A Gastronomia pernambucana é um sucesso - Revista Algomais
A Gastronomia pernambucana é um sucesso - Revista Algomais
A Gastronomia pernambucana é um sucesso - Revista Algomais
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ano 4 | n o . 38 | Maio 2009 R$ 9,00 www.revistaalgomais.com.br<br />
Política<br />
Conheça as 10 mulheres da<br />
bancada feminina do Legislativo<br />
A <strong>Gastronomia</strong><br />
<strong>pernambucana</strong> <strong>é</strong><br />
<strong>um</strong> <strong>sucesso</strong><br />
Bolo de Rolo, segundo<br />
os chefs de cozinha,<br />
<strong>é</strong> o grande astro<br />
da culinária<br />
Parque Dona Lindu<br />
Prefeitura só termina<br />
a obra no fim do ano<br />
maio ><br />
> 1
Banco do Nordeste: o melhor parceiro para o seu negócio. Na hora de implantar, ampliar ou modernizar<br />
o seu negócio, você pode contar com o apoio do Banco do Nordeste. São cr<strong>é</strong>ditos para investimento e capital<br />
de giro com os juros mais baixos e prazos mais longos do mercado. Tudo isso, com a agilidade que você<br />
precisa. Conheça mais os produtos e serviços do BNB e coloque o seu negócio entre os melhores da cidade.<br />
2 > > maio
Cliente Consulta | Ouvidoria: 0800 728 3030<br />
clienteconsulta@bnb.gov.br • www.bnb.gov.br<br />
maio ><br />
> 3
S<strong>um</strong>ário<br />
Edição 38<br />
Circulação | 24 de abril de 2009<br />
Criação | Adrianna Coutinho<br />
Foto | Alexandre Albuquerque<br />
Tiragem | 10.000 exemplares<br />
4 > > maio<br />
Capa<br />
A força da gastronomia<br />
<strong>pernambucana</strong> e seus pratos<br />
principais. 40<br />
Sudene<br />
Autarquia completa 50 anos<br />
em dezembro sem o poder<br />
de outrora.<br />
28<br />
Condomínio<br />
Profissionalização está<br />
chegando nos mínimos<br />
detalhes.<br />
Seções<br />
Carta do Leitor<br />
Entrevista<br />
Pano Rápido<br />
De Olho | Antônio Magalhães<br />
Pensando Bem<br />
João Alberto<br />
Política | Andr<strong>é</strong> Regis<br />
Economia | Jorge Jatobá<br />
Artigo | Romildo Moreira<br />
Gestão Mais<br />
Memória Pernambucana | Marcelo Alcoforado<br />
Auto Motor | Jorge Moraes<br />
<strong>Gastronomia</strong> | Patrícia Raposo<br />
Última Página | Francisco Cunha<br />
Reportagens<br />
Mulheres no plenário<br />
Parque Dona Lindu só vai ficar pronto no fim do ano<br />
Condomínios são tratados como empresas<br />
Coleta seletiva <strong>é</strong> lei<br />
Taxa de marinha <strong>é</strong> cobrada indevidamente a 60%<br />
dos imóveis<br />
Sudene faz 50 anos com poder reduzido<br />
É possível investir durante a crise<br />
O Quinto Elemento em Caravana<br />
Clementina Duarte, valor de Pernambuco<br />
Arte no Sertão<br />
O que muda com o acordo Ortográfico<br />
Ele <strong>é</strong> o maior barato<br />
Prêmio com sabor pernambucano<br />
<strong>Gastronomia</strong> <strong>pernambucana</strong>: evolução com tradição<br />
Tempero para entrega de prêmio<br />
22<br />
6<br />
8<br />
12<br />
14<br />
16<br />
18<br />
26<br />
32<br />
46<br />
50<br />
52<br />
55<br />
64<br />
66<br />
20<br />
24<br />
28<br />
30<br />
31<br />
34<br />
38<br />
40<br />
44<br />
45<br />
48<br />
54<br />
56<br />
58<br />
62<br />
Carta do Editor<br />
Justa homenagem<br />
Seis personalidades - <strong>um</strong> político, <strong>um</strong> músico, <strong>um</strong>a química<br />
industrial e três empresários – receberão neste<br />
dia 7 o prêmio deste ano para quem faz algomais por Pernambuco<br />
instituído há três anos por esta revista. Trata-se<br />
de <strong>um</strong>a oportunidade já bem aguardada na sociedade de<br />
reconhecimento a alg<strong>um</strong>as pessoas, não necessariamente<br />
nascidas aqui mas <strong>pernambucana</strong>s de coração, que<br />
contribuem para o desenvolvimento e a notoriedade do<br />
Estado.<br />
A escolha dos agraciados vem sendo aprimorada ano<br />
a ano, mas partindo sempre de <strong>um</strong>a eleição promovida<br />
entre os leitores da revista. A lista final dos escolhidos em<br />
Política, Com<strong>é</strong>rcio e Serviços, Construção Civil, Indústria,<br />
Cultura e Responsabilidade Social foi definida pelo Conselho<br />
Editorial da <strong>Algomais</strong>: Eduardo Campos, João Carlos<br />
Paes Mendonça, Antônio Queiroz Galvão, Raymundo da<br />
Fonte, Naná Vasconcelos e Conceição Moura.<br />
Para nós a escolha dos leitores <strong>é</strong> inquestionável. O governador<br />
Eduardo Campos faz <strong>um</strong> trabalho importante de<br />
desenvolvimento social e econômico do Estado. Antônio<br />
Queiroz Galvão expandiu sua empresa para outras regiões<br />
e atua nos mais diversos segmentos da economia empregando<br />
milhares de pessoas. João Carlos Paes Mendonça<br />
merece o destaque em qualquer homenagem não só pelo<br />
empreendedorismo, mas pela preocupação permanente<br />
com Pernambuco. Manteve-se investindo no Estado depois<br />
que vendeu o Bompreço e transformou o Jornal do<br />
Commercio n<strong>um</strong> dos complexos de comunicação mais<br />
importantes do País. Raymundo da Fonte produz 247 itens<br />
em suas indústrias e, prestes a completar 90 anos, mant<strong>é</strong>m<br />
o comando da empresa. Naná Vasconcelos tem <strong>um</strong><br />
currículo de fazer inveja a qualquer músico internacional.<br />
Conceição Moura <strong>é</strong> a pioneira do Programa Tareco e Mariola,<br />
em Belo Jardim, <strong>um</strong>a ação social que visa capacitar<br />
pessoas da cidade para desenvolver <strong>um</strong> artesanato que<br />
permita gerar renda.<br />
Para completar a festa – esta sim, <strong>um</strong>a escolha só<br />
nossa – <strong>um</strong>a homenagem à sui generis <strong>Gastronomia</strong> <strong>pernambucana</strong>.<br />
Na reportagem de Capa desta edição, Carol<br />
Bradley relata como essa gastronomia evoluiu conservando<br />
a tradição e os colonizadores a influenciaram e lembra<br />
a comemoração dos 70 anos do livro Açúcar, de Gilberto<br />
Freyre, escrito n<strong>um</strong>a <strong>é</strong>poca em que cozinha era considerada<br />
“coisa de mulher” e culinária <strong>um</strong> assunto feminino<br />
de menor importância. Quem ousa dizer isto hoje? Uma<br />
boa leitura.<br />
Roberto Tavares<br />
Editor Geral
maio ><br />
><br />
5
Cartas do Leitor<br />
<strong>Algomais</strong> I<br />
Minha mãe diz que quando abria a revista O<br />
Cruzeiro, nos anos 50, ia direto ler a crônica<br />
de Raquel de Queiroz. Meu pai, que <strong>é</strong> <strong>um</strong> cara<br />
gaiato, não resistia ao Amigo da Onça. Como<br />
sou <strong>um</strong>a mistura dos dois, quando pego a minha<br />
<strong>Algomais</strong> vou direto ao “Pano rápido”.<br />
Joca Souza Leão sabe, como ningu<strong>é</strong>m, misturar<br />
literatura (crônica) com bom h<strong>um</strong>or. As<br />
histórias que conta são simplesmente hilárias.<br />
E a gente fica imaginando tudo: personagens,<br />
cenários e circunstâncias. Gosto muito<br />
tamb<strong>é</strong>m das reportagens de Carol Bradley e<br />
da “Última página” de Francisco Cunha. Graficamente,<br />
a revista não inventa muito (o que<br />
acho bom), mas tem <strong>um</strong>a cara própria, agradável<br />
e de bom gosto. Pernambuco estava<br />
merecendo <strong>Algomais</strong>. Adriana S. Silva<br />
<strong>Algomais</strong> II<br />
Recentemente recebi em mãos, aqui na<br />
Inglaterra, <strong>um</strong> exemplar da revista <strong>Algomais</strong>.<br />
Como pernambucano, orgulhoso de<br />
meu Estado e de sua respectiva cultura,<br />
fiquei muito satisfeito com o conteúdo do<br />
periódico, principalmente no que toca às<br />
reportagens progressistas, à divulgação da<br />
cultura <strong>pernambucana</strong>, e à preocupação<br />
com o crescimento do nosso Estado. Lendo<br />
a seção sobre o Prêmio Quem Faz <strong>Algomais</strong><br />
por Pernambuco, achei que poderia ser útil,<br />
na minha modesta opinião, acrescentar <strong>um</strong><br />
prêmio vinculado a Ciência e Tecnologia, o<br />
que honraria alguns dos nossos cientistas e<br />
tecnólogos mais notáveis. Faço votos que a<br />
revista tenha cada vez mais <strong>sucesso</strong>.<br />
Carlos H Coimbra-Araujo<br />
R - Esta <strong>é</strong> a terceira versão do nosso prêmio.<br />
Nas duas versões anteriores entregamos os<br />
EXPEDIENTE<br />
Av. Domingos Ferreira, 890, sala 803<br />
Boa Viagem | 51110-050 | Recife/PE<br />
Fone: (81) 3327.3944<br />
Fax: (81) 3466.1308<br />
www.revistaalgomais.com.br<br />
Diretoria Executiva<br />
S<strong>é</strong>rgio Moury Fernandes<br />
sergiomoury@revistaalgomais.com.br<br />
Francisco Carneiro da Cunha<br />
franciscocunha@revistaalgomais.com.br<br />
Diretoria Comercial<br />
Luciano Moura<br />
lucianomoura@revistaalgomais.com.br<br />
6 > > maio<br />
trof<strong>é</strong>us para a categoria de Ciência e Tecnologia.<br />
Um ano foi para Cláudio Marinho e no<br />
outro ano para o Ministro S<strong>é</strong>rgio Rezende.<br />
Neste ano o leitores não indicaram pessoas<br />
que atuam na área de Ciência e Tecnologia.<br />
S<strong>é</strong>rgio Moury Fernandes - Diretor Executivo<br />
<strong>Algomais</strong> III<br />
Recebi a última edição da <strong>Algomais</strong> e gostaria<br />
de parabenizar pelas grandes reportagens.<br />
Densa, com notícias para todos os<br />
gostos, só senti falta de esportes, a revista<br />
vem se consolidando com <strong>um</strong>a das mais importantes<br />
publicações do Estado, junto com<br />
os três jornais. Em especial, gostaria de parabenizar<br />
pelas mat<strong>é</strong>rias do Padre Lebret e<br />
sobre as eleições para 2010. Duas análises<br />
com muito conteúdo, gostosas de se ler, e<br />
que, sem dúvidas, deixa o leitor informado<br />
com dados que normalmente não se vê nos<br />
jornais. Parab<strong>é</strong>ns! Jonas Santiago<br />
<strong>Algomais</strong> IV<br />
Achei a revista muito boa e gostaria de contribuir<br />
de alg<strong>um</strong>a forma. Encontro-me hoje em<br />
Washington DC, trabalhando no IFC - International<br />
Finance Corporation, o braço financeiro<br />
de investimentos no setor privado do Banco<br />
Mundial. Seria ótimo poder contribuir com a<br />
revista <strong>Algomais</strong>, escrevendo artigos ou Op-<br />
Eds, de forma regular ou esporádica, o que<br />
for possível, pois gostei bastante do conteúdo<br />
editorial. Joaquim M. Figueiredo Lima<br />
<strong>Algomais</strong> VI<br />
A <strong>Algomais</strong> virou meu lazer informativo.<br />
Como já falei da outra vez, não parabenizar,<br />
embora seja <strong>um</strong> lugar com<strong>um</strong> <strong>é</strong> <strong>um</strong>a omissão,<br />
portanto parab<strong>é</strong>ns! C<strong>é</strong>lia<br />
Conselho Editorial<br />
Francisco Carneiro da Cunha (coordenador)<br />
Antonio Magalhães<br />
Luciano Moura<br />
Ricardo de Almeida<br />
S<strong>é</strong>rgio Moury Fernandes<br />
REDAÇÃO<br />
Fone: (81) 3327.3944/4348<br />
Fax: (81) 3466.1308<br />
redacao@revistaalgomais.com.br<br />
Editor-geral<br />
Roberto Tavares<br />
robertotavares@revistaalgomais.com.br<br />
Editor-executivo<br />
Jos<strong>é</strong> Neves Cabral<br />
zeneves@revistaalgomais.com.br<br />
Reportagens<br />
Carolina Bradley<br />
carol@revistaalgomais.com.br<br />
Marcella Sampaio<br />
marcella@revistaalgomais.com.br<br />
Ivo Dantas<br />
ivodantas@revistaalgomais.com.br<br />
Fotografia<br />
Alexandre Albuquerque<br />
(81) 9212.9423<br />
Editoria de Arte<br />
e Editoração Eletrônica<br />
Adrianna Coutinho<br />
adrianna@revistaalgomais.com.br<br />
Rivaldo Neto<br />
rneto@revistaalgomais.com.br<br />
<strong>Algomais</strong> VII<br />
Recebo regularmente as edições desta revista,<br />
para mim tornou-se <strong>um</strong>a leitura agradabilíssima.<br />
Por isso mesmo venho solicitar<br />
a correção da edição n.37, pág 53, onde há<br />
duas tabelas relativas a localização das neoplasias.<br />
Na tabela de mulheres a palavra<br />
leucemia está escrita de forma errada, lê se<br />
leusemia. Por se tratar de erro de redação,<br />
torna se essencial a devida correção, visto<br />
que mostra tal compromisso com detalhes e<br />
interesse em expor palavras corretas.<br />
Lhaylha Ebrahim<br />
<strong>Algomais</strong> VIII<br />
Pena que a <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong> só tem circulação<br />
mensal, deveria ser semanal, ou então<br />
quinzenal, pensem nisso! A reportagem de<br />
capa da edição n° 37 “O redescobrimento<br />
do centro do Recife” está excelente, no entanto<br />
o que mais me extasiou foi realmente<br />
o artigo do publicitário e jornalista Marcelo<br />
Alcoforado - Memória Pernambucana: “Pernambuco<br />
falando para o mundo”, onde retrata<br />
de forma simples e com muita clareza,<br />
a trajetória política/empresarial e h<strong>um</strong>ana do<br />
Sr. Francisco Pessoa de Queiroz, homem de<br />
grandes ideais, fundador do Grupo Jornal do<br />
Commercio (Rádios, Jornais e TV) de quem<br />
guardo ótimas recordações. Por isso volto<br />
a insistir, seria muito bom que “A Memória<br />
Pernambucana” fosse revivida semanalmente<br />
e não mensalmente como ocorre atualmente.<br />
Joseni Melo<br />
<strong>Algomais</strong> IX<br />
Tenho selecionado determinadas mat<strong>é</strong>rias<br />
publicadas na <strong>Algomais</strong> para serem utilizadas<br />
para debate em sala de aula u uu<br />
Assinatura<br />
assinatura@revistaalgomais.com.br<br />
Fone: (81) 3325.5636<br />
www.revistaalgomais.com.br<br />
Publicidade<br />
Engenho de Mídia Comunicação Ltda.<br />
Av. Domingos Ferreira, 890, sala 808<br />
Boa Viagem 51110-050 | Recife/PE<br />
Fone/ Fax: (81) 3466.1308<br />
engenhodemidia@engenhodemidia.com.br<br />
Filiada ao Auditada por<br />
INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO
na FIR (sou docente do curso de Relações<br />
Internacionais); e comporem parcelas de<br />
mensagens que elaboro regularmente para<br />
especialistas e empresários envolvidos com<br />
a Política Marítima brasileira. Portanto, parabenizo<br />
S<strong>é</strong>rgio Moury pelo trabalho realizado<br />
desde a concepção da <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong><br />
at<strong>é</strong> a bonita realidade hoje alcançada por<br />
ela! Peço, tamb<strong>é</strong>m, transmitir a Francisco<br />
Cunha e Roberto Tavares meu reconhecimento<br />
e felicitações pela qualidade das<br />
mat<strong>é</strong>rias (texto e imagens) escolhidas para<br />
comporem as últimas edições da <strong>Revista</strong><br />
em questão.<br />
Roberto Medeiros<br />
<strong>Algomais</strong> X<br />
Boquiaberto fico com esta revista <strong>Algomais</strong>;<br />
Está “demais”. Lembra-me meus<br />
ancestrais, os judeus, que liam seus livros<br />
começando por trás. É a única revista<br />
que começo a ler pela última página.<br />
PARABÉNS ! E esta deste mês, está “felomenau”!<br />
Ótimas reportagens. E a mat<strong>é</strong>ria de<br />
capa, excelente. E a de Veículos, ótima. E a<br />
de <strong>Gastronomia</strong>, espetacular. E as de Sacro,<br />
formidáveis. Silvio Galvão<br />
Centro do Recife I<br />
Foi da maior oportunidade a reportagem “O<br />
redescobrimento do Centro do Recife” com<br />
chamada de Capa no último número da <strong>Revista</strong><br />
<strong>Algomais</strong>. Excelente. Ricardo Guerra<br />
Centro do Recife II<br />
Excelente a mat<strong>é</strong>ria ‘O Redescobrimento do<br />
Centro do Recife’. Um assunto que deve ser visto<br />
com atenção pelas autoridades urbanísticas<br />
do Recife. Só <strong>um</strong> pequeno reparo: a legenda da<br />
foto da Rua Primeiro de Março - “Praça do Diário<br />
- d<strong>é</strong>cada de 50 -. Ao fundo aparece o Arco de<br />
Santo Antonio, demolido em 1917. Logo, a foto<br />
<strong>é</strong> anterior a essa data. Clizete Monteiro<br />
Pano Rápido<br />
Esta aí <strong>um</strong>a secção sem novidades, piadas<br />
antigas, datadas, já contadas e recontadas<br />
em mesas de bar e nos saraus da classe<br />
m<strong>é</strong>dia obtusa, honestamente, nada acrescentam<br />
ao conteúdo da revista.<br />
Pedro Bernardo<br />
Pensando Bem<br />
Gostaria de parabenizar a <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong><br />
pela maravilhosa mat<strong>é</strong>ria “Como Superar as<br />
dificuldades nas empresas” pelo Consultor<br />
Antônio Augusto. Bastante objetiva e edificante.<br />
Foi “algo mais” que essa conceituada<br />
<strong>Revista</strong> nos proporcionou. Socorro Tavares<br />
Foral de Olinda<br />
Depois que li a interessante mat<strong>é</strong>ria sobre o “Foral<br />
de Olinda”, gente a favor, gente contra. Lembrei-me<br />
de <strong>um</strong>a polêmica baseada tamb<strong>é</strong>m em<br />
antigas normas: A Comarca do São Francisco. A<br />
perda de quase metade do nosso território para<br />
a Bahia, por sermos contra o Imp<strong>é</strong>rio ainda hoje<br />
pode ser discutida. Aliás, nossa Constituição<br />
atual em suas disposições transitórias, declara<br />
que o Estado de PE lutará para reaver o território.<br />
Creio que vale a pena o debate. Adelino<br />
Feriados<br />
Interessante a mat<strong>é</strong>rias sobre o custo financeiro<br />
dos feriados no Brasil. Realmente vendo<br />
da forma como foi exposto, talvez devêssemos<br />
trabalhar todos os dias do ano para não<br />
gerarmos perdas financeiras - inclusive sem<br />
f<strong>é</strong>rias, quem sabe. Mas e os custos pessoais,<br />
familiares e sociais provocados pelas longas, e<br />
muitas vezes cansativas e mal remuneradas jornadas<br />
de trabalho? Imaginem o que passam os<br />
comerciários, por exemplo, que trabalham nos<br />
shoppings e hipermercados da vida e tem <strong>um</strong>a<br />
folga semanal, frequentemente em <strong>um</strong> dia “útil”<br />
isolado na semana, quando a maiorias dos seus<br />
familiares, parentes e amigos estão ocupados<br />
em suas atividades. Esse custo não significada<br />
nada? Trabalhar <strong>é</strong> fundamental. Mas as pausas<br />
para descansar e desfrutar minimamente a vida<br />
tamb<strong>é</strong>m, inclusive se dedicando a <strong>um</strong> pouco de<br />
ócio, são tamb<strong>é</strong>m extremamente importantes -<br />
e sua falta pode gerar mais prejuízos que alguns<br />
dias de folga ao ano. Reynaldo Pitanga<br />
Memória<br />
Pernambucana I<br />
Parabenizo o ilustre contador de estórias e memorialista,<br />
Marcelo Alcoforado. Tive a oportunidade<br />
de reviver a magistral luta do Dr. F. Pessoa<br />
de Queiroz, atrav<strong>é</strong>s do seu artigo, publicado na<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong>, de abril/2009. Ainda bem,<br />
que temos algu<strong>é</strong>m que conhece a história do<br />
nosso Recife. Wilton de Souza<br />
maio ><br />
> 7
Entrevista<br />
Alexandre Albuquerque<br />
8 > > maio<br />
Paulo Dalla Nora Macedo<br />
Um banco com decisão local:<br />
desejo do empresariado<br />
ATUAÇÃO |Negócios com empresas familiares da região e<br />
a oferta do cr<strong>é</strong>dito consignado para a iniciativa privada e prefeituras<br />
Por Antonio Magalhães<br />
Paulo Dalla Nora Macedo tem 33 anos<br />
de idade, rosto jovial e não aparenta<br />
exercer a função que exerce: diretor executivo<br />
do Banco Gerador, a mais nova instituição<br />
bancária criada em Pernambuco, com sócios<br />
pernambucanos – Paulo S<strong>é</strong>rgio Macedo,<br />
Antonio Lavareda e Severino Mendonça - e<br />
que tem o foco de atuação no Estado e no<br />
Nordeste, como acontecia com o Banorte e o<br />
Banco Mercantil, de saudosa memória.<br />
Mas a aparência não <strong>é</strong> tudo, no caso. Nem<br />
mesmo a maleta de trabalho puxado por<br />
<strong>um</strong> desses carrinhos de viagem desfaz a<br />
imagem de executivo maduro. Paulo Dalla<br />
Nora Macedo <strong>é</strong> formado em Economia<br />
pela UFPE e fez mestrado em Paris na<br />
Insead, a mais famosa escola formadora<br />
de executivos da França. Durante 10 anos<br />
atuou como diretor do Grupo Nordeste e<br />
depois esteve no Lloyds Bank.<br />
Para ele, a criação do banco <strong>é</strong> fruto<br />
tamb<strong>é</strong>m da reflexão do grupo de<br />
pensadores que fez parte, celebrado na<br />
publicação “Pensar Pernambuco”, onde foi<br />
possível mapear as reais necessidades do<br />
Estado e as alternativas possíveis para o<br />
desenvolvimento econômico.<br />
Já a oportunidade do negócio bancário está<br />
mais do que confirmada. Segundo Paulo, a<br />
revista inglesa The Economist apontou que<br />
só oito países entre os 40 maiores terão<br />
este ano o crescimento do Produto Interno<br />
Bruto (PIB) acima de 1%. “Se o Nordeste<br />
fosse <strong>um</strong> país estaria em quinto lugar nesse<br />
ranking da revista entre os que vão crescer<br />
mais do que 1%. Se a crise financeira<br />
internacional <strong>é</strong> ruim para o Brasil, para o<br />
Nordeste vai ser menos danosa”, acredita<br />
Na entrevista a <strong>Algomais</strong>, Paulo Dalla<br />
Nora Macedo revela qual foi a estrat<strong>é</strong>gia<br />
para criação de <strong>um</strong> banco local e qual <strong>é</strong><br />
seu nicho de atuação. Conta como tudo<br />
aconteceu.
