos relacionarmos com povos distantes e diferentes e a<br />

nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar a diferença e isso às vezes é muito<br />

esquecido.<br />

MP: Nessa medida, terá valido a pena…<br />

VM: Valeu a pena com certeza. Demonstrámos que não eram os<br />

outros a <strong>de</strong>terminar aquilo que <strong>de</strong>víamos fazer. Tínhamos in<strong>de</strong>pendência<br />

no País e tínhamos in<strong>de</strong>pendência nas nossas linhas<br />

<strong>de</strong> acção e na nossa vonta<strong>de</strong>. Tivemos sempre essa <strong>de</strong>terminação<br />

ao longo da história. Foi uma lição a tirar para o presente.<br />

VM: Depois da Guiné, cheguei a Portugal e também não tive direito a licença. (risos e umas gargalhadas)<br />

Mandaram-me imediatamente para a Escola Naval, para professor <strong>de</strong> artilharia on<strong>de</strong> até já tinha pontos para ver. Enfim… E aí fiquei,<br />

durante cinco anos e tal, a leccionar a disciplina <strong>de</strong> artilharia acumulando com o cargo <strong>de</strong> Director do Laboratório <strong>de</strong> Explosivos. Entretanto<br />

dá-se o “25 <strong>de</strong> Abril”, há o período do “PREC” e <strong>de</strong>pois do “25 <strong>de</strong> Novembro” sou chamado ao CEMA para ir comandar a Força<br />

<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> do Continente. Disse ao CEMA: “Mas eu sou Capitão-Tenente e o comando da “Força” é <strong>de</strong> Capitão <strong>de</strong> Mar-e-Guerra.<br />

E o que eu gostava era <strong>de</strong> ir embarcar”. E o CEMA disse-me: “pois é mas, <strong>de</strong>pois, no fim, talvez lhe arranje uma Fragata”. E estive<br />

dois anos como comandante da FFC, entretanto promovido a Capitão-<strong>de</strong>-Fragata. Tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com o Comandante do<br />

Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e com os outros Oficiais naquilo que estávamos a perceber tinha <strong>de</strong> ser a nova a reorientação da activida<strong>de</strong> dos fuzileiros<br />

e uma nova orgânica, <strong>de</strong> batalhões, companhias, unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarque etc., uma nova estrutura visando as missões<br />

que fossem necessárias para os fuzileiros. Começámos inclusivamente a fazer exercícios, primeiro ao nível <strong>de</strong> companhia, e <strong>de</strong>pois, ao<br />

nível <strong>de</strong> batalhão. Foi mais simples do que eu pensava, face ao período <strong>de</strong> agitação política que íamos vivendo. Conseguimos, <strong>de</strong> certa<br />

forma, estabilização e eliminar a política da área militar dos fuzileiros. Planeámos um gran<strong>de</strong> exercício que foi o “Albatroz”, realizado<br />

em Sagres. Houve uma gran<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Força Aérea Portuguesa e do Comando Naval. Fez-se uma verda<strong>de</strong>ira operação anfíbia, on<strong>de</strong><br />

esteve o então Presi<strong>de</strong>nte da República, General Ramalho Eanes, a assistir aos <strong>de</strong>sembarques. Estivemos lá durante quinze dias, nos<br />

exercícios preparatórios. O Comando Naval aplicou as regras das operações anfíbias da NATO. Tentámos, pois, uma reorientação dos<br />

fuzileiros, em termos operacionais e mesmo <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s e começámos, também, a pedir a reformulação <strong>de</strong> equipamento. Fiz dois<br />

anos <strong>de</strong> comissão na “Força” e <strong>de</strong>pois “disse que era altura dos Oficiais da Classe <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>” assumirem. E fui substituído pelo<br />

Oliveira Monteiro. (Não me <strong>de</strong>ram o comando <strong>de</strong> nenhuma fragata, “porque ainda era muito novo”, mas não o tinha sido para ocupar<br />

um cargo <strong>de</strong> capitão-<strong>de</strong> mar-e-guerra sendo capitão-tenente!)<br />

MP: - E dali até ao seu cargo <strong>de</strong> Chefe do Estado-Maior?<br />

VM: Tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar a acompanhar a evolução dos fuzileiros e tanto quanto possível <strong>de</strong> a motivar, como foi o caso <strong>de</strong><br />

quando fui Subchefe do Estado-Maior da Armada, Comandante Naval ou Subinten<strong>de</strong>nte dos Serviços do Material. A compreensão que<br />

tinha dos fuzileiros ajudou-me a incentivar o seu reequipamento, a evolução do treino e a frequência <strong>de</strong> alguns cursos no estrangeiro<br />

com outras forças congéneres.<br />

Como Chefe do Estado-Maior tive duas preocupações enormes: o reequipamento dos fuzileiros com a Lei <strong>de</strong> Programação Militar e a<br />

sua inserção em forças expedicionárias no estrangeiro. Que me lembre, tivemos, simultaneamente, fuzileiros nos Balcãs, em Timor<br />

(tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os visitar) e até em Moçambique, em apoio humanitário às cheias, e fuzileiros integrados numa força que teve<br />

um papel notável na Guiné, no conflito entre Nino Vieira e Assumane Mané, em 1998.<br />

A propósito <strong>de</strong>ste conflito ocorre-me dizer que man<strong>de</strong>i, então, preparar uma força da Armada para sair. Assumi porque o po<strong>de</strong>r político,<br />

da altura, não estava sensibilizado para essas “danças” (risos) mas eu, pelas informações que ia tendo, achei que <strong>de</strong>via preparar<br />

uma força com o navio o “Bérrio”, uma Fragata da classse “Vasco da Gama”, duas Corvetas, helicópteros e uma força <strong>de</strong> fuzileiros<br />

e man<strong>de</strong>i-a sair para o mar. Quando fui questionado sobre porque tinha mandado sair a força, respondi que tinha <strong>de</strong>cidido mandá-la<br />

para exercícios, <strong>de</strong>cisão que era da competência do CEMA. “Se <strong>de</strong>cidirem que ela <strong>de</strong>ve ir para a Guiné, ela já lá estará perto” (risos).<br />

Mas tive <strong>de</strong> apanhar o Primeiro-Ministro Guterres numa cerimónia, nos Jerónimos, e disse-lhe que aquilo podia ser um morticínio <strong>de</strong><br />

portugueses a viverem, na Guiné, assim como <strong>de</strong> muitos estrangeiros, se não procedêssemos à sua exfiltração.<br />

MP: Os <strong>Fuzileiros</strong> também andaram pela ponte <strong>de</strong> Entre-os-Rios e ouviu-se falar num sonar “<strong>de</strong> varrimento” lateral que teria sido<br />

mandado vir do estrangeiro…<br />

VM: Nós tomámos essa iniciativa. Mas já agora, aqui vai essa história da tragédia da ponte <strong>de</strong> Entre-os-Rios:<br />

Eu estava no Porto, numa reunião dos Chefes Militares portugueses com os Chefes espanhóis, e lembra-me <strong>de</strong> ter visto o rio Douro<br />

com uma corrente brutal. Ao fim da tar<strong>de</strong>, vim <strong>de</strong> avião para Lisboa e às três da manhã sou acordado porque tinha havido um <strong>de</strong>sastre<br />

enorme em Entre-os-Rios. Man<strong>de</strong>i aprontar imediatamente fuzileiros com botes para seguirem lá para cima e man<strong>de</strong>i accionar<br />

vários meios, <strong>de</strong>signadamente, do Instituto Hidrográfico e mergulhadores, mesmo antes <strong>de</strong> haver orientação politica. Estivemos lá<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 31


entrevista<br />

muito tempo, como é conhecido, e a certa altura <strong>de</strong>pois do Instituto Hidrográfico analisar a situação, verificou-se que ao fundo do rio,<br />

faltavam 15 metros, isto é, tinham sido levados 15 metros <strong>de</strong> areia, que <strong>de</strong>scalçaram os pilares da ponte… Concluímos então que<br />

era necessário ter um sonar lateral, para encontrar os automóveis e o autocarro que tinham caído ao rio, porque a água era impenetrável,<br />

barrenta, cheia <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos e com uma corrente da or<strong>de</strong>m dos 10 quilómetros hora, o que inviabilizava o mergulho autónomo.<br />

A solução era “arranjar” um sonar lateral para fazer essa pesquisa. Soube que havia um na Escócia e conseguimos que, <strong>de</strong> um dia<br />

para o outro, ele chegasse a Portugal, alugado. Depois, a Marinha até teve <strong>de</strong> pagar o IVA do seu orçamento… (risos). Os fuzileiros<br />

fizeram um trabalho notável, <strong>de</strong> resto reconhecido pela própria população e até houve um grupo <strong>de</strong> Senhoras que se organizou para<br />

lhes arranjar refeições quentes. Não parava <strong>de</strong> chover e os fuzileiros, com a sua experiência, lá conseguiram não parar com as buscas.<br />

Houve bombeiros que tentaram ajudar porque a “Protecção Civil” também queria aparecer na televisão e, a certa altura, houve até<br />

um inci<strong>de</strong>nte infeliz, que não teve consequências, com um bote dos Bombeiros que se virou e os fuzileiros ainda tiveram que andar a<br />

“pescar” Bombeiros lá pelo meio.<br />

Houve uma fase <strong>de</strong> pressão da Comunicação Social, mas nós conseguimos controlar a situação. Tive até um telefonema do Embaixador<br />

americano que me perguntava como é que nós conseguíamos coor<strong>de</strong>nar tão bem aquelas operações e relação com a comunicação<br />

social. Eu tinha um Oficial para cada televisão que falava directamente comigo e o então Comandante (hoje Almirante) Ezequiel falava,<br />

também directamente comigo para não haver equívocos. Até que um dia, <strong>de</strong> manhã, já tínhamos levantado oito ou nove automóveis,<br />

faltava o autocarro, sou confrontado com o “Diário <strong>de</strong> Notícias” com um título, perfeitamente caricato, a toda a largura da capa:<br />

“Marinha só tem andado a gastar tempo e dinheiro”. Um Senhor professor “não sei quantos” do Instituto Superior Técnico dizia<br />

que, pelas contas que fez, o autocarro estava a meia dúzia <strong>de</strong> quilómetros do local. Eu não pu<strong>de</strong> dizer nada porque não tínhamos<br />

encontrado o autocarro mas, pela nossa análise, com referência aos pontos on<strong>de</strong> os automóveis tinham estado, tudo apontava para<br />

que o autocarro estivesse próximo. Não se via nada lá <strong>de</strong>baixo,<br />

era preciso fun<strong>de</strong>ar poitas com umas toneladas <strong>de</strong> cimento para<br />

os mergulhadores estarem agarrados, para não serem levados<br />

pela corrente e só tacteando é que se conseguia <strong>de</strong>tectar alguma<br />

coisa. Um dia <strong>de</strong>pois, encontrámos o autocarro, a cerca <strong>de</strong> 40<br />

metros dos pontos on<strong>de</strong> tínhamos estado a pesquisar. Então,<br />

nessa altura, telefonei para o Sr. Director do “Diário <strong>de</strong> Notícias”,<br />

o Sr. Dr Bettencourt Resen<strong>de</strong> (já falecido - tenho a melhor das<br />

memórias <strong>de</strong>le) que conhecia muito bem e disse-lhe: “Então qual<br />

vai ser a capa amanhã? Porventura que o Sr. professor “tal” é<br />

uma besta”. E dizia-me ele: “Oh, Sr. Almirante não po<strong>de</strong> ser…”<br />

(risos). O Dr. Resen<strong>de</strong> arranjou-me <strong>de</strong>pois uma entrevista, na<br />

televisão, <strong>de</strong> 25 minutos.<br />

MP: Tudo isto me faz presumir que na sua brilhante carreira terá<br />

sido <strong>de</strong>terminante a passagem pelos fuzileiros.<br />

VM: Eu acho que foi uma experiência única, uma experiência<br />

notável e usava-a, muitas vezes, para dizer que toda a Marinha<br />

Com Brazão e Metello <strong>de</strong> Nápoles na EFZ<br />

precisava <strong>de</strong> ter uma “coisa” que os fuzileiros tinham: o brio e a<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> bem cumprir, um brio inabalável. Faltava-lhes, nessa altura, a componente tecnológica. Procurei sempre fazer sentir à outra<br />

parte da Marinha esse brio, essa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> bem cumprir e a <strong>de</strong>terminação dos fuzileiros. O que lhes faltava era, <strong>de</strong> facto, o equipamento<br />

a<strong>de</strong>quado para que eles sejam bem empregues nas forças expedicionárias. E, hoje, é com muita pena que vejo que raras vezes<br />

os fuzileiros são empregues no exterior.<br />

MP: Bom. Sabemos que “isto <strong>de</strong> ser reformado dá muito trabalho”. Já ouvi alguém dizer isto …(risos). Quer dizer-nos que trabalho é<br />

esse, Sr. Almirante?<br />

VM: Como sabe sou aqui Presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Marinha, o que me dá algum trabalho; sou Membro da Aca<strong>de</strong>mia das Ciências,<br />

sou membro da Aca<strong>de</strong>mia Portuguesa da História, da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geografia, sou Professor Convidado da Universida<strong>de</strong> Católica, sou<br />

Presi<strong>de</strong>nte do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes, sou Membro do Conselho Nacional da Educação etc. Mas, eu <strong>de</strong>i-lhe o meu<br />

currículo e está lá tudo. Para além das solicitações que tenho para conferências e palestras, em vários locais do País e no Estrangeiro.<br />

Neste momento tenho previsto uma ida ao Brasil para o Congresso dos Mares da Lusofonia, em Maio, e outra a Moçambique, em Junho,<br />

para dar umas aulas na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Moçambique – don<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> concluir que não há falta <strong>de</strong> trabalho.<br />

Mas <strong>de</strong>vo dizer que quase toda esta activida<strong>de</strong> é “pro-bono”.<br />

MP: A nossa revista “O Desembarque” tem sofrido algumas alterações, particularmente nos últimos dois ou três números, pensamos<br />

nós que para melhor. Permita-nos, Sr. Almirante, o seu olhar crítico.<br />

VM: Oiça, Marques Pinto. É difícil ter um olhar crítico quando vejo qualquer coisa que é construída e feita com tão boa intenção e que<br />

é chegar aos fuzileiros dispersos por esse mundo. E eles merecem que cheguemos até eles. Eu reúno todos os anos com parte dos<br />

homens do meu Destacamento e estamos agora a planear nova reunião. É que uma das coisas que os fuzileiros sentem – sobretudo<br />

aqueles que estiveram em África – é, muitas vezes, a incompreensão da Socieda<strong>de</strong> pelos sacrifícios que eles fizeram. Eu quando<br />

chamei traidor a um senhor político da nossa praça, estava a pensar no enorme esforço que aqueles rapazes, marinheiros e grumetes,<br />

fizeram vivendo em condições extremas que, se calhar, só os portugueses eram capazes <strong>de</strong> suportar, sem quase nenhuma compensação,<br />

para <strong>de</strong>pois serem incompreendidos e mal tratados. Isto dói no coração.<br />

E, por isso, é muito bom, tudo o que seja feito pela Liga dos Combatentes, pela <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e pelo seu “O Desembarque”<br />

no sentido <strong>de</strong> chegar ao coração dos combatentes para lhes dizer: – Vocês cumpriram e cumprem as obrigações perante a Pátria –<br />

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como poucos seriam ou são capazes <strong>de</strong> fazer. Estamos unidos, estamos convosco. Tudo<br />

o que digam a essa gente é muito positivo. É que eles dão e <strong>de</strong>ram tudo, alguns até a<br />

própria vida e os fuzileiros foram, talvez, daqueles que mais sacrifícios fizeram. Temos<br />

que homenagear os que morreram em combate, como, por exemplo faz um grupo a que<br />

pertenço, da socieda<strong>de</strong> civil, todos os anos, no Dia <strong>de</strong> Portugal, 10 <strong>de</strong> Junho, junto ao<br />

Monumento ao Combatente, em Belém. E comigo, no meu Destacamento, foram quatro,<br />

os que caíram no Campo da Honra… (fez-se um silêncio). E, portanto, chegar aos que<br />

vivem lembrando os que partiram e que também pensam na preservação dos valores <strong>de</strong><br />

cidadania, como é apanágio dos fuzileiro, penso que é uma obra extraordinária. Se pu<strong>de</strong>r<br />

ser melhor, com certeza. Porém, o que está feito já é muito bom.<br />

MP: O Sr. Almirante é Sócio Originário da AFZ e também seu Sócio Honorário, tendo sido<br />

um dos Mandatários da Lista candidata, em 2011, aos Órgãos Sociais da AFZ, cujos<br />

titulares terminam o seu mandato em Dezembro <strong>de</strong> 2013. Diga-nos, por favor, como<br />

vê a nossa/Sua <strong>Associação</strong>, a sua gestão e que palavras lhe ocorre dirigir aos Sócios,<br />

nossos camaradas.<br />

VM: Eu acho, como aliás já disse há pouco, que a obra que têm <strong>de</strong>senvolvido é notável<br />

e estou muito feliz por fazer parte <strong>de</strong> uma <strong>Associação</strong> que tem pessoas tão generosas<br />

como aquelas que estão à frente da nossa <strong>Associação</strong>. Estou certo que esse exemplo<br />

frutificará e que mais pessoas serão motivadas a contribuir para as finalida<strong>de</strong>s da<br />

