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O<br />
REVISTA N.º 15 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · MARÇO 2013<br />
DESEMBAR UE
índice ficha técnica<br />
Editorial<br />
A Se<strong>de</strong> está sempre à disposição dos Associados 3<br />
Cooperação<br />
Visita do Comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Portugal<br />
aos <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Angola 4<br />
Notícias<br />
O Chefe do Estado-Maior da Armada almoça<br />
na <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> 5<br />
<strong>Fuzileiros</strong> visitam o Comando Territorial da GNR<br />
<strong>de</strong> Santarém 6<br />
Em memória <strong>de</strong> Jaime Neves 7<br />
Cultura e Memória<br />
Salpicos <strong>de</strong> Vida – SPM 0468 N.º 8 – <strong>Fuzileiros</strong> na piscina… 8<br />
Opinião<br />
Aproveitar Recursos 9<br />
O Direito <strong>de</strong> Dizer – O Advogado, o Dever <strong>de</strong> servir a Justiça<br />
e o seu Direito/Dever <strong>de</strong> Protestar 10<br />
Convívios<br />
Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 4 – Guiné 1965/67 13<br />
XXXI Encontro <strong>de</strong> Marinheiros da Beira Alta 14<br />
Companhia <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 3 – Guiné 1963/65 15<br />
Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 12 – Guiné 1967/69 16<br />
Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 8 – Guiné 1969/71 18<br />
“Escola” <strong>de</strong> 98 20<br />
Companhia <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 2 – Angola 1966/69 e Angola 1970/72 21<br />
Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Museu do Fuzileiro 22<br />
Homenagens<br />
A <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
presta homenagem ao seu antigo Presi<strong>de</strong>nte, Dr. Ilídio das Neves Luís 24<br />
Homenagem a Rebordão <strong>de</strong> Brito 26<br />
Entrevista<br />
Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias 27<br />
Divisões<br />
Divisão do Mar e das Activida<strong>de</strong>s Lúdicas e Desportivas 34<br />
Crónicas<br />
Breves estórias da Guiné 36<br />
Crónicas <strong>de</strong> Outros Tempos – Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa 37<br />
Orlando <strong>de</strong> Sousa Cristina<br />
Um herói a quem os <strong>Fuzileiros</strong> muito ficaram a <strong>de</strong>ver em Moçambique 39<br />
Cartas ao Director<br />
A história <strong>de</strong> um Fuzileiro e da sua namorada Fernanda 42<br />
Almoço <strong>de</strong> Natal<br />
O Almoço/Convívio <strong>de</strong> Natal – 16 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012 43<br />
Delegações<br />
Delegação do Algarve 46<br />
Delegação <strong>de</strong> Juromenha/Elvas 48<br />
Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia 49<br />
Reportagem<br />
Timor-Leste: entre as lembranças do passado e a realida<strong>de</strong> presente 51<br />
Obituário 55<br />
Diversos 55<br />
Publicação Periódica da<br />
<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Revista n.º 15 • Março 2013<br />
Proprieda<strong>de</strong><br />
<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.<br />
2830-356 Barreiro<br />
Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461<br />
email: afuzileiros@netvisao.pt<br />
www.associacaofuzileiros.pt<br />
Edição e Redacção<br />
Direcção da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Director<br />
Lhano Preto<br />
Directores Adjuntos<br />
Cardoso Moniz e Marques Pinto<br />
Colaborações<br />
Delegações da AFZ<br />
LP, MP, CM, Ribeiro Ramos,<br />
Miranda Neto, CMP, CCFZ, EFZ, BFZ,<br />
Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro<br />
Gonçalves<br />
Coor<strong>de</strong>nação gráfica<br />
e paginação electrónica<br />
Manuel Lema Santos<br />
mlema@mlemasantos.com<br />
Impressão e acabamento<br />
Gazela - Artes Gráficas, Lda.<br />
Rua Sebastião e SIlva, n.º 79 - Massamá<br />
2745-838 Queluz<br />
Tel.: 214 389 750 • Fax: 214 371 931<br />
www.gazela.pt<br />
Tiragem<br />
2.000 exemplares<br />
Exceptuando-se os artigos assinalados e da<br />
responsabilida<strong>de</strong> dos respectivos autores,<br />
a redacção <strong>de</strong>sta revista não está adaptada<br />
às regras <strong>de</strong> novo acordo ortográfico<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
Francisco Lhano Preto<br />
Nos últimos tempos a Se<strong>de</strong> da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Fuzileiros</strong>, por uma razão ou por outra, não foi<br />
chamariz suficiente para que, sempre, os seus<br />
sócios e mesmo as Unida<strong>de</strong>s e ex-Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
fizessem os seus encontros <strong>de</strong> confraternização e diversão<br />
neste lugar tão agradável, acolhedor e tão nosso.<br />
Foi sempre uma das situações que me preocupou, já que<br />
muitos <strong>de</strong>stes convívios eram realizados quase sempre no<br />
município do Barreiro, <strong>de</strong>vido à nossa ligação à Escola-<br />
-mãe, e talvez só meta<strong>de</strong> eram concretizados no local,<br />
para nós tão místico “A nossa Se<strong>de</strong>”.<br />
Até porque para além <strong>de</strong> ser nossa, possui todos os ingredientes<br />
que um Fuzileiro possa sonhar; um rio Coina<br />
com muito lodo e uma praia em frente, on<strong>de</strong> quase por<br />
certo <strong>de</strong>sembarcou durante o dia e muitas vezes à noite.<br />
<strong>Mais</strong>, quem não quer relembrar um pôr-do-sol africano<br />
ou um reembarque em Pinheiro da Cruz, na explanada da<br />
<strong>Associação</strong>, no fim do dia?<br />
Por tal, <strong>de</strong>cidiu a Direcção tentar alterar a situação,<br />
mudando até a gerência do restaurante, dando assim<br />
mais um passo para que se possa iniciar uma nova era <strong>de</strong><br />
convívios dos <strong>Fuzileiros</strong>. A sala também foi restaurada e<br />
terá <strong>de</strong>ntro em breve um alto-relevo <strong>de</strong>dicado ao Fuzileiro.<br />
Esta nova fase já foi iniciada, tendo tido como teste, um<br />
jantar no dia dos namorados, porque “Fuzileiro que não<br />
está enamorado, não é certamente um bom Fuzileiro”.<br />
Para quem não esteve presente, adianto que neste serão<br />
houve muito convívio, muita animação e não faltou a bela<br />
música ao vivo. Este primeiro evento foi muito agradável e<br />
penso que toda a nossa gente saiu satisfeita.”<br />
Está <strong>de</strong> parabéns o senhor Cabrita e a esposa (Dona<br />
Alzira), tendo todos nós muito a esperar.<br />
Porque o número <strong>de</strong> telefone do Snack-Bar foi alterado,<br />
<strong>de</strong>ixo o novo contacto para marcação <strong>de</strong> algum evento:<br />
210 853 030.<br />
Termino concluindo “caro sócio a se<strong>de</strong> é tua, usa-a nos<br />
teus eventos para teu proveito, dos teus familiares e<br />
dos amigos”.<br />
“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre<br />
Lhano Preto<br />
Presi<strong>de</strong>nte da Direcção<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
editorial<br />
A Se<strong>de</strong> está sempre<br />
à disposição<br />
dos Associados<br />
3
cooperação<br />
Visita do Comandante do<br />
Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Portugal<br />
aos <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Angola<br />
No âmbito do programa da 1.ª Reunião<br />
Formal entre os Estados-maiores das<br />
Marinhas <strong>de</strong> Angola e <strong>de</strong> Portugal,<br />
realizada em Angola <strong>de</strong> 17 a 23 <strong>de</strong> Novembro<br />
<strong>de</strong> 2012, e em que o Comandante<br />
do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, Contra-almirante<br />
Cortes Picciochi, foi nomeado como chefe<br />
da <strong>de</strong>legação da Marinha Portuguesa, foi<br />
incluída uma <strong>de</strong>slocação ao Ambriz, on<strong>de</strong><br />
se encontram instaladas a Brigada <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Navais (BFN) e a Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Navais <strong>de</strong> Angola (EFN).<br />
A <strong>de</strong>slocação da <strong>de</strong>legação da Marinha<br />
portuguesa, que incluiu dois oficiais superiores<br />
da Divisão <strong>de</strong> Relações Externas<br />
do EMA, foi acompanhada pelo Diretor<br />
Técnico do Projeto 8 (Marinha) da CTM<br />
em Angola, CMG Xavier da Cunha, e por<br />
uma importante comitiva da Marinha <strong>de</strong><br />
Guerra Angolana, que integrou o Vice-almirante<br />
Jorge Correia da Silva, Chefe da<br />
Direção <strong>de</strong> Preparação Combativa e Ensino,<br />
o Contra-almirante Ferreira <strong>de</strong> Jesus,<br />
Chefe Adjunto da Direção <strong>de</strong> Operações, e<br />
o Contra-almirante João Cambole, Chefe<br />
Adjunto da Direção <strong>de</strong> Pessoal e Quadros.<br />
Após uma viagem por estrada, que requereu<br />
cerca <strong>de</strong> quatro horas para se percorrer<br />
os cerca <strong>de</strong> 170 quilómetros <strong>de</strong> distância,<br />
e que inclui um exigente troço <strong>de</strong><br />
picada em terra batida, a comitiva chegou<br />
às instalações da BFN, cerca das 10h30m,<br />
on<strong>de</strong> foi recebida pelo Contra-almirante<br />
Bamba Castro, ilustre comandante daquela<br />
unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuzileiros, e pelo assessor<br />
técnico permanente, CMG FZ Ova Correia.<br />
Depois das honras militares garbosamente<br />
prestadas por um pelotão da Polícia Naval,<br />
no exterior da unida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>u-se início ao<br />
programa da visita com um briefing sobre<br />
a organização, missão e dispositivo das<br />
unida<strong>de</strong>s operacionais que constituem a<br />
estrutura operacional da BFN, seguida <strong>de</strong><br />
uma breve visita às instalações, tendo sido<br />
no final oferecido um serviço <strong>de</strong> refrigerantes<br />
e café.<br />
De seguida, a comitiva e acompanhantes<br />
militares dirigiram-se para a praia da<br />
Kinfuca, situada a 14 kms a sul da vila do<br />
Ambriz, on<strong>de</strong> o Contra-almirante Cortes<br />
Picciochi assistiu a um “static display” dos<br />
equipamentos <strong>de</strong> C2 e do armamento orgânico<br />
das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fuzileiros, e ainda<br />
a uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s anfíbias<br />
em que elementos do <strong>de</strong>stacamento<br />
<strong>de</strong> ações especiais realizaram uma incursão<br />
em terra a partir do mar, enquadrado<br />
num ambiente <strong>de</strong> combate à pirataria.<br />
Apesar <strong>de</strong> algum atraso, a segunda parte<br />
do programa da visita à EFN teve início<br />
com uma guarda <strong>de</strong> honra à entrada<br />
daquela unida<strong>de</strong>, localizada na zona litoral<br />
norte da vila, e após os cumprimentos<br />
protocolares foi realizada uma apresentação<br />
pelo Comandante da EFN, CMG FZ<br />
Vaz Gonçalves, on<strong>de</strong> foram salientados os<br />
aspetos organizativos e funcionais daquela<br />
unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino militar, e enaltecida<br />
a importância das sucessivas equipas <strong>de</strong><br />
assessores fuzileiros portugueses, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
o ano da criação da primeira Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
em 1994, na ilha <strong>de</strong> S. João da Cazanga,<br />
a sul <strong>de</strong> Luanda. Posteriormente,<br />
as entida<strong>de</strong>s visitantes percorreram o espaço<br />
interior da unida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> assistiram<br />
a <strong>de</strong>monstrações das ativida<strong>de</strong>s práticas<br />
<strong>de</strong> instrução militar básica dos cursos <strong>de</strong><br />
NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico<br />
ca<strong>de</strong>tes, sargentos e praças que ali <strong>de</strong>correm<br />
atualmente, assim como foram conhecidas<br />
algumas instalações essenciais<br />
ao apoio sanitário da guarnição, e outras<br />
recentemente inauguradas <strong>de</strong> apoio à formação.<br />
O almoço servido na messe <strong>de</strong> oficiais, <strong>de</strong><br />
ementa recheada com pratos e acepipes<br />
típicos constituiu um momento <strong>de</strong> franco<br />
convívio, on<strong>de</strong> se reviveram histórias da<br />
formação <strong>de</strong> alguns dos oficiais presentes<br />
nos cursos em Vale <strong>de</strong> Zebro, e <strong>de</strong> outros<br />
fuzileiros portugueses enquanto assessores<br />
em Angola, ressaltando sempre um<br />
forte espirito <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> partilha <strong>de</strong><br />
conhecimentos e experiências, <strong>de</strong> respeito<br />
mútuo, e <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> sempre renovada<br />
entre os elementos dos fuzileiros <strong>de</strong> Angola<br />
e <strong>de</strong> Portugal.<br />
Em ambas as visitas, foram efetuadas<br />
trocas <strong>de</strong> presentes institucionais e foi<br />
assinado o livro <strong>de</strong> honra <strong>de</strong>stas duas<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fuzileiros angolanos, on<strong>de</strong><br />
o Contra-almirante Cortes Picciochi<br />
<strong>de</strong>ixou missivas <strong>de</strong> reconhecimento pelo<br />
excelente acolhimento, profissionalismo<br />
na ação e relevância das nobres missões<br />
atribuídas à Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Navais<br />
e da Brigada <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Navais, quer<br />
na formação <strong>de</strong> novos marinheiros e<br />
fuzileiros, quer na <strong>de</strong>fesa dos interesses<br />
nacionais e da soberania nacional, nos<br />
diversos pontos do território on<strong>de</strong> se<br />
encontram posicionadas as forças e<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fuzileiros <strong>de</strong> Angola.<br />
Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre!<br />
Ova Correia<br />
CMG FZE/ATP<br />
4 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
notícias<br />
O Chefe do Estado-Maior da Armada almoça<br />
na <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
A<br />
convite da Direcção Nacional, o<br />
Chefe do Estado-Maior da Armada,<br />
Almirante Saldanha Lopes, almoçou<br />
no Snack-Bar da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />
no passado dia 25 <strong>de</strong> Fevereiro.<br />
Participaram também no que foi qualificado<br />
como um “almoço <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>”, o<br />
Comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, Contra-Almirante<br />
Cortes Picciochi, o Chefe<br />
<strong>de</strong> Gabinete do CEMA, Contra-Almirante<br />
Seabra <strong>de</strong> Melo, e o Capitão-Tenente<br />
Afonso e o 1.º Tenente Silva Ângelo, oficiais<br />
que integram o Gabinete do CEMA.<br />
Fizeram as honras da casa, o Contra-<br />
-Almirante Leiria Pinto, Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Assembleia-Geral da AFZ, o Comandante<br />
Lhano Preto, o Comandante Cardoso Moniz<br />
e o Doutor Marques Pinto, Presi<strong>de</strong>nte<br />
e Vice-Presi<strong>de</strong>ntes da Direcção, respectivamente.<br />
No final do almoço, o CEMA percorreu<br />
o Salão Polivalente da AFZ e esteve<br />
na esplanada do nosso Snack-Bar<br />
contemplando a vista sobre o rio Tejo e<br />
observou, particularmente, os “Moinhos<br />
<strong>de</strong> Maré” que dali se vislumbram em<br />
pequenas ilhotas.<br />
Um mundo <strong>de</strong> soluções para o seu lar...<br />
Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz <strong>de</strong> Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt<br />
Durante o almoço, que também foi <strong>de</strong><br />
trabalho, trataram-se vários temas rela-<br />
cionados com a AFZ e com a sua impor-<br />
tância para a Marinha, no quadro da sua<br />
influência e unida<strong>de</strong> nacional e, também,<br />
na colaboração que po<strong>de</strong>remos prestar,<br />
na semana da Marinha e Dia da Marinha,<br />
cujas comemorações <strong>de</strong>correrão na se-<br />
mana <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> Maio próximo, no Barreiro.<br />
“O Desembarque” cumprimenta o CEMA<br />
e, particularmente, o Almirante Saldanha<br />
Lopes, a quem convidou para ser um<br />
próximo entrevistado da nossa Revista.<br />
5
notícias<br />
6<br />
<strong>Fuzileiros</strong> visitam<br />
o Comando Territorial<br />
da GNR <strong>de</strong> Santarém<br />
Os movimentos <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> para<br />
Santarém estão normalmente associados<br />
a missões <strong>de</strong> apoio às populações<br />
ciclicamente atingidas pelas cheias<br />
do Rio Tejo que, <strong>de</strong> tempos a tempos,<br />
galgando as margens, transforma estradas<br />
em perigosos canais e a Lezíria num<br />
gran<strong>de</strong> lago on<strong>de</strong> os botes <strong>de</strong> borracha ou<br />
as lanchas <strong>de</strong> pequeno calado se tornam<br />
imprescindíveis.<br />
Neste 7 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012 a missão<br />
foi <strong>de</strong> cariz diferente e obe<strong>de</strong>ceu a um plano<br />
traçado pelo Comandante do Comando<br />
Territorial <strong>de</strong> Santarém, o senhor Coronel<br />
Corte-Real Figueiredo que com muita honra,<br />
como fez questão <strong>de</strong> referir, continua<br />
ligado aos <strong>Fuzileiros</strong> pela mística da boina<br />
FZ que em <strong>de</strong>terminada e talvez <strong>de</strong>terminante<br />
fase da sua vida, envergou.<br />
Estavam assim reunidas as condições<br />
para que o convite que dirigiu a vários oficiais<br />
fuzileiros que com ele mais <strong>de</strong> perto<br />
privaram, fosse aceite por quase todos e<br />
se transformasse num dia <strong>de</strong> confraternização<br />
entre fuzileiros e militares da GNR<br />
sob seu comando.<br />
Muitos outros oficiais <strong>de</strong>sse Corpo Militar<br />
que, tal como o Coronel Figueiredo, passaram<br />
pelos <strong>Fuzileiros</strong> e agora ocupam funções<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na GNR, também aceitaram<br />
o convite e estiveram presentes.<br />
Talvez aqui se <strong>de</strong>va referir que este transvaze<br />
<strong>de</strong> oficiais fuzileiros para a GNR, segundo<br />
julgamos, teve a sua maior expressão<br />
na década <strong>de</strong> oitenta mas continuou<br />
<strong>de</strong>ste então e continua, sendo uma excelente<br />
forma <strong>de</strong> adaptação e rentabilização<br />
<strong>de</strong> recursos humanos qualificados com<br />
vantagens para ambas as organizações.<br />
Mas voltando ao evento versado nesta<br />
pequena nota, salienta-se ainda que a<br />
“<strong>de</strong>legação” dos <strong>Fuzileiros</strong> que se <strong>de</strong>slocou<br />
a Santarém que, como se disse, era<br />
constituída por oficiais <strong>Fuzileiros</strong> que estiveram<br />
mais directamente relacionados<br />
com o nosso anfitrião, foi encabeçada pelo<br />
senhor Contra-Almirante Cortes Picciochi,<br />
actual comandante do CCF, o que muito<br />
nos honrou.<br />
O dia correu <strong>de</strong>pressa preenchido com um<br />
excelente “briefing” sobre a activida<strong>de</strong><br />
da GNR no Distrito <strong>de</strong> Santarém, um jogo<br />
<strong>de</strong> futebol disputado a muito bom ritmo e<br />
com excelentes exibições dos suspeitos<br />
do costume e um almoço <strong>de</strong> nota <strong>de</strong>z on<strong>de</strong><br />
os produtos regionais pontuaram alto e<br />
estiveram ao nível do acontecimento.<br />
Ao nível do acontecimento esteve também<br />
a fidalguia e o ambiente camarada e amigo<br />
com que o Coronel Figueiredo e os seus<br />
oficiais nos receberam.<br />
Estamos-lhe gratos por nos ter proporcionado<br />
estes momentos tal como ele<br />
se manifestou grato pela compreensão e<br />
apoio que lhe foram dados aquando da<br />
sua difícil <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> sair dos <strong>Fuzileiros</strong> e<br />
abraçar um outro Corpo <strong>de</strong> Tropas que tão<br />
bem o recebeu e enquadrou. Nessa altura<br />
o oficial em questão <strong>de</strong>sempenhava precisamente<br />
as funções <strong>de</strong> Oficial Imediato da<br />
CF 22 companhia da qual o signatário era<br />
então o comandante.<br />
Quanto ao resultado do futebol… não me<br />
lembro bem mas julgo que foi um empate.<br />
Benjamim Correia<br />
Sóc. Orig. n.º 1351<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
O voto <strong>de</strong> pesar votado pela morte<br />
do major-general Jaime Neves no<br />
Parlamento resultou num episódio<br />
ruidoso nas galerias.<br />
Depois <strong>de</strong> os partidos do PS, PSD<br />
e CDS terem aprovado o voto <strong>de</strong><br />
pesar, apesar dos votos contra do<br />
PCP, BE e Ver<strong>de</strong>s, um grupo na assistência<br />
– alguns <strong>de</strong>les com boinas<br />
militares – levantou-se para<br />
verbalizar o grito dos comandos,<br />
unida<strong>de</strong> que Jaime Neves chefiava<br />
durante o período da revolução e<br />
consequente “Verão Quente”.<br />
Em memória <strong>de</strong><br />
Jaime Neves<br />
A<br />
Direcção da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, reunida em 5 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong><br />
2013, na sua Se<strong>de</strong> Social, no Barreiro, em sessão n.º 187/03/13 <strong>de</strong>liberou por<br />
unanimida<strong>de</strong>:<br />
“Prestar sentida e patriótica homenagem ao Major-General, Jaime Neves que se consi<strong>de</strong>ra<br />
herói da verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>mocracia e acompanhar a Sua Família e a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> Comandos<br />
no pesar que todos os Portugueses sentem pelo seu recente <strong>de</strong>saparecimento”.<br />
A Direcção <strong>de</strong>cidiu, após um minuto <strong>de</strong> silêncio, transcrever em Acta o seguinte texto:<br />
General Jaime Neves (1936-2013)<br />
1 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2013<br />
Gritou-se “Mama Sume” no Parlamento<br />
O plenário foi surpreendido com o<br />
grito “Mama Sume!” que <strong>de</strong>ixou a<br />
mesa da Assembleia da República<br />
(AR) sem reacção.<br />
A expressão foi adoptada pela<br />
unida<strong>de</strong> militar a partir do grito<br />
<strong>de</strong> uma tribo Banto do Sul do<br />
continente africano na cerimónia<br />
que precedia a caça ao leão.<br />
Traduzida significa “Aqui estamos<br />
prontos para o sacrifício”.<br />
Ao contrário <strong>de</strong> outros momentos,<br />
a presi<strong>de</strong>nte da AR não solicitou<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
notícias<br />
aos agentes da autorida<strong>de</strong> que<br />
evacuasse as galerias. Quem<br />
assiste às sessões do plenário não<br />
po<strong>de</strong> manifestar-se enquanto os<br />
trabalhos <strong>de</strong>correm. E Assunção<br />
Esteves já <strong>de</strong>u no passado or<strong>de</strong>ns<br />
para evacuar a assistência <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> algumas manifestações.<br />
De qualquer maneira, os cidadãos<br />
em causa abandonaram as galerias<br />
logo após o inci<strong>de</strong>nte.<br />
A <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> junta-se à <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> Comandos e ao seu grito “Mama Sume” e, do Barreiro e <strong>de</strong> Portugal,<br />
respon<strong>de</strong> com o grito dos fuzileiros:<br />
“Fuzos: prontos. do mar: p’ra terra. <strong>de</strong>sembarcar: ao assalto. <strong>de</strong>sembarcar: ao assalto”<br />
7
cultura e memória<br />
Na operação “Altair”, em 26 Outubro<br />
<strong>de</strong> 1966, o DFE 4 <strong>de</strong>sembarcou<br />
”a nadar” na Pt a Canabém, no rio<br />
Cacine, com apoio <strong>de</strong> fogo <strong>de</strong> duas LFG’s,<br />
a Hidra e a Lira. Como todos os locais na<br />
zona sul da Guiné esta era uma área <strong>de</strong><br />
real perigo, on<strong>de</strong> corríamos o risco <strong>de</strong><br />
sermos atacados no momento crítico do<br />
<strong>de</strong>sembarque, que ia acontecer <strong>de</strong> dia.<br />
O baú das memórias, às vezes já difícil <strong>de</strong><br />
abrir, recorda-nos os momentos difíceis<br />
que o nosso grupo, tão jovem, viveu com<br />
muita intensida<strong>de</strong> e generosida<strong>de</strong> em<br />
terras <strong>de</strong> África.<br />
Eram 7h00 quando a LDM 307 nos<br />
tentou <strong>de</strong>sembarcar na Pt a Canabém. Por<br />
infortúnio do <strong>de</strong>stino, surgiu <strong>de</strong> repente o<br />
chamado “imprevisto nunca previsto”: a<br />
LDM encalhou em fundo baixo, a cerca <strong>de</strong><br />
100 m <strong>de</strong> uma margem cheia <strong>de</strong> tarrafo,<br />
ficando ao alcance das armas do IN.<br />
Nesse momento crítico havia que tomar<br />
uma <strong>de</strong>cisão urgente, e executá-la muito<br />
rapidamente: ou <strong>de</strong>sembarcar ou abortar a<br />
operação. A escolha feita pelo Comandante<br />
foi fácil. A LDM estava mesmo encalhada<br />
e não mexia.<br />
Assim, era urgente aliviar a carga para<br />
que ela ganhasse flutuabilida<strong>de</strong> e pu<strong>de</strong>sse<br />
navegar. De facto naquela posição, a lancha<br />
seria um alvo muito fácil, e diria até<br />
que estávamos a oferecer a “lotaria” ao<br />
IN, pois podíamos ser atacados sem termos<br />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r. O nosso<br />
Comandante não teve portanto outra<br />
alternativa que não fosse gritar a or<strong>de</strong>m<br />
“todos para a água”, para <strong>de</strong>sembarcar<br />
rapidamente a nado, acontecesse o que<br />
acontecesse.<br />
8<br />
Salpicos <strong>de</strong> Vida<br />
SPM 0468<br />
N.º 8<br />
<strong>Fuzileiros</strong> na piscina…<br />
Felizmente, beneficiávamos da ajuda das<br />
peças <strong>de</strong> 40 mm das LFG’s Hidra e Lira,<br />
que se reposicionaram e nos <strong>de</strong>ram a<br />
protecção possível nestes momentos <strong>de</strong><br />
aflição.<br />
As fotografias juntas evi<strong>de</strong>nciam bem as<br />
dificulda<strong>de</strong>s por que passámos e recordo<br />
que nas nossas mentes todos os pensamentos<br />
negativos nos surgiram. Saberíamos<br />
todos nadar o suficiente para chegar<br />
a terra com todo o pesado equipamento?<br />
Conseguiríamos evitar molhar as armas e<br />
as munições? Iriam funcionar os RPG’s e<br />
os rockets? Conseguiríamos manter a disciplina,<br />
a nadar em fila indiana? Haveria<br />
algum erro dos artilheiros das LFG’s que<br />
nos acertariam com alguns tiros? Estaria o<br />
IN à nossa espera no tarrafo ainda connosco<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> água? etc…<br />
Resumindo, a nossa moral naqueles momentos<br />
não era propriamente das mais<br />
elevadas, pois na verda<strong>de</strong>, quer quiséssemos<br />
quer não, estávamos a fazer um<br />
<strong>de</strong>sembarque dando todas as vantagens<br />
ao IN. Recordo que esta operação se efectuava<br />
<strong>de</strong> dia e o factor surpresa há muito<br />
que <strong>de</strong>saparecera.<br />
A 1.ª secção avançou com muita <strong>de</strong>terminação,<br />
“não propriamente num crawl<br />
perfeito”, mas tentando que as coisas<br />
importantes não se molhassem. Refiro-<br />
-me ao material vital para andar no mato,<br />
armas, munições, cartas e equipamentos<br />
<strong>de</strong> comunicações.<br />
Lá fomos vencendo todas as dificulda<strong>de</strong>s<br />
com um esforço titânico tanto no plano<br />
físico como emocional. Recordo-me que<br />
após nadarmos aquele primeiro troço visível<br />
até a uma curva, fomos então surpreendidos<br />
com um gran<strong>de</strong> percurso <strong>de</strong><br />
água que nos separava ainda do início do<br />
tarrafo e das primeiras árvores que nos<br />
proporcionariam abrigo.<br />
É nesse momento que nos assalta a velha<br />
pergunta “mas isto está a acontecer-me<br />
mesmo a mim ou é tudo um sonho do qual<br />
ainda não acor<strong>de</strong>i?”. Infelizmente, tudo era<br />
mesmo real e nós tínhamos mesmo que resolver<br />
aquela “papeleta”, fosse <strong>de</strong> que maneira<br />
fosse, e a única solução era ganhar a<br />
orla da mata tão cedo quanto possível.<br />
Neste ultimo canal, as LFG’s já não nos<br />
viam e estávamos portanto totalmente entregues<br />
a nós próprios.<br />
Quando atingimos o meio do tarrafo, com<br />
a vonta<strong>de</strong> imensa que <strong>de</strong>saparecesse o<br />
cansaço acumulado no <strong>de</strong>sembarque,<br />
sentimos com intensida<strong>de</strong>, o enorme <strong>de</strong>sconforto<br />
<strong>de</strong> ainda não termos ninguém na<br />
orla das primeiras árvores, o que simplesmente<br />
significava estarmos ainda à mercê<br />
do IN.<br />
Finalmente a 1.ª secção “agarrou” a orla<br />
da mata, e a tranquilida<strong>de</strong> começou a<br />
confortar os nossos espíritos. Os restantes<br />
homens do DFE 4 já po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>sembarcar<br />
com alguma tranquilida<strong>de</strong> pois o<br />
nosso pessoal já lhes podia dar protecção<br />
na situação imprevisível que o <strong>de</strong>stino nos<br />
criou.<br />
Assim, esta operação ficou conhecida<br />
para a história pela situação inesperada e<br />
imprevisível, do <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> um DFE<br />
nadando num dos sítios <strong>de</strong> maiores riscos<br />
operacionais da antiga Guiné.<br />
Por incrível que pareça, as fotos que<br />
acompanham este SPM <strong>de</strong>ram volta aos<br />
três TO’s, Guiné, Angola e Moçambique,<br />
e apareceram em revistas <strong>de</strong> outros ramos<br />
das Forças Armadas, ligadas a outras<br />
unida<strong>de</strong>s que não o nosso DFE 4. Não ficámos<br />
zangados que outros se tivessem<br />
apropriado das nossas imagens, mas é<br />
tempo <strong>de</strong> repormos a verda<strong>de</strong> dos factos e<br />
dar o seu a seu dono, principalmente por<br />
se tratar <strong>de</strong> momentos tão intensamente<br />
vividos na nossa juventu<strong>de</strong>, e permanecendo<br />
bem vivos na nossa memória.<br />
Nunca é <strong>de</strong>mais recordar a inscrição que<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantos anos, <strong>de</strong>ixámos gravada<br />
na placa do DFE 4 na Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>:<br />
“Pelo que somos e pelo que fomos”.<br />
CMG Francisco Rosado<br />
Sócio Originário N.º 1900<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
António Ribeiro Ramos<br />
A<br />
ausência da guerra, sabemo-lo bem, não é só por si<br />
suficiente para que uma nação possa viver em Paz. Se<br />
prevalecer a insegurança resultante da sua fragilida<strong>de</strong><br />
tanto externa como interna, esta po<strong>de</strong> levar, e inevitávelmente<br />
leva, à perda da estabilida<strong>de</strong> necessária ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> valoração justa, <strong>de</strong> organização eficiente,<br />
<strong>de</strong> coesão nacional e <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> generalizada, fácilmente se<br />
instalam formas subtis <strong>de</strong> violência, tanto no plano material como<br />
no plano moral, per<strong>de</strong>ndo-se irremediávelmente os benefícios<br />
da Paz.<br />
Fragilizar primeiro é aliás, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre e por razões óbvias,<br />
uma preocupação essencial para qualquer potencial opositor. Em<br />
“A Arte da Guerra”, o mais antigo tratado militar que se conhece,<br />
escrito há mais <strong>de</strong> dois mil anos, falando <strong>de</strong> estratégia ofensiva, já<br />
Sun Tzu afirmava; “os habilidosos na arte <strong>de</strong> guerrear dominam o<br />
exército inimigo sem lhe dar batalha. Conquistam-lhe as cida<strong>de</strong>s<br />
sem ter que as assaltar, <strong>de</strong>rrubam-lhe o Estado sem operações<br />
prolongadas”.<br />
Por outro lado, a fragilida<strong>de</strong> diminui quando a segurança aumenta.<br />
Etimológicamente, a palavra segurança resulta da junção <strong>de</strong> duas<br />
outras palavras. “Se”, que significa “sem”. E “cura” que significa<br />
“cuidado”. Portanto “sem cuidado”, ou seja, “sem ansieda<strong>de</strong>”<br />
ou ainda, “sem medo” (Prof. Carvalho Rodrigues – Seminário<br />
no Instituto <strong>de</strong> Altos Estudos Militares em Dez. 1999). Mas, sem<br />
medo <strong>de</strong> quê? Eu diria que, sem medo <strong>de</strong> enfrentar dificulda<strong>de</strong>s,<br />
tanto na estabilida<strong>de</strong> como na mudança. Não pela via irracional<br />
da <strong>de</strong>svalorização das suas potenciais consequências, mas<br />
pela certeza <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r contar com as capacida<strong>de</strong>s e meios<br />
suficientes para que, quando aquelas não possam ser evitadas,<br />
sejam enfrentadas com elevada coesão, agilida<strong>de</strong>, e com<br />
garantidas probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> êxito.<br />
Mas a segurança é também complexa e multifacetada, porque<br />
se alarga a todos os sectores da activida<strong>de</strong> social, e precisa <strong>de</strong><br />
recursos para se manter, que são sempre limitados. Daí que,<br />