<strong>Algomais</strong> | Por que criar <strong>um</strong> banco em<br />
Pernambuco?<br />
Paulo Dalla Nora Macedo | A id<strong>é</strong>ia de<br />
criar o banco surgiu no final de 2007. O grupo<br />
de sócios, formado por empresários do<br />
Estado, percebeu que o Nordeste e especificamente<br />
Pernambuco cresciam, do ponto de<br />
vista macroeconômico, mais do que o Brasil.<br />
E dentro dessa área, as empresas familiares<br />
– o peso da economia regional – não eram<br />
atendidas por qualquer banco de origem local.<br />
Os sócios do banco e os empresários<br />
do seu relacionamento se ressentiam de <strong>um</strong><br />
banco com poder de decisão local. Era <strong>um</strong>a<br />
contradição, a região e o Estado de maior<br />
crescimento da Federação não terem <strong>um</strong><br />
banco daqui. Falando agora isso parece óbvio,<br />
mas foi exatamente essa obviedade que<br />
deu partida ao processo de constituição do<br />
Banco Gerador.<br />
Am | Qual foi o passo seguinte?<br />
PDNM | A partir dessa leitura estrat<strong>é</strong>gica<br />
se contratou <strong>um</strong>a consultoria – a Control<br />
Bank, de São Paulo – para checar se a pretensão<br />
batia com a realidade do mercado<br />
local. Mais do que o estudo mercadológico<br />
valeu o sentimento dos sócios que sempre<br />
conviveram com os empresários da região.<br />
Havia e há empresas precisando de apoio<br />
para a expansão, para aquisições e fusões,<br />
e não havia, mas agora há, <strong>um</strong> banco que<br />
pode dar suporte a essas operações. Ficou<br />
estabelecido claramente que havia essa<br />
oportunidade. O banco surgiu para preencher<br />
esse espaço. O mercado <strong>é</strong> grande e<br />
seremos <strong>um</strong> player importante na região.<br />
Am | Quando o Banco Gerador começou<br />
a operar?<br />
PDNM | A preparação começou em setembro<br />
de 2008 e a operação em março<br />
deste ano. Mas <strong>é</strong> <strong>um</strong> processo que requer<br />
trabalho, paciência e investimento. Tudo<br />
não acontecerá do dia para a noite, embora<br />
o processo de constituição do Gerador tenha<br />
sido rápido. Normalmente at<strong>é</strong> chegar a<br />
operar <strong>um</strong> banco leva, em m<strong>é</strong>dia, segundo<br />
o jornal Valor Econômico, 16 meses. Conseguimos<br />
fazer tudo em bem menos tempo.<br />
O Banco Central <strong>é</strong> muito cuidadoso, exige<br />
pessoal qualificado, sistemas de informática<br />
pesados e muito treinamento. É <strong>um</strong> processo<br />
que tem que ser feito com muita atenção.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
“Era <strong>um</strong>a contradição<br />
a Região e o<br />
Estado de maior<br />
crescimento da<br />
Federação não terem<br />
<strong>um</strong> banco daqui”<br />
Estamos trabalhando dentro das metas programadas.<br />
Os possíveis ajustes não atrapalham<br />
nosso cronograma.<br />
Am | A concretização do Banco Gerador<br />
coincidiu com a crise financeira<br />
internacional. Isso atrapalhou?<br />
PDNM | Não. Eu vinha acompanhando desde<br />
2007 o desenrolar da pr<strong>é</strong>-crise na Europa,<br />
onde vivia. Isso me permitiu mais adiante<br />
trabalhar conjuntamente com a consultoria<br />
Control Bank na formatação do banco n<strong>um</strong><br />
cenário problemático. Todo o plano de negócio<br />
foi revisto e quando a crise financeira<br />
internacional foi desencadeada ainda não<br />
tinha sido aberto o Gerador. Por isso não<br />
houve o elemento surpresa na nossa organização:<br />
abrimos depois da crise, não havia<br />
qualquer contrato negociado anteriormente.<br />
Ao contrário: abriu-se <strong>um</strong>a janela de mercado<br />
no Nordeste importantíssima. A atenção<br />
dos grandes bancos com os efeitos da crise<br />
fixou-se nos grandes centros econômicos do<br />
País. O Nordeste ficou maior para <strong>um</strong> banco<br />
local. E ficou claro para nós que a crise não<br />
ameaça o plano do Banco Gerador.<br />
Am | Qual <strong>é</strong> a área de atuação do Gerador?<br />
PDNM | Damos suporte às empresas familiares<br />
da região que estão pensando fazer<br />
fusões ou aquisições, reestruturações<br />
acionárias, capitalização. E localmente o<br />
Banco Gerador tamb<strong>é</strong>m vai ser o condutor<br />
de operações para grandes clientes. Esse <strong>é</strong><br />
<strong>um</strong> tipo de serviço que não existia por aqui.<br />
Vimos várias operações de compras de empresas<br />
da região nas quais só os compradores<br />
eram assessorados. Os vendedores, por<br />
falta de <strong>um</strong> player local, nunca eram assessorados.<br />
Al<strong>é</strong>m do mais, o banco pode vir a<br />
emitir pap<strong>é</strong>is, debêntures, e ainda ajudar as<br />
empresas regionais a abrirem seu capital. A<br />
Região e o Estado tinham necessidade de<br />
<strong>um</strong>a organização com bom relacionamento<br />
com empresariado local e credibilidade junto<br />
aos grandes bancos para montar parcerias<br />
nessas operações.<br />
Am | O cr<strong>é</strong>dito consignado tamb<strong>é</strong>m<br />
está no foco do banco?<br />
PDNM | De fato. Vamos ofertar o cr<strong>é</strong>dito<br />
consignado a empresas privadas e órgãos<br />
públicos. Muitas empresas que têm operações<br />
na área de investimentos do Gerador<br />
podem ser beneficiadas com o cr<strong>é</strong>dito<br />
consignado para seus funcionários, o que <strong>é</strong><br />
praticamente inexistente no mercado, com<br />
a taxa menor do que a do cr<strong>é</strong>dito pessoal.<br />
Na área pública, vamos atrás de prefeituras<br />
que, pelo tamanho do negócio, são desprezadas<br />
pelos grandes bancos.<br />
Am | Como serão feitas essas operações?<br />
Elas precisam de <strong>um</strong>a rede de<br />
agências?<br />
PDNM | Não precisamos de <strong>um</strong>a rede de<br />
agências para atender a este público. Vamos<br />
direto às empresas e órgãos públicos.<br />
Precisamos, sim, de pessoas com capacidade<br />
e relacionamento com o empresariado<br />
e gestores. E com credibilidade junto aos<br />
grandes bancos para montar parcerias.<br />
Am | Hoje teria espaço no mer-u<br />
uu<br />
maio ><br />
> 9
Entrevista<br />
cado bancário para <strong>um</strong> banco como o<br />
Banorte, regional de atuação nacional<br />
com agências em todo o País?<br />
PDNM | Não acredito. Um banco com <strong>um</strong>a<br />
rede de agências pulverizada, como era o<br />
caso do Banorte, não teria condições de<br />
enfrentar hoje os grandes bancos nacionais.<br />
Não teria escala de custo para competir com<br />
os bancos com mais de três mil agências. Seria<br />
<strong>um</strong>a briga perdida. E isso não <strong>é</strong> só no Nordeste.<br />
É em todo o País. Dos bancos regionais<br />
talvez só o Banrisul, do Rio Grande do Sul,<br />
pode topar a concorrência. Os bancos com<br />
muitas agências criam mais oportunidades<br />
de negócios, mas os serviços regionais específicos<br />
precisam do poder de decisão local<br />
e ela não está aqui, mas em São Paulo. Por<br />
isso não nos colocamos como concorrentes<br />
desses grandes bancos. Somos, na verdade,<br />
parceiros deles. Porque, pela demanda local,<br />
não temos condição de realizar sozinhos todas<br />
as operações. Vamos precisar agrupar as<br />
operações e mostrar aos grandes bancos as<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Alexandre Albuquerque<br />
10 > > maio<br />
oportunidades de investimentos em empresas<br />
familiares. Feito o trabalho de montagem<br />
pelo Gerador, os outros bancos podem entrar<br />
como parceiros.<br />
Am | O Banco Gerador entra com capital<br />
próprio ou <strong>é</strong> só <strong>um</strong> intermediador<br />
de recursos?<br />
PDNM | Queremos entrar em todas as operações,<br />
quando for possível, com capital próprio.<br />
Mas obviamente pelo nosso tamanho<br />
e pelo tamanho das operações que vamos<br />
ser o capitaneador principal isso não vai ser<br />
possível. Vamos mostrar, por<strong>é</strong>m, aos bancos<br />
parceiros que acreditamos nessas operações.<br />
Não podemos <strong>é</strong> entrar com capital próprio e<br />
reduzir o poder de alavancagem do nosso<br />
banco. É melhor viabilizar operações regionais<br />
de R$ 100 milhões, entrando com R$ 10<br />
milhões, do que não fazer nada.<br />
“Queremos entrar em<br />
todas as operações,<br />
quando for possível,<br />
com capital próprio.<br />
Vamos mostrar<br />
aos parceiros que<br />
acreditamos nessas<br />
operações”<br />
Am | O que mudou para o Gerador com<br />
o a<strong>um</strong>ento do limite garantido de investimentos<br />
em depósitos bancários<br />
a prazo, anunciado pelo Banco Central?<br />
PDNM | Começamos a operar em 23 de março.<br />
No dia 26 de março, o Conselho Monetário<br />
Nacional anunciou <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento da garantia<br />
dos investimentos em depósitos bancários<br />
a prazo de R$ 60 mil para R$ 20 milhões. Foi<br />
<strong>um</strong>a coisa excepcional. Agora o investidor do<br />
Banco Gerador nesse produto entra com essa<br />
garantia. É <strong>um</strong>a coisa importantíssima porque<br />
vamos precisar de investidores regionais para<br />
fazer com que banco tenha mais capacidade<br />
de alavancagem. O investidor, ao inv<strong>é</strong>s de ficar<br />
preocupado se o Gerador, que <strong>é</strong> <strong>um</strong> banco<br />
novo, tem boas garantias, pode contar com o<br />
fundo garantidor de cr<strong>é</strong>dito. Se ele aplicar R$<br />
10 milhões, R$ 20 milhões, pode ficar tran-<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Alexandre Albuquerque<br />
qüilo. O Governo Federal fez isso para nivelar<br />
o jogo com os bancos m<strong>é</strong>dios e pequenos em<br />
relação aos grandes.<br />
Am | O banqueiro, n<strong>um</strong> contexto mais<br />
popular, <strong>é</strong> visto muito negativamente<br />
pela sociedade. Só sobram queixas<br />
de exploração do mercado financeiro.<br />
Como você vê essa questão?<br />
PDNM | Isso depende de como o banco se<br />
coloca em relação ao cliente. Em curto prazo<br />
essa má imagem pode existir. Mas em<br />
longo prazo o cliente e a sociedade podem<br />
observar que isso não <strong>é</strong> bem assim. Há <strong>um</strong><br />
papel econômico e social dos bancos e, consequentemente,<br />
dos banqueiros.<br />
Am | Mas o spread bancário, o custo<br />
do empr<strong>é</strong>stimo, não faz graça para<br />
ningu<strong>é</strong>m?<br />
PDNM | Obviamente há exageros na cobrança<br />
do spread. Mas a inadimplência e risco da<br />
operação de empr<strong>é</strong>stimo têm elevado essa<br />
taxa. E algu<strong>é</strong>m, no caso o tomador dos recursos,<br />
termina pagando por isso. n
MUITA COISA MUDOU NESSES 30 ANOS, MAS A SUA CERTEZA<br />
DE ESTAR EM BOAS MÃOS É A MESMA DESDE 1979.<br />
Estar em boas mãos <strong>é</strong> contar com <strong>um</strong>a equipe multidisciplinar que valoriza o atendimento com<br />
carinho e atenção ao paciente. Estar em boas mãos <strong>é</strong> dispor dos equipamentos mais avançados para<br />
oferecer diagnósticos rápidos e precisos. Estar em boas mãos <strong>é</strong> ter acesso aos melhores m<strong>é</strong>dicos nas<br />
mais diversas especialidades. Estar em boas mãos <strong>é</strong>, acima de tudo, poder contar com <strong>um</strong> hospital<br />
que oferece todos esses serviços, com conforto e segurança, 24 horas por dia, 7 dias por semana.<br />
maio ><br />
> 11
12 > > maio<br />
Pano rápido<br />
Pra cá e pra lá<br />
O governador Eraldo Gueiros tinha<br />
reconhecido gosto por gravatas. Um<br />
dos seus auxiliares inventou de lhe<br />
dar <strong>um</strong>a de presente. A gravatinha<br />
era feia pra chuchu. Eraldo pediu à<br />
secretária, dona Marluce, para guardá-la.<br />
Tempos depois, aniversário do<br />
tal auxiliar. Eraldo lembrou-se da gravatinha.<br />
Só não lembrava quem tinha<br />
dado. Deu-a de volta. No dia seguinte,<br />
o cara pintou no Palácio dos Despachos<br />
com a gravata no pescoço. Eraldo<br />
o saudou:<br />
— Rapaz, que gravatinha feia<br />
danada!<br />
Tá entregue<br />
O engenheiro Abelardo<br />
Baltar mandou o motorista levar<br />
<strong>um</strong>a caixa de vinho de presente<br />
de Natal para Armando<br />
Cairutas, secretário de Viação<br />
e Obras do Estado, que tava<br />
veraneando no Janga. “Dr.<br />
Abelardo mandou pra Dr. Armando.”<br />
“Tá entregue.” Bem,<br />
entregue estava. Só que na<br />
casa errada. Quem recebeu foi<br />
o vizinho, Mano Teodósio. No<br />
Ano Novo, Mano foi à casa de<br />
Abelardo com a única garrafa<br />
que sobrou a tiracolo.<br />
— Dr. Armando mandou essa<br />
garrafinha pra gente tomar.<br />
Respeito<br />
<strong>é</strong> bom<br />
Dr. Arsênio Tavares, professor de<br />
cirurgia, encontra com <strong>um</strong> ex-aluno,<br />
agora m<strong>é</strong>dico, nos corredores de <strong>um</strong><br />
hospital:<br />
— O que há de novo, Arsênio?<br />
— A nossa intimidade.<br />
No popular<br />
Uma socialite levou o filho para se consultar<br />
com Dra. Alzira Lins. O garotinho mal<br />
podia abrir os olhos, <strong>um</strong>a crosta lhe encobria<br />
cílios e sobrancelhas. “Seu filho está com<br />
phthirus pubis, minha senhora.” “Phthi... o<br />
quê, doutora?”<br />
— No popular: chato.<br />
— Deve ter pegado com a babá.<br />
Apesar dos protestos da socialite,<br />
Dra. Alzira examinou as duas. Imagine<br />
só quem tava com <strong>um</strong>a camada de chato...<br />
Capiba se deu mal.<br />
Pecados<br />
O escritor Renato Carneiro Campos se<br />
recusava a fazer análise psiquiátrica. E dava<br />
o motivo:<br />
— Vou lá pagar para o camarada ficar sabendo<br />
os meus pecados?!<br />
Joca Souza Leão<br />
jocasouzaleao@gmail.com<br />
Oitenta anos<br />
O gravador Gilvan Samico nunca foi<br />
de badalação. Mas os jornais e tevês<br />
anunciaram que iria fazer 80 anos. Samico<br />
ficou cabreiro. No dia do aniversário,<br />
de manhãzinha, o pintor Z<strong>é</strong> Cláudio<br />
o encontrou em frente a sua casa, em<br />
Olinda, com <strong>um</strong>as cordas.<br />
— E aí, Samico, já tá fazendo as gambiarras<br />
pra festa?<br />
— Tô <strong>é</strong> caindo fora.<br />
Terminou de amarrar as coisas no bagageiro<br />
do carro e se mandou.<br />
Meio de<br />
conversa<br />
Capiba era novato no Banco<br />
do Brasil. Tentava a todo<br />
custo se enturmar. Certa feita,<br />
viu a distância <strong>um</strong> grupo<br />
de funcionários conversando.<br />
Foi se chegando. Algu<strong>é</strong>m<br />
tava dizendo: “Ela já tomou<br />
de tudo”. “Já tomou no cu?”,<br />
perguntou Capiba, querendo<br />
bancar o engraçado. Tremendo<br />
mal estar. “Rapaz, o chefe<br />
tava contando que a mulher<br />
dele tá doente e já tomou<br />
tudo quanto foi rem<strong>é</strong>dio.” Capiba<br />
aprendeu a lição.<br />
— Nunca mais entro no meio<br />
de conversa.<br />
Fantasia<br />
Toni Miranda se fantasiou<br />
de senhor de engenho pra ir ao Baile<br />
Municipal: terno de linho branco, chap<strong>é</strong>u<br />
panamá e botas de cano longo. “Duvido<br />
que o porteiro do Baile ache qu’isso <strong>é</strong><br />
fantasia”, provocou <strong>um</strong> amigo.<br />
— Aí eu provo. Puxo o talão e passo<br />
<strong>um</strong> cheque sem fundo.<br />
As histórias aqui contadas têm compromisso com os contadores de história que as contaram. E não, necessariamente, com a História.
Prêmio<br />
Fundação Banco do Brasil<br />
de Tecnologia Social 2009<br />
Soluções vão se espalhar<br />
por todo o Brasil.<br />
Em todo o Brasil, instituições sem fi ns lucrativos<br />
implementam soluções efetivas para problemas<br />
relacionados à água, alimentação, educação,<br />
energia, habitação, saúde, renda e ao meio<br />
ambiente, que podem ser transferidas para outras<br />
comunidades. São as chamadas tecnologias<br />
sociais. O Prêmio Fundação Banco do Brasil de<br />
Tecnologia Social tem como objetivo identifi car,<br />
reconhecer e difundir estas soluções. As tecnologias<br />
que são certifi cadas passam a compor o Banco de<br />
Tecnologias Sociais, disponível no site da Fundação<br />
Banco do Brasil, e poderão ser reaplicadas em<br />
futuras parcerias. As 8 melhores tecnologias<br />
sociais receberão <strong>um</strong> prêmio de R$ 50 mil para<br />
seu aperfeiçoamento ou expansão, totalizando<br />
R$ 400 mil em premiação. Vamos fazer <strong>um</strong> Brasil melhor!<br />
Compartilhe sua solução com todo o país!<br />
Parceria Institucional: Patrocínio: Realização:<br />
maio ><br />
> 13<br />
emitido com a realização desta edição do Prêmio.<br />
Carbono Neutro – Árvores do cerrado estão sendo plantadas para compensar o CO2
14 > > maio<br />
De Olho<br />
Royalties do gás<br />
Onze municípios pernambucanos<br />
- Cabo Santo Agostinho, Camaragibe,<br />
Goiana, Itamb<strong>é</strong>, Itaquitinga, Jaboatão<br />
dos Guararapes, Moreno, Paulista,<br />
Recife, Vitória de Santo Antão e São<br />
Lourenço da Mata - têm direito líquido<br />
e certo de receber royalties ou compensações<br />
financeiras por terem instalações<br />
e gasodutos usados para o gás<br />
natural extraído no Rio Grande do Norte<br />
e Alagoas. No entanto, <strong>um</strong>a portaria da<br />
Agência Nacional de Petróleo (ANP)<br />
vem negando o pagamento, o que contraria<br />
a Constituição Federal. A briga<br />
dos municípios pernambucanos com a<br />
ANP está no Tribunal Regional Federal.<br />
Segundo o advogado Harlan Gadelha,<br />
que cuida do caso, foi bem su-<br />
Negociação<br />
Em tempo de vacas magras ou de<br />
arrecadação menor, o Governo Federal<br />
parte agora para facilitar a negociação<br />
das dívidas dos contribuintes com a Receita<br />
Federal. Depois da aprovação da<br />
Medida Provisória 449, que perdoou as<br />
dívidas com a União no valor de at<strong>é</strong> R$<br />
10 mil e introduziu mudanças no modelo<br />
de cobrança de d<strong>é</strong>bitos tributários, o<br />
mote agora <strong>é</strong> impedir ao máximo que as<br />
cobranças cheguem aos tribunais. Pela<br />
proposta governamental, será possível<br />
ao contribuinte negociar os d<strong>é</strong>bitos na<br />
esfera administrativa, por meio dos<br />
bancos oficiais. O acordo tamb<strong>é</strong>m será<br />
possível caso a ação judicial já tenha<br />
sido iniciada.<br />
Juros<br />
cedida a ação judicial de São Lourenço da<br />
Mata: a ANP pagou R$ 100 mil ao município<br />
que <strong>é</strong> cortado pela tubulação do gasoduto<br />
Guamar<strong>é</strong>-Cabo.<br />
Diante dessa dificuldade, Harlan Gadelha<br />
acha que <strong>é</strong> importante que a sociedade<br />
cobre a continuidade das investigações<br />
Madeira<br />
É muito otimismo<br />
do Pólo Gesseiro de Pernambuco.<br />
O empresariado<br />
da região do Araripe<br />
fez <strong>um</strong>a boa proposta<br />
para uso da madeira da<br />
caatinga, retirada para<br />
dar passagem Às obras<br />
de construção do canal<br />
de transposição das<br />
águas do rio São Francisco<br />
e da Ferrovia Transnordestina. Ela seria<br />
destinada Às fábricas de beneficiamento<br />
do gesso. Segundo o deputado Raimundo<br />
Pimentel, com bases eleitorais na região, somente<br />
para o trabalho de transposição será<br />
retirado 1,5 milhão de metros cúbicos de<br />
O novo presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine,<br />
chega ao cargo com a missão de reduzir as taxas de juros<br />
pondo em prática <strong>um</strong>a postura mais agressiva de concessão<br />
de cr<strong>é</strong>dito. Os acionistas privados estão desconfiados<br />
iniciadas pela Polícia Federal<br />
na Operação Royalties.<br />
“Não se justificam<br />
as declarações dadas<br />
à imprensa por Haroldo<br />
Lima (presidente da ANP)<br />
e Victor Martins (diretor<br />
da agência e investigado<br />
pela PF) em Pernambuco,<br />
em junho de 2008,<br />
quando acusaram a Justiça<br />
Federal de patrocinar<br />
<strong>um</strong>a indústria de liminares<br />
para liberar os pagamentos”. Segundo<br />
Gadelha, agora a verdade veio a tona e pode<br />
explicar as nossas perdas, com a revelação<br />
da revista Veja a respeito do possível favorecimento<br />
de Victor Martins a municípios do<br />
Rio de Janeiro. “É <strong>um</strong> escândalo que precisa<br />
ser apurado”, diz.<br />
lenha. “É madeira suficiente para funcionamento<br />
do Pólo Gesseiro por três anos”, diz o<br />
parlamentar. Já a lenha retirada pela Transnordestina<br />
alimentaria os fornos por quatro<br />
ou cinco anos. Já acreditar no andamento<br />
das duas obras <strong>é</strong> outra coisa.<br />
dessa iniciativa. Só vêem o BB como <strong>um</strong>a entidade lucrativa<br />
e não como <strong>um</strong> banco oficial. Esquecem que a folha de pagamento<br />
do funcionalismo federal e outras contas governamentais<br />
estão no banco, o que garante o porte do BB no mercado<br />
e sua lucratividade. Agora <strong>é</strong> hora do social. Que aguentem o<br />
tranco.
Divulgação<br />
Pobre Jerusal<strong>é</strong>m<br />
Os ganhos com a Paixão de Cristo da<br />
Nova Jerusal<strong>é</strong>m, no agreste pernambucano,<br />
não permitem a realização de outros espetáculos<br />
no decorrer do ano no maior teatro<br />
ao ar livre do mundo. O Auto Natal, apresentado<br />
no fim do ano, <strong>é</strong> mais <strong>um</strong> esforço<br />
da sociedade que administra o teatro do que<br />
mesmo <strong>um</strong> bom negócio. Para Carlos Reis,<br />
diretor da Paixão, <strong>é</strong> indispensável o patrocínio<br />
do Governo do Estado para realizar mais<br />
peças. A vida de João Batista já está pronta<br />
para ser encenada, mas sem patrocínio<br />
nada será feito.<br />
Centenário<br />
Comemora-se este ano o centenário<br />
de nascimento do paisagista Burle<br />
Marx. O fotógrafo Marcus Prado e arquiteta<br />
Bete Araruna vão lançar em<br />
maio o projeto Burle Marx, o poeta dos<br />
Esportes<br />
Antônio Magalhães<br />
ajamagalhaes@yahoo.com.br<br />
Pobre Cristo<br />
Por falar em Nova Jerusal<strong>é</strong>m, o crit<strong>é</strong>rio<br />
da escolha de Cristo para o Drama da Paixão<br />
de Nova Jerusal<strong>é</strong>m deve ser revisto.<br />
A cada ano piora porque a seleção <strong>é</strong> feita<br />
com quem está em destaque na TV Globo,<br />
naquele momento. O Cristo de Murilo Rosa,<br />
apresentado este ano, foi muito fraco. A<br />
pouca gesticulação n<strong>um</strong> espetáculo teatral<br />
acaba com o ator. Murilo, acost<strong>um</strong>ado ao<br />
minimalismo da televisão – foco em primeiro<br />
plano –, foi <strong>um</strong> Cristo apático, de poucos<br />
gestos. Quem via de longe não identificava<br />
o personagem com a voz pr<strong>é</strong>-gravada.<br />
Jardins. São 200 fotos da flora escolhida<br />
por Marx e textos explicativos<br />
sobre o paisagista. Uma das<br />
praças mais conhecidas projetadas<br />
por ele <strong>é</strong> a de Casa Forte.<br />
Foi <strong>um</strong>a tradição local os bancos pernambucanos patrocinarem os grandes times de<br />
futebol. Os bancos locais fecharam. E as equipes pioram seu futebol. Com a abertura do<br />
Banco Gerador a conversa do patrocínio foi retomada. Paulo Dalla Nora Macedo, diretor<br />
executivo do Gerador (veja sua entrevista nesta edição), diz que o banco que dirige não <strong>é</strong><br />
para o grande público, diferente dos seus antecessores. Quando fala na possibilidade de<br />
patrocínio ele pensa em eventos culturais, apoiados pelos incentivos da Lei Rouanet. E só.<br />
maio ><br />
> 15
Pensando bem<br />
Pernambuco tem se reinventado. Desde as dobras<br />
anteriores da indústria mecânica. At<strong>é</strong> a verticalização<br />
do petróleo e dos reparos navais. Desde<br />
a sociedade perfeitamente classificada nos salões<br />
do Internacional. At<strong>é</strong> a voz do hip hop no Chevrolet<br />
Hall. Desde o com<strong>é</strong>rcio cadenciado das ruas Nova<br />
e Imperatriz. At<strong>é</strong> a produtividade feita de softwares<br />
do Porto Digital.<br />
Pernambuco morre clássico e renasce moderno.<br />
Pernambuco clássico findou três vezes. Na<br />
política, com a queda de Estácio Coimbra,<br />
filho da Zona da Mata e herdeiro<br />
do açúcar. Sucedido por Agamenon,<br />
padroeiro de <strong>um</strong>a linhagem de coron<strong>é</strong>is.<br />
Na empresa, findou com a agonia<br />
de Francisco Pessoa de Queiroz,<br />
que sempre fez do bom e do melhor.<br />
Sucedido por João Carlos Paes Mendonça,<br />
duque sergipano da serra do<br />
Machado e inovador nacional de shoppings<br />
centers. Na arte, findou com Lula<br />
Cardoso Ayres, que abria portões e guardava<br />
o azul. Sucedido por João Câmara,<br />
que pintou a história datada e fez arte<br />
em computação gráfica.<br />
O Pernambuco clássico, fechado,<br />
findou. E se reinventou no Pernambu-<br />
co moderno, aberto, atlântico, cheio de<br />
mangas, uvas e melões. Pernambuco<br />
clássico tinha gosto de açúcar e devaneio<br />
de aristocracia. Pernambuco moderno<br />
tem cheiro de democracia e som da<br />
orquestra do maestro Spock. Substituiu<br />
a antiga Casa de Banhos pela avenida<br />
dos arrecifes soprada pela esperança de<br />
Brasília Teimosa.<br />
Sutil revolução social de cost<strong>um</strong>es se<br />
infiltrou no Recife. Hoje, a graduação de<br />
expectativas e frustrações chega antes da<br />
faculdade. Por <strong>um</strong> lado, a vontade popular<br />
abriu caminho que faz as urnas roncarem a<br />
prazo certo. Trazendo aragem promissora<br />
que areja instituições. Fazendo da cidadania<br />
instância viva de consideração legal.<br />
Por outro lado, o espírito empreendedor inaugura sushis, massas<br />
e picanhas. Impõe customização e qualidade. Ergue o talento<br />
sob forma de concreto e vidro, lembrando a escola <strong>pernambucana</strong><br />
16 > > maio<br />
Luiz Otávio Cavalcanti<br />
lotavio@fsm.com.br<br />
Pernambuco, clássico e moderno<br />
“O Pernambuco<br />
clássico, fechado,<br />
findou. E se<br />
reinventou no<br />
Pernambuco<br />
moderno, aberto,<br />
atlântico,<br />
cheio de mangas,<br />
uvas e melões”<br />
de arquitetura, de Borsói a Alexandre Castro e Silva. Põe<br />
na parede retrato de velho mascate que desfilava sua<br />
marcha perseverante nas miudezas. Para surgir, agora,<br />
nos sites de mascates tecnológicos atravessando<br />
distâncias oceânicas em naves eletrônicas.<br />
Pernambuco moderno pauta trilogia. Pernambuco<br />
moderno <strong>é</strong> aberto, pendular e <strong>é</strong>tico. Antes, bloqueado<br />
em impasses econômicos, modernamente Pernambuco<br />
se abre a investimentos externos e influências exteriores.<br />
Recebe espanhóis, portugueses, italianos, japoneses<br />
e norte americanos trazendo fábricas<br />
e hot<strong>é</strong>is. Assimila novas tecnologias que<br />
se incorporam ao patrimônio com<strong>um</strong><br />
da economia globalizada. Pernambuco<br />
moderno não <strong>é</strong> monoglota, fala<br />
inglês, francês e espanhol.<br />
Nunca sonolento, no Imp<strong>é</strong>rio<br />
ou na República, modernamente<br />
Pernambuco continua pendular.<br />
Oscila entre a escola política de<br />
moderação e a de exaltação. Pende<br />
<strong>um</strong> lado para a serena articulação<br />
do marquês de Olinda e o senso<br />
de equilíbrio na sensatez de Gervásio Pires.<br />
Pende outro lado para a ação revolucionária<br />
de Frei Caneca e para o tempero irrevogável<br />
de Agamenon. Duas escolas, duas destina-<br />
ções, o mesmo povo, o mesmo chão. Como<br />
se há de reuní-los se já estão unidos ? Ou<br />
de aproximá-los se já estão juntos ? Certeira<br />
lição de pernambucanidade aprendida nos<br />
Brasis de meus ofícios.<br />
Jamais em cima do muro, modernamente<br />
Pernambuco se quer <strong>é</strong>tico. Mant<strong>é</strong>m<br />
tradição de legalismo fiscal que<br />
inibe leilões com incentivo de imposto.<br />
Alimenta tradição social que fez Paulo<br />
Freire juntar dois aprendizados, o da<br />
palavra e o da vida. Igual atitude social<br />
que fez Josu<strong>é</strong> de Castro tecer o delicado<br />
e perigoso terreno da geografia da<br />
fome. Sensibilidade social que fez Chico<br />
Science embalar a denúncia da pobreza<br />
recifense com o rap pioneiro de inventor.<br />
Pernambuco moderno concretiza encontro entre duas transições:<br />
a da política e a da economia. Duas transições, <strong>um</strong> só processo.<br />
Duas perspectivas, <strong>um</strong> só destino. Pernambuco eterno.<br />
*Luiz Otávio Cavalcanti <strong>é</strong> diretor da Faculdade Santa Maria
maio ><br />
><br />
17
Nova função<br />
Depois de participar do Big Brother, a<br />
<strong>pernambucana</strong> Karla Patrícia voltou<br />
ao Recife e mudou seus projetos<br />
profissionais. Desistiu da carreira<br />
n<strong>um</strong>a banda de forró e partiu para a<br />
área da comunicação. Depois de atuar<br />
no Programa do Mução, ganhou seu<br />
programa próprio na TV Tribuna e abriu<br />
sua própria agência de propaganda.<br />
18 > > maio<br />
João Alberto<br />
Divulgação<br />
Jovem e experiente<br />
O desembargador federal Luiz Alberto<br />
Gurgel de Faria, novo presidente do<br />
Tribunal Regional Federal da 5ª Região,<br />
tem apenas 39 anos e <strong>é</strong> o mais jovem<br />
dos presidentes de tribunais federais<br />
do país. Com pouca idade, ele já tem<br />
<strong>um</strong>a notável experiência, inclusive<br />
tendo sido funcionário, quando<br />
n Morenice em dose dupla: Karla Patrícia e Ivete Sangalo<br />
estagiário de Direito, quando aquele<br />
Fernando Silva/PCR<br />
tribunal foi criado. Mudanças no centro<br />
Fernando Silva/PCR<br />
Entre as prioridades do prefeito João da<br />
Costa para revitalizar o centro do Recife<br />
está <strong>um</strong>a forte intervenção na etapa final<br />
do camelódromo da Dantas Barreto, onde<br />
fica o Mercado das Flores, que hoje <strong>é</strong> <strong>um</strong>a<br />
das áreas mais degradadas da cidade. O<br />
projeto inclui a construção de <strong>um</strong> conjunto<br />
habitacional perto da Praça S<strong>é</strong>rgio Loreto,<br />
que daria vida à região.<br />
Mudança de sede<br />
O ministro Luiz Barretto me revela <strong>um</strong> dado<br />
impressionante sobre a Copa do Mundo.<br />
Quando <strong>um</strong>a selecão muda de sede, exige<br />
o deslocamento de 50 mil pessoas. N<strong>um</strong><br />
país como o Brasil, que praticamente não<br />
n Desembargador federal Luiz tem ferrovias, <strong>é</strong> <strong>um</strong>a operação gigantesca.<br />
Alberto Gurgel de Faria<br />
Algo como 500 voos.<br />
Sem juízes<br />
Pernambuco sempre se destacou no cenário da arbitragem no futebol brasileiro. Há<br />
anos, no entanto, está em franca decadência. Depois de Wilson Souza, que chegou ao<br />
quadro da FIFA, nunca mais apareceu <strong>um</strong> juiz de destaque. Os erros se tornaram rotina<br />
nas partidas. Um claro exemplo <strong>é</strong> que a Federação, al<strong>é</strong>m de ter trazido dois árbitros de<br />
Sergipe e Paraíba para seu quadro, teve que apelar para profissionais de outros Estados<br />
para os jogos da fase final do Campeonato Pernambucano.<br />
Exagero na<br />
Assembleia<br />
Sem tirar o m<strong>é</strong>rito<br />
da maioria das<br />
indicações, perdeu<br />
totalmente seu m<strong>é</strong>rito<br />
a verdadeira avalanche<br />
de propostas na<br />
Assembleia Legislativa<br />
considerando eventos<br />
como patrimônio<br />
cultural imaterial de<br />
Pernambuco. São tantas<br />
que praticamente não<br />
existe mais qualquer<br />
manifestação que<br />
não tenha recebido o<br />
destaque. É preciso<br />
entender que quanto<br />
mais homenagem,<br />
menos homenagem.<br />
n Prefeito João da Costa<br />
Volta do Monte Sinai<br />
O deputado Izaias R<strong>é</strong>gis trabalha no projeto da<br />
transformação do antigo Hotel Monte Sinai,<br />
em Garanhunns, atualmente ocupado por <strong>um</strong><br />
batalhão da PM, n<strong>um</strong> centro turístico, cultural<br />
ou educacional. Espaço tem <strong>um</strong>a das mais<br />
belas vistas daquela cidade.