<strong>Associação</strong>. O agra<strong>de</strong>cimento será, certamente <strong>de</strong> natureza moral feito à distância, por<br />

aqueles que recebem a Revista, ou que têm contacto com a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />

Operações:<br />

Emboscada 11<br />

Patrulhas 6<br />

Reconhecimentos armados 12<br />

Golpes <strong>de</strong> Mão 6<br />

Total 35<br />

Resultados positivos:<br />

Inimigos mortos 40<br />

Prisioneiros 43<br />

Total 83<br />

Acampamentos <strong>de</strong>struídos 282<br />

Embarcações apreendidas/<strong>de</strong>struídas 25<br />

Armamento Apreendido:<br />

Canhão s/r 82 mm 1<br />

Morteiro 82 mm 1<br />

Lança-Granadas Foguete 7<br />

Metralhadoras pesadas 2<br />

Metralhadoras ligeiras 20<br />

Espingardas autom., não-automáticas e nativas 9<br />

Pistolas-metralhadoras 91<br />

Espingarda caça<strong>de</strong>ira 1<br />

Total 216<br />

Resumo da Activida<strong>de</strong> Operacional do DFE 13<br />

Guiné (21/Abr/68 a 25/Jan/1970)<br />

entrevista<br />

Devo dizer que, ainda hoje, me reúno, com os marinheiros que foram do meu Destacamento, umas vezes em grupos gran<strong>de</strong>s, outras<br />

apenas com os da zona on<strong>de</strong> vivemos, mas sempre pensamos também nos outros e, porventura, em algum com um certo tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s,<br />

sem nunca esquecer os que partiram, em combate, ou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le, mas quantas vezes em consequência <strong>de</strong>le.<br />

Portanto, este sentido <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> é muito português, é muito marinheiro e, agora, diria que é muito fuzileiro.<br />

CM e MP: Muito obrigado Sr. Almirante.<br />

XXXXXXXXXXX<br />

Munições:<br />

Vários calibres 109.390<br />

Granadas <strong>de</strong> mão 5<br />

Granadas <strong>de</strong> Morteiro 82 mm 113<br />

Granadas <strong>de</strong> Canhão s/r 394<br />

Granadas <strong>de</strong> LGF 240<br />

Minas 38<br />

Total 1.102.062<br />

Outro Material:<br />

Explosivos plásticos 30 kg<br />

TNT 41 kg<br />

Total 71 kg<br />

Disparadores 380<br />

Armadilhas 2<br />

Aparelhos <strong>de</strong> pontaria <strong>de</strong> morteiro 60 mm 3<br />

Canos <strong>de</strong> Metralhadoras 21<br />

Pratos <strong>de</strong> Morteiros 60 mm 1<br />

Carregadores <strong>de</strong> diversas espingardas 146<br />

Total 553<br />

Tempos <strong>de</strong> patrulha e emboscadas<br />

(em LDM e botes) 4.257 h<br />

Contactos <strong>de</strong> fogo com o inimigo 32<br />

Resultados negativos:<br />

Homens evacuados para Portugal 3<br />

Feridos em combate 12<br />

Mortos em combate 4<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 33


divisões<br />

Divisão do Mar<br />

e das Activida<strong>de</strong>s Lúdicas e Desportivas<br />

Caminhada dos Castelos 2012<br />

A<br />

Secção <strong>de</strong> Pe<strong>de</strong>strianismo levou a cabo no passado dia 5 <strong>de</strong> Outubro a 1.ª “Caminhada<br />

dos Castelos” <strong>de</strong>stinada a sócios, familiares e amigos. Tratou-se <strong>de</strong> um<br />

percurso com características muito específicas, que teve como ponto <strong>de</strong> partida<br />

o Castelo <strong>de</strong> Palmela e como ponto <strong>de</strong> chegada o Castelo <strong>de</strong> Sesimbra.<br />

A activida<strong>de</strong> foi efectuada em dois dias, teve uma distância <strong>de</strong> 34 km, que foram percorridos<br />

em duas fases: 16 km no primeiro dia e 18 km no segundo dia!<br />

O percurso foi sempre muito animado e relembraram-se as marchas feitas por todos<br />

nós, <strong>Fuzileiros</strong>, na EFZ.<br />

Tivemos como ponto <strong>de</strong> paragem e pernoita o Parque <strong>de</strong> Campismo dos Picheleiros no<br />

sopé da Serra da Arrábida.<br />

A noite foi memorável, aquecida ao lume <strong>de</strong> uma fogueira e guarnecida <strong>de</strong> uma saudável<br />

“ração <strong>de</strong> combate”.<br />

Já a noite ia longa, quando os participantes recolheram às tendas para o <strong>de</strong>scanso<br />

necessário, para se encarar a jornada final.<br />

Por trilhos e vales, sempre acompanhados da beleza natural da nossa Serra concluiu-<br />

-se mais uma activida<strong>de</strong> em plena Natureza.<br />

Apesar do reduzido número <strong>de</strong> participantes, ficou-nos a esperança <strong>de</strong> que em 2013<br />

os mesmos estarão presentes para guiarem novos aventureiros.<br />

34 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


Campeonato Regional Sul Pistola Livre a 50 m<br />

Taça ARTS<br />

em Carabina <strong>de</strong> Cano Articulado<br />

Disputada em quatro provas, realizadas durante o ano <strong>de</strong><br />

2012, a Taça <strong>Associação</strong> Regional <strong>de</strong> Tiro do Sul (ARTS)<br />

<strong>de</strong>correu em vários locais da zona sul do País, tendo sido a<br />

última prova realizada em Évora!<br />

divisões<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 2012 realizaram-se cinco provas para o Troféu “Fe<strong>de</strong>ração Portuguesa<br />

<strong>de</strong> Tiro” – Pistola <strong>de</strong> Recreio a 25m. Contando para a classificação final<br />

as três melhores provas das cinco realizadas, a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> obteve,<br />

no passado dia 09 <strong>de</strong> Dezembro, o 3.º lugar em Equipas, sendo o prémio recebido pelo<br />

Chefe <strong>de</strong> Divisão, Espada Pereira.<br />

O empenho <strong>de</strong> todos os atletas que constituíram as equipas foi fundamental para a<br />

obtenção <strong>de</strong>ste galardão que, como sempre é <strong>de</strong> todos nós mas, principalmente, dos<br />

atletas que <strong>de</strong>ram o seu melhor para que a AFZ visse, mais uma vez o seu nome subir<br />

ao pódio. Citam-se os nossos atletas, como é <strong>de</strong> toda a justiça: João Pereira, João Luz,<br />

António Ramos, Miguel Correia, Paulo Samuel, Comt Semedo <strong>de</strong> Matos e Henrique Matos.<br />

2013 será <strong>de</strong> progresso.<br />

Esta prova, realizada a 20 <strong>de</strong><br />

Outubro, a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

obteve 2.º lugar em<br />

equipas, sendo o prémio recebido<br />

pelo Chefe <strong>de</strong> Divisão, Espada<br />

Pereira, na cerimónia <strong>de</strong><br />

entrega <strong>de</strong> prémios organizada<br />

pela ARTS, cerimónia que teve<br />

lugar na ARDBA, no Montijo.<br />

O empenho e <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> todos os atletas que integraram as<br />

equipas, foi fundamental para a obtenção <strong>de</strong>ste galardão que é<br />

<strong>de</strong> todos nós mas, acima <strong>de</strong> tudo, dos atletas que tornaram este<br />

objectivo possível.<br />

Foram os seguintes os nossos atletas: Manuel Luís, Miguel Luís,<br />

Jorge Nunes e Luís Pieda<strong>de</strong>.<br />

Parabéns a todos.<br />

Troféu Fe<strong>de</strong>ração Portuguesa <strong>de</strong> Tiro<br />

com Pistola <strong>de</strong> Recreio a 25 m<br />

Nesta modalida<strong>de</strong>, com um nível<br />

competitivo muito elevado, face à<br />

distância, conquistou o 1.º lugar<br />

o nosso atleta Rui Rodrigues, em HS 2,<br />

com 484 pontos.<br />

Os nossos parabéns, acima <strong>de</strong> tudo por<br />

ter sido o Atleta que mais representou a<br />

<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, durante 2012,<br />

com um total <strong>de</strong> 20 competições realizadas!<br />

Saudações e parabéns ao Rui Rodrigues.<br />

Textos do espaço “Divisões” da autoria <strong>de</strong> Espada Pereira – Chefe da Divisão das Activida<strong>de</strong>s Lúdicas e Desportivas<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 35


crónicas<br />

Breves estórias da Guiné<br />

Torrão (1964), Porto (1965) e Sedas (1964) - Esquadra “BRAVO”<br />

A<br />

minha esquadra, em meados <strong>de</strong> 1968, fez uma pequena<br />

paragem para assentar i<strong>de</strong>ias, pois estávamos numa zona<br />

no norte da Guiné, on<strong>de</strong> dominava o famoso Grupo do Nino<br />

Vieira, que mais tar<strong>de</strong> viria a ser o Presi<strong>de</strong>nte da Guiné Bissau.<br />

Nesta zona fazíamos quase sempre os <strong>de</strong>sembarques entre as 2 e<br />

as 4 horas da manhã. O tarrafo era muito <strong>de</strong>nso e nós <strong>de</strong>veríamos<br />

chegar à orla da mata antes do dia nascer.<br />

Esta zona Chamava-se Tancroal perto <strong>de</strong> Canjája, on<strong>de</strong> o Grupo<br />

do Nino mais actuava.<br />

Nesse dia o inimigo não nos <strong>de</strong>u <strong>de</strong>scanso. Foi um dia muito “preenchido”<br />

em relação às outras operações já que - apesar <strong>de</strong> se<br />

caracterizarem quase sempre por contactos e emboscadas – esta<br />

teve <strong>de</strong> tudo. Além <strong>de</strong> contactos consecutivos <strong>de</strong> fogo tivemos<br />

que ser reabastecidos por duas vezes <strong>de</strong> munições, coisa que era<br />

impensável numa operação normal. Mas felizmente saímo-nos<br />

bem, apesar <strong>de</strong> um camarada ferido por duas vezes(!), “o Amália”<br />

(era a sua alcunha) que, mesmo ferido não quis ser evacuado,<br />

pois aten<strong>de</strong>ndo à situação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> pressão ele preferiu estar<br />

com o Destacamento (Gran<strong>de</strong> Fuzileiro!). Felizmente os ferimentos<br />

foram ligeiros.<br />

Teremos que agra<strong>de</strong>cer os bons serviços da Força Aérea pela<br />

prontidão das respostas aos pedidos <strong>de</strong> intervenção do nosso<br />

Manuel Ramos<br />

Destacamento para reabastecimento <strong>de</strong> munições e comida…<br />

Entretanto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todo um dia cheio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s (<strong>de</strong> que hoje<br />

tenho sauda<strong>de</strong>s!) lá conseguimos chegar ao tão <strong>de</strong>sejado ponto<br />

<strong>de</strong> reembarque.<br />

Este foi mais um dia menos bom mas, no essencial igual a tantos<br />

outros menos bons valendo-nos, sempre, o apoio da nossa “família”<br />

<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />

As patrulhas que fazíamos, no Rio Cacheu eram quase sempre<br />

em zonas perigosas:<br />

Era frequente que, <strong>de</strong> vez em quando e quando mais era necessário,<br />

fazermos Patrulhas em botes <strong>de</strong> Borracha.<br />

E na zona mais perigosa por on<strong>de</strong> os Botes e Lanchas (LDM)<br />

quase sempre eram atacados, o IN até tinha a ousadia <strong>de</strong> atacar<br />

os navios-patrulha (“Sagitário, “Lira”, “Hidra” ou “Cassiopeia”)<br />

protegido por abrigos subterrâneos nessa tal “Clareira” do Rio<br />

Cacheu e na zona do Tancroal, a caminho <strong>de</strong> Binta/Farim.<br />

Conforme estas fotos documentam tivemos que utilizar táticas<br />

com gran<strong>de</strong> imaginação. Antes <strong>de</strong> chegar à “maldita Clareira”,<br />

on<strong>de</strong> era suposto o In estar quase sempre à nossa espera, os dois<br />

ou três botes das patrulhas, encostavam-se à margem opostas<br />

e começavam a fazer fogo, <strong>de</strong> cobertura, com a nossa “amiga e<br />

famosa” MG42; varrendo a margem toda, permitindo-nos assim<br />

passar, os restantes botes, sem problemas.<br />

Nós, DFE 12, felizmente, não tivemos graves problemas.<br />

Fomos vivendo com “este problema”…<br />

Porém, mais tar<strong>de</strong>, na minha segunda comissão, que fiz também<br />

na Guiné, no DFE 13 - 1971/1972, houve, que me lembre, botes<br />

<strong>de</strong> Camaradas nossos que foram atacados, houvendo duas baixas<br />

mortais.<br />

Era assim a Guiné-Bissau dos nossos tempos. Desejaria que hoje,<br />

por lá, não fosse tão mau. Contudo, não me parece…<br />

Manuel Ramos (“O Porto”)<br />

MAR. FZE. n.º 1205/65<br />

Sóc. Orig. n.º 90<br />

Patrulhas no rio Cacheu Em primeiro plano, Torrão e Porto a caminho do reembarque (rio Cacheu)<br />

36 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


Marques Pinto<br />

É<br />

esta a quarta crónica que dou à estampa na revista “O Desembarque”.<br />

E por isso, para que se não perca o fio da narrativa,<br />

aconselho a consulta das edições números 12, 13 e<br />

14. Tratando-se <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong> uma longa história, só assim se<br />

po<strong>de</strong>rá acompanhar o drama que centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> portugueses<br />

e angolanos ou <strong>de</strong> angolanos portugueses viveram, na<br />

nossa <strong>de</strong>scolonização “exemplar”.<br />

Iniciadas estas “Crónicas <strong>de</strong> Outros Tempos” na edição n.º 12 da<br />

nossa revista (<strong>de</strong> páginas 17 a 20) aí escrevi para os sócios, familiares<br />

e amigos da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e para todos quantos nos<br />

queiram ler, as “Primeiras Palavras”; procurei fazer o respectivo<br />

“Enquadramento” e explicar, para os muitos que a não conheceram,<br />

o que foi a Ponte Aérea <strong>de</strong> Nova Lisboa (Huambo) /Lisboa,<br />

nessa “Cida<strong>de</strong> Acampamento” do Planalto Central <strong>de</strong> Angola que,<br />

<strong>de</strong> Junho a Outubro <strong>de</strong> 1975, se viu cercada <strong>de</strong> guerra e para<br />

on<strong>de</strong> convergiram, fugindo aos tiros, muitas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> pessoas, transformando a segunda maior cida<strong>de</strong> daquele território<br />

então português, num verda<strong>de</strong>iro caos.<br />

Tentei também transmitir aos nossos leitores o que foi uma Ponte<br />

Aérea (segundo já se disse, a maior ponte aérea civil do Mundo)<br />

com origem numa cida<strong>de</strong> que já não tinha aviões comerciais, está<br />

a cerca <strong>de</strong> 300 quilómetros do mar, e que duplicou a sua população,<br />

sendo que os últimos a chegar tiveram <strong>de</strong> ser alojados<br />

nas instalações da Feira <strong>de</strong> Nova Lisboa e, <strong>de</strong>signadamente, em<br />

pavilhões <strong>de</strong> gado.<br />

Tentei também explicar quais são os problemas <strong>de</strong> uma ponte<br />

aérea e, particularmente <strong>de</strong>sta, sobretudo, o seu principal drama:<br />

“Quem vai primeiro? As mulheres que, eventualmente com<br />

as crianças, estão mais fragilizadas? Os velhos e os doentes? Os<br />

jovens com mais esperança <strong>de</strong> vida? E os homens ficam para o<br />

fim? E as famílias? Separam-se? E se não há aviões para todos?<br />

E os política e militarmente ameaçados <strong>de</strong> morte (pelos Movimentos<br />

<strong>de</strong> Libertação que controlavam pelas armas o terreno)<br />

mesmo sendo pretos angolanos, <strong>de</strong>ixam-se morrer, já que não há<br />

po<strong>de</strong>r que os proteja? E as famílias extensas, multirraciais e multinacionais?<br />