algumas ajudas viáveis e reconhecidamente úteis, possam ter<br />
aproveitamento na prática.<br />
Particularizando, e até porque muitos elementos militares, militarizados<br />
e civis que hoje zelam pela nossa segurança interna,<br />
ganharam e ostentaram anteriormente a bóina azul ferrete <strong>de</strong><br />
Fuzileiro, e levando em conta que não é possível aumentar ilimitadamente<br />
o numero <strong>de</strong>stes profissionais, vejamos dois exemplos<br />
curiosos <strong>de</strong> aproveitamento <strong>de</strong> recursos.<br />
Tanto nas minhas numerosas estadias nos portos, como na navegação<br />
em águas americanas, em face da necessida<strong>de</strong> que tinha<br />
<strong>de</strong> conhecer em pormenor a legislação aplicável naquele país,<br />
consultei vezes sem conta o CFR (Co<strong>de</strong> of Fe<strong>de</strong>ral Regulations),<br />
publicação que se compõe <strong>de</strong> vários volumes, que regulamenta<br />
<strong>de</strong> forma exaustiva tudo o que diz respeito aos navios e à navegação<br />
nos Estados Unidos, e que po<strong>de</strong> óbviamente também, ser<br />
consultado via Internet. Por vezes, alargava a minha leitura para<br />
além daquilo que procurava e, em 33 CFR, Chapter I, Subchapter<br />
A, Part 5, encontrei <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre uma curiosa organização <strong>de</strong><br />
voluntários <strong>de</strong>ntro da USCG (United States Coast Guard), <strong>de</strong>signada<br />
por “Auxiliary”. Não obstante a sua po<strong>de</strong>rosa Guarda Costeira,<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
Aproveitar Recursos<br />
opinião<br />
os Estados Unidos contam com 361 portos comerciais (revista<br />
“Proceedings”, U.S. Naval Institute, Abril 2007), com 200 milhas<br />
<strong>de</strong> Zona Económica Exclusiva tanto no Atlântico como no Pacífico,<br />
e ainda com uma enorme área oceânica <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> SAR<br />
(Search and Rescue – Busca e Salvamento) que, curiosamente no<br />
Atlântico e para Leste, confina com a que está atribuída a Portugal<br />
e que é igualmente vastíssima.<br />
Fundado em 23 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1939, o United States Coast Guard<br />
Auxiliary, conta actualmente com 32000 voluntários que sob a<br />
divisa “Always Ready” (“Sempre Prontos”) efectuam: Patrulhas,<br />
tanto <strong>de</strong> “safety” (segurança <strong>de</strong> navegação), como <strong>de</strong> “security”<br />
(contra activida<strong>de</strong>s ilícitas e terrorismo); Missões <strong>de</strong> busca e salvamento<br />
(SAR); Assistência a feridos ou em aci<strong>de</strong>ntes marítimos;<br />
Patrulhas e combate à poluição marítima; Promoção da eficiência<br />
da condução e assistência à segurança das embarcações <strong>de</strong> recreio;<br />
Exames para as diversas cartas da navegação <strong>de</strong> recreio, e<br />
ainda apoio às missões da Guarda Costeira, nas funções que lhes<br />
forem superiormente atribuídas.<br />
O “Auxiliary”, encontra-se distribuído por áreas, distritos e regiões,<br />
e frequentemente utilizou, e utiliza, embarcações, meios<br />
aéreos e estações <strong>de</strong> rádio, que são proprieda<strong>de</strong> dos seu próprios<br />
elementos. Daí que as condições <strong>de</strong> admissão envolvem; ser óbviamente<br />
<strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> norte americana, ter ida<strong>de</strong> superior a<br />
17 anos, ser proprietário <strong>de</strong> não menos <strong>de</strong> 25% <strong>de</strong> uma embarcação,<br />
<strong>de</strong> uma aeronave ou <strong>de</strong> uma estação <strong>de</strong> rádio, ou, possuir<br />
treino anterior a<strong>de</strong>quado e reconhecido. No entanto, os elementos<br />
do “Auxiliary” não po<strong>de</strong>m ser simultâneamente membros <strong>de</strong> outra<br />
instituição <strong>de</strong> natureza militar. Em caso <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m<br />
ser ainda integrados na Coast Guard Reserve, na perspectiva<br />
do reforço das capacida<strong>de</strong>s operacionais da USCG.<br />
O uso do uniforme da USCG é autorizado, com as características<br />
e nas condições superiormente <strong>de</strong>terminadas.<br />
De um outro modo e <strong>de</strong> forma mais discreta, também no Reino<br />
Unido, é possível estabelecer uma relação, <strong>de</strong> maior proximida<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong> colaboração com a Polícia local, por meio da constituição <strong>de</strong><br />
“Neighbourhood Watch” ou <strong>de</strong> “Home Watch Groups”, equipas<br />
<strong>de</strong> vigilância a partir das próprias residências, que promovem,<br />
segundo a orientação da Polícia, o controle regular das suas áreas<br />
vizinhas. Estes cidadãos britânicos voluntários não usam uniforme,<br />
mas participam ainda assim em acções préveamente <strong>de</strong>finidas<br />
e promovidas sob a tutela das autorida<strong>de</strong>s policiais.<br />
Os membros do “Auxiliary” ou até mesmo <strong>de</strong>stas equipas <strong>de</strong><br />
colaboração com a Polícia, po<strong>de</strong>m a seu tempo beneficiar <strong>de</strong> algum<br />
prestígio, e até <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> reconhecimento social como a<br />
facilitação da procura e da obtenção <strong>de</strong> emprego na socieda<strong>de</strong><br />
civil, por exemplo. Mas não se lhes atribui qualquer privilégio em<br />
relação ao normal funcionamento das próprias instituições que<br />
apoiam e que valorizam. Trata-se apenas, o que não é pouco, <strong>de</strong><br />
aproveitar recursos patrióticos e motivações vocacionais específicas.<br />
E <strong>de</strong> simplesmente os colocar com dignida<strong>de</strong> ao serviço da<br />
nação.<br />
António Ribeiro Ramos<br />
Sócio A<strong>de</strong>rente n.º 1053<br />
9
opiniao<br />
Carla Marques Pinto<br />
(Advogada)<br />
No final do artigo anterior, publicado na “O Desembarque”<br />
N.º 14, <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012, escrevemos: “Para a próxima<br />
cá estaremos, se os homens e a Providência <strong>de</strong>ixarem<br />
com um tema particularmente interessante, qual seja «O<br />
Advogado, o Dever <strong>de</strong> Servir a Justiça e o seu Direito/Dever <strong>de</strong><br />
Protestar»”.<br />
De facto, mesmo a feroz e alucinante velocida<strong>de</strong> da vida <strong>de</strong><br />
hoje, que cada vez mais tritura e condiciona, aliada ao início<br />
do ano judicial, não foram suficientes para <strong>de</strong>sajudar a minha<br />
Providência. E os homens <strong>de</strong>ixaram…<br />
Mas vamos ao tema que nos parece particularmente interessante<br />
e actual, nesta fase em que o Advogado e a Justiça parecem ser<br />
os bo<strong>de</strong>s expiatórios da incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r político mudar,<br />
mas <strong>de</strong> mudar bem.<br />
Parece óbvio que, no rol dos muitos e diversificados <strong>de</strong>veres – e,<br />
porventura, dos poucos direitos – e das muitíssimas e “apertadas”<br />
incompatibilida<strong>de</strong>s que o actual Estatuto da Or<strong>de</strong>m impõe ao<br />
Advogado estará implícito o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> servir a Justiça, embora a<br />
afirmação não tenha ficado expressamente <strong>de</strong>clarada.<br />
Porém, e porque só assim enten<strong>de</strong>mos a nossa profissão e missão,<br />
perante a Comunida<strong>de</strong> e o Estado <strong>de</strong> Direito, não resistimos<br />
à tentação <strong>de</strong> citar, na integra, o n.º 1 do artigo 76.º do anterior<br />
estatuto da OA pelo que tem <strong>de</strong> força histórica e intrínseca:<br />
«O advogado <strong>de</strong>ve, no exercício da profissão e fora <strong>de</strong>la,<br />
consi<strong>de</strong>rar-se um servidor da justiça e do direito e, como tal,<br />
mostrar-se digno da honra e das responsabilida<strong>de</strong>s que lhe<br />
são inerentes».<br />
O Código <strong>de</strong> Deontologia dos Advogados da União Europeia, no<br />
seu ponto 1.1., já anteriormente referenciado, na “Advocacia<br />
como Profissão <strong>de</strong> Interesse Público”, preten<strong>de</strong>, em nossa opinião,<br />
transmitir a mesma i<strong>de</strong>ia, porventura ampliando-a sem contudo<br />
conseguir uma fórmula mais forte, clara e incisiva.<br />
Mas, o Dr. António Arnaut, no seu “Estatuto anotado” (Fora do Texto<br />
– Coimbra – 1992) ao <strong>de</strong>senhar <strong>de</strong> forma relevante “a função ético-<br />
-social da advocacia” afirma que do Advogado se exige “um comportamento<br />
moral e irrepreensível tanto no exercício da profissão<br />
como fora <strong>de</strong>la” chegando mesmo a adiantar que “o advogado<br />
serve a justiça e o direito mais do que a lei, ao contrário do juiz<br />
que lhe <strong>de</strong>ve estrita obediência”.<br />
De facto, enquanto o actual Estatuto reclama a in<strong>de</strong>pendência<br />
do Advogado afirmando que, “no exercício da profissão, mantém<br />
sempre em quaisquer circunstâncias a sua in<strong>de</strong>pendência,<br />
<strong>de</strong>vendo agir livre <strong>de</strong> qualquer pressão, especialmente a que<br />
resulte dos seus próprios interesses ou <strong>de</strong> influências exteriores,<br />
abstendo-se <strong>de</strong> negligenciar a <strong>de</strong>ontologia profissional no intuito<br />
<strong>de</strong> agradar ao seu cliente, aos colegas, ao tribunal ou a terceiros”<br />
(art.º 84) – e isto é, sem dúvida, servir a justiça – o texto do anterior,<br />
<strong>de</strong> forma clara, impunha-lhe “recusar o patrocínio a questões que<br />
consi<strong>de</strong>re injustas” (art.º 78, alínea c-).<br />
A justiça é, por isso mesmo, um dos seus valores e – seguramente<br />
o <strong>de</strong>terminante – que para o Advogado, o direito <strong>de</strong>verá<br />
prosseguir.<br />
O Direito <strong>de</strong> Dizer<br />
O Advogado, o Dever <strong>de</strong> servir a Justiça<br />
e o seu Direito/Dever <strong>de</strong> Protestar<br />
Como refere Gue<strong>de</strong>s da Costa, “não foi certamente por acaso que<br />
a lei passou a referir-se ao Advogado como servidor da justiça<br />
e do direito, quando anteriormente apenas falava <strong>de</strong> servidor do<br />
direito” (570.º do E.J.).<br />
Temos assim o Advogado como servidor da lei e do direito<br />
mas, acima <strong>de</strong> todos os valores, da justiça sendo que, o <strong>de</strong>ver<br />
<strong>de</strong> obediência à lei, <strong>de</strong> não advogar contra lei expressa, <strong>de</strong> não<br />
litigar <strong>de</strong> má-fé, <strong>de</strong> não promover diligências reconhecidamente<br />
dilatórias ou prejudiciais à <strong>de</strong>scoberta da verda<strong>de</strong> – não são mais<br />
do que obrigações tacitamente subordinadas ao primordial <strong>de</strong>ver<br />
<strong>de</strong> servir a justiça, dando corpo à nobre e inalienável missão <strong>de</strong><br />
intervir na <strong>de</strong>fesa dos direitos liberda<strong>de</strong>s e garantias e na busca<br />
da salvaguarda dos direitos humanos.<br />
O Advogado ganhou ao longo dos anos e dos séculos, por mérito<br />
próprio, o estatuto <strong>de</strong> meio indispensável para se atingir o objectivo<br />
<strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática e justa.<br />
A abolição da escravatura e da pena <strong>de</strong> morte e a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
todos os cidadãos perante a lei (nas Or<strong>de</strong>nações distinguiam-se<br />
nobres e plebeus para aplicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas penas) “nasceram<br />
da oposição <strong>de</strong> muitos advogados ao direito positivo e à<br />
justiça legal em <strong>de</strong>terminado momento histórico” (Gue<strong>de</strong>s da Costa<br />
– obr. cit.).<br />
Ao <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> servir a justiça – e por isso mesmo – soma-se o<br />
direito/<strong>de</strong>ver, do Advogado, protestar.<br />
Para além do direito <strong>de</strong> protesto mesmo em audiência <strong>de</strong><br />
julgamento (art.º 75.º do EOA) é seu <strong>de</strong>ver para com a Comunida<strong>de</strong><br />
“<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos, liberda<strong>de</strong>s e garantias” e “pugnar pela boa<br />
aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo<br />
aperfeiçoamento da cultura e instituições jurídicas” (art.º 85.º).<br />
Mas visando uma abordagem, por via mais pragmática, <strong>de</strong><br />
protestar, <strong>de</strong> lutar contra as violações <strong>de</strong> direitos humanos e <strong>de</strong><br />
salvaguardar as liberda<strong>de</strong>s e as garantias dos cidadãos, vejamos<br />
o que nos dizia o anterior estatuto da OA (art.º 78, alínea e-) cujo estilo<br />
frontal nos toca particularmente:<br />
«É <strong>de</strong>ver do Advogado para com a comunida<strong>de</strong>:<br />
e)- Protestar contra as violações dos direitos humanos e<br />
combater as arbitrarieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que tiver conhecimento no<br />
exercício da profissão».<br />
Sabido como é que esses direitos e garantias que estão hoje consagrados<br />
na Constituição e nas leis, ao nível da execução da justiça,<br />
são muitas vezes <strong>de</strong>srespeitados, não apenas pelos órgãos<br />
<strong>de</strong> polícia criminal que, sob a pressão da opinião pública e da hierarquia<br />
e fruto as mais das vezes das suas juventu<strong>de</strong>s se revelam<br />
impantes <strong>de</strong> mostrar serviço e arrecadar troféus mas, algumas<br />
vezes, pelas próprias Magistraturas. Uns e outras cometem o erro<br />
<strong>de</strong> se avaliarem pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acusações formuladas e <strong>de</strong><br />
processos <strong>de</strong>spachados e julgados e não pela sua qualida<strong>de</strong>!<br />
É claro que a postura dos Advogados ao longo dos anos e, sobretudo,<br />
no regime anterior <strong>de</strong> ditadura, foi seguramente <strong>de</strong>terminante<br />
para que algumas situações mudassem.<br />
10 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
Outrossim, a organização da actual advocacia em muitos dos países<br />
evoluídos do Planeta e, nomeadamente, ao nível da Europa –<br />
utilizando o mo<strong>de</strong>lo da advocacia colegiada, em contraposição<br />
com a advocacia livre (EUA, Suíça, Finlândia e Noruega) e com a<br />
advocacia <strong>de</strong> Estado (que vigorou nas republicas socialistas da<br />
ex-União Soviética) em que o princípio da in<strong>de</strong>pendência não foi<br />
sacrificado e com o interesse público se estabeleceu um rigoroso<br />
equilíbrio – foi factor <strong>de</strong>terminante para se abolir o anátema dos<br />
estados centralistas e todos po<strong>de</strong>rosos, se arrogarem o exclusivo<br />
da administração da justiça sendo também óbvio que a consolidação<br />
legal na prática da in<strong>de</strong>pendência da profissão contribuíram<br />
para se reafirmarem as garantias individuais.<br />
Porém, em nossa opinião tudo isto ainda é pouco. E também não<br />
basta que se afirme o direito/<strong>de</strong>ver do Advogado protestar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
os direitos, liberda<strong>de</strong>s e garantias, apenas no âmbito da<br />
profissão.<br />
Acreditamos que ser advogado constitui um estado <strong>de</strong> alma inteiro<br />
não se sabendo on<strong>de</strong> se encontra a sua ética pessoal com a<br />
fronteira da <strong>de</strong>ontologia profissional.<br />
E tudo isto para dizer que os quadros normativos e jurídicos po<strong>de</strong>m<br />
assegurar, na teoria, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protesto mas, se eles<br />
próprios, os advogados, ou a sua Or<strong>de</strong>m, não dispuserem dos<br />
meios práticos para ultrapassar resistências, autismos e mentalida<strong>de</strong>s,<br />
restam-se como vozes pregando no <strong>de</strong>serto dos ouvidos<br />
moucos do sistema e dos Políticos.<br />
Ficam uns poucos – os Homens e as Mulheres <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> –<br />
que vão fazendo ouvir-se pelos lugares que ocupam na estrutura<br />
da Or<strong>de</strong>m ou pelos seus próprios prestígios pessoais.<br />
Mas não chegam.<br />
Quedam-se, a esmagadora maioria, pelo silêncio quase mórbido<br />
e as mais das vezes revoltante, dos seus anonimatos.<br />
E são estes que são esmagados pelas tradicionais e algo<br />
frequentes prepotências dos tribunais e pela embriaguez dos<br />
po<strong>de</strong>res constituídos, muito ao jeito corporativista porque são,<br />
<strong>de</strong> facto estes, os anónimos, os que se confrontam, no seu diaa-dia,<br />
com as <strong>de</strong>fesas dos direitos e das liberda<strong>de</strong>s dos mais<br />
“pequenos”, isto é, dos menos po<strong>de</strong>rosos, não estando eles<br />
próprios, ainda, em condições <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> prestígio, <strong>de</strong> saber e<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, para lançarem – sem grave prejuízo – os seus gritos <strong>de</strong><br />
“protesto” e <strong>de</strong> “combate”.<br />
Parece-nos pacífico que a intervenção ao nível dos Direitos<br />
Humanos não se po<strong>de</strong> reduzir ao cidadão que, quando da<br />
<strong>de</strong>tenção, foi eventualmente agredido pela polícia. Porventura<br />
começará aqui alguma parte da acção. Mas a missão terá <strong>de</strong> ser,<br />
seguramente, mais ampla.<br />
Porque a angústia e o <strong>de</strong>safio serão comuns, os mais jovens que<br />
por vocação abraçaram a Advocacia po<strong>de</strong>rão questionar-se,<br />
assim:<br />
– Como po<strong>de</strong>remos continuar a permitir que cidadãos sejam<br />
<strong>de</strong>tidos com tamanha leveza permanecendo em prisão<br />
preventiva ao abrigo <strong>de</strong> uma lei que, mais por interpretação<br />
cómoda e abusiva do que por ela própria, po<strong>de</strong> consentir que<br />
lhes não seja comunicado o on<strong>de</strong>, o como, o quem e o porquê,<br />
sem a mínima possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercerem o contraditório e<br />
<strong>de</strong> o tempo e os prazos <strong>de</strong> prisão preventiva se prolongarem<br />
para além do que, Francisco Salgado Zenha, antes do 25 <strong>de</strong><br />
Abril criticava por o prazo <strong>de</strong> seis meses ser <strong>de</strong>masiadamente<br />
alargado e a que chamava “o regime prisional <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção<br />
policial”!?<br />
– Ficamos pelo recurso?<br />
opinião<br />
– Não intervimos para além do burocratizado mecanismo judicial?<br />
– Não protestamos?<br />
– Não exigimos que – se a lei é <strong>de</strong>masiado perfeita para os juízes<br />
que temos, no fundo, para o Povo que somos – se mu<strong>de</strong> e se<br />
adapte às mentalida<strong>de</strong>s, ao contrário <strong>de</strong> se conceber uma lei<br />
para o século XXII que não somos capazes <strong>de</strong> bem aplicar no<br />
século XXI?<br />
– Como po<strong>de</strong>remos continuar a conviver com esta realida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
cidadãos presumíveis inocentes serem “linchados” e <strong>de</strong>struídos<br />
em praça pública em acesas fogueiras mediáticas, por via <strong>de</strong><br />
um estafado segredo <strong>de</strong> justiça que todos os dias é violado,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, pelas investigações, em <strong>de</strong>scaradas cumplicida<strong>de</strong>s<br />
com agentes da comunicação social?<br />
– E será legítimo pedir ao Advogado que tem o seu cliente preso,<br />
muito mais para ser investigado do que por o ter sido já,<br />
que sem “armas” para esgrimir, se mantenha disciplinada e<br />
humil<strong>de</strong>mente amordaçado por o recomendarem as melhores<br />
normas <strong>de</strong>ontológicas?<br />
– E será possível ficarmos indiferentes ao nosso elevadíssimo<br />
rácio <strong>de</strong> prisão incluindo a preventiva (cerca <strong>de</strong> 130 presos<br />
por 1000.000 habitantes), dos maiores da Europa Comunitária<br />
(que mantém, há muitos anos, médias estabilizadas <strong>de</strong> 80) em<br />
contraposição com as mais baixas taxas <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> e,<br />
sobretudo, <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> violenta?<br />
– E no que respeita às prisões?<br />
– Quando é que lá chegamos?<br />
– Quando po<strong>de</strong>remos furar a cortina e alcançar aqueles que, já<br />
con<strong>de</strong>nados e sob tutelado Estado (que ao contrário do que<br />
<strong>de</strong>sejaríamos tem tido alguma dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>monstrar que<br />
é uma pessoa <strong>de</strong> bem) se encontram numa posição altamente<br />
fragilizada e muitas vezes impossibilitados <strong>de</strong> flexibilizarem as<br />
suas penas porque esperam por cúmulos jurídicos que nunca<br />
mais chegam?<br />
– Po<strong>de</strong>remos nós, Advogados, continuar a conviver com o<br />
colossal atropelo dos direitos dos arguidos, em processo penal<br />
e com a ditadura do direito penitenciário e da execução das<br />
penas, on<strong>de</strong> se mudam leis e “as moscas” continuam?<br />
– E a efectiva reparação das vítimas?<br />
– E as vítimas das vítimas?<br />
Perguntas incómodas que revelarão verda<strong>de</strong>s incómodas e que,<br />
os mais jovens po<strong>de</strong>rão questionar-se!<br />
Mas ainda com algum alento, o que vale por dizer com alguma<br />
ponta <strong>de</strong> esperança apetece-nos, também, perguntar:<br />
– Contra quê ou contra quem <strong>de</strong>vemos “protestar” e “combater”<br />
como na tradição portuguesa, e não apenas na nossa, tantos<br />
Advogados o fizeram ao longo dos anos, <strong>de</strong>signadamente, nos<br />
mais difíceis da 1.ª República e do Estado Novo?<br />
– Contra a lei que o Prof. Doutor Jorge Figueiredo Dias afirma ser<br />
uma das mais evoluídas da Europa?<br />
– Contra o po<strong>de</strong>r Politico/Administrativo que, em todas as<br />
<strong>de</strong>mocracias oci<strong>de</strong>ntais é cada vez mais fraco e conformado<br />
com os <strong>de</strong>spotismos dos Po<strong>de</strong>res Judicial (e Económico) e<br />
que, em Portugal, se vem revelando receoso <strong>de</strong> estabelecer<br />
o “equilíbrio equilibrado” (perdoe-se-nos o pleonasmo) <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>res, indispensável ao verda<strong>de</strong>iro Estado <strong>de</strong> Direito?<br />
– Ou contra a in<strong>de</strong>pendência “<strong>de</strong> facto” que não “<strong>de</strong> jure” do<br />
Ministério Público?<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 11
opiniao<br />
– Ou contra as in<strong>de</strong>pendências, inamovibilida<strong>de</strong>s e irresponsabilida<strong>de</strong>s<br />
das Magistraturas Judiciais, sem dúvida, indispensáveis<br />
aos <strong>de</strong>sempenhos livres da função mas, não valores absolutos e<br />
inquestionáveis, ainda mais quando são conhecidos erros grosseiros<br />
ou corrosivos comprometimentos políticos ou corporativos<br />
que induzem ao dramático erro em ca<strong>de</strong>ia?<br />
– Contra as cumplicida<strong>de</strong>s das Magistraturas, munidas <strong>de</strong><br />
estruturas sindicais que se alternam nos respectivos Conselhos<br />
Superiores, ou as partilhas dos mesmos espaços funcionais?<br />
– Ou contra os corporativismos por <strong>de</strong>ntro dos quais a Revolução<br />
não passou?<br />
– E po<strong>de</strong>remos nós, Advogados “da regra” que não “da excepção”<br />
intervir sozinhos?<br />
– E será minimamente eficaz qualquer eventual intervenção?<br />
Seguramente não nos parece.<br />
Parece-nos, isso sim, possível intervir como Classe forte, combativa,<br />
credível e prestigiada.<br />
Parece-nos possível através da estrutura da Or<strong>de</strong>m dos Advogados<br />
(que cada vez mais gostaríamos <strong>de</strong> ver mais consistente, coesa e<br />
solidária) e especificamente por via da sua Comissão <strong>de</strong> Direitos<br />
Humanos, em acções dirigidas com espírito equivalente ao dos<br />
verda<strong>de</strong>iros grupos <strong>de</strong> pressão (preferimos a expressão francesa<br />
A Direcção Nacional informa que já foram assinados os seguintes<br />
protocolos que proporcionam várias vantagens e benefícios aos<br />
nossos Associados:<br />
– Universida<strong>de</strong> Lusófona;<br />
– Instituto Superior <strong>de</strong> Segurança da Universida<strong>de</strong> Lusófona;<br />
– Grupo <strong>de</strong> Amigos do Museu <strong>de</strong> Marinha (GAMMA);<br />
– Motricida<strong>de</strong> Humana - <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> Formação Desportiva;<br />
– KANGAROO - Gimnoparque;<br />
– Casa <strong>de</strong> Repouso “Quinta da Relva”;<br />
– Casa <strong>de</strong> Repouso “Villa Pinhal Novo”;<br />
– Casa <strong>de</strong> Repouso “S. João <strong>de</strong> Deus”;<br />
– ARISTON Termo Grupo;<br />
– ANASP - <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> Agentes <strong>de</strong> Segurança Privada;<br />
– Manuel J. Monteiro & Cª., Lda. - Equipamentos Electródomésticos;<br />
Informamos os nossos Associados que o encerramento do Snack-<br />
-Bar da AFZ nos dias 4 e 5 <strong>de</strong> Fevereiro p.p. ficou a <strong>de</strong>ver-se<br />
às obras <strong>de</strong> conservação e manutenção que <strong>de</strong>correm na nossa<br />
Se<strong>de</strong> Social.<br />
A sua activida<strong>de</strong> normal reiniciou-se no dia 6 <strong>de</strong> Fevereiro,<br />
abrindo com novo concessionário, novas ementas e novos<br />
preços, esperando-se uma maior dinâmica para que possamos<br />
servir melhor os Sócios.<br />
Daqui os exortamos a que frequentem a nossa/Vossa Se<strong>de</strong> e o<br />
Bar e o Salão polivalente e <strong>de</strong> refeições e a que os Camaradas<br />
INFORMAÇÕES<br />
por mais genuína) rigorosamente coor<strong>de</strong>nadas e sujeitas a um<br />
planeamento e a uma programação institucionalmente <strong>de</strong>finidos<br />
e apoiados.<br />
De facto, só nos parece possível empenhar os advogados na luta<br />
dos direitos, liberda<strong>de</strong>s e garantias, enquanto integrantes <strong>de</strong> um<br />
corpo profissionalizado e historicamente responsável quando<br />
cada um, no seu “terreno”, tiver força e apoio, necessariamente<br />
advindos <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong>scentralizadas, ao nível distrital e<br />
concelhio, que permitam aproximarmo-nos das realida<strong>de</strong>s e<br />
especificida<strong>de</strong>s locais.<br />
Como agora se usa dizer: funcionando em re<strong>de</strong>.<br />
Teríamos, assim, o Advogado mais próximo do cidadão e,<br />
consequentemente, uma Or<strong>de</strong>m ainda mais credibilizada e<br />
reconhecida.<br />
E para a próxima, caros consócios fuzileiros, famílias, não fuzileiros<br />
mas Amigos <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> “família”, enfim, a todo o universo<br />
da AFZ incomodar-vos-ei e terminarei esta temática genérica sobre<br />
<strong>de</strong>ontologia, propondo-vos como tema específico, «A Advocacia<br />
e o Direito dos Cidadãos ao Acesso à Justiça».<br />
Até lá, fiquem bem e … “<strong>Fuzileiros</strong> para sempre”.<br />
– Revista <strong>de</strong> Marinha.<br />
Snack-Bar/Salão polivalente e <strong>de</strong> refeições<br />
Carla Marques Pinto<br />
Sócia Descen<strong>de</strong>nte n.º 1870<br />
Email: carlamarquespinto@msn.com<br />
Continuamos em negociações com quatro Companhias <strong>de</strong> Seguros,<br />
embora nos pareça que estas apenas estão interessadas se a AFZ<br />
lhes garantir um número mínimo <strong>de</strong> sócios tomadores <strong>de</strong> seguros,<br />
a que a <strong>Associação</strong>, como é óbvio, não po<strong>de</strong>rá obrigar-se.<br />
Estamos também a negociar um Protocolo com empresa <strong>de</strong><br />
turismo.<br />
Os Protocolos estão publicados no site da AFZ e foram remetidos<br />
para todos os sócios <strong>de</strong> que conhecemos o respectivo en<strong>de</strong>reço<br />
electrónico.<br />
Aconselhamos os nossos Sócios a consultarem o site, na Internet<br />
– www.associacaofuzileiros.pt – ou a informarem-se através <strong>de</strong><br />
email: afuzileiros@netvisao.pt, do tel.: 212 060 079 ou do telem.:<br />
927 979 461.<br />
Aconselhamos também os nossos associados a remeterem-nos os<br />
seus en<strong>de</strong>reços <strong>de</strong> correio electrónico para facilitar as comunicações<br />
que esta direcção preten<strong>de</strong> estabelecer em tempo real.<br />
organizadores dos habituais Almoços/Convívios, consultem<br />
sempre a AFZ e/ou o respectivo concessionário do Snack-Bar,<br />
porque encontrarão, por certo, condições <strong>de</strong> relação qualida<strong>de</strong>/<br />
/preço muito favoráveis, para além <strong>de</strong> um ambiente agradável e<br />
muito propício à realização <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong>sta natureza, em que<br />
as nostálgicas sauda<strong>de</strong>s, as alegrias, a amiza<strong>de</strong>, a solidarieda<strong>de</strong>,<br />
as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se po<strong>de</strong>m revelar em<br />
toda a sua plenitu<strong>de</strong>.<br />
Saudações a todos os Sócios e suas Famílias.<br />
A Direcção Nacional da AFZ<br />
12 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
convívios<br />
Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 4<br />
Guiné 1965/67<br />
6 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2012<br />
Decorreu no passado dia 6 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2012, na cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Peniche, um convívio <strong>de</strong> partilha <strong>de</strong> emoções, <strong>de</strong> ex-<br />
<strong>Fuzileiros</strong> que integraram o Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Especiais n.º 4 (DFE 4) para comemorarem o seu 47.º Aniversário<br />
da partida para a Guiné, em 11 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1965, a bordo do<br />
N.R.P. Vouga, on<strong>de</strong> experimentaram as agruras da guerra durante<br />
aproximadamente dois anos, regressando o DFE 4 a Portugal<br />
sem baixas, o que é <strong>de</strong> realçar, apesar dos 20% <strong>de</strong> feridos em<br />
combate.<br />
Para esse convívio, foi programada uma visita guiada à fortaleza<br />
e Museu Municipal. Aí tomaram conhecimento dos muitos episódios<br />
ali passados e <strong>de</strong> como eram tratados os presos políticos<br />
pela PIDE, durante o governo <strong>de</strong> Salazar, realçando-se a fuga do<br />
Dr. Álvaro Cunhal e <strong>de</strong> mais nove prisioneiros. Histórias que, para<br />
aqueles que não sabiam, nem conheciam por <strong>de</strong>ntro aquela fortaleza,<br />
os admirou e até mesmo angustiou.<br />
No final da visita, rumamos pela marginal Sul da cida<strong>de</strong>, junto à<br />
costa, até ao Cabo Carvoeiro, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>mos ver, à distância <strong>de</strong><br />
6 milhas marítimas da costa, o Arquipélago das Ilhas Berlengas,<br />
(Berlenga Gran<strong>de</strong>, Farilhões, à excepção das Estelas que não<br />
eram visíveis pelo facto <strong>de</strong> permanecer sobre elas nevoeiro).<br />
Viajando pela marginal Norte da Cida<strong>de</strong>, dirigimo-nos para Sul,<br />
até à Consolação, Freguesia da Atouguia da Baleia, “acampando”<br />
no Restaurante Maresol para aí <strong>de</strong>gustar uma <strong>de</strong>liciosa cal<strong>de</strong>irada<br />
<strong>de</strong> peixe à moda <strong>de</strong> Peniche.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 13
convívios<br />
A <strong>de</strong>terminada altura, o ex-Comandante do DFE 4, usando<br />
da palavra, realçou o espírito <strong>de</strong> camaradagem, respeito pela<br />
hierarquia, espírito <strong>de</strong> coragem e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, entre<br />
os Homens do DFE 4, passados que são 47 anos.<br />
A seguir, o promotor <strong>de</strong>ste evento recordou os <strong>Fuzileiros</strong> que já<br />
partiram, e ao anunciar o nome <strong>de</strong> cada um, <strong>de</strong> viva voz, os outros<br />
respondiam,”SEMPRE PRESENTE”.<br />
Seguiu-se o toque do Hino da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, que todos<br />
emocionalmente cantaram, não escon<strong>de</strong>ndo algumas lágrimas<br />
que corriam pelo rosto <strong>de</strong> muitos dos presentes.<br />
E o autor <strong>de</strong>stas linhas, como promotor do evento tem <strong>de</strong> recordar,<br />
com emoção, as palavras do Autor do Hino: “Só tem Pátria quem<br />
sabe lutar, só tem Pátria quem sabe morrer”.<br />
Para acalmar as emoções, o Comandante do Destacamento,<br />
Comt Santos Paiva foi convidado a partir o Bolo <strong>de</strong> Aniversário<br />
que ele próprio ofereceu como, aliás, tem vindo a ser seu hábito,<br />
em todos os convívios do DFE 4.<br />
E no brin<strong>de</strong> que fez, o Comt do Destacamento prometeu que ,no<br />
aniversário dos 50 anos, haverá uma gran<strong>de</strong> festa. Esperamos lá<br />
chegar se Deus quiser.<br />
O convívio continuou com música ao vivo, até “ao <strong>de</strong>sembarque”<br />