Antevisão<br />
no Senado<br />
Diante desta impressionante<br />
onda de escândalos envolvendo<br />
o Senado, Jarbas Vasconcelos<br />
recorda <strong>um</strong>a frase que o falecido<br />
e respeitadíssimo senador amazonense<br />
Jefferson Peres disse<br />
em dezembro de 2004, ou seja,<br />
há mais de quatro anos: “Vou<br />
deixar a política por desencanto<br />
e nojo. Vale a pena exercer a atividade<br />
parlamentar? É inútil, não sei<br />
o que fazemos aqui no Senado.”<br />
n O consul geral do Japão, Toshio Watanabe, que<br />
tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> <strong>um</strong> apaixonado por carros, com o diretor<br />
comercial da MotoHonda, Roberto Akiyama. Na pauta<br />
da conversa: o mercado das duas rodas na região<br />
O QUE SE COMENTA...<br />
QUE depois de muitos anos morando em Curitiba, a jornalista Zenaide Barboza volta ao Recife<br />
para comandar a assessoria de comunicação do Tribunal de Justiça do Estado. u QUE<br />
Ignácio de Loyola Brandão está escrevendo a biografia de dona Ruth Cardoso, a ser lançada<br />
no próximo ano. u QUE Priscila Krause pode disputar cadeira na Assembleia Legislativa,<br />
no próximo ano, na chapa do DEM. u QUE o restaurante Pasta Gialla, do chef S<strong>é</strong>rgio Arno,<br />
nas Graças, desapareceu. No local, Thaís Góes instalou o Palatari. u QUE Francisco Rosário<br />
comemora o <strong>sucesso</strong> do seu projeto Welcome to Brazil de combate ao turismo sexual no<br />
nosso país.<br />
Adalberto Marques<br />
n Deputado Inocêncio Oliveira<br />
Futuro de<br />
Inocêncio<br />
Uma das principais lideranças<br />
políticas do Estado, de dimensão<br />
nacional, o deputado Inocêncio<br />
Oliveira assiste de camarote a<br />
disputa pelas vagas de candidato<br />
a senador na chapa de Eduardo<br />
Campos em 2010. Pode ser a opção<br />
que uniria todas as áreas, tendo no<br />
currículo sempre grandes votações<br />
em todo o Estado.<br />
joaoalberto@revistaalgomais.com.br<br />
Municípios<br />
em cheque<br />
A queda de arrecadação do Governo<br />
Federal, que causou sensível diminuição<br />
do Fundo de Participação dos Municípios<br />
(FPM) mostra a fragilidade financeira da<br />
maioria dos municípios brasileiros, que<br />
praticamente só têm aquela forma de<br />
receita. Serve para que muitos prefeitos<br />
mudem sua forma de administrar,<br />
acabando com exageros, que vão desde<br />
seus altíssimos salários e obras acima da<br />
capacidade a <strong>um</strong> quadro exagerado de<br />
funcionários, sendo muitos fantasmas,<br />
morando nas capitais.<br />
Números<br />
impressionantes<br />
Solange Vieira, presidente da Anac, revela<br />
números impressionantes da aviação<br />
brasileira. O país tem 11,9 mil aviões,<br />
1,2 mil helicópteros, 15 empresas a<strong>é</strong>reas<br />
de passageiros e quatro de cargas e<br />
5,1 mil pilotos comerciais. Ao todo são<br />
3,5 mil aeródromos, sendo 739 sujeitos<br />
a fiscalização.<br />
Bom exemplo<br />
Na sua recente apresentação no Recife a<br />
banda Iron Maiden deu <strong>um</strong> bom exemplo<br />
aos produtores de shows da nossa cidade.<br />
Começou o show exatamente na hora<br />
marcada. Os atrasos, muitas vezes de<br />
horas, no início de espetáculos na nossa<br />
cidade <strong>é</strong>, acima de tudo, <strong>um</strong>a falta de<br />
respeito com o público.<br />
maio ><br />
> 19
Política<br />
Mulheres no plenário<br />
AVANÇO | Mulheres preenchem dez cadeiras na Assembleia<br />
Legislativa e já ocupam 20% das vagas para a Casa de Joaquim Nabuco<br />
Por Ivo Dantas<br />
Assembleia Legislativa de Pernambuco<br />
A completou, no último mês de abril, 174<br />
anos escrevendo mais <strong>um</strong> capítulo de sua<br />
história. Pela primeira vez, dez mulheres<br />
ocupam cadeiras na Casa de Joaquim Nabuco.<br />
Número que representa 20% das 49<br />
vagas disponíveis para deputado estadual,<br />
superando a m<strong>é</strong>dia nacional em casas legislativas,<br />
que <strong>é</strong> de apenas 9%, segundo dados<br />
das Nações Unidas.<br />
Em 2006, seis deputadas foram eleitas<br />
diretamente após a apuração das urnas.<br />
Com o decorrer do mandato e, principalmente,<br />
devido às últimas eleições municipais,<br />
alg<strong>um</strong>as vagas foram abertas com a<br />
saída de políticos para ocupar outros cargos.<br />
As mulheres conseguiram, atrav<strong>é</strong>s<br />
de suplência, preencher quatro cadeiras,<br />
totalizando dez representantes femininas<br />
na Alepe.<br />
“É algo a ser comemorado. Temos o<br />
A bancada feminina<br />
TEREZINHA NUNES (PSDB)<br />
Eleita com<br />
45.775 votos<br />
Paraibana, com a<br />
política no sangue,<br />
já ocupou os cargos<br />
das secretarias de<br />
imprensa municipal<br />
e estadual, al<strong>é</strong>m<br />
da Secretaria de<br />
Desenvolvimento Urbano, durante gestões<br />
de Jarbas Vasconcelos. C<strong>um</strong>pre atualmente<br />
seu primeiro mandato. É autora do projeto<br />
de criação da Data Magna de Pernambuco,<br />
comemorado no dia 6 de março.<br />
20 > > maio<br />
Alexandre Albuquerque<br />
n Deputadas estaduais são cada vez mais comuns na Assembleia<br />
maior percentual de mulheres em Assembleia<br />
Legislativa em todo o país. A participa-<br />
TERESA LEITÃO (PT)<br />
Eleita com<br />
37.405 votos<br />
Professora<br />
aposentada,<br />
Teresa Leitão<br />
foi presidente<br />
do Sindicato<br />
dos<br />
Trabalhadores<br />
em Educação (Sintepe). Atualmente<br />
c<strong>um</strong>pre seu segundo mandato como<br />
deputada estadual. É integrante titular<br />
da Comissão de Constituição, Legislação<br />
e Justiça.<br />
ção da mulher na política <strong>é</strong> consequência direta<br />
da emancipação que temos conseguido<br />
MIRIAM LACERDA (DEM)<br />
Eleita com<br />
67.830 votos<br />
Miriam Lacerda<br />
começou na vida<br />
política ao lado<br />
de seu marido,<br />
Tony Gel, quando<br />
prefeito de Caruaru.<br />
Criou a Central da<br />
Solidariedade, entidade de assistência social, e<br />
que acabou levando-a a ass<strong>um</strong>ir a Secretaria de<br />
Governo do município, de onde saiu para, em<br />
2006, ass<strong>um</strong>ir seu primeiro mandato na Casa de<br />
Joaquim Nabuco. É líder da bancada do partido.
na vida social, ocupando cada vez mais cargos<br />
que antes não eram preenchidos pelo<br />
sexo feminino”, analisa a deputada estadual<br />
Ceça Ribeiro (PSB).<br />
A tendência <strong>é</strong> que esse movimento<br />
continue crescendo. Al<strong>é</strong>m de nove das<br />
dez deputadas que foram ouvidas pela<br />
<strong>Algomais</strong> afirmarem pretender a reeleição,<br />
os partidos são obrigados por força<br />
de lei a destinar 30% das vagas para as<br />
mulheres, a chamada chapa proporcional.<br />
Segundo Jacilda Urquisa (PMDB),<br />
as cotas são importantes, mas depen-<br />
de muito de quem<br />
se candidata. “Não<br />
basta fazer parte das<br />
cotas que os partidos<br />
têm que colocar como<br />
candidatas. Tem que<br />
entrar em condição<br />
de igualdade. Hoje,<br />
a maioria entra só na<br />
cauda das legendas e<br />
o que conseguir arrecadar<br />
de votos ajuda a<br />
eleger homens”, diz.<br />
Para Dilma Lins (DEM), a evolução da<br />
mulher no campo político anda a passos<br />
largos e <strong>um</strong>a governadora não <strong>é</strong> algo tão<br />
distante. “Cada vez tenho visto mais mulheres<br />
despontarem na vida política com<br />
grande potencial para ocupar qualquer<br />
cargo no nosso Estado. Acho que ainda<br />
verei <strong>um</strong>a mulher como governadora de<br />
Pernambuco”.<br />
Única a dar a carreira como encerra-<br />
JACILDA URQUISA (PMDB)<br />
Eleita para<br />
suplência com<br />
21.753 votos<br />
Advogada, iniciou<br />
sua carreira política<br />
como vereadora de<br />
Olinda, em 1988,<br />
onde desempenhou<br />
o cargo de primeira<br />
secretária e foi relatora da Lei Orgânica e<br />
do Regimento Interno. Em 1996, foi eleita<br />
prefeita da cidade. Atualmente, <strong>é</strong> líder do<br />
PMDB e c<strong>um</strong>pre seu primeiro mandato como<br />
deputada estadual.<br />
“Quando se tem<br />
vontade política,<br />
se faz. Quando<br />
não, nada <strong>é</strong> feito.<br />
E falta muita<br />
vontade política.”<br />
da, Carla Lapa (PSB) se diz decepcionada<br />
com a vida pública. “A política <strong>é</strong> algo fascinante,<br />
mas que pode decepcionar profundamente,<br />
como aconteceu comigo.<br />
Não me arrependi de nada que fiz, mas<br />
aprendi <strong>um</strong>a coisa em política: quando se<br />
tem vontade política, se faz. Quando não,<br />
nada <strong>é</strong> feito. E falta muita vontade política<br />
de fazer as coisas funcionarem”.<br />
As críticas não param por aí. Para<br />
ela, ano de eleição <strong>é</strong> ano de leilão de<br />
políticos. “A gente vê lideranças votando<br />
em candidatos que não têm o menor<br />
compromisso com a<br />
região; envolvidos em<br />
corrupção, que não<br />
têm trabalho, não têm<br />
projetos, simplesmente<br />
por dinheiro. O que<br />
acontece <strong>é</strong> <strong>um</strong> leilão<br />
com as lideranças<br />
políticas. Isso <strong>é</strong> muito<br />
frustrante”, completa.<br />
Para Miriam Lacerda<br />
(DEM), a grande<br />
participação na<br />
legislatura <strong>é</strong> positiva, mas o número de<br />
mulheres que partem para a vida política<br />
ainda pode crescer. “Em Pernambuco,<br />
a quantidade de mulheres que entram<br />
na política ainda <strong>é</strong> muito pequeno. É da<br />
nossa cultura. Aprendemos que lugar da<br />
mulher <strong>é</strong> em casa. Para mudar isso, só<br />
vencendo esse preconceito, inclusive na<br />
Carla Lapa<br />
cabeça das próprias mulheres”, diz.<br />
Preconceito que pôde ser sentido u uu<br />
ISABEL CRISTINA (PT)<br />
Eleita para<br />
suplência com<br />
26.693 votos<br />
Foi vereadora de<br />
Petrolina em duas<br />
oportunidades<br />
(1993 a 2000),<br />
sendo a primeira<br />
mulher da região<br />
do Vale do São Francisco a ass<strong>um</strong>ir <strong>um</strong><br />
cargo no executivo, como vice-prefeita da<br />
cidade. Atualmente, c<strong>um</strong>pre seu primeiro<br />
mandato na Assembleia Legislativa. É a 1ª<br />
vice-líder da bancada do partido.<br />
maio ><br />
> 21
Política<br />
por várias das dez deputadas que ocupam as<br />
cadeiras da Alepe atualmente. O mais emblemático<br />
talvez seja o de Miriam Lacerda, que<br />
diz ter enfrentado situações por vezes constrangedoras.<br />
“Apesar de sermos a maioria do<br />
eleitorado, ainda existe <strong>um</strong>a grande resistência<br />
em votar em mulheres. Quando me candidatei,<br />
estava em <strong>um</strong> programa de rádio e<br />
<strong>um</strong>a ouvinte ligou para dizer que gostava muito<br />
de mim, mas que não votaria porque lugar<br />
de mulher <strong>é</strong> em casa, cuidando da família”.<br />
Um fato interessante <strong>é</strong> a expressiva<br />
quantidade de deputadas advindas de famílias<br />
de políticos. Das dez, quatro possuem<br />
A bancada feminina<br />
ELINA CARNEIRO (PSB)<br />
Eleita com<br />
31.902 votos<br />
Filha do ex-prefeito<br />
de Jaboatão dos<br />
Guararapes Newton<br />
Carneiro, Elina<br />
Carneiro <strong>é</strong> formada<br />
em Relações Públicas<br />
e já ocupou os<br />
cargos de presidente da Fundação de<br />
Cultura, Ciência e Tecnologia e de secretária<br />
de Ação Social, ambos de Jaboatão.<br />
Atualmente, c<strong>um</strong>pre seu primeiro mandato<br />
como deputada estadual e preside a<br />
Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.<br />
CEÇA RIBEIRO (PSB)<br />
Eleita com<br />
28.263 votos<br />
Pedagoga,<br />
Ceça Ribeiro já<br />
ocupou o cargo<br />
de secretária<br />
de Educação<br />
do município de<br />
Itapiss<strong>um</strong>a. Em<br />
seu segundo mandato como deputada estadual,<br />
atingiu marca importante ao ser escolhida<br />
a primeira mulher da história do Legislativo<br />
pernambucano a ocupar assento na Mesa<br />
Diretora como 4ª secretária. Seus principais<br />
projetos são na área do meio ambiente.<br />
22 > > maio<br />
a vida pública no sangue. São os casos de<br />
Carla Lapa (PSB), filha de ex-prefeitos de<br />
municípios do interior do Estado, Elina Carneiro<br />
(PSB), filha de ex-prefeito de Jaboatão<br />
dos Guararapes, Terezinha Nunes (PSDB),<br />
com irmãos que já exerceram mandatos de<br />
prefeito na Paraíba, e Miriam Lacerda (DEM),<br />
esposa de ex-prefeito de Caruaru.<br />
ASSUNTOS POLÊMICOS,<br />
BANCADA DIVIDIDA<br />
Se por <strong>um</strong> lado a presença de dez mulheres<br />
na Alepe <strong>é</strong> algo a ser comemorado,<br />
a falta de unidade em questões polêmicas<br />
fica evidente, seja por suas concepções políticas,<br />
morais ou partidárias.<br />
Destaque na mídia durante os últimos me-<br />
DOUTORA NADEGI (PMN)<br />
Eleita com<br />
23.390 votos<br />
M<strong>é</strong>dica<br />
ginecologista<br />
em atividade,<br />
Nadegi Queiroz<br />
já ocupou<br />
o cargo de<br />
secretária de<br />
Saúde dos municípios de São Lourenço<br />
da Mata e Camaragibe, onde foi viceprefeita<br />
em duas ocasiões. C<strong>um</strong>pre<br />
seu primeiro mandato na Assembleia<br />
Legislativa defendendo projetos na área<br />
de saúde.<br />
CARLA LAPA (PSB)<br />
Eleita com<br />
35.101 votos<br />
Filha do<br />
ex-prefeito<br />
de Carpina Carlos<br />
Lapa e de Graça<br />
Lapa, ex-prefeita<br />
do município<br />
de Tracunha<strong>é</strong>m,<br />
Carla Lapa tem a política no sangue.<br />
Segunda mais jovem deputada estadual<br />
do país, c<strong>um</strong>pre seu segundo mandato<br />
na Casa de Joaquim Nabuco. É de sua<br />
autoria a lei que proíbe o f<strong>um</strong>o em<br />
lugares públicos coletivos.<br />
ses, o aborto <strong>é</strong> o tema que conseguiu maior<br />
semelhança entre as opiniões das deputadas.<br />
Para a maioria delas só deve ser permitido nos<br />
casos previstos em lei. “Sou a favor em casos<br />
de risco de vida, estupro e má formação. Em<br />
qualquer outra situação, sou contra”, defende a<br />
m<strong>é</strong>dica ginecologista Doutora Nadegi (PMN).<br />
Já a deputada Isabel Cristina (PT) vai <strong>um</strong><br />
pouco al<strong>é</strong>m. “Não podemos tratar o tema de<br />
forma simplista, indicando <strong>um</strong>a posição favorável<br />
ou contrária, mas como <strong>um</strong>a questão de<br />
saúde púbica. Defendo a descriminalização do<br />
aborto e a regulamentação do atendimento.<br />
Nossa preocupação crucial <strong>é</strong> que essas mulheres<br />
não morram com a prática do aborto<br />
clandestino”, diz.<br />
O Governo de Eduardo Campos divide a<br />
bancada feminina da Assembleia. Para Terezinha<br />
Nunes (PSDB), o governador <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />
homem de sorte e foi eleito pela força do<br />
apoio que recebeu do presidente Lula, assim<br />
como continua tendo seu governo bem<br />
avaliado muito mais pelos investimentos federais<br />
do que por m<strong>é</strong>ritos próprios. “Se Jarbas<br />
for candidato tem todas as condições<br />
de voltar ao Palácio das Princesas porque o<br />
povo sabe que tudo que ele realizou foi mais<br />
por m<strong>é</strong>ritos próprios do governador e de sua<br />
equipe do que por apoio federal”.<br />
Parte da bancada de sustentação de Eduardo<br />
na Assembleia, Teresa Leitão (PT) acredita<br />
que o atual governo esteja quebrando<br />
paradigmas. “O modelo de gestão <strong>é</strong> algo que<br />
merece destaque. Gerir o governo com plano<br />
de metas, alcance de resultados e de forma integrada<br />
<strong>é</strong> importante at<strong>é</strong> para desfazer o mito<br />
de que a gestão pública <strong>é</strong> ineficiente”. n<br />
DILMA LINS (DEM)<br />
Eleita para<br />
suplência com<br />
33.438 votos<br />
Maranhense,<br />
Dilma Lins<br />
veio para<br />
Pernambuco<br />
em 1980,<br />
radicando-se<br />
em Jaboatão dos Guararapes. Tentou<br />
por duas vezes o cargo de vereadora do<br />
município, sem <strong>sucesso</strong>, at<strong>é</strong> ser eleita<br />
deputada estadual em 2002. Atualmente,<br />
c<strong>um</strong>pre seu segundo mandato e<br />
desenvolve trabalhos nas áreas sociais.