Separam-se? Ficam os pretos e os <strong>de</strong> pele escura<br />

e vão, apenas, os brancos? Quem são os nacionais portugueses<br />

que têm o direito a ser repatriados? Só os brancos? Ou também<br />

os pretos e mestiços que nasceram sob a Ban<strong>de</strong>ira das Quinas?<br />

Então, como será? Vão todos os que quiserem ir? E Portugal suporta?<br />

E quem <strong>de</strong>fine tudo isto, quando o po<strong>de</strong>r está na rua ou<br />

para lá caminha?”<br />

Pois é: tem <strong>de</strong> ser alguém e é seguramente quem está no terreno<br />

e não ao longe, nos gabinetes ainda com ar condicionado.<br />

E quando há dúvidas como no caso <strong>de</strong>sta crónica? Quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

em última análise?<br />

De facto, o Coor<strong>de</strong>nador, este pobre homem – como dizia um Tio<br />

meu – nascido em Várzea <strong>de</strong> Cavalos, num lugar <strong>de</strong> uma Freguesia<br />

<strong>de</strong> nome Lobão da Beira, do Concelho <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la, distrito <strong>de</strong><br />

Viseu, que foi escolhido por um Alto-Comissário que nem sequer<br />

o conhecia e, quiçá, o não conheceu e, ironia do <strong>de</strong>stino, por exclusão<br />

<strong>de</strong> partes. Calhou. Foi a dita ou a <strong>de</strong>sdita do fado.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

crónicas<br />

Crónicas <strong>de</strong> Outros Tempos<br />

Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa<br />

Evacuação <strong>de</strong> uma Família Extensa e<br />

Multirracial<br />

Mas que não há ninguém em Portugal que tenha vivido esta experiência,<br />

é verda<strong>de</strong>. E que isso me serviu na vida e nos meus<br />

sucessos profissionais, também é.<br />

Mas então, vamos à história:<br />

À porta das instalações da Comissão Executiva <strong>de</strong> Repatriamento<br />

(CER) da Comissão Nacional <strong>de</strong> Apoio aos Desalojados (CNAD),<br />

instalações cedidas pelo Exército Português do que fora o seu<br />

Distrito <strong>de</strong> Recrutamento e Mobilização <strong>de</strong> Nova Lisboa – estas<br />

siglas <strong>de</strong>stas comissões só tinham expressão real em algumas<br />

cabecinhas <strong>de</strong> Luanda, porque na prática, o que realmente contava<br />

eram as pessoas que voluntariamente se entregaram à organização<br />

<strong>de</strong>sta Ponte Aérea – o Coor<strong>de</strong>nador da CER – este escriba<br />

que procura adaptar o que tem escrito às crónicas da revista “O<br />

Desembarque” – é confrontado com o seguinte quadro:<br />

Um grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>salojados, chamados a embarcar nessa noite (os<br />

aviões aterravam sempre à noite, com ocultação <strong>de</strong> luzes) constituído<br />

por cerca <strong>de</strong> 15 pessoas, discutia com elementos da minha<br />

Comissão <strong>de</strong> voluntários.<br />

Discussão acesa, quase crispada.<br />

Ao passar, pergunto o que se passa. E um dos meus colaboradores<br />

diz-me:<br />

– Estamos na presença, doutor, <strong>de</strong> um problema grave e <strong>de</strong> difícil<br />

solução: esta família tal como se apresenta, não po<strong>de</strong> embarcar.<br />

Quem o dizia era um dos Coor<strong>de</strong>nadores Adjunto a quem o problema<br />

já tinha chegado.<br />

Tratava-se <strong>de</strong> uma família extensa, constituída por um conjunto<br />

<strong>de</strong> pessoas tal que, alguns dos seus membros, não teriam direito<br />

a “retornar” a Portugal por serem negros e sem qualquer ligação<br />

a Portugal.<br />

Eram estas as “regras” mais ou menos instituídas por Luanda – na<br />

circunstância ninguém sabia, concretamente, quem as instituía e<br />

com que critérios, para não se falar já <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> – para<br />

evitar que, no calor dos recontros armados, entre os movimentos<br />

ditos <strong>de</strong> libertação <strong>de</strong> Angola (MPLA, FNLA e UNITA) os naturais<br />

Foto actual <strong>de</strong> José Luís Pinto (retornado então evacuado pela ponte aérea) e filho<br />

37


crónicas<br />

não brancos viessem em massa para Portugal, ocupando lugares<br />

nos aviões cujo número e respectivos voos, também ninguém<br />

sabia se seriam suficientes para quantos, portugueses e naturais<br />

<strong>de</strong> Angola, <strong>de</strong> matizes mais ou menos claros, pretendiam fugir da<br />

quase total balcanização daquele território <strong>de</strong> África que ainda<br />

era nosso.<br />

Des<strong>de</strong> logo vislumbro o cenário:<br />

Uma Senhora negra, com bem mais <strong>de</strong> 80 anos, <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>finida,<br />

seguramente muito velha, alta, magríssima, quase pele<br />

e osso, carapinha branca <strong>de</strong> neve. Vestia os seus “quimonos”<br />

(panos escuros e compridos) traçados, no seu corpo esguio e encarquilhado,<br />

quase até aos pés.<br />

A Senhora, com aspecto <strong>de</strong> meio tribalizada, meio aculturada estava<br />

sentada, quase <strong>de</strong> cócoras, num pequeno <strong>de</strong>grau <strong>de</strong> pedra<br />

que dava acesso a uma das portas, com uma mão segurando os<br />

panos entre as pernas, em jeito púdico e a outra, sustentando a<br />

sua cabeça já cansada. O olhar longínquo e in<strong>de</strong>finido visava o<br />

chão.<br />

De vez em quando, levantava os seus olhos velhos e vagos varrendo,<br />

com súbita e inesperada expressão, o seu grupo, a família<br />

que lhe restava, e os outros, os intrusos que discutiam o seu<br />

<strong>de</strong>stino.<br />

Observo o grupo familiar <strong>de</strong> que a velha Senhora era, nitidamente,<br />

a Matriarca: Pretos, casados ou juntos com mestiças claras;<br />

brancos, casados ou juntos com mulatas quase negras; mulatos,<br />

com brancas loiras; brancos com cabritas; jovens <strong>de</strong> 14/15 anos,<br />

rapazes e raparigas, claros e escuros, crianças louras, quase<br />

arianas e outras escuras <strong>de</strong> 7/8 anos. Um espanto!<br />

Aqui tinhamos verda<strong>de</strong>iramente representado um protótipo <strong>de</strong><br />

família multirracial que vinha fugida <strong>de</strong> Malange e que havia integrado<br />

a “Última Coluna <strong>de</strong> Desalojados” (vidé “O Desembarque” n.º 13 –<br />

página 17) com quatro gerações nascidas em Angola que <strong>de</strong> Portugal<br />

conheciam um nome:”o Puto”!<br />

O problema que aqui se gerava era o <strong>de</strong> saber quem autorizava a<br />

evacuação para Portugal daquele “conjunto” à revelia dos “cânones”<br />

e das “regras” que aliás, como já disse, ninguém sabia <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> dimanavam, já que o Po<strong>de</strong>r já estava, nitidamente, na rua.<br />

É que, a lógica era “simples”: Em princípio, quem <strong>de</strong>via fugir e<br />

utilizar os aviões da Ponte Aérea eram os brancos, aqueles que<br />

tinham ido <strong>de</strong> Portugal para Angola e agora retornavam. Era a<br />

lógica do “retorno” <strong>de</strong> um “ilustre” Governo <strong>de</strong> Portugal que, em<br />

Decreto-Lei, <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1975, criara o IARN (Instituto <strong>de</strong> Apoio<br />

ao Retorno <strong>de</strong> Nacionais).<br />

E <strong>de</strong>sta família Angolana – (<strong>de</strong> pretos, cafuzos, mulatos, cabritos,<br />

mestiços <strong>de</strong> todas as tonalida<strong>de</strong>s e até crianças completamente<br />

brancas e loirinhas, todos fugidos a tiro da total balcanização do<br />

Centro/Norte e aqui chegados na esperança <strong>de</strong> que um avião os<br />

levasse para “o Puto”, on<strong>de</strong> não ouvissem mais as gargalhadas<br />

sarcásticas das armas automáticas e o ribombar dos morteiros e<br />

dos canhões sem recuo – que fazer?<br />

A “minha” velha negra com os seus olhos húmidos porque não<br />

tinha mais lágrimas para verter, percebendo, enfim, a dúvida<br />

balbuciou palavras quase ininteligíveis, híbridas <strong>de</strong> português e<br />

quimbundo, com um misto <strong>de</strong> pânico e <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>:<br />

– Olha lá… A velha não fica. A velha não presta. A velha vai fazer<br />

“uafa” (morrer).Mas ainda não. Velha só fazer “uafa” quando<br />

“N’Zambi” mandar. Primeiro, “N’Zambi” mandou para eu tratar<br />

dos meus neto. Velha não é vossa. É dos neto. Não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

morrer aqui.<br />

38<br />

Encostadita à velha negra, uma criança <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 7 anos (branca,<br />

loira, <strong>de</strong> olhos azuis) chorava soluçando e dizia:<br />

– Se a Avó (seria tetravó?) fica, eu também fico.<br />

A posição do grupo, daquele grupo, <strong>de</strong> coloração <strong>de</strong> pele tão heterogénea,<br />

era a mesma.<br />

Um homem mestiço <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> madura, dos seus 40 anos, vislumbrando<br />

que eu seria “O Chefe”, transmitia-me a posição <strong>de</strong> todos:<br />

– Ou vamos todos ou <strong>de</strong>ixem-nos morrer aqui. Ficámos sem nada.<br />

Tudo o que nos resta é esta parte da família. Os outros morreram<br />

em Malange com a guerra que veio ter connosco e com a qual<br />

nada tínhamos. A nossa Avó é tudo o que nos resta para unir a<br />

família. É a nossa velha sábia que, com o po<strong>de</strong>r do seu “N’Zambi”<br />

nos há-<strong>de</strong> guiar e abençoar a todos.<br />

Havia que <strong>de</strong>cidir e, como noutras circunstâncias ainda mais difíceis<br />

e muito complexas, a <strong>de</strong>cisão era minha:<br />

– Embarcam, todos. No mesmo avião. Hoje. Aqui, a mais <strong>de</strong><br />

350 quilómetros <strong>de</strong> Malange, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terem perdido tudo,<br />

família e haveres, não ficam.<br />

Estou-me borrifando para as normas.<br />

Em Portugal que se arranjem. Não andam, há 500 anos, a dizer-<br />

-lhes que Angola é Portugal?<br />

E lá embarcou aquela família extensa, exemplo <strong>de</strong> Portugal no<br />

Mundo, que as “regras” não permitiam salvar.<br />

Marques Pinto<br />

Sóc. Orig. n.º 221<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


José Cardoso Moniz<br />

CHEGADA A MOÇAMBIQUE<br />

Estávamos em 1967, primeiros dias <strong>de</strong><br />

Novembro. O imponente paquete “Príncipe<br />

Perfeito” atracou no cais comercial <strong>de</strong><br />

Lourenço Marques. Eram cerca das 8h00<br />

dum sábado.<br />

O DFE 4, sob meu comando, fez nele a<br />

viagem para realizar naquela Província <strong>de</strong><br />

Moçambique uma Comissão <strong>de</strong> Serviço.<br />

Logo que atracado, a minha preocupação<br />

foi para a eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> haver alguém<br />

do Comando Naval para nos transmitir<br />

as instruções necessárias. A “guia <strong>de</strong><br />

marcha” especificava que a partir daquele<br />

momento, ficaria na <strong>de</strong>pendência do<br />

Comando Naval.<br />

O tempo foi passando, até que, pela<br />

10h00, estabelecidas as ligações telefónicas,<br />

<strong>de</strong>cidi telefonar para o Oficial <strong>de</strong> Serviço<br />

ao C.N.M., para perguntar se <strong>de</strong>veria<br />

apresentar-me, se mandavam buscar-me,<br />

ou se… outra coisa qualquer.<br />

Estava <strong>de</strong> serviço o Tenente Canto Moniz,<br />

filho do Eng.º responsável pela construção<br />

da ponte sobre o Tejo! Aquela obra,<br />

grandiosa para época, em que não houve<br />

<strong>de</strong>rrapagens orçamentais, nem temporais,<br />

nem… corrupções. Ao tempo tais <strong>de</strong>svios<br />

seriam inadmissíveis!<br />

O Tenente Canto Moniz, que eu não<br />

conhecia, ficou muito admirado por não<br />

saber que havia uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuzileiros<br />

a chegar a Lourenço Marques. Feitas as<br />

apresentações através da re<strong>de</strong>, preveniume<br />

que só na 2.ª feira daria conhecimento<br />

ao Comando da minha chegada! Tinha<br />

instruções para não perturbar ninguém<br />

durante o fim-<strong>de</strong>-semana. Ainda tentei<br />

argumentar, mas não me valeu <strong>de</strong> nada.<br />

A minha dúvida era pertinente. Estava<br />

previsto que o navio largaria 2.ª feira com<br />

<strong>de</strong>stino à Beira! Desembarcar ou seguir<br />

viagem até à Beira? As dúvidas eram<br />

preocupantes. Para mim!<br />

Decidi dar licença ao pessoal até domingo<br />

à noite. Às 21h00 <strong>de</strong> domingo queria toda<br />

a gente a bordo. Toda esta “lenga-lenga”<br />

é para dizer que na 2.ª feira <strong>de</strong> manhã<br />

fui recebido pelo CMG Braga da Silva,<br />

2.º Comte do C.N.M. um homem que me<br />

impressionou pela frontalida<strong>de</strong>, aprumo,<br />

<strong>de</strong>ferência e educação. Na exposição que<br />

fez acerca da guerra que travávamos em<br />

Moçambique, <strong>de</strong>u especial ênfase às minas<br />

e ao Sr. Orlando Cristina, <strong>de</strong> quem eu<br />

nunca ouvira falar.<br />

Sem me querer assustar muito, foi-me<br />

dizendo que o Niassa era conhecido pelo<br />

“estado <strong>de</strong> minas gerais”. Quanto ao Sr.<br />

Orlando Cristina, era uma espécie <strong>de</strong> “Anjo<br />

da Guarda” cujos ensinamentos <strong>de</strong>veríamos<br />

receber e cumprir porque o dito Sr.<br />

conhecia o terreno a passo e as gentes,<br />

(os seus habitantes). Conhecia guerrilheiros<br />

e não guerrilheiros. Falava as línguas<br />

todas do Niassa, Cabo Delgado e Tete.<br />

DA TEORIA À PRÁTICA<br />

Efectivamente <strong>de</strong>sembarcamos na Beira.<br />

O navio regressou a Lisboa trazendo<br />

o DFE 5 que o DFE 4 ren<strong>de</strong>u. Fomos<br />

transportados num “North Atlas” (barriga<br />

d e ginguba) da B e i r a a t é … M e t a n g u l a .<br />

A aterragem foi uma temerida<strong>de</strong>. O avião<br />

ia <strong>de</strong>masiadamente carregado para uma<br />

pista <strong>de</strong> 700 m. Por pouco não fomos<br />

amarar nas águas do Lago!<br />

À nossa espera estavam o Imediato e o<br />

Quartel Mestre do DFE 4 que foram <strong>de</strong><br />

avião para receber os materiais que herdámos<br />

do DFE 5. Fomos recebidos pelo 2.º<br />

Comandante da Base Naval e o Chefe do<br />

Estado-Maior, respectivamente Comtes.<br />

Conceição e Silva e Manuel da Silva (Manecas),<br />

aviador.<br />

Instalámo-nos. Posteriormente conhecemos<br />

o Sr. Orlando Cristina que nos fez<br />

uma exposição muito ligeira do que era<br />

a guerra, chamando a atenção para as<br />

minas. O princípio era o seguinte: on<strong>de</strong><br />

houvesse indícios <strong>de</strong> passagem <strong>de</strong> pessoas,<br />

havia minas. Portanto só podíamos<br />

<strong>de</strong>slocarmo-nos a corta mato. Mostrou<br />

encarar a guerra <strong>de</strong> guerrilha com “<strong>de</strong>sportivismo”,<br />

avisando que <strong>de</strong>víamos evitar<br />

usar as armas. Os prisioneiros faziam-se,<br />

agarrando-os. Era preferível poupar um<br />

criminoso do que matar um inocente. E no<br />

mato havia muita gente que se opunha à<br />

guerra mas era obrigada a apoiar os guerrilheiros.<br />

Com ele fizemos 4 operações. Duas <strong>de</strong> formação/preparação<br />

e mais duas para além<br />

das fronteiras, para capturar elementos da<br />

Frelimo que ele sabia on<strong>de</strong> estavam.<br />

Homem com cerca <strong>de</strong> 1,70 m, menos <strong>de</strong><br />

60 kg, extremamente frugal, fazia uma<br />

crónicas<br />

Orlando <strong>de</strong> Sousa Cristina<br />

Um herói a quem os <strong>Fuzileiros</strong> muito<br />

ficaram a <strong>de</strong>ver em Moçambique<br />

refeição ligeira por dia. Um cantil com<br />

1 litro <strong>de</strong> água dava-lhe para três dias.<br />

Falava muito pouco, fumava muitíssimo.<br />

Conhecia o mato como as suas mãos. Sabia<br />

on<strong>de</strong> havia poças <strong>de</strong> água. Por vezes<br />

as poças tinham secado. Sempre bem<br />

disposto, sem gran<strong>de</strong>s manifestações.<br />

Preparou-nos e mentalizou-nos para fazermos<br />

a guerra com o mínimo <strong>de</strong> tiros.<br />

Deslocava-se no mato como os felí<strong>de</strong>os,<br />

sem <strong>de</strong>ixar sinais. O capim continuava<br />

direito <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le passar. Sabia ler os sinais<br />