do último elemento<br />
Nota da Redacção: Ao camarada Comt Lopes Henriques agra<strong>de</strong>cemos as suas iniciativas e<br />
formulamos votos <strong>de</strong> que, este ano, comemoremos, todos, com saú<strong>de</strong>,<br />
o 48.º Almoço/Convívio do DFE4-Guiné-65/67, na Se<strong>de</strong> da AFZ, para<br />
cujo evento daremos todo o apoio.<br />
Realizou-se em Ton<strong>de</strong>la, no passado<br />
dia 8 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012 mais um<br />
convívio <strong>de</strong> Marinheiros e ex-Marinheiros<br />
da Beira Alta, on<strong>de</strong> estiveram representadas<br />
as Associações <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la,<br />
Arganil, Carregal do Sal, Nelas, Viseu,<br />
Aveiro etc.<br />
Do programa constou a visita, li<strong>de</strong>rada<br />
pelo Camarada Carlos Borges, ao Museu<br />
<strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la com salas recheadas <strong>de</strong> loiças<br />
<strong>de</strong> barro preto, artefactos <strong>de</strong> agricultura,<br />
rochas graníticas <strong>de</strong> outros tempos e<br />
representações históricas dos usos e<br />
costumes das populações.<br />
Seguiu-se um cortejo automóvel, via<br />
Ferreira do Dão, aon<strong>de</strong> se prosseguiu o<br />
“ataque ao inimigo”, sendo que, já com a<br />
barriga a dar horas, lá conseguimos atingir<br />
o objectivo: o almoço convívio.<br />
Depois do repasto cada um regressou à<br />
sua “Base” com a habitual <strong>de</strong>terminação<br />
e com os objectivos <strong>de</strong>lineados cumpridos<br />
e, o que foi mais importante, sem baixas<br />
no asfalto.<br />
Lopes Henriques<br />
Sócio Originário n.º 938<br />
XXXI Encontro <strong>de</strong> Marinheiros da<br />
Beira Alta<br />
8 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012<br />
Para o próximo ano, haverá novamente outras “acções” semelhantes a <strong>de</strong>senvolver. Neste evento, tivemos a colaboração do nosso<br />
Sócio e Membro Suplente da Direcção da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />
José <strong>de</strong> Oliveira Pinto<br />
Sócio nº 1049<br />
14 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
Aconteceu no dia 27 <strong>de</strong> Outubro<br />
último, o 4.º Almoço/Convívio da<br />
Companhia <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 3 que<br />
serviu na Guiné nos anos 1963/1965.<br />
O Convívio <strong>de</strong>correu com muita alegria e<br />
camaradagem.<br />
Para o ano vamos comemorar os 50 anos<br />
da nossa partida para a Guiné.<br />
Fernando Maudslay<br />
Sóc. Orig. n.º 1772<br />
Nota da Redacção: Formulamos votos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para todos<br />
e <strong>de</strong> que, para o ano, se comemorem<br />
os vossos 50 anos <strong>de</strong> operacionais, no<br />
Snack-Bar da Se<strong>de</strong> Nacional da nossa<br />
<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, no Barreiro.<br />
Companhia <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 3<br />
Guiné 1963/65<br />
27 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2012<br />
convívios<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 15
convívios<br />
Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 12<br />
Guiné 1967/69<br />
Também uma história <strong>de</strong> querer e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
3 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<br />
Comemorou-se, no passado dia 3 <strong>de</strong> Novembro, na Quinta da<br />
Alegria, o 45.º aniversário do DFE N.º 12 – Guiné 1967/69 e<br />
o seu 35.º Almoço/Convívio.<br />
Estiveram presentes cerca <strong>de</strong> 70 pessoas entre fuzileiros e famílias.<br />
Os nossos Oficiais eram:<br />
Comandante – Fernando A. Pedrosa; Imediato – Serradas Duarte;<br />
3.º Oficial – Rebordão <strong>de</strong> Brito; 4.º Oficial – Benjamim Lopes<br />
Abreu.<br />
O Convívio, como sempre, foi muito agradável mas, este ano, tivemos<br />
a presença <strong>de</strong> um Camarada a respeito do qual vale a pena<br />
contar uma pequena história e por isso é <strong>de</strong>la que vou falar.<br />
O Fre<strong>de</strong>rico Boia, para nós conhecido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre pelo “Bebé”<br />
saiu da Marinha <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> termos terminado a comissão na Guiné<br />
e emigrou para a Inglaterra mas manteve-se sempre em contacto<br />
com o que se passava com os <strong>Fuzileiros</strong> e, em especial, com o<br />
nosso DFE 12, embora estivéssemos cerca <strong>de</strong> 10 anos um pouco<br />
<strong>de</strong>sligados porque ainda havia a guerra e, naturalmente, as pessoas<br />
estavam, ainda, sem para<strong>de</strong>iro certo.<br />
Porém, em 1977, houve alguém que se lembrou <strong>de</strong> começar a<br />
procurar on<strong>de</strong> paravam os elementos <strong>de</strong> DFE 12 e, a partir <strong>de</strong>ssa<br />
iniciativa, foi possível realizar este ano o 35.º Almoço/Convívio<br />
sem interrupções!<br />
O nosso “Bebé” – que tem uma Alma do “fuzileiro uma vez,<br />
fuzileiro para sempre” – vinha todos os anos <strong>de</strong> Inglaterra para<br />
confraternizar com os seus camaradas!<br />
Fre<strong>de</strong>rico Boia “Bebé”<br />
16 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
convívios<br />
Até que, em 2004, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter vindo ao almoço que, por minha<br />
iniciativa, organizamos, há mais <strong>de</strong> 20 anos, no 1.º Sábado <strong>de</strong> Novembro,<br />
recebi a triste notícia <strong>de</strong> que o nosso Camarada “Bebé”<br />
tinha sofrido um AVC.<br />
Em Setembro <strong>de</strong>ste ano, foi obrigado a regressar a Portugal para<br />
viver num Lar <strong>de</strong> idosos na sua Terra Natal, Trancoso; com sérios<br />
problemas <strong>de</strong> locomoção é obrigado a <strong>de</strong>slocar-se numa ca<strong>de</strong>ira<br />
<strong>de</strong> rodas.<br />
Mas temos que louvar e honrar o Espírito <strong>de</strong> Fuzileiro, a força <strong>de</strong><br />
vonta<strong>de</strong> e a solidarieda<strong>de</strong> que o “Bebé” ainda conserva!<br />
Este ano, <strong>de</strong>cidiu conversar com a Direcção do Lar, agora a sua<br />
casa, que <strong>de</strong>cidiu trazê-lo ao nosso convívio, dando-nos uma<br />
enorme satisfação.<br />
O “Bebé” comprovou ser também um gigante, dando uma gran<strong>de</strong><br />
lição a alguns Camaradas que, por vezes, se “esquivam” a marcar<br />
presença, sem motivo aparente.<br />
Um gran<strong>de</strong> abraço <strong>de</strong> apoio e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos nós para<br />
o “Bebé”.<br />
Força! Vai em frente.<br />
Manuel Ramos (Porto)<br />
Sócio Originário n.º 90<br />
Nota da Redacção: A Direcção Nacional da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> envia um gran<strong>de</strong><br />
abraço <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> ao Camarada Fe<strong>de</strong>rico José <strong>de</strong> Almeida Boia<br />
– Sócio Originário n.º 643 – (com quem entraremos em contacto)<br />
disponibilizando-se para eventual apoio necessário) e releva, louvando,<br />
a atitu<strong>de</strong> do Lar Santa Catarina, sito na Av.ª da Ribeirinha – Reboleiro<br />
– 6420-592 Trancoso, (Tel: 271 829 800), com cuja instituição<br />
<strong>de</strong>sejaríamos subscrever um Protocolo <strong>de</strong> Colaboração.<br />
Ao camarada Manuel Ramos agra<strong>de</strong>cemos as suas iniciativas e<br />
formulamos votos <strong>de</strong> que, para o próximo ano, comemoremos, todos,<br />
com saú<strong>de</strong>, o 36.º Almoço/Convívio, na Se<strong>de</strong> da AFZ, para cujo evento<br />
daremos todo o apoio.<br />
A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS VIVE DAS VOSSAS QUOTAS<br />
Prezados Camaradas:<br />
Pela estima que temos por todos os Sócios, <strong>Fuzileiros</strong> ou não, aqui estamos <strong>de</strong> novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa<br />
participação.<br />
Todos somos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> um património <strong>de</strong> que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições <strong>de</strong> levar em frente a tarefa a que<br />
nos propusemos é <strong>de</strong>terminante po<strong>de</strong>rmos contar com a quotização <strong>de</strong> todos nós, <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> Família que, à volta da sua <strong>Associação</strong><br />
se vai juntando.<br />
Temos a consciência <strong>de</strong> que o atraso no pagamento <strong>de</strong> quotas po<strong>de</strong>m ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais<br />
evi<strong>de</strong>ntemente pon<strong>de</strong>rosas. Porém, para todas elas haverá uma solução <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema.<br />
Esperamos pela vonta<strong>de</strong> e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta família <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> no sentido <strong>de</strong> ultrapassarmos esta dificulda<strong>de</strong> já que as portas da<br />
<strong>Associação</strong> e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.<br />
Pensamos que uma das razões, <strong>de</strong> menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento.<br />
Para obstar a isto aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, <strong>de</strong> 6 em 6 ou <strong>de</strong> 12 em 12 meses.<br />
Já pensaram que o valor <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> quotas representa apenas cerca <strong>de</strong> quatro cafés por mês?<br />
Por razões <strong>de</strong> custos – e <strong>de</strong>sta vez será em <strong>de</strong>finitivo – vamos suspen<strong>de</strong>r o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro<br />
à <strong>Associação</strong>, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos ser este um acto <strong>de</strong> justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não <strong>de</strong>vem suportar as <strong>de</strong>spesas dos que não<br />
pagam.<br />
Cordiais e amigas saudações associativas.<br />
A Direcção<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 17
convívios<br />
Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais N.º 8<br />
Guiné 1969/71<br />
4 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012<br />
O<br />
8.º Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais<br />
– Guiné 1969/1971 levou a<br />
efeito mais um momento <strong>de</strong> confraternização<br />
com um almoço/convívio nas<br />
instalações da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />
no dia 4 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012, evento<br />
este on<strong>de</strong> as sauda<strong>de</strong>s foram bem patentes<br />
nos abraços sentidos a toda esta “ família”<br />
que foi e será sempre o DFE 8.<br />
Estiveram presentes 23 ex-militares,<br />
16 familiares e convidados, embora o<br />
mesmo tivesse tido lugar num dia <strong>de</strong><br />
semana por imperativos pessoais da<br />
sempre carismática figura do Comandante<br />
Teixeira da Silva, a viver na Região<br />
Autónoma dos Açores que nos honrou com<br />
a sua presença.<br />
Por esta razão, não foi possível a presença<br />
<strong>de</strong> mais elementos, o que lamentamos.<br />
Constituição do DFE 8 e embarque<br />
O 8.º DFE comandado pelo saudoso Comandante,<br />
1TEN João Eduardo da Costa<br />
Xavier e pelo Imediato 2TEN Fernando<br />
Sanches Oliveira, e por 2STEN RN Carlos<br />
Manuel Pacheco Teixeira da Silva e António<br />
José Jorge Barreira – e composto<br />
por 5 Sargentos e 1 Sargento H, 2 Cabos,<br />
22 Marinheiros, 22 Primeiros Grumetes<br />
e 24 Segundos Grumetes – embarcou a<br />
14 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1969, no NRP S. Gabriel<br />
e chegou à Provincia da Guiné em 19 <strong>de</strong><br />
Abril <strong>de</strong> 1969, dando inicio à sua activida<strong>de</strong><br />
operacional (P.T.O.) em 2 <strong>de</strong> Maio<br />
<strong>de</strong> 1969, sob a coor<strong>de</strong>nação táctica do<br />
DFE13 e sob o Comando Operacional da<br />
TG 27.3, Comandada pelo CTEN Guilherme<br />
Almôr <strong>de</strong> Alpoim Galvão.<br />
18 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
Algumas curiosida<strong>de</strong>s que fazem parte do historial<br />
do 8º DFE<br />
1 – 1.º Contacto com o IN, em 7 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1969: baixas ao IN<br />
e capturada a 1.ª arma;<br />
2 – Em 2 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1970, o 8.º DFE, <strong>de</strong>stacou para a Vila<br />
do Cacheu, com um registo <strong>de</strong> 35 acções e operações<br />
em terra, 5.700 horas em emboscadas e 119 horas em<br />
patrulhas <strong>de</strong> botes.<br />
3. – Na Vila do Cacheu, sob o Comando Operacional do<br />
CAOP1, totalizou 11 acções e operações e 109 horas em<br />
emboscadas em botes;<br />
4 – Em 6 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1970, o 8.º DFE <strong>de</strong>stacou para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Teixeira Pinto, ficando sob o Comando Operacional CAOP1,<br />
on<strong>de</strong> realizou, até 7 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1969, 10 operações e<br />
acções, 72 horas em emboscadas em botes e cerca <strong>de</strong> 156<br />
horas <strong>de</strong> patrulhas<br />
5 – Em 7 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1969, o 8.º DFE <strong>de</strong>stacou para Buba,<br />
com uma breve passagem por Bissau e até 26 <strong>de</strong> Novembro<br />
realizou 6 reconhecimentos, 480 horas em patrulhas e 427<br />
horas em emboscadas em botes;<br />
6 – Em 26 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1970 <strong>de</strong>stacámos para a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Teixeira Pinto, on<strong>de</strong> permanecemos até 6 <strong>de</strong> Janeiro<br />
<strong>de</strong> 1971, tendo efectuado 5 acções e operações em terra,<br />
12 horas em emboscadas e patrulhas em botes e cerca <strong>de</strong><br />
282 horas em protecção aos trabalhos da estrada Teixeira<br />
Pinto-Cacheu;<br />
7 – O DFE 8 sofreu as seguintes baixas em combate: 5 mortos,<br />
6 feridos graves, 20 feridos ligeiros;<br />
8 – Muitas baixas infligidas ao IN, nem sempre i<strong>de</strong>ntificadas;<br />
9 – Armamento, munições e equipamento apreendido ao IN:<br />
3 espingardas MOSIN NAGANT; 1 espingarda MAUSER; 1<br />
carabina SIMONOV; 1 P/M PPSM; 1 M/L MG-34; 1 KALASH-<br />
NIKOV; 1 P/M M-25; 2 granadas <strong>de</strong> Morteiro 60; 2 granadas<br />
RPG-2; 5 Gr/m Defensivas; 5 Gr/m Ofensivas; 2 Gr/m Defensivas<br />
montadas em armadilhas; 48 Detonadores; 3 disparadores<br />
mecânicos; 300 cartuchos impulsores <strong>de</strong> morteiro 82;<br />
1.700 munições <strong>de</strong> armas ligeiras; 1 Base <strong>de</strong> Metralhadora<br />
pesada; etc., etc.<br />
10 – Foram efectuadas 22 <strong>de</strong>tenções em zona <strong>de</strong> operações e<br />
<strong>de</strong>struídas: 49 canoas, 35 casas <strong>de</strong> mato, duas pontes <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira e outros, etc., etc.<br />
Prémios, Louvores e Recompensas<br />
convívios<br />
Foram atribuídas as seguintes con<strong>de</strong>corações: 1 Medalha <strong>de</strong><br />
Valor Militar/cobre; 1 Medalha da Cruz <strong>de</strong> Guerra <strong>de</strong> 1.ª classe; 1<br />
Medalha <strong>de</strong> Cruz <strong>de</strong> Guerra <strong>de</strong> 2.ª classe; 2 Medalhas <strong>de</strong> Cruz <strong>de</strong><br />
Guerra <strong>de</strong> 3.ª classe; 1 Medalha <strong>de</strong> Cruz <strong>de</strong> Guerra <strong>de</strong> 4.ª classe;<br />
1 Medalha <strong>de</strong> Serviços Distintos Prata; 4 Medalhas <strong>de</strong> Serviços<br />
Distintos Cobre; 1 Medalha <strong>de</strong> Mérito Militar <strong>de</strong> 3.ª classe; 16<br />
Medalhas <strong>de</strong> Mérito Militar <strong>de</strong> 4.ª classe; 23 louvores individuais;<br />
2 Premios Governador da Guiné; 5 Prémios Movimento Nacional<br />
Feminino; 2 Menções <strong>de</strong> Apreço; 4 louvores colectivos conferidos<br />
pelas seguintes Entida<strong>de</strong>s: GEN Comandante Chefe das Forças<br />
Armadas da Guiné (2) COR <strong>de</strong> Artilharia Freitas do Amaral, CTEN<br />
FZE Gilherme Almôr <strong>de</strong> Alpoim Galvão.<br />
O historial que aqui se procurou fazer, modo abreviado, do nosso<br />
DFE 8 faz justiça a um punhado <strong>de</strong> HOMENS que souberam estar<br />
sempre com orgulho e prontos nas mais diferentes e exigentes<br />
missões a que foram chamados, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo, com muita honra a<br />
Pátria, a Marinha e elevando bem alto os FUZILEIROS.<br />
Que o País reconheça todo o empenho, sofrimento, que os<br />
HOMENS não sejam esquecidos e que a Pátria nos abençoe.<br />
Afinal, somos os seus filhos.<br />
Para terminar é justo referenciar e dar o merecido valor à<br />
“comissão”, que sempre soube, com elevado empenho, organizar<br />
os Almoços/Convívios da “família” do 8.º DFE.<br />
Para todos os que a integraram o nosso muito obrigado.<br />
Comt J. S. Batista<br />
Sócio Originário n.º 2138<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 19
convívios<br />
A<br />
fraternida<strong>de</strong> que se adquire nos <strong>Fuzileiros</strong> exige que,<br />
pelo meno, um convívio anual se não dispense. É pois<br />
nessa senda, que os Filhos da Escola <strong>de</strong> 98, mais uma<br />
vez estiveram reunidos para darem satisfação, ao espirito <strong>de</strong><br />
camaradagem que, dia após dia, se foi conquistando, enquanto<br />
se dispuseram enfrentar as muitas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que se reveste<br />
o Curso <strong>de</strong> Fuzileiro, para obtenção da boina azul ferrete.<br />
Estiveram presentes, mais <strong>de</strong> 50 elementos. E foi assim que uma<br />
vez mais, iniciámos o dia que iremos lembrar até ao próximo ano.<br />
Respon<strong>de</strong>ram à chamada camaradas do activo, reserva e, ainda,<br />
dois fuzileiros que muito estimamos que nos honraram com a sua<br />
presença, e que são a prova mais que provada, <strong>de</strong> terem sido<br />
como todos os presentes, infectados por uma invisível bactéria,<br />
que contagia a maioria dos que passam pelas agruras, que resultam<br />
das muitas dificulda<strong>de</strong>s que a todos impõe, uma universida<strong>de</strong>,<br />
que se chama Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />
Rever os camaradas <strong>de</strong>sta família, que um dia, por vonta<strong>de</strong><br />
própria <strong>de</strong>cidimos abraçar, é como satisfazer uma necessida<strong>de</strong><br />
intrínseca ao bem-estar emocional do ser humano.<br />
E porque assim é, sentida e vivida, é digno <strong>de</strong> resisto a eufórica<br />
alegria que em pequenos grupos se fez sentir. Em quase todos os<br />
eles emergiam as conversas que retractavam momentos vividos,<br />
cuja intensida<strong>de</strong>, nos marcou para todo o sempre.<br />
Por iniciativa <strong>de</strong> alguns elementos, resolvemos pedir ao camarada<br />
Mário Manso que aceitasse ser o patrono da “nossa Escola”.<br />
O ilustre camarada, logo nos disse que aceitaria participar<br />
no convívio, apenas como se <strong>de</strong> um elemento da “Escola <strong>de</strong> 98”<br />
“Escola” <strong>de</strong> 98<br />
2 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2013<br />
se tratasse e sem quaisquer mordomias. Sugerimos que falasse<br />
com o Parreira, por quem também referenciamos muita estima.<br />
Foi assim que, em “família, estivemos mais uma vez juntos cultivando<br />
os nossos valores, enraizando o nosso espírito <strong>de</strong> corpo<br />
e sustentando a nossa camaradagem, que é para cada um <strong>de</strong><br />
nós importante que envelheça connosco, a exemplo dos nossos<br />
amigos Mário Manso e Parreira, cuja amiza<strong>de</strong> já tem décadas.<br />
Honrámos os camaradas mortos, com um minuto <strong>de</strong> silêncio, antes<br />
<strong>de</strong> iniciarmos a refeição.<br />
20 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
E chegada a hora <strong>de</strong> partir o bolo e por razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m vária,<br />
quase meta<strong>de</strong> dos camaradas já se tinham <strong>de</strong>spedido, mas a sua<br />
falta, não se fez sentir no grito que todos os presentes <strong>de</strong>ram,<br />
como sinal do nosso orgulho <strong>de</strong> fuzileiro.<br />
Sendo um dos organizadores, coube-me impor a disciplina que<br />
o momento seguinte exigia. O silêncio impôs-se <strong>de</strong> imediato, o<br />
que nem sempre é fácil! Nunca tantos me tiveram tanto respeito.<br />
Sentindo-me senhor da situação, solicitei aos nossos mais veteranos<br />
que nos premiassem com algumas palavras. E foi num<br />
silêncio absoluto que os camaradas Mário Manso e José Parreira<br />
preencheram os minutos que se seguiram, em que a atenção dispensada<br />
aprovava o interesse <strong>de</strong> todos, no que pelos dois camaradas<br />
foi dito.<br />
convívios<br />
A fechar este momento muito especial, que nos transportou a<br />
uma época, em que alguns <strong>de</strong> nós, ainda saltávamos entre pernas,<br />
o amigo Parreira ofereceu-nos como sobremesa especial:<br />
um poema, “Os medronhos na serra da Arrábida”.<br />
<strong>Mais</strong> um a vez, uma prática já conhecida não faltou e todos os<br />
ainda não sócios da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, foram convidados,<br />
pelo nosso Mário Manso, a inscreverem-se, dispondo-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
logo para assinar as propostas, como sócio proponente. Só<br />
unidos, jovens e veteranos faremos jus ao porquê, <strong>de</strong> porque<br />
somos diferentes!<br />
«Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre».<br />
Fernando Jorge Monteiro<br />
1.º MAR FZ<br />
Sóc. proposto da AFZ<br />
Nota da Redacção: Com os nossos parabéns aos “Escolas 98” <strong>de</strong>sejamos muita saú<strong>de</strong> para todos e propomos que, para o ano, organizem o vosso “almoço/convívio” na se<strong>de</strong> da AFZ, a<br />
vossa “Casa”, on<strong>de</strong> encontrarão com certeza, espaço, ambiente amigo e qualida<strong>de</strong>/preço a<strong>de</strong>quados, às <strong>de</strong>scargas das vossas sauda<strong>de</strong>s e nostalgias.<br />
Companhias <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> N.º 2<br />
Angola 1966/69 - 3 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<br />
Angola 1970/72 - 17 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<br />
No passado dia 3 Novembro, reuniu em<br />
almoço/convívio no Restaurante da nossa<br />
<strong>Associação</strong>, a CF N.º 2 - guarnição <strong>de</strong> Angola<br />
em 1966/69 e, no dia 17 Novembro,<br />
reuniu a CF N.º 2 - guarnição <strong>de</strong> Angola em<br />
1970/72.<br />
Em cada um <strong>de</strong>les, estiveram presentes<br />
cerca <strong>de</strong> 40 pessoas, camaradas d’Armas<br />
e familiares.<br />
Solicita-se aos Camaradas que não têm<br />
sido contactados porque não sabemos o<br />
seu para<strong>de</strong>iro que contactem o Sequeira<br />
(1622/65) através da <strong>Associação</strong>.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 21
corpo <strong>de</strong> fuzileiros<br />
O<br />
Museu do Fuzileiro está situado na<br />
Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> em Vale <strong>de</strong> Zebro,<br />
Barreiro. A i<strong>de</strong>ia da obra foi-se<br />
colocando no início da década <strong>de</strong> oitenta,<br />
quando após o fecho do ciclo ultramarino,<br />
uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> peças-<br />
-memória foi oferecida à Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />
por personalida<strong>de</strong>s militares e civis,<br />
sobretudo antigos e atuais fuzileiros e para<br />
a preservação e apreciação das quais não<br />
havia espaço a<strong>de</strong>quado.<br />
Após um notável e raro trabalho <strong>de</strong> restauro<br />
no piso térreo do edifício em que se<br />
encontra localizado, pondo «a <strong>de</strong>scoberto<br />
os apontamentos [<strong>de</strong> alguns] dos antigos<br />
Fornos do Biscoito e as respectivas saídas<br />
<strong>de</strong> ar», por <strong>de</strong>dicação e conhecimento <strong>de</strong><br />
alguns fuzileiros foi em 1984 inaugurada a<br />
“Sala-museu” do Fuzileiro.<br />
Museu do Fuzileiro<br />
O seu interior dá-nos uma imagem singular<br />
da sólida traça pombalina, on<strong>de</strong> domina o<br />
tijolo a cutelo e os tetos se organizam em<br />
abóbadas <strong>de</strong> “barrete” e <strong>de</strong> “berço”. Nele<br />
se encontra exposto algum do acervo que<br />
ilustra o historial dos fuzileiros.<br />
No atual itinerário do museu expõem-<br />
-se ainda alguns dos bens museológicos<br />
alusivos ao fabrico do biscoito, “ração” <strong>de</strong><br />
400 gramas diários a que na época dos<br />
Descobrimentos cada tripulante tinha direito<br />
assim como os que garantiam serviço<br />
nas “Fortalezas do Reino”.<br />
Os fornos reais do Vale <strong>de</strong> Zebro, só entre<br />
1505 e 1507, fabricariam 300 toneladas<br />
<strong>de</strong> biscoito por ano, tendo sido o motor<br />
da “história das navegações». Neste contexto<br />
encontra-se também aqui a muito<br />
apreciada “Sala do Biscoito” patrocinada<br />
NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico<br />
pela Câmara Municipal do Barreiro, com<br />
objetos cerâmicos encontrados no campo<br />
arqueológico da Mata Nacional da Machada,<br />
datados dos séculos XV e XVI.<br />
Como valor simbólico e afetivo, o Museu<br />
dos <strong>Fuzileiros</strong> é local <strong>de</strong> visita obrigatória<br />
dos fuzileiros, extensiva às suas famílias e<br />
amigos, que frequentemente se reencontram<br />
nesta Escola, em datas comemorativas,<br />
para recordarem momentos transatos<br />
e manterem vivas as referências.<br />
As visitas constantes, quase diárias, são<br />
vastíssimas, como se po<strong>de</strong> constatar pelos<br />
números dos gráficos em anexo on<strong>de</strong><br />
realça que a maioria provém <strong>de</strong> escolas e<br />
<strong>de</strong> outras instituições da área educativa,<br />
sobretudo do Concelho do Barreiro e da<br />
Área Metropolitana <strong>de</strong> Lisboa. Têm também<br />
passagem obrigatória pelo Museu do<br />
22 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
Fuzileiro os formandos <strong>de</strong> todos os cursos<br />
que anualmente passam pela Escola <strong>de</strong><br />
<strong>Fuzileiros</strong>, incluindo centenas <strong>de</strong> “civis”,<br />
pertencentes a instituições com as quais<br />
a Marinha tem protocolos <strong>de</strong> formação,<br />
merecendo uma particular referência os<br />
alunos do ISCTE/INDEG e os quadros superiores<br />
do BPI.<br />
Têm ainda passado por esta tão nobre<br />
referência do Fuzileiro uma multiplicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> investigadores, professores e estudiosos<br />
<strong>de</strong> diversas áreas do conhecimento.<br />
Todas estas razões levaram a equacionar<br />
uma beneficiação e remo<strong>de</strong>lação dos<br />
espaços e do património do museu, cuja<br />
primeira fase terminou em 29 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 2005. Uma nova fase <strong>de</strong> ampliação,<br />
abrindo mais uma ala ao Museu, foi<br />
iniciada em julho <strong>de</strong> 2006.<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
2 3 3<br />
50<br />
13<br />
9<br />
100 Visitas<br />
14<br />
18<br />
5<br />
14<br />
13<br />
Janeiro<br />
Fevereiro Março<br />
Abril Maio<br />
Junho Julho<br />
Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro<br />
Período das Visitas<br />
50<br />
5<br />
Dias Úteis<br />
Fins-<strong>de</strong>-semana/Feriados<br />
1<br />
O Museu do Fuzileiro está incluído nas<br />
visitas guiadas no âmbito do programa<br />
dos Itinerários Culturais da Comissão<br />
Cultural da Marinha, inseridos no Plano <strong>de</strong><br />
Ação Cultural da Margem Sul.<br />
Aguçamos assim o interesse daqueles<br />
que porventura ainda <strong>de</strong>sconhecem este<br />
Museu e uma vez que “olhos que não vêm<br />
coração que não sente”, venham senti-lo<br />
numa próxima visita.<br />
Lembramos que o Museu do Fuzileiro<br />
po<strong>de</strong> ser visitado diariamente, por qualquer<br />
pessoa, durante a hora <strong>de</strong> expediente,<br />
individual ou coletivamente. Po<strong>de</strong>rão<br />
também fazê-lo aos fins-<strong>de</strong>-semana e<br />
feriados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que previamente calendarizado<br />
na Seção <strong>de</strong> Protocolo da Escola <strong>de</strong><br />
<strong>Fuzileiros</strong>, através dos seguintes contatos:<br />
VISITAS EM 2012*<br />
N.º Visitas<br />
corpo <strong>de</strong> fuzileiros<br />
– Telefs: 210 927 288 / 910 410 298;<br />
– Email: m8a22651@marinha.pt;<br />
– Fax: 211 938 542<br />
O Museu po<strong>de</strong> ainda ser visitado<br />
virtualmente nos sítios:<br />
http://fuzileiros.marinha.pt/PT/Sala%20<br />
Museu%20do%20Fuzileiro/Pages/<br />
Sala%20Museu%20do%20Fuzileiro.aspx<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 23<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100 88 70<br />
0<br />
215<br />
e,<br />
http://www.marinha.pt/conteudos_<br />
externos/visitas_virtuais/museufuzileiros/<br />
entrada/e/in<strong>de</strong>x.html<br />
Visitantes: 3225<br />
525<br />
500<br />
428 442<br />
* Visitas externas. Não se incluem os cursos internos da Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
140<br />
Janeiro<br />
Fevereiro Março<br />
Abril Maio<br />
Junho Julho<br />
Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro<br />
Colaboração da Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Vale <strong>de</strong> Zebro<br />
399<br />
318<br />
97<br />
Visitas/Entida<strong>de</strong>s = 100<br />
41<br />
35<br />
24<br />
G.Escolares<br />
G.Escolares<br />
G.Escolares<br />
3<br />
Visitantes
homenagens<br />
Prestando homenagem ao Sócio, ao Homem e ao Dirigente<br />
damos à estampa alguns dos textos que tivemos oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> elaborar e/ou registar, após o <strong>de</strong>saparecimento do nosso<br />
Sócio e antigo Dirigente:<br />
24<br />
COMUNICADO FÚNEBRE<br />
Falecimento do Antigo Presi<strong>de</strong>nte da Direcção Nacional da<br />
<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, Sócio n.º 155, Sr. Dr. Ilídio das<br />
Neves Luís<br />
A <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> cumpre o doloroso <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />
comunicar o falecimento do seu antigo Vice-Presi<strong>de</strong>nte e<br />
Presi<strong>de</strong>nte da Direcção Nacional, sócio n.º 155, Sr. Dr. Ilídio<br />
das Neves Luís, ocorrido ontem, dia 19 do corrente mês <strong>de</strong><br />
Novembro, informando que o nosso Camarada ficará em<br />
camara ar<strong>de</strong>nte, a partir das 17h00 horas <strong>de</strong> hoje, dia 20, na<br />
Igreja <strong>de</strong> N.ª Srª. da Assunção (Av.ª D. João I – junto ao antigo<br />
Tribunal) em Almada.<br />
O cortejo fúnebre partirá, amanhã, dia 21, pelas 9h30 horas<br />
para o Cemitério da sua terra natal – Ansião – Pombal –<br />
Coimbra.<br />
A AFZ far-se-á representar por significativa <strong>de</strong>legação.<br />
A Direcção da AFZ apresenta à Família enlutada, do nosso<br />
Ilustre Camarada, os mais sentidos pêsames.<br />
Barreiro, 20 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012.<br />
O ACOMPANHAMENTO<br />
O Sr. Dr. Ilídio Neves Luís, por quem nos reclinamos em <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />
homenagem, era figura altamente consi<strong>de</strong>rada e exerceu as<br />
funções <strong>de</strong> Vice-Presi<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte da AFZ, com gran<strong>de</strong><br />
dignida<strong>de</strong> e competência, dando o melhor <strong>de</strong> si próprio à sua<br />
<strong>Associação</strong> e tendo sido também o fundador da nossa revista<br />
“O Desembarque”, então <strong>de</strong>nominada boletim.<br />
A Direcção Nacional da AFZ teve conhecimento do seu falecimento<br />
na noite <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> Novembro p.p. e, logo na manhã do dia<br />
seguinte, ainda mal se sabiam dos pormenores das cerimónias<br />
fúnebres, publicou no seu site um comunicado e remeteu-o, via<br />
correio electrónico, a todos sócios que dispõem <strong>de</strong>ste meio <strong>de</strong><br />
comunicação;<br />
Imediatamente foram dadas instruções ao Secretariado Nacional<br />
para encomendar uma coroa <strong>de</strong> flores com a dignida<strong>de</strong> merecida<br />
e o próprio Presi<strong>de</strong>nte da Direcção pediu que se constituísse uma<br />
<strong>de</strong>legação para estar presente na Capela, no <strong>de</strong>curso do velório,<br />
local on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>veria colocar o Guião da AFZ e, a mesma ou outra<br />
<strong>de</strong>legação <strong>de</strong>veria acompanhar o cortejo fúnebre, se tal fosse da<br />
vonta<strong>de</strong> da Família enlutada.<br />
Imediatamente a seguir à chegada da urna à Igreja, em Almada,<br />
apresentaram-se a acompanhar a Família vários elementos<br />