maio ><br />
><br />
23
Geral<br />
Parque Dona Lindu só vai<br />
ficar pronto no fim do ano<br />
ATRASO | No último dia 15, obras foram retomadas. Projeto foi entregue<br />
pela metade e população reclama de pouco espaço no parquinho infantil<br />
At<strong>é</strong> o final do segundo semestre. Eis o<br />
prazo estabelecido pela Prefeitura do<br />
Recife para entregar à população o polêmico<br />
e at<strong>é</strong> agora inacabado Parque Dona Lindu.<br />
Um mês após inauguração da primeira parte<br />
do projeto, em 30 dezembro, o espaço de<br />
lazer já apresentava problemas, como rachaduras<br />
na pista de cooper e brinquedos<br />
do parquinho infantil danificados. A obra foi<br />
inaugurada antes de ser concluída nas últimas<br />
horas do mandato do prefeito João<br />
Paulo, que enfrentou <strong>um</strong>a batalha judicial,<br />
contra a Associação dos Moradores de Boa<br />
Viagem e políticos da oposição, para manter<br />
Alexandre Albuquerque<br />
n João Fonseca com a esposa Cyntia e a filha Letícia: frustração<br />
24 > > maio<br />
o projeto como foi concebido pelo arquiteto<br />
Oscar Niemeyer.<br />
Segundo o secretário de Planejamento<br />
Participativo, Amir Schvartz, nesses três primeiros<br />
meses do ano houve a necessidade<br />
de reavaliação do prazo da obra, que recomeçou<br />
no último dia 15. “Diversas situações<br />
nos levaram a isso, <strong>um</strong>a delas, foi a crise<br />
financeira mundial. Alguns fornecedores<br />
atrasaram a entrega de material e, mesmo<br />
com os recursos para o parque já garantidos,<br />
tivemos o início de <strong>um</strong>a nova gestão e<br />
a necessidade de organizar o caixa municipal”,<br />
explicou.<br />
Ainda faltam ser concluídos os banheiros<br />
públicos, toda parte do esgotamento<br />
sanitário, a impermeabilização das lajes do<br />
teatro, do restaurante e do pavilhão de exposições,<br />
al<strong>é</strong>m da pista de skate, dos sistemas<br />
de climatização e sonorização do teatro, e<br />
a instalação da parte el<strong>é</strong>trica e do serviço<br />
de proteção contra incêndio. Tamb<strong>é</strong>m serão<br />
feitos reparos na pista de cooper.<br />
Mesmo com boa parte do parque ainda<br />
inacabada, todos os fins de tarde crianças<br />
estão ocupando o espaço do parquinho infantil<br />
e as queixas em relação ao projeto vão<br />
se avol<strong>um</strong>ando. O empresário João u uu
maio ><br />
><br />
25
Geral<br />
Fonseca foi conhecer a área com a esposa<br />
Cyntia e a filha Letícia, recentemente, e não<br />
gostou do que viu. “Já tinha ficado decepcionado<br />
com o abandono após a eleição, as<br />
obras estão cheias de falhas e o parquinho<br />
não <strong>é</strong> suficiente para a quantidade de crianças<br />
que frequenta a área”, explicou.<br />
Antônio Maciel, militar, tamb<strong>é</strong>m tem a<br />
mesma opinião. Ele levou a filha Ana Clara e<br />
ficou frustrado com o pouco espaço reservado<br />
para o lazer das crianças. “Isso aqui não <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />
parque, essa área <strong>é</strong> insuficiente para o lazer”,<br />
comentou. Outra queixa dos freqüentadores<br />
<strong>é</strong> sobre a construção de apenas <strong>um</strong>a quadra<br />
poliesportiva. “No Pina, há mais quadras e<br />
campos”, afirma o estudante Andr<strong>é</strong> Portela.<br />
A metralhadora da população tamb<strong>é</strong>m<br />
<strong>é</strong> apontada para as duas grandes estruturas<br />
de cimento que vão abrigar o teatro e o pavilhão<br />
de exposições. “Parecem duas grandes<br />
caixas d’água”, critica a comerciante Laura<br />
Aranha, cujo pai mora n<strong>um</strong> pr<strong>é</strong>dio ao lado.<br />
De queixa em queixa, o Parque Dona Lindu,<br />
nome escolhido pelo ex-prefeito João Paulo<br />
para homenagear a mãe do presidente Luiz<br />
Inácio Lula da Silva, vai entrando para o folclore<br />
da cidade como algo que não agradou.<br />
Durante o carnaval, foi alvo de tiradas<br />
irônicas (para não ser mais contundente) na<br />
festa do Bloco Quanta Ladeira. A população<br />
queria <strong>um</strong> parque com mais árvores, embora<br />
Alexandre Albuquerque<br />
n Dona Maria do Carmo iniciou a luta e ganhou o apoio do advogado Fred Chaves tamb<strong>é</strong>m morador do bairro<br />
26 > > maio<br />
Alexandre Albuquerque<br />
n Antônio Maciel diz que parquinho infantil <strong>é</strong> insuficiente para lazer da garotada<br />
a prefeitura justifique, alegando que 60% do<br />
espaço <strong>é</strong> reservado para área verde, jardins<br />
e de lazer. As plantas, por<strong>é</strong>m, ainda não<br />
cresceram o suficiente para dar sombra e a<br />
população só começa a aparecer no parque<br />
após as 16h quando o sol está mais ameno.<br />
Se o Parque Dona Lindu não consegue<br />
agradar os moradores da área, há espaços<br />
públicos bem aconchegantes e que chamam<br />
a atenção pelo zelo demonstrado pelos populares<br />
que residem em seu entorno. Um<br />
desses casos <strong>é</strong> a Praça Fleming, <strong>um</strong> projeto<br />
do arquiteto Acácio Gil Borsoi, na d<strong>é</strong>cada de<br />
50. A praça chegou a ficar esquecida pela<br />
PCR, passou por <strong>um</strong> período de ostracismo,<br />
mas agora atrai pessoas de todas as faixas<br />
etárias para <strong>um</strong>a convivência harmoniosa.<br />
A recuperação da praça começou com<br />
a iniciativa da m<strong>é</strong>dica Maria do Carmo Costa<br />
Carvalho, moradora de <strong>um</strong> dos pr<strong>é</strong>dios que<br />
circundam o espaço verde. Com recursos<br />
próprios, ela resolveu bancar reposição de<br />
grama para os jardins e tamb<strong>é</strong>m fazer o encanamento<br />
para regar as plantas.<br />
“O lugar estava virando <strong>um</strong>a ruína e isso<br />
se refletia na qualidade de vida dos moradores,<br />
agora mudou, crianças frequentam a praça e<br />
idosos tamb<strong>é</strong>m, as pessoas passaram a circular”,<br />
explica Maria do Carmo, com os olhos<br />
brilhando de satisfação. A sua iniciativa acabou<br />
sensibilizando outros moradores da área. Eles<br />
formaram <strong>um</strong>a associação, fazem cotas e bancam<br />
boa parte da manutenção. Uma arquiteta<br />
da prefeitura supervisiona a área.n
maio ><br />
><br />
27
Geral<br />
Condomínios são<br />
tratados como empresas<br />
ADMINISTRAÇÃO | Feira pretende suprir carência<br />
de informações a respeito das novas práticas e empregos que<br />
estão surgindo no mercado para auxiliar o trabalho dos síndicos<br />
Por Marcella Sampaio<br />
difícil tarefa de administrar <strong>um</strong>a casa<br />
A tem passado dos limites das quatro<br />
paredes. Morar em condomínios, hoje, representa<br />
<strong>um</strong>a questão de segurança, mas<br />
requer paciência, principalmente quando<br />
o assunto diz respeito ao cargo de síndico,<br />
que mais cedo ou mais tarde poderá bater<br />
na porta de qualquer condômino. Al<strong>é</strong>m<br />
do tempo exigido, o trabalho necessita de<br />
vocação para tratar dos assuntos que não<br />
apenas dizem respeito aos seus problemas<br />
dom<strong>é</strong>sticos. Vizinhos, manutenção, folha salarial<br />
e tributos são apenas alg<strong>um</strong>as das responsabilidades<br />
que o gestor do condomínio<br />
terá que arcar. Como diz o advogado Inaldo<br />
Dantas, muitos desses problemas começam<br />
pela letra “C”: carro, cachorro e criança.<br />
Mas, como cada vez a legislação está impondo<br />
<strong>um</strong>a maior profissionalização dos serviços,<br />
ou seja, não há mais como administrar<br />
<strong>um</strong> condomínio como sendo a casa de todos,<br />
novas práticas e empregos estão surgindo. E<br />
<strong>um</strong>a delas pode at<strong>é</strong> livrar os condôminos da<br />
difícil tarefa de ser síndico. A medida ainda<br />
não <strong>é</strong> muito com<strong>um</strong> em Pernambuco, mas<br />
nos Estados do Sul, Sudeste e na Bahia a atuação<br />
do síndico profissional já está aprovada.<br />
Isto porque administrar <strong>um</strong> condomínio<br />
ficou mais difícil, haja vista que alterações na<br />
legislação impuseram novas obrigações, que<br />
requerem at<strong>é</strong> CNPJ. De acordo com o gerente<br />
setorial da administradora APSA, Luiz da Cal,<br />
os condomínios passaram a ser vistos como<br />
<strong>um</strong>a empresa e toda empresa tem o seu staff<br />
especializado para manter-se funcionando.<br />
“Eles são responsabilizados por legislação tributária,<br />
trabalhista, fiscal... aí começa a neces-<br />
28 > > maio<br />
n Evento no Centro de Convenções visa aproximar síndicos de fornecedores<br />
sidade de ter pessoas treinadas nisso.”<br />
Se o motivo divergente da id<strong>é</strong>ia do síndico<br />
profissional está intrínseco aos custos,<br />
Luiz da Cal garante que as vantagens para<br />
os usuários do serviço são inúmeras, incluindo<br />
economia de at<strong>é</strong> 30% sobre os sistemas<br />
tradicionalmente utilizados.<br />
Para o vice presidente da administração<br />
de condomínios do Sindicato de Habitação<br />
de Pernambuco (Secovi-PE), Genival Aguiar,<br />
o síndico profissional <strong>é</strong> <strong>um</strong> recurso de última<br />
instância, ou seja, ele só deve ser procurado<br />
após sucessivas tentativas para conseguir<br />
eleger <strong>um</strong> condômino a sindicância. “Apesar<br />
da lei do condomínio não obrigar que o<br />
síndico seja <strong>um</strong> morador, eu prefiro pregar a<br />
cidadania. Mas, caso a assembleia decida<br />
pelo profissional <strong>é</strong> preciso que ela tamb<strong>é</strong>m<br />
delibere a remuneração e o raio de ação<br />
dele. É recomendável tamb<strong>é</strong>m que o trabalho<br />
deste colaborador seja compartilhado<br />
com <strong>um</strong> conselho consultivo.”<br />
Por o Grande Recife ser <strong>um</strong>a área metropolitana<br />
que engloba <strong>um</strong>a substancial quantidade<br />
de condomínios, cerca de 10 mil,<br />
onde os síndicos, como os demais gestores<br />
destes recursos são carentes de informações,<br />
foi detectada a necessidade de <strong>um</strong>a<br />
Feira de Condomínios no Nordeste (Fesindico).<br />
Em sua quarta edição, o evento trará<br />
informações para o <strong>sucesso</strong> das administrações<br />
e aproximará os síndicos dos principais<br />
fornecedores de produtos e serviços. A expectativa<br />
<strong>é</strong> que o vol<strong>um</strong>e de negócios gire<br />
em torno de R$ 2 milhões.<br />
“Na Fesindico o visitante poderá encontrar<br />
desde novidades tecnológicas na área<br />
administrativa a produtos de conservação<br />
predial, passando pela área de segurança,<br />
individualização de águas e gás. Teremos<br />
tamb<strong>é</strong>m palestras proferidas pelos mais respeitados<br />
nomes do segmento no Brasil (ver<br />
agenda)”, conta o advogado e organizador<br />
da feira, Inaldo Dantas.<br />
Serviço<br />
4ª Feira de Condomínios do Nordeste<br />
Data: 28 a 30 de maio<br />
Local: Centro de Convenções<br />
Entrada: Gratuita<br />
Mais informações: 3221.9083<br />
ou www.fesindico.com.br u uu
maio ><br />
><br />
29
Geral<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Coleta seletiva <strong>é</strong> lei<br />
Para muitos o fato de separar o lixo representa<br />
<strong>um</strong> grande transtorno, haja<br />
vista que a perda de tempo influi substancialmente<br />
no dia-a-dia estressante dos<br />
pernambucanos. Quem pensa desta forma<br />
não leva em consideração a importância<br />
que o simples ato pode ter para a sociedade.<br />
Preocupado com esse posicionamento<br />
social, o antropólogo e mestre em Desenvolvimento<br />
Urbano Mark Burr estudou <strong>um</strong>a<br />
forma de identificar o que motiva mais as<br />
pessoas a realizarem a coleta seletiva. A<br />
resposta encontrada foi: facilidade.<br />
Atento a esse fundamento e ao fato<br />
da lei estadual nº 13.047, de 26 de junho<br />
de 2006, determinar que a obrigatoriedade<br />
da implantação da coleta seletiva de lixo<br />
nos condomínios residenciais e comerciais,<br />
nos estabelecimentos comerciais e<br />
industriais e órgãos públicos, o antropólogo<br />
espanhol idealizou o projeto Edifício Ecológico.<br />
Há sete anos presente no Recife, a<br />
id<strong>é</strong>ia prevê que a coleta seja separada em<br />
duas etapas: material orgânico e reciclado.<br />
“Esse m<strong>é</strong>todo <strong>é</strong> mais fácil na prática e leva<br />
menos tempo. Um trabalho a mais causa<br />
inconveniência e isso faz com que as pes-<br />
30 > > maio<br />
soas não participem”, explica Burr.<br />
O lixo reciclado <strong>é</strong> recolhido pelos catadores<br />
que passam duas ou três vezes por<br />
semana para recolher o material. A rota já <strong>é</strong><br />
previamente determinada para evitar que o<br />
edifício tenha que ficar cobrando. Os dejetos<br />
orgânicos são levados pela prefeitura, o que<br />
faz com que a vida útil do lixão se estenda<br />
e a metade do lixo jogado fora retorne a cadeia<br />
produtiva. Para o antropólogo, o projeto<br />
al<strong>é</strong>m de beneficiar a comunidade tamb<strong>é</strong>m<br />
contribui com a saúde e renda do catador,<br />
que passa a não ter mais que caminhar pelas<br />
ruas e ainda a<strong>um</strong>enta o salário em cerca<br />
de 100%.<br />
Segundo os dados da Emlurb, atualmente,<br />
a capital <strong>pernambucana</strong> produz 1,9 mil<br />
toneladas de lixo por dia. Apenas 3% desse<br />
total <strong>é</strong> reciclado, apesar de estimativas<br />
apontarem que 20% podem retornar para a<br />
cadeia produtiva.<br />
O projeto Edifício Ecológico atende atualmente<br />
a 80 condomínios. A meta prevista<br />
para este ano <strong>é</strong> conseguir implantar o<br />
serviço em mais 100 locais. O custo com<br />
a prática representa <strong>um</strong>a taxa única de R$<br />
35,00 por apartamento para despesas das<br />
compras dos recipientes plásticos, adesivos,<br />
placas, ações pedagógicas e acompanhamento.<br />
O trabalho desenvolvido pelo projeto<br />
será apresentado na palestra “Coleta Seletiva<br />
para Condomínios - você pode fazer a<br />
diferença” no sábado (30), às 17h40, durante<br />
4ª Feira de Condomínios do Nordeste, no<br />
Centro de Convenções. Mais informações<br />
sobre o Edifício Ecológico tamb<strong>é</strong>m podem<br />
ser adquiridas pelo telefone 3265.1704.<br />
POR QUE É PRECISO RECICLAR?<br />
1. A reciclagem de <strong>um</strong>a jarra de vidro<br />
poupa suficiente energia para acender<br />
<strong>um</strong>a lâmpada por 4 horas.<br />
2. A reutilização do al<strong>um</strong>ínio reciclado para<br />
novos produtos usa 95% menos energia<br />
que se fosse feita de material bruto<br />
3. Reciclar 1 tonelada de papel poupa<br />
22 árvores, consome 71% menos energia<br />
el<strong>é</strong>trica e polui o ar 74% menos do que<br />
fabricá-la a partir de madeira virgem<br />
4. Uma tonelada de plástico reciclado<br />
economiza 130 litros de petróleo, que<br />
poderia ser usado para gerar energia ou<br />
poupado para não poluir o ar.<br />
5. Depois de reciclado o plástico ainda<br />
pode virar carpetes, mangueiras, cordas,<br />
sacos, para-choques de carro, caixa de<br />
ferramentas, jeans, poupando muita energia<br />
na sua produção. u uu
Taxa de marinha <strong>é</strong> cobrada<br />
indevidamente a 60% dos imóveis<br />
Um estudo realizado pela advogada e<br />
especialista em terrenos de marinha Natália<br />
Ribeiro promete aquecer ainda mais a discussão<br />
que gira em torno da cobrança das<br />
taxas de marinha. Al<strong>é</strong>m do a<strong>um</strong>ento bastante<br />
questionado no ano passado, o tributo<br />
<strong>é</strong> cobrado indevidamente a quase 60% dos<br />
imóveis recifenses. Várias localidades não<br />
se enquadram na determinação do Decreto<br />
9.760/46, artigo 2°, que considera terreno<br />
de marinha a faixa territorial de 33 metros<br />
contados a partir da mar<strong>é</strong> alta do ano de<br />
1831.<br />
Baseada nessa informação, a advogada<br />
verificou que a cobrança chega aos imóveis<br />
na Av. Boa Viagem que estão a 55 metros<br />
do ponto onde foi registrada a mar<strong>é</strong> alta de<br />
1831. Na mesma situação, encontram-se<br />
proprietários de áreas localizadas nas Avenidas<br />
Conselheiro Aguiar, Domingos Ferreira<br />
e Montevid<strong>é</strong>u.<br />
“Assim como várias pessoas estão sendo<br />
cobradas indevidamente, há diversas localidades<br />
que estão nos limites dos terrenos<br />
da União e não sofrem cobrança. Ao perceber<br />
isso, a Secretaria de Patrimônio da União<br />
(SPU) promoveu <strong>um</strong>a nova ‘demarcação’ das<br />
terras, na verdade o que está se fazendo <strong>é</strong><br />
<strong>um</strong> novo cadastramento totalmente irregular,<br />
que não obedece à determinação da lei,<br />
al<strong>é</strong>m de outras irregularidades no procedimento<br />
administrativo”, explica Ribeiro.<br />
Apesar do dinheiro arrecadado com a<br />
taxa não ter <strong>um</strong> destino específico, o estudo<br />
não critica a cobrança. Acha-a justa, inclusive<br />
haja vista que os terrenos de marinha<br />
foram concebidos para garantir ao país e à<br />
população o livre acesso à orla marítima e<br />
aos rios. Com intuito de reaver e at<strong>é</strong> mesmo<br />
de por fim ao tributo mais de cem projetos<br />
de leis relacionados a essas áreas tramitam<br />
no Congresso. A especialista adianta que<br />
nos contatos que manteve com o poder<br />
público ficou clara a vontade de capacitar a<br />
SPU e não a de acabar com a taxa.<br />
Para saber se a cobrança relativa ao<br />
imóvel <strong>é</strong> indevida, Natália Ribeiro recomenda<br />
que o primeiro passo seja contratar <strong>um</strong><br />
profissional especializado, <strong>um</strong> engenheiro ou<br />
topógrafo, que possa fazer essa constatação.<br />
Uma vez evidenciada a injustiça, o proprietário<br />
lesado deve contratar <strong>um</strong> advogado<br />
para que ele entre com <strong>um</strong>a Ação Declaratória<br />
e passe a depositar o valor cobrado em<br />
juízo, pois caso a causa seja dada favorável<br />
ao contribuinte, o dinheiro corrigido poderá<br />
ser devolvido.<br />
Mais informações sobre o assunto podem<br />
ser obtidas durante a palestra “Terras<br />
de Marinha - Taxas de ocupação devida ou<br />
indevida, como saber?” ministrada pela<br />
advogada na sexta-feira (29), às 17h40,<br />
durante a 4ª Feira de Condomínios do Nordeste,<br />
que acontece no Centro de Convenções.<br />
n<br />
n Áreas em verde não se enquadram nos terrenos de marinha, mas geram<br />
cobranças indevidas, no litoral sul<br />
maio ><br />
> 31
Economia<br />
Brasil ainda pratica <strong>um</strong>a das maiores taxas de juros reais<br />
O do planeta. A esse custo do dinheiro trava-se o cons<strong>um</strong>o<br />
das famílias e o investimento privado agravando o desemprego<br />
entre os trabalhadores e a<strong>um</strong>entando as incertezas entre os<br />
empresários. É verdade que a Selic vem caindo mas ainda está<br />
muito alta. Espera-se que permanecendo as atuais condições<br />
tenhamos quedas adicionais na taxa básica de juros que <strong>é</strong> fixada<br />
pelo Conselho de Política Monetária-COPOM-tendo em vista o<br />
regime de metas de inflação.<br />
As razões históricas para o Banco Central manter juros al-<br />
tos não residiam apenas na necessidade<br />
de manter a inflação sob controle. Havia<br />
duas outras razões macroeconômicas importantes.<br />
A primeira, que já perdeu força,<br />
era a vulnerabilidade externa da economia<br />
brasileira. A outra razão que tamb<strong>é</strong>m vem<br />
perdendo gravitação <strong>é</strong> o desequilíbrio fiscal<br />
do setor público. A União captura a poupança<br />
privada oferecendo juros atraentes<br />
para financiar o d<strong>é</strong>ficit público. Embora a<br />
relação estoque da divida/PIB venha caindo<br />
e se estabilizando em patamares próximos a 40%, a possibilidade-<br />
mesmo cada vez mais remota- de calote ainda incorpora aos<br />
juros <strong>um</strong> fator de risco. Essa necessidade estabelece, no fundo,<br />
<strong>um</strong>a rigidez para baixo na taxa de juros.<br />
Mas qual <strong>é</strong> a relação entre alta taxa juros e o elevado spread<br />
entendido como a diferença entre o custo de captação e o custo<br />
de aplicação de recursos no sistema bancário. Para isso precisamos<br />
entender a intermediação financeira no Brasil e por que nós<br />
cobramos spreads considerados pelo Banco Mundial entre os<br />
mais elevados no mundo. Porque essa diferença <strong>é</strong> tão alta. Qual<br />
<strong>é</strong> a composição do spread?<br />
Em primeiro lugar, há <strong>um</strong> prêmio pelo risco de cr<strong>é</strong>dito ou de<br />
inadimplência. Esse risco <strong>é</strong> ampliado pelas características da legis-<br />
32 > > maio<br />
<br />
Jorge Jatobá<br />
jorgejatoba@revistaalgomais.com.br<br />
Por que os juros e o spread são tão altos?<br />
Para que os juros<br />
caiam de forma<br />
sustentável,<br />
o BC deve<br />
continuar reduzindo<br />
a taxa Selic<br />
A Finacap Educacional<br />
ensina a você investir<br />
no mercado de ações.<br />
lação brasileira que assegura <strong>um</strong>a proteção exagerada ao devedor.<br />
Credores sem direitos emprestam pouco ou quando emprestam<br />
cobram caro. Os direitos dos credores deveriam expressar-se em<br />
legislação que permitisse recuperar o dinheiro em caso de calote.<br />
Em segundo lugar, há o “markup” dos bancos constituído pela<br />
soma das participações no spread das despesas administrativas,<br />
dos impostos diretos e dos lucros Recentemente o spread tem se<br />
elevado puxado pelos lucros. Pergunta-se: Existe indicio de práticas<br />
monopolísticas por parte do sistema bancário? Os lucros dos<br />
bancos estão exagerados? A teoria econômica ensina que em<br />
mercados onde o produto <strong>é</strong> artificialmente<br />
escasso e muito caro em comparação com<br />
mercados onde há mais competição, existem<br />
forte evidências de práticas monopolísticas.<br />
Ademais, a crescente concentração bancária<br />
agravada pelas recentes fusões e aquisições<br />
está dificultando a saudável concorrência no<br />
mercado de cr<strong>é</strong>dito. O que <strong>é</strong> que o Banco<br />
Central está fazendo para estimular a concorrência<br />
bancária no País? Por que o Governo<br />
não reduz a cunha fiscal contida no spread?<br />
Para que os juros caiam de forma sustentável, o Banco Central<br />
deve continuar reduzindo a Selic, a política macroeconômica e<br />
a de com<strong>é</strong>rcio exterior devem buscar diminuir ainda mais a nossa<br />
vulnerabilidade externa e estabilizar a relação Dívida/PIB e os nossos<br />
legisladores devem ampliar a proteção jurídica aos credores.<br />
Finalmente <strong>é</strong> importante estimular a competição entre os bancos.<br />
Mais competição amplia o cr<strong>é</strong>dito e reduz o seu custo. Isso significa<br />
maior desenvolvimento para o mercado financeiro e para a economia<br />
como <strong>um</strong> todo. Caso essas condições se estabeleçam, os juros<br />
irão cair at<strong>é</strong> atingir <strong>um</strong> ponto de equilíbrio que sempre será testado<br />
pelo mercado. O importante <strong>é</strong> que a oferta de cr<strong>é</strong>dito a<strong>um</strong>ente e seu<br />
custo caia a níveis que permitam a recuperação da economia e o<br />
alcance de trajetórias mais elevadas de crescimento econômico.