<strong>de</strong>ixados no terreno com minúcia e<br />

exactidão. Era frequente dizer-nos: “passaram<br />

aqui dois indivíduos há menos <strong>de</strong><br />

uma hora. Um vai armado e o outro não”.<br />

Deslocava-se com a cabeça bem levantada.<br />

Os olhos e os ouvidos eram as suas<br />

sentinelas permanentes.<br />

Orlando Cristina em 1970<br />

QUEM ERA ORLANDO CRISTINA<br />

Nasceu em Lagos, Algarve, em finais<br />

<strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1928. Como era balança,<br />

nasceu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 23. Os pais viviam<br />

separados. Ele ficou com a mãe e o pai<br />

estabeleceu-se em Vila Cabral, no Niassa,<br />

com um negócio que tinha por objectivo<br />

satisfazer as necessida<strong>de</strong>s primárias das<br />

populações.<br />

Sempre muito in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte mas trabalhador,<br />

fez a primária e o liceu sem dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> maior. A circunstância <strong>de</strong> a mãe<br />

lhe ter dado um padrasto, não lhe causou<br />

gran<strong>de</strong> transtorno.<br />

Acabando o liceu em 1946, fez o exame<br />

<strong>de</strong> admissão a direito em Lisboa, sendo<br />

admitido. Foi um estudante “suficiente”.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 39


crónicas<br />

Estudava o necessário para passar… e foi<br />

passando.<br />

Em 1949/50 <strong>de</strong>ixou-se envolver na campanha<br />

eleitoral <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos,<br />

apoiando-o em manifestações <strong>de</strong> rua e<br />

em distribuição <strong>de</strong> panfletos. Consequentemente,<br />

a polícia política andava com ele<br />

<strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> olho.<br />

Para evitar que fosse preso a mãe fê-lo<br />

ir viver com o pai. No Niassa, com 21/22<br />

anos, empenhou-se nos negócios do pai,<br />

abatendo caça grossa que, partida em peças<br />

e seca, era transportada e vendida em<br />

Quelimane. O Orlando encarregava-se do<br />

transporte. Não tinha falta <strong>de</strong> dinheiro. Em<br />

pouco tempo transformou-se num exímio<br />

caçador <strong>de</strong> elefantes, búfalos, rinoceronte,<br />

hipopótamos, etc. Vários historiadores<br />

<strong>de</strong>screveram as suas façanhas, sobretudo<br />

a provocação que causava nos elefantes,<br />

para os obrigar a separarem-se e matar<br />

com um único tiro aquele que lhe parecia<br />

ter maiores presas.<br />

De todas as activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas<br />

pelo Orlando Cristina, nenhuma lhe dava<br />

tanto prazer como o convívio com os habitantes,<br />

usando <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>, dando<br />

presentes e lembranças que sabia os seduziam.<br />

Rapidamente apren<strong>de</strong>u as línguas <strong>de</strong> cada<br />

povo. Ajaua, Nianja, Macon<strong>de</strong>, Swali, Macua,<br />

etc., dizia que eram todas iguais. Falava<br />

com todos e cumprimentava, segundo<br />

a tradição, com as duas mãos juntas, à<br />

boa maneira dos povos do Lago.<br />

Os sobas e parentes adoravam-no. Sobretudo<br />

as filhas!... As “bajudas”, como se<br />

diria na Guiné! Perdiam-se <strong>de</strong> amores pelo<br />

caçador <strong>de</strong> elefantes e… <strong>de</strong> paixões.<br />

AO SERVIÇO DO EXÉRCITO<br />

O cumprimento do serviço militar obrigatório<br />

foi um imperativo a que não se furtou.<br />

Orlando Cristina com a Renamo, na Gorongosa<br />

Cumpriu cerca <strong>de</strong> três anos e meio, três<br />

dos quais como alferes. Acabado o tempo<br />

obrigatório, foi aliciado para continuar,<br />

com o posto <strong>de</strong> tenente. O Exército quis<br />

aproveitar os seus dotes linguísticos e <strong>de</strong><br />

relações públicas para dinamizar um serviço<br />

<strong>de</strong> informações militares que se tornava<br />

imprescindível.<br />

Era manifesta a agitação popular <strong>de</strong>corrente<br />

dos graves inci<strong>de</strong>ntes ocorridos no<br />

planalto dos macondas, on<strong>de</strong> o governador,<br />

Comandante Teixeira da Silva, correu<br />

o risco <strong>de</strong> ser linchado. O que foi evitado<br />

com a intervenção do responsável Tito Lívio<br />

Xavier, comandante dos Voluntários <strong>de</strong><br />

Defesa Civil.<br />

O Exército cedo se apercebera que haveria<br />

um aproveitamento do <strong>de</strong>scontentamento<br />

popular. Por outro lado, como toda a gente<br />

sabia, na cida<strong>de</strong> da Beira havia um núcleo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratas que pretendia libertar-se<br />

da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Lisboa.<br />

Durante largos anos não chegaram a<br />

acordo quanto ao que pretendiam. Havia<br />

a facção do Jorge Jardim, que pretendia<br />

a in<strong>de</strong>pendência mantendo as estruturas<br />

raciais e económicas equilibradas. Os da<br />

linha dura, apoiados pela URSS, queriam<br />

a in<strong>de</strong>pendência plena, sem brancos. Uma<br />

terceira facção, pretendia uma ligação<br />

à Rodésia <strong>de</strong> Ian Smith e à África do Sul<br />

on<strong>de</strong> vigorava o “apartheid”.<br />

Eduardo Mondlane mantinha-se informado<br />

<strong>de</strong> todos estes movimentos pelo que<br />

<strong>de</strong>cidiu radicar-se em Dar-es-Salaam, capital<br />

da Tanzânia, em finais da década <strong>de</strong><br />

50, princípios da <strong>de</strong> 60. A partir <strong>de</strong> então<br />

começou a mobilizar os seus seguidores,<br />

com o objectivo <strong>de</strong> exigir a in<strong>de</strong>pendência<br />

<strong>de</strong> Moçambique.<br />

DESERÇÃO DE ORLANDO CRISTINA<br />

Jorge Jardim era um “gentleman”. Um diplomata<br />

<strong>de</strong> refinadíssimo trato. Mantinha<br />

as melhores relações com os presi<strong>de</strong>ntes<br />

Hasting Banda (Malawi), Keneth Kaunda<br />

(Zâmbia), Július Nierére (Tanzânia) e Ian<br />

Smith (Rodésia). Foi administrador-<strong>de</strong>legado<br />

da Lusalite, posição que manteve até<br />

Dezembro <strong>de</strong> 1973. <strong>Mais</strong> tar<strong>de</strong>, passou a<br />

representar outros interesses, nomeadamente<br />

o gran<strong>de</strong> magnata dos petróleos,<br />

Boullosa.<br />

Dispunha duma refinaria, a Sonarepe, e<br />

uma distribuidora, a Sonap Moçambique<br />

que fornecia produtos para todos os países<br />

limítrofes. Era seu Director Comercial<br />

o Sr. António Rocheta.<br />

Ao saber da presença <strong>de</strong> Eduardo Mondlane<br />

na Tanzânia, logo Jorge Jardim arquitectou<br />

um esquema para infiltrar alguém<br />

na organização e acompanhar a evolução<br />

dos progressos que se adivinhava vir a ter.<br />

A pessoa seleccionada foi Orlando Cristina<br />

que estava ao serviço do Exército.<br />

Depois <strong>de</strong> aturadas negociações secretas<br />

com as altas esferas do Exército, foi proposto<br />

ao Orlando Cristina a sua <strong>de</strong>serção,<br />

passando a ter a categoria <strong>de</strong> Inspector<br />

– Ven<strong>de</strong>dor da Sonap, com vencimentos<br />

líquidados mensalmente pelo director comercial.<br />

Ficou com o número 209.<br />

António Rocheta, chefe do Cristina na Sonap Moçambique<br />

Assim se consumou a <strong>de</strong>serção <strong>de</strong> Orlando<br />

Cristina, criando-se o boato da sua simpatia<br />

pelo Partido Comunista Português.<br />

Esquema semelhante foi usado com frequência.<br />

O exemplo mais conhecido é a<br />

saída do 2.º Tenente Manuel Agrellos, Comandante<br />

da lancha “Mercúrio”, e seus<br />

companheiros no Lago Niassa, passando a<br />

comandar a lancha “John Chilombwe” (ex-<br />

-“Castor”), ao serviço do Malawi. Mesmo<br />

em operações <strong>de</strong> duração muito limitada,<br />

4/5 dias, que se <strong>de</strong>senrolaram para lá das<br />

fronteiras, era usado este estratagema.<br />

40 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


As informações provenientes <strong>de</strong> Orlando<br />

Cristina eram assustadoras ou mesmo<br />

aterradoras. Eduardo Mondlane <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> ter controle na organização que veio a<br />

chamar-se Frelimo, quando os estalinistas<br />

Samora Machel e Marcelino dos Santos<br />

assumiram a chefia, contra tudo e contra<br />

todos. As cabeças <strong>de</strong> Mondlane e Uria Simango<br />

iriam rolar, porque eram pessoas<br />

mo<strong>de</strong>radas, civilizadas. Como é sabido,<br />

Eduardo Mondlane era casado com uma<br />

norte-americana e Uria Timóteo Simango,<br />

pastor evangélico, era casado com<br />

uma senhora muito respeitada <strong>de</strong> nome<br />

Celina. Esta situação <strong>de</strong> serem os presi<strong>de</strong>nte<br />

e vice-presi<strong>de</strong>nte da Frelimo, era<br />

inaceitável na URSS!! Consequentemente<br />

exigiram aos seus peões que os <strong>de</strong>pusessem<br />

e se livrassem <strong>de</strong>les. O Eduardo<br />

foi morto, porque os enfrentou. O Uria foi<br />

poupado para não haver conflitos com os<br />

seus seguidores religiosos. Logo a seguir<br />

ao 25 <strong>de</strong> Abril foi assassinado, bem como<br />

a Joana Simeão, o Gwambe e o Gwengere.<br />

O Lázaro Kawandame, regressado do<br />

Egipto, on<strong>de</strong> estava refugiado, para organizar<br />

um partido concorrente às eleições,<br />

também foi assassinado. O seu regresso<br />

tinha sido autorizado! Já <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1980<br />

foi assassinada a pobre Celina!... Como<br />

bem disse o Marcelino dos Santos, era<br />

necessário livrarem-se das oposições ao<br />

programa da Ferlimo.<br />

No meio da confusão o Orlando Cristina<br />

conseguiu pôr-se a salvo.<br />

REGRESSO DE ORLANDO CRISTINA<br />

Continuemos a história <strong>de</strong>ste homem<br />

impar, ao nível dos nossos heróis Alpoim<br />

Calvão, Rebordão <strong>de</strong> Brito, Teixeira, Jaime<br />

Neves e tantos outros.<br />

Como entretanto as chefias militares em<br />

Moçambique haviam mudado, o Orlando<br />

foi preso e acusado <strong>de</strong> <strong>de</strong>serção. As<br />

chefias <strong>de</strong>sconheciam as negociações<br />

que levaram a esta <strong>de</strong>cisão patriótica. Foi<br />

precisa a intervenção <strong>de</strong> Jorge Jardim e<br />

da Direcção Geral <strong>de</strong> Segurança para se<br />

Eng.º Jorge Jardim, patrão do Orlando<br />

esclarecer a situação. Daí dizer-se que<br />

pertenceu à PIDE, o que não tem o mínimo<br />

fundamento.<br />

Entre 1965 e 1974 Orlando Cristina às<br />

or<strong>de</strong>ns do Eng.º Jorge Jardim, <strong>de</strong>u instrução<br />

às Forças Armadas Portuguesas e<br />

aos grupos especiais constituídos por ex-<br />

-prisioneiros e voluntários. Foi neste período<br />

que os Destacamentos <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />

Especiais pu<strong>de</strong>ram usufruir e aproveitar os<br />

seus ensinamentos para melhor <strong>de</strong>sempenharem<br />

as suas funções.<br />

PÓS 25 DE ABRIL<br />

Após o 25 <strong>de</strong> Abril, o nosso homem, conhecendo<br />

bem as populações do norte <strong>de</strong><br />

Moçambique e sabendo da simpatia que<br />

gerava entre todos, convenceu-se que<br />

bastaria a sua palavra para recuperar a<br />

confiança das populações, convencendo-<br />

-as a voltar as costas à Frelimo.<br />

Com um grupo <strong>de</strong> pequenos fazen<strong>de</strong>iros<br />

atravessou a fronteira para a Rodésia.<br />

Fundaram uma emissora que dia e noite,<br />

transmitia músicas que sabiam ser do<br />

agrado das populações, a par <strong>de</strong> as instigar<br />

a revoltarem-se contra os déspotas<br />

da Frelimo. Essa emissora era ouvida em<br />

todo o Moçambique e chamava-se “Moçambique<br />

Livre”.<br />

Entretanto, a triunfante Frelimo, a quem<br />

foi entregue o po<strong>de</strong>r pelos <strong>de</strong>mocratas <strong>de</strong><br />

Lisboa, criou um campo <strong>de</strong> concentração<br />

ou reeducação na Gorongosa, em Cudzo<br />

ou Secudzo. Para este campo eram remetidos<br />

todos aqueles que não davam garantias<br />

<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>.<br />

É do conhecimento geral que a Gorongosa<br />

é uma região <strong>de</strong> leões, leopardos e hienas.<br />

Teoricamente os animais selvagens<br />

seriam impeditivos <strong>de</strong> que os prisioneiros<br />

fugissem. Contudo aconteceu que um<br />

belo dia um jovem <strong>de</strong> nome Matsangaíce,<br />

acompanhado <strong>de</strong> um número pouco numeroso,<br />

fugiu da Gorongosa e atravessou<br />

a fronteira da Rodésia. Foi dialogar com<br />

o Orlando Cristina e convencê-lo que a<br />

palavra tinha algum efeito mas era fundamental<br />

iniciarem a luta armada. Relutantemente,<br />

Orlando Cristina acabou por<br />

aceitar as teses <strong>de</strong> Matsangaíce.<br />

Este regressou a Moçambique e remetido<br />

para o Cudzo don<strong>de</strong> havia fugido. Começou<br />

então a mobilizar prisioneiros para pegarem<br />

em armas. Assim nasceu a Renamo.<br />

Primeiro a Rodésia e posteriormente<br />

a África do Sul começaram a apoiar estes<br />

revoltosos. Cristina que ficara impressionado<br />

com o carácter <strong>de</strong>ste bravo, <strong>de</strong>cidiu<br />

alterar o nome da emissora, chamando-<br />

-lhe agora “Resistência Nacional Moçambicana”.<br />

crónicas<br />

Inge Preis, sua protectora em Maputo<br />

Matsangaíce era muito inexperiente. Com<br />

os homens que dispunha tentou fazer um<br />

“golpe <strong>de</strong> mão” aos guardas do campo do<br />

Cudzo. Saiu-se mal e foi novamente preso.<br />

Fugiu mais uma vez e voltou à Rodésia.<br />

Agora regressou com homens batidos,<br />

experientes na “Arte da Guerra”. Desta<br />

vez o “golpe <strong>de</strong> mão” foi um sucesso. Libertados<br />

e armados os prisioneiros com<br />

espingardas na posse dos guardas, começaram<br />

a luta armada. Foi nomeado Secretário-Geral<br />

da Renamo o Orlando Cristina.<br />

Sendo branco manter-se-ia à frente dos<br />

militares até encontrarem africanos que<br />

o substituíssem. Como é evi<strong>de</strong>nte não se<br />

sentia muito seguro. Exigiu uma Assembleia<br />

Popular <strong>de</strong> que resultou continuar<br />

Secretário-Geral da Renamo e eleito Presi<strong>de</strong>nte<br />

o Afonso DhlaKama, <strong>de</strong>corrente da<br />

morte em combate <strong>de</strong> Matsangaíce.<br />

Os sul-africanos pretendiam que o Presi<strong>de</strong>nte<br />

fosse Domingos Arouca. Um intelectual<br />

com imenso prestígio <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong><br />