dos Órgãos Sociais, <strong>de</strong>signadamente: da Direcção Nacional: os<br />
dois Vice-Presi<strong>de</strong>ntes, o 2.º Vogal Efectivo, o 4.º Vogal Efectivo<br />
e o 1.º Vogal Suplente; da Assembleia-Geral: o 1.º Secretário<br />
da Mesa; do Conselho Fiscal: o Presi<strong>de</strong>nte e o Vice-Presi<strong>de</strong>nte.<br />
A <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
presta homenagem ao seu antigo Presi<strong>de</strong>nte,<br />
Dr. Ilídio das Neves Luís<br />
Muitos sócios fuzileiros e não fuzileiros, militares, ex-militares e<br />
civis também estiveram presentes.<br />
Um dos Vice-Presi<strong>de</strong>ntes, após autorização da Família, <strong>de</strong>positou<br />
a coroa <strong>de</strong> flores, colocou o Guião da AFZ, em local a<strong>de</strong>quado e<br />
<strong>de</strong>positou uma Boina Azul Ferrete, com âncora, sobre a urna, ainda<br />
aberta. Pediu-se ao 2.º Vogal da Direcção Nacional, elemento<br />
que sempre foi mantendo muito próximo contacto com o nosso<br />
Ilustre Camarada Ilídio e com a sua Família, que estabelecesse as<br />
comunicações e tomasse as iniciativas que consi<strong>de</strong>rasse convenientes,<br />
em nome da Direcção Nacional da AFZ.<br />
A Missa <strong>de</strong> Corpo Presente foi rezada pelo Capelão do Corpo <strong>de</strong><br />
<strong>Fuzileiros</strong>, Capitão-Tenente Licínio Silva.<br />
Dado que o cortejo fúnebre seguia, no dia seguinte, para Ansião<br />
– Pombal, a AFZ enviou a sua viatura <strong>de</strong> nove lugares com elementos<br />
dos seus Órgãos Sociais (2.º Vogal da Direcção, 4.º Vogal<br />
e 6.º Vogal, 1.º Vogal Supl. – gente prestigiada na AFZ) na qual<br />
também viajaram o Presi<strong>de</strong>nte da Delegação <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Juromenha/Elvas<br />
e mais dois elementos <strong>de</strong>sta Delegação e ainda o<br />
Capelão do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />
Deslocados do Norte para Ansião estiveram, também presentes,<br />
na última cerimónia fúnebre, o Presi<strong>de</strong>nte da Direcção da Delegação<br />
<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia e ainda outro camarada<br />
daquela direcção.<br />
Infelizmente, por impossibilida<strong>de</strong> absoluta, que foram explicadas,<br />
à Família por um dos Vice-Presi<strong>de</strong>ntes, nem o Presi<strong>de</strong>nte da Direcção<br />
nem os dois Vice-Presi<strong>de</strong>ntes pu<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>slocar-se a Ansião,<br />
acompanhando o cortejo que integrou, aliás, várias viaturas.<br />
A Memória do nosso Ilustre Camarada Ilídio Neves Luís foi tratada,<br />
pelos Dirigente Nacionais e Regionais, sublinhe-se, com a<br />
máxima dignida<strong>de</strong> e, sobretudo, com elevado espírito ético, e <strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong>, camaradagem e amiza<strong>de</strong>, mas também <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong><br />
e do necessário recato, sendo que a sua imagem figurará<br />
nos escaparates <strong>de</strong> quem serviu com excepcional <strong>de</strong>dicação e<br />
alta competência a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />
Quando o corpo <strong>de</strong>sceu à terra, com autorização da Família, ouviu-se<br />
o “Grito do Fuzileiro”.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
VOTO DE PESAR<br />
A AFZ recebeu, da Assembleia Municipal <strong>de</strong> Almada, um Voto<br />
<strong>de</strong> Pesar aprovado por unanimida<strong>de</strong>, pelo falecimento do nosso<br />
antigo Presi<strong>de</strong>nte da Direcção, Dr. Ilídio Neves Luís.<br />
Pela iniciativa da AMA nos congratulamos, já que o Dr. Ilídio<br />
constituiu, para a nossa Instituição, motivo <strong>de</strong> particular orgulho,<br />
representando o que <strong>de</strong> melhor teve a AFZ, sendo que a sua<br />
memória continuará sempre viva e a sua obra preservada com<br />
a maior dignida<strong>de</strong>, a mesma com que o acompanhámos e à sua<br />
Família, em momentos que apenas consi<strong>de</strong>rámos um “até já,<br />
Caro Ilídio”.<br />
É pois com particular interesse que publicamos, na íntegra, o Voto<br />
<strong>de</strong> Pesar da Assembleia Municipal <strong>de</strong> Almada, Concelho em que o<br />
nosso malogrado Amigo residia há muitos anos.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
homenagens<br />
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homenagens<br />
Manuel dos Reis Florindo<br />
(1.º S H FZE)<br />
Sócio nº. 2074<br />
Tinha terminado o meu curso <strong>de</strong><br />
Enfermagem Geral no HM (Hospital da<br />
Marinha) havia meses. Era espectável<br />
que em qualquer momento seria colocado<br />
em uma qualquer unida<strong>de</strong> naval. Mas,<br />
contra todas as minhas espectativa, e<br />
recebi guia <strong>de</strong> marcha para a Escola <strong>de</strong><br />
<strong>Fuzileiros</strong> para frequentar o curso <strong>de</strong><br />
<strong>Fuzileiros</strong> Especiais.<br />
Terminado este e com aproveitamento fui<br />
convidado a integrar o DFE 12 que mais<br />
tar<strong>de</strong> seguiria para a Guiné-Bissau em<br />
missão <strong>de</strong> soberania. Essa mítica unida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> elite que naquelas paragens tão bem<br />
soube honrar as características genuínas<br />
e guerrilheiras dos <strong>Fuzileiros</strong> Especiais,<br />
integrava um Homem com o qual já antes<br />
iniciara uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, alicerçada<br />
em muitas horas <strong>de</strong> convívio durante e<br />
após o curso <strong>de</strong> fuzileiros e até, em algumas<br />
<strong>de</strong>las, em minha casa. Esta amiza<strong>de</strong>,<br />
este relacionamento, pautou-se sempre<br />
por uma inegável reciprocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito<br />
e senso comuns, norteando-se por uma<br />
comunhão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais convergentes que<br />
cimentaram um entendimento amistoso,<br />
on<strong>de</strong> imperava a consi<strong>de</strong>ração e respeito<br />
mútuo que haviam <strong>de</strong> se perpetuar ao<br />
longo do tempo que juntos tivemos (tive)<br />
a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partilhar antes, durante e<br />
<strong>de</strong>pois da nossa missão daquela unida<strong>de</strong><br />
militar na Guiné. Já no INAB passávamos<br />
longas horas em amena cavaqueira on<strong>de</strong><br />
se ventilavam os assuntos mais variados,<br />
não só relacionados com o DFE12 mas<br />
também com os que se relacionavam com<br />
aspectos disciplinares do pessoal da forma<br />
como os militares se alimentavam, com o<br />
que faziam nas horas <strong>de</strong> ócio, com o seu<br />
estado sanitário, matéria para a qual eu<br />
tinha particular responsabilida<strong>de</strong>. Eram<br />
normais as conversas sobre a guerrilha na<br />
qual estávamos envolvidos, o porquê da<br />
nossa presença naquele território ultramarino,<br />
do êxito ou fracasso do nosso esforço<br />
bélico, da política local e nacional, etc. etc.<br />
Este Homem, que sempre confiou nos<br />
meus conhecimentos técnicos como<br />
Enfermeiro ao serviço do DFE12 (Obrigado<br />
Comandante Rebordão <strong>de</strong> Brito) senhor <strong>de</strong><br />
um espírito fortemente solidário, abnegado,<br />
criterioso, <strong>de</strong> profunda sensibilida<strong>de</strong><br />
humana, foi sempre visto pela comunida<strong>de</strong><br />
militar do DFE12 e não só, como um<br />
ídolo, um mentor, um estratega, com uma<br />
visão subtil e discernida no T.O. (teatro<br />
Homenagem a Rebordão <strong>de</strong> Brito<br />
operacional) interagindo <strong>de</strong> uma forma<br />
peculiar com a “maralha” que sempre,<br />
mas sempre, o acompanhava sem hesitar<br />
na preparação e execução dos “golpes <strong>de</strong><br />
mão”, quaisquer que fossem os obectivos<br />
traçados e os riscos previsíveis daí<br />
resultantes.<br />
Terminada a comissão <strong>de</strong> serviço o DFE12<br />
regresso a Lisboa mas, logo aseguir, por<br />
opção pessoal regresso à Guiné na Companhia<br />
N.º 11 <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>. Dois anos <strong>de</strong>pois<br />
passo a integrar o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do<br />
CDMG. Meses mais tar<strong>de</strong>, por exigências<br />
estratégicas do CDMG sou enviado para<br />
Bolama. Tive aí a sorte <strong>de</strong> encontrar novamente<br />
o Comt Rebordão <strong>de</strong> Brito. Foi mais<br />
uma oportunida<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>rmos dissecar<br />
temas já nossos conhecidos, acrescidos<br />
agora <strong>de</strong> situações militares e pessoais diferentes<br />
que culminaria com a entrega do<br />
espólio das existências <strong>de</strong> material bélico,<br />
infraestruturas e material <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> aos<br />
militares do PAIGC. <strong>Mais</strong> uma vez constato<br />
que aquele Homem mantinha integro<br />
o carácter que conheci nos primeiros dias<br />
do curso <strong>de</strong> fuzileiros mantendo incólume<br />
a sua personalida<strong>de</strong> e atitu<strong>de</strong> cívica, nunca<br />
ostentando os “galões” para a resolução<br />
<strong>de</strong> quaisquer problemas disciplinares<br />
inerentes à sua condição <strong>de</strong> Comandante<br />
mas, nunca se inibindo <strong>de</strong> imprimir no seu<br />
discurso, a sua posição <strong>de</strong> oficial competente<br />
e responsável pela <strong>de</strong>fesa e condução<br />
dos militares ali instalados. Aquando<br />
do regresso <strong>de</strong>finitivo à Metrópole os nossos<br />
contactos pessoais diminuíram drasticamente.<br />
De quando em quando, num encontro<br />
casual ou nos tradicionais almoços<br />
anuais do DFE12 era pretexto para longos<br />
minutos <strong>de</strong> conversa, rememorando-se<br />
episódios e factos vividos e sofridos, naquela<br />
terra distante on<strong>de</strong> tantos homens<br />
<strong>de</strong>rramaram sangue suor e lágrimas e outros,<br />
infelizmente, per<strong>de</strong>ram a vida.<br />
Um dia... Inesperadamente ou talvez não,<br />
soube que o Comandante <strong>de</strong>ra entrada no<br />
HM por patologia clínica <strong>de</strong>sfavorável complicando-se<br />
o seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Com<br />
prognóstico bastante reservado fiquei com<br />
a nítida sensação <strong>de</strong> que a evolução da sua<br />
doença iria progressiva e vertiginosamente<br />
diminuir a sua presença entre nós. Fui<br />
visitá-lo várias vezes ao HM e sempre que<br />
o abraçava para me <strong>de</strong>spedir tinha a noção<br />
<strong>de</strong> que não era viável voltar a fazê-lo<br />
muitas mais vezes. Apesar <strong>de</strong> todo o seu<br />
optimismo contagiante, era evi<strong>de</strong>nte que a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disfrutar da sua companhia<br />
estava cada vez mais comprometida.<br />
O fatídico <strong>de</strong>senlace era, infelizmente, previsível.<br />
Volvidos anos após a sua morte,<br />
não quero <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> prestar publicamente<br />
a minha sincera homenagem <strong>de</strong> gratidão e<br />
respeito para com este Homem que moldou<br />
subtilmente o meu ego, impregnando-<br />
-o <strong>de</strong> uma maior clarividência nas formas<br />
e conteúdos <strong>de</strong> como se <strong>de</strong>ve estar e viver<br />
na vida.<br />
A forma como fui recebido e tratado no<br />
seio dos fuzileiros Especiais do DFE12 com<br />
especial relevância para o Comandante<br />
Rebordão <strong>de</strong> Brito, foi e será sempre um<br />
traço in<strong>de</strong>lével na minha conduta como<br />
homem, militar e, com muito orgulho,<br />
como FUZILEIRO.<br />
Obrigado comandante por ter permitido<br />
partilhar consigo tantos momentos <strong>de</strong> sã<br />
camaradagem militar, pessoal e familiar.<br />
Paz à sua alma...<br />
26 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
Almirante Nuno Gonçalo<br />
Vieira Matias<br />
NOTA: Entrevista conduzida pelos Vice-Presi<strong>de</strong>ntes da AFZ Cardoso Moniz e Marques Pinto<br />
e conversão para texto escrito <strong>de</strong> Maria Cecília e Marques Pinto<br />
O<br />
Almirante Nuno Vieira Matias é o Socio Originário, n.º 1590, da <strong>Associação</strong> Nacional<br />
<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, tendo sido distinguido pela respectiva Assembleia-Geral, com a<br />
<strong>de</strong>signação honorífica <strong>de</strong> Sócio Honorário. Atingiu o posto <strong>de</strong> Almirante, o mais alto<br />
da carreira da Marinha <strong>de</strong> Guerra Portuguesa e, simultaneamente, o cargo máximo da<br />
Marinha, <strong>de</strong> Chefe do Estado-Maior da Armada, funções que exerceu entre 1997 e 2002.<br />
O Almirante Vieira Matias concluiu a sua licenciatura na Escola Naval em 1961, tendo-se<br />
oferecido como voluntário para embarcar na então Fragata “Vasco da Gama” para uma<br />
comissão <strong>de</strong> serviço em Angola (1961/1963).<br />
Especializou-se em artilharia e em fuzileiro, tendo combatido na Guiné, como Comandante<br />
do Destacamento N.º 13 <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais (1968/1970).<br />
entrevista<br />
Desempenhou sucessivamente as seguintes funções: Professor da Escola Naval em acu-<br />
O Almirante Vieira Matias enquanto CEMA<br />
mulação com Director do Laboratório <strong>de</strong> Explosivos, comandante da Força <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
do Continente (1976/1978), Capitão dos Portos <strong>de</strong> Portimão e <strong>de</strong> Lagos, Comandante do N.R.P. “João Belo”, Chefe <strong>de</strong> Divisão do<br />
Estado-Maior da Armada e Professor do Instituto Superior Naval <strong>de</strong> Guerra.<br />
Além da sua formação em Escolas Nacionais frequentou, em países NATO, uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>staca o “Naval Command<br />
College” nos EUA (1988/89).<br />
Nos postos <strong>de</strong> Almirante <strong>de</strong>sempenhou ainda os seguintes cargos: Subchefe do Estado-Maior da Armada, Superinten<strong>de</strong>nte dos Serviços<br />
<strong>de</strong> Material, Comandante Naval em acumulação com o cargo NATO “Coman<strong>de</strong>r-in-Chief Iberian Atlantic Área” (1995-1997).<br />
Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>sligado do serviço (2002) foi membro da Comissão Estratégica dos Oceanos e do “European Security Research Advisory<br />
Board” da Comissão Europeia e é: Presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Marinha, Vice-Presi<strong>de</strong>nte da Direcção da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geografia <strong>de</strong><br />
Lisboa, Membro efectivo da Aca<strong>de</strong>mia das Ciências <strong>de</strong> Lisboa, membro <strong>de</strong> Mérito da Aca<strong>de</strong>mia Portuguesa da História e do Conselho <strong>de</strong><br />
Honra do Instituto <strong>de</strong> Ciências Sociais e Políticas da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, Presi<strong>de</strong>nte do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes<br />
e Membro do Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação, em representação da ACL e Professor Convidado do Instituto <strong>de</strong> Estudos Políticos da<br />
Universida<strong>de</strong> Católica Portuguesa.<br />
É, ainda, autor <strong>de</strong> diversos trabalhos e artigos sobre estratégia marítima, segurança nacional e economia do mar.<br />
Foi agraciado com 16 con<strong>de</strong>corações nacionais (incluindo a Grã-Cruz da Or<strong>de</strong>m Militar <strong>de</strong> Cristo e a Grã-Cruz <strong>de</strong> Aviz) e com 10 con<strong>de</strong>corações<br />
estrangeiras (Brasil, Espanha, Estados Unidos da América, França e Itália).<br />
De personalida<strong>de</strong> serena, <strong>de</strong> extrema simplicida<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> arguta inteligência, homem <strong>de</strong> cultura que conjuga um pragmatismo<br />
executivo notável com um inato perfil <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, o Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias é do melhor que já teve e têm, a Marinha<br />
<strong>de</strong> Guerra, as Forças Armadas Portuguesas e Portugal.<br />
Tê-lo como consócio, entrevistado da revista “O Desembarque” e como camarada <strong>de</strong> armas é subida honra para a Instituição que ora<br />
servimos e para quem teve a dita <strong>de</strong> o entrevistar.<br />
Marques Pinto (MP): O que levou o Sr. Almirante a optar pela Marinha <strong>de</strong> Guerra? Foi por tradição familiar? Por vocação? Faça-nos, por<br />
favor, um pouco da sua história <strong>de</strong> vida, até ingressar na Escola Naval.<br />
Almirante Vieira Matias (VM): É como muito gosto que falo para a revista da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> – a nossa <strong>Associação</strong> – e começo<br />
por dizer que conheci o Mar, que vi o Mar pela primeira vez com os meus 3 anos, na Nazaré. E não gostei, provavelmente porque a areia<br />
me entrava pelas sandálias… <strong>Mais</strong> tar<strong>de</strong>, o meu Pai que era funcionário público foi colocado em Portimão. Eu tinha 11 anos e então o<br />
Mar foi para mim uma revelação extraordinária. O porto <strong>de</strong> Portimão tinha um enorme movimento <strong>de</strong> embarcações e tudo aquilo foi um<br />
verda<strong>de</strong>iro paraíso que se me abriu. Aprendi a nadar nesse Verão e, em Outubro, estava inscrito na Vela da Mocida<strong>de</strong> Portuguesa, on<strong>de</strong><br />
comecei a apren<strong>de</strong>r a “arte <strong>de</strong> velejar”. Gostei imenso da Vela. Gostava sobretudo daquelas saídas <strong>de</strong> Portimão. Ir para o Mar, passar<br />
pelo meio das pedras do molhe, limpar a embarcação era para mim <strong>de</strong> um supremo bem-estar e, adolescente que era, constituiria<br />
também um <strong>de</strong>safio. É curioso que não gostava das regatas: a competição e até uma certa confusão retiravam à vela – pensava eu – a<br />
serenida<strong>de</strong> do Mar… Mas, a certa altura disseram-me que iria disputar-se um Campeonato Nacional, em Lisboa, cida<strong>de</strong> capital que eu<br />
não conhecia e que, quem ganhasse as regatas, em Portimão, seria selecionado para ir a Lisboa. Percebi, então, que era altura <strong>de</strong> me<br />
aplicar. Fiz as regatas e vim a Lisboa. Foi quando o “bicho” do Mar tomou conta <strong>de</strong> mim. Conhecer as embarcações e tentar perceber<br />
o que seria a vida do mar <strong>de</strong>spertou-me especial encanto. A somar às minhas motivações, o facto <strong>de</strong> o meu Pai ter sido uma pessoa<br />
extremamente culta, gostando muito <strong>de</strong> ler a História. Nos fins-<strong>de</strong>-semana – não havia televisão nessa época em casa – liam-se os<br />
cronistas e, por vezes, o Pai punha-me a ouvi-lo ler o Zurara ou as viagens <strong>de</strong> Fernão <strong>de</strong> Magalhães, <strong>de</strong> Stefan Zweig. Enfim, tudo isso<br />
“ia entrando em mim” como uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> hipótese <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong> vida. E foi assim que – embora tendo outras opções pelas<br />
notas que tinha no Liceu e tendo pensado mesmo em medicina e engenharia – <strong>de</strong>cidi concorrer à Escola do Exército, para fazer os<br />
preparatórios, e po<strong>de</strong>r ingressar na Escola Naval.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 27
entrevista<br />
Cardoso Moniz (CM): Então, és natural <strong>de</strong> Leiria?<br />
VM: Não, <strong>de</strong> Porto <strong>de</strong> Mós… Sou da terra <strong>de</strong> um Almirante da<br />
lenda da Praia do Sítio, D. Fuas Roupinho.<br />
Mas, continuando: fiz o primeiro ano dos preparatórios na Escola<br />
do Exército, concorri (com imensos concorrentes) à Escola Naval,<br />
mas fui apurado porque só tinha 19 anos, era dos mais novos, e<br />
as notas também eram boas.<br />
CM: Eu estava a tentar perceber como é que tu foste da Nazaré<br />
para Portimão sem passar por Lisboa.<br />
VM: Como já disse, o meu Pai era funcionário público e naquele<br />
tempo os funcionários do Estado tinham mobilida<strong>de</strong>, por várias<br />
razões e quase sempre quando eram promovidos. De facto, não<br />
passei por Lisboa. Só vim a Lisboa, pela primeira vez, às regatas<br />
da Mocida<strong>de</strong> Portuguesa.<br />
CM: Então, ficaste apurado…<br />
VM: Exactamente. Fiquei apurado. Vim às regatas e <strong>de</strong>pois entrei para a Escola Naval (1958).<br />
Como já tenho, algumas vezes, referido a Marinha já nessa altura estaria a prever ou tinha mesmo previsto que po<strong>de</strong>ria haver problemas<br />
nos nossos territórios ultramarinos, porque as in<strong>de</strong>pendências dos territórios africanos (ingleses, belgas, franceses) estavam a ocorrer<br />
a um ritmo impressionante, em zonas <strong>de</strong> fronteira com os territórios portugueses. Isto para dizer que entrei para a Escola Naval com o<br />
1.º Curso da Reserva Naval, que integrava uma reforma da Marinha que consi<strong>de</strong>ro brilhante e que previa aumentar os efectivos, com<br />
gente especializada com formação superior, ao nível <strong>de</strong> oficiais, recrutados do serviço militar obrigatório. É também <strong>de</strong>ste ano (1958)<br />
a proposta do Estado-Maior da Armada para que fossem formados fuzileiros, uma espécie <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> comandos, semelhante<br />
aos “marines” da Royal Navy, mandando especializar como monitores/formadores em Inglaterra, os primeiros 4 elementos que, <strong>de</strong>pois<br />
viriam a ser instrutores dos cursos <strong>de</strong> fuzileiros: um Oficial (Pascoal Rodrigues) e quatro praças, das quais ainda vive o célebre (ora<br />
sargento reformado) Santos Silva o “Piçarra”. Resumindo: foi esta perspectiva, esta previsão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance que consi<strong>de</strong>ro brilhante<br />
na Marinha <strong>de</strong>ssa época. A tudo isto juntou-se a aquisição <strong>de</strong> navios para a tradicional Marinha (missões em África, da NATO e <strong>de</strong><br />
soberania, no nosso território, aqui, na Europa)…<br />
MP: E portanto é assim, Sr. Almirante, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> promovido a Guarda-Marinha o seu percurso <strong>de</strong>corre nos navios, até que foi<br />
chamado a frequentar o Curso <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />
VM: Exactamente. Quando começa o terrorismo, em Março <strong>de</strong> 1961, em Angola (sim, porque aquilo foi um verda<strong>de</strong>iro terrorismo,<br />
uma selvajaria) eu estava quase no fim do curso da Escola Naval. Então a Marinha antecipou-nos o final do curso e mandou-nos, imediatamente<br />
em viagem <strong>de</strong> instrução <strong>de</strong> guardas-marinhas, na então Fragata “Pêro Escobar” (navio que ficou conhecido como “Gina<br />
Lollobrigida” pela beleza das suas linhas). Chegados a Angola, o navio foi integrado no dispositivo naval <strong>de</strong> contra penetração, <strong>de</strong> apoio<br />
às operações em terra e <strong>de</strong> apoio logístico. Acabado o tempo <strong>de</strong> instrução, fomos mandados regressar a Lisboa <strong>de</strong> avião. Logo que me<br />
apresentei na Direcção do Serviço <strong>de</strong> Pessoal ofereci-me como voluntário para qualquer comissão <strong>de</strong> serviço em Angola.<br />
MP: Como Fuzileiro?<br />
VM: Não, ainda como Oficial da Classe <strong>de</strong> Marinha. Tinha ficado tão impressionado com o que se tinha passado em Angola, que me<br />
ofereci imediatamente para voltar. Quinze dias <strong>de</strong>pois, estava a sair a barra como Oficial <strong>de</strong> Navegação da Fragata “Vasco da Gama”<br />
que, entretanto, tinha chegado <strong>de</strong> Inglaterra. Desempenhei as funções <strong>de</strong> Oficial <strong>de</strong> Navegação e Chefe do Serviço <strong>de</strong> Informações<br />
<strong>de</strong> Combate. Cheguei novamente a Angola, em Dezembro <strong>de</strong> 1961. Dois dias antes <strong>de</strong> chegar a Luanda, a 18 <strong>de</strong> Dezembro, ocorreu<br />
a invasão da Índia, o que nos marcou profundamente, para toda a vida. Cumpri, pois, a comissão em Angola <strong>de</strong> dois anos, (1961/63)<br />
tendo <strong>de</strong>sembarcado por 3 vezes, para patrulha do rio Chiloango, em Cabinda, por períodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z dias, on<strong>de</strong> pela primeira vez tive<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comandar <strong>Fuzileiros</strong>, embarcado nas lanchas “Lué Gran<strong>de</strong> e “Lué Pequeno” e também em botes. A primeira vez<br />
que <strong>de</strong>sembarquei, foi só com pessoal do navio, da segunda e da<br />
terceira já levei uma secção <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>. Foi, por assim dizer,<br />
o meu primeiro contacto com os fuzileiros, fuzileiros que tinham<br />
sido formados há pouco tempo, que eram constantemente solicitados<br />
e que estavam em fase <strong>de</strong> adaptação àquele conjunto<br />
diversificado <strong>de</strong> missões, com exigências muito gran<strong>de</strong>s, talvez<br />
excessivas, pelas condições adversas on<strong>de</strong> tinham <strong>de</strong> actuar.<br />
No âmbito da estratégia da Marinha, ao nível da contenção, e da<br />
contra penetração, nos rios e no mar, os fuzileiros eram também<br />
necessários para operações em terra. A minha percepção foi que<br />
talvez tivessem nessa altura (embora como oficial muito jovem)<br />
exigências excessivas. Mas, mesmo assim, os fuzileiros cumpriram<br />
e <strong>de</strong>sempenharam muito bem as suas missões.<br />
Vestido <strong>de</strong> mandinga - Bissau<br />
Em operação na Guiné, Rio Cacheu - Concolim - 16/08/1968<br />
Terminada a comissão <strong>de</strong> serviço, não tive direito a férias. Cheguei<br />
no navio a Lisboa, e dois ou três dias <strong>de</strong>pois fui mandado<br />
frequentar o curso <strong>de</strong> especialização em artilharia que já estava a<br />
<strong>de</strong>correr. Para me casar tive que aproveitar, no período <strong>de</strong> Natal,<br />
28 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
entrevista<br />
o intervalo entre duas divisões <strong>de</strong> serviço diário no Grupo N.º 2 <strong>de</strong> Escolas da Armada. Terminado o curso fui servir na Direcção dos<br />
Serviços <strong>de</strong> Material <strong>de</strong> Guerra e Tiro Naval, on<strong>de</strong> fiquei quase três anos, tendo sido, a partir <strong>de</strong> certa altura, inscrito numa lista <strong>de</strong><br />
indisponíveis para ir para África, face à importância que era dada à Secção que eu chefiava, <strong>de</strong> munições <strong>de</strong> artilharia e <strong>de</strong> armamento<br />
portátil. Só que, a <strong>de</strong>terminada altura, havia necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oficiais <strong>de</strong> Marinha para o curso <strong>de</strong> fuzileiros especiais e… <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> ser<br />
indispensável.<br />
CM: Mobilizaram-te …<br />
VM: Exactamente. Em 1967, fui tirar o curso <strong>de</strong> Fuzileiro Especial, com as dificulda<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> quem estava há três anos em<br />
lugar <strong>de</strong> secretária. Tive, porém, a noção <strong>de</strong> que tinha <strong>de</strong> me empenhar ao máximo, já que o que estaria em causa era a segurança<br />
dos homens que eu fosse comandar e a minha própria segurança. No fim do curso fui<br />
escolhido para ir comandar o Destacamento N.º 13 <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> Especiais, para a Guiné.<br />
E lá estivemos durante dois anos (Abril <strong>de</strong> 1968/ Fevereiro <strong>de</strong> 1970).<br />
MP: Diga-nos alguma coisa sobre o comando do seu DFE. E conte-nos o que foi a sua<br />
Comissão <strong>de</strong> Serviço na Guiné. Como viu a guerra do Ultramar ao tempo e como a vê<br />
hoje, à distância <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> trinta anos?<br />
VM: Sim, senhor. Eu tenho uma visão, que venho comunicando em várias conferências,<br />
em estudos superiores militares, em activida<strong>de</strong> civil, etc.<br />
Começando pelo aspecto mais geral: a África Portuguesa era muito cobiçada e aquilo<br />
a que chamam os “ventos da história”, não eram ventos da história. Eram “ventos da<br />
cobiça”. África era cobiçada pelas gran<strong>de</strong>s potências: Estados Unidos <strong>de</strong> um lado, União<br />
Soviética do outro, para falar só <strong>de</strong> duas. Em Angola, por exemplo, a guerrilha começou<br />
sob influência dos Estados Unidos. A sua Igreja Baptista tinha particular influência na<br />
UPA, (União dos Povos <strong>de</strong> Angola) o movimento que lançou o terror em Angola, a partir<br />
<strong>de</strong> 1961. Alguns dos nossos territórios ultramarinos eram muito ricos, pelo que não<br />
ficaram imunes ao movimento <strong>de</strong> cobiça dos países que tinham sido colonizadores<br />
ou ditos “colonizadores” e também <strong>de</strong> outros que o não tinham sido, mas com claras<br />
apetências para essa área do Mundo. O que se gerou foi um movimento no sentido<br />
<strong>de</strong> dar a in<strong>de</strong>pendência ou promover a in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>sses territórios, atribuindo-se<br />
aos povos locais a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se governarem, mas continuando, os países<br />
promotores a ter a possibilida<strong>de</strong> da exploração das suas matérias-primas. Houve um<br />
gran<strong>de</strong> cinismo da comunida<strong>de</strong> internacional. Preten<strong>de</strong>u-se obter o melhor <strong>de</strong> dois<br />
Guiné, no Rio Buba - Dezembro <strong>de</strong> 1969<br />
mundos, isto é, apoiavam, promoviam as in<strong>de</strong>pendências, mas continuavam a obter as<br />
mais valias da economia… e, <strong>de</strong>pois “eles” que se governassem . Não tinham responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> governação, <strong>de</strong> apoiar o povo, mas<br />
iam tirar partido das mais valias <strong>de</strong>sses territórios. Foi um pouco o que aconteceu. E eu já o disse a oficiais superiores africanos que,<br />
numa conferência, levantaram o <strong>de</strong>do e referiram: - “O Sr. Almirante está cheio <strong>de</strong> razão”.<br />
MP: Passemos ao seu percurso no seu Destacamento <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, na Guiné. E <strong>de</strong>pois? Como foi a sua vida? Um homem que, inicialmente<br />
não tinha como projecto ir para os fuzileiros e que se vê <strong>de</strong> repente, a comandar 75 homens, numas condições como eram as<br />
da Guiné… Como encarou tudo isso?<br />
VM: A questão é importante. Vi “tudo isso” como vi tudo na minha carreira. Era uma imposição <strong>de</strong> serviço. Eu estava na Marinha<br />
para servir e portanto teria que servir o melhor que pu<strong>de</strong>sse e soubesse. E por isso, da mesma forma como assumi outras funções<br />
empenhei-me, também, no comando da activida<strong>de</strong> do meu Destacamento até ao limite das minhas capacida<strong>de</strong>s, apesar das difíceis<br />
condições operacionais, logísticas e humanas em que nos encontramos a maior parte do tempo. Claramente, o Comando da Defesa<br />
Marítima da Guiné não estava preparado para apoiar os DFE’s fora da base, em Bissau, e nem sempre fez o esforço necessário para se<br />
adaptar. Havia até quem pensasse que para os <strong>Fuzileiros</strong> qualquer coisa servia!!! Mas assumi a missão com toda a energia, procurando<br />
mesmo suprir lacunas, lançando mão da enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação e da sagacida<strong>de</strong> do nosso pessoal. Se não nos apoiavam<br />
com “intelligence” nós tratávamos disso na zona, se não nos mandavam alimentação, nós caçávamos ou pescávamos à granada, etc .<br />
Na verda<strong>de</strong> a comissão <strong>de</strong> serviço na Guiné teve duas fases: numa primeira, muito curta, tínhamos base em Bissau, com instalações<br />
muito bem estruturadas e organizadas, na sequência do emprego operacional dos <strong>Fuzileiros</strong> que estava a ser feito, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há anos.<br />
CM: Ainda lá estava o Ferrer?<br />
VM: Já não estava. Teria saído havia relativamente pouco tempo.<br />
Portanto, como estava a dizer, nessa primeira fase saíamos nas lanchas – e também aconteceu algumas vezes, sairmos <strong>de</strong> helicóptero,<br />
em operações helitransportadas – mas, sobretudo, saíamos nas lanchas para vários locais. Também fazíamos operações <strong>de</strong> vigilância<br />
e contra penetração, <strong>de</strong>stacando Secções ou partes dos Grupos <strong>de</strong> Combate do Destacamento para os rios, como Mansoa, Cacheu,<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> Buba, etc<br />
Apenas como exemplo, refiro que, nas vésperas do Natal <strong>de</strong> 1968, tivemos <strong>de</strong> ocupar uma ilha, durante dois dias, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os morteiros<br />
82, russos, podiam atingir o aeroporto <strong>de</strong> Bissau como, aliás, tinha acontecido no Natal <strong>de</strong> 1967.<br />