maio ><br />
><br />
33
Economia<br />
Sudene faz<br />
50 anos com<br />
poder reduzido<br />
AUTARQUIA | Recriada no segundo mandato do<br />
presidente Lula, a instituição está enfraquecida e sem<br />
os mesmos poderes para mudar destino da região<br />
Superintendência para o Desenvolvimen-<br />
A to do Nordeste (Sudene) completará 50<br />
anos no mês de dezembro. Efetivamente,<br />
vai apagar as velinhas à margem do objetivo<br />
para o qual foi criada. Extinta no início desta<br />
d<strong>é</strong>cada pelo então presidente Fernando Henrique<br />
Cardoso, a autarquia foi recriada em 3<br />
de janeiro de 2007 pela Lei Complementar<br />
n° 125, no entanto, nesse período tornou-se<br />
apenas <strong>um</strong>a sombra do que era. Ao implodir<br />
a Sudene, que estava<br />
sob denúncias de corrupção,<br />
o governo FHC<br />
criou a Adene (Agência<br />
para o Desenvolvimento<br />
do Nordeste), que<br />
não atendeu os anseios<br />
de economistas, políticos<br />
e empresários da<br />
região. Sob pressão, a<br />
antiga autarquia foi recriada<br />
há dois anos, mas sem os poderes<br />
de outrora.<br />
Tudo porque o presidente Luiz Inácio Lula<br />
da Silva vetou artigos que poderiam fazer a<br />
Sudene funcionar como na <strong>é</strong>poca em que foi<br />
fundada. O Finor (Fundo de Investimentos<br />
do Nordeste) não voltou e sem ele a instituição<br />
perdeu <strong>um</strong> dos braços mais fortes<br />
para planejar e promover o desenvolvimento<br />
econômico da região que conta com 28% da<br />
34 > > maio<br />
No auge, a Sudene<br />
teve participação<br />
decisiva no<br />
crescimento da<br />
região. Após a<br />
recriação, instituição<br />
perdeu prestígio<br />
população brasileira, cerca de 50 milhões<br />
de habitantes. Os vetos foram produzidos,<br />
principalmente, pela atuação dos ministros<br />
da Fazenda, Guido Mantega, e do Planajamento,<br />
Paulo Bernardo. De 2001 at<strong>é</strong> hoje,<br />
deixaram de ser investidos no Nordeste R$<br />
5,7 bilhões.<br />
Sebastião Freitas, presidente da Associação<br />
dos Servidores da Sudene, queixase<br />
da falta de sintonia do órgão com as<br />
necessidades de investimentos<br />
do Nordeste.<br />
“A extinção da Sudene<br />
na <strong>é</strong>poca foi <strong>um</strong> grande<br />
equívoco. Se havia denúncias<br />
de corrupção,<br />
era preciso apurá-las<br />
e punir os culpados.”<br />
Freitas, que <strong>é</strong> economista,<br />
enfatiza a importância<br />
do Finor para<br />
o crescimento da região. “Em 1986, fizemos<br />
<strong>um</strong> levantamento e constatamos que<br />
os impostos recolhidos pelas empresas<br />
que utilizaram este fundo já era o triplo de<br />
seu orçamento, ou seja, o Finor era viável<br />
e dava retorno em impostos recolhidos”,<br />
explica.<br />
Para a economista Tânia Bacelar, que<br />
coordenou o grupo de estudo para a recriação<br />
da Sudene, o que existe hoje não faz<br />
n O antigo pr<strong>é</strong>dio da Sudene<br />
já abrigou 3.700 funcionários.<br />
Atualmente, a autarquia tem<br />
pouco mais de 100 servidores<br />
em atividade<br />
jus ao que foi planejado. Mas de quem <strong>é</strong><br />
a culpa? “Dos políticos, da sociedade civil.<br />
Quando os políticos querem eles podem<br />
mudar.”<br />
Tânia diz que não se pode culpar o presidente<br />
Lula pelo fracasso da recriação da<br />
autarquia. “Ele enviou <strong>um</strong>a PEC (Projeto de<br />
Emenda Constitucional) para o Congresso,<br />
mas os governadores de gestões anteriores<br />
não quiseram apoiar. Agora, ele enviou outra<br />
e estamos esperando o congresso votar”,
explicou.<br />
Um dos problemas apontados por Tânia<br />
<strong>é</strong> a falta de investimento em infraestrutura.<br />
Ela lembra que o economista Celso Furtado,<br />
quando dirigiu os destinos da Sudene,<br />
aplicou 80% dos recursos em energia e na<br />
construção de estradas. Revelou, ainda, que<br />
alguns empreendedores não investem na<br />
região Nordeste por falta de infraestrutura.<br />
“A Sudene tem de ir onde o setor privado<br />
não vai”, disse.<br />
MEMÓRIA<br />
A criação da Sudene, em dezembro de<br />
1959, foi <strong>um</strong>a forma de intervenção do Governo<br />
Federal no Nordeste, com a adoção de<br />
incentivos fiscais e outras vantagens como<br />
financiamento e coordenação de pequenos<br />
e grandes projetos de geração de emprego<br />
e renda. O objetivo era coordenar e promover<br />
o desenvolvimento da região. A ideia<br />
foi do economista Celso Furtado, bancada<br />
pelo então presidente Juscelino Kubitschek.<br />
Na ocasião, Furtado dizia: “O problema do<br />
Nordeste não <strong>é</strong> a seca, mas a falta de <strong>um</strong>a<br />
política coordenada de desenvolvimento<br />
econômico e social”.<br />
Nas quatro d<strong>é</strong>cadas de funcionamento<br />
da autarquia, o Nordeste teve <strong>um</strong> crescimento<br />
considerável nas áreas econômica e<br />
social. Entre 1960 e 2000, o Produto Interno<br />
Bruto (PIB) da região cresceu 4,6% ao ano,<br />
índice próximo ao da economia nacional no<br />
mesmo período.<br />
u uu<br />
maio ><br />
> 35
Sudene<br />
“Recomeçar <strong>é</strong> mais<br />
difícil que começar”<br />
baiano Paulo Fontana, 55 anos, está há<br />
O <strong>um</strong> ano na superintendência da Sudene.<br />
Ass<strong>um</strong>iu em fevereiro de 2008. Engenheiro<br />
civil com mestrado em Administração Pública<br />
na Krannert School (Indiana), nos Estados<br />
Unidos e em Planejamento de Transporte na<br />
Purdue University, (Indiana) e especialização<br />
em Sinalização Metroviária, em Paris, ele vem<br />
descobrindo nesse período como <strong>é</strong> difícil conjugar<br />
o verbo recomeçar. Pegou <strong>um</strong> quadro<br />
funcional envelhecido e disperso. Bons t<strong>é</strong>cnicos<br />
da autarquia receberam propostas para<br />
trabalhar em outros estados e fincaram raízes,<br />
outros se aposentaram ou morreram. De <strong>um</strong><br />
total de 3.740 funcionários no auge, a Sudene<br />
res<strong>um</strong>e-se apenas a pouco mais de 100. Paulo<br />
Fontana tamb<strong>é</strong>m ass<strong>um</strong>iu <strong>um</strong> órgão diferente<br />
daquele idealizado pelo economista Celso Furtado.<br />
Os vetos a vários artigos no projeto de lei<br />
que recriou a autarquia reduziram seu poder,<br />
principalmente no aspecto de liberação de<br />
verbas. Nesta entrevista à <strong>Algomais</strong>, Fontana<br />
fala das dificuldades que vem enfrentando<br />
para fazer o gigante se mover e recuperar a<br />
credibilidade que a autarquia perdeu. Confira<br />
os principais trechos da conversa.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong> | Na sua posse, o senhor<br />
cobrou do presidente Lula o repasse<br />
dos R$ 5,7 bilhões que deixaram de<br />
ser investidos no Nordeste no período<br />
em que a Sudene foi extinta. Conseguiu<br />
recuperar essa verba?<br />
Paulo Fontana | Nós pensávamos que era<br />
possível o ressarcimento desse dinheiro, fizemos<br />
at<strong>é</strong> outras tentativas depois, mas não houve<br />
sensibilidade para atender o nosso pedido.<br />
Am | Faltou a força política dos governadores?<br />
PF | Não, eu não diria que faltou força política.<br />
Diria que era algo que eles não contaram, e<br />
como não estava no acordo de criação da Sudene<br />
a verba não veio.<br />
36 > > maio<br />
n O superintendente Paulo Fontana diz que Sudene está decolando com o que tem<br />
Am | A Sudene foi recriada há dois anos<br />
e só há <strong>um</strong> ano começou a funcionar<br />
com a nomeação da nova diretoria. Qual<br />
o papel que ass<strong>um</strong>iu desde então?<br />
PF | Você levantar <strong>um</strong>a autarquia que estava<br />
morta <strong>é</strong> mais difícil do que levantar <strong>um</strong>a nova<br />
autarquia. Ao ass<strong>um</strong>irmos constatamos problemas<br />
graves, problemas na própria estrutura<br />
do pr<strong>é</strong>dio. Há seis meses isso aqui era <strong>um</strong> lixo,<br />
tivemos que reformar toda a área que precisávamos<br />
utilizar, e ainda estamos tomando outras<br />
providências de reforma, inclusive do Conselho<br />
Deliberativo da Sudene, que esperamos que<br />
esteja pronta at<strong>é</strong> junho para convidarmos o presidente<br />
Lula para a inauguração. Hoje, nós estamos<br />
utilizando os Estados para fazer as reuniões<br />
do Conselho. Tamb<strong>é</strong>m vamos melhorar a fachada<br />
do pr<strong>é</strong>dio e no 12º andar estamos finalizando<br />
a licitação de projetos.<br />
Am | O setor de pessoal, como está hoje?<br />
PF | A Sudene tinha 3.740 funcionários no<br />
passado, hoje tem 150, desses diria que 120<br />
querem trabalhar, mas há uns 50 com problemas<br />
de saúde, então nós estamos limitados<br />
a poucos.<br />
Am | Mas o que ocorreu com os outros?<br />
PF | Uns morreram, outros se aposentaram<br />
ou foram transferidos. Pense n<strong>um</strong>a instituição<br />
federal sem <strong>um</strong> funcionário da Sudene? É difícil<br />
recuperar muitos dos bons profissionais que<br />
tínhamos porque eles receberam convites para<br />
atuar em outros Estados, quando isso acontece,<br />
eles acabam criando raízes e há tamb<strong>é</strong>m o<br />
aspecto econômico, eles recebem propostas<br />
melhores. Tentei trazer vários ex-funcionários de<br />
volta. Para dizer que não obtive êxito, conseguimos<br />
repatriar uns oito a dez. É claro que todos<br />
os que saíram tinham amor pela instituição, mas<br />
tamb<strong>é</strong>m existe o amor econômico, ao equilíbrio<br />
financeiro, e nós estamos com <strong>um</strong> problema<br />
financeiro muito grande. Há <strong>um</strong> ano, entregamos<br />
ao Minist<strong>é</strong>rio do Planejamento <strong>um</strong> projeto
de Plano de Cargos e Salários, que foi aprovado<br />
na íntegra, mas at<strong>é</strong> agora não foi encaminhado<br />
pelo Minist<strong>é</strong>rio do Planejamento para que se fizessem<br />
os concursos públicos devidos a fim de<br />
a autarquia de fato voltar a funcionar.<br />
Am | Então a Sudene ainda está se reestruturando,<br />
mas não conseguiu decolar...<br />
PF | Ela está decolando com o que tem. Mas<br />
nós temos que ter <strong>um</strong> apoio maior, pois a demanda<br />
sobre <strong>um</strong> superintendente e sobre <strong>um</strong><br />
coordenador <strong>é</strong> muito grande aqui dentro porque<br />
nós temos que lidar com pequenas coisas, porque<br />
não temos pessoal. Aqui dentro estamos<br />
fazendo o “canibalismo de pessoal”. Ontem, a<br />
coordenadora veio me pedir 20 pessoas, mas<br />
eu disse não, pois não temos e eu não posso pegar<br />
no meio da rua. Essa carência existe. Hoje,<br />
temos aqui 80 projetos de incentivos e estamos<br />
colocando esse pessoal na rua. Houve <strong>um</strong>a gratificação<br />
que foi dada aos funcionários, mão não<br />
a todos, só aos que mereciam.<br />
Am | Quando o presidente Lula assinou<br />
a Lei que recriou a Sudene, ele vetou vários<br />
artigos total ou parcialmente. Esses<br />
vetos prejudicaram a autarquia?<br />
PF | Não prejudicaram a Sudene, prejudicaram<br />
o Nordeste. Três pontos cruciais foram considerados,<br />
primeiro <strong>é</strong> o link entre planejamento e<br />
orçamento. Não adianta ter o planejamento do<br />
Nordeste sem ter orçamento para ele. Então, o<br />
deputado Zez<strong>é</strong>u Ribeiro, da Bahia, quis fazer esse<br />
link, mas esse artigo foi vetado. Eles alegaram<br />
que isso fazia parte da Lei de Diretrizes Orçamentárias<br />
e não fazia parte da Sudene. Esse foi <strong>um</strong><br />
problema. Outro problema: na parte de incentivos<br />
fiscais. Se você tiver de colocar <strong>um</strong>a fábrica de<br />
chocolate, vai optar por <strong>um</strong>a área perto do Porto<br />
de Suape ou no Semi Árido? Claro que vai ser em<br />
Suape, então o projeto queria dar <strong>um</strong> diferencial<br />
de benefício para quem vai se instalar no Semi<br />
Árido ou no extremo oeste de Pernambuco. Ou<br />
seja, se eu desse 75% de incentivo fiscal aqui, lá<br />
eu teria de dar 100% para compensar, isso deveria<br />
ser lógico. Agora, a mineração, que não precisa<br />
desse incentivo, está sendo beneficiada, por<br />
que? As empresas de mineração só trabalham<br />
onde há os recursos para explorar, o min<strong>é</strong>rio só<br />
<strong>é</strong> retirado daquele lugar onde ele existe. Eu não<br />
posso trazer <strong>um</strong>a mina lá de Salgueiro, <strong>um</strong>a mina<br />
de Quixadá, no Ceará, ou da Bahia, e jogar n<strong>um</strong><br />
porto qualquer. Tem que explorar ela lá. E trazer<br />
esse material beneficiado, então essas diretrizes<br />
seriam necessárias. O terceiro ponto <strong>é</strong> o próprio<br />
fundo. Nós temos <strong>um</strong> fundo hoje, o Fundo de<br />
Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), que <strong>é</strong> diferente<br />
do FNE. As diretrizes são dadas por nós<br />
ao BNB para que sejam aplicados os recursos do<br />
FNE. Do FDNE nós somos os próprios gestores.<br />
Acontece que o recurso deveria ser financeiro e<br />
não orçamentário. O que ocorre com o recurso financeiro?<br />
O recurso financeiro tem na minha conta,<br />
então esse ningu<strong>é</strong>m tira. Eu arranjo o projeto<br />
e pago o projeto. O recurso orçamentário não. No<br />
fim do ano, vai para o Tesouro. E o maior problema<br />
desse recurso orçamentário não <strong>é</strong> ir para o<br />
Tesouro, <strong>é</strong> ser contingenciado. Ou seja, não <strong>é</strong> a<br />
Superintendência da Sudene, não <strong>é</strong> o ministro da<br />
Integração Nacional que tem força sobre o contingenciamento,<br />
são os ministros da Fazenda e<br />
do Planejamento. Eles decidem por você. Aí você<br />
assina <strong>um</strong> contrato com <strong>um</strong>a empresa, e a empresa<br />
o que <strong>é</strong> que entende? Eu vou receber meu<br />
recurso. Mas por <strong>um</strong> motivo qualquer, o recurso<br />
não vem. E aí como <strong>é</strong> que fica o empresário? E<br />
como <strong>é</strong> que fica a credibilidade da Sudene?<br />
“Nossos projetos são<br />
de infraestrutura,<br />
embora nós tenhamos<br />
dado em 2007 cerca<br />
de R$ 1 bilhão em<br />
incentivos fiscais”<br />
Am | Os ministros Paulo Bernando, do Planejamento,<br />
e Guido Mantega, da Fazenda,<br />
tiveram <strong>um</strong>a participação muito forte na<br />
<strong>é</strong>poca da votação do projeto de recriação<br />
da Sudene para vetar esses artigos.<br />
PF | Foi, tiveram. Outra coisa: os incentivos<br />
são dados at<strong>é</strong> 2013. Por que 2013? Onde <strong>é</strong> que<br />
arranjaram isso? Queria saber quem fez essa<br />
equação aleatória. O que deveria ser definido <strong>é</strong><br />
que o incentivo deixaria de ser utilizado no Nordeste<br />
quando o PIB da região representasse de<br />
80/90% o do Sudeste.<br />
Am | Antes da extinção da Sudene, o PIB<br />
do Nordeste cresceu cerca de 4,6% ao<br />
ano, bem próximo do PIB nacional.<br />
PF | Justamente com a Sudene inserida dentro<br />
do Nordeste. Mas, nos últimos anos, esse crescimento<br />
do PIB nordestino se deu mais por causa<br />
dos programas sociais do presidente Lula.<br />
Am | Quais os projetos da Sudene hoje?<br />
PF | Nossos projetos são basicamente de in-<br />
fraestrutura, embora nós tenhamos dado em<br />
2007 cerca de R$ 1 bilhão em incentivos fiscais<br />
a empresas e, em 2008, esse número deve ter<br />
sido bem maior, acredito que ultrapasse os R$<br />
2,3 bilhões, mas só que não recebemos ainda o<br />
levantamento completo da Receita Federal. Esses<br />
valores foram dados em incentivos àquelas<br />
empresas que investiram, implantaram ou se<br />
expandiram no Nordeste.<br />
Am | Qual <strong>é</strong> a prioridade da Sudene neste<br />
momento no Nordeste?<br />
PF | Nós temos parques eólicos aprovados,<br />
temos termel<strong>é</strong>tricas em análise. Estão sendo<br />
implantados parques eólicos no Ceará com<br />
garantia de compra da energia pela Eletrobrás.<br />
Esses projetos, aliás, nós já encontramos aqui,<br />
só que havia entraves burocráticos at<strong>é</strong> por parte<br />
do regulamento.<br />
Am | Qual a grande obra da Sudene para<br />
Pernambuco?<br />
PF | A Transnordestina. Estamos com <strong>um</strong> aporte<br />
de capital da ordem de R$ 2,6 bilhões somente<br />
para ela. Essa não <strong>é</strong> apenas <strong>um</strong>a grande obra<br />
de Pernambuco, mas do Nordeste porque atinge<br />
em cheio os Estados do Piauí, Pernambuco,<br />
Ceará e Alagoas.<br />
Am | Quando essa verba chega?<br />
PF | A verba não chega, a verba <strong>é</strong> pedida. Ela<br />
está no Tesouro Nacional. Ela chega à medida<br />
que a empresa nos solicite. E a empresa só<br />
pode pleitear o dinheiro, de acordo com o nosso<br />
regulamento, quando atingir alg<strong>um</strong>as metas,<br />
por exemplo: para que ela atinja a nossa meta<br />
e nós possamos liberar a primeira parcela, que<br />
<strong>é</strong> da ordem de R$ 450 milhões, a empresa tem<br />
que ter atingido R$ 1,08 bilhão em obras prontas.<br />
Hoje, a empresa que está realizando o processo,<br />
ainda no início, só está com pouco mais<br />
de R$ 150 milhões em obras. É como eu disse,<br />
os nossos recursos não são financeiros, mas<br />
orçamentários.<br />
Am | Ao extinguir a Sudene, o presidente<br />
Fernando Henrique Cardoso alegou denúncias<br />
de corrupção, como está a autarquia<br />
hoje?<br />
PF | Não vejo a corrupção aqui dentro, nós hoje<br />
somos fiscalizados, acompanhados. E tamb<strong>é</strong>m<br />
não estava aqui na <strong>é</strong>poca em que a autarquia foi<br />
extinta. O que posso dizer <strong>é</strong> que hoje nós temos<br />
<strong>um</strong> regulamento. Travado. Que poderia at<strong>é</strong> ser<br />
mais flexível para que tiv<strong>é</strong>ssemos at<strong>é</strong> condições<br />
de trabalhar com maior velocidade. n<br />
maio ><br />
> 37
Economia<br />
É possível investir<br />
durante a crise<br />
AÇÕES | Projeto Finacap Educacional quer formar investidores pernambucanos<br />
e mostrar que a Bolsa de Valores ainda pode ser <strong>um</strong> bom negócio<br />
Há exatamente <strong>um</strong> ano, a <strong>Algomais</strong> publicava<br />
<strong>um</strong>a mat<strong>é</strong>ria sobre “A hora de<br />
abrir as portas ao capital”, em que destacava<br />
o bom momento que vivia o mercado de<br />
ações e como isso estava atraindo cada vez<br />
mais empresas e investidores para o mundo<br />
do sobe e desce das bolsas. O Recife chegou<br />
at<strong>é</strong> a sediar <strong>um</strong>a feira de investimentos,<br />
atraída pelo crescimento do número de pernambucanos<br />
que estavam de olho na alta<br />
expectativa de lucro que existia no segmento<br />
de ações naquela <strong>é</strong>poca.<br />
Hoje, a situação <strong>é</strong> completamente diferente.<br />
A crise financeira mundial e o efeito<br />
dominó das Bolsas de Valores de todo o<br />
mundo afugentou grande parcela dos interessados<br />
em entrar na Bovespa. “São<br />
tempos diferentes. O colapso de parte do<br />
sistema bancário mexeu com muita coisa.<br />
O importante <strong>é</strong> perceber que <strong>um</strong>a coisa<br />
continua igual, ou at<strong>é</strong> mais importante, a<br />
necessidade de informações”, diz o diretor<br />
da empresa gestora de recursos Finacap,<br />
Aristides Bezerra, que acaba de lançar <strong>um</strong><br />
projeto de formação de novos investidores,<br />
o Finacap Educacional.<br />
Ao longo do ano, a empresa trará convidados<br />
de todo o país para realizarem palestras,<br />
cursos e seminários sobre o cenário<br />
atual e a Bolsa de Valores. A proposta, segundo<br />
Aristides, <strong>é</strong> formar <strong>um</strong>a consciência<br />
de mercado no público pernambucano. “Se<br />
os números recentes da Bovespa podem assustar<br />
quem pensa em entrar no mercado<br />
de capitais, o desempenho dos últimos 12<br />
anos <strong>é</strong> animador. Para quem <strong>é</strong> <strong>um</strong> investidor,<br />
ou seja, aplica o dinheiro a longo prazo,<br />
o retorno existe. O problema <strong>é</strong> quem espe-<br />
38 > > maio<br />
Alexandre Albuquerque<br />
n Aristides e Samuel querem criar consciência de mercado no público de PE<br />
cula quer obter lucro imediatamente. Nesse<br />
caso, os riscos são grandes”, diz.<br />
Tamb<strong>é</strong>m diretor da Finacap, Samuel Lopes<br />
conta que <strong>um</strong> dos maiores desafios durante<br />
os eventos do projeto educacional da<br />
empresa <strong>é</strong> livrar quem tem receio de entrar<br />
no mercado de capitais das armadilhas que<br />
os índices divulgados diariamente podem<br />
gerar. “O índice Ibovespa, por exemplo,<br />
não condiz completamente com a realidade<br />
do mercado nacional. Trata-se de <strong>um</strong>a<br />
amostragem”, diz. Das 699 ações em negociação<br />
atualmente na Bovespa, apenas<br />
59 participam da construção do índice. Por<br />
isso, quando empresas como a Petrobras,<br />
responsável por 33,93% do índice, ou Vale<br />
do Rio Doce (12,24%) apresentam resultados<br />
negativos em seus negócios, o Ibovespa<br />
cai. “Em <strong>um</strong> dia positivo no mercado em<br />
geral, <strong>um</strong>a queda em <strong>um</strong>a dessas duas empresas<br />
pode derrubar o índice, assim como<br />
em <strong>um</strong> p<strong>é</strong>ssimo dia, <strong>um</strong>a nova descoberta<br />
da Petrobras pode elevar os números”, explica<br />
Lopes.<br />
Al<strong>é</strong>m dos cursos na sede da gestora<br />
de recursos, na Avenida Agamenon Magalhães,<br />
o Finacap Educacional vem realizando<br />
eventos em parceria com a Universidade<br />
Federal de Pernambuco (UFPE) e Faculdade<br />
Maurício de Nassau. Palestras em entidades<br />
representantes de setores econômicos<br />
tamb<strong>é</strong>m estão em período de negociação.<br />
“Queremos levar a educação financeira para<br />
estudantes e profissionais dos diversos segmentos,<br />
tirando mitos acerca desse mercado<br />
e preparando melhor os investidores pernambucanos”,<br />
diz Aristides, animado com<br />
os resultados dos primeiros seminários. n
maio ><br />
><br />
39
Música<br />
O Quinto Elemento<br />
em Caravana<br />
QUINTETO VIOLADO | Com <strong>um</strong> trabalho autoral indicado<br />
ao Prêmio Tim, e a sofisticação de sempre, grupo faz<br />
caravana pelo interior e se prepara para shows na Europa<br />
Por Jos<strong>é</strong> Neves Cabral<br />
Cheiro de mato, som de flauta que mais<br />
parece <strong>um</strong> sabiá cantando n<strong>um</strong> fim de<br />
tarde, <strong>um</strong> toque de violão refinado. Influências<br />
várias, arranjos sofisticados, mas sem<br />
perder o sotaque regional, fazem do Quinteto<br />
Violado <strong>um</strong> dos poucos grupos musicais<br />
brasileiros que conseguem manter o equilíbrio<br />
entre a cultura que representam e o som<br />
universal. Desse link, natural, o Quinteto desperta<br />
emoção por onde passa. Na Síria ou<br />
no Japão, na Galícia ou no Peru. Aos 37 anos<br />
de carreira, a banda lançou recentemente o<br />
CD Quinto Elemento, <strong>um</strong> trabalho autoral depois<br />
de dois discos de homenagens, <strong>um</strong> só<br />
com músicas do paraibano Geraldo Vandr<strong>é</strong> e<br />
outro de composições de frevo. O disco está<br />
40 > > maio<br />
concorrendo ao Prêmio Tim. Nesse final de<br />
abril, o grupo iniciou <strong>um</strong>a excursão, denominada<br />
Caravana Multicultural, pelo interior do<br />
Estado, onde fará dez shows.<br />
Este 32º álb<strong>um</strong> da carreira foi gravado<br />
ao vivo no Teatro Fecap, em São Paulo. E<br />
marca o reencontro da banda com <strong>um</strong> trabalho<br />
de criação mais orgânico onde todos<br />
participavam da criação das músicas e dos<br />
arranjos, característica da primeira fase do<br />
QV, antes dos anos 90, quando Toinho passou<br />
a ter <strong>um</strong> papel mais forte na direção dos<br />
arranjos em virtude da saída de alguns componentes<br />
como Fernando Filizola. Se o processo<br />
de criação mudou, a identidade sonora<br />
que caracteriza o grupo continua intacta,<br />
<strong>um</strong>a marca que o diferencia dos demais<br />
grupos e que levou o crítico S<strong>é</strong>rgio Cabral,<br />
em depoimento para o livro que marcou os<br />
25 anos da banda, a dizer que o Quinteto foi<br />
<strong>um</strong> divisor de águas na MPB.<br />
“Agora, sem ele, cada <strong>um</strong> procura contribuir<br />
da melhor forma sem perder as referências<br />
que deixou”, explica Dudu, filho de<br />
Toinho. Mas onde encontrar tantas fontes<br />
para beber e traduzir em sons e versos nesses<br />
37 anos? Nas emboladas, nos violeiros,<br />
nas toadas e aboios. Marcelo Melo, único<br />
remanescente do grupo inicial e que ass<strong>um</strong>iu<br />
naturalmente a liderança da banda após<br />
o desaparecimento de Toinho, explica que<br />
a inspiração vem do contato com a cultura<br />
da região.<br />
O novo trabalho do Quinteto <strong>é</strong> diferente<br />
dos anteriores. Neste disco o grupo não só<br />
expressa os sotaques e a cultura da região,
n Bastante requisitado para shows, o grupo completa 37 anos de estrada com o CD Quinto Elemento<br />
mas demonstra tamb<strong>é</strong>m que enxerga o sofrimento<br />
e o desamparo, como em Paisagens<br />
do Brasil, onde denuncia “criança matando<br />
menino”. E as crianças tamb<strong>é</strong>m voltam à<br />
cena em Meninos de Rua... “Frutos da terra,<br />
da mis<strong>é</strong>ria, da solidão.../nascem chorando<br />
de fome e de dor/crescem carentes de tudo/<br />
criaturas em flor”.<br />
De raiz bem nordestina, mas com a<br />
mistura na sonoridade de tambores sírios,<br />
Marcelo Melo interpreta Contos de Zelação,<br />
adaptação do Folheto A eleição do Diabo e a<br />
posse de Lampião no Inferno (de Severino G.<br />
de Oliveira). Dudu Alves explica que a ideia<br />
de incluir os tambores foi do percussionista<br />
Roberto Medeiros. “Passamos <strong>um</strong>a semana<br />
lá, e Roberto encontrou uns tambores parecidos<br />
com as alfaias. Esse som tamb<strong>é</strong>m<br />
entra em Contos de Zelação.”<br />
No novo CD, o Quinteto mostra na música<br />
Contos de Zelação a influência ib<strong>é</strong>rica que<br />
recebeu n<strong>um</strong>a de suas excursões à Galícia.<br />
Uma canção que naturalmente deve agradar<br />
ao público que vai assistir à participação do<br />
grupo em festivais em Vigo, La Coruña no<br />
mês de julho. “Vamos possivelmente inserir<br />
mais sonoridades da sanfona galega nesses<br />
shows”, afirma Marcelo.<br />
Da gravação, participaram Marcelo Melo<br />
(violão, viola e voz), Ciano (flautas), Dudu Alves<br />
(teclados) e Roberto Medeiros (percussão<br />
e voz). Thiago Fournier se incorporou ao grupo<br />
devido à proximidade com Toinho Alves, com<br />
quem teve orientações t<strong>é</strong>cnicas sobre a forma<br />
de tocar o baixo el<strong>é</strong>trico vertical, de acordo<br />
com o estilo consagrado pelo Quinteto.<br />
PROJETOS<br />
Com a criação da fundação Quinteto<br />
Violado, em 1997, o grupo tamb<strong>é</strong>m passou<br />
a trabalhar em projetos para o desenvolvimento<br />
da cultura da região Nordeste.<br />
No ano passado, lançou o CD Sons do São<br />
Das pesquisas<br />
e do contato com<br />
a cultura da região,<br />
a banda extrai<br />
a essência para<br />
novas músicas<br />
Francisco e Cantos do Semi-Árido, onde faz<br />
<strong>um</strong> registro doc<strong>um</strong>ental das manifestações<br />
musicais das comunidades ribeirinhas do<br />
São Francisco. Do pífano aos índios fulniô<br />
e às cantadeiras do sisal, as manifestações<br />
foram registradas em CD a fim de dar visibilidade<br />
à diversidade cultural da região. Dudu Alves<br />
conta que essas iniciativas fazem parte de<br />
<strong>um</strong> grande projeto que <strong>é</strong> o Registro de Ícones<br />
Culturais, que funciona como <strong>um</strong> guarda-chuva.<br />
“A partir dele nós desenvolvemos outros.<br />
Com ele, nós ganhamos <strong>um</strong> Prêmio do MinC<br />
chamado Cultura Viva, que <strong>é</strong> <strong>um</strong> certificado de<br />
qualidade da execução do projeto.”<br />
Segundo Marcelo Melo, esse projeto deveria<br />
ter sido feito inicialmente em parceria<br />
com o Minist<strong>é</strong>rio da Cultura, mas nunca houve<br />
dinheiro para fazer. Acabou saindo com<br />
o apoio do Minist<strong>é</strong>rio do Desenvolvimento<br />
Agrário, que precisava trabalhar com projetos<br />
de agricultura familiar e queria tamb<strong>é</strong>m<br />
estimular a auto-estima da população.<br />
“O Minist<strong>é</strong>rio do Desenvolvimento Agrário<br />
nos encomendou esse trabalho, em várias<br />
regiões, at<strong>é</strong> que chegou <strong>um</strong>a ocasião<br />
em que não tinha mais como justificar essa<br />
destinação por não ser o Minist<strong>é</strong>rio u uu<br />
A agenda cheia do Quinteto<br />
com o espetáculo Caravana Multicultural<br />
02.05<br />
09.05<br />
16.05<br />
23.05<br />
Brejo da Madre de Deus<br />
Moreno<br />
Águas Belas<br />
Serra Talhada<br />
30.05<br />
06.07<br />
13.07<br />
20.07<br />
Tabira<br />
Jatobá<br />
Exu<br />
Itamaracá<br />
Em junho, o grupo apresenta o Quinto Elemento em Brasília. No São João, tem shows<br />
programados em Recife, Jaboatão, Aracaju, Caruaru e João Pessoa. Em julho, fará apresentações<br />
na Galícia e em Portugal.<br />
maio ><br />
> 41
Música<br />
da Cultura”, comenta Melo. Agora, o próprio<br />
MinC está estudando a possibilidade de incluir<br />
tanto o Sons do São Francisco quanto o<br />
Cantos do Semi-Árido no projeto Mais Cultura.<br />
“Eles estão avaliando como utilizam esse<br />
material produzido por nós dentro desse projeto”,<br />