Moçambique, culturalmente muito superior<br />

aos <strong>de</strong>mais.<br />

Prevaleceu o sentido <strong>de</strong> que Domingos<br />

Arouca nunca <strong>de</strong>ra a cara. Que não seria<br />

justo afastar DhlaKama para entregar a<br />

presidência ao Domingos Arouca.<br />

Calcula-se que a luta entre a Renamo e<br />

a Frelimo tenha causado 1.000.000 (um<br />

milhão) <strong>de</strong> vítimas!<br />

Coisa pouca para os <strong>de</strong>mocratas portugueses<br />

ao serviço da URSS.<br />

Durante o conflito o Orlando Cristina <strong>de</strong>slocou-se<br />

a Lourenço Marques diversas<br />

vezes. Ficava aboletado em casa <strong>de</strong> uma<br />

senhora alemã, a Inge Preis. Deslocava-se<br />

nas viaturas da Frelimo a troco dumas cervejas<br />

ou maços <strong>de</strong> tabaco. Andava sempre<br />

“municiado”.<br />

A Inge Preis, realizadora <strong>de</strong> audiovisuais,<br />

ficou até bastante <strong>de</strong>pois da in<strong>de</strong>pendência.<br />

Por curiosida<strong>de</strong> junta-se uma foto<br />

<strong>de</strong>la, tirada há três anos em Cascais.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 41


crónicas<br />

Era com as roupas do marido, 1,90 m, que<br />

o Cristina viajara para a Europa ou para as<br />

USA em representação da Renamo.<br />

ERRO FATAL<br />

No <strong>de</strong>correr da luta armada <strong>de</strong>sertou da<br />

Frelimo para a Renamo o piloto-aviador,<br />

Adriano Bomba. Esta <strong>de</strong>serção foi preparada<br />

por seu irmão Boaventura Bomba<br />

ligado aos Serviços Secretos da África do<br />

Sul.<br />

Dhlakama <strong>de</strong>sconfiava da àfrica do Sul,<br />

sobretudo da pressão que exercia para<br />

que os Bomba tivessem mais notorieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro da Renamo. Os dirigentes sul-<br />

-africanos pretendiam que ambos fossem<br />

nomeados “comissários políticos” e integrados<br />

nos quadros da Renamo.<br />

cartas ao director<br />

O Afonso Dhlakama con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>u por<br />

pressão <strong>de</strong> Orlando Cristina. Segundo o<br />

Historiador João Cabrita, foi o seu Erro<br />

Fatal.<br />

Boaventura Bomba assassinou o Orlando<br />

Cristina, na casa <strong>de</strong>ste, arredores <strong>de</strong><br />

Pretónia, em 17 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1983. Ainda<br />

correram boatos que o Orlando fora abatido<br />

pela companheira também pertencente<br />

aos Serviços Secretos da Africa do Sul.<br />

Os mesmos Serviços Secretos julgaram o<br />

Boaventura Bomba e os quatro cúmplices<br />

con<strong>de</strong>naram-nos à morte. Foram executados<br />

no Sudoeste africano e lançados ao<br />

mar a partir dum helicóptero.<br />

Ao tempo era adido militar na África do Sul<br />

o Coronel Fernando Ramos. Viveu <strong>de</strong> perto<br />

toda esta tragédia e o seu testemunho não<br />

A história <strong>de</strong> um Fuzileiro e da<br />

sua namorada Fernanda<br />

(1961 e 1965)<br />

Tudo começou no princípio do ano<br />

<strong>de</strong> 1961, quando rebentou a guerra<br />

nas nossas colónias. Eu, Augusto<br />

Beja, com 20 anos, e a minha namorada<br />

Fernanda com 17 anos tivémos <strong>de</strong> nos<br />

separar, em boa parte, <strong>de</strong>vido à Guerra do<br />

Ultramar.<br />

A Fernanda, em Fevereiro <strong>de</strong> 1961, partiu<br />

para Orléans-França, on<strong>de</strong> era esperada<br />

por seu pai, emigrante instalado nesta<br />

cida<strong>de</strong> e eu, como não quis arriscar, fiquei.<br />

Na verda<strong>de</strong>, logo compreendi que só tinha<br />

duas soluções: apresentar-me ao serviço<br />

militar conforme a convocação que me<br />

tinha sido enviada, ou então fugir do meu<br />

país como muitos fizeram. Foi bastante<br />

difícil a escolha mas, finalmente, acabei<br />

por me apresentar no quartel em Vila<br />

Franca <strong>de</strong> Xira para cumprir o meu serviço<br />

militar, em Março <strong>de</strong> 1961.<br />

Acontece que, com a <strong>de</strong>cisão que tomei<br />

<strong>de</strong> servir o meu país, a situação ficou a<br />

partir daí um pouco complicada, para mim<br />

e para a Fernanda já que, em Junho <strong>de</strong><br />

1963 tive que embarcar para Angola, o<br />

que nos veio provocar uma terrível separação<br />

<strong>de</strong> 4 anos.<br />

Exm.º Senhor Director, permita-me que, <strong>de</strong> França, lhes conte:<br />

Posso afirmar que foi preciso muita vonta<strong>de</strong><br />

mas, finalmente, quando acabei o meu<br />

serviço militar, em Maio <strong>de</strong> 1965 fiquei<br />

<strong>de</strong> braços abertos à espera do Domingo<br />

(8 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1965) data por nós marcada<br />

para aquele tão <strong>de</strong>sejado dia, o dia<br />

do nosso casamento. Foi o dia mais feliz<br />

da minha vida mas, infelizmente, 15 dias<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casados tivemos mais uma vez<br />

<strong>de</strong> nos separar.<br />

Acontece que me recusaram o passaporte<br />

turístico <strong>de</strong>vido à minha situação <strong>de</strong><br />

reservista e, assim me impediram <strong>de</strong><br />

acompanhar minha esposa até Orléans.<br />

Foi uma injustiça muita dura <strong>de</strong> aceitar,<br />

a tal ponto que, mais tar<strong>de</strong> tentei chegar<br />

Orléans clan<strong>de</strong>stinamente mas, “o salto”<br />

correu muito mal. Fui apanhado pela<br />

polícia espanhola <strong>de</strong>ntro do comboio na<br />

fronteira <strong>de</strong> Irum.<br />

Foram um calvário aqueles 44 dias que<br />

passei <strong>de</strong> prisão em prisão repartidos<br />

entre Irum, Vitória, Burgos, Valladoli<strong>de</strong> e<br />

Salamanca, até chegar à nossa fronteira<br />

<strong>de</strong> Vilar Formoso.<br />

Foi muito complicado mas enfim, no interrogatório<br />

na nossa fronteira, não tive<br />

<strong>de</strong>ixa dúvidas. O Orlando foi abatido pelo<br />

Boaventura Bomba.<br />

O seu irmão morreu numa emboscada<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Moçambique.<br />

Há uma outra versão: Maquiavélica! Sem<br />

dúvida o Orlando foi assassinado por Boaventura<br />

Bomba mas… a mando das autorida<strong>de</strong>s<br />

sul-africanas. Porquê? Porque<br />

alcançada a paz no Acordo <strong>de</strong> Roma, terminavam<br />

as hostilida<strong>de</strong>s e a necessida<strong>de</strong><br />

dos serviços do Orlando.<br />

Seja como for, paz à sua alma. É um homem<br />

inesquecível.<br />

José Cardoso Moniz<br />

Augusto Beja<br />

Sóc. Orig. n.º 36<br />

Cofundador da AFZ<br />

problemas, isto por duas razões: em primeiro<br />

lugar, por provar que estava a chegar<br />

<strong>de</strong> Angola e com um total <strong>de</strong> quatro<br />

anos <strong>de</strong> presença na Armada mas, sobretudo,<br />

por ter provado que minha esposa<br />

tinha a sua residência em Orléans. Assim,<br />

facilmente me abriram as portas da prisão.<br />

Lá saí da prisão <strong>de</strong> Vilar Formoso mas, por<br />

eu não aceitar esta situação, 15 dias <strong>de</strong>pois<br />

fiz nova tentativa <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> Portugal<br />

e <strong>de</strong>sta vez tudo correu bem. Lá cheguei<br />

a Orléans, no dia 1 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1966,<br />

com toda a família <strong>de</strong> braços no ar, à minha<br />

espera, para me abraçar.<br />

Acredito que, no fundo, fomos recompensados<br />

porque, já lá vão 47 anos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong><br />

com a Fernanda, junto dos nossos<br />

filhos e <strong>de</strong> quatro maravilhosos netos.<br />

Valeu a pena…<br />

Termino dizendo que, para além <strong>de</strong> todo o<br />

mal que nos fizeram, da distância que nos<br />

separa do nosso país temos, e com muita<br />

emoção, Portugal no Coração.<br />

Augusto Beja<br />

Sócio n.º 1687<br />

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O Almoço/Convívio <strong>de</strong> Natal<br />

16 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012<br />

Teve lugar, no passado dia 16 <strong>de</strong> Dezembro, o habitual evento<br />

<strong>de</strong> Natal da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> que este<br />

ano, pela segunda vez, juntou num Almoço/Convívio, cerca<br />

<strong>de</strong> trezentos e quarenta sócios, familiares e amigos da gran<strong>de</strong><br />

“Família dos <strong>Fuzileiros</strong>”, novamente na Quinta da Alegria, em<br />

Penalva, cujas instalações já foram pequenas para acolher tanta<br />

gente, <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m que as mesas tiveram <strong>de</strong> se “apertar”.<br />

A afluência foi tal que chegámos a recear que o gran<strong>de</strong> salão da<br />

“Quinta da Alegria” não fosse suficientemente gran<strong>de</strong> para alojar,<br />

com alguma comodida<strong>de</strong>, tanta “alegria” <strong>de</strong> todos quantos quiseram<br />

estar presentes nesta particular e emotiva manifestação <strong>de</strong><br />

camaradagem e solidarieda<strong>de</strong>. Apesar da crise que Portugal vive,<br />

os nossos sócios compareceram em massa e inundaram <strong>de</strong> emoções,<br />

<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> o espaço e o tempo do nosso<br />

Convívio <strong>de</strong> Natal, transformando alguma menor comodida<strong>de</strong>, no<br />

calor humano que os <strong>Fuzileiros</strong> tão bem transmitir.<br />

almoço <strong>de</strong> natal<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 43


almoço <strong>de</strong> natal<br />

Para o ano que aí vem – se a Providência permitir – a Direcção<br />

e o “Grupo <strong>de</strong> Acção” <strong>de</strong>signado para organizar o evento têm <strong>de</strong><br />

pon<strong>de</strong>rar o que terá sido uma <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> perspectiva, acautelando<br />

instalações que possam conter, eventualmente, mais <strong>de</strong><br />

meio milhar <strong>de</strong> pessoas.<br />

Na mesa <strong>de</strong> convidados estiveram cerca <strong>de</strong> vinte entida<strong>de</strong>s incluindo,<br />

nomeadamente, o representante do Presi<strong>de</strong>nte da Câmara<br />

Municipal do Barreiro e o Presi<strong>de</strong>nte da Junta <strong>de</strong> Freguesia,<br />

antigos e actuais Comandantes, do Corpo, da Escola e da Base<br />

<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, antigos e actuais presi<strong>de</strong>ntes e vice-presi<strong>de</strong>ntes da<br />

Assembleia-Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal da <strong>Associação</strong>,<br />

Membros do seu Conselho <strong>de</strong> Veteranos, Esposas e outras<br />

personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relevo para a instituição.<br />

A mesa das Delegações esteve muito bem representada, com a<br />

nossa gente do Algarve, <strong>de</strong> Gaia, e <strong>de</strong> Juromenha/Elvas. Ao longo<br />

do vasto Salão, todos conviveram, mataram sauda<strong>de</strong>s e espalharam<br />

nostalgias, brincaram e até dançaram ao som do magnífico<br />

agrupamento musical do sócio a<strong>de</strong>rente n.º 2193, José António<br />

Paula Cabrita (que teve a amabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o oferecer gratuitamente).<br />

Todos, os mais velhos, os menos novos, os jovens e os mais<br />

jovens, on<strong>de</strong> não faltaram as senhoras e também as crianças, <strong>de</strong>ram<br />

ao ambiente um especial colorido e muita dignida<strong>de</strong>.<br />

Também houve “discursos”: os dos Vice-Presi<strong>de</strong>ntes, com palavras<br />

<strong>de</strong> boas vindas, o do Comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, convidado<br />

a falar e o do Presi<strong>de</strong>nte que, na circunstância, formularam<br />

para todos votos <strong>de</strong> Boas Festas. Agra<strong>de</strong>ceu-se a toda a equipa<br />

que organizou a festa, e aos Directores da <strong>Associação</strong>, aos titulares<br />

dos órgãos sociais e dirigentes das Delegações que, com o seu<br />

voluntarismo e, <strong>de</strong> facto, voluntariamente, se <strong>de</strong>ram à instituição e<br />

se disponibilizaram, ao longo <strong>de</strong> todo o ano, para trabalhar em prol<br />

da AFZ e, <strong>de</strong>signadamente, na organização dos principais eventos.<br />

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“De facto, só equipas <strong>de</strong> particular valia, exclusivamente constituídas<br />

por voluntários conseguiriam <strong>de</strong>sdobrar-se, e guindar tão<br />

alto o nome e a imagem da <strong>Associação</strong>, conferindo nível, cortesia<br />

e o nosso característico calor humano, a todas as iniciativas” que<br />

se realizaram e se ofereceram aos sócios.<br />

Citam-se palavras já escritas em idênticas circunstâncias:<br />

«Imediatamente a seguir e sem legendas, para não distinguir<br />

ninguém já que todos merecem ser distinguidos – pela coragem,<br />

pela solidarieda<strong>de</strong>, pelo espírito <strong>de</strong> camaradagem e <strong>de</strong><br />

entreajuda e pelos valores que são o apanágio e a mística dos<br />

fuzileiros – ficam alguns registos fotográficos, para a posterida<strong>de</strong><br />

e que são as imagens que, mais do que muitas palavras,<br />

conferem real conteúdo e importância ao nosso “Almoço <strong>de</strong><br />

Natal <strong>de</strong> 2012”».<br />

Marques Pinto<br />

almoço <strong>de</strong> natal<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 45


<strong>de</strong>legações<br />

NOTA: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico<br />

A<br />

região do Algarve foi assolada por uma intempérie no dia 16 <strong>de</strong> Novembro que<br />

incidiu particularmente nos concelhos <strong>de</strong> Lagoa e Silves on<strong>de</strong> danificou imensas<br />

infraestruturas públicas e privadas tendo resultado 13 pessoas feridas, 12 <strong>de</strong>salojadas<br />

e cerca <strong>de</strong> 4.500 pessoas sem energia elétrica.<br />

Não po<strong>de</strong>ndo alear-se <strong>de</strong>ste grave problema, a nossa Delegação mobilizou os associados<br />

que, prontamente e <strong>de</strong>monstrando mais uma vez o gran<strong>de</strong> espírito do Fuzileiro souberam<br />

respon<strong>de</strong>r e dizer: “Pronto”.<br />

Pela manhã do dia 18 <strong>de</strong> Novembro, a vasta equipa da Delegação estava no terreno,<br />

tendo sido recebida pelo Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal <strong>de</strong> Silves e pelos responsáveis<br />