Com a chegada do General Spínola, <strong>de</strong>senha-se uma segunda fase fruto <strong>de</strong> ele ter tido, na minha perspectiva, uma boa visão estratégica<br />
do conflito. É que a guerrilha não se alimenta exclusivamente da população, contrariamente ao pensamento <strong>de</strong> Mao-tse-tung que<br />
pretendia ensinar que “a população está para o guerrilheiro como a água está para o peixe”. Isso é parcialmente verda<strong>de</strong>. A água dá<br />
oxigénio ao peixe. A população dá comida aos guerrilheiros mas não lhe dá munições nem armamento.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 29
entrevista<br />
Percebeu-se então – com base nas nossas informações – on<strong>de</strong> se situavam os corredores <strong>de</strong> infiltração: um no Norte, a partir do<br />
Senegal, sobretudo pela península <strong>de</strong> Sambuiá, e outro no Sul. O Comando-Chefe atribuiu à Marinha uma zona <strong>de</strong> operações em<br />
permanência no Norte, no rio Cacheu. Aqui, a nossa Marinha <strong>de</strong>senhou uma excelente operação que foi a “Via Láctea” que <strong>de</strong>morou<br />
meses, com pessoal no terreno, e no rio, 24 horas sobre 24 horas, com lanchas dos vários tipos e com fuzileiros emboscados em botes<br />
e com pontuadas nas margens. Ora, durante esse tempo, a penetração <strong>de</strong> armamento foi reduzida <strong>de</strong> tal maneira que a flagelação dos<br />
quartéis, do lado Sul do Cacheu, que era da or<strong>de</strong>m das 60 a 70 vezes por mês, passou para 3, 4, ou pouco mais, exactamente porque<br />
a guerrilha não tinha munições nem renovação <strong>de</strong> armamento.<br />
Só que, como não havia meios para permanecer naqueles locais, tendo a base em Bissau, mandaram-nos instalar em Ganturé. Ficámos<br />
em péssimas condições. Os primeiros DFE’s a iniciar tal prática foram o 12 (Cte Pedrosa) e o 13 (o meu) aproveitando 3 barracões em<br />
ruínas que tinham servido para armazenar mancarra (amendoim), junto ao rio e aos campos <strong>de</strong> arroz, as bolanhas. Nem sequer levámos<br />
mosquiteiros…! É interessante relembrar a imagem <strong>de</strong> um camarada nosso da Marinha que escreveu – referindo-se ao tempo em que<br />
tinha permanecido num sítio semelhante – que “os mosquitos eram tantos que <strong>de</strong>itava-se a mão ao ar, espremia-se e escorria sangue”.<br />
CM: Uma pergunta que vem na sequência da minha experiência em Angola. Junto à fronteira nos locais <strong>de</strong> penetração, seria possível<br />
fazer patrulhamento com viaturas <strong>de</strong> tracção às quatro rodas, a corta mato?<br />
Com Oficiais e ca<strong>de</strong>tes na EFZ<br />
VM: Não. O terreno da Guiné é extremamente ensopado, cortado por inúmeras linhas <strong>de</strong><br />
água. E os rios que correm no sentido Norte/Sul têm nas margens, quantida<strong>de</strong>s brutais<br />
<strong>de</strong> “mangal” selvagem, aquele mangal <strong>de</strong>nsíssimo, só penetrável por forças anfíbias<br />
muito bem preparadas, no fundo, pelos <strong>Fuzileiros</strong>. Quando acaba o “mangal” não começa<br />
abruptamente a mata, isto é, há a “bolanha” <strong>de</strong> permeio até à mata encharcada. Trata-se<br />
<strong>de</strong> terrenos quase impossíveis <strong>de</strong> serem trilhados por quaisquer viaturas. A maior eficácia<br />
era conseguida pela patrulha dos rios com lanchas e botes dos <strong>Fuzileiros</strong> e pela acção<br />
<strong>de</strong>stes também em terra, com aconteceu na longa operação “Via Láctea”.<br />
A propósito: em consequência dos resultados que se obtiveram, entretanto, o General<br />
Spínola mandou 3 ou 4 companhias do exército entrarem na península <strong>de</strong> Sambuiá<br />
limitada a Sul pelo Cacheu, e no sentido Norte/Sul pelos rios Talicó e Sambuiá. A coisa<br />
não correu bem. Uma companhia teve uns mortos, outras não conseguiram entrar nos<br />
rios e, então, o General Spínola <strong>de</strong>u or<strong>de</strong>ns (<strong>de</strong> uma quinta-feira para segunda-feira)<br />
que avançassem os fuzileiros. Foi o DFE 12, do Pedrosa e fui eu (DFE 13). Levámos<br />
cada um só meio Destacamento, ficando os outros meios em “stand-by”, nos rios para<br />
<strong>de</strong>sembarcarem, em manobra, on<strong>de</strong> fosse necessário. Fomos, penetrámos e tivemos<br />
sucesso. Eu trouxe cerca <strong>de</strong> 20 prisioneiros e algumas armas.<br />
Apenas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> capturados esses prisioneiros, se veio a saber da existência <strong>de</strong><br />
arrecadações, <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> armamento que os guerrilheiros traziam em colunas do<br />
Senegal e que, naquela altura, <strong>de</strong>veriam estar a chegar ao Cacheu.<br />
Presumo que os guerrilheiros e as suas chefias pensassem que nós não teríamos a<br />
persistência suficiente para continuar no terreno em condições extremamente hostis.<br />
De facto, lanchas e fuzileiros permanecemos nos locais <strong>de</strong> emboscada e <strong>de</strong> patrulha 24 horas por dia fazendo abortar as tentativas <strong>de</strong><br />
“cambança” do IN, ou interceptando mesmo as travessias do Cacheu.<br />
Depois, acabei por fazer uma operação helitransportada sobre a Península do Sambuiá, próximo do Senegal com apenas 30 homens.<br />
Foi a operação “Gran<strong>de</strong> Colheita”. Apanhámos cerca <strong>de</strong> 200 armas entre ligeiras e pesadas e 150.000 munições. Para recuperar o<br />
armamento, conduzindo-o para Bigene, foram empregues cinco helicópteros que andaram uma tar<strong>de</strong> inteira a carregar e <strong>de</strong>scarregar<br />
armamento.<br />
Foi uma operação para que me ofereci directamente ao General Spínola, quando ele foi a Bigene indagar como tinha corrido uma<br />
operação do Comando Operacional 3 nessa zona, mas sem gran<strong>de</strong>s resultados. Pretendia mandar lá Paraquedistas, mas eu apesar <strong>de</strong><br />
ter chegado do mato horas antes fiz prssão para ir lá com os meus <strong>Fuzileiros</strong>. Aceitou, mas que fosse só uma vaga <strong>de</strong> helicópteros com<br />
30 homens! Preparei o meu grupo para essa emergência e <strong>de</strong>terminei que se levasse o máximo <strong>de</strong> munições, que ninguém levasse<br />
água (eram só uma horas. Eu próprio levava uma ou duas granadas <strong>de</strong> bazooka. Fizemos essa apreensão, e cheguei ao fim do dia para<br />
reembarcar e dizem-me: “Não, fica para o dia seguinte.” Fiquei no mato para o dia seguinte, próximo do Senegal, com cerca <strong>de</strong> 30<br />
homens, on<strong>de</strong> eles tinham umas centenas largas <strong>de</strong> guerrilheiros. E o General Spínola (pelo piloto do helicóptero da última vaga que<br />
levou o material) manda-me dizer para ficar ali, no sítio on<strong>de</strong> eu estava e que, num raio <strong>de</strong> 3 quilómetros iria mandar fazer fogo <strong>de</strong><br />
artilharia batendo o terreno <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ponto on<strong>de</strong> eu estava, <strong>de</strong> noite. E eu disse ao piloto: “Diga ao Sr. General que eu não quero fogo<br />
<strong>de</strong> artilharia (eu sabia como era… sou artilheiro) e que não vou ficar aqui “. Assinalei na carta do piloto o local (eu já tinha i<strong>de</strong>ntificado<br />
aquilo, segundo a boa táctica <strong>de</strong> fuzileiro). Então, eu que tinha estado ali um dia inteiro …toda a “gente” (os guerrilheiros) sabia… Era<br />
óbvio que caíam em cima <strong>de</strong> nós – ainda por cima, numa zona junto ao rio, com terreno aberto <strong>de</strong> lado –aquilo seria um morticínio<br />
completo, era um massacre, se ficasse lá. De facto, tive a coragem <strong>de</strong> dizer: “Diga ao Sr. General que eu não fico aqui”. E disse ao<br />
piloto on<strong>de</strong> iria ficar.<br />
CM: E nessa noite bombar<strong>de</strong>aram-te ou não?<br />
VM: Fizeram fogo <strong>de</strong> morteiros e Foram lá. E eu fiquei na mata, num sítio que tinha i<strong>de</strong>ntificado, segundo a boa táctica que apren<strong>de</strong>mos<br />
na Escola <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, à noite e tudo caladinho. E fiz outra coisa: man<strong>de</strong>i retirar as pilhas todas aos rádios, para o pessoal não ter a<br />
tentação <strong>de</strong> comunicar. Do outro lado da fronteira havia cubanos e guerrilheiros que nos po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>tectar. No dia seguinte continuei,<br />
por ali acima, numa operação típica dos fuzileiros.<br />
30 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
MP: Depois da Guiné…<br />
Imposição <strong>de</strong> distintivo pelo Comt Bacharel na EFZ<br />
entrevista<br />
MP: À distância <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 30 anos como vê a situação <strong>de</strong> Portugal<br />
e esta guerra que nós fizemos?<br />
VM: Foi uma guerra que <strong>de</strong>monstrou aquilo que <strong>de</strong> melhor os<br />
portugueses têm que é capacida<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> sacrifício, uma<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ultrapassar dificulda<strong>de</strong>s inopinadas e por vezes<br />
muito gran<strong>de</strong>s. Foi aquilo que o português sempre <strong>de</strong>monstrou<br />
ao longo da história. Demonstrou também outra coisa: a capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> nos relacionarmos com povos distantes e diferentes e a<br />
nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar a diferença e isso às vezes é muito<br />
esquecido.<br />
MP: Nessa medida, terá valido a pena…<br />
VM: Valeu a pena com certeza. Demonstrámos que não eram os<br />
outros a <strong>de</strong>terminar aquilo que <strong>de</strong>víamos fazer. Tínhamos in<strong>de</strong>pendência<br />
no País e tínhamos in<strong>de</strong>pendência nas nossas linhas<br />
<strong>de</strong> acção e na nossa vonta<strong>de</strong>. Tivemos sempre essa <strong>de</strong>terminação<br />
ao longo da história. Foi uma lição a tirar para o presente.<br />
VM: Depois da Guiné, cheguei a Portugal e também não tive direito a licença. (risos e umas gargalhadas)<br />
Mandaram-me imediatamente para a Escola Naval, para professor <strong>de</strong> artilharia on<strong>de</strong> até já tinha pontos para ver. Enfim… E aí fiquei,<br />
durante cinco anos e tal, a leccionar a disciplina <strong>de</strong> artilharia acumulando com o cargo <strong>de</strong> Director do Laboratório <strong>de</strong> Explosivos. Entretanto<br />
dá-se o “25 <strong>de</strong> Abril”, há o período do “PREC” e <strong>de</strong>pois do “25 <strong>de</strong> Novembro” sou chamado ao CEMA para ir comandar a Força<br />
<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> do Continente. Disse ao CEMA: “Mas eu sou Capitão-Tenente e o comando da “Força” é <strong>de</strong> Capitão <strong>de</strong> Mar-e-Guerra.<br />
E o que eu gostava era <strong>de</strong> ir embarcar”. E o CEMA disse-me: “pois é mas, <strong>de</strong>pois, no fim, talvez lhe arranje uma Fragata”. E estive<br />
dois anos como comandante da FFC, entretanto promovido a Capitão-<strong>de</strong>-Fragata. Tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com o Comandante do<br />
Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e com os outros Oficiais naquilo que estávamos a perceber tinha <strong>de</strong> ser a nova a reorientação da activida<strong>de</strong> dos fuzileiros<br />
e uma nova orgânica, <strong>de</strong> batalhões, companhias, unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarque etc., uma nova estrutura visando as missões<br />
que fossem necessárias para os fuzileiros. Começámos inclusivamente a fazer exercícios, primeiro ao nível <strong>de</strong> companhia, e <strong>de</strong>pois, ao<br />
nível <strong>de</strong> batalhão. Foi mais simples do que eu pensava, face ao período <strong>de</strong> agitação política que íamos vivendo. Conseguimos, <strong>de</strong> certa<br />
forma, estabilização e eliminar a política da área militar dos fuzileiros. Planeámos um gran<strong>de</strong> exercício que foi o “Albatroz”, realizado<br />
em Sagres. Houve uma gran<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Força Aérea Portuguesa e do Comando Naval. Fez-se uma verda<strong>de</strong>ira operação anfíbia, on<strong>de</strong><br />
esteve o então Presi<strong>de</strong>nte da República, General Ramalho Eanes, a assistir aos <strong>de</strong>sembarques. Estivemos lá durante quinze dias, nos<br />
exercícios preparatórios. O Comando Naval aplicou as regras das operações anfíbias da NATO. Tentámos, pois, uma reorientação dos<br />
fuzileiros, em termos operacionais e mesmo <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>s e começámos, também, a pedir a reformulação <strong>de</strong> equipamento. Fiz dois<br />
anos <strong>de</strong> comissão na “Força” e <strong>de</strong>pois “disse que era altura dos Oficiais da Classe <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>” assumirem. E fui substituído pelo<br />
Oliveira Monteiro. (Não me <strong>de</strong>ram o comando <strong>de</strong> nenhuma fragata, “porque ainda era muito novo”, mas não o tinha sido para ocupar<br />
um cargo <strong>de</strong> capitão-<strong>de</strong> mar-e-guerra sendo capitão-tenente!)<br />
MP: - E dali até ao seu cargo <strong>de</strong> Chefe do Estado-Maior?<br />
VM: Tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar a acompanhar a evolução dos fuzileiros e tanto quanto possível <strong>de</strong> a motivar, como foi o caso <strong>de</strong><br />
quando fui Subchefe do Estado-Maior da Armada, Comandante Naval ou Subinten<strong>de</strong>nte dos Serviços do Material. A compreensão que<br />
tinha dos fuzileiros ajudou-me a incentivar o seu reequipamento, a evolução do treino e a frequência <strong>de</strong> alguns cursos no estrangeiro<br />
com outras forças congéneres.<br />
Como Chefe do Estado-Maior tive duas preocupações enormes: o reequipamento dos fuzileiros com a Lei <strong>de</strong> Programação Militar e a<br />
sua inserção em forças expedicionárias no estrangeiro. Que me lembre, tivemos, simultaneamente, fuzileiros nos Balcãs, em Timor<br />
(tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os visitar) e até em Moçambique, em apoio humanitário às cheias, e fuzileiros integrados numa força que teve<br />
um papel notável na Guiné, no conflito entre Nino Vieira e Assumane Mané, em 1998.<br />
A propósito <strong>de</strong>ste conflito ocorre-me dizer que man<strong>de</strong>i, então, preparar uma força da Armada para sair. Assumi porque o po<strong>de</strong>r político,<br />
da altura, não estava sensibilizado para essas “danças” (risos) mas eu, pelas informações que ia tendo, achei que <strong>de</strong>via preparar<br />
uma força com o navio o “Bérrio”, uma Fragata da classse “Vasco da Gama”, duas Corvetas, helicópteros e uma força <strong>de</strong> fuzileiros<br />
e man<strong>de</strong>i-a sair para o mar. Quando fui questionado sobre porque tinha mandado sair a força, respondi que tinha <strong>de</strong>cidido mandá-la<br />
para exercícios, <strong>de</strong>cisão que era da competência do CEMA. “Se <strong>de</strong>cidirem que ela <strong>de</strong>ve ir para a Guiné, ela já lá estará perto” (risos).<br />
Mas tive <strong>de</strong> apanhar o Primeiro-Ministro Guterres numa cerimónia, nos Jerónimos, e disse-lhe que aquilo podia ser um morticínio <strong>de</strong><br />
portugueses a viverem, na Guiné, assim como <strong>de</strong> muitos estrangeiros, se não procedêssemos à sua exfiltração.<br />
MP: Os <strong>Fuzileiros</strong> também andaram pela ponte <strong>de</strong> Entre-os-Rios e ouviu-se falar num sonar “<strong>de</strong> varrimento” lateral que teria sido<br />
mandado vir do estrangeiro…<br />
VM: Nós tomámos essa iniciativa. Mas já agora, aqui vai essa história da tragédia da ponte <strong>de</strong> Entre-os-Rios:<br />
Eu estava no Porto, numa reunião dos Chefes Militares portugueses com os Chefes espanhóis, e lembra-me <strong>de</strong> ter visto o rio Douro<br />
com uma corrente brutal. Ao fim da tar<strong>de</strong>, vim <strong>de</strong> avião para Lisboa e às três da manhã sou acordado porque tinha havido um <strong>de</strong>sastre<br />
enorme em Entre-os-Rios. Man<strong>de</strong>i aprontar imediatamente fuzileiros com botes para seguirem lá para cima e man<strong>de</strong>i accionar<br />
vários meios, <strong>de</strong>signadamente, do Instituto Hidrográfico e mergulhadores, mesmo antes <strong>de</strong> haver orientação politica. Estivemos lá<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 31
entrevista<br />
muito tempo, como é conhecido, e a certa altura <strong>de</strong>pois do Instituto Hidrográfico analisar a situação, verificou-se que ao fundo do rio,<br />
faltavam 15 metros, isto é, tinham sido levados 15 metros <strong>de</strong> areia, que <strong>de</strong>scalçaram os pilares da ponte… Concluímos então que<br />
era necessário ter um sonar lateral, para encontrar os automóveis e o autocarro que tinham caído ao rio, porque a água era impenetrável,<br />
barrenta, cheia <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos e com uma corrente da or<strong>de</strong>m dos 10 quilómetros hora, o que inviabilizava o mergulho autónomo.<br />
A solução era “arranjar” um sonar lateral para fazer essa pesquisa. Soube que havia um na Escócia e conseguimos que, <strong>de</strong> um dia<br />
para o outro, ele chegasse a Portugal, alugado. Depois, a Marinha até teve <strong>de</strong> pagar o IVA do seu orçamento… (risos). Os fuzileiros<br />
fizeram um trabalho notável, <strong>de</strong> resto reconhecido pela própria população e até houve um grupo <strong>de</strong> Senhoras que se organizou para<br />
lhes arranjar refeições quentes. Não parava <strong>de</strong> chover e os fuzileiros, com a sua experiência, lá conseguiram não parar com as buscas.<br />
Houve bombeiros que tentaram ajudar porque a “Protecção Civil” também queria aparecer na televisão e, a certa altura, houve até<br />
um inci<strong>de</strong>nte infeliz, que não teve consequências, com um bote dos Bombeiros que se virou e os fuzileiros ainda tiveram que andar a<br />
“pescar” Bombeiros lá pelo meio.<br />
Houve uma fase <strong>de</strong> pressão da Comunicação Social, mas nós conseguimos controlar a situação. Tive até um telefonema do Embaixador<br />
americano que me perguntava como é que nós conseguíamos coor<strong>de</strong>nar tão bem aquelas operações e relação com a comunicação<br />
social. Eu tinha um Oficial para cada televisão que falava directamente comigo e o então Comandante (hoje Almirante) Ezequiel falava,<br />
também directamente comigo para não haver equívocos. Até que um dia, <strong>de</strong> manhã, já tínhamos levantado oito ou nove automóveis,<br />
faltava o autocarro, sou confrontado com o “Diário <strong>de</strong> Notícias” com um título, perfeitamente caricato, a toda a largura da capa:<br />
“Marinha só tem andado a gastar tempo e dinheiro”. Um Senhor professor “não sei quantos” do Instituto Superior Técnico dizia<br />
que, pelas contas que fez, o autocarro estava a meia dúzia <strong>de</strong> quilómetros do local. Eu não pu<strong>de</strong> dizer nada porque não tínhamos<br />
encontrado o autocarro mas, pela nossa análise, com referência aos pontos on<strong>de</strong> os automóveis tinham estado, tudo apontava para<br />
que o autocarro estivesse próximo. Não se via nada lá <strong>de</strong>baixo,<br />
era preciso fun<strong>de</strong>ar poitas com umas toneladas <strong>de</strong> cimento para<br />
os mergulhadores estarem agarrados, para não serem levados<br />
pela corrente e só tacteando é que se conseguia <strong>de</strong>tectar alguma<br />
coisa. Um dia <strong>de</strong>pois, encontrámos o autocarro, a cerca <strong>de</strong> 40<br />
metros dos pontos on<strong>de</strong> tínhamos estado a pesquisar. Então,<br />
nessa altura, telefonei para o Sr. Director do “Diário <strong>de</strong> Notícias”,<br />
o Sr. Dr Bettencourt Resen<strong>de</strong> (já falecido - tenho a melhor das<br />
memórias <strong>de</strong>le) que conhecia muito bem e disse-lhe: “Então qual<br />
vai ser a capa amanhã? Porventura que o Sr. professor “tal” é<br />
uma besta”. E dizia-me ele: “Oh, Sr. Almirante não po<strong>de</strong> ser…”<br />
(risos). O Dr. Resen<strong>de</strong> arranjou-me <strong>de</strong>pois uma entrevista, na<br />
televisão, <strong>de</strong> 25 minutos.<br />
MP: Tudo isto me faz presumir que na sua brilhante carreira terá<br />
sido <strong>de</strong>terminante a passagem pelos fuzileiros.<br />
VM: Eu acho que foi uma experiência única, uma experiência<br />
notável e usava-a, muitas vezes, para dizer que toda a Marinha<br />
Com Brazão e Metello <strong>de</strong> Nápoles na EFZ<br />
precisava <strong>de</strong> ter uma “coisa” que os fuzileiros tinham: o brio e a<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> bem cumprir, um brio inabalável. Faltava-lhes, nessa altura, a componente tecnológica. Procurei sempre fazer sentir à outra<br />
parte da Marinha esse brio, essa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> bem cumprir e a <strong>de</strong>terminação dos fuzileiros. O que lhes faltava era, <strong>de</strong> facto, o equipamento<br />
a<strong>de</strong>quado para que eles sejam bem empregues nas forças expedicionárias. E, hoje, é com muita pena que vejo que raras vezes<br />
os fuzileiros são empregues no exterior.<br />
MP: Bom. Sabemos que “isto <strong>de</strong> ser reformado dá muito trabalho”. Já ouvi alguém dizer isto …(risos). Quer dizer-nos que trabalho é<br />
esse, Sr. Almirante?<br />
VM: Como sabe sou aqui Presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Marinha, o que me dá algum trabalho; sou Membro da Aca<strong>de</strong>mia das Ciências,<br />
sou membro da Aca<strong>de</strong>mia Portuguesa da História, da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geografia, sou Professor Convidado da Universida<strong>de</strong> Católica, sou<br />
Presi<strong>de</strong>nte do Conselho Supremo da Liga dos Combatentes, sou Membro do Conselho Nacional da Educação etc. Mas, eu <strong>de</strong>i-lhe o meu<br />
currículo e está lá tudo. Para além das solicitações que tenho para conferências e palestras, em vários locais do País e no Estrangeiro.<br />
Neste momento tenho previsto uma ida ao Brasil para o Congresso dos Mares da Lusofonia, em Maio, e outra a Moçambique, em Junho,<br />
para dar umas aulas na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Moçambique – don<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> concluir que não há falta <strong>de</strong> trabalho.<br />
Mas <strong>de</strong>vo dizer que quase toda esta activida<strong>de</strong> é “pro-bono”.<br />
MP: A nossa revista “O Desembarque” tem sofrido algumas alterações, particularmente nos últimos dois ou três números, pensamos<br />
nós que para melhor. Permita-nos, Sr. Almirante, o seu olhar crítico.<br />
VM: Oiça, Marques Pinto. É difícil ter um olhar crítico quando vejo qualquer coisa que é construída e feita com tão boa intenção e que<br />
é chegar aos fuzileiros dispersos por esse mundo. E eles merecem que cheguemos até eles. Eu reúno todos os anos com parte dos<br />
homens do meu Destacamento e estamos agora a planear nova reunião. É que uma das coisas que os fuzileiros sentem – sobretudo<br />
aqueles que estiveram em África – é, muitas vezes, a incompreensão da Socieda<strong>de</strong> pelos sacrifícios que eles fizeram. Eu quando<br />
chamei traidor a um senhor político da nossa praça, estava a pensar no enorme esforço que aqueles rapazes, marinheiros e grumetes,<br />
fizeram vivendo em condições extremas que, se calhar, só os portugueses eram capazes <strong>de</strong> suportar, sem quase nenhuma compensação,<br />
para <strong>de</strong>pois serem incompreendidos e mal tratados. Isto dói no coração.<br />
E, por isso, é muito bom, tudo o que seja feito pela Liga dos Combatentes, pela <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e pelo seu “O Desembarque”<br />
no sentido <strong>de</strong> chegar ao coração dos combatentes para lhes dizer: – Vocês cumpriram e cumprem as obrigações perante a Pátria –<br />
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como poucos seriam ou são capazes <strong>de</strong> fazer. Estamos unidos, estamos convosco. Tudo<br />
o que digam a essa gente é muito positivo. É que eles dão e <strong>de</strong>ram tudo, alguns até a<br />
própria vida e os fuzileiros foram, talvez, daqueles que mais sacrifícios fizeram. Temos<br />
que homenagear os que morreram em combate, como, por exemplo faz um grupo a que<br />
pertenço, da socieda<strong>de</strong> civil, todos os anos, no Dia <strong>de</strong> Portugal, 10 <strong>de</strong> Junho, junto ao<br />
Monumento ao Combatente, em Belém. E comigo, no meu Destacamento, foram quatro,<br />
os que caíram no Campo da Honra… (fez-se um silêncio). E, portanto, chegar aos que<br />
vivem lembrando os que partiram e que também pensam na preservação dos valores <strong>de</strong><br />
cidadania, como é apanágio dos fuzileiro, penso que é uma obra extraordinária. Se pu<strong>de</strong>r<br />
ser melhor, com certeza. Porém, o que está feito já é muito bom.<br />
MP: O Sr. Almirante é Sócio Originário da AFZ e também seu Sócio Honorário, tendo sido<br />
um dos Mandatários da Lista candidata, em 2011, aos Órgãos Sociais da AFZ, cujos<br />
titulares terminam o seu mandato em Dezembro <strong>de</strong> 2013. Diga-nos, por favor, como<br />
vê a nossa/Sua <strong>Associação</strong>, a sua gestão e que palavras lhe ocorre dirigir aos Sócios,<br />
nossos camaradas.<br />
VM: Eu acho, como aliás já disse há pouco, que a obra que têm <strong>de</strong>senvolvido é notável<br />
e estou muito feliz por fazer parte <strong>de</strong> uma <strong>Associação</strong> que tem pessoas tão generosas<br />
como aquelas que estão à frente da nossa <strong>Associação</strong>. Estou certo que esse exemplo<br />
frutificará e que mais pessoas serão motivadas a contribuir para as finalida<strong>de</strong>s da<br />
<strong>Associação</strong>. O agra<strong>de</strong>cimento será, certamente <strong>de</strong> natureza moral feito à distância, por<br />
aqueles que recebem a Revista, ou que têm contacto com a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />
Operações:<br />
Emboscada 11<br />
Patrulhas 6<br />
Reconhecimentos armados 12<br />
Golpes <strong>de</strong> Mão 6<br />
Total 35<br />
Resultados positivos:<br />
Inimigos mortos 40<br />
Prisioneiros 43<br />
Total 83<br />
Acampamentos <strong>de</strong>struídos 282<br />
Embarcações apreendidas/<strong>de</strong>struídas 25<br />
Armamento Apreendido:<br />
Canhão s/r 82 mm 1<br />
Morteiro 82 mm 1<br />
Lança-Granadas Foguete 7<br />
Metralhadoras pesadas 2<br />
Metralhadoras ligeiras 20<br />
Espingardas autom., não-automáticas e nativas 9<br />
Pistolas-metralhadoras 91<br />
Espingarda caça<strong>de</strong>ira 1<br />
Total 216<br />
Resumo da Activida<strong>de</strong> Operacional do DFE 13<br />
Guiné (21/Abr/68 a 25/Jan/1970)<br />
entrevista<br />
Devo dizer que, ainda hoje, me reúno, com os marinheiros que foram do meu Destacamento, umas vezes em grupos gran<strong>de</strong>s, outras<br />
apenas com os da zona on<strong>de</strong> vivemos, mas sempre pensamos também nos outros e, porventura, em algum com um certo tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s,<br />
sem nunca esquecer os que partiram, em combate, ou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le, mas quantas vezes em consequência <strong>de</strong>le.<br />
Portanto, este sentido <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> é muito português, é muito marinheiro e, agora, diria que é muito fuzileiro.<br />
CM e MP: Muito obrigado Sr. Almirante.<br />
XXXXXXXXXXX<br />
Munições:<br />
Vários calibres 109.390<br />
Granadas <strong>de</strong> mão 5<br />
Granadas <strong>de</strong> Morteiro 82 mm 113<br />
Granadas <strong>de</strong> Canhão s/r 394<br />
Granadas <strong>de</strong> LGF 240<br />
Minas 38<br />
Total 1.102.062<br />
Outro Material:<br />
Explosivos plásticos 30 kg<br />
TNT 41 kg<br />
Total 71 kg<br />
Disparadores 380<br />
Armadilhas 2<br />
Aparelhos <strong>de</strong> pontaria <strong>de</strong> morteiro 60 mm 3<br />
Canos <strong>de</strong> Metralhadoras 21<br />
Pratos <strong>de</strong> Morteiros 60 mm 1<br />
Carregadores <strong>de</strong> diversas espingardas 146<br />
Total 553<br />
Tempos <strong>de</strong> patrulha e emboscadas<br />
(em LDM e botes) 4.257 h<br />
Contactos <strong>de</strong> fogo com o inimigo 32<br />
Resultados negativos:<br />
Homens evacuados para Portugal 3<br />
Feridos em combate 12<br />
Mortos em combate 4<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 33
divisões<br />
Divisão do Mar<br />
e das Activida<strong>de</strong>s Lúdicas e Desportivas<br />
Caminhada dos Castelos 2012<br />
A<br />
Secção <strong>de</strong> Pe<strong>de</strong>strianismo levou a cabo no passado dia 5 <strong>de</strong> Outubro a 1.ª “Caminhada<br />
dos Castelos” <strong>de</strong>stinada a sócios, familiares e amigos. Tratou-se <strong>de</strong> um<br />
percurso com características muito específicas, que teve como ponto <strong>de</strong> partida<br />
o Castelo <strong>de</strong> Palmela e como ponto <strong>de</strong> chegada o Castelo <strong>de</strong> Sesimbra.<br />
A activida<strong>de</strong> foi efectuada em dois dias, teve uma distância <strong>de</strong> 34 km, que foram percorridos<br />
em duas fases: 16 km no primeiro dia e 18 km no segundo dia!<br />
O percurso foi sempre muito animado e relembraram-se as marchas feitas por todos<br />
nós, <strong>Fuzileiros</strong>, na EFZ.<br />
Tivemos como ponto <strong>de</strong> paragem e pernoita o Parque <strong>de</strong> Campismo dos Picheleiros no<br />
sopé da Serra da Arrábida.<br />
A noite foi memorável, aquecida ao lume <strong>de</strong> uma fogueira e guarnecida <strong>de</strong> uma saudável<br />
“ração <strong>de</strong> combate”.<br />
Já a noite ia longa, quando os participantes recolheram às tendas para o <strong>de</strong>scanso<br />
necessário, para se encarar a jornada final.<br />
Por trilhos e vales, sempre acompanhados da beleza natural da nossa Serra concluiu-<br />
-se mais uma activida<strong>de</strong> em plena Natureza.<br />
Apesar do reduzido número <strong>de</strong> participantes, ficou-nos a esperança <strong>de</strong> que em 2013<br />
os mesmos estarão presentes para guiarem novos aventureiros.<br />
34 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
Campeonato Regional Sul Pistola Livre a 50 m<br />
Taça ARTS<br />
em Carabina <strong>de</strong> Cano Articulado<br />
Disputada em quatro provas, realizadas durante o ano <strong>de</strong><br />
2012, a Taça <strong>Associação</strong> Regional <strong>de</strong> Tiro do Sul (ARTS)<br />
<strong>de</strong>correu em vários locais da zona sul do País, tendo sido a<br />
última prova realizada em Évora!<br />
divisões<br />
Durante o ano <strong>de</strong> 2012 realizaram-se cinco provas para o Troféu “Fe<strong>de</strong>ração Portuguesa<br />
<strong>de</strong> Tiro” – Pistola <strong>de</strong> Recreio a 25m. Contando para a classificação final<br />
as três melhores provas das cinco realizadas, a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> obteve,<br />
no passado dia 09 <strong>de</strong> Dezembro, o 3.º lugar em Equipas, sendo o prémio recebido pelo<br />
Chefe <strong>de</strong> Divisão, Espada Pereira.<br />
O empenho <strong>de</strong> todos os atletas que constituíram as equipas foi fundamental para a<br />
obtenção <strong>de</strong>ste galardão que, como sempre é <strong>de</strong> todos nós mas, principalmente, dos<br />
atletas que <strong>de</strong>ram o seu melhor para que a AFZ visse, mais uma vez o seu nome subir<br />
ao pódio. Citam-se os nossos atletas, como é <strong>de</strong> toda a justiça: João Pereira, João Luz,<br />
António Ramos, Miguel Correia, Paulo Samuel, Comt Semedo <strong>de</strong> Matos e Henrique Matos.<br />
2013 será <strong>de</strong> progresso.<br />
Esta prova, realizada a 20 <strong>de</strong><br />
Outubro, a <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
obteve 2.º lugar em<br />
equipas, sendo o prémio recebido<br />
pelo Chefe <strong>de</strong> Divisão, Espada<br />
Pereira, na cerimónia <strong>de</strong><br />
entrega <strong>de</strong> prémios organizada<br />
pela ARTS, cerimónia que teve<br />
lugar na ARDBA, no Montijo.<br />
O empenho e <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> todos os atletas que integraram as<br />
equipas, foi fundamental para a obtenção <strong>de</strong>ste galardão que é<br />
<strong>de</strong> todos nós mas, acima <strong>de</strong> tudo, dos atletas que tornaram este<br />
objectivo possível.<br />
Foram os seguintes os nossos atletas: Manuel Luís, Miguel Luís,<br />
Jorge Nunes e Luís Pieda<strong>de</strong>.<br />
Parabéns a todos.<br />
Troféu Fe<strong>de</strong>ração Portuguesa <strong>de</strong> Tiro<br />
com Pistola <strong>de</strong> Recreio a 25 m<br />
Nesta modalida<strong>de</strong>, com um nível<br />
competitivo muito elevado, face à<br />
distância, conquistou o 1.º lugar<br />
o nosso atleta Rui Rodrigues, em HS 2,<br />
com 484 pontos.<br />
Os nossos parabéns, acima <strong>de</strong> tudo por<br />
ter sido o Atleta que mais representou a<br />
<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, durante 2012,<br />
com um total <strong>de</strong> 20 competições realizadas!<br />
Saudações e parabéns ao Rui Rodrigues.<br />