informa Marcelo.<br />
“Os folguedos, o artesanato, tudo isso a<br />
gente registra e tem <strong>um</strong>a força muito grande<br />
na valorização da identidade das comunidades”,<br />
explica. Para fazer esses projetos,<br />
Marcelo revela que o Quinteto não encontrou<br />
tantas dificuldades na execução, pois<br />
os elementos encontrados nas manifestações<br />
das comunidades já fazem parte do<br />
próprio trabalho de pesquisa do grupo.<br />
“Quando você mexe com a cultura de <strong>um</strong>a<br />
comunidade, mexe com a auto-estima tamb<strong>é</strong>m.<br />
Isso a gente registra, apresenta, e tem <strong>um</strong>a força<br />
na valorização da identidade. É <strong>um</strong>a alternativa,<br />
inclusive, de geração de renda. E eles começaram<br />
a entender isso”, comenta Marcelo Melo.<br />
Em breve, o grupo tamb<strong>é</strong>m poderá captar<br />
recursos da Lei Rouanet para a realização<br />
de projetos culturais. As empresas que<br />
investirem nos projetos terão o valor abatido<br />
do imposto de renda.<br />
Histórias da Estrada<br />
MOTOR HOME<br />
O motor home ainda não existia, mas o Quinteto Violado, em função das necessidades,<br />
acabou inventando <strong>um</strong> protótipo para suas viagens em início de carreira. Um carro<br />
que cabia tudo, os componentes, equipamentos e toda a infra-estrutura que o grupo carrega.<br />
N<strong>um</strong>a das viagens, já utilizando <strong>um</strong> ônibus que abrigava, al<strong>é</strong>m dos equipamentos,<br />
beliches adaptados, a banda atravessava o Brasil fazendo shows, passando às vezes<br />
seis meses longe do Recife.<br />
CARRO DE DOENTES<br />
Marcelo lembra que certa vez o motorista do ônibus parou para dar assistência a<br />
<strong>um</strong>a família que estava com o carro quebrado na beira da estrada e ofereceu carona.<br />
“Quando <strong>um</strong>a mulher entrou e viu alguns componentes deitados nos beliches, exclamou:<br />
¬- Vixe, vamos embora que isso aqui <strong>é</strong> <strong>um</strong> carro de carregar doentes!. “Eles desceram<br />
e não quiseram ir de jeito nenh<strong>um</strong>”.<br />
ZÉ DA FLAUTA = TIRADENTES<br />
“Estávamos fazendo <strong>um</strong>a excursão no interior de Minas e chegamos a <strong>um</strong>a cidade<br />
no Dia de Tiradentes. E Z<strong>é</strong> da Flauta desceu do ônibus no momento em que estava havendo<br />
<strong>um</strong>a gincana com aquele cabelo grande dele. De repente, pegaram Z<strong>é</strong> da Flauta<br />
amarraram <strong>um</strong>a corda no meio da cintura dele e o levaram carregado n<strong>um</strong>a procissão.<br />
Era <strong>um</strong>a tarefa que as pessoas estavam c<strong>um</strong>prindo.<br />
De turbante - “N<strong>um</strong>a recente viagem nossa à Síria nós perdemos as bagagens e<br />
tivemos de ir às lojas comprar roupas de lá”, revela Dudu.<br />
42 > > maio<br />
n Com a criação da Fundação Quinteto Violado, componentes da banda<br />
passaram a fazer projetos para desenvolver a cultura da região<br />
FIEL AO ESTILO<br />
Nesse longo período de existência, o<br />
Quinteto sempre se manteve dentro de <strong>um</strong>a<br />
proposta rítmica diferenciada, mas sem perder<br />
a essência e o sotaque da música regional.<br />
Segundo Marcelo Melo, há diversas<br />
linguagens para se executar o forró, todas<br />
têm seus m<strong>é</strong>ritos, virtudes e defeitos. Existe<br />
o forró que banalizou-se pela forma escrachada,<br />
repetitiva, e poeticamente pobre,<br />
mas há tamb<strong>é</strong>m os poetas que continuam<br />
fazendo seu trabalho, com simplicidade, e os<br />
sanfoneiros levando a tradição adiante. “Um<br />
dos aspectos positivos disso tudo <strong>é</strong> que não<br />
se deixou cair o prestígio da sanfona como<br />
<strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento fundamental na música do<br />
Nordeste. Luiz Gonzaga deixou essa história<br />
e todos são seus seguidores.”<br />
Marcelo Melo acrescenta que <strong>é</strong> possível<br />
enxergar nos acordes do hino do Ceroula (terceira<br />
faixa do disco 100 anos de Frevo PE),<br />
com arranjos feitos por Toinho Alves, a influência<br />
do tango, fruto de <strong>um</strong> contato do grupo<br />
com o astro argentino Astor Piazzolla n<strong>um</strong>a<br />
visita ao Recife. “Ele fez <strong>um</strong> show no Geraldão<br />
e ficou encantado e muito interessado pela<br />
nossa música. E a gente começou a perceber<br />
que dentro da leitura dele do tango havia tamb<strong>é</strong>m<br />
as marcações do frevo. Se tocar o hino<br />
do Ceroula em instr<strong>um</strong>ental <strong>é</strong> tango.”<br />
Os folguedos populares tamb<strong>é</strong>m são<br />
alvo das pesquisas e da observação do<br />
grupo. “Não fomos buscar nada fora. Tudo<br />
veio para cá. A gente encontrava no som<br />
de alguns pifeiros e rabequeiros, de cavalos<br />
marinhos, a música de Debussy, de Vivaldi.<br />
Tudo veio para cá e misturou-se a música<br />
erudita que <strong>um</strong> dia foi popular. O quinteto<br />
faz <strong>um</strong>a ponte entre o erudito e o popular<br />
de <strong>um</strong>a forma muito livre, nas carrocerias<br />
dos caminhões no meio das feiras livres, as<br />
plataformas das igrejas, e o povo vendo e<br />
identificando o trabalho deles na leitura do<br />
Quinteto”. n
n Am<strong>é</strong>rico Pereira Filho: Rapidão Cometa deve crescer 30% neste ano<br />
u uu<br />
maio ><br />
> 43
Perfil<br />
Clementina Duarte<br />
valor de Pernambuco<br />
DESENVOLVIMENTO | Obore facc<strong>um</strong> nim qui te veraese dolore euisit velenit<br />
la facin ea consequisi. Vendrera estisim ip exerostrud dolessenim ex ercidunt<br />
Dama de Ouro do moderno design de jóias<br />
A brasileiro, Clementina Duarte, ganhou o<br />
mundo. Hoje suas criações adornam personalidades<br />
como a rainha Elizabeth, da Inglaterra,<br />
a secretária de Estado norte-americana, Hillary<br />
Clinton, a rainha Silvia, da Su<strong>é</strong>cia. Por<strong>é</strong>m, mais<br />
do que adorno, suas jóias foram elevadas à categoria<br />
de objetos de arte, e estão permanentemente<br />
expostas no The National Muse<strong>um</strong> for<br />
Women in the Arts, em Washington, nos Estados<br />
Unidos.<br />
Em <strong>um</strong>a <strong>é</strong>poca em que muitos pais almejavam<br />
<strong>um</strong> bom casamento para a filha, na família<br />
de Clementina o lema era: só casa depois que<br />
se formar. Aos quinze anos, ganhou de presente<br />
<strong>um</strong>a viagem ao Rio de Janeiro para conhecer<br />
os museus da cidade, e foi nesse ambiente de<br />
valorização dos estudos e da arte que sua personalidade<br />
se formou.<br />
Nascida no Recife, graduou-se em Arquitetura<br />
na Universidade Federal de Pernambuco,<br />
mas descobriu sua verdadeira vocação na França,<br />
ao estudar Arte e Design no Institut d’Art<br />
et M<strong>é</strong>tiers, em Paris. Inicialmente desenvolvia<br />
as jóias para si, at<strong>é</strong> que <strong>um</strong> dia seu professor,<br />
Jean Prouve - na <strong>é</strong>poca considerado <strong>um</strong> mestre<br />
da arquitetura e do design - percebeu o<br />
talento de Clementina para o desenho de jóias<br />
e incentivou a aluna a investir nessas criações,<br />
que acabaram sendo expostas na Galeria Steph<br />
Somin. O local recebia os designers mais inovadores<br />
da Europa; lá o estilista Pierre Cardin conheceu<br />
o trabalho da <strong>pernambucana</strong> e adotou<br />
as jóias dela nos seus desfiles.<br />
A partir daí, a artesã que representa elementos<br />
do Brasil nas suas jóias, com desenhos<br />
bem característicos, passou a representar o<br />
país em exposições no exterior. Mas a saudade<br />
da terra falou mais alto, e Clementina Duarte<br />
44 > > maio<br />
n Clementina e sua arte: conselho de Dom Helder para ficar<br />
decidiu voltar ao Recife, por<strong>é</strong>m ao chegar, <strong>um</strong><br />
grande questionamento surgiu: O design de<br />
jóias seria compatível com <strong>um</strong>a cidade que enfrenta<br />
tantos problemas em função da pobreza?<br />
Quem dirimiu suas dúvidas foi Dom Helder Camara.<br />
“Cada <strong>um</strong> recebe <strong>um</strong> talento de Deus,<br />
e não se pode desperdiçá-lo. Sem a sua jóia o<br />
Recife vai ficar mais pobre,” dizia o religioso.<br />
Apesar de hoje morar em São Paulo, pela<br />
facilidade tecnológica, a ligação com o Recife<br />
permanece inabalada, e <strong>é</strong> no mar da cidade,<br />
no formato das nuvens, na natureza, que a artista<br />
busca inspiração. “Sou muito feliz em ser<br />
do Recife, ter esse background esplêndido que<br />
<strong>é</strong> a nossa terra. As riquezas culturais que recebemos<br />
são imensas, tudo isso reflete no meu<br />
trabalho.” Al<strong>é</strong>m de diversos prêmios e condecorações,<br />
Clementina Duarte foi considerada <strong>um</strong>a<br />
das melhores designers do mundo pela revista<br />
International Jeweler. n
Cultura<br />
Arte no Sertão<br />
DESENVOLVIMENTO | Fundação Padre João Câncio capacita artesãos<br />
de cidades do interior para produzirem peças a base de couro e retalhos<br />
535 km do Recife, o município de Ser-<br />
A rita atrai todos os anos mais de 60 mil<br />
visitantes para a Missa do Vaqueiro, que<br />
acontece em julho naquela cidade. Tradição<br />
que teve início em 1971 a partir de<br />
<strong>um</strong>a homenagem à memória de Raimundo<br />
Jacó, vaqueiro assassinado na d<strong>é</strong>cada<br />
de 50, a missa era organizada pelo rei do<br />
baião, Luiz Gonzaga, em parceria com o padre<br />
João Câncio.<br />
Mas o que vem chamando a atenção na<br />
cidade durante os últimos anos <strong>é</strong> o desenvolvimento<br />
do artesanato local. Produzidos a<br />
base do couro, os produtos de Serrita são feitos<br />
por artesãos capacitados pela Fundação<br />
Padre João Câncio, criada após a morte do<br />
idealizador da Missa do Vaqueiro.<br />
O trabalho deu tão certo que a instituição<br />
está repetindo a fórmula em outros dois municípios<br />
do interior de Pernambuco. Em Parnamirim,<br />
o treinamento realizado contempla<br />
15 artesãos trabalhando em cima de detalhes<br />
em couro, aproveitando a tradição da pega do<br />
boi, muito presente na região. Entre os materiais<br />
produzidos estão capas para agendas,<br />
tapetes, jogos americanos e colares.<br />
Já em Moreilândia, elementos como o<br />
fuxico e retalhos, característicos do Agreste<br />
pernambucano, onde o mercado da moda<br />
vem se desenvolvendo, 15 mulheres recebem<br />
o treinamento para confecção de peças<br />
de cama, mesa e banho, al<strong>é</strong>m de acessórios<br />
diversos.<br />
“Procuramos identificar os materiais que<br />
tinham maior afinidade com cada cidade,<br />
respeitando a lógica de cada lugar. Al<strong>é</strong>m de<br />
capacitar essas pessoas, estamos fechando<br />
parcerias com as prefeituras dos municípios<br />
para desenvolver a comercialização desses<br />
produtos”, diz a diretora da fundação, Helena<br />
Câncio.<br />
Mostrar o trabalho para o resto do país<br />
tem sido a grande dificuldade encontrada<br />
pela instituição. Segundo ela, expor em eventos<br />
como a Feira Nacional de Negócios do<br />
Artesanato (Feneart) seria o ideal, mas os<br />
altos custos acabam atrapalhando. “Já conseguimos<br />
expor at<strong>é</strong> na Holanda, atrav<strong>é</strong>s de<br />
<strong>um</strong>a parceria com a Academia de Design Eindhoven,<br />
mas na Feneart, que <strong>é</strong> daqui, ainda<br />
não foi possível”, conta.<br />
Para Helena Câncio, falta apoio do Governo<br />
do Estado no estímulo do turismo para<br />
certas regiões do Estado, como Serrita. “Pernambuco<br />
não conhece Pernambuco. Estamos<br />
esquecidos lá no sertão. As rotas do projeto<br />
PE conhece PE não contemplam nem a Missa<br />
do Vaqueiro. As dificuldades para quem<br />
trabalha com artesanato, então, são ainda<br />
maiores”, reclama.<br />
Secretário de Turismo de Pernambuco,<br />
Sílvio Costa Filho justifica a falta do município<br />
nos roteiros do programa por não fazer parte<br />
dos 52 municípios aprovados pelo Minist<strong>é</strong>rio<br />
do Turismo. “Neste ano, ampliamos de seis<br />
para dez rotas contempladas pelo projeto.<br />
Isso significa <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento de mais de 5% no<br />
turismo interno. Os municípios que não fazem<br />
parte dos roteiros são contemplados com incentivos<br />
específicos”, explica. n<br />
n Programa de capacitação forma artesãos no interior do Estado<br />
maio ><br />
> 45
46 > > maio<br />
Artigo<br />
Cultura & Estado<br />
Como <strong>é</strong> sabido por todos, há <strong>um</strong>a necessidade da presença<br />
do Estado na produção cultural, que, sem ela, <strong>um</strong>a parte significativa<br />
da população fica, no mínimo, mais vulnerável ao culto<br />
do modismo massificador, comercialmente propagado pelos<br />
veículos de comunicação de massa, que nenh<strong>um</strong> compromisso<br />
tem com o que de fato engrandece a identidade da população;<br />
a sua cultura.<br />
Entenda-se aqui cultura em nível geral, que só assim provocará<br />
<strong>um</strong>a reação na própria população, de <strong>um</strong> melhor entendimento<br />
da diversidade e das diferenças, para que de forma consciente<br />
ela venha contribuir com a valorização e difusão da sua cultura de<br />
raiz. O fechar-se em gueto, culturalmente falando, <strong>é</strong> <strong>um</strong>a forma<br />
de alimentar a pobreza de espírito.<br />
É realmente complexa essa internecessidade<br />
da produção cultural com<br />
o Estado, e vice-versa, porque grande<br />
parte do que se produz em expressão artística<br />
e/ou hábitos de cultos carregados<br />
de simbologia da existência de <strong>um</strong> povo,<br />
são vistas por <strong>um</strong>a camada da sociedade<br />
que detêm o poder (político ou financeiro),<br />
como coisa menor, sem condições de competição no mercado<br />
capitalista em que vivemos. É exatamente por visões como<br />
estas que a proliferação de jovens com o nível cultural abaixo do<br />
tolerável <strong>é</strong> cada vez maior. Daí, a necessidade da intervenção do<br />
Estado para fornecer à sociedade, principalmente à com menos<br />
recursos, o direito da elevação do seu nível intelectual.<br />
Que não seja vista como paternalismo do Estado <strong>um</strong>a ação<br />
que propicia o contato com a produção artística, por exemplo, e<br />
sim como investimento governamental no crescimento intelectual<br />
dos seus cidadãos. É pra ser sim, e sempre, pago pelo contribuinte,<br />
a possibilidade aos criadores que não possuem recursos<br />
Que não seja vista<br />
como paternalismo do<br />
Estado <strong>um</strong>a ação que<br />
propicia o contato com<br />
a produção artística<br />
Romildo Moreira<br />
morerom@uol.com.br<br />
próprios, de efetuar a sua produção artística e disponibilizá-la ao<br />
público. Por outro lado, <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m função do Estado favorecer o<br />
acesso ao cinema, ao teatro, à leitura, a ida ao museu, a concertos,<br />
etc., como <strong>é</strong> praticado na questão da educação e da saúde<br />
com o público de menor poder aquisitivo.<br />
A referida inter-necessidade da causa cultural com o Estado<br />
seria menos difícil de compreensão se os olhos da observação não<br />
estivessem sob a lente simplista da lei do mercado e da mercadoria,<br />
do cons<strong>um</strong>o e do cons<strong>um</strong>idor, mas, se visto fosse por olhos<br />
atentos ao compromisso sociocultural previsto na Constituição<br />
Brasileira, e se interessada estivesse o conjunto da sociedade em<br />
diminuir a distância do conhecimento que separa em duas parcelas<br />
a sociedade no Brasil: a culta e a inculta,<br />
dúvida nenh<strong>um</strong>a pairaria.<br />
Caso tiv<strong>é</strong>ssemos do Estado à determinação<br />
de encarar a cultura como <strong>um</strong>a<br />
das prioridades ao lado da educação e<br />
da saúde, provavelmente outros ganhos<br />
seriam adicionados ao conjunto da sociedade.<br />
Vejamos alguns exemplos: a<br />
diminuição da violência e, consequentemente,<br />
a redução da população carcerária; o a<strong>um</strong>ento da quantidade<br />
de trabalhadores em ocupações melhores remuneradas e,<br />
consequentemente, maior movimento nos negócios da indústria<br />
e do comercio; a ampliação das oportunidades profissionais do<br />
mercado cultural e, consequentemente, menos artistas desempregados;<br />
o respaldo internacional advindos de instituições como<br />
a ONU e, consequentemente, mais capital estrangeiro investindo<br />
em negócios no Brasil, por ser <strong>um</strong> país de gente culta.<br />
Se por ventura este sonho de <strong>um</strong> artista como eu, vir a ser<br />
realidade, os nossos netos, bisnetos e tataranetos terão muito<br />
mais motivos no peito para se declarar BRASILEIRO.<br />
Romildo Moreira <strong>é</strong> produtor cultural
maio ><br />
><br />
47
Língua Portuguesa<br />
O que muda com<br />
o acordo Ortográfico<br />
Alfabeto | ganha três letras<br />
Antes 23 letras Depois 26 letras: entram k, w e y<br />
Trema | desaparece em todas as palavras<br />
Antes Freqüente, lingüiça, agüentar Depois Frequente, linguiça, aguentar<br />
* Fica o acento em nomes como Müller<br />
Acentuação 1 | some o acento dos ditongos abertos <strong>é</strong>i e ói das palavras paroxítonas (as que têm a penúltima sílaba forte)<br />
Antes Europ<strong>é</strong>ia, id<strong>é</strong>ia, heróico, apóio, bóia, asteróide, Cor<strong>é</strong>ia, estr<strong>é</strong>ia, jóia, plat<strong>é</strong>ia, paranóia, jibóia, assembl<strong>é</strong>ia<br />
Depois Europeia, ideia, heroico, apoio, boia, asteroide, Coreia, estreia, joia, plateia, paranoia, jiboia, assembleia<br />
* Herói, pap<strong>é</strong>is, trof<strong>é</strong>u mant<strong>é</strong>m o acento (porque têm a última sílaba mais forte)<br />
Acentuação 2 | some o acento no i e no u fortes depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras paroxítonas<br />
Antes Baiúca, bocaiúva, feiúra Depois Baiuca, bocaiuva, feiura<br />
* Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em: tuiuiú ou Piauí<br />
Acentuação 3 | some o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos)<br />
Antes Crêem, dêem, lêem, vêem, prevêem, vôo, enjôos Depois Creem, deem, leem, veem, preveem, voo, enjoos<br />
Acentuação 4 | some o acento diferencial<br />
Antes Pára, p<strong>é</strong>la, pêlo, pólo, pêra, côa Depois Para, pela, pelo, polo, pera, coa<br />
* Não some o acento diferencial em pôr (verbo)/por (preposição) e pôde(pret<strong>é</strong>rito)/pode (presente). Fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo<br />
Acentuação 5 | some o acento agudo no u forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar, apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar<br />
Antes Averigúe, apazigúe, ele argúi, enxagúe você Depois Averigue, apazigue, ele argui, enxague você<br />
Observação: as demais regras de acentuação permanecem as mesmas<br />
Hífen | veja como ficam as principais regras do hífen com prefixos:<br />
Prefixos<br />
Agro, ante, anti, arqui, auto,<br />
contra, extra, infra, intra, macro,<br />
mega, micro, maxi, mini, semi,<br />
sobre, supra, tele, ultra...<br />
Híper, inter, super<br />
Sub<br />
Vice<br />
Pan, circ<strong>um</strong><br />
Fonte: www.g1.globo.com<br />
48 > > maio<br />
Usa hífen<br />
Quando a palavra seguinte começa com h ou com<br />
vogal igual à última do prefixo: auto-hipnose,<br />
auto-observação, anti-herói, anti-imperialista,<br />
micro-ondas, mini-hotel<br />
Quando a palavra seguinte começa com h ou<br />
com r: super-homem, inter-regional<br />
Quando a palavra seguinte começa com b, h, ou r:<br />
sub-base, sub-reino, sub-h<strong>um</strong>ano<br />
Sempre: vice-rei, vice-presidente<br />
Quando a palavra seguinte começa com h, m,<br />
n ou vogais: pan-americano, circ<strong>um</strong>-hospitalar<br />
Não usa hífen<br />
Em todos os demais casos autorretrato,<br />
autossustentável, autoanálise, autocontrole,<br />
antirracista, antissocial, antivírus, minidicionário,<br />
minissaia, minirreforma, ultrassom<br />
Em todos os demais casos:<br />
hiperinflação, supersônico<br />
Em todos os demais casos:<br />
subsecretário, subeditor<br />
Em todos os demais casos:<br />
pansexual, circuncisão
maio ><br />
><br />
49
Gestão Mais<br />
Frase: “At<strong>é</strong> hoje, para chegar a executivo, o funcionário tem de passar <strong>um</strong> período como vendedor.<br />
Investimos na educação e no status dos vendedores. Acredito que <strong>é</strong> possível fazer com que a<br />
empresa ganhe dinheiro e os funcionários sejam felizes. Entendo que <strong>um</strong>a motivação só será duradoura<br />
se atingir a cabeça, bolso e coração dos funcionários. Desejamos que nossos vendedores<br />
virem especialistas em gente.” (Luiza Helena Trajano, Magazine Luiza, revista Veja, 26.01.2005)<br />
Gerente - Um especialista em gestão<br />
Ele <strong>é</strong> <strong>um</strong>a figura-chave nas empresas<br />
e organizações. Seja qual for o cargo<br />
—coordenador, supervisor, diretor, superintendente<br />
— o profissional que desempenha<br />
na prática a função de gerente<br />
ass<strong>um</strong>e <strong>um</strong> enorme desafio, ainda mais<br />
exigente em <strong>um</strong> ce-<br />
nário de crise. Como<br />
ser estrat<strong>é</strong>gico, em<br />
<strong>um</strong> mercado cada vez<br />
mais competitivo?<br />
Basicamente, ser <strong>um</strong><br />
gerente com atuação<br />
estrat<strong>é</strong>gica requer<br />
três capacidades<br />
essenciais: tornar-se<br />
especialista em (1)<br />
Gente, (2) Resultados<br />
e (3) Mudança.<br />
Em qualquer circunstância<br />
e em qualquer<br />
tipo de empresa<br />
ou organização, o<br />
principal alvo de atuação<br />
do gerente são as<br />
pessoas que ele coordena,<br />
a sua equipe<br />
de trabalho. Por isso,<br />
n<strong>um</strong>a visão contemporânea,<br />
<strong>um</strong> gerente<br />
competitivo <strong>é</strong>, essen-<br />
50 > > maio<br />
cialmente, <strong>um</strong> especialista em gente.<br />
Ser <strong>um</strong> especialista em gente exige do<br />
gerente capacidade de compreender, em<br />
toda a sua amplitude, a dinâmica da vida das<br />
equipes nas empresas: as redes de poder, os<br />
vínculos, os projetos e as questões não ex-<br />
Os dez erros gerenciais mais comuns<br />
1.Ser centralizador em demasia. O excesso<br />
de controles inibe id<strong>é</strong>ias, restringe<br />
iniciativas e a criatividade da equipe,<br />
al<strong>é</strong>m de induzir à perda de agilidade.<br />
2. Usar mal o planejamento. Sem<br />
planejar adequadamente as tarefas<br />
diárias, não sobra tempo para pensar<br />
sobre a empresa e o seu futuro.<br />
3. Ter visão fragmentada do negócio,<br />
focando só a sua responsabilidade.<br />
Dificulta a busca de novos clientes<br />
e novas oportunidades, impedindo a<br />
visão do contexto global e das mudanças<br />
de tendência.<br />
4. Pensar na empresa olhando só<br />
para seu passado. Nada garante que<br />
o que deu certo at<strong>é</strong> agora sirva para<br />
o futuro.<br />
5. Achar que pode ter <strong>sucesso</strong> sozinho.<br />
É vital saber formar, liderar, motivar<br />
e reter equipes e talentos.<br />
6. Dedicar muitas horas a tarefas operacionais.<br />
É pouco produtivo o gerente<br />
ficar preso a controles rotineiros.<br />
7. Misturar interesses familiares com<br />
os da empresa. Esse fantasma ainda<br />
assombra e compromete a competitividade<br />
de empresas familiares.<br />
8. Desviar atenção, tempo, esforço<br />
e dedicação do foco principal do seu<br />
negócio. Foco <strong>é</strong> essencial, principalmente<br />
em momentos de crise.<br />
9. Acreditar que já sabe tudo. É fundamental<br />
estar aberto a novos aprendizados<br />
e estimular seus colaboradores<br />
a aprender.<br />
10. Imaginar que dá para construir <strong>um</strong>a<br />
empresa sem paixão. Esse sentimento<br />
deve permear fornecedores, funcionários<br />
e clientes. É gente atendendo<br />
gente.<br />
Fonte de referência: Desafio 21<br />
(A Coluna da Rede Gestão)<br />
plícitas, com<strong>um</strong>ente desconsideradas nas<br />
relações de trabalho, mas com grande<br />
capacidade de mobilização...ou desmobilização.<br />
Ser <strong>um</strong> especialista em gente coloca<br />
o gerente no lugar daquele que coordena a<br />
construção das condi-<br />
ções necessárias para<br />
realização do trabalho<br />
da equipe e, tamb<strong>é</strong>m,<br />
como algu<strong>é</strong>m capaz<br />
de cobrar, com autoridade,<br />
os resultados requeridos<br />
e a qualidade<br />
necessária.<br />
Afinal, a principal<br />
responsabilidade do<br />
gerente não <strong>é</strong> fazer<br />
as coisas mas, sim,<br />
fazer com que outros<br />
as façam. Daí a necessidade<br />
de ser <strong>um</strong><br />
especialista no seu<br />
principal fator de produção:<br />
as pessoas. E<br />
<strong>um</strong> especialista em<br />
gente focado em produzir<br />
resultados. Mas<br />
este já <strong>é</strong> assunto para<br />
a próxima edição da<br />
Gestão Mais.<br />
O conteúdo desta página <strong>é</strong> de responsabilidade da TGI Consultoria em Gestão. (www.tgi.com.br)
maio ><br />
><br />
51
Memória Pernambucana<br />
Ascenso: nunca <strong>um</strong><br />
nome foi tão próprio<br />
TALENTO | Maio trouxe e levouo poeta. Não pôde levar,<br />
por<strong>é</strong>m, o obra que tanto engrandeceu a memória <strong>pernambucana</strong><br />
Era <strong>um</strong> homem enorme. Desses cujo porte<br />
impressiona, mais ainda com a figura destacada<br />
pelo uso de <strong>um</strong> abudo chap<strong>é</strong>u de palha,<br />
sua marca registrada. Diga-se desde já, que<br />
era enorme não só fisicamente, mas tamb<strong>é</strong>m<br />
como intelectual que deixou <strong>um</strong>a contribuição<br />
inestimável para a poesia brasileira e para o orgulho<br />
pernambucano.<br />
Ascenso Ferreira fez jus às definições do<br />
substantivo com<strong>um</strong> que nele se fez próprio. Ascenso,<br />
diz o dicionário, <strong>é</strong> qualidade ou estado<br />
do que está em ascendência, movendo-se para<br />
cima, elevando-se...<br />
Nascido em Palmares, interior de Pernambuco,<br />
foi registrado como Aníbal, mas em<br />
1917, aos vinte e dois anos de idade, decidiu<br />
mudar de nome. Foi assim que nasceu Ascenso<br />
Carneiro Gonçalves Ferreira.<br />
Órfão de pai aos sete anos, aos treze anos<br />
começou a trabalhar no com<strong>é</strong>rcio, depois foi<br />
funcionário público, comerciante de ferro-velho<br />
e de sacos para cereais e açúcar, mas o que foi,<br />
mesmo, foi poeta. E dos melhores.<br />
Em 1912, então com vinte e sete anos de<br />
idade, começou a colaborar em jornais de Palmares<br />
e do Recife, e em 1917 fundou com Antonio<br />
de Barros Carvalho, Antonio Freire, Artur<br />
Griz, Barros Lima, Carlos Rios e Fenelon Barreto<br />
a Sociedade Hora Literária de Palmares.<br />
Cinco anos depois, então corria o ano de<br />
1922, passou a colaborar com os jornais recifenses<br />
Diário de Pernambuco e A Província,<br />
e depois, em <strong>um</strong>a cada vez mais intensa atividade<br />
intelectual, tamb<strong>é</strong>m com os periódicos<br />
Mauric<strong>é</strong>ia, <strong>Revista</strong> do Norte, <strong>Revista</strong> de Pernambuco,<br />
A Pilh<strong>é</strong>ria, <strong>Revista</strong> da Cidade e <strong>Revista</strong><br />
de Antropofagia.<br />
52 > > maio<br />
Mais adiante, em 1926, participou do I<br />
Congresso Regionalista do Nordeste e, em<br />
1934, do Congresso Afro-Brasileiro, ambos realizados<br />
no Recife.<br />
Seu primeiro livro de poesias, Catimbó, foi<br />
lançado em 1927, quando o poeta completara<br />
trinta e dois anos. Talento não tem idade, já foi<br />
dito, e a partir daquele livro aconteceu <strong>um</strong>a safra<br />
das melhores.<br />
A propósito do livro, Mário de Andrade<br />
escreveu: “Só mesmo Ascenso Ferreira com<br />
este Catimbó trouxe pro modernismo <strong>um</strong>a<br />
originalidade real, <strong>um</strong> ritmo verdadeiramente<br />
novo”. Pouco depois, Ascenso Ferreira travou<br />
conhecimento pessoal com o autor<br />
de Paulic<strong>é</strong>ia Desvairada e se<br />
aproximou de vários intelectuais<br />
paulistas, como Cassiano Ricardo,<br />
Anita Malfatti, Menoti Del Picchia,<br />
Oswald de Andrade, Afonso Arinos<br />
e Tarsila do Amaral.<br />
Em 1939 foi a vez de lançar<br />
Cana Caiana, depois Poemas,<br />
depois Outros Poemas. Incansável,<br />
na d<strong>é</strong>cada de 1940 pronunciou<br />
conferências e estudos sobre divertimentos<br />
populares do Nordeste, e<br />
ainda conseguiu tempo para participar<br />
da campanha presidencial de<br />
Juscelino Kubitschek, em 1955.<br />
Sua poesia foi fortemente influenciada<br />
pela de Guilherme de<br />
Almeida, Mário de Andrade e Manoel<br />
Bandeira, que sobre ele disse:<br />
“Ler, e sobretudo ouvir Ascenso, <strong>é</strong><br />
viver intensamente no mundo dos<br />
mangues do Recife, do massapê<br />
e das caatingas, mundo do bambu-bambeiro,<br />
das cavalhadas, dos pastoris, dos reisados,<br />
dos b<strong>um</strong>bas, dos maracatus, das vaquejadas.<br />
Mundo onde as aragens são mansas e as chuvas<br />
esperadas: chuvas de janeiro... chuvas de<br />
caju... chuvas de Santa Luzia... Os poemas de<br />
Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste,<br />
nas quais se espelha amoravelmente a alma<br />
ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica<br />
das populações dos engenhos e do sertão. Ascenso<br />
identificou-se de corpo e coração com o<br />
homem do povo de sua terra, mesmo quando<br />
este <strong>é</strong> o cangaceiro que a fatalidade mesológica<br />
marcou com os estigmas do crime.”