À<br />

semelhança <strong>de</strong> anos anteriores,<br />

a Delegação foi convidada a<br />

participar na recolha <strong>de</strong> alimentos,<br />

em parceria com o Banco Alimentar<br />

Contra a Fome.<br />

46<br />

Delegação do Algarve<br />

Apoio à intempérie <strong>de</strong> Silves<br />

Apoio Banco Alimentar Contra a Fome<br />

Assim sendo, no dia 3 <strong>de</strong> Dezembro,<br />

teve lugar em toda a região algarvia<br />

a ação humanitária e nela estivemos<br />

presentes, particularmente nos locais<br />

<strong>de</strong> concentração dos bens recebidos,<br />

da Proteção Civil que nos ajudaram a<br />

organizar, <strong>de</strong> acordo com as priorida<strong>de</strong>s,<br />

tendo sido <strong>de</strong> imediato iniciados os<br />

trabalhos <strong>de</strong> apoio as populações.<br />

Viam-se uma centena <strong>de</strong> habitações<br />

danificadas e imensas viaturas <strong>de</strong>struídas.<br />

Esta ação, que preten<strong>de</strong>mos louvar nas<br />

pessoas dos “nossos” Associados, foi reconhecida<br />

publicamente como sendo <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>, numa hora difícil para<br />

as populações que mais uma vez viu nos<br />

<strong>Fuzileiros</strong> Homens <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> caráter, personalida<strong>de</strong><br />

e, sobretudo, <strong>de</strong> elevado humanismo<br />

e espírito <strong>de</strong> servir.<br />

em Faro e Portimão, com duas equipas<br />

<strong>de</strong> camaradas, dando assim o nosso<br />

contributo para ajudar a atenuar aquilo<br />

que, por incrível que pareça, já constituiu<br />

um grave problema nacional: a fome.<br />

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Almoço <strong>de</strong> Natal<br />

8 <strong>de</strong> Dezembro<br />

O<br />

Almoço/Convívio <strong>de</strong> Natal, que teve lugar no passado dia<br />

8 <strong>de</strong> Dezembro no restaurante da “Fatacil”, em Lagoa,<br />

reuniu um apreciável número <strong>de</strong> associados, familiares<br />

e amigos, tendo <strong>de</strong>corrido em ambiente <strong>de</strong> fraterna amiza<strong>de</strong> e<br />

camaradagem.<br />

A festa natalícia foi animada pelo acordéon do “nosso” associado<br />

Paulo Domingues. Como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, a criançada<br />

presente foi visitada pelo Pai Natal que lhes trouxe animação e<br />

brinquedos.<br />

A<br />

solicitação do autor, o associado<br />

José Maria Rodrigues Ferreira, foi<br />

dado apoio ao lançamento do seu<br />

livro intitulado “O Fuzileiro Especial”,<br />

da editora “Arandis”.<br />

O acto teve lugar no dia 15 <strong>de</strong> Dezembro,<br />

na se<strong>de</strong> (provisória) da Delegação tendo<br />

estado presentes para além do autor<br />

e do editor, um assinalável número <strong>de</strong><br />

associados.<br />

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Apoio ao lançamento do livro<br />

“O Fuzileiro Especial”<br />

<strong>de</strong>legações<br />

Como convidados <strong>de</strong> honra estiveram na<br />

sala as Direções da Delegação da AFZ e do<br />

Clube Escolamiza<strong>de</strong>, bem como o senhor<br />

Dr. José Carlos Rolo, ilustre Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Câmara Municipal da Albufeira. Este, na<br />

sua breve intervenção proferiu palavras<br />

elogiosas aos <strong>Fuzileiros</strong>, realçando quanto<br />

<strong>de</strong> importante são para a socieda<strong>de</strong> civil<br />

“os testemunhos do que foi a guerra<br />

colonial em África”.<br />

Este breve resumo para as páginas da nossa revista “ O Desembarque” irá servir, por certo, para expressar a vitalida<strong>de</strong> da Delegação da <strong>Associação</strong><br />

Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> do Algarve que continua com espírito associativo e <strong>de</strong>ntro do que estatutariamente está previsto, ficando-nos a certeza do<br />

<strong>de</strong>ver cumprido. António Me<strong>de</strong>iros - Presi<strong>de</strong>nte da DFZA - Sóc. Orig. n.º 1235<br />

47


<strong>de</strong>legações<br />

48<br />

Aniversário da Delegação<br />

No próximo dia 1 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2013 comemorar-se-á o Aniversário <strong>de</strong>sta sempre<br />

activa Delegação que não pára com as suas iniciativas, ambição medida e espírito<br />

<strong>de</strong> bem-fazer e <strong>de</strong> fazer bem.<br />

A solicitação da Direcção da Delegação – e com a colaboração da Direcção Nacional –<br />

conseguiu-se que a Banda da Armada feche as comemorações actuando pelas 22h00<br />

horas, na Praça da República <strong>de</strong> Elvas, ou caso o tempo o não permita, no Coliseu da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

O encontro está marcado, porém, para as 10h00 horas junto à se<strong>de</strong> da Delegação, em<br />

Juromenha, on<strong>de</strong> com a habitual galhardia das nossas gentes <strong>de</strong> Juromenha/Elvas se<br />

receberão os fuzileiros, as famílias, os amigos e os respectivos convidados <strong>de</strong> honra.<br />

<strong>Mais</strong> do que relatar as iniciativas e as acções já realizadas,<br />

optámos por anunciar duas que se projectarão em 2013<br />

e que coroam o alto nível dos dirigentes <strong>de</strong>sta nossa Delegação,<br />

cujo Presi<strong>de</strong>nte da Direcção, o nosso Sócio Originário<br />

n.º 958, Licínio <strong>de</strong> Jesus Algarvio Morgado, para nós, o Licínio,<br />

simboliza o que <strong>de</strong> melhor temos e a forma como se coor<strong>de</strong>na<br />

uma equipa <strong>de</strong> sucesso e que represente a unida<strong>de</strong> da gran<strong>de</strong><br />

“Família” dos <strong>Fuzileiros</strong>.<br />

Depois <strong>de</strong> algumas activida<strong>de</strong>s que, oportunamente se divulgarão, terá lugar o Almoço/Convívio. O ponto alto será sem dúvida o concerto<br />

da nossa Banda da Armada que, sempre muito solicitada, teve <strong>de</strong> ser programada com meses <strong>de</strong> antecedência, ao que o Almirante<br />

Chefe do Estado-Maior da Armada conce<strong>de</strong>u a indispensável autorização.<br />

Numa parceria <strong>de</strong> três Entida<strong>de</strong>s, Município <strong>de</strong> Elvas, Delegação da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Juromenha/Elvas e <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, e por inteira<br />

iniciativa dos dirigentes da Delegação, a Armada Portuguesa e os seus <strong>Fuzileiros</strong><br />

– à semelhança do<br />

que acontece na<br />

cida<strong>de</strong> do Barreiro,<br />

com o Monumento<br />

do Fuzileiro implantado<br />

pela AFZ,<br />

em colaboração<br />

com o respectivo<br />

Município – terão, também, os seus símbolos implantados,<br />

numa das mais significativas centralida<strong>de</strong>s da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Elvas,<br />

consi<strong>de</strong>rado sítio urbano privilegiado, uma rotunda virada para<br />

o Coliseu <strong>de</strong> Elvas.<br />

O projecto, que foi i<strong>de</strong>ia do Comt. Magarreiro, um “filho da terra”,<br />

envolve a <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e também o<br />

nosso Sócio A<strong>de</strong>rente n.º 1669, Sr. João Armando Rondão Almeida<br />

que é o ilustre Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal <strong>de</strong> Elvas.<br />

Delegação <strong>de</strong><br />

Juromenha/Elvas<br />

Os símbolos da Armada e dos <strong>Fuzileiros</strong><br />

em Elvas<br />

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Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />

2.º Aniversário e Almoço <strong>de</strong> Natal <strong>de</strong> 2012<br />

Como foi profusamente anunciado<br />

realizaram-se as cerimónias <strong>de</strong> comemoração<br />

do 2.º Aniversário e,<br />

simultaneamente, o Almoço <strong>de</strong> Natal <strong>de</strong><br />

2102 da Nossa Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong><br />

Gaia, no p. p. dia 1 <strong>de</strong> Dezembro.<br />

Após o «Toque <strong>de</strong> Alvorada» para concentração<br />

junto da se<strong>de</strong> da Delegação, por ora<br />

e provisoriamente, localizada em Canelas<br />

rumou-se ao Regimento <strong>de</strong> Artilharia n.º 5<br />

(Serra do Pilar), on<strong>de</strong> foi possível apreciar<br />

uma excelente vista do miradouro sobre<br />

a cida<strong>de</strong> do Porto, Gaia e o Rio Douro e<br />

visitou-se o Museu do Quartel, enquadrado<br />

pelas diversas peças <strong>de</strong> artilharia <strong>de</strong> campanha<br />

que la<strong>de</strong>iam a parada. Finda a visita,<br />

proce<strong>de</strong>u-se à tradicional «foto <strong>de</strong> família».<br />

Seguidamente acertou-se o azimute para<br />

o Restaurante Salgueirinhos, em Grijó –<br />

Gaia, on<strong>de</strong> se efectuou o «<strong>de</strong>sembarque»<br />

para convívio, iniciando-se o mesmo com<br />

um «reconhecimento» aos aperitivos, ao<br />

ar livre, seguido <strong>de</strong> um agradável almoço<br />

pautado por valores <strong>de</strong> camaradagem e<br />

amiza<strong>de</strong>.<br />

Após o Presi<strong>de</strong>nte da Delegação <strong>de</strong> Gaia,<br />

FZ Henrique Men<strong>de</strong>s, saudar os convidados<br />

com as boas-vindas, fez-se um minuto<br />

<strong>de</strong> silêncio em memória dos camaradas já<br />

falecidos, com o consecutivo mítico «grito<br />

<strong>de</strong> guerra dos <strong>Fuzileiros</strong>» encetado pelo<br />

Sarg. FZE Manuel Parreira e correspondido<br />

pelos <strong>Fuzileiros</strong> presentes. Depois cantou-<br />

-se o Hino da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />

findo o qual se iniciou o “rancho”.<br />

Posteriormente ao almoço, café e respectivos<br />

digestivos, cantou-se e brindou-se<br />

com alegria os parabéns à DFZ’s GAIA,<br />

provou-se o bolo <strong>de</strong> aniversário proce<strong>de</strong>u-se<br />

à distribuição <strong>de</strong> lembranças aos<br />

convidados. O convívio prolongou-se pela<br />

tar<strong>de</strong>, recordando-se com nostalgia e sauda<strong>de</strong><br />

tempos que o tempo não consegue<br />

apagar.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

<strong>de</strong>legações<br />

Não faltaram a boa disposição e os discursos,<br />

dos quais se <strong>de</strong>staca apenas – porque<br />

o dia é dos nossos homens <strong>de</strong> Gaia –<br />

o do Presi<strong>de</strong>nte da respectiva Delegação.<br />

A festa teve honras <strong>de</strong> cobertura jornalística,<br />

por uma jovem do «Jornal Audiência»<br />

<strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, que entrevistou diversas<br />

personalida<strong>de</strong>s presentes.<br />

Marcaram presença as seguintes:<br />

O Vereador do Pelouro da Cultura da<br />

CMVNG, Eng.º Rui Cardoso; o Comandante<br />

do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, CAMT, Cortes<br />

Picciochi; o Comandante Martins dos Santos,<br />

Comt da ZMN, dos Portos <strong>de</strong> Douro<br />

e Leixões e da Polícia Marítima; o nosso<br />

Associado, Procurador do MP, Dr. Rodrigues<br />

Morais; o Presi<strong>de</strong>nte da Direcção Nacional<br />

da AFZ, Comt Lhano Preto e outros<br />

Membros dos Órgãos Sociais da <strong>Associação</strong><br />

(Mário Gonçalves, Egas Soares, Jaime<br />

Azevedo, Lopes Leal, Francisco Fazeres);<br />

o Comt Manuel Mateus, antigo Presi<strong>de</strong>nte<br />

da AFZ e membro do seu Conselho <strong>de</strong><br />

Veteranos; Edmundo Coutinho, Presi<strong>de</strong>nte<br />

da <strong>Associação</strong> Recreativa-Cultural <strong>de</strong> Canelas;<br />

a Ana, funcionária do Secretariado<br />

Nacional da AFZ e Sócia A<strong>de</strong>rente a que<br />

se juntaram cerca <strong>de</strong> 120 pessoas entre<br />

sócios, fuzileiros, famílias e amigos.<br />

49


<strong>de</strong>legações<br />

Presentes, também, os Presi<strong>de</strong>ntes das<br />

Delegações do Algarve, FZ António Me<strong>de</strong>iros<br />

e <strong>de</strong> Juromenha/Elvas, FZ Licínio Morgado,<br />

que num admirável gesto <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, tiveram <strong>de</strong> percorrer<br />

muitos quilómetros para se juntarem aos<br />

Camaradas do Norte.<br />

Minhas Senhoras e meus Senhores<br />

É com enorme orgulho que vos recebemos nesta celebração do<br />

nosso 2.º Aniversário que, simultaneamente festejamos com o<br />

nosso Encontro <strong>de</strong> Natal/2012.<br />

Em primeiro lugar queremos agra<strong>de</strong>cer ao Sr. Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong><br />

Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> (CMG FZE) Lhano Preto e a toda<br />

a Direcção da AFZ, pelo voto <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong>positado em nós.<br />

Da nossa parte, sempre estaremos disponíveis po<strong>de</strong>ndo a nossa<br />

<strong>Associação</strong> contar com uma pronta resposta <strong>de</strong> espírito e corpo,<br />

quando e on<strong>de</strong> for necessário;<br />

A nossa gratidão dirige-se também ao Sr. CALM Cortes Picciochi,<br />

comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, pela forma interessada como<br />

acompanha os eventos dos <strong>Fuzileiros</strong> e pela sua total coor<strong>de</strong>nação<br />

com a <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>. Sentimo-nos muito<br />

lisonjeados, com a sua presença;<br />

Ao Sr. Edmundo Coutinho, presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong> Recreativa<br />

<strong>de</strong> Canelas, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar, também, <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a sua<br />

presença que muito nos orgulha;<br />

Agra<strong>de</strong>cemos ainda a presença do Sr. CMG Victor Manuel Martins<br />

Santos, comandante do Comando Zona Marítima do Norte e da<br />

Policia Marítima e cumpre dizer-lhe que nos orgulha muito tê-lo<br />

como nosso ilustre convidado. Os <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Gaia agra<strong>de</strong>cem-<br />

-lhe e dir-lhe-ão, sempre, presente.<br />

Ao Sr. Vereador da Câmara municipal <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, Eng.<br />

Rui Cardoso, muito obrigado pela sua presença que particularmente<br />

nos honra. Queremos afirmar-lhe que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> V.N.<br />

Gaia po<strong>de</strong>rá contar com os <strong>Fuzileiros</strong> e com a nossa total lealda<strong>de</strong><br />

e empenho quando e on<strong>de</strong> for necessária a nossa participação.<br />

Quereremos também agra<strong>de</strong>cer aos Presi<strong>de</strong>ntes das Delegações<br />

da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> aqui presentes; ao Licínio<br />

Morgado da Delegação <strong>de</strong> Jerumenha/Elvas e ao António Me<strong>de</strong>iros<br />

da Delegação do Algarve queremos afirmar que é para nós<br />

um enorme orgulho, po<strong>de</strong>r contar mais uma vez, com a vossa<br />

companhia neste dia tão especial para nós.<br />

Os nossos agra<strong>de</strong>cimentos, ainda, ao Sr. Comt Manuel Mateus,<br />

antigo Presi<strong>de</strong>nte da AFZ e Membro do seu Conselho <strong>de</strong> Veteranos<br />

cumprindo-nos dizer-lhe que ficámos muito gratos pela sua<br />

presença neste nosso evento.<br />

A Delegação <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Gaia continua dando passos que se<br />

querem seguros e respeitadores da máxima que nos acompanha<br />

e sempre nos acompanhará: Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para<br />

sempre. Porque é <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos os que ostentam e sentem orgulho<br />

na nossa Boina azul ferrete ter comportamentos que a honrem,<br />

sem exibicionismos baratos que possam futilizar os nossos<br />

princípios.<br />

50<br />

É <strong>de</strong> toda a justiça louvar a dinâmica da<br />

“Força-tarefa” convocada pela DFZ’s<br />

GAIA, que imbuída <strong>de</strong> “espírito <strong>de</strong> corpo”<br />

organizou o evento, sob comando do seu<br />

Presi<strong>de</strong>nte – FZ Henrique Men<strong>de</strong>s, pelo<br />

que se po<strong>de</strong> dizer: “Missão cumprida”.<br />

Tratou-se <strong>de</strong> cerimónia cheia <strong>de</strong> profundo<br />

significado, on<strong>de</strong> mais uma vez a Amiza<strong>de</strong>,<br />

a Camaradagem, a Solidarieda<strong>de</strong> e,<br />

sobretudo, o Espírito <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> estiveram<br />

presentes.<br />

Rodrigues Morais<br />

(com a colaboração <strong>de</strong> Marques Pinto)<br />

Os nossos “fotógrafos <strong>de</strong> serviço” (SAJ FZ Rogério Pinho Silva e FZE Mário Manso) disponibilizaram os seus registos fotográficos por e-mail e nas re<strong>de</strong>s sociais.<br />