Textos do espaço “Divisões” da autoria <strong>de</strong> Espada Pereira – Chefe da Divisão das Activida<strong>de</strong>s Lúdicas e Desportivas<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 35
crónicas<br />
Breves estórias da Guiné<br />
Torrão (1964), Porto (1965) e Sedas (1964) - Esquadra “BRAVO”<br />
A<br />
minha esquadra, em meados <strong>de</strong> 1968, fez uma pequena<br />
paragem para assentar i<strong>de</strong>ias, pois estávamos numa zona<br />
no norte da Guiné, on<strong>de</strong> dominava o famoso Grupo do Nino<br />
Vieira, que mais tar<strong>de</strong> viria a ser o Presi<strong>de</strong>nte da Guiné Bissau.<br />
Nesta zona fazíamos quase sempre os <strong>de</strong>sembarques entre as 2 e<br />
as 4 horas da manhã. O tarrafo era muito <strong>de</strong>nso e nós <strong>de</strong>veríamos<br />
chegar à orla da mata antes do dia nascer.<br />
Esta zona Chamava-se Tancroal perto <strong>de</strong> Canjája, on<strong>de</strong> o Grupo<br />
do Nino mais actuava.<br />
Nesse dia o inimigo não nos <strong>de</strong>u <strong>de</strong>scanso. Foi um dia muito “preenchido”<br />
em relação às outras operações já que - apesar <strong>de</strong> se<br />
caracterizarem quase sempre por contactos e emboscadas – esta<br />
teve <strong>de</strong> tudo. Além <strong>de</strong> contactos consecutivos <strong>de</strong> fogo tivemos<br />
que ser reabastecidos por duas vezes <strong>de</strong> munições, coisa que era<br />
impensável numa operação normal. Mas felizmente saímo-nos<br />
bem, apesar <strong>de</strong> um camarada ferido por duas vezes(!), “o Amália”<br />
(era a sua alcunha) que, mesmo ferido não quis ser evacuado,<br />
pois aten<strong>de</strong>ndo à situação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> pressão ele preferiu estar<br />
com o Destacamento (Gran<strong>de</strong> Fuzileiro!). Felizmente os ferimentos<br />
foram ligeiros.<br />
Teremos que agra<strong>de</strong>cer os bons serviços da Força Aérea pela<br />
prontidão das respostas aos pedidos <strong>de</strong> intervenção do nosso<br />
Manuel Ramos<br />
Destacamento para reabastecimento <strong>de</strong> munições e comida…<br />
Entretanto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todo um dia cheio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s (<strong>de</strong> que hoje<br />
tenho sauda<strong>de</strong>s!) lá conseguimos chegar ao tão <strong>de</strong>sejado ponto<br />
<strong>de</strong> reembarque.<br />
Este foi mais um dia menos bom mas, no essencial igual a tantos<br />
outros menos bons valendo-nos, sempre, o apoio da nossa “família”<br />
<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>.<br />
As patrulhas que fazíamos, no Rio Cacheu eram quase sempre<br />
em zonas perigosas:<br />
Era frequente que, <strong>de</strong> vez em quando e quando mais era necessário,<br />
fazermos Patrulhas em botes <strong>de</strong> Borracha.<br />
E na zona mais perigosa por on<strong>de</strong> os Botes e Lanchas (LDM)<br />
quase sempre eram atacados, o IN até tinha a ousadia <strong>de</strong> atacar<br />
os navios-patrulha (“Sagitário, “Lira”, “Hidra” ou “Cassiopeia”)<br />
protegido por abrigos subterrâneos nessa tal “Clareira” do Rio<br />
Cacheu e na zona do Tancroal, a caminho <strong>de</strong> Binta/Farim.<br />
Conforme estas fotos documentam tivemos que utilizar táticas<br />
com gran<strong>de</strong> imaginação. Antes <strong>de</strong> chegar à “maldita Clareira”,<br />
on<strong>de</strong> era suposto o In estar quase sempre à nossa espera, os dois<br />
ou três botes das patrulhas, encostavam-se à margem opostas<br />
e começavam a fazer fogo, <strong>de</strong> cobertura, com a nossa “amiga e<br />
famosa” MG42; varrendo a margem toda, permitindo-nos assim<br />
passar, os restantes botes, sem problemas.<br />
Nós, DFE 12, felizmente, não tivemos graves problemas.<br />
Fomos vivendo com “este problema”…<br />
Porém, mais tar<strong>de</strong>, na minha segunda comissão, que fiz também<br />
na Guiné, no DFE 13 - 1971/1972, houve, que me lembre, botes<br />
<strong>de</strong> Camaradas nossos que foram atacados, houvendo duas baixas<br />
mortais.<br />
Era assim a Guiné-Bissau dos nossos tempos. Desejaria que hoje,<br />
por lá, não fosse tão mau. Contudo, não me parece…<br />
Manuel Ramos (“O Porto”)<br />
MAR. FZE. n.º 1205/65<br />
Sóc. Orig. n.º 90<br />
Patrulhas no rio Cacheu Em primeiro plano, Torrão e Porto a caminho do reembarque (rio Cacheu)<br />
36 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
Marques Pinto<br />
É<br />
esta a quarta crónica que dou à estampa na revista “O Desembarque”.<br />
E por isso, para que se não perca o fio da narrativa,<br />
aconselho a consulta das edições números 12, 13 e<br />
14. Tratando-se <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong> uma longa história, só assim se<br />
po<strong>de</strong>rá acompanhar o drama que centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> portugueses<br />
e angolanos ou <strong>de</strong> angolanos portugueses viveram, na<br />
nossa <strong>de</strong>scolonização “exemplar”.<br />
Iniciadas estas “Crónicas <strong>de</strong> Outros Tempos” na edição n.º 12 da<br />
nossa revista (<strong>de</strong> páginas 17 a 20) aí escrevi para os sócios, familiares<br />
e amigos da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e para todos quantos nos<br />
queiram ler, as “Primeiras Palavras”; procurei fazer o respectivo<br />
“Enquadramento” e explicar, para os muitos que a não conheceram,<br />
o que foi a Ponte Aérea <strong>de</strong> Nova Lisboa (Huambo) /Lisboa,<br />
nessa “Cida<strong>de</strong> Acampamento” do Planalto Central <strong>de</strong> Angola que,<br />
<strong>de</strong> Junho a Outubro <strong>de</strong> 1975, se viu cercada <strong>de</strong> guerra e para<br />
on<strong>de</strong> convergiram, fugindo aos tiros, muitas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> pessoas, transformando a segunda maior cida<strong>de</strong> daquele território<br />
então português, num verda<strong>de</strong>iro caos.<br />
Tentei também transmitir aos nossos leitores o que foi uma Ponte<br />
Aérea (segundo já se disse, a maior ponte aérea civil do Mundo)<br />
com origem numa cida<strong>de</strong> que já não tinha aviões comerciais, está<br />
a cerca <strong>de</strong> 300 quilómetros do mar, e que duplicou a sua população,<br />
sendo que os últimos a chegar tiveram <strong>de</strong> ser alojados<br />
nas instalações da Feira <strong>de</strong> Nova Lisboa e, <strong>de</strong>signadamente, em<br />
pavilhões <strong>de</strong> gado.<br />
Tentei também explicar quais são os problemas <strong>de</strong> uma ponte<br />
aérea e, particularmente <strong>de</strong>sta, sobretudo, o seu principal drama:<br />
“Quem vai primeiro? As mulheres que, eventualmente com<br />
as crianças, estão mais fragilizadas? Os velhos e os doentes? Os<br />
jovens com mais esperança <strong>de</strong> vida? E os homens ficam para o<br />
fim? E as famílias? Separam-se? E se não há aviões para todos?<br />
E os política e militarmente ameaçados <strong>de</strong> morte (pelos Movimentos<br />
<strong>de</strong> Libertação que controlavam pelas armas o terreno)<br />
mesmo sendo pretos angolanos, <strong>de</strong>ixam-se morrer, já que não há<br />
po<strong>de</strong>r que os proteja? E as famílias extensas, multirraciais e multinacionais?<br />
Separam-se? Ficam os pretos e os <strong>de</strong> pele escura<br />
e vão, apenas, os brancos? Quem são os nacionais portugueses<br />
que têm o direito a ser repatriados? Só os brancos? Ou também<br />
os pretos e mestiços que nasceram sob a Ban<strong>de</strong>ira das Quinas?<br />
Então, como será? Vão todos os que quiserem ir? E Portugal suporta?<br />
E quem <strong>de</strong>fine tudo isto, quando o po<strong>de</strong>r está na rua ou<br />
para lá caminha?”<br />
Pois é: tem <strong>de</strong> ser alguém e é seguramente quem está no terreno<br />
e não ao longe, nos gabinetes ainda com ar condicionado.<br />
E quando há dúvidas como no caso <strong>de</strong>sta crónica? Quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />
em última análise?<br />
De facto, o Coor<strong>de</strong>nador, este pobre homem – como dizia um Tio<br />
meu – nascido em Várzea <strong>de</strong> Cavalos, num lugar <strong>de</strong> uma Freguesia<br />
<strong>de</strong> nome Lobão da Beira, do Concelho <strong>de</strong> Ton<strong>de</strong>la, distrito <strong>de</strong><br />
Viseu, que foi escolhido por um Alto-Comissário que nem sequer<br />
o conhecia e, quiçá, o não conheceu e, ironia do <strong>de</strong>stino, por exclusão<br />
<strong>de</strong> partes. Calhou. Foi a dita ou a <strong>de</strong>sdita do fado.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
crónicas<br />
Crónicas <strong>de</strong> Outros Tempos<br />
Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa<br />
Evacuação <strong>de</strong> uma Família Extensa e<br />
Multirracial<br />
Mas que não há ninguém em Portugal que tenha vivido esta experiência,<br />
é verda<strong>de</strong>. E que isso me serviu na vida e nos meus<br />
sucessos profissionais, também é.<br />
Mas então, vamos à história:<br />
À porta das instalações da Comissão Executiva <strong>de</strong> Repatriamento<br />
(CER) da Comissão Nacional <strong>de</strong> Apoio aos Desalojados (CNAD),<br />
instalações cedidas pelo Exército Português do que fora o seu<br />
Distrito <strong>de</strong> Recrutamento e Mobilização <strong>de</strong> Nova Lisboa – estas<br />
siglas <strong>de</strong>stas comissões só tinham expressão real em algumas<br />
cabecinhas <strong>de</strong> Luanda, porque na prática, o que realmente contava<br />
eram as pessoas que voluntariamente se entregaram à organização<br />
<strong>de</strong>sta Ponte Aérea – o Coor<strong>de</strong>nador da CER – este escriba<br />
que procura adaptar o que tem escrito às crónicas da revista “O<br />
Desembarque” – é confrontado com o seguinte quadro:<br />
Um grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>salojados, chamados a embarcar nessa noite (os<br />
aviões aterravam sempre à noite, com ocultação <strong>de</strong> luzes) constituído<br />
por cerca <strong>de</strong> 15 pessoas, discutia com elementos da minha<br />
Comissão <strong>de</strong> voluntários.<br />
Discussão acesa, quase crispada.<br />
Ao passar, pergunto o que se passa. E um dos meus colaboradores<br />
diz-me:<br />
– Estamos na presença, doutor, <strong>de</strong> um problema grave e <strong>de</strong> difícil<br />
solução: esta família tal como se apresenta, não po<strong>de</strong> embarcar.<br />
Quem o dizia era um dos Coor<strong>de</strong>nadores Adjunto a quem o problema<br />
já tinha chegado.<br />
Tratava-se <strong>de</strong> uma família extensa, constituída por um conjunto<br />
<strong>de</strong> pessoas tal que, alguns dos seus membros, não teriam direito<br />
a “retornar” a Portugal por serem negros e sem qualquer ligação<br />
a Portugal.<br />
Eram estas as “regras” mais ou menos instituídas por Luanda – na<br />
circunstância ninguém sabia, concretamente, quem as instituía e<br />
com que critérios, para não se falar já <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> – para<br />
evitar que, no calor dos recontros armados, entre os movimentos<br />
ditos <strong>de</strong> libertação <strong>de</strong> Angola (MPLA, FNLA e UNITA) os naturais<br />
Foto actual <strong>de</strong> José Luís Pinto (retornado então evacuado pela ponte aérea) e filho<br />
37
crónicas<br />
não brancos viessem em massa para Portugal, ocupando lugares<br />
nos aviões cujo número e respectivos voos, também ninguém<br />
sabia se seriam suficientes para quantos, portugueses e naturais<br />
<strong>de</strong> Angola, <strong>de</strong> matizes mais ou menos claros, pretendiam fugir da<br />
quase total balcanização daquele território <strong>de</strong> África que ainda<br />
era nosso.<br />
Des<strong>de</strong> logo vislumbro o cenário:<br />
Uma Senhora negra, com bem mais <strong>de</strong> 80 anos, <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>finida,<br />
seguramente muito velha, alta, magríssima, quase pele<br />
e osso, carapinha branca <strong>de</strong> neve. Vestia os seus “quimonos”<br />
(panos escuros e compridos) traçados, no seu corpo esguio e encarquilhado,<br />
quase até aos pés.<br />
A Senhora, com aspecto <strong>de</strong> meio tribalizada, meio aculturada estava<br />
sentada, quase <strong>de</strong> cócoras, num pequeno <strong>de</strong>grau <strong>de</strong> pedra<br />
que dava acesso a uma das portas, com uma mão segurando os<br />
panos entre as pernas, em jeito púdico e a outra, sustentando a<br />
sua cabeça já cansada. O olhar longínquo e in<strong>de</strong>finido visava o<br />
chão.<br />
De vez em quando, levantava os seus olhos velhos e vagos varrendo,<br />
com súbita e inesperada expressão, o seu grupo, a família<br />
que lhe restava, e os outros, os intrusos que discutiam o seu<br />
<strong>de</strong>stino.<br />
Observo o grupo familiar <strong>de</strong> que a velha Senhora era, nitidamente,<br />
a Matriarca: Pretos, casados ou juntos com mestiças claras;<br />
brancos, casados ou juntos com mulatas quase negras; mulatos,<br />
com brancas loiras; brancos com cabritas; jovens <strong>de</strong> 14/15 anos,<br />
rapazes e raparigas, claros e escuros, crianças louras, quase<br />
arianas e outras escuras <strong>de</strong> 7/8 anos. Um espanto!<br />
Aqui tinhamos verda<strong>de</strong>iramente representado um protótipo <strong>de</strong><br />
família multirracial que vinha fugida <strong>de</strong> Malange e que havia integrado<br />
a “Última Coluna <strong>de</strong> Desalojados” (vidé “O Desembarque” n.º 13 –<br />
página 17) com quatro gerações nascidas em Angola que <strong>de</strong> Portugal<br />
conheciam um nome:”o Puto”!<br />
O problema que aqui se gerava era o <strong>de</strong> saber quem autorizava a<br />
evacuação para Portugal daquele “conjunto” à revelia dos “cânones”<br />
e das “regras” que aliás, como já disse, ninguém sabia <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> dimanavam, já que o Po<strong>de</strong>r já estava, nitidamente, na rua.<br />
É que, a lógica era “simples”: Em princípio, quem <strong>de</strong>via fugir e<br />
utilizar os aviões da Ponte Aérea eram os brancos, aqueles que<br />
tinham ido <strong>de</strong> Portugal para Angola e agora retornavam. Era a<br />
lógica do “retorno” <strong>de</strong> um “ilustre” Governo <strong>de</strong> Portugal que, em<br />
Decreto-Lei, <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1975, criara o IARN (Instituto <strong>de</strong> Apoio<br />
ao Retorno <strong>de</strong> Nacionais).<br />
E <strong>de</strong>sta família Angolana – (<strong>de</strong> pretos, cafuzos, mulatos, cabritos,<br />
mestiços <strong>de</strong> todas as tonalida<strong>de</strong>s e até crianças completamente<br />
brancas e loirinhas, todos fugidos a tiro da total balcanização do<br />
Centro/Norte e aqui chegados na esperança <strong>de</strong> que um avião os<br />
levasse para “o Puto”, on<strong>de</strong> não ouvissem mais as gargalhadas<br />
sarcásticas das armas automáticas e o ribombar dos morteiros e<br />
dos canhões sem recuo – que fazer?<br />
A “minha” velha negra com os seus olhos húmidos porque não<br />
tinha mais lágrimas para verter, percebendo, enfim, a dúvida<br />
balbuciou palavras quase ininteligíveis, híbridas <strong>de</strong> português e<br />
quimbundo, com um misto <strong>de</strong> pânico e <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>:<br />
– Olha lá… A velha não fica. A velha não presta. A velha vai fazer<br />
“uafa” (morrer).Mas ainda não. Velha só fazer “uafa” quando<br />
“N’Zambi” mandar. Primeiro, “N’Zambi” mandou para eu tratar<br />
dos meus neto. Velha não é vossa. É dos neto. Não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />
morrer aqui.<br />
38<br />
Encostadita à velha negra, uma criança <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 7 anos (branca,<br />
loira, <strong>de</strong> olhos azuis) chorava soluçando e dizia:<br />
– Se a Avó (seria tetravó?) fica, eu também fico.<br />
A posição do grupo, daquele grupo, <strong>de</strong> coloração <strong>de</strong> pele tão heterogénea,<br />
era a mesma.<br />
Um homem mestiço <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> madura, dos seus 40 anos, vislumbrando<br />
que eu seria “O Chefe”, transmitia-me a posição <strong>de</strong> todos:<br />
– Ou vamos todos ou <strong>de</strong>ixem-nos morrer aqui. Ficámos sem nada.<br />
Tudo o que nos resta é esta parte da família. Os outros morreram<br />
em Malange com a guerra que veio ter connosco e com a qual<br />
nada tínhamos. A nossa Avó é tudo o que nos resta para unir a<br />
família. É a nossa velha sábia que, com o po<strong>de</strong>r do seu “N’Zambi”<br />
nos há-<strong>de</strong> guiar e abençoar a todos.<br />
Havia que <strong>de</strong>cidir e, como noutras circunstâncias ainda mais difíceis<br />
e muito complexas, a <strong>de</strong>cisão era minha:<br />
– Embarcam, todos. No mesmo avião. Hoje. Aqui, a mais <strong>de</strong><br />
350 quilómetros <strong>de</strong> Malange, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terem perdido tudo,<br />
família e haveres, não ficam.<br />
Estou-me borrifando para as normas.<br />
Em Portugal que se arranjem. Não andam, há 500 anos, a dizer-<br />
-lhes que Angola é Portugal?<br />
E lá embarcou aquela família extensa, exemplo <strong>de</strong> Portugal no<br />
Mundo, que as “regras” não permitiam salvar.<br />
Marques Pinto<br />
Sóc. Orig. n.º 221<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
José Cardoso Moniz<br />
CHEGADA A MOÇAMBIQUE<br />
Estávamos em 1967, primeiros dias <strong>de</strong><br />
Novembro. O imponente paquete “Príncipe<br />
Perfeito” atracou no cais comercial <strong>de</strong><br />
Lourenço Marques. Eram cerca das 8h00<br />
dum sábado.<br />
O DFE 4, sob meu comando, fez nele a<br />
viagem para realizar naquela Província <strong>de</strong><br />
Moçambique uma Comissão <strong>de</strong> Serviço.<br />
Logo que atracado, a minha preocupação<br />
foi para a eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> haver alguém<br />
do Comando Naval para nos transmitir<br />
as instruções necessárias. A “guia <strong>de</strong><br />
marcha” especificava que a partir daquele<br />
momento, ficaria na <strong>de</strong>pendência do<br />
Comando Naval.<br />
O tempo foi passando, até que, pela<br />
10h00, estabelecidas as ligações telefónicas,<br />
<strong>de</strong>cidi telefonar para o Oficial <strong>de</strong> Serviço<br />
ao C.N.M., para perguntar se <strong>de</strong>veria<br />
apresentar-me, se mandavam buscar-me,<br />
ou se… outra coisa qualquer.<br />
Estava <strong>de</strong> serviço o Tenente Canto Moniz,<br />
filho do Eng.º responsável pela construção<br />
da ponte sobre o Tejo! Aquela obra,<br />
grandiosa para época, em que não houve<br />
<strong>de</strong>rrapagens orçamentais, nem temporais,<br />
nem… corrupções. Ao tempo tais <strong>de</strong>svios<br />
seriam inadmissíveis!<br />
O Tenente Canto Moniz, que eu não<br />
conhecia, ficou muito admirado por não<br />
saber que havia uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuzileiros<br />
a chegar a Lourenço Marques. Feitas as<br />
apresentações através da re<strong>de</strong>, preveniume<br />
que só na 2.ª feira daria conhecimento<br />
ao Comando da minha chegada! Tinha<br />
instruções para não perturbar ninguém<br />
durante o fim-<strong>de</strong>-semana. Ainda tentei<br />
argumentar, mas não me valeu <strong>de</strong> nada.<br />
A minha dúvida era pertinente. Estava<br />
previsto que o navio largaria 2.ª feira com<br />
<strong>de</strong>stino à Beira! Desembarcar ou seguir<br />
viagem até à Beira? As dúvidas eram<br />
preocupantes. Para mim!<br />
Decidi dar licença ao pessoal até domingo<br />
à noite. Às 21h00 <strong>de</strong> domingo queria toda<br />
a gente a bordo. Toda esta “lenga-lenga”<br />
é para dizer que na 2.ª feira <strong>de</strong> manhã<br />
fui recebido pelo CMG Braga da Silva,<br />
2.º Comte do C.N.M. um homem que me<br />
impressionou pela frontalida<strong>de</strong>, aprumo,<br />
<strong>de</strong>ferência e educação. Na exposição que<br />
fez acerca da guerra que travávamos em<br />
Moçambique, <strong>de</strong>u especial ênfase às minas<br />
e ao Sr. Orlando Cristina, <strong>de</strong> quem eu<br />
nunca ouvira falar.<br />
Sem me querer assustar muito, foi-me<br />
dizendo que o Niassa era conhecido pelo<br />
“estado <strong>de</strong> minas gerais”. Quanto ao Sr.<br />
Orlando Cristina, era uma espécie <strong>de</strong> “Anjo<br />
da Guarda” cujos ensinamentos <strong>de</strong>veríamos<br />
receber e cumprir porque o dito Sr.<br />
conhecia o terreno a passo e as gentes,<br />
(os seus habitantes). Conhecia guerrilheiros<br />
e não guerrilheiros. Falava as línguas<br />
todas do Niassa, Cabo Delgado e Tete.<br />
DA TEORIA À PRÁTICA<br />
Efectivamente <strong>de</strong>sembarcamos na Beira.<br />
O navio regressou a Lisboa trazendo<br />
o DFE 5 que o DFE 4 ren<strong>de</strong>u. Fomos<br />
transportados num “North Atlas” (barriga<br />
d e ginguba) da B e i r a a t é … M e t a n g u l a .<br />
A aterragem foi uma temerida<strong>de</strong>. O avião<br />
ia <strong>de</strong>masiadamente carregado para uma<br />
pista <strong>de</strong> 700 m. Por pouco não fomos<br />
amarar nas águas do Lago!<br />
À nossa espera estavam o Imediato e o<br />
Quartel Mestre do DFE 4 que foram <strong>de</strong><br />
avião para receber os materiais que herdámos<br />
do DFE 5. Fomos recebidos pelo 2.º<br />
Comandante da Base Naval e o Chefe do<br />
Estado-Maior, respectivamente Comtes.<br />
Conceição e Silva e Manuel da Silva (Manecas),<br />
aviador.<br />
Instalámo-nos. Posteriormente conhecemos<br />
o Sr. Orlando Cristina que nos fez<br />
uma exposição muito ligeira do que era<br />
a guerra, chamando a atenção para as<br />
minas. O princípio era o seguinte: on<strong>de</strong><br />
houvesse indícios <strong>de</strong> passagem <strong>de</strong> pessoas,<br />
havia minas. Portanto só podíamos<br />
<strong>de</strong>slocarmo-nos a corta mato. Mostrou<br />
encarar a guerra <strong>de</strong> guerrilha com “<strong>de</strong>sportivismo”,<br />
avisando que <strong>de</strong>víamos evitar<br />
usar as armas. Os prisioneiros faziam-se,<br />
agarrando-os. Era preferível poupar um<br />
criminoso do que matar um inocente. E no<br />
mato havia muita gente que se opunha à<br />
guerra mas era obrigada a apoiar os guerrilheiros.<br />
Com ele fizemos 4 operações. Duas <strong>de</strong> formação/preparação<br />
e mais duas para além<br />
das fronteiras, para capturar elementos da<br />
Frelimo que ele sabia on<strong>de</strong> estavam.<br />
Homem com cerca <strong>de</strong> 1,70 m, menos <strong>de</strong><br />
60 kg, extremamente frugal, fazia uma<br />
crónicas<br />
Orlando <strong>de</strong> Sousa Cristina<br />
Um herói a quem os <strong>Fuzileiros</strong> muito<br />
ficaram a <strong>de</strong>ver em Moçambique<br />
refeição ligeira por dia. Um cantil com<br />
1 litro <strong>de</strong> água dava-lhe para três dias.<br />
Falava muito pouco, fumava muitíssimo.<br />
Conhecia o mato como as suas mãos. Sabia<br />
on<strong>de</strong> havia poças <strong>de</strong> água. Por vezes<br />
as poças tinham secado. Sempre bem<br />
disposto, sem gran<strong>de</strong>s manifestações.<br />
Preparou-nos e mentalizou-nos para fazermos<br />
a guerra com o mínimo <strong>de</strong> tiros.<br />
Deslocava-se no mato como os felí<strong>de</strong>os,<br />
sem <strong>de</strong>ixar sinais. O capim continuava<br />
direito <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le passar. Sabia ler os sinais<br />
<strong>de</strong>ixados no terreno com minúcia e<br />
exactidão. Era frequente dizer-nos: “passaram<br />
aqui dois indivíduos há menos <strong>de</strong><br />
uma hora. Um vai armado e o outro não”.<br />
Deslocava-se com a cabeça bem levantada.<br />
Os olhos e os ouvidos eram as suas<br />
sentinelas permanentes.<br />
Orlando Cristina em 1970<br />
QUEM ERA ORLANDO CRISTINA<br />
Nasceu em Lagos, Algarve, em finais<br />
<strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1928. Como era balança,<br />
nasceu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 23. Os pais viviam<br />
separados. Ele ficou com a mãe e o pai<br />
estabeleceu-se em Vila Cabral, no Niassa,<br />
com um negócio que tinha por objectivo<br />
satisfazer as necessida<strong>de</strong>s primárias das<br />
populações.<br />
Sempre muito in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte mas trabalhador,<br />
fez a primária e o liceu sem dificulda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> maior. A circunstância <strong>de</strong> a mãe<br />
lhe ter dado um padrasto, não lhe causou<br />
gran<strong>de</strong> transtorno.<br />
Acabando o liceu em 1946, fez o exame<br />
<strong>de</strong> admissão a direito em Lisboa, sendo<br />
admitido. Foi um estudante “suficiente”.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 39
crónicas<br />
Estudava o necessário para passar… e foi<br />
passando.<br />
Em 1949/50 <strong>de</strong>ixou-se envolver na campanha<br />
eleitoral <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos,<br />
apoiando-o em manifestações <strong>de</strong> rua e<br />
em distribuição <strong>de</strong> panfletos. Consequentemente,<br />
a polícia política andava com ele<br />
<strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> olho.<br />
Para evitar que fosse preso a mãe fê-lo<br />
ir viver com o pai. No Niassa, com 21/22<br />
anos, empenhou-se nos negócios do pai,<br />
abatendo caça grossa que, partida em peças<br />
e seca, era transportada e vendida em<br />
Quelimane. O Orlando encarregava-se do<br />
transporte. Não tinha falta <strong>de</strong> dinheiro. Em<br />
pouco tempo transformou-se num exímio<br />
caçador <strong>de</strong> elefantes, búfalos, rinoceronte,<br />
hipopótamos, etc. Vários historiadores<br />
<strong>de</strong>screveram as suas façanhas, sobretudo<br />
a provocação que causava nos elefantes,<br />
para os obrigar a separarem-se e matar<br />
com um único tiro aquele que lhe parecia<br />
ter maiores presas.<br />
De todas as activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas<br />
pelo Orlando Cristina, nenhuma lhe dava<br />
tanto prazer como o convívio com os habitantes,<br />
usando <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>, dando<br />
presentes e lembranças que sabia os seduziam.<br />
Rapidamente apren<strong>de</strong>u as línguas <strong>de</strong> cada<br />
povo. Ajaua, Nianja, Macon<strong>de</strong>, Swali, Macua,<br />
etc., dizia que eram todas iguais. Falava<br />
com todos e cumprimentava, segundo<br />
a tradição, com as duas mãos juntas, à<br />
boa maneira dos povos do Lago.<br />
Os sobas e parentes adoravam-no. Sobretudo<br />
as filhas!... As “bajudas”, como se<br />
diria na Guiné! Perdiam-se <strong>de</strong> amores pelo<br />
caçador <strong>de</strong> elefantes e… <strong>de</strong> paixões.<br />
AO SERVIÇO DO EXÉRCITO<br />
O cumprimento do serviço militar obrigatório<br />
foi um imperativo a que não se furtou.<br />
Orlando Cristina com a Renamo, na Gorongosa<br />
Cumpriu cerca <strong>de</strong> três anos e meio, três<br />
dos quais como alferes. Acabado o tempo<br />
obrigatório, foi aliciado para continuar,<br />
com o posto <strong>de</strong> tenente. O Exército quis<br />
aproveitar os seus dotes linguísticos e <strong>de</strong><br />
relações públicas para dinamizar um serviço<br />
<strong>de</strong> informações militares que se tornava<br />
imprescindível.<br />
Era manifesta a agitação popular <strong>de</strong>corrente<br />
dos graves inci<strong>de</strong>ntes ocorridos no<br />
planalto dos macondas, on<strong>de</strong> o governador,<br />
Comandante Teixeira da Silva, correu<br />
o risco <strong>de</strong> ser linchado. O que foi evitado<br />
com a intervenção do responsável Tito Lívio<br />
Xavier, comandante dos Voluntários <strong>de</strong><br />
Defesa Civil.<br />
O Exército cedo se apercebera que haveria<br />
um aproveitamento do <strong>de</strong>scontentamento<br />
popular. Por outro lado, como toda a gente<br />
sabia, na cida<strong>de</strong> da Beira havia um núcleo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratas que pretendia libertar-se<br />
da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Lisboa.<br />
Durante largos anos não chegaram a<br />
acordo quanto ao que pretendiam. Havia<br />
a facção do Jorge Jardim, que pretendia<br />
a in<strong>de</strong>pendência mantendo as estruturas<br />
raciais e económicas equilibradas. Os da<br />
linha dura, apoiados pela URSS, queriam<br />
a in<strong>de</strong>pendência plena, sem brancos. Uma<br />
terceira facção, pretendia uma ligação<br />
à Rodésia <strong>de</strong> Ian Smith e à África do Sul<br />
on<strong>de</strong> vigorava o “apartheid”.<br />
Eduardo Mondlane mantinha-se informado<br />
<strong>de</strong> todos estes movimentos pelo que<br />
<strong>de</strong>cidiu radicar-se em Dar-es-Salaam, capital<br />
da Tanzânia, em finais da década <strong>de</strong><br />
50, princípios da <strong>de</strong> 60. A partir <strong>de</strong> então<br />
começou a mobilizar os seus seguidores,<br />
com o objectivo <strong>de</strong> exigir a in<strong>de</strong>pendência<br />
<strong>de</strong> Moçambique.<br />
DESERÇÃO DE ORLANDO CRISTINA<br />
Jorge Jardim era um “gentleman”. Um diplomata<br />
<strong>de</strong> refinadíssimo trato. Mantinha<br />
as melhores relações com os presi<strong>de</strong>ntes<br />
Hasting Banda (Malawi), Keneth Kaunda<br />
(Zâmbia), Július Nierére (Tanzânia) e Ian<br />
Smith (Rodésia). Foi administrador-<strong>de</strong>legado<br />
da Lusalite, posição que manteve até<br />
Dezembro <strong>de</strong> 1973. <strong>Mais</strong> tar<strong>de</strong>, passou a<br />
representar outros interesses, nomeadamente<br />
o gran<strong>de</strong> magnata dos petróleos,<br />
Boullosa.<br />
Dispunha duma refinaria, a Sonarepe, e<br />
uma distribuidora, a Sonap Moçambique<br />
que fornecia produtos para todos os países<br />
limítrofes. Era seu Director Comercial<br />
o Sr. António Rocheta.<br />
Ao saber da presença <strong>de</strong> Eduardo Mondlane<br />
na Tanzânia, logo Jorge Jardim arquitectou<br />
um esquema para infiltrar alguém<br />
na organização e acompanhar a evolução<br />
dos progressos que se adivinhava vir a ter.<br />
A pessoa seleccionada foi Orlando Cristina<br />
que estava ao serviço do Exército.<br />
Depois <strong>de</strong> aturadas negociações secretas<br />
com as altas esferas do Exército, foi proposto<br />
ao Orlando Cristina a sua <strong>de</strong>serção,<br />
passando a ter a categoria <strong>de</strong> Inspector<br />
– Ven<strong>de</strong>dor da Sonap, com vencimentos<br />
líquidados mensalmente pelo director comercial.<br />
Ficou com o número 209.<br />
António Rocheta, chefe do Cristina na Sonap Moçambique<br />
Assim se consumou a <strong>de</strong>serção <strong>de</strong> Orlando<br />
Cristina, criando-se o boato da sua simpatia<br />
pelo Partido Comunista Português.<br />
Esquema semelhante foi usado com frequência.<br />
O exemplo mais conhecido é a<br />
saída do 2.º Tenente Manuel Agrellos, Comandante<br />
da lancha “Mercúrio”, e seus<br />
companheiros no Lago Niassa, passando a<br />
comandar a lancha “John Chilombwe” (ex-<br />
-“Castor”), ao serviço do Malawi. Mesmo<br />
em operações <strong>de</strong> duração muito limitada,<br />
4/5 dias, que se <strong>de</strong>senrolaram para lá das<br />
fronteiras, era usado este estratagema.<br />
40 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
As informações provenientes <strong>de</strong> Orlando<br />
Cristina eram assustadoras ou mesmo<br />
aterradoras. Eduardo Mondlane <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> ter controle na organização que veio a<br />
chamar-se Frelimo, quando os estalinistas<br />
Samora Machel e Marcelino dos Santos<br />
assumiram a chefia, contra tudo e contra<br />
todos. As cabeças <strong>de</strong> Mondlane e Uria Simango<br />
iriam rolar, porque eram pessoas<br />
mo<strong>de</strong>radas, civilizadas. Como é sabido,<br />
Eduardo Mondlane era casado com uma<br />
norte-americana e Uria Timóteo Simango,<br />
pastor evangélico, era casado com<br />
uma senhora muito respeitada <strong>de</strong> nome<br />
Celina. Esta situação <strong>de</strong> serem os presi<strong>de</strong>nte<br />
e vice-presi<strong>de</strong>nte da Frelimo, era<br />
inaceitável na URSS!! Consequentemente<br />
exigiram aos seus peões que os <strong>de</strong>pusessem<br />
e se livrassem <strong>de</strong>les. O Eduardo<br />
foi morto, porque os enfrentou. O Uria foi<br />
poupado para não haver conflitos com os<br />
seus seguidores religiosos. Logo a seguir<br />
ao 25 <strong>de</strong> Abril foi assassinado, bem como<br />
a Joana Simeão, o Gwambe e o Gwengere.<br />
O Lázaro Kawandame, regressado do<br />
Egipto, on<strong>de</strong> estava refugiado, para organizar<br />
um partido concorrente às eleições,<br />
também foi assassinado. O seu regresso<br />
tinha sido autorizado! Já <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1980<br />
foi assassinada a pobre Celina!... Como<br />
bem disse o Marcelino dos Santos, era<br />
necessário livrarem-se das oposições ao<br />
programa da Ferlimo.<br />
No meio da confusão o Orlando Cristina<br />
conseguiu pôr-se a salvo.<br />
REGRESSO DE ORLANDO CRISTINA<br />
Continuemos a história <strong>de</strong>ste homem<br />