Filosofia<br />
Hora de comer, — comer!<br />
Hora de dormir, — dormir!<br />
Hora de vadiar, — vadiar!<br />
Hora de trabalhar?<br />
— pernas pro ar que ningu<strong>é</strong>m<br />
<strong>é</strong> de ferro!<br />
De fato, a infância interiorana do poeta está<br />
presente em memoráveis momentos, como,<br />
por exemplo, em Minha Escola: “A escola que<br />
eu freqüentava era cheia de grades como as prisões<br />
| E o meu mestre, carrancudo como <strong>um</strong><br />
dicionário | Complicado como as matemáticas,<br />
inacessível como Os Lusíadas de Camões! | À<br />
sua porta eu estacava sempre hesitante... | De<br />
<strong>um</strong> lado a vida, a minha adorável vida de criança:<br />
pinhões... papagaios... carreiras ao sol...<br />
voos de trap<strong>é</strong>zio à sombra da mangueira! |<br />
Saltos da ingazeira pra dentro do rio... jogos de<br />
castanha... | O meu engenho de barro de fazer<br />
mel! | Do outro lado, aquela tortura: “As armas<br />
e os barões assinalados! | Quantas orações?<br />
Qual <strong>é</strong> o maior rio da China? | A 2 + 2 A B =<br />
quanto? | Que <strong>é</strong> curvilíneo convexo? Menino,<br />
venha dar sua lição de retórica! | “Eu começo,<br />
atenienses, invocando a proteção dos deuses<br />
do Olimpo para os destinos da Gr<strong>é</strong>cia!” | Muito<br />
bem! Isto <strong>é</strong> do grande Demóstenes! | Agora, a<br />
de francês: “Quand le christianisme avait apparu<br />
sur la torre...” | Basta. Hoje temos sabatina<br />
...| O arg<strong>um</strong>ento <strong>é</strong> a bolo! | - Qual <strong>é</strong> a distância<br />
da Terra ao Sol? - Não sabe? Passe a mão à pal-<br />
matória! | Bem, amanhã quero isso de cor... |<br />
Felizmente, à boca da noite, eu tinha <strong>um</strong>a velha<br />
que me contava histórias... |Lindas histórias do<br />
reino da Mãe-d’água...| E me ensinava a tomar<br />
a benção à lua nova.”<br />
São histórias como essa, que já a partir dos<br />
títulos, dão vontade de ter nascido no interior para<br />
sentir o cheiro da terra molhada, ouvir o mugido<br />
das vacas, deleitar-se com o canto dos pássaros,<br />
viver <strong>um</strong>a infância nas asas do vento. Imagine<br />
você que lindas passagens contêm Cana Caiana,<br />
de B<strong>um</strong>ba-Meu-Boi, Cavalhada, Maracatu,<br />
Mulata Sarará, Xangó, Xenhenh<strong>é</strong>m,<br />
este o primeiro livro surgido no Brasil apresentando<br />
disco de poesias recitadas pelo seu autor,<br />
edição que continha, ainda, o poema O trem de<br />
Alagoas, musicado por Villa-Lobos.<br />
Em 1951 Ascenso Ferreira se tornou o primeiro<br />
poeta brasileiro a gravar seus poemas<br />
em disco e, em 1955, o quarto a ter a voz gravada<br />
para a Biblioteca do Congresso em Washington.<br />
Em 1957 e 1959 gravou o álb<strong>um</strong> 64 Poemas<br />
Escolhidos e 3 Historietas Populares.<br />
Ascenso Ferreira, que <strong>é</strong> busto no Cais do<br />
Apolo, no Recife, e nome de rua no Jardim Guarujá,<br />
em São Paulo, deixou <strong>um</strong>a obra de raro<br />
valor, inclusive a póst<strong>um</strong>a, publicada em 1986,<br />
como O Maracatu, Pres<strong>é</strong>pios e Pastoris e<br />
O B<strong>um</strong>ba-Meu-Boi.<br />
Para encerrar, que fiquem as palavras do<br />
grande Manoel Bandeira: “Pois quem não ouviu<br />
Ascenso dizer, cantar, declamar, rezar, cuspir,<br />
dançar, arrotar os seus poemas, não pode fazer<br />
id<strong>é</strong>ia das virtualidades verbais neles contidas,<br />
do movimento lírico que lhes imprime o autor”.<br />
Maio (9) de 1895 trouxe Ascenso Carneiro<br />
Gonçalves Ferreira, maio (5) de 1965 o levou.<br />
Não pôde levar, por<strong>é</strong>m, a obra do poeta que<br />
tanto engrandece a memória <strong>pernambucana</strong>.<br />
* Marcelo Alcoforado <strong>é</strong> publicitário e jornalista<br />
marceloalcoforado@surfix.com.br<br />
maio ><br />
> 53
Veículos<br />
Ele <strong>é</strong> o maior barato<br />
DA EUROPA PARA O BRASIL | O smart já pode ser estacionado na sua garagem.<br />
Pernambucanos que decidirem tê-lo deverão comprar o compacto em São Paulo<br />
Por Jorge Moraes<br />
De São Paulo<br />
smart fortwo começou a brilhar pelas ruas<br />
O de São Paulo. O mesmo não vai acontecer,<br />
pelo menos por enquanto, no Recife. O pequeno<br />
notável só terá representante por aqui, a partir<br />
do próximo ano. Os mais apressados em pilotar<br />
essa novidade podem se antecipar e visitar <strong>um</strong>a<br />
das duas lojas na capital financeira do país, na<br />
avenida Europa, rua das grandes marcas de importados,<br />
e na H<strong>é</strong>lio Pelegrino, no Itaim Bibi.<br />
Apenas duas pessoas podem desfrutar<br />
desse carrinho que <strong>é</strong> espetacular. O smart nos<br />
dois modelos (coup<strong>é</strong> ou cabriolet - com capota e<br />
sem) chama a atenção por onde passa. Da janelas<br />
dos ônibus, os usuários torcem o pescoço e<br />
do lado da janela <strong>um</strong>a legião de curiosos. Admiradores<br />
talvez. O automóvel mede 2,69 metros<br />
e tem motor de três cilindros, turbo 1.0, traseiro,<br />
capaz de gerar 84 cavalos de potência.<br />
Os preços equivalem ao de <strong>um</strong> hatch m<strong>é</strong>dio<br />
completo. Com teto fixo sai por R$ 57,9 mil e<br />
sem cobertura, cabriolet, R$ 64,9 mil. O smart<br />
<strong>é</strong> para ser visto nas ruas e finalmente algu<strong>é</strong>m<br />
tomou coragem para reverenciar as cores vivas.<br />
Chega de preto e prata. As cores vivas estão<br />
por toda parte. Desde a lataria at<strong>é</strong> o interior do<br />
54 > > maio<br />
veículo. Motorista e passageiro convivem em<br />
harmonia, atrás dos assentos, lugar para duas<br />
bolsas (mochila ou pasta) e no porta-malas<br />
apenas 220 litros, perfeito para o tamanho do<br />
veículo.<br />
O painel <strong>é</strong> inovador e conta com dois mostradores<br />
centrais (contagiros e relógio). A direção,<br />
de boa empunhadura, tem borboletas para<br />
as trocas das marchas no sentido mais e menos.<br />
O smart <strong>é</strong> <strong>um</strong> kart urbano. A opção automática<br />
pode ser selecionada na alavanca do câmbio<br />
automatizado, dono de senhores solavancos.<br />
Trava das portas, pisca alerta e botão dos faróis<br />
de neblina ficam no tabeliê No mesmo console<br />
central fica o contato da chave de ignição. Todos<br />
os porta-objetos são otimizados. O som, de s<strong>é</strong>rie,<br />
tem <strong>um</strong> bom áudio.<br />
As rodas são de 15 polegadas com pneus<br />
155/60 na frente e 155/55 atrás. Com <strong>um</strong> detalhe<br />
a mais: se o pneu furar, o carro oferece <strong>um</strong><br />
compressor de ar que pode ser conectado ao<br />
acendedor de cigarros. No lugar do estepe, <strong>um</strong><br />
kit de reparação, que fica perto dos p<strong>é</strong>s do passageiro.<br />
A suspensão do fortwo <strong>é</strong> tipicamente<br />
alemã, <strong>um</strong> pouco dura. O compacto tem quatro<br />
bolsas infláveis, freios ABS, controle de estabilidade<br />
(ESP), assistência eletrônica de frenagem<br />
(BAS) e distribuição eletrônica de frenagem<br />
n O coup<strong>é</strong> smart chega a fazer 15,6 km/l na cidade e 24,4 km/l na estrada<br />
(EBD). No teste avaliamos a performance do<br />
veículo que apesar de pequeno <strong>é</strong> alto. Ele fez 0<br />
a 100 Km/h, em 11 segundos e a m<strong>é</strong>dia urbana<br />
de 15 Km/l. O tanque comporta 33 litros.<br />
O desenho do carro <strong>é</strong> seu maior aliado. O<br />
estilo único destaca <strong>um</strong> par de faróis afilados<br />
e lanternas separadas. Duas portas, o modelo<br />
permite agilidade na entrada e saída dos ocupantes.<br />
A capota do cabriolet <strong>é</strong> el<strong>é</strong>trica e a abertura<br />
pode ser feita com o carro em movimento.<br />
Ficha t<strong>é</strong>cnica<br />
smart fortwo coup<strong>é</strong>/cabrio<br />
Motor<br />
1.0 - 3 cilindros em linha<br />
Válvulas 4 por cilindro<br />
Potência máxima ( cv) 84 cv a 5.250 rpm<br />
Torque máximo (Nm / kgfm) 120 / 12,2<br />
a 3.250 rpm<br />
Transmissão<br />
Tipo Automatizada de 5 velocidades<br />
com sistema Softouch<br />
Chassi<br />
Suspensão dianteira Independente,<br />
McPherson, molas helicoidais, amortecedores,<br />
barra estabilizadora<br />
Suspensão traseira Eixo de torção,<br />
molas helicoidais, amortecedores<br />
Freios Discos na dianteira e tambores na<br />
traseira<br />
Rodas Dianteiras: 4,5 J x 15<br />
Traseiras: 5,5 J x 15<br />
Pneus Dianteiros: 155/60 R15<br />
Traseiros: 175/55 R15<br />
Desempenho<br />
Velocidade máxima (km/h) 145<br />
Aceleração 0-100 km/h (s) 10,9<br />
Dados de Cons<strong>um</strong>o<br />
(km/l) / NEDC<br />
Urbano 15,6<br />
Rodoviário 24,4
Divepe e SsangYong<br />
Em Pernambuco, Cláudio Melo, <strong>um</strong> dos maiores distribuidores Ford Caminhões do Brasil,<br />
trabalha a todo vapor a marca dos coreanos SsangYong, que recentemente lançou o<br />
Action com motor a gasolina e preço sugerido de R$ 80 mil.<br />
Autoshopping<br />
Em junho, o Recife Autoshopping, da<br />
Imbiribeira, poderá finalmente abrir as<br />
portas para o mercado. O empreendimento<br />
tem como base o grupo de lojistas<br />
pernambucanos batizado de Cia<br />
do Automóvel. O presidente da Cia <strong>é</strong><br />
Fernando Meira, da revenda Automar.<br />
Grupo Parvi<br />
Bruno Schwambach, diretor do grupo<br />
Parvi, comemora o bom desempenho no<br />
pós-venda da Fiori Veicolo. A conquista<br />
traduz o novo momento da empresa que<br />
passa a enfatizar os serviços de oficina e<br />
qualificação do atendimento.<br />
Automotor<br />
Encontro marcado no programa da TV<br />
Clube, Band. O sinal da emissora chega<br />
at<strong>é</strong> Gravatá e quem vive por lá, nos<br />
finais de semana, poderá ficar ligado<br />
na programação da Band direto do<br />
Recife. O Automotor vai ao ar às 10h.<br />
Aos domingos, veja o AutoShow Pernambuco.<br />
Grand<br />
Cherokee<br />
Ela vem por aí. Em<br />
2010, os amantes do<br />
Grand Cherokee vão<br />
conhecer detalhes<br />
do novo modelo que<br />
desembarca no Brasil<br />
completamente<br />
reestilizado. O jipão<br />
de luxo ficou mais<br />
jovem e o acerto no<br />
visual foi matador.<br />
Expansão<br />
A Pedragon, de Jos<strong>é</strong> Henrique Figueiredo,<br />
vai crescer para dois Estados e o Distrito Federal.<br />
A primeira concessionária, de grande<br />
Jorge Moraes<br />
jorgemoraes@revistaalgomais.com.br<br />
Eles quatro<br />
Nas concessionárias Honda do Recife,<br />
o quarteto Elpídio, Gilda, Maria e Cláudia<br />
domina o mercado das quatro rodas<br />
para o segmento japonês de carros de<br />
passeio. Incluindo as marcas Subaru,<br />
Toyota e Nissan. A Mitsubishi só usa<br />
4x4. O trabalho, al<strong>é</strong>m do convencional<br />
atendimento, tem o diferencial dos<br />
convênios com o Cremepe e OAB. Haja<br />
doutores...<br />
Polo automatizado<br />
Anthony Mota, gerente regional da<br />
Volkswagen, já confirma a chegada<br />
para o próximo semestre, do Polo com<br />
câmbio automatizado. A transmissão <strong>é</strong><br />
dona de uns solavancos que demoram<br />
para você se adaptar. Chevrolet Meriva<br />
e Fiat Stilo tamb<strong>é</strong>m operam com o<br />
sistema.<br />
porte, abre as portas em Manaus, at<strong>é</strong><br />
o fim do mês. No próximo ano chega a<br />
vez de Brasília e, em 2011, São Paulo.<br />
Meu carro, minha paixão<br />
Apaixonado por carros, o empresário pernambucano Carlos Melo Peixoto tem como hobby a<br />
navegação em provas de aventura. O rali e os carros 4x4 fazem parte da vida do homem/<br />
piloto. Melo, no dia-a-dia, tem na garagem <strong>um</strong> Volkswagen Beetle e <strong>um</strong> Toyota Corolla.<br />
Participe da coluna, escreva ou fale conosco sobre sua paixão sobre rodas.<br />
maio ><br />
> 55
Homenagem<br />
Prêmio com sabor<br />
pernambucano<br />
VISÃO | Enquanto empresas encolhem com o colapso financeiro<br />
mundial, outras investem para crescer em meio a tempestade<br />
Este ano, o Prêmio<br />
Quem Faz <strong>Algomais</strong><br />
Por Pernambuco<br />
vai ser comemorado<br />
com <strong>um</strong>a festa de<br />
dar água na boca.<br />
Para premiar personalidades<br />
que<br />
se destacaram no<br />
Estado nas áreas de política,<br />
com<strong>é</strong>rcio e serviços,<br />
cultura, construção civil, indústria e<br />
responsabilidade social, a revista <strong>Algomais</strong><br />
está preparando <strong>um</strong>a grande<br />
festa, no dia 7 de maio, que terá como<br />
tema a gastronomia <strong>pernambucana</strong>.<br />
Assim como já acontece com frequência<br />
em São Paulo, a revista decidiu<br />
inovar, e em vez de realizar o evento<br />
em casas tradicionais do Recife, a entrega do<br />
prêmio será na Rota Premi<strong>um</strong>, concessionária<br />
das marcas Volvo e Land Rover, em Boa Viagem.<br />
“Nós temos interesse em fazer parcerias<br />
que agreguem, com empresas que trabalhem<br />
com o mesmo público que nós, como <strong>é</strong> o caso<br />
da revista <strong>Algomais</strong>,” ressalta a diretora de<br />
marketing da Rota Premi<strong>um</strong>, Paula Queiroz, e<br />
destaca que o local já abrigou outros eventos<br />
da cidade.<br />
Neste ano, o processo de votação foi dividido<br />
em duas etapas. Na primeira, os leitores da<br />
revista indicaram por e-mail o nome de pessoas<br />
e empresas que se sobressaíram no último<br />
ano. Na segunda etapa, o Conselho Editorial da<br />
<strong>Algomais</strong>, analisou criteriosamente os 152 nomes<br />
sugeridos na pesquisa, escolhendo os destaques<br />
nas seis categorias acima mencionadas.<br />
56 > > maio<br />
Em <strong>é</strong>poca de crise internacional, reconhecer<br />
personalidades que<br />
conseguem se sobressair<br />
em <strong>um</strong> cenário de adversidade<br />
ganha ainda<br />
mais importância. Os<br />
vencedores do prêmio<br />
“O prêmio Quem faz <strong>Algomais</strong> por Pernambuco<br />
este ano são Antônio Queiroz<br />
Galvão (construção civil),<br />
Conceição Moura (responsabilidade<br />
social), Eduardo Campos (política), João Carlos<br />
Paes Mendonça (com<strong>é</strong>rcio/serviços), Naná<br />
Vasconcelos (cultura) e Raymundo da Fonte<br />
(indústria).<br />
Apostando na id<strong>é</strong>ia de incentivar quem faz<br />
a diferença em Pernambuco, estão como patrocinadores<br />
do evento a Nordeste Segurança<br />
de Valores, que pelo terceiro ano consecutivo<br />
apoia essa iniciativa, a Asa Indústria e Com<strong>é</strong>rcio<br />
(fabricante dos produtos Palmeiron, Bemte-<br />
<strong>é</strong> <strong>um</strong>a oportunidade para a revista se relacionar vi, Invicto e Vitamilho) e o Banco Gerador. “Este<br />
com a comunidade <strong>pernambucana</strong> e aproveitar <strong>é</strong> o terceiro ano que patrocinamos o prêmio<br />
para ratificar os seus compromissos com a de- Quem faz algo mais por Pernambuco, evento de<br />
fesa do Estado e da sua gente,” explica o dire- grande destaque no Estado. Com essa parceria,<br />
tor da revista, S<strong>é</strong>rgio Moury Fernandes.<br />
al<strong>é</strong>m de reforçar o compromisso da empresa<br />
Como nas edições anteriores, o desenho com a valorização do nosso Estado, consegui-<br />
do trof<strong>é</strong>u entregue aos homenageados, será mos agregar valor à nossa marca”, explica a ge-<br />
de autoria da renomada designer de jóias, Clerente de marketing do grupo, Cecília Macedo.<br />
mentina Duarte, que mant<strong>é</strong>m a mesma forma O Banco Gerador, que começou a operar<br />
das outras edições, mudando apenas o mate- em Pernambuco em março deste ano, já derial.<br />
“O trof<strong>é</strong>u tem sido <strong>um</strong> <strong>sucesso</strong>, este ano monstra estar comprometido com os valores<br />
mudamos apenas o material que vai torná-lo regionais. “O Banco Gerador <strong>é</strong> <strong>um</strong> banco com<br />
mais leve. O desenho vai ser o mesmo porque foco regional, e o prêmio tem tudo a ver com o<br />
<strong>é</strong> a cara do prêmio e a cara de Pernambuco,” posicionamento do banco, de valorizar e apoiar<br />
destaca a artista plástica, que já foi agraciada as iniciativas importantes de quem trabalha<br />
com o prêmio de Melhor Desenho de Jóias, na pelo desenvolvimento do Estado,” ressaltou o<br />
XI Bienal de São Paulo. diretor executivo, Paulo Della Nora.<br />
u uu
Confira o perfil dos vencedores:<br />
ANTÔNIO QUEIROZ GALVÃO<br />
CONSTRUÇÃO CIVIL<br />
Natural de Timbaúba,<br />
Antônio<br />
Queiroz Galvão<br />
se formou na<br />
Escola de Engenharia<br />
do Recife,<br />
na d<strong>é</strong>cada de 40,<br />
e foi trabalhar na<br />
Prefeitura do Recife. Pouco depois, deixou a<br />
função pública e, com o irmão Mário, fundaram<br />
em abril de 1953 a Queiroz & Galvão<br />
Ltda. O capital inicial da empresa era <strong>um</strong>a<br />
caminhonete Chevrolet usada, <strong>um</strong> jipe 48<br />
e <strong>um</strong> Ford 49. A primeira grande obra foi o<br />
sistema de abastecimento d’água na cidade<br />
de Limoeiro. Após a expansão para outros<br />
Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, a<br />
empresa transformou-se em <strong>um</strong>a sociedade<br />
anônima, e a sede foi transferida para o Rio<br />
de Janeiro. Hoje o Grupo atua nos mais diversos<br />
segmentos da economia: concessão de<br />
serviços públicos, geração e energia, hidroel<strong>é</strong>tricas,<br />
exploração e produção de petróleo<br />
bruto e gás natural, siderurgia, produção de<br />
alimentos, finanças e engenharia ambiental.<br />
JOÃO CARLOS PAES MENDONÇA<br />
COMÉRCIO E SERVIÇOS<br />
Natural de Sergipe,<br />
João Carlos<br />
Paes Mendonça<br />
aos 20 anos associou-se<br />
ao pai<br />
na empresa Pedro<br />
Paes Mendonça e<br />
Cia. Em busca de<br />
novos desafios, veio para o Recife, em 1966,<br />
onde implantou o primeiro supermercado do<br />
Grupo. Ao longo dos anos a rede se expandiu<br />
pelo Nordeste passando a atuar nos Estados<br />
de Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do<br />
Norte, Ceará, Maranhão e Bahia. Em junho de<br />
2000, João Carlos passou o controle acionário<br />
do Bompreço para a Royal Ahold. Atualmente<br />
<strong>é</strong> presidente do Grupo JCPM, conglomerado<br />
do qual fazem parte shoppings em várias cidades<br />
brasileiras, dentre eles o Shopping Center<br />
Recife e o Salvador Shopping, na Bahia; al<strong>é</strong>m<br />
de investimentos no setor imobiliário como o<br />
empresarial JCPM Trade Center, e no setor<br />
de comunicação atrav<strong>é</strong>s do Sistema Jornal<br />
do Commercio.<br />
CONCEIÇÃO MOURA<br />
RESPONSABILIDADE SOCIAL<br />
Nascida no Recife,<br />
com formação<br />
em Química<br />
Industrial, Conceição<br />
Moura<br />
ao se casar com<br />
Edson Mororó,<br />
fundador da Baterias<br />
Moura, foi morar em Belo Jardim,<br />
Sertão do Estado. Lá, iniciou sua atividade<br />
profissional lecionando Matemática e Inglês.<br />
Quando a Moura começou a dar os primeiros<br />
sinais de crescimento, passou a trabalhar na<br />
empresa. Por 30 anos foi diretora executiva,<br />
por<strong>é</strong>m há cerca de 10 anos mudou o enfoque<br />
do trabalho e iniciou em Belo Jardim o<br />
Programa Tareco e Mariola, que visa capacitar<br />
pessoas da cidade para desenvolver <strong>um</strong><br />
artesanato que permita a geração de renda.<br />
Em seguida, o Programa foi ampliado para a<br />
Coleta Seletiva e a implantação da Qualidade<br />
Total nas escolas, que atualmente atende<br />
18 instituições, o que representa 20% da<br />
população, já que alunos, professores e pais<br />
são beneficiados.<br />
RAYMUNDO DA FONTE<br />
INDÚSTRIA<br />
Presidente e fundador do Grupo Raymundo<br />
da Fonte, iniciou suas atividades<br />
industriais em Pernambuco, em 1946,<br />
com a inauguração da fábrica do Espiral<br />
Sentinela. Na d<strong>é</strong>cada de 60 e 70, o Grupo<br />
ampliou sua atuação ingressando no<br />
ramo de produtos de limpeza de gênero<br />
alimentício. Hoje, as Indústrias Reunidas<br />
Raymundo da Fonte produzem mais de<br />
247 itens, comercializados no país inteiro.<br />
O Grupo <strong>é</strong> formado por seis empresas<br />
localizadas nos Estados de Pernambuco,<br />
Bahia, Pará e Rio de Janeiro. Dentre as<br />
marcas fabricadas, destacam-se: Brilux,<br />
Minhoto, Even, Floral, Sentinela e Pariggi.<br />
As Indústrias Reunidas Raymundo da<br />
Fonte possuem <strong>um</strong> quadro de 1.800 funcionários.<br />
Prestes a completar 90 anos,<br />
Raymundo da Fonte não abre mão do<br />
trabalho, sendo visto inclusive aos sábados<br />
no comando da sua empresa.<br />
EDUARDO CAMPOS<br />
POLÍTICA<br />
Iniciou sua carreira<br />
política no<br />
diretório acadêmico<br />
da Faculdade<br />
de Economia<br />
da UFPE, em<br />
1985. Em 1986<br />
participou da<br />
campanha vitoriosa do então governador<br />
Miguel Arraes tornando-se chefe de gabinete.<br />
Em 1990 filiou-se ao PSB, conseguindo<br />
o primeiro mandato, como deputado estadual.<br />
Chegou ao Congresso Nacional em<br />
1994, como deputado federal, ass<strong>um</strong>indo<br />
em 1995 o cargo de secretário de Governo<br />
e em 1996 a pasta da fazenda estadual. Em<br />
1998 e 2002 foi reeleito deputado federal.<br />
Em 2003 ass<strong>um</strong>iu o cargo de ministro da<br />
Ciência e Tecnologia, no qual obteve grande<br />
destaque, passando a exercer a presidência<br />
nacional do PSB em 2005, deixando-a em<br />
2006 para realizar a campanha que o levou<br />
ao Governo do Estado de Pernambuco, onde<br />
vem realizando <strong>um</strong> importante trabalho de<br />
desenvolvimento econômico e social.<br />
NANÁ VASCONCELOS<br />
CULTURA<br />
Percussionista<br />
premiado, Naná<br />
nasceu no Recife<br />
e iniciou sua<br />
carreira tocando<br />
com o pai, aos<br />
12 anos, em<br />
<strong>um</strong>a bandinha<br />
marcial. Dotado de <strong>um</strong>a curiosidade intensa,<br />
aprendeu a tocar praticamente todos os<br />
instr<strong>um</strong>entos de percussão. Especialista em<br />
berimbau, trabalhou com música no eixo Rio<br />
– São Paulo nos anos 60 e iniciou <strong>um</strong>a bemsucedida<br />
carreira internacional, tocando<br />
em vários continentes. Participou da trilha<br />
sonora de diversos filmes, destacando-se<br />
“Procura-se Susan Desesperadamente”,<br />
estrelado por Madonna e “Down by Law”.<br />
Naná tocou com: Milton Nascimento, Geraldo<br />
Azevedo, Miles Davis, B.B. King, Paul Simon,<br />
Marisa Monte, entre muitos outros. O<br />
músico destaca-se tamb<strong>é</strong>m por sua intensa<br />
participação em trabalhos sociais envolvendo<br />
crianças e música. n<br />
maio ><br />
> 57
Capa<br />
<strong>Gastronomia</strong><br />
<strong>pernambucana</strong>:<br />
evolução com tradição<br />