Discurso do Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />

Valeu a pena testemunharmos<br />

o<br />

esforço feito pela<br />

<strong>Associação</strong> Nacional<br />

<strong>Fuzileiros</strong>, ao<br />

ter incluído as Delegações<br />

com os<br />

respectivos Guiões,<br />

nas cerimónias<br />

militares na Escola<br />

<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, no<br />

Dia do Fuzileiro e<br />

na inauguração do Monumento ao Fuzileiro, no Barreiro/2012. Foi<br />

honra enorme <strong>de</strong>positada, no fundo na nossa alma <strong>de</strong> Fuzileiro.<br />

Jamais esqueceremos tamanha consi<strong>de</strong>ração que estamos certos<br />

não terá sido em vão.<br />

No Dia do Fuzileiro/2012, a nossa Delegação mobilizou umas largas<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> participantes para a nossa “Casa Mãe”, sem que<br />

houvesse qualquer problema que ensombrasse a nossa participação.<br />

<strong>Mais</strong> uma vez houve uma partilha positiva e uma convivência<br />

civilizada, atitu<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve presidir sempre quem tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

honrar a Boina Azul Ferrete.<br />

Este ano estivemos presentes no Aniversário da Delegação do<br />

Algarve e também no Aniversário e inauguração da se<strong>de</strong> da Delegação<br />

<strong>de</strong> Juromenha/Elvas, <strong>de</strong>certo, um dia muito especial para<br />

Vós e para quem vos acompanhou. Obrigado pelo vosso carinho,<br />

solidarieda<strong>de</strong> e amiza<strong>de</strong>.<br />

Estivemos, ainda, presentes no Aniversário da <strong>Associação</strong> Portuguesa<br />

dos Veteranos <strong>de</strong> Guerra, em Braga.<br />

Antes <strong>de</strong> terminar quero manifestar a todos os membros da nossa<br />

direção e sócios afectos á Delegação <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Gaia, às<br />

suas famílias e aos nossos amigos, a nossa gratidão pela vossa<br />

presença. Sem vós a Delegação não conseguiria o êxito conquistado.<br />

Desejo a todos um feliz e Santo Natal e um próspero ano cheio <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, paz e amiza<strong>de</strong>.<br />

Termino prestando uma breve homenagem aos ex-combatentes,<br />

pela força, coragem e lealda<strong>de</strong> com que combateram e honraram<br />

o nome <strong>de</strong> Portugal. Façamos todos, um minuto <strong>de</strong> silêncio em<br />

sua memória, e em especial, pela do Camarada Dr. Ilídio Neves<br />

Luís, ex-Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> que nos<br />

<strong>de</strong>ixou recentemente. Depois <strong>de</strong>sse minuto <strong>de</strong> silêncio convido o<br />

nosso camarada exCombatente Manuel Parreira para dar o Grito<br />

do Fuzileiro.<br />

Henrique Men<strong>de</strong>s<br />

Sóc. Orig. n.º 1089<br />

Pres. da Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


eportagem<br />

Timor-Leste:<br />

entre as lembranças do passado e a realida<strong>de</strong> presente<br />

Reportagem <strong>de</strong> uma romagem tardia<br />

Quando um antigo fuzileiro, como eu,<br />

visita um país estrangeiro e, em plena<br />

zona tropical no interior do seu<br />

território, on<strong>de</strong> a vegetação e o tempo facilmente<br />

apagam os vestígios edificados,<br />

se não forem usados, com poucas placas<br />

toponímicas a indicar os caminhos e os<br />

próprios nomes das localida<strong>de</strong>s, o facto <strong>de</strong><br />

aparecer, <strong>de</strong> repente, uma tabuleta <strong>de</strong>stacada<br />

com a indicação “fuzileiros”, não<br />

muito <strong>de</strong>teriorada, levou a que a viagem<br />

fosse, <strong>de</strong> imediato, interrompida para verificar<br />

o que, para mim, me pareceu insólito.<br />

Placa do fuzileiros portugueses<br />

Em plena montanha, com habitantes <strong>de</strong> uma al<strong>de</strong>ia<br />

Este pequeno introito numa reportagem <strong>de</strong><br />

uma viagem que um grupo <strong>de</strong> 15 portugueses,<br />

homens e mulheres, no qual eu me<br />

incluía, que <strong>de</strong>cidiu fazer, durante 15 dias,<br />

uma incursão por todo o território <strong>de</strong> Timor-<br />

-Leste, para percorrer os 13 distritos do<br />

país, incluindo o enclave <strong>de</strong> Oecussi-Ambeno<br />

(encravado em território indonésio).<br />

A viagem igualmente passou pela ilha <strong>de</strong><br />

Ataúro – a 25 quilómetros <strong>de</strong> Dili, a capital,<br />

e o paradisíaco ilhéu <strong>de</strong> Jaco, situado em<br />

frente da ponta leste do país, muito perto<br />

da povoação <strong>de</strong> Tatuala.<br />

Este grupo <strong>de</strong> portugueses foi o primeiro,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a in<strong>de</strong>pendência efectiva timorense<br />

da ocupação indonésia, iniciada em 1999<br />

e formalizada em 2002, a percorrer,<br />

<strong>de</strong>morada e profundamente, todas as<br />

regiões do país, numa peregrinação <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> dois mil quilómetros, que incluiu<br />

caminhadas <strong>de</strong> vários dias e escaladas às<br />

principais áreas montanhosas <strong>de</strong> Timor<br />

Lorosae, o Tata-Mai-Lau, o cume do Monte<br />

Ramelau, e ao Matebian, a montanha, na<br />

tradição animista, dos espíritos e dos<br />

antepassados.<br />

E, tenho <strong>de</strong> o confessar, a ida<strong>de</strong> já pesa<br />

nos nossos corpos.<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

Voltemos, pois, ao início da escrita.<br />

Ou seja, a placa em pedra, pintada <strong>de</strong><br />

branco, já com alguns caracteres a <strong>de</strong>saparecer,<br />

mas on<strong>de</strong> se conseguia distinguir<br />

o distintivo actual dos fuzileiros portugueses.<br />

Por perto, não havia pessoas, embora não<br />

muito longe se avistasse um edifício, que<br />

até parecia militar, mas não encontramos<br />

ninguém. Como tínhamos <strong>de</strong> seguir viagem,<br />

não conseguimos saber a origem.<br />

<strong>Mais</strong> tar<strong>de</strong>, em Díli, disseram-nos que<br />

os fuzileiros portugueses tinham estado<br />

naquela região, mas pouco mais informações<br />

obtivemos.<br />

Até porque, ao longo da viagem, nunca<br />

chegamos a contactar forças da Marinha,<br />

embora soubéssemos que tinham ao seu<br />

serviço dois navios tipo lanchas <strong>de</strong> fiscalização,<br />

que os civis que nos transportaram,<br />

em embarcações com motores fora <strong>de</strong><br />

borda, entre Dili e Ataúro, apelidassem as<br />

mesmas, que estavam fun<strong>de</strong>adas ao largo<br />

da baía da capital, como “fragatas”. E um<br />

pequeno <strong>de</strong>stacamento <strong>de</strong> fuzileiros. Não<br />

mais <strong>de</strong> 35 homens.<br />

51


eportagem<br />

Já em Portugal, através do almirante Cortes<br />

Picciochi, comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />

fui informado que, em 1998, dois<br />

fuzileiros participaram na forças <strong>de</strong> interposição<br />

da ONU, a INTERFET, e entre 2000<br />

e 2004, ao serviço da ONU (via UNTAET<br />

e UNMISET), uma companhia <strong>de</strong> fuzileiros<br />

esteve em Missão em Timor-Leste.<br />

Em 2010, instrutores fuzileiros portugueses<br />

<strong>de</strong>ram o primeiro curso para os seus<br />

homólogos timorenses, a que se seguiu o<br />

segundo curso em 2011. Apenas com três<br />

instrutores fuzileiros portugueses.<br />

A nossa longa e interessante aventura em<br />

território <strong>de</strong> Timor-Leste iniciou-se por<br />

dois locais ligados, profundamente, à antiga<br />

presença colonial portuguesa.<br />

52<br />

AVENTURA E TURISMO<br />

Os caminhos que serpenteiam por todo o<br />

Timor são difíceis, muito danificados, mas<br />

a hospitalida<strong>de</strong> foi enorme e a gastronomia,<br />

que <strong>de</strong>sconhecíamos totalmente,<br />

encheu-nos as medidas.<br />

Claro que esta viagem foi <strong>de</strong> aventura, no<br />

verda<strong>de</strong>iro sentido da palavra. Não existe,<br />

felizmente, para o tipo <strong>de</strong> pessoas como<br />

eu, turismo <strong>de</strong> massas. An<strong>de</strong>i um pouco<br />

pelo mundo e gosto <strong>de</strong> ver ainda as belezas<br />

naturais, e elas estão, naquele país,<br />

para os oci<strong>de</strong>ntais, quase por <strong>de</strong>scobrir.<br />

Depois <strong>de</strong> chegarmos a Dili, zarpamos,<br />

logo no dia seguinte para a ilha <strong>de</strong> Ataúro,<br />

hoje um local <strong>de</strong> passeio e <strong>de</strong> lazer<br />

tropical, <strong>de</strong> uma beleza rara, ainda pouco<br />

conhecido para as viagens turísticas. Deu<br />

para tempo <strong>de</strong> relaxe na praia, uma ida<br />

<strong>de</strong> triciclo, para quem o quis, até à vila <strong>de</strong><br />

Maumeta, andou-se <strong>de</strong> beiros, as canoas<br />

locais nas praias <strong>de</strong> águas quentes <strong>de</strong><br />

Bikeli.<br />

(Ora, Ataúro, como recordação histórica,<br />

significou, na prática, a última base<br />

No Pico após longa caminhada<br />

portuguesa naquele território quando, em<br />

Agosto <strong>de</strong> 1975, o então governador Mário<br />

Lemos Pires – que era tenente-coronel<br />

– <strong>de</strong>cidiu abandonar Dili e instalar-se<br />

naquela ilha.<br />

Com escassas forças militares sob a sua<br />

supervisão, <strong>de</strong>pois da divisão provocada<br />

na estrutura policial e militar sob administração<br />

lusa com um golpe <strong>de</strong> Estado provocado<br />

pelo partido UDT (União Democrática<br />

Timorense), que arregimentou o sector<br />

policial, incluindo o seu comandante, o falecido<br />

tenente-coronel Maggiolo Gouveia,<br />

tendo os militares, <strong>de</strong> maioria timorenses,<br />

on<strong>de</strong> pontificava o alferes Rogério Lobato,<br />

futuro Ministro num governo <strong>de</strong> Mari Alkatiri,<br />

que se juntaram à FRETILIN (Frente<br />

Revolucionária <strong>de</strong> Timor-Leste), eclodiu<br />

uma guerra civil. Lemos Pires ainda tentou<br />

um acordo entre os dois partidos. A<br />

FRETILIN pediu-lhe que ele regressasse<br />

a Dili, com vista a prosseguir o processo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização. O governador respon<strong>de</strong>u<br />

que esperava or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Lisboa. Os<br />

acontecimentos precipitaram-se, quando<br />

se constatou que a Indonésia já ocupara,<br />

violentamente, o enclave <strong>de</strong> Oecussi. Dias<br />

<strong>de</strong>pois, seguiu-se uma invasão, em força,<br />

por terra, mar e ar, curiosamente com alguns<br />

navios <strong>de</strong> origem soviética).<br />

Hoje, em Ataúro, com um “resort” a funcionar,<br />

já começa a ser percorrido por turistas,<br />

poucos ainda, naturalmente muitos<br />

australianos.<br />

No dia seguinte, regressámos a Díli com<br />

rumo já programado para o enclave <strong>de</strong><br />

Oecussi-Ambeno.<br />

Havia duas maneiras <strong>de</strong> lá chegar, por<br />

terra, atravessando território indonésio,<br />

com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vistos e entraves<br />

burocráticos. Perdiam-se dias.<br />

A <strong>de</strong>cisão foi ir num ferry-boat, <strong>de</strong> nome<br />

“Nakroma”, que faz uma viagem semanal<br />

<strong>de</strong> ida e volta até ao enclave. (Foi oferecido<br />

pela Alemanha a Timor. Estranhamente, o<br />

capitão era indonésio e verificamos que,<br />

por artes manhosas <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong> das<br />

autorida<strong>de</strong>s timorenses, <strong>de</strong>ixavam-no<br />

seguir até à Indonésia…).<br />

Foi uma viagem do “outro mundo”.<br />

Quando nos aprontávamos para embarcar,<br />

com bilhetes antecipadamente comprados,<br />

assistimos a imagens <strong>de</strong> fazer arrepiar<br />

o mais sensato.<br />

No interior do poço do ferry, apinhavam-<br />

-se – é o termo, parecia um colmeia em<br />

movimento – veículos, animais, das mais<br />

variegadas espécies, com centenas e centenas<br />

<strong>de</strong> humanos (homens, mulheres e<br />

crianças <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s), autenticamente<br />

encaixotados, com um calor tropical<br />

asfixiante.<br />

No regresso, a repetição do *filme*. Se<br />

houver (ou houvesse) o mais pequeno<br />

percalço, certamente haverá centenas <strong>de</strong><br />

mortos.<br />

Num espaço tão curto <strong>de</strong> quilometragem,<br />

a viagem foi longa. Toda a noite a navegar.<br />

Chegamos às cinco da manhã.<br />

Depois da chegada a Pante Macassar, o<br />

grupo fez uma longa caminhada até Lifau<br />

– foram mais <strong>de</strong> 10 quilómetros sob<br />

um sol tropical abrasador, que, com memórias<br />

<strong>de</strong> 40 anos atrás, me senti nas<br />

movimentações da Guiné-Bissau. E, mais<br />

<strong>de</strong>sgastante, o regresso. Custoso, mas estimulante.<br />

O cruzeiro em Lifau<br />

Em Lifau, que foi a primeira capital da ilha<br />

<strong>de</strong> Dili (na altura toda a ilha estava sob a<br />

jurisdição portuguesa).<br />

Ali foi inaugurado, a 14 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1974,<br />

um cruzeiro que assinala, precisamente, o<br />

local on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarcaram os primeiros<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


marinheiros portugueses (possivelmente,<br />

os então infantes da Marinha) no ano <strong>de</strong><br />

1512.<br />

Pois, foi mesmo junto a este cruzeiro que o<br />

nosso grupo almoçou um lauto repasto do<br />

melhor da gastronomia local. Inimaginável<br />

numa área tão inacessível. Mas, a hospitalida<strong>de</strong><br />

fura todas as expectativas.<br />

A primeira fonte documental europeia conhecida<br />

que refere a existência da ilha é<br />

uma carta <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1514, escrita<br />

por Rui <strong>de</strong> Brito Patalim, capitão <strong>de</strong><br />

Malaca para Afonso <strong>de</strong> Albuquerque, governador<br />

das Índias, que a envia para o<br />

rei D. Manuel I referindo que Timor – uma<br />

ilha além <strong>de</strong> Java – tinha muito sândalo,<br />

mel e cera. Em 1556, um grupo <strong>de</strong> fra<strong>de</strong>s<br />

dominicanos estabeleceu o primeiro<br />

povoado em Lifau, que só, em 1702, se<br />

torna capital da colónia quando ali chega<br />

o primeiro governador nomeado pelo rei<br />

português, estatuto que permaneceu até<br />

1767. Depois foi <strong>de</strong>cidido se<strong>de</strong>ar a capital<br />

em Dili, perante as investidas holan<strong>de</strong>sas,<br />

que se apropriaram <strong>de</strong> parte das colónias<br />

da Insulíndia portuguesa. Em 1859, pelo<br />

Tratado <strong>de</strong> Lisboa, Portugal e a Holanda<br />

fizeram a divisão da ilha: Timor Oci<strong>de</strong>ntal<br />

para os holan<strong>de</strong>ses, com capital em Kupang<br />

e a restante, com se<strong>de</strong> em Díli, incluindo<br />

Oecussi, como enclave encravado.<br />

ATÉ QUE O CORPO AGUENTASSE<br />

Dormimos, nessa noite em Díli, aon<strong>de</strong> só<br />

regressaríamos duas semanas <strong>de</strong>pois,<br />

empreen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ste modo uma autêntica<br />