impar, ao nível dos nossos heróis Alpoim<br />
Calvão, Rebordão <strong>de</strong> Brito, Teixeira, Jaime<br />
Neves e tantos outros.<br />
Como entretanto as chefias militares em<br />
Moçambique haviam mudado, o Orlando<br />
foi preso e acusado <strong>de</strong> <strong>de</strong>serção. As<br />
chefias <strong>de</strong>sconheciam as negociações<br />
que levaram a esta <strong>de</strong>cisão patriótica. Foi<br />
precisa a intervenção <strong>de</strong> Jorge Jardim e<br />
da Direcção Geral <strong>de</strong> Segurança para se<br />
Eng.º Jorge Jardim, patrão do Orlando<br />
esclarecer a situação. Daí dizer-se que<br />
pertenceu à PIDE, o que não tem o mínimo<br />
fundamento.<br />
Entre 1965 e 1974 Orlando Cristina às<br />
or<strong>de</strong>ns do Eng.º Jorge Jardim, <strong>de</strong>u instrução<br />
às Forças Armadas Portuguesas e<br />
aos grupos especiais constituídos por ex-<br />
-prisioneiros e voluntários. Foi neste período<br />
que os Destacamentos <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Especiais pu<strong>de</strong>ram usufruir e aproveitar os<br />
seus ensinamentos para melhor <strong>de</strong>sempenharem<br />
as suas funções.<br />
PÓS 25 DE ABRIL<br />
Após o 25 <strong>de</strong> Abril, o nosso homem, conhecendo<br />
bem as populações do norte <strong>de</strong><br />
Moçambique e sabendo da simpatia que<br />
gerava entre todos, convenceu-se que<br />
bastaria a sua palavra para recuperar a<br />
confiança das populações, convencendo-<br />
-as a voltar as costas à Frelimo.<br />
Com um grupo <strong>de</strong> pequenos fazen<strong>de</strong>iros<br />
atravessou a fronteira para a Rodésia.<br />
Fundaram uma emissora que dia e noite,<br />
transmitia músicas que sabiam ser do<br />
agrado das populações, a par <strong>de</strong> as instigar<br />
a revoltarem-se contra os déspotas<br />
da Frelimo. Essa emissora era ouvida em<br />
todo o Moçambique e chamava-se “Moçambique<br />
Livre”.<br />
Entretanto, a triunfante Frelimo, a quem<br />
foi entregue o po<strong>de</strong>r pelos <strong>de</strong>mocratas <strong>de</strong><br />
Lisboa, criou um campo <strong>de</strong> concentração<br />
ou reeducação na Gorongosa, em Cudzo<br />
ou Secudzo. Para este campo eram remetidos<br />
todos aqueles que não davam garantias<br />
<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>.<br />
É do conhecimento geral que a Gorongosa<br />
é uma região <strong>de</strong> leões, leopardos e hienas.<br />
Teoricamente os animais selvagens<br />
seriam impeditivos <strong>de</strong> que os prisioneiros<br />
fugissem. Contudo aconteceu que um<br />
belo dia um jovem <strong>de</strong> nome Matsangaíce,<br />
acompanhado <strong>de</strong> um número pouco numeroso,<br />
fugiu da Gorongosa e atravessou<br />
a fronteira da Rodésia. Foi dialogar com<br />
o Orlando Cristina e convencê-lo que a<br />
palavra tinha algum efeito mas era fundamental<br />
iniciarem a luta armada. Relutantemente,<br />
Orlando Cristina acabou por<br />
aceitar as teses <strong>de</strong> Matsangaíce.<br />
Este regressou a Moçambique e remetido<br />
para o Cudzo don<strong>de</strong> havia fugido. Começou<br />
então a mobilizar prisioneiros para pegarem<br />
em armas. Assim nasceu a Renamo.<br />
Primeiro a Rodésia e posteriormente<br />
a África do Sul começaram a apoiar estes<br />
revoltosos. Cristina que ficara impressionado<br />
com o carácter <strong>de</strong>ste bravo, <strong>de</strong>cidiu<br />
alterar o nome da emissora, chamando-<br />
-lhe agora “Resistência Nacional Moçambicana”.<br />
crónicas<br />
Inge Preis, sua protectora em Maputo<br />
Matsangaíce era muito inexperiente. Com<br />
os homens que dispunha tentou fazer um<br />
“golpe <strong>de</strong> mão” aos guardas do campo do<br />
Cudzo. Saiu-se mal e foi novamente preso.<br />
Fugiu mais uma vez e voltou à Rodésia.<br />
Agora regressou com homens batidos,<br />
experientes na “Arte da Guerra”. Desta<br />
vez o “golpe <strong>de</strong> mão” foi um sucesso. Libertados<br />
e armados os prisioneiros com<br />
espingardas na posse dos guardas, começaram<br />
a luta armada. Foi nomeado Secretário-Geral<br />
da Renamo o Orlando Cristina.<br />
Sendo branco manter-se-ia à frente dos<br />
militares até encontrarem africanos que<br />
o substituíssem. Como é evi<strong>de</strong>nte não se<br />
sentia muito seguro. Exigiu uma Assembleia<br />
Popular <strong>de</strong> que resultou continuar<br />
Secretário-Geral da Renamo e eleito Presi<strong>de</strong>nte<br />
o Afonso DhlaKama, <strong>de</strong>corrente da<br />
morte em combate <strong>de</strong> Matsangaíce.<br />
Os sul-africanos pretendiam que o Presi<strong>de</strong>nte<br />
fosse Domingos Arouca. Um intelectual<br />
com imenso prestígio <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong><br />
Moçambique, culturalmente muito superior<br />
aos <strong>de</strong>mais.<br />
Prevaleceu o sentido <strong>de</strong> que Domingos<br />
Arouca nunca <strong>de</strong>ra a cara. Que não seria<br />
justo afastar DhlaKama para entregar a<br />
presidência ao Domingos Arouca.<br />
Calcula-se que a luta entre a Renamo e<br />
a Frelimo tenha causado 1.000.000 (um<br />
milhão) <strong>de</strong> vítimas!<br />
Coisa pouca para os <strong>de</strong>mocratas portugueses<br />
ao serviço da URSS.<br />
Durante o conflito o Orlando Cristina <strong>de</strong>slocou-se<br />
a Lourenço Marques diversas<br />
vezes. Ficava aboletado em casa <strong>de</strong> uma<br />
senhora alemã, a Inge Preis. Deslocava-se<br />
nas viaturas da Frelimo a troco dumas cervejas<br />
ou maços <strong>de</strong> tabaco. Andava sempre<br />
“municiado”.<br />
A Inge Preis, realizadora <strong>de</strong> audiovisuais,<br />
ficou até bastante <strong>de</strong>pois da in<strong>de</strong>pendência.<br />
Por curiosida<strong>de</strong> junta-se uma foto<br />
<strong>de</strong>la, tirada há três anos em Cascais.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 41
crónicas<br />
Era com as roupas do marido, 1,90 m, que<br />
o Cristina viajara para a Europa ou para as<br />
USA em representação da Renamo.<br />
ERRO FATAL<br />
No <strong>de</strong>correr da luta armada <strong>de</strong>sertou da<br />
Frelimo para a Renamo o piloto-aviador,<br />
Adriano Bomba. Esta <strong>de</strong>serção foi preparada<br />
por seu irmão Boaventura Bomba<br />
ligado aos Serviços Secretos da África do<br />
Sul.<br />
Dhlakama <strong>de</strong>sconfiava da àfrica do Sul,<br />
sobretudo da pressão que exercia para<br />
que os Bomba tivessem mais notorieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro da Renamo. Os dirigentes sul-<br />
-africanos pretendiam que ambos fossem<br />
nomeados “comissários políticos” e integrados<br />
nos quadros da Renamo.<br />
cartas ao director<br />
O Afonso Dhlakama con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>u por<br />
pressão <strong>de</strong> Orlando Cristina. Segundo o<br />
Historiador João Cabrita, foi o seu Erro<br />
Fatal.<br />
Boaventura Bomba assassinou o Orlando<br />
Cristina, na casa <strong>de</strong>ste, arredores <strong>de</strong><br />
Pretónia, em 17 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1983. Ainda<br />
correram boatos que o Orlando fora abatido<br />
pela companheira também pertencente<br />
aos Serviços Secretos da Africa do Sul.<br />
Os mesmos Serviços Secretos julgaram o<br />
Boaventura Bomba e os quatro cúmplices<br />
con<strong>de</strong>naram-nos à morte. Foram executados<br />
no Sudoeste africano e lançados ao<br />
mar a partir dum helicóptero.<br />
Ao tempo era adido militar na África do Sul<br />
o Coronel Fernando Ramos. Viveu <strong>de</strong> perto<br />
toda esta tragédia e o seu testemunho não<br />
A história <strong>de</strong> um Fuzileiro e da<br />
sua namorada Fernanda<br />
(1961 e 1965)<br />
Tudo começou no princípio do ano<br />
<strong>de</strong> 1961, quando rebentou a guerra<br />
nas nossas colónias. Eu, Augusto<br />
Beja, com 20 anos, e a minha namorada<br />
Fernanda com 17 anos tivémos <strong>de</strong> nos<br />
separar, em boa parte, <strong>de</strong>vido à Guerra do<br />
Ultramar.<br />
A Fernanda, em Fevereiro <strong>de</strong> 1961, partiu<br />
para Orléans-França, on<strong>de</strong> era esperada<br />
por seu pai, emigrante instalado nesta<br />
cida<strong>de</strong> e eu, como não quis arriscar, fiquei.<br />
Na verda<strong>de</strong>, logo compreendi que só tinha<br />
duas soluções: apresentar-me ao serviço<br />
militar conforme a convocação que me<br />
tinha sido enviada, ou então fugir do meu<br />
país como muitos fizeram. Foi bastante<br />
difícil a escolha mas, finalmente, acabei<br />
por me apresentar no quartel em Vila<br />
Franca <strong>de</strong> Xira para cumprir o meu serviço<br />
militar, em Março <strong>de</strong> 1961.<br />
Acontece que, com a <strong>de</strong>cisão que tomei<br />
<strong>de</strong> servir o meu país, a situação ficou a<br />
partir daí um pouco complicada, para mim<br />
e para a Fernanda já que, em Junho <strong>de</strong><br />
1963 tive que embarcar para Angola, o<br />
que nos veio provocar uma terrível separação<br />
<strong>de</strong> 4 anos.<br />
Exm.º Senhor Director, permita-me que, <strong>de</strong> França, lhes conte:<br />
Posso afirmar que foi preciso muita vonta<strong>de</strong><br />
mas, finalmente, quando acabei o meu<br />
serviço militar, em Maio <strong>de</strong> 1965 fiquei<br />
<strong>de</strong> braços abertos à espera do Domingo<br />
(8 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1965) data por nós marcada<br />
para aquele tão <strong>de</strong>sejado dia, o dia<br />
do nosso casamento. Foi o dia mais feliz<br />
da minha vida mas, infelizmente, 15 dias<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casados tivemos mais uma vez<br />
<strong>de</strong> nos separar.<br />
Acontece que me recusaram o passaporte<br />
turístico <strong>de</strong>vido à minha situação <strong>de</strong><br />
reservista e, assim me impediram <strong>de</strong><br />
acompanhar minha esposa até Orléans.<br />
Foi uma injustiça muita dura <strong>de</strong> aceitar,<br />
a tal ponto que, mais tar<strong>de</strong> tentei chegar<br />
Orléans clan<strong>de</strong>stinamente mas, “o salto”<br />
correu muito mal. Fui apanhado pela<br />
polícia espanhola <strong>de</strong>ntro do comboio na<br />
fronteira <strong>de</strong> Irum.<br />
Foram um calvário aqueles 44 dias que<br />
passei <strong>de</strong> prisão em prisão repartidos<br />
entre Irum, Vitória, Burgos, Valladoli<strong>de</strong> e<br />
Salamanca, até chegar à nossa fronteira<br />
<strong>de</strong> Vilar Formoso.<br />
Foi muito complicado mas enfim, no interrogatório<br />
na nossa fronteira, não tive<br />
<strong>de</strong>ixa dúvidas. O Orlando foi abatido pelo<br />
Boaventura Bomba.<br />
O seu irmão morreu numa emboscada<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Moçambique.<br />
Há uma outra versão: Maquiavélica! Sem<br />
dúvida o Orlando foi assassinado por Boaventura<br />
Bomba mas… a mando das autorida<strong>de</strong>s<br />
sul-africanas. Porquê? Porque<br />
alcançada a paz no Acordo <strong>de</strong> Roma, terminavam<br />
as hostilida<strong>de</strong>s e a necessida<strong>de</strong><br />
dos serviços do Orlando.<br />
Seja como for, paz à sua alma. É um homem<br />
inesquecível.<br />
José Cardoso Moniz<br />
Augusto Beja<br />
Sóc. Orig. n.º 36<br />
Cofundador da AFZ<br />
problemas, isto por duas razões: em primeiro<br />
lugar, por provar que estava a chegar<br />
<strong>de</strong> Angola e com um total <strong>de</strong> quatro<br />
anos <strong>de</strong> presença na Armada mas, sobretudo,<br />
por ter provado que minha esposa<br />
tinha a sua residência em Orléans. Assim,<br />
facilmente me abriram as portas da prisão.<br />
Lá saí da prisão <strong>de</strong> Vilar Formoso mas, por<br />
eu não aceitar esta situação, 15 dias <strong>de</strong>pois<br />
fiz nova tentativa <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> Portugal<br />
e <strong>de</strong>sta vez tudo correu bem. Lá cheguei<br />
a Orléans, no dia 1 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1966,<br />
com toda a família <strong>de</strong> braços no ar, à minha<br />
espera, para me abraçar.<br />
Acredito que, no fundo, fomos recompensados<br />
porque, já lá vão 47 anos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong><br />
com a Fernanda, junto dos nossos<br />
filhos e <strong>de</strong> quatro maravilhosos netos.<br />
Valeu a pena…<br />
Termino dizendo que, para além <strong>de</strong> todo o<br />
mal que nos fizeram, da distância que nos<br />
separa do nosso país temos, e com muita<br />
emoção, Portugal no Coração.<br />
Augusto Beja<br />
Sócio n.º 1687<br />
42 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
O Almoço/Convívio <strong>de</strong> Natal<br />
16 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012<br />
Teve lugar, no passado dia 16 <strong>de</strong> Dezembro, o habitual evento<br />
<strong>de</strong> Natal da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> que este<br />
ano, pela segunda vez, juntou num Almoço/Convívio, cerca<br />
<strong>de</strong> trezentos e quarenta sócios, familiares e amigos da gran<strong>de</strong><br />
“Família dos <strong>Fuzileiros</strong>”, novamente na Quinta da Alegria, em<br />
Penalva, cujas instalações já foram pequenas para acolher tanta<br />
gente, <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m que as mesas tiveram <strong>de</strong> se “apertar”.<br />
A afluência foi tal que chegámos a recear que o gran<strong>de</strong> salão da<br />
“Quinta da Alegria” não fosse suficientemente gran<strong>de</strong> para alojar,<br />
com alguma comodida<strong>de</strong>, tanta “alegria” <strong>de</strong> todos quantos quiseram<br />
estar presentes nesta particular e emotiva manifestação <strong>de</strong><br />
camaradagem e solidarieda<strong>de</strong>. Apesar da crise que Portugal vive,<br />
os nossos sócios compareceram em massa e inundaram <strong>de</strong> emoções,<br />
<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> o espaço e o tempo do nosso<br />
Convívio <strong>de</strong> Natal, transformando alguma menor comodida<strong>de</strong>, no<br />
calor humano que os <strong>Fuzileiros</strong> tão bem transmitir.<br />
almoço <strong>de</strong> natal<br />
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almoço <strong>de</strong> natal<br />
Para o ano que aí vem – se a Providência permitir – a Direcção<br />
e o “Grupo <strong>de</strong> Acção” <strong>de</strong>signado para organizar o evento têm <strong>de</strong><br />
pon<strong>de</strong>rar o que terá sido uma <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> perspectiva, acautelando<br />
instalações que possam conter, eventualmente, mais <strong>de</strong><br />
meio milhar <strong>de</strong> pessoas.<br />
Na mesa <strong>de</strong> convidados estiveram cerca <strong>de</strong> vinte entida<strong>de</strong>s incluindo,<br />
nomeadamente, o representante do Presi<strong>de</strong>nte da Câmara<br />
Municipal do Barreiro e o Presi<strong>de</strong>nte da Junta <strong>de</strong> Freguesia,<br />
antigos e actuais Comandantes, do Corpo, da Escola e da Base<br />
<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, antigos e actuais presi<strong>de</strong>ntes e vice-presi<strong>de</strong>ntes da<br />
Assembleia-Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal da <strong>Associação</strong>,<br />
Membros do seu Conselho <strong>de</strong> Veteranos, Esposas e outras<br />
personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relevo para a instituição.<br />
A mesa das Delegações esteve muito bem representada, com a<br />
nossa gente do Algarve, <strong>de</strong> Gaia, e <strong>de</strong> Juromenha/Elvas. Ao longo<br />
do vasto Salão, todos conviveram, mataram sauda<strong>de</strong>s e espalharam<br />
nostalgias, brincaram e até dançaram ao som do magnífico<br />
agrupamento musical do sócio a<strong>de</strong>rente n.º 2193, José António<br />
Paula Cabrita (que teve a amabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o oferecer gratuitamente).<br />
Todos, os mais velhos, os menos novos, os jovens e os mais<br />
jovens, on<strong>de</strong> não faltaram as senhoras e também as crianças, <strong>de</strong>ram<br />
ao ambiente um especial colorido e muita dignida<strong>de</strong>.<br />
Também houve “discursos”: os dos Vice-Presi<strong>de</strong>ntes, com palavras<br />
<strong>de</strong> boas vindas, o do Comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, convidado<br />
a falar e o do Presi<strong>de</strong>nte que, na circunstância, formularam<br />
para todos votos <strong>de</strong> Boas Festas. Agra<strong>de</strong>ceu-se a toda a equipa<br />
que organizou a festa, e aos Directores da <strong>Associação</strong>, aos titulares<br />
dos órgãos sociais e dirigentes das Delegações que, com o seu<br />
voluntarismo e, <strong>de</strong> facto, voluntariamente, se <strong>de</strong>ram à instituição e<br />
se disponibilizaram, ao longo <strong>de</strong> todo o ano, para trabalhar em prol<br />
da AFZ e, <strong>de</strong>signadamente, na organização dos principais eventos.<br />
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“De facto, só equipas <strong>de</strong> particular valia, exclusivamente constituídas<br />
por voluntários conseguiriam <strong>de</strong>sdobrar-se, e guindar tão<br />
alto o nome e a imagem da <strong>Associação</strong>, conferindo nível, cortesia<br />
e o nosso característico calor humano, a todas as iniciativas” que<br />
se realizaram e se ofereceram aos sócios.<br />
Citam-se palavras já escritas em idênticas circunstâncias:<br />
«Imediatamente a seguir e sem legendas, para não distinguir<br />
ninguém já que todos merecem ser distinguidos – pela coragem,<br />
pela solidarieda<strong>de</strong>, pelo espírito <strong>de</strong> camaradagem e <strong>de</strong><br />
entreajuda e pelos valores que são o apanágio e a mística dos<br />
fuzileiros – ficam alguns registos fotográficos, para a posterida<strong>de</strong><br />
e que são as imagens que, mais do que muitas palavras,<br />
conferem real conteúdo e importância ao nosso “Almoço <strong>de</strong><br />
Natal <strong>de</strong> 2012”».<br />
Marques Pinto<br />
almoço <strong>de</strong> natal<br />
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<strong>de</strong>legações<br />
NOTA: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico<br />
A<br />
região do Algarve foi assolada por uma intempérie no dia 16 <strong>de</strong> Novembro que<br />
incidiu particularmente nos concelhos <strong>de</strong> Lagoa e Silves on<strong>de</strong> danificou imensas<br />
infraestruturas públicas e privadas tendo resultado 13 pessoas feridas, 12 <strong>de</strong>salojadas<br />
e cerca <strong>de</strong> 4.500 pessoas sem energia elétrica.<br />
Não po<strong>de</strong>ndo alear-se <strong>de</strong>ste grave problema, a nossa Delegação mobilizou os associados<br />
que, prontamente e <strong>de</strong>monstrando mais uma vez o gran<strong>de</strong> espírito do Fuzileiro souberam<br />
respon<strong>de</strong>r e dizer: “Pronto”.<br />
Pela manhã do dia 18 <strong>de</strong> Novembro, a vasta equipa da Delegação estava no terreno,<br />
tendo sido recebida pelo Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal <strong>de</strong> Silves e pelos responsáveis<br />
À<br />
semelhança <strong>de</strong> anos anteriores,<br />
a Delegação foi convidada a<br />
participar na recolha <strong>de</strong> alimentos,<br />
em parceria com o Banco Alimentar<br />
Contra a Fome.<br />
46<br />
Delegação do Algarve<br />
Apoio à intempérie <strong>de</strong> Silves<br />
Apoio Banco Alimentar Contra a Fome<br />
Assim sendo, no dia 3 <strong>de</strong> Dezembro,<br />
teve lugar em toda a região algarvia<br />
a ação humanitária e nela estivemos<br />
presentes, particularmente nos locais<br />
<strong>de</strong> concentração dos bens recebidos,<br />
da Proteção Civil que nos ajudaram a<br />
organizar, <strong>de</strong> acordo com as priorida<strong>de</strong>s,<br />
tendo sido <strong>de</strong> imediato iniciados os<br />
trabalhos <strong>de</strong> apoio as populações.<br />
Viam-se uma centena <strong>de</strong> habitações<br />
danificadas e imensas viaturas <strong>de</strong>struídas.<br />
Esta ação, que preten<strong>de</strong>mos louvar nas<br />
pessoas dos “nossos” Associados, foi reconhecida<br />
publicamente como sendo <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>, numa hora difícil para<br />
as populações que mais uma vez viu nos<br />
<strong>Fuzileiros</strong> Homens <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> caráter, personalida<strong>de</strong><br />
e, sobretudo, <strong>de</strong> elevado humanismo<br />
e espírito <strong>de</strong> servir.<br />
em Faro e Portimão, com duas equipas<br />
<strong>de</strong> camaradas, dando assim o nosso<br />
contributo para ajudar a atenuar aquilo<br />
que, por incrível que pareça, já constituiu<br />
um grave problema nacional: a fome.<br />
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Almoço <strong>de</strong> Natal<br />
8 <strong>de</strong> Dezembro<br />
O<br />
Almoço/Convívio <strong>de</strong> Natal, que teve lugar no passado dia<br />
8 <strong>de</strong> Dezembro no restaurante da “Fatacil”, em Lagoa,<br />
reuniu um apreciável número <strong>de</strong> associados, familiares<br />
e amigos, tendo <strong>de</strong>corrido em ambiente <strong>de</strong> fraterna amiza<strong>de</strong> e<br />
camaradagem.<br />
A festa natalícia foi animada pelo acordéon do “nosso” associado<br />
Paulo Domingues. Como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, a criançada<br />
presente foi visitada pelo Pai Natal que lhes trouxe animação e<br />
brinquedos.<br />
A<br />
solicitação do autor, o associado<br />
José Maria Rodrigues Ferreira, foi<br />
dado apoio ao lançamento do seu<br />
livro intitulado “O Fuzileiro Especial”,<br />
da editora “Arandis”.<br />
O acto teve lugar no dia 15 <strong>de</strong> Dezembro,<br />
na se<strong>de</strong> (provisória) da Delegação tendo<br />
estado presentes para além do autor<br />
e do editor, um assinalável número <strong>de</strong><br />
associados.<br />
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Apoio ao lançamento do livro<br />
“O Fuzileiro Especial”<br />
<strong>de</strong>legações<br />
Como convidados <strong>de</strong> honra estiveram na<br />
sala as Direções da Delegação da AFZ e do<br />
Clube Escolamiza<strong>de</strong>, bem como o senhor<br />
Dr. José Carlos Rolo, ilustre Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Câmara Municipal da Albufeira. Este, na<br />
sua breve intervenção proferiu palavras<br />
elogiosas aos <strong>Fuzileiros</strong>, realçando quanto<br />
<strong>de</strong> importante são para a socieda<strong>de</strong> civil<br />
“os testemunhos do que foi a guerra<br />
colonial em África”.<br />
Este breve resumo para as páginas da nossa revista “ O Desembarque” irá servir, por certo, para expressar a vitalida<strong>de</strong> da Delegação da <strong>Associação</strong><br />
Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> do Algarve que continua com espírito associativo e <strong>de</strong>ntro do que estatutariamente está previsto, ficando-nos a certeza do<br />
<strong>de</strong>ver cumprido. António Me<strong>de</strong>iros - Presi<strong>de</strong>nte da DFZA - Sóc. Orig. n.º 1235<br />
47
<strong>de</strong>legações<br />
48<br />
Aniversário da Delegação<br />
No próximo dia 1 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2013 comemorar-se-á o Aniversário <strong>de</strong>sta sempre<br />
activa Delegação que não pára com as suas iniciativas, ambição medida e espírito<br />
<strong>de</strong> bem-fazer e <strong>de</strong> fazer bem.<br />
A solicitação da Direcção da Delegação – e com a colaboração da Direcção Nacional –<br />
conseguiu-se que a Banda da Armada feche as comemorações actuando pelas 22h00<br />
horas, na Praça da República <strong>de</strong> Elvas, ou caso o tempo o não permita, no Coliseu da<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
O encontro está marcado, porém, para as 10h00 horas junto à se<strong>de</strong> da Delegação, em<br />
Juromenha, on<strong>de</strong> com a habitual galhardia das nossas gentes <strong>de</strong> Juromenha/Elvas se<br />
receberão os fuzileiros, as famílias, os amigos e os respectivos convidados <strong>de</strong> honra.<br />
<strong>Mais</strong> do que relatar as iniciativas e as acções já realizadas,<br />
optámos por anunciar duas que se projectarão em 2013<br />
e que coroam o alto nível dos dirigentes <strong>de</strong>sta nossa Delegação,<br />
cujo Presi<strong>de</strong>nte da Direcção, o nosso Sócio Originário<br />
n.º 958, Licínio <strong>de</strong> Jesus Algarvio Morgado, para nós, o Licínio,<br />
simboliza o que <strong>de</strong> melhor temos e a forma como se coor<strong>de</strong>na<br />
uma equipa <strong>de</strong> sucesso e que represente a unida<strong>de</strong> da gran<strong>de</strong><br />
“Família” dos <strong>Fuzileiros</strong>.<br />
Depois <strong>de</strong> algumas activida<strong>de</strong>s que, oportunamente se divulgarão, terá lugar o Almoço/Convívio. O ponto alto será sem dúvida o concerto<br />
da nossa Banda da Armada que, sempre muito solicitada, teve <strong>de</strong> ser programada com meses <strong>de</strong> antecedência, ao que o Almirante<br />
Chefe do Estado-Maior da Armada conce<strong>de</strong>u a indispensável autorização.<br />
Numa parceria <strong>de</strong> três Entida<strong>de</strong>s, Município <strong>de</strong> Elvas, Delegação da <strong>Associação</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Juromenha/Elvas e <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, e por inteira<br />
iniciativa dos dirigentes da Delegação, a Armada Portuguesa e os seus <strong>Fuzileiros</strong><br />
– à semelhança do<br />
que acontece na<br />
cida<strong>de</strong> do Barreiro,<br />
com o Monumento<br />
do Fuzileiro implantado<br />
pela AFZ,<br />
em colaboração<br />
com o respectivo<br />
Município – terão, também, os seus símbolos implantados,<br />
numa das mais significativas centralida<strong>de</strong>s da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Elvas,<br />
consi<strong>de</strong>rado sítio urbano privilegiado, uma rotunda virada para<br />
o Coliseu <strong>de</strong> Elvas.<br />
O projecto, que foi i<strong>de</strong>ia do Comt. Magarreiro, um “filho da terra”,<br />
envolve a <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e também o<br />
nosso Sócio A<strong>de</strong>rente n.º 1669, Sr. João Armando Rondão Almeida<br />
que é o ilustre Presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal <strong>de</strong> Elvas.<br />
Delegação <strong>de</strong><br />
Juromenha/Elvas<br />
Os símbolos da Armada e dos <strong>Fuzileiros</strong><br />
em Elvas<br />
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Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />
2.º Aniversário e Almoço <strong>de</strong> Natal <strong>de</strong> 2012<br />
Como foi profusamente anunciado<br />
realizaram-se as cerimónias <strong>de</strong> comemoração<br />
do 2.º Aniversário e,<br />
simultaneamente, o Almoço <strong>de</strong> Natal <strong>de</strong><br />
2102 da Nossa Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong><br />
Gaia, no p. p. dia 1 <strong>de</strong> Dezembro.<br />
Após o «Toque <strong>de</strong> Alvorada» para concentração<br />
junto da se<strong>de</strong> da Delegação, por ora<br />
e provisoriamente, localizada em Canelas<br />
rumou-se ao Regimento <strong>de</strong> Artilharia n.º 5<br />
(Serra do Pilar), on<strong>de</strong> foi possível apreciar<br />
uma excelente vista do miradouro sobre<br />
a cida<strong>de</strong> do Porto, Gaia e o Rio Douro e<br />
visitou-se o Museu do Quartel, enquadrado<br />
pelas diversas peças <strong>de</strong> artilharia <strong>de</strong> campanha<br />
que la<strong>de</strong>iam a parada. Finda a visita,<br />
proce<strong>de</strong>u-se à tradicional «foto <strong>de</strong> família».<br />
Seguidamente acertou-se o azimute para<br />
o Restaurante Salgueirinhos, em Grijó –<br />
Gaia, on<strong>de</strong> se efectuou o «<strong>de</strong>sembarque»<br />
para convívio, iniciando-se o mesmo com<br />
um «reconhecimento» aos aperitivos, ao<br />
ar livre, seguido <strong>de</strong> um agradável almoço<br />
pautado por valores <strong>de</strong> camaradagem e<br />
amiza<strong>de</strong>.<br />
Após o Presi<strong>de</strong>nte da Delegação <strong>de</strong> Gaia,<br />
FZ Henrique Men<strong>de</strong>s, saudar os convidados<br />
com as boas-vindas, fez-se um minuto<br />
<strong>de</strong> silêncio em memória dos camaradas já<br />
falecidos, com o consecutivo mítico «grito<br />
<strong>de</strong> guerra dos <strong>Fuzileiros</strong>» encetado pelo<br />
Sarg. FZE Manuel Parreira e correspondido<br />
pelos <strong>Fuzileiros</strong> presentes. Depois cantou-<br />
-se o Hino da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />
findo o qual se iniciou o “rancho”.<br />
Posteriormente ao almoço, café e respectivos<br />
digestivos, cantou-se e brindou-se<br />
com alegria os parabéns à DFZ’s GAIA,<br />
provou-se o bolo <strong>de</strong> aniversário proce<strong>de</strong>u-se<br />
à distribuição <strong>de</strong> lembranças aos<br />
convidados. O convívio prolongou-se pela<br />
tar<strong>de</strong>, recordando-se com nostalgia e sauda<strong>de</strong><br />
tempos que o tempo não consegue<br />
apagar.<br />
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<strong>de</strong>legações<br />
Não faltaram a boa disposição e os discursos,<br />
dos quais se <strong>de</strong>staca apenas – porque<br />
o dia é dos nossos homens <strong>de</strong> Gaia –<br />
o do Presi<strong>de</strong>nte da respectiva Delegação.<br />
A festa teve honras <strong>de</strong> cobertura jornalística,<br />
por uma jovem do «Jornal Audiência»<br />
<strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, que entrevistou diversas<br />
personalida<strong>de</strong>s presentes.<br />
Marcaram presença as seguintes:<br />
O Vereador do Pelouro da Cultura da<br />
CMVNG, Eng.º Rui Cardoso; o Comandante<br />
do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, CAMT, Cortes<br />
Picciochi; o Comandante Martins dos Santos,<br />
Comt da ZMN, dos Portos <strong>de</strong> Douro<br />
e Leixões e da Polícia Marítima; o nosso<br />
Associado, Procurador do MP, Dr. Rodrigues<br />
Morais; o Presi<strong>de</strong>nte da Direcção Nacional<br />
da AFZ, Comt Lhano Preto e outros<br />
Membros dos Órgãos Sociais da <strong>Associação</strong><br />
(Mário Gonçalves, Egas Soares, Jaime<br />
Azevedo, Lopes Leal, Francisco Fazeres);<br />
o Comt Manuel Mateus, antigo Presi<strong>de</strong>nte<br />
da AFZ e membro do seu Conselho <strong>de</strong><br />
Veteranos; Edmundo Coutinho, Presi<strong>de</strong>nte<br />
da <strong>Associação</strong> Recreativa-Cultural <strong>de</strong> Canelas;<br />
a Ana, funcionária do Secretariado<br />
Nacional da AFZ e Sócia A<strong>de</strong>rente a que<br />
se juntaram cerca <strong>de</strong> 120 pessoas entre<br />
sócios, fuzileiros, famílias e amigos.<br />
49
<strong>de</strong>legações<br />
Presentes, também, os Presi<strong>de</strong>ntes das<br />
Delegações do Algarve, FZ António Me<strong>de</strong>iros<br />
e <strong>de</strong> Juromenha/Elvas, FZ Licínio Morgado,<br />
que num admirável gesto <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, tiveram <strong>de</strong> percorrer<br />
muitos quilómetros para se juntarem aos<br />
Camaradas do Norte.<br />
Minhas Senhoras e meus Senhores<br />
É com enorme orgulho que vos recebemos nesta celebração do<br />
nosso 2.º Aniversário que, simultaneamente festejamos com o<br />
nosso Encontro <strong>de</strong> Natal/2012.<br />
Em primeiro lugar queremos agra<strong>de</strong>cer ao Sr. Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong><br />
Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> (CMG FZE) Lhano Preto e a toda<br />
a Direcção da AFZ, pelo voto <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong>positado em nós.<br />
Da nossa parte, sempre estaremos disponíveis po<strong>de</strong>ndo a nossa<br />
<strong>Associação</strong> contar com uma pronta resposta <strong>de</strong> espírito e corpo,<br />
quando e on<strong>de</strong> for necessário;<br />
A nossa gratidão dirige-se também ao Sr. CALM Cortes Picciochi,<br />
comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, pela forma interessada como<br />
acompanha os eventos dos <strong>Fuzileiros</strong> e pela sua total coor<strong>de</strong>nação<br />
com a <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>. Sentimo-nos muito<br />
lisonjeados, com a sua presença;<br />
Ao Sr. Edmundo Coutinho, presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong> Recreativa<br />
<strong>de</strong> Canelas, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar, também, <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a sua<br />
presença que muito nos orgulha;<br />
Agra<strong>de</strong>cemos ainda a presença do Sr. CMG Victor Manuel Martins<br />
Santos, comandante do Comando Zona Marítima do Norte e da<br />
Policia Marítima e cumpre dizer-lhe que nos orgulha muito tê-lo<br />
como nosso ilustre convidado. Os <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Gaia agra<strong>de</strong>cem-<br />
-lhe e dir-lhe-ão, sempre, presente.<br />
Ao Sr. Vereador da Câmara municipal <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, Eng.<br />