IDENTIDADE | A culinária de Pernambuco, que recebeu influência das<br />
culturas indígena, portuguesa e africana, evolui sem perder a origem<br />
Por Carol Bradley<br />
Em <strong>um</strong> mundo globalizado, com a disseminação<br />
dos fast food estrangeiros, a valorização<br />
da culinária regional <strong>é</strong> <strong>um</strong> movimento cada vez<br />
mais perceptível, como <strong>um</strong>a das formas de resistência<br />
da identidade cultural. Carne de sol,<br />
queijo de coalho, cartola e tapioca, são alguns<br />
dos itens, que já fazem parte dos cardápios de<br />
restaurantes sofisticados e hot<strong>é</strong>is estrelados do<br />
Estado. Chefs de cozinha utilizam ingredientes<br />
da terra, como as frutas tropicais, e mesclam,<br />
por exemplo, com frutos do mar; o resultado <strong>é</strong><br />
<strong>um</strong>a comida com a cara e o gosto de Pernambuco.<br />
A culinária regional – para a qual muitos<br />
já torceram o nariz - hoje <strong>é</strong> servida e degustada<br />
com orgulho, e cada vez mais ganha novos<br />
adeptos.<br />
Segundo a pesquisadora Maria Lectícia<br />
Cavalcanti, o pernambucano está vivendo <strong>um</strong><br />
processo de preservação da sua identidade.<br />
“Hoje nós temos grandes chefs em Pernambuco,<br />
todos têm muita preocupação em preservar<br />
os ingredientes da terra, e a partir deles fazer<br />
<strong>um</strong>a releitura, <strong>um</strong>a leitura mais moderna de<br />
alguns pratos, por<strong>é</strong>m na base, estão mantidas<br />
as nossas receitas tradicionais. A gastronomia<br />
<strong>pernambucana</strong> tem evoluído, mas muito preocupada<br />
em não perder a origem, o referencial.<br />
Em todos os lugares, mesmo nos restaurantes<br />
mais contemporâneos, eles mantêm as receitas;<br />
todo mundo serve cartola como <strong>é</strong> feita na<br />
forma original. De repente, virou moda valorizar<br />
as coisas da terra.”<br />
58 > > maio<br />
O restaurante Mingus, especializado na<br />
culinária contemporânea, oferece no seu<br />
cardápio, pratos regionais. “A culinária contemporânea<br />
normalmente tem que ter <strong>um</strong>a<br />
base francesa, e nessa base se acrescenta<br />
ingredientes da culinária regional, nacional<br />
ou internacional. Eu tenho pratos com base<br />
francesa e ingredientes locais, como, por<br />
exemplo, o steak de carne de sol, com feijão<br />
verde, farofa de jerim<strong>um</strong> e manteiga de ervas<br />
com sementes de coentro. Para sobremesa,<br />
o bolo de rolo e o sorvete de tapioca. Particularmente,<br />
eu acho a comida nordestina fa-<br />
n Segundo Maria Lectícia, a gastronomia <strong>pernambucana</strong><br />
tem evoluído sem perder o referencial<br />
bulosa,” explica o proprietário do restaurante,<br />
Nicolau Sultan<strong>um</strong>.<br />
Na opinião de Sultan<strong>um</strong>, a gastronomia<br />
<strong>pernambucana</strong> está à frente dos outros Estados<br />
do Nordeste. “Salvador tem bons restaurantes,<br />
mas o soteropolitano por ter <strong>um</strong>a cultura gastronômica<br />
com <strong>um</strong>a tipicidade muito importante,<br />
caracterizada principalmente pela pimenta e<br />
pelo dendê, talvez seja mais conservador para<br />
novos sabores. O pernambucano já não <strong>é</strong> tão<br />
conservador, mistura mais, está mais aberto a<br />
novos temperos. Pernambuco tem <strong>um</strong>a história<br />
muito forte de ser <strong>um</strong> Estado contestador, de revoluções,<br />
de intelectuais,<br />
então são pessoas normalmente<br />
mais abertas.”<br />
O chef de cozinha<br />
C<strong>é</strong>sar Santos, dono do<br />
Oficina do Sabor, decidiu<br />
investir na regionalização<br />
da culinária, e<br />
há 17 anos apostou na<br />
mistura das frutas para<br />
conseguir receitas mais<br />
originais. “Eu estava<br />
querendo valorizar os<br />
ingredientes da região,<br />
e as nossas frutas, tão<br />
saborosas, só eram<br />
usadas na sobremesa,<br />
em doces, ou sucos.<br />
Então comecei a usá-las<br />
nos pratos, misturando<br />
com frutos de mar; no
n Para Nicolau, a gastronomia <strong>pernambucana</strong><br />
está à frente dos outros Estados do Nordeste<br />
começo as pessoas achavam exótica a mistura<br />
do doce com salgado, porque os sabores<br />
eram conhecidos, mas não havia essa junção.<br />
Hoje, eu uso nas receitas muita manga, pitanga,<br />
maracujá, abacaxi, leite de coco; o prato mais<br />
pedido <strong>é</strong> o jerim<strong>um</strong> recheado com camarão e<br />
creme de manga,” destaca Santos.<br />
Por<strong>é</strong>m, al<strong>é</strong>m dos restaurantes mais conhecidos,<br />
Pernambuco tamb<strong>é</strong>m tem recantos onde<br />
os ingredientes tradicionais vêm ganhando <strong>um</strong>a<br />
nova leitura. É o caso da cozinha da Fazenda<br />
Mamucabinha, no Litoral Sul, comandada pela<br />
artista plástica Lúcia Bradley, que recebe grupos<br />
seletos para degustar os pratos regionais. Dentre<br />
as suas criações, destacam-se a manteiga<br />
de maracujá, servida na entrada para acompanhar<br />
o pão feito na própria cozinha da fazenda; a<br />
moqueca de frutos do mar com caju, elaborada<br />
com peixe, camarão, o suco e o bagaço do caju,<br />
assim como as bebidas, que tamb<strong>é</strong>m ganham<br />
<strong>um</strong> toque original, como a caipirinha de gengibre<br />
e de manjericão. “Eu trabalho muito com contrastes,<br />
quando a gente cozinha e gosta começa<br />
a descobrir novos sabores,” explica Lúcia.<br />
Para os especialistas, o paladar do pernambucano<br />
vem evoluindo. “Antigamente o pernambucano<br />
usava exageradamente o cominho<br />
e o colorau. Atualmente já não <strong>é</strong> mais assim,”<br />
destaca Santos. “Hoje a pessoa não quer mudar<br />
tanto o prato. Não que isso seja <strong>um</strong> problema,<br />
mas <strong>é</strong> <strong>um</strong>a situação que <strong>é</strong> melhor evitar, porque<br />
quando <strong>um</strong> chef ou <strong>um</strong> cozinheiro elabora <strong>um</strong><br />
prato, pensa em harmonizar os ingredientes: se<br />
tem <strong>um</strong>a acidez, bota <strong>um</strong> doce para dar <strong>um</strong>a<br />
quebrada, se tem muita gordura,<br />
bota <strong>um</strong>a acidez, então tem todo<br />
<strong>um</strong> pensamento por trás,” ressalta<br />
Nicolau Sultan<strong>um</strong>.<br />
A gastronomia faz parte da<br />
identidade cultural de <strong>um</strong> povo,<br />
pois atrav<strong>é</strong>s das comidas típicas<br />
cada lugar ganha <strong>um</strong>a expressão<br />
própria. “Normalmente essa culinária<br />
<strong>é</strong> o reflexo, <strong>é</strong> o rosto de quem<br />
mora no lugar. Eu acho que a culinária<br />
<strong>pernambucana</strong> consegue ser<br />
simples, mas ao mesmo tempo<br />
rebuscada, já que temos pratos<br />
bastante complicados; ela <strong>é</strong> simples,<br />
mas ao mesmo tempo muito<br />
generosa, <strong>um</strong> exemplo <strong>é</strong> o nosso<br />
cozido. O pernambucano gosta<br />
de receber, com mesa farta. Em<br />
qualquer lugar, por mais simples<br />
que seja, existe <strong>um</strong>a flor em cima<br />
da mesa, às vezes n<strong>um</strong>a latinha de<br />
leite vazia, mas demonstra o prazer que existe<br />
que algu<strong>é</strong>m venha comer na sua casa. Isso <strong>é</strong><br />
<strong>um</strong>a característica bem nossa,” explica Lectícia<br />
Cavalcanti.<br />
A manutenção dos valores culinários do<br />
Nordeste foi <strong>um</strong> dos temas tratados por Gilberto<br />
Freyre durante o Primeiro Congresso Brasileiro<br />
de Regionalismo, sediado no Recife, em 1926:<br />
“Estou inteiramente dentro de <strong>um</strong> dos assuntos<br />
que devem ser versados neste Congresso: os<br />
valores culinários do Nordeste. A significação<br />
social e cultural desses valores. A importância<br />
deles: quer dos quitutes finos, quer dos populares.<br />
A necessidade de serem todos defendidos<br />
pela gente do Nordeste contra a crescente descaracterização<br />
da cozinha regional. A verdade<br />
<strong>é</strong> que não só de espírito vive o homem: vive<br />
Alexandre Albuquerque<br />
tamb<strong>é</strong>m de pão - inclusive do pão-de-ló, do pãodoce,<br />
do bolo que <strong>é</strong> ainda pão.” No manifesto<br />
regionalista, demonstrava sua preocupação:<br />
“Não <strong>é</strong> só o arroz doce: todos os pratos tradicionais<br />
e regionais do Nordeste estão sob a ameaça<br />
de desaparecer, vencidos pelos estrangeiros<br />
e pelos do Rio”.<br />
Atualmente, percebe-se que apesar da forte<br />
influência da culinária estrangeira, a gastronomia<br />
regional tem seu espaço de resistência.<br />
“Existe o fast food estrangeiro que chega aqui<br />
e tende a ter gosto de nada, porque <strong>é</strong> em cima<br />
do gosto de nada que ele vende no mundo todo.<br />
Por<strong>é</strong>m, o conceito de fast food <strong>é</strong> o de comida<br />
rápida, e a gente tem aqui a nossa comida que<br />
você escolhe e leva - os mercados estão prontos<br />
para isso. Tem os bolinhos, os docinhos, os<br />
sanduíches e tamb<strong>é</strong>m a comida mais pesada:<br />
<strong>um</strong>a buchada, a dobradinha. O conceito de fast<br />
food <strong>é</strong> o mesmo, a diferença <strong>é</strong> a origem, a nossa<br />
busca ser identitária,” ressalta Gilberto Freyre<br />
Neto, coordenador de projetos da Fundação<br />
Gilberto Freyre.<br />
Para ele, as comidas regionais normalmente<br />
estão mais preservadas nos lugares mais simples.<br />
“No mercado, no boteco, estão espalhadas<br />
principalmente nas regiões mais h<strong>um</strong>ildes, onde<br />
as pessoas ficam mais protegidas das influências<br />
externas ao seu hábito de produzir, continuam<br />
aprendendo a fazer comida da melhor forma: de<br />
pai para filho, de mãe para filha, trazem essa cultura<br />
há várias gerações. O Buraquinho, no Pátio de<br />
São Pedro, tem <strong>um</strong>a culinária regionalíssima, com<br />
comidas que são a cara de Pernambuco: fritadas,<br />
buchadas, dobradinhas, comidas que muitas vezes<br />
são relacionadas ao comer muito, ou comer<br />
mal porque tem gordura, mas na medida certa,<br />
representam a nossa identidade.”<br />
Nos mercados públicos, diversas gerações<br />
n Restaurantes como “O Buraquinho” são especialistas na culinária regional<br />
u uu<br />
maio ><br />
> 59
Capa<br />
se encontram para vivenciar o ambiente e a<br />
gastronomia mais regional. “Eu gosto bastante<br />
das comidas, principalmente o bode<br />
guisado, o bolinho de bacalhau e o arroz de<br />
polvo, mas al<strong>é</strong>m das comidas típicas, tem<br />
a própria cultura em si. No mercado eu me<br />
sinto em casa, porque o ambiente tem a cara<br />
de Pernambuco,” diz o auditor Tiago Gomes,<br />
que todo sábado ou domingo pela manhã se<br />
reúne com <strong>um</strong> grupo de amigos no Mercado<br />
da Encruzilhada.<br />
Para Gilberto Freyre Neto, os mercados<br />
públicos fortalecem a relação do público mais<br />
jovem com a cultura <strong>pernambucana</strong>, já que<br />
muitas pessoas abaixo dos 30 anos freqüentam<br />
esses espaços. “Fortalece essa relação<br />
com a nossa comida, pois você senta, pega<br />
<strong>um</strong> prato, <strong>é</strong> bem servido, toma sua cerveja<br />
gelada, a cachacinha, brinca com os amigos,<br />
interage, mexe com todas as sensações e<br />
com as características daquela região. Você<br />
se relaciona bem, come bem e induz a <strong>um</strong> tipo<br />
de relacionamento pessoal que <strong>é</strong> a cara de<br />
Pernambuco.”<br />
Alexandre Albuquerque<br />
n Mercados públicos são opção para<br />
apreciar a gastronomia <strong>pernambucana</strong><br />
60 > > maio<br />
Influências da culinária<br />
<strong>pernambucana</strong><br />
A culinária <strong>pernambucana</strong>, assim como a<br />
brasileira de maneira geral, teve <strong>um</strong>a forte influência<br />
de três culturas: portuguesa, indígena<br />
e africana. Por<strong>é</strong>m, Pernambuco se difere de outros<br />
Estados por ter mesclado essas influências<br />
de <strong>um</strong>a forma mais harmônica. “Ela <strong>é</strong> diferente<br />
da culinária dos Estados do Norte, onde há <strong>um</strong><br />
predomínio da influência indígena, e tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong><br />
diferente da Bahia e seus arredores, onde há <strong>um</strong><br />
predomínio da influência africana,” destaca Lectícia<br />
Cavalcanti.<br />
Essa diferença tem <strong>um</strong>a explicação histórica:<br />
na Bahia as cozinhas eram entregues às africanas<br />
e elas comandavam aquele espaço – daí a questão<br />
do dendê e da pimenta at<strong>é</strong> hoje predominar<br />
- em Pernambuco eram as senhoras portuguesas<br />
que dominavam a cozinha dos engenhos, e as escravas<br />
africanas eram suas colaboradoras, o que<br />
possibilitou <strong>um</strong>a mistura maior das influências.<br />
Observando os índios, as portuguesas aprenderam<br />
a adaptar seu modelo de cozinha às particularidades<br />
de <strong>um</strong>a região tropical.<br />
“As senhoras portuguesas chegam a Pernambuco<br />
trazendo as suas cozinhas, inteiramente<br />
como usavam em Portugal, com chamin<strong>é</strong>s<br />
francesas, cachos de cobre, formas de bolo,<br />
e aqui começaram a fazer adaptações. As chamin<strong>é</strong>s<br />
francesas que vieram nas primeiras embarcações<br />
tiveram que ser abolidas porque não<br />
funcionavam no nosso clima tropical. Os portugueses<br />
começaram a observar como os índios<br />
cozinhavam e perceberam que normalmente<br />
era em <strong>um</strong> lugar longe do espaço onde dormiam<br />
e que ficavam. Os colonizadores, então,<br />
colocaram as cozinhas fora da casa, debaixo de<br />
<strong>um</strong> puxado. Nesses espaços, a índia começou a<br />
conviver com a escrava africana e com a senhora<br />
portuguesa. Foi dessa mistura de utensílios,<br />
ingredientes e receitas que foi nascendo a culinária<br />
<strong>pernambucana</strong>,” destaca Lectícia.<br />
De fato, ingredientes que nativos usavam<br />
como, por exemplo, a mandioca, o milho, a batata<br />
doce, a castanha de caju e todas as frutas<br />
tropicais: abacaxi, abacate, caju, goiaba, banana<br />
da terra, passaram a se misturar com os ingredientes<br />
que os portugueses trouxeram como o<br />
cravo, a canela, o gengibre, a nós moscada e<br />
o próprio açúcar. Al<strong>é</strong>m de frutas inteiramente<br />
novas como a laranja, o limão, a uva e a maçã<br />
n Bolo Souza Leão: receita<br />
tipicamente <strong>pernambucana</strong><br />
que começaram a se misturar tamb<strong>é</strong>m com os<br />
ingredientes que as escravas trouxeram como o<br />
coco, sobretudo o leite de coco, a melancia e a<br />
banana de vários tipos. A tapioca de coco <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />
registro forte dessas três culturas porque leva<br />
a massa de mandioca do índio; o sal, açúcar e<br />
canela, dos portugueses e o coco e o leite de<br />
coco, influências africanas.<br />
Apesar dessa mistura, alg<strong>um</strong>as receitas as<br />
senhoras reproduziam exatamente como eram<br />
feitas em Portugal: o sarapatel <strong>é</strong> preparado<br />
exatamente como os portugueses ensinaram.<br />
Outras foram adaptadas, como o pastel de nata,<br />
cujo recheio foi mantido, apenas substituída, a<br />
nata pelo leite, e a massa aqui não <strong>é</strong> tão folheada.<br />
Alg<strong>um</strong>as receitas, por<strong>é</strong>m, são inteiramente<br />
<strong>pernambucana</strong>s, como o bolo Souza Leão, que<br />
leva esse nome porque foi criação da senhora<br />
Rita de Cássia Souza Leão, dona do engenho<br />
São Bartolomeu. Ela decidiu não usar mais nenh<strong>um</strong><br />
ingrediente que viesse de Portugal, então<br />
substituiu a farinha de trigo – na <strong>é</strong>poca chamada<br />
farinha do reino porque vinha de Portugal - pela<br />
massa da mandioca; a manteiga francesa, por<br />
<strong>um</strong>a feita no próprio engenho, e acrescentou<br />
vários ovos. Hoje, o Bolo Souza Leão, <strong>é</strong> considerado<br />
patrimônio imaterial de Pernambuco, assim<br />
como, o bolo de rolo e a tapioca.
Açúcar comemora 70 anos<br />
O livro Açúcar, de Gilberto Freyre, comemora<br />
este ano 70 anos. Em <strong>um</strong>a <strong>é</strong>poca que<br />
cozinha era considerada “lugar de mulher” e<br />
culinária <strong>um</strong> assunto feminino, de menor importância,<br />
o escritor pernambucano publicou<br />
<strong>um</strong>a obra sobre a influência do açúcar na<br />
cultura e gastronomia local. Al<strong>é</strong>m da teoria, o<br />
livro abordava a prática culinária com receitas<br />
de doces e bolos tradicionais, e at<strong>é</strong> formas e<br />
pap<strong>é</strong>is de seda utilizados para decorá-los.<br />
Em 1939, quando o livro foi publicado, a<br />
sociedade <strong>pernambucana</strong> era absolutamente<br />
fechada, patriarcal e não se compreendia<br />
como <strong>um</strong> intelectual do porte de Gilberto<br />
Freyre perdia seu tempo com assuntos irrelevantes.<br />
“Ele tinha absoluta consciência de<br />
que era importante escrever aquela parte da<br />
nossa história. Muitas receitas eram passadas<br />
oralmente, porque as mulheres não sabiam<br />
escrever, e elas faziam absoluta questão<br />
de preservá-las. Existia <strong>um</strong>a “máfia” em<br />
cada engenho para não divulgar a receita,<br />
era <strong>um</strong> segredo guardado a sete chaves.<br />
Eu acho que ele foi fundamental para que a<br />
gente preservasse e valorizasse todas essas<br />
receitas,” explica Lectícia Cavalcanti.<br />
Gilberto Freyre Neto cita o pioneirismo<br />
como <strong>um</strong>a característica importante da obra<br />
do avô. “O Açúcar <strong>é</strong> <strong>um</strong> livro emblemático,<br />
ele nasce em <strong>um</strong>a perspectiva de Gilberto<br />
Freyre de lançar temas transversais dentro<br />
dessa análise da sociedade brasileira que<br />
começou a fazer com Casa Grande e Senzala.<br />
Açúcar <strong>é</strong> <strong>um</strong> dos primeiros estudos antropológicos<br />
que coloca a culinária brasileira,<br />
<strong>pernambucana</strong>, em discussão. Ele cria <strong>um</strong>a<br />
grande janela do tempo que gera subsídios<br />
para que as próximas gerações tenham referência<br />
do que se comia, de como se fazia,<br />
quais ingredientes se utilizavam, dentro daquele<br />
momento em que Gilberto congela na<br />
sua publicação.”<br />
Para comemorar os 70 anos do livro Açúcar<br />
- que mesmo após alg<strong>um</strong>as reedições<br />
mant<strong>é</strong>m as características da obra original -<br />
a Fundação Gilberto Freyre, está planejando<br />
para setembro a realização de <strong>um</strong> seminário<br />
ou congresso, onde haja <strong>um</strong>a interação<br />
entre o mundo acadêmico da gastronomia<br />
<strong>pernambucana</strong> e seu lado prático, com os<br />
chefs e cozinheiros, participando de palestras,<br />
debates al<strong>é</strong>m de concursos de culi-<br />
Alexandre Albuquerque<br />
nária. Em paralelo, está sendo editado em<br />
parceria com o Sebrae o livro “História dos<br />
Sabores Pernambucanos”, de Maria Lectícia<br />
Cavalcanti, que <strong>é</strong> <strong>um</strong> tratado da culinária<br />
<strong>pernambucana</strong>, que aborda a origem dos<br />
n Os 70 anos<br />
de Açúcar serão<br />
comemorados pela<br />
Fundação Gilberto<br />
Freyre com <strong>um</strong><br />
evento reunindo<br />
acadêmicos da<br />
gastronomia,<br />
chefs de cozinha e<br />
cozinheiros<br />
“Nas terras de cana do Brasil essas<br />
tradições ganharam sabores tão<br />
novos, misturando-se com as frutas<br />
dos índios e com os quitutes dos<br />
negros, que tomaram <strong>um</strong>a expressão<br />
verdadeiramente brasileira. Não há arte<br />
mais autenticamente brasileira que a<br />
do doce e a do bolo dos engenhos do<br />
Nordeste e do extremo Norte.”<br />
Frase de Gilberto Freyre, do livro Açúcar<br />
temperos e alimentos, as influências das<br />
três culturas e muitas receitas. “Se Açúcar<br />
lança mão do tema, Maria Lectícia vai criar<br />
<strong>um</strong> novo patamar de discussão atrav<strong>é</strong>s desse<br />
livro,” destaca Gilberto Freyre Neto.<br />
maio ><br />
> 61
<strong>Gastronomia</strong><br />
Tempero para<br />
entrega de prêmio<br />
ASCENSÃO |Crescimento do prestígio da culinária <strong>pernambucana</strong><br />
atrai a atenção dos principais chefs de cozinha do País<br />
Por Patrícia Raposo<br />
Para a entrega do prêmio Quem faz <strong>Algomais</strong><br />
por Pernambuco a revista sempre<br />
elege <strong>um</strong> tema que dá o tom à festa de premiação.<br />
Este ano, a escolha recai sobre a<br />
<strong>Gastronomia</strong> e se justifica porque este <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />
segmento que vem crescendo n<strong>um</strong>a m<strong>é</strong>dia<br />
de 12% ao ano no Estado, segundo a Associação<br />
Brasileira dos Bares e Restaurantes<br />
(Abrasel), fazendo Pernambuco despontar a<br />
olhos vistos no cenário brasileiro e figurar no<br />
terceiro lugar do ranking nacional. O Estado<br />
ameaça o Rio de Janeiro e há quem acredite<br />
que já lhe roubou a segunda posição.<br />
Esse crescimento tem feito com que o<br />
olhar dos principais chefs do País se volte<br />
para o Estado. Eles querem saber o que<br />
anda se fazendo por aqui, querem entender<br />
esse fenômeno, pesquisam ingredientes e<br />
trocam experiências. Al<strong>é</strong>m disso, o boom<br />
da culinária tem promovido <strong>um</strong> novo tipo<br />
de turismo e estimulado novos negócios,<br />
desde a criação de cursos universitários e<br />
t<strong>é</strong>cnicos, eventos e festivais, a abertura de<br />
estabelecimentos, sejam eles restaurantes,<br />
cafeterias, pâtisserie, bares ou lojas especializadas<br />
em bebidas.<br />
Levando em conta esse bom momento,<br />
n<strong>um</strong>a ação planejada pela <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong><br />
e Duxi Promo, convidamos 16 chefs<br />
que atuam no Estado para que eles indicassem,<br />
por livre escolha, o prato da culinária<br />
local que melhor representa Pernambuco.<br />
Na noite de premiação esses chefs estarão<br />
representando <strong>um</strong> conjunto muito maior de<br />
profissionais ligados à arte da culinária que,<br />
por vários motivos, não figuram aqui, mas<br />
que merecem igualmente nossa admiração.<br />
62 > > maio<br />
As indicações foram bem variadas e<br />
alguns chegaram a votar em at<strong>é</strong> três pratos,<br />
reflexo da riqueza gastronômica local.<br />
Escolhemos o mais citado. E o Bolo do Rolo<br />
Alexandre<br />
Faeirstein,<br />
39 anos, 12<br />
de experiência<