caravana <strong>de</strong> exploração, <strong>de</strong> contactos com<br />

as populações mais remotas, que sempre<br />

nos acolheram, peregrinando pelos mais<br />

recônditos, belos, mas também, por vezes,<br />

inóspitos, locais <strong>de</strong> todos os distritos e<br />

sucos timorenses.<br />

Partimos, numa primeira fase do percurso<br />

numa carrinha *folclórica*, que lá chamam<br />

<strong>de</strong> bistoka, e rumamos, <strong>de</strong> imediato,<br />

para Liquiçá, parando em Tsi-Tolu, junto a<br />

uma estátua gigante lembrando o falecido<br />

Papa Católico João Paulo II, <strong>de</strong>pois em Aipelo,<br />

nas ruínas <strong>de</strong> uma antiga prisão do<br />

tempo colonial português.<br />

Depois <strong>de</strong> visitar Liquiçá, enfrentamos<br />

velhas estradas, praticamente <strong>de</strong>sfeitas,<br />

ainda construídas pelas administração lusitana<br />

e chegamos ao antigo forte holandês<br />

<strong>de</strong> Maubara.<br />

A viagem, <strong>de</strong>slumbrante, que seguiu a<br />

costa norte, com praias magníficas. Passamos<br />

pelas ruinas, muito <strong>de</strong>struídas, da<br />

fortificação portuguesa <strong>de</strong> Batugadé, junto<br />

à fronteira da parte indonésia da ilha.<br />

Desviamos para sul, fez-se uma breve<br />

paragem em Balibó. (Estivemos na casa<br />

on<strong>de</strong> foram capturados cinco jornalistas<br />

australianos em 1975, sumariamente fuzilados<br />

pelos indonésios, que começavam a<br />

invadir Timor). Ao fim do dia, entramos em<br />

Maliana e fomos pernoitar em Bobonaro.<br />

Seguiu a “epopeia” da exploração. Toda a<br />

movimentação para a escalada do Monte<br />

Ramelau, até o cume conhecido por Tata-<br />

-Mai-Lau.<br />

Descrição da caminhada e escalada ao Monte Ramelau<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

reportagem<br />

Já tínhamos abandonado a bistoka e agora<br />

o apoio logístico eram <strong>de</strong> jipes 4x4.<br />

Gran<strong>de</strong> parte do percurso seria feito a pé,<br />

para, <strong>de</strong> noite, empreen<strong>de</strong>r a escalada<br />

ao monte Ramelau. Partiu-se, com guias<br />

– os mata-dalan – do suco <strong>de</strong> Soiselu,<br />

dormiram-se, algumas horas, numa Pousada<br />

recuperada, em que foi em tempos<br />

o posto administrativo das autorida<strong>de</strong>s<br />

em Hato-Builico. O grupo saiu cerca das<br />

três horas da manhã para uma escalada<br />

<strong>de</strong> várias horas até ao nascer do sol no<br />

cume: maravilhara-se com o *loron sa’e*,<br />

justamente o nascer do sol)<br />

Eu tive <strong>de</strong> ficar para trás, pois estava a<br />

ressentir-me, numa subida íngreme pedregosa,<br />

<strong>de</strong> uma operação recente.<br />

Regressou-se a meio da manhã. Alongamo-nos<br />

<strong>de</strong>pois para uma caminhada tropical<br />

<strong>de</strong> oito horas até Atbase.<br />

(Um registo que se tem <strong>de</strong> fazer em termos<br />

curtos: Pu<strong>de</strong>mos nesta caminhada <strong>de</strong> dois<br />

dias saborear e apreciar tudo o que é<br />

belo no meio das dificulda<strong>de</strong>s – <strong>de</strong>gustar<br />

os produtos da terra, ver as crianças a<br />

percorrer quilómetros, todas vestidas a<br />

rigor, para ir para a escola – sim, vimos<br />

escolas em tudo o que era povoado –,<br />

levando a água para beber, passar por<br />

zonas <strong>de</strong> águas quentes e águas frias<br />

– tudo numa zona tropical – andar por<br />

escarpas nuas, bor<strong>de</strong>jar ou entrar nas<br />

imensas plantações <strong>de</strong> café, um calor<br />

asfixiante, um suor transbordante. Olhar<br />

em frente e ver a imensidão <strong>de</strong> montanhas<br />

num pequeno país).<br />

53


eportagem<br />

54<br />

Despedida <strong>de</strong> Timor-Leste, com o nosso guia e a administrativa do grupo<br />

Um dos troços mais longos, que fizémos,<br />

percorremo-lo <strong>de</strong> jipe, por estradas que já<br />

foram – e aqui tenho <strong>de</strong> referenciá-lo: os<br />

novos governantes timorenses não apostaram,<br />

nestes 10 anos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência,<br />

minimamente nas infra-estruturas básicas,<br />

além, do positivo, do já citado parque<br />

escolar, e tiveram dinheiro do petróleo<br />

para isso.<br />

Também do que pu<strong>de</strong> apreciar, já existe,<br />

como em Portugal, claro que nas dimensões<br />

<strong>de</strong> cada país, uma profunda clivagem<br />

entre governantes e governados –<br />

serpenteando pela ventosa e fria rodovia<br />

pedregosa que atravessa a Flecha, com<br />

íngremes <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iros e profundos vales,<br />

contornando o Monte Kablake.<br />

Passeamos por paisagens <strong>de</strong> beleza estonteante,<br />

alongamos mais caminhos,<br />

não sei o que representou em quilometragem,<br />

mas foi muito, para que alguns dos<br />

nossos guias nos quiseram mostrar on<strong>de</strong><br />

nasceram ou on<strong>de</strong> viviam os seus familiares<br />

mais chegados. Até que chegamos<br />

a Same, capital do distrito <strong>de</strong> Manufhai,<br />

terrra do liurai D. Boaventura, que chefiou,<br />

em 1912, uma revolta contra a ocupação<br />

portuguesa.<br />

DAS PRAIAS, O PARAÍSO DE JACO<br />

E MATEBIAN<br />

A bússola dava indicação <strong>de</strong> que os<br />

próximos três dias seriam <strong>de</strong> explorar a<br />

costa sul, com praias estonteantes, até à<br />

ponta mais a leste <strong>de</strong> Timor. Saiu-se <strong>de</strong><br />

Same, passou-se por Betano, atravessouse<br />

Natarbona, um das mais importantes<br />

regiões agrícolas do país.<br />

Fizemos uma visita à al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Krarás, que<br />

foi dizimada pelos indonésios nos anos<br />

80. Almoçamos em Viqueque. Depois,<br />

partimos para Loi-Huno, on<strong>de</strong> pisamos os<br />

trilhos que a resistência utilizou durante<br />

quase três décadas, indo em caminhada e<br />

escalada até às suas profundas e inexploradas<br />

(turisticamente) grutas, que foram<br />

refúgio seguro da<br />

guerrilha.<br />

Dormimos na al<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> Loi-Huno<br />

e marchamos, logo<br />

na manhã seguinte<br />

até Iliomar, on<strong>de</strong><br />

verificamos que<br />

existe gás natural<br />

no próprio território<br />

timorense,<br />

precisamente, em<br />

Aliambata. Ali tão<br />

perto estavam belas<br />

praias <strong>de</strong> uma<br />

água tão morna,<br />

que nos levou a<br />

gran<strong>de</strong>s mergulhos.<br />

A etapa seguinte era Lospalos, on<strong>de</strong> pernoitamos.<br />

Uma curiosida<strong>de</strong>: comemos<br />

num restaurante <strong>de</strong> um português chamado<br />

Roberto Carlos.<br />

(Um pequeno aparte: ficámos alojados<br />

durante a viagem em dois colégios <strong>de</strong><br />

salesianos que ce<strong>de</strong>ram as instalações<br />

para servir comida e dormida. Um em em<br />

Fuiloro, o outro em Quelicai).<br />

Depois <strong>de</strong> uma visita por Lospalos, partimos<br />

para Tutuala, on<strong>de</strong>, ao longo do trajecto,<br />

se po<strong>de</strong>m ver ainda casas típicas da<br />

região, que foram o símbolo ancestral <strong>de</strong><br />

residência <strong>de</strong> Timor: Descemos seguidamente<br />

para a praia <strong>de</strong> Walu.<br />

E num “beiro” a motor, zarpamos para a<br />

ilha <strong>de</strong> Jaco: praia <strong>de</strong> areia branca, corais<br />

extraordinários, peixes <strong>de</strong> múltiplas cores e<br />

um opíparo almoço com um “monstruoso”<br />

imperador”, ali mesmo pescado.<br />

Ao fim da tar<strong>de</strong>, regresso a Walu, on<strong>de</strong><br />

pernoitamos, num “resort” já com qualida<strong>de</strong>s<br />

turísticas.<br />

Subimos, novamente, para Tutuala com<br />

a indicação <strong>de</strong> que o percurso só pararia<br />

em Com, mas esta andança, partida<br />

<strong>de</strong> Meahara até Malahara, foi feita, em<br />

gran<strong>de</strong> parte do caminho, a pé, muitas<br />

horas <strong>de</strong> rápido andamento, la<strong>de</strong>ando a<br />

extensa lagoa <strong>de</strong> Ira-Lalaro, meandrando<br />

entre centenas <strong>de</strong> búfalos, que olhavam<br />

<strong>de</strong>sconfiados para os estranhos. Também,<br />

porque queríamos ver crocodilos, num dos<br />

rios que parte da lagoa, mas nada.<br />

(Em todo o tempo <strong>de</strong> Timor, apenas colocamos<br />

o olho único crocodilo, o símbolo<br />

mítico do território, e este “internado”<br />

num tanque há varias <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos).<br />

A caminho <strong>de</strong> Com, fizemos paragem em<br />

vários cemitérios on<strong>de</strong> a religião católica<br />

se mistura com tradições animistas ancestrais.<br />

Atingimos a al<strong>de</strong>ia piscatória <strong>de</strong><br />

Pitilete. Com os jipes novamente em andamento,<br />

chegamos a Com, on<strong>de</strong> dormimos.<br />

No dia seguinte, íamos começar a dirigir-<br />

-nos para o Monte Matebian. Saímos <strong>de</strong><br />

Com e tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitar<br />

as ruínas <strong>de</strong> velhas fortificações militares<br />

portugueses, que se <strong>de</strong>stacam sobra as<br />

casas <strong>de</strong> Lautém e Laga. Mudámos <strong>de</strong>pois<br />

o rumo para sul até Quelicai, on<strong>de</strong> pernoitamos.<br />

Na manhã seguinte, muito cedo, iniciouse<br />

a subida ao Monte Matebian. Fizemo-lo<br />

dividido em dois grupos, os mais rápidos<br />

e <strong>de</strong> perna rígida, saíram mais cedo e<br />

<strong>de</strong>ambularam pelas zonas mais difíceis<br />

e escarpadas. O outro trilhou zonas<br />

menos alcantiladas, com passagem por<br />

Laumana. Ambos <strong>de</strong>sceram para Baguia,<br />

no outro lado da montanha, com cerca <strong>de</strong><br />

12 horas <strong>de</strong> caminhada.<br />

Extenuados, fomos dormir à Pousada <strong>de</strong><br />

Baucau. De manhã o grupo dividiu-se<br />

pelos interesses que surgiam: passeio<br />

pela parte histórica da vila, <strong>de</strong>scida até à<br />

praia ou visitar Venilale.<br />

Depois foi o regresso a Dili, passando por<br />

Manatuto, terra do artesanato <strong>de</strong> barro e<br />

chegada à capital para preparar as malas<br />

para o regresso e sermos presenteados,<br />

<strong>de</strong> surpresa, com um lauto jantar <strong>de</strong> iguarias<br />

timorenses, com danças tradicionais.<br />

Um registo final: ao longo das nossas<br />

andanças e dos contactos que tivemos,<br />

ficámos a saber que muitos dos actuais<br />

e antigos dirigentes <strong>de</strong> Timor Leste e<br />

responsáveis das suas Forças Armadas<br />

fizeram o serviço militar em unida<strong>de</strong>s do<br />

Exército português.<br />

É o caso do actual major-general <strong>Ler</strong>e<br />

Anan Timur, chefe do Estado-Maior-General<br />

das Forças Armadas, que foi cabo;<br />

Rogério Lobato, que foi Ministro da Defesa<br />

na I República e Ministro da Administração<br />

Interna na II República, foi alferes em<br />

1974/75 e, Abílio Araújo, que exerceu o<br />

cargo <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte da Fretilin, e <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

da República nessa efémera República,<br />

foi furriel miliciano nos finais dos<br />

anos 60, tendo trabalhado com os então<br />

alferes milicianos Ângelo Correia, que foi<br />

ministro da Administração Interna <strong>de</strong> Cavaco<br />

Silva e Fernan<strong>de</strong>s Tomás, historiador<br />

<strong>de</strong> renome sobre o Extremo-Oriente, sobrinho-neto<br />

do almirante Américo Tomás,<br />

último Chefe <strong>de</strong> Estado do Antigo Regime.<br />

Serafim Lobato<br />

Sóc. Orig. n.º 1792<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt


A <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e a nossa Revista<br />

“O Desembarque” apresentam sentidas condolências às<br />

Suas Famílias, publicando-se as respectivas fotografias<br />

que correspon<strong>de</strong>m às que encontrámos, com menor ou<br />

razoável qualida<strong>de</strong>, nos nossos ficheiros.<br />

Estes nossos Camaradas e amigos conservar-se-ão sempre<br />

entre nós neste Planeta e quando nos encontrarmos<br />

noutros Mundos.<br />

Dr. Ilídio das Neves Luís<br />

Sócio n.º 155<br />

Donativos<br />

Manuel Ramos Farias<br />

Sócio n.º 1101<br />

Nome do sócio N.º Donativo<br />

Eng. Castro Figueiredo - Placa da AFZ<br />

Francisco Jordão - 5,00 €<br />

João Pedro Marques da Luz 1308 20,00 €<br />

Anónimo - 20,00 €<br />

Manuel Correia 478 40,00 €<br />

Cte. Men<strong>de</strong>s Fernan<strong>de</strong>s - 80,00 €<br />

Nome do sócio N.º Assin.<br />

Gil Neves 1384 10,00 €<br />

Diamantino Rodrigues 1887 10,00 €<br />

Vitor Rosa Porto 1706 10,00 €<br />

Martinho dos Santos Alves 1837 10,00 €<br />

José Manuel Pedro Ferreira<br />

Sócio n.º 1808<br />

O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />

obituário<br />

Aqui se presta homenagem<br />

aos que nos <strong>de</strong>ixaram<br />

Ataí<strong>de</strong> Alves Can<strong>de</strong>ias<br />

Sócio n.º 440<br />

Novos Sócios<br />

Nome do sócio N.º<br />

Armenio da Silva Coelho 2174<br />

Diamantino F. M. da Costa Men<strong>de</strong>s 2175<br />

Jaime Alexandre Santos 2176<br />

José Alberto Soares da Silva 2177<br />

Fernando Manuel Correia Gomes 2178<br />

Ilídio Jorge Franco dos Santos 2179<br />

Rui Miguel F. da Silva Santos 2180<br />

João Filipe Neto Mimoso 2181<br />

José Manuel Sousa Pirota 2182<br />

Ariston Thermo Portugal (Sócio Coletivo n.º 1) 2183<br />

Elisabete Catarina Teixeira Fernan<strong>de</strong>s 2184<br />

Carlos Eduardo Mesquita Antunes 2185<br />

Victor Manuel <strong>de</strong> Melo Botto 2186<br />

Mario Duarte dos Santos P. Andra<strong>de</strong> 2187<br />

António Raul Dias Rolo 2188<br />

Manuel Lema Pires dos Santos 2189<br />

José <strong>de</strong> Sousa Gil 2190<br />

Luís Filipe Palma Botelho<br />

Sócio n.º 1106<br />

Manuel da Silva Marques<br />

ex-Sócio n.º 698<br />

diversos<br />

Novos Sócios<br />

Nome do sócio N.º<br />

António Silveira Proença 2191<br />

Jorge José Valada Piriquito 2192<br />

José António Paula Cabrita 2193<br />

Carlos Pedro Duarte Gameiro 2194<br />

Manuel J. Monteiro, Lda. (Sócio Coletivo n.º 2) 2195<br />

Rafael Antonio Nunes Alexandre 2196<br />

Rui Miguel Gomes Ramires 2197<br />

Rafael Alves Ramires 2198<br />

António Janeiro Ramires dos Santos 2199<br />

Samuel Men<strong>de</strong>s Pacheco 2200<br />

Dinora da Silva Capatão Talhadas 2201<br />

José Faustino 2202<br />

Iracema Ferreira Fernan<strong>de</strong>s Faustino 2203<br />

Mariana Sofia Jeronimo Leitão 2204<br />

José Manuel silva <strong>de</strong> Sousa 2205<br />

Vasco Miguel Duarte Gomes 2206<br />

Pedido/Recomendação da Direcção<br />

A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam en<strong>de</strong>reços electrónicos (e-mail) o favor <strong>de</strong> os remeterem<br />

ao Secretariado Nacional (afuzileiros@netvisao.pt) para facilitar as comunicações/informações que se preten<strong>de</strong> assumam a<br />

natureza <strong>de</strong> constantes e permanentes. Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, <strong>de</strong> todas as regalias<br />

<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rão usufruir, bem como das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da <strong>Associação</strong> ou dos Associados.<br />

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