Rui Cardoso, muito obrigado pela sua presença que particularmente<br />
nos honra. Queremos afirmar-lhe que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> V.N.<br />
Gaia po<strong>de</strong>rá contar com os <strong>Fuzileiros</strong> e com a nossa total lealda<strong>de</strong><br />
e empenho quando e on<strong>de</strong> for necessária a nossa participação.<br />
Quereremos também agra<strong>de</strong>cer aos Presi<strong>de</strong>ntes das Delegações<br />
da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> aqui presentes; ao Licínio<br />
Morgado da Delegação <strong>de</strong> Jerumenha/Elvas e ao António Me<strong>de</strong>iros<br />
da Delegação do Algarve queremos afirmar que é para nós<br />
um enorme orgulho, po<strong>de</strong>r contar mais uma vez, com a vossa<br />
companhia neste dia tão especial para nós.<br />
Os nossos agra<strong>de</strong>cimentos, ainda, ao Sr. Comt Manuel Mateus,<br />
antigo Presi<strong>de</strong>nte da AFZ e Membro do seu Conselho <strong>de</strong> Veteranos<br />
cumprindo-nos dizer-lhe que ficámos muito gratos pela sua<br />
presença neste nosso evento.<br />
A Delegação <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Gaia continua dando passos que se<br />
querem seguros e respeitadores da máxima que nos acompanha<br />
e sempre nos acompanhará: Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para<br />
sempre. Porque é <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos os que ostentam e sentem orgulho<br />
na nossa Boina azul ferrete ter comportamentos que a honrem,<br />
sem exibicionismos baratos que possam futilizar os nossos<br />
princípios.<br />
50<br />
É <strong>de</strong> toda a justiça louvar a dinâmica da<br />
“Força-tarefa” convocada pela DFZ’s<br />
GAIA, que imbuída <strong>de</strong> “espírito <strong>de</strong> corpo”<br />
organizou o evento, sob comando do seu<br />
Presi<strong>de</strong>nte – FZ Henrique Men<strong>de</strong>s, pelo<br />
que se po<strong>de</strong> dizer: “Missão cumprida”.<br />
Tratou-se <strong>de</strong> cerimónia cheia <strong>de</strong> profundo<br />
significado, on<strong>de</strong> mais uma vez a Amiza<strong>de</strong>,<br />
a Camaradagem, a Solidarieda<strong>de</strong> e,<br />
sobretudo, o Espírito <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> estiveram<br />
presentes.<br />
Rodrigues Morais<br />
(com a colaboração <strong>de</strong> Marques Pinto)<br />
Os nossos “fotógrafos <strong>de</strong> serviço” (SAJ FZ Rogério Pinho Silva e FZE Mário Manso) disponibilizaram os seus registos fotográficos por e-mail e nas re<strong>de</strong>s sociais.<br />
Discurso do Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />
Valeu a pena testemunharmos<br />
o<br />
esforço feito pela<br />
<strong>Associação</strong> Nacional<br />
<strong>Fuzileiros</strong>, ao<br />
ter incluído as Delegações<br />
com os<br />
respectivos Guiões,<br />
nas cerimónias<br />
militares na Escola<br />
<strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>, no<br />
Dia do Fuzileiro e<br />
na inauguração do Monumento ao Fuzileiro, no Barreiro/2012. Foi<br />
honra enorme <strong>de</strong>positada, no fundo na nossa alma <strong>de</strong> Fuzileiro.<br />
Jamais esqueceremos tamanha consi<strong>de</strong>ração que estamos certos<br />
não terá sido em vão.<br />
No Dia do Fuzileiro/2012, a nossa Delegação mobilizou umas largas<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> participantes para a nossa “Casa Mãe”, sem que<br />
houvesse qualquer problema que ensombrasse a nossa participação.<br />
<strong>Mais</strong> uma vez houve uma partilha positiva e uma convivência<br />
civilizada, atitu<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve presidir sempre quem tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />
honrar a Boina Azul Ferrete.<br />
Este ano estivemos presentes no Aniversário da Delegação do<br />
Algarve e também no Aniversário e inauguração da se<strong>de</strong> da Delegação<br />
<strong>de</strong> Juromenha/Elvas, <strong>de</strong>certo, um dia muito especial para<br />
Vós e para quem vos acompanhou. Obrigado pelo vosso carinho,<br />
solidarieda<strong>de</strong> e amiza<strong>de</strong>.<br />
Estivemos, ainda, presentes no Aniversário da <strong>Associação</strong> Portuguesa<br />
dos Veteranos <strong>de</strong> Guerra, em Braga.<br />
Antes <strong>de</strong> terminar quero manifestar a todos os membros da nossa<br />
direção e sócios afectos á Delegação <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> <strong>de</strong> Gaia, às<br />
suas famílias e aos nossos amigos, a nossa gratidão pela vossa<br />
presença. Sem vós a Delegação não conseguiria o êxito conquistado.<br />
Desejo a todos um feliz e Santo Natal e um próspero ano cheio <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, paz e amiza<strong>de</strong>.<br />
Termino prestando uma breve homenagem aos ex-combatentes,<br />
pela força, coragem e lealda<strong>de</strong> com que combateram e honraram<br />
o nome <strong>de</strong> Portugal. Façamos todos, um minuto <strong>de</strong> silêncio em<br />
sua memória, e em especial, pela do Camarada Dr. Ilídio Neves<br />
Luís, ex-Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> que nos<br />
<strong>de</strong>ixou recentemente. Depois <strong>de</strong>sse minuto <strong>de</strong> silêncio convido o<br />
nosso camarada exCombatente Manuel Parreira para dar o Grito<br />
do Fuzileiro.<br />
Henrique Men<strong>de</strong>s<br />
Sóc. Orig. n.º 1089<br />
Pres. da Delegação <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Gaia<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
eportagem<br />
Timor-Leste:<br />
entre as lembranças do passado e a realida<strong>de</strong> presente<br />
Reportagem <strong>de</strong> uma romagem tardia<br />
Quando um antigo fuzileiro, como eu,<br />
visita um país estrangeiro e, em plena<br />
zona tropical no interior do seu<br />
território, on<strong>de</strong> a vegetação e o tempo facilmente<br />
apagam os vestígios edificados,<br />
se não forem usados, com poucas placas<br />
toponímicas a indicar os caminhos e os<br />
próprios nomes das localida<strong>de</strong>s, o facto <strong>de</strong><br />
aparecer, <strong>de</strong> repente, uma tabuleta <strong>de</strong>stacada<br />
com a indicação “fuzileiros”, não<br />
muito <strong>de</strong>teriorada, levou a que a viagem<br />
fosse, <strong>de</strong> imediato, interrompida para verificar<br />
o que, para mim, me pareceu insólito.<br />
Placa do fuzileiros portugueses<br />
Em plena montanha, com habitantes <strong>de</strong> uma al<strong>de</strong>ia<br />
Este pequeno introito numa reportagem <strong>de</strong><br />
uma viagem que um grupo <strong>de</strong> 15 portugueses,<br />
homens e mulheres, no qual eu me<br />
incluía, que <strong>de</strong>cidiu fazer, durante 15 dias,<br />
uma incursão por todo o território <strong>de</strong> Timor-<br />
-Leste, para percorrer os 13 distritos do<br />
país, incluindo o enclave <strong>de</strong> Oecussi-Ambeno<br />
(encravado em território indonésio).<br />
A viagem igualmente passou pela ilha <strong>de</strong><br />
Ataúro – a 25 quilómetros <strong>de</strong> Dili, a capital,<br />
e o paradisíaco ilhéu <strong>de</strong> Jaco, situado em<br />
frente da ponta leste do país, muito perto<br />
da povoação <strong>de</strong> Tatuala.<br />
Este grupo <strong>de</strong> portugueses foi o primeiro,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a in<strong>de</strong>pendência efectiva timorense<br />
da ocupação indonésia, iniciada em 1999<br />
e formalizada em 2002, a percorrer,<br />
<strong>de</strong>morada e profundamente, todas as<br />
regiões do país, numa peregrinação <strong>de</strong><br />
mais <strong>de</strong> dois mil quilómetros, que incluiu<br />
caminhadas <strong>de</strong> vários dias e escaladas às<br />
principais áreas montanhosas <strong>de</strong> Timor<br />
Lorosae, o Tata-Mai-Lau, o cume do Monte<br />
Ramelau, e ao Matebian, a montanha, na<br />
tradição animista, dos espíritos e dos<br />
antepassados.<br />
E, tenho <strong>de</strong> o confessar, a ida<strong>de</strong> já pesa<br />
nos nossos corpos.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
Voltemos, pois, ao início da escrita.<br />
Ou seja, a placa em pedra, pintada <strong>de</strong><br />
branco, já com alguns caracteres a <strong>de</strong>saparecer,<br />
mas on<strong>de</strong> se conseguia distinguir<br />
o distintivo actual dos fuzileiros portugueses.<br />
Por perto, não havia pessoas, embora não<br />
muito longe se avistasse um edifício, que<br />
até parecia militar, mas não encontramos<br />
ninguém. Como tínhamos <strong>de</strong> seguir viagem,<br />
não conseguimos saber a origem.<br />
<strong>Mais</strong> tar<strong>de</strong>, em Díli, disseram-nos que<br />
os fuzileiros portugueses tinham estado<br />
naquela região, mas pouco mais informações<br />
obtivemos.<br />
Até porque, ao longo da viagem, nunca<br />
chegamos a contactar forças da Marinha,<br />
embora soubéssemos que tinham ao seu<br />
serviço dois navios tipo lanchas <strong>de</strong> fiscalização,<br />
que os civis que nos transportaram,<br />
em embarcações com motores fora <strong>de</strong><br />
borda, entre Dili e Ataúro, apelidassem as<br />
mesmas, que estavam fun<strong>de</strong>adas ao largo<br />
da baía da capital, como “fragatas”. E um<br />
pequeno <strong>de</strong>stacamento <strong>de</strong> fuzileiros. Não<br />
mais <strong>de</strong> 35 homens.<br />
51
eportagem<br />
Já em Portugal, através do almirante Cortes<br />
Picciochi, comandante do Corpo <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>,<br />
fui informado que, em 1998, dois<br />
fuzileiros participaram na forças <strong>de</strong> interposição<br />
da ONU, a INTERFET, e entre 2000<br />
e 2004, ao serviço da ONU (via UNTAET<br />
e UNMISET), uma companhia <strong>de</strong> fuzileiros<br />
esteve em Missão em Timor-Leste.<br />
Em 2010, instrutores fuzileiros portugueses<br />
<strong>de</strong>ram o primeiro curso para os seus<br />
homólogos timorenses, a que se seguiu o<br />
segundo curso em 2011. Apenas com três<br />
instrutores fuzileiros portugueses.<br />
A nossa longa e interessante aventura em<br />
território <strong>de</strong> Timor-Leste iniciou-se por<br />
dois locais ligados, profundamente, à antiga<br />
presença colonial portuguesa.<br />
52<br />
AVENTURA E TURISMO<br />
Os caminhos que serpenteiam por todo o<br />
Timor são difíceis, muito danificados, mas<br />
a hospitalida<strong>de</strong> foi enorme e a gastronomia,<br />
que <strong>de</strong>sconhecíamos totalmente,<br />
encheu-nos as medidas.<br />
Claro que esta viagem foi <strong>de</strong> aventura, no<br />
verda<strong>de</strong>iro sentido da palavra. Não existe,<br />
felizmente, para o tipo <strong>de</strong> pessoas como<br />
eu, turismo <strong>de</strong> massas. An<strong>de</strong>i um pouco<br />
pelo mundo e gosto <strong>de</strong> ver ainda as belezas<br />
naturais, e elas estão, naquele país,<br />
para os oci<strong>de</strong>ntais, quase por <strong>de</strong>scobrir.<br />
Depois <strong>de</strong> chegarmos a Dili, zarpamos,<br />
logo no dia seguinte para a ilha <strong>de</strong> Ataúro,<br />
hoje um local <strong>de</strong> passeio e <strong>de</strong> lazer<br />
tropical, <strong>de</strong> uma beleza rara, ainda pouco<br />
conhecido para as viagens turísticas. Deu<br />
para tempo <strong>de</strong> relaxe na praia, uma ida<br />
<strong>de</strong> triciclo, para quem o quis, até à vila <strong>de</strong><br />
Maumeta, andou-se <strong>de</strong> beiros, as canoas<br />
locais nas praias <strong>de</strong> águas quentes <strong>de</strong><br />
Bikeli.<br />
(Ora, Ataúro, como recordação histórica,<br />
significou, na prática, a última base<br />
No Pico após longa caminhada<br />
portuguesa naquele território quando, em<br />
Agosto <strong>de</strong> 1975, o então governador Mário<br />
Lemos Pires – que era tenente-coronel<br />
– <strong>de</strong>cidiu abandonar Dili e instalar-se<br />
naquela ilha.<br />
Com escassas forças militares sob a sua<br />
supervisão, <strong>de</strong>pois da divisão provocada<br />
na estrutura policial e militar sob administração<br />
lusa com um golpe <strong>de</strong> Estado provocado<br />
pelo partido UDT (União Democrática<br />
Timorense), que arregimentou o sector<br />
policial, incluindo o seu comandante, o falecido<br />
tenente-coronel Maggiolo Gouveia,<br />
tendo os militares, <strong>de</strong> maioria timorenses,<br />
on<strong>de</strong> pontificava o alferes Rogério Lobato,<br />
futuro Ministro num governo <strong>de</strong> Mari Alkatiri,<br />
que se juntaram à FRETILIN (Frente<br />
Revolucionária <strong>de</strong> Timor-Leste), eclodiu<br />
uma guerra civil. Lemos Pires ainda tentou<br />
um acordo entre os dois partidos. A<br />
FRETILIN pediu-lhe que ele regressasse<br />
a Dili, com vista a prosseguir o processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização. O governador respon<strong>de</strong>u<br />
que esperava or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Lisboa. Os<br />
acontecimentos precipitaram-se, quando<br />
se constatou que a Indonésia já ocupara,<br />
violentamente, o enclave <strong>de</strong> Oecussi. Dias<br />
<strong>de</strong>pois, seguiu-se uma invasão, em força,<br />
por terra, mar e ar, curiosamente com alguns<br />
navios <strong>de</strong> origem soviética).<br />
Hoje, em Ataúro, com um “resort” a funcionar,<br />
já começa a ser percorrido por turistas,<br />
poucos ainda, naturalmente muitos<br />
australianos.<br />
No dia seguinte, regressámos a Díli com<br />
rumo já programado para o enclave <strong>de</strong><br />
Oecussi-Ambeno.<br />
Havia duas maneiras <strong>de</strong> lá chegar, por<br />
terra, atravessando território indonésio,<br />
com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vistos e entraves<br />
burocráticos. Perdiam-se dias.<br />
A <strong>de</strong>cisão foi ir num ferry-boat, <strong>de</strong> nome<br />
“Nakroma”, que faz uma viagem semanal<br />
<strong>de</strong> ida e volta até ao enclave. (Foi oferecido<br />
pela Alemanha a Timor. Estranhamente, o<br />
capitão era indonésio e verificamos que,<br />
por artes manhosas <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong> das<br />
autorida<strong>de</strong>s timorenses, <strong>de</strong>ixavam-no<br />
seguir até à Indonésia…).<br />
Foi uma viagem do “outro mundo”.<br />
Quando nos aprontávamos para embarcar,<br />
com bilhetes antecipadamente comprados,<br />
assistimos a imagens <strong>de</strong> fazer arrepiar<br />
o mais sensato.<br />
No interior do poço do ferry, apinhavam-<br />
-se – é o termo, parecia um colmeia em<br />
movimento – veículos, animais, das mais<br />
variegadas espécies, com centenas e centenas<br />
<strong>de</strong> humanos (homens, mulheres e<br />
crianças <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s), autenticamente<br />
encaixotados, com um calor tropical<br />
asfixiante.<br />
No regresso, a repetição do *filme*. Se<br />
houver (ou houvesse) o mais pequeno<br />
percalço, certamente haverá centenas <strong>de</strong><br />
mortos.<br />
Num espaço tão curto <strong>de</strong> quilometragem,<br />
a viagem foi longa. Toda a noite a navegar.<br />
Chegamos às cinco da manhã.<br />
Depois da chegada a Pante Macassar, o<br />
grupo fez uma longa caminhada até Lifau<br />
– foram mais <strong>de</strong> 10 quilómetros sob<br />
um sol tropical abrasador, que, com memórias<br />
<strong>de</strong> 40 anos atrás, me senti nas<br />
movimentações da Guiné-Bissau. E, mais<br />
<strong>de</strong>sgastante, o regresso. Custoso, mas estimulante.<br />
O cruzeiro em Lifau<br />
Em Lifau, que foi a primeira capital da ilha<br />
<strong>de</strong> Dili (na altura toda a ilha estava sob a<br />
jurisdição portuguesa).<br />
Ali foi inaugurado, a 14 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1974,<br />
um cruzeiro que assinala, precisamente, o<br />
local on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarcaram os primeiros<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
marinheiros portugueses (possivelmente,<br />
os então infantes da Marinha) no ano <strong>de</strong><br />
1512.<br />
Pois, foi mesmo junto a este cruzeiro que o<br />
nosso grupo almoçou um lauto repasto do<br />
melhor da gastronomia local. Inimaginável<br />
numa área tão inacessível. Mas, a hospitalida<strong>de</strong><br />
fura todas as expectativas.<br />
A primeira fonte documental europeia conhecida<br />
que refere a existência da ilha é<br />
uma carta <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1514, escrita<br />
por Rui <strong>de</strong> Brito Patalim, capitão <strong>de</strong><br />
Malaca para Afonso <strong>de</strong> Albuquerque, governador<br />
das Índias, que a envia para o<br />
rei D. Manuel I referindo que Timor – uma<br />
ilha além <strong>de</strong> Java – tinha muito sândalo,<br />
mel e cera. Em 1556, um grupo <strong>de</strong> fra<strong>de</strong>s<br />
dominicanos estabeleceu o primeiro<br />
povoado em Lifau, que só, em 1702, se<br />
torna capital da colónia quando ali chega<br />
o primeiro governador nomeado pelo rei<br />
português, estatuto que permaneceu até<br />
1767. Depois foi <strong>de</strong>cidido se<strong>de</strong>ar a capital<br />
em Dili, perante as investidas holan<strong>de</strong>sas,<br />
que se apropriaram <strong>de</strong> parte das colónias<br />
da Insulíndia portuguesa. Em 1859, pelo<br />
Tratado <strong>de</strong> Lisboa, Portugal e a Holanda<br />
fizeram a divisão da ilha: Timor Oci<strong>de</strong>ntal<br />
para os holan<strong>de</strong>ses, com capital em Kupang<br />
e a restante, com se<strong>de</strong> em Díli, incluindo<br />
Oecussi, como enclave encravado.<br />
ATÉ QUE O CORPO AGUENTASSE<br />
Dormimos, nessa noite em Díli, aon<strong>de</strong> só<br />
regressaríamos duas semanas <strong>de</strong>pois,<br />
empreen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>ste modo uma autêntica<br />
caravana <strong>de</strong> exploração, <strong>de</strong> contactos com<br />
as populações mais remotas, que sempre<br />
nos acolheram, peregrinando pelos mais<br />
recônditos, belos, mas também, por vezes,<br />
inóspitos, locais <strong>de</strong> todos os distritos e<br />
sucos timorenses.<br />
Partimos, numa primeira fase do percurso<br />
numa carrinha *folclórica*, que lá chamam<br />
<strong>de</strong> bistoka, e rumamos, <strong>de</strong> imediato,<br />
para Liquiçá, parando em Tsi-Tolu, junto a<br />
uma estátua gigante lembrando o falecido<br />
Papa Católico João Paulo II, <strong>de</strong>pois em Aipelo,<br />
nas ruínas <strong>de</strong> uma antiga prisão do<br />
tempo colonial português.<br />
Depois <strong>de</strong> visitar Liquiçá, enfrentamos<br />
velhas estradas, praticamente <strong>de</strong>sfeitas,<br />
ainda construídas pelas administração lusitana<br />
e chegamos ao antigo forte holandês<br />
<strong>de</strong> Maubara.<br />
A viagem, <strong>de</strong>slumbrante, que seguiu a<br />
costa norte, com praias magníficas. Passamos<br />
pelas ruinas, muito <strong>de</strong>struídas, da<br />
fortificação portuguesa <strong>de</strong> Batugadé, junto<br />
à fronteira da parte indonésia da ilha.<br />
Desviamos para sul, fez-se uma breve<br />
paragem em Balibó. (Estivemos na casa<br />
on<strong>de</strong> foram capturados cinco jornalistas<br />
australianos em 1975, sumariamente fuzilados<br />
pelos indonésios, que começavam a<br />
invadir Timor). Ao fim do dia, entramos em<br />
Maliana e fomos pernoitar em Bobonaro.<br />
Seguiu a “epopeia” da exploração. Toda a<br />
movimentação para a escalada do Monte<br />
Ramelau, até o cume conhecido por Tata-<br />
-Mai-Lau.<br />
Descrição da caminhada e escalada ao Monte Ramelau<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
reportagem<br />
Já tínhamos abandonado a bistoka e agora<br />
o apoio logístico eram <strong>de</strong> jipes 4x4.<br />
Gran<strong>de</strong> parte do percurso seria feito a pé,<br />
para, <strong>de</strong> noite, empreen<strong>de</strong>r a escalada<br />
ao monte Ramelau. Partiu-se, com guias<br />
– os mata-dalan – do suco <strong>de</strong> Soiselu,<br />
dormiram-se, algumas horas, numa Pousada<br />
recuperada, em que foi em tempos<br />
o posto administrativo das autorida<strong>de</strong>s<br />
em Hato-Builico. O grupo saiu cerca das<br />
três horas da manhã para uma escalada<br />
<strong>de</strong> várias horas até ao nascer do sol no<br />
cume: maravilhara-se com o *loron sa’e*,<br />
justamente o nascer do sol)<br />
Eu tive <strong>de</strong> ficar para trás, pois estava a<br />
ressentir-me, numa subida íngreme pedregosa,<br />
<strong>de</strong> uma operação recente.<br />
Regressou-se a meio da manhã. Alongamo-nos<br />
<strong>de</strong>pois para uma caminhada tropical<br />
<strong>de</strong> oito horas até Atbase.<br />
(Um registo que se tem <strong>de</strong> fazer em termos<br />
curtos: Pu<strong>de</strong>mos nesta caminhada <strong>de</strong> dois<br />
dias saborear e apreciar tudo o que é<br />
belo no meio das dificulda<strong>de</strong>s – <strong>de</strong>gustar<br />
os produtos da terra, ver as crianças a<br />
percorrer quilómetros, todas vestidas a<br />
rigor, para ir para a escola – sim, vimos<br />
escolas em tudo o que era povoado –,<br />
levando a água para beber, passar por<br />
zonas <strong>de</strong> águas quentes e águas frias<br />
– tudo numa zona tropical – andar por<br />
escarpas nuas, bor<strong>de</strong>jar ou entrar nas<br />
imensas plantações <strong>de</strong> café, um calor<br />
asfixiante, um suor transbordante. Olhar<br />
em frente e ver a imensidão <strong>de</strong> montanhas<br />
num pequeno país).<br />
53
eportagem<br />
54<br />
Despedida <strong>de</strong> Timor-Leste, com o nosso guia e a administrativa do grupo<br />
Um dos troços mais longos, que fizémos,<br />
percorremo-lo <strong>de</strong> jipe, por estradas que já<br />
foram – e aqui tenho <strong>de</strong> referenciá-lo: os<br />
novos governantes timorenses não apostaram,<br />
nestes 10 anos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência,<br />
minimamente nas infra-estruturas básicas,<br />
além, do positivo, do já citado parque<br />
escolar, e tiveram dinheiro do petróleo<br />
para isso.<br />
Também do que pu<strong>de</strong> apreciar, já existe,<br />
como em Portugal, claro que nas dimensões<br />
<strong>de</strong> cada país, uma profunda clivagem<br />
entre governantes e governados –<br />
serpenteando pela ventosa e fria rodovia<br />
pedregosa que atravessa a Flecha, com<br />
íngremes <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iros e profundos vales,<br />
contornando o Monte Kablake.<br />
Passeamos por paisagens <strong>de</strong> beleza estonteante,<br />
alongamos mais caminhos,<br />
não sei o que representou em quilometragem,<br />
mas foi muito, para que alguns dos<br />
nossos guias nos quiseram mostrar on<strong>de</strong><br />
nasceram ou on<strong>de</strong> viviam os seus familiares<br />
mais chegados. Até que chegamos<br />
a Same, capital do distrito <strong>de</strong> Manufhai,<br />
terrra do liurai D. Boaventura, que chefiou,<br />
em 1912, uma revolta contra a ocupação<br />
portuguesa.<br />
DAS PRAIAS, O PARAÍSO DE JACO<br />
E MATEBIAN<br />
A bússola dava indicação <strong>de</strong> que os<br />
próximos três dias seriam <strong>de</strong> explorar a<br />
costa sul, com praias estonteantes, até à<br />
ponta mais a leste <strong>de</strong> Timor. Saiu-se <strong>de</strong><br />
Same, passou-se por Betano, atravessouse<br />
Natarbona, um das mais importantes<br />
regiões agrícolas do país.<br />
Fizemos uma visita à al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Krarás, que<br />
foi dizimada pelos indonésios nos anos<br />
80. Almoçamos em Viqueque. Depois,<br />
partimos para Loi-Huno, on<strong>de</strong> pisamos os<br />
trilhos que a resistência utilizou durante<br />
quase três décadas, indo em caminhada e<br />
escalada até às suas profundas e inexploradas<br />
(turisticamente) grutas, que foram<br />
refúgio seguro da<br />
guerrilha.<br />
Dormimos na al<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> Loi-Huno<br />
e marchamos, logo<br />
na manhã seguinte<br />
até Iliomar, on<strong>de</strong><br />
verificamos que<br />
existe gás natural<br />
no próprio território<br />
timorense,<br />
precisamente, em<br />
Aliambata. Ali tão<br />
perto estavam belas<br />
praias <strong>de</strong> uma<br />
água tão morna,<br />
que nos levou a<br />
gran<strong>de</strong>s mergulhos.<br />
A etapa seguinte era Lospalos, on<strong>de</strong> pernoitamos.<br />
Uma curiosida<strong>de</strong>: comemos<br />
num restaurante <strong>de</strong> um português chamado<br />
Roberto Carlos.<br />
(Um pequeno aparte: ficámos alojados<br />
durante a viagem em dois colégios <strong>de</strong><br />
salesianos que ce<strong>de</strong>ram as instalações<br />
para servir comida e dormida. Um em em<br />
Fuiloro, o outro em Quelicai).<br />
Depois <strong>de</strong> uma visita por Lospalos, partimos<br />
para Tutuala, on<strong>de</strong>, ao longo do trajecto,<br />
se po<strong>de</strong>m ver ainda casas típicas da<br />
região, que foram o símbolo ancestral <strong>de</strong><br />
residência <strong>de</strong> Timor: Descemos seguidamente<br />
para a praia <strong>de</strong> Walu.<br />
E num “beiro” a motor, zarpamos para a<br />
ilha <strong>de</strong> Jaco: praia <strong>de</strong> areia branca, corais<br />
extraordinários, peixes <strong>de</strong> múltiplas cores e<br />
um opíparo almoço com um “monstruoso”<br />
imperador”, ali mesmo pescado.<br />
Ao fim da tar<strong>de</strong>, regresso a Walu, on<strong>de</strong><br />
pernoitamos, num “resort” já com qualida<strong>de</strong>s<br />
turísticas.<br />
Subimos, novamente, para Tutuala com<br />
a indicação <strong>de</strong> que o percurso só pararia<br />
em Com, mas esta andança, partida<br />
<strong>de</strong> Meahara até Malahara, foi feita, em<br />
gran<strong>de</strong> parte do caminho, a pé, muitas<br />
horas <strong>de</strong> rápido andamento, la<strong>de</strong>ando a<br />
extensa lagoa <strong>de</strong> Ira-Lalaro, meandrando<br />
entre centenas <strong>de</strong> búfalos, que olhavam<br />
<strong>de</strong>sconfiados para os estranhos. Também,<br />
porque queríamos ver crocodilos, num dos<br />
rios que parte da lagoa, mas nada.<br />
(Em todo o tempo <strong>de</strong> Timor, apenas colocamos<br />
o olho único crocodilo, o símbolo<br />
mítico do território, e este “internado”<br />
num tanque há varias <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos).<br />
A caminho <strong>de</strong> Com, fizemos paragem em<br />
vários cemitérios on<strong>de</strong> a religião católica<br />
se mistura com tradições animistas ancestrais.<br />
Atingimos a al<strong>de</strong>ia piscatória <strong>de</strong><br />
Pitilete. Com os jipes novamente em andamento,<br />
chegamos a Com, on<strong>de</strong> dormimos.<br />
No dia seguinte, íamos começar a dirigir-<br />
-nos para o Monte Matebian. Saímos <strong>de</strong><br />
Com e tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitar<br />
as ruínas <strong>de</strong> velhas fortificações militares<br />
portugueses, que se <strong>de</strong>stacam sobra as<br />
casas <strong>de</strong> Lautém e Laga. Mudámos <strong>de</strong>pois<br />
o rumo para sul até Quelicai, on<strong>de</strong> pernoitamos.<br />
Na manhã seguinte, muito cedo, iniciouse<br />
a subida ao Monte Matebian. Fizemo-lo<br />
dividido em dois grupos, os mais rápidos<br />
e <strong>de</strong> perna rígida, saíram mais cedo e<br />
<strong>de</strong>ambularam pelas zonas mais difíceis<br />
e escarpadas. O outro trilhou zonas<br />
menos alcantiladas, com passagem por<br />
Laumana. Ambos <strong>de</strong>sceram para Baguia,<br />
no outro lado da montanha, com cerca <strong>de</strong><br />
12 horas <strong>de</strong> caminhada.<br />
Extenuados, fomos dormir à Pousada <strong>de</strong><br />
Baucau. De manhã o grupo dividiu-se<br />
pelos interesses que surgiam: passeio<br />
pela parte histórica da vila, <strong>de</strong>scida até à<br />
praia ou visitar Venilale.<br />
Depois foi o regresso a Dili, passando por<br />
Manatuto, terra do artesanato <strong>de</strong> barro e<br />
chegada à capital para preparar as malas<br />
para o regresso e sermos presenteados,<br />
<strong>de</strong> surpresa, com um lauto jantar <strong>de</strong> iguarias<br />
timorenses, com danças tradicionais.<br />
Um registo final: ao longo das nossas<br />
andanças e dos contactos que tivemos,<br />
ficámos a saber que muitos dos actuais<br />
e antigos dirigentes <strong>de</strong> Timor Leste e<br />
responsáveis das suas Forças Armadas<br />
fizeram o serviço militar em unida<strong>de</strong>s do<br />
Exército português.<br />
É o caso do actual major-general <strong>Ler</strong>e<br />
Anan Timur, chefe do Estado-Maior-General<br />
das Forças Armadas, que foi cabo;<br />
Rogério Lobato, que foi Ministro da Defesa<br />
na I República e Ministro da Administração<br />
Interna na II República, foi alferes em<br />
1974/75 e, Abílio Araújo, que exerceu o<br />
cargo <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte da Fretilin, e <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />
da República nessa efémera República,<br />
foi furriel miliciano nos finais dos<br />
anos 60, tendo trabalhado com os então<br />
alferes milicianos Ângelo Correia, que foi<br />
ministro da Administração Interna <strong>de</strong> Cavaco<br />
Silva e Fernan<strong>de</strong>s Tomás, historiador<br />
<strong>de</strong> renome sobre o Extremo-Oriente, sobrinho-neto<br />
do almirante Américo Tomás,<br />
último Chefe <strong>de</strong> Estado do Antigo Regime.<br />
Serafim Lobato<br />
Sóc. Orig. n.º 1792<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt
A <strong>Associação</strong> Nacional <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong> e a nossa Revista<br />
“O Desembarque” apresentam sentidas condolências às<br />
Suas Famílias, publicando-se as respectivas fotografias<br />
que correspon<strong>de</strong>m às que encontrámos, com menor ou<br />
razoável qualida<strong>de</strong>, nos nossos ficheiros.<br />
Estes nossos Camaradas e amigos conservar-se-ão sempre<br />
entre nós neste Planeta e quando nos encontrarmos<br />
noutros Mundos.<br />
Dr. Ilídio das Neves Luís<br />
Sócio n.º 155<br />
Donativos<br />
Manuel Ramos Farias<br />
Sócio n.º 1101<br />
Nome do sócio N.º Donativo<br />
Eng. Castro Figueiredo - Placa da AFZ<br />
Francisco Jordão - 5,00 €<br />
João Pedro Marques da Luz 1308 20,00 €<br />
Anónimo - 20,00 €<br />
Manuel Correia 478 40,00 €<br />
Cte. Men<strong>de</strong>s Fernan<strong>de</strong>s - 80,00 €<br />
Nome do sócio N.º Assin.<br />
Gil Neves 1384 10,00 €<br />
Diamantino Rodrigues 1887 10,00 €<br />
Vitor Rosa Porto 1706 10,00 €<br />
Martinho dos Santos Alves 1837 10,00 €<br />
José Manuel Pedro Ferreira<br />
Sócio n.º 1808<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt<br />
obituário<br />
Aqui se presta homenagem<br />
aos que nos <strong>de</strong>ixaram<br />
Ataí<strong>de</strong> Alves Can<strong>de</strong>ias<br />
Sócio n.º 440<br />
Novos Sócios<br />
Nome do sócio N.º<br />
Armenio da Silva Coelho 2174<br />
Diamantino F. M. da Costa Men<strong>de</strong>s 2175<br />
Jaime Alexandre Santos 2176<br />
José Alberto Soares da Silva 2177<br />
Fernando Manuel Correia Gomes 2178<br />
Ilídio Jorge Franco dos Santos 2179<br />
Rui Miguel F. da Silva Santos 2180<br />
João Filipe Neto Mimoso 2181<br />
José Manuel Sousa Pirota 2182<br />
Ariston Thermo Portugal (Sócio Coletivo n.º 1) 2183<br />
Elisabete Catarina Teixeira Fernan<strong>de</strong>s 2184<br />
Carlos Eduardo Mesquita Antunes 2185<br />
Victor Manuel <strong>de</strong> Melo Botto 2186<br />
Mario Duarte dos Santos P. Andra<strong>de</strong> 2187<br />
António Raul Dias Rolo 2188<br />
Manuel Lema Pires dos Santos 2189<br />
José <strong>de</strong> Sousa Gil 2190<br />
Luís Filipe Palma Botelho<br />
Sócio n.º 1106<br />
Manuel da Silva Marques<br />
ex-Sócio n.º 698<br />
diversos<br />
Novos Sócios<br />
Nome do sócio N.º<br />
António Silveira Proença 2191<br />
Jorge José Valada Piriquito 2192<br />
José António Paula Cabrita 2193<br />
Carlos Pedro Duarte Gameiro 2194<br />
Manuel J. Monteiro, Lda. (Sócio Coletivo n.º 2) 2195<br />
Rafael Antonio Nunes Alexandre 2196<br />
Rui Miguel Gomes Ramires 2197<br />
Rafael Alves Ramires 2198<br />
António Janeiro Ramires dos Santos 2199<br />
Samuel Men<strong>de</strong>s Pacheco 2200<br />
Dinora da Silva Capatão Talhadas 2201<br />
José Faustino 2202<br />
Iracema Ferreira Fernan<strong>de</strong>s Faustino 2203<br />
Mariana Sofia Jeronimo Leitão 2204<br />
José Manuel silva <strong>de</strong> Sousa 2205<br />
Vasco Miguel Duarte Gomes 2206<br />
Pedido/Recomendação da Direcção<br />
A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam en<strong>de</strong>reços electrónicos (e-mail) o favor <strong>de</strong> os remeterem<br />
ao Secretariado Nacional (afuzileiros@netvisao.pt) para facilitar as comunicações/informações que se preten<strong>de</strong> assumam a<br />
natureza <strong>de</strong> constantes e permanentes. Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, <strong>de</strong> todas as regalias<br />
<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rão usufruir, bem como das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da <strong>Associação</strong> ou dos Associados.<br />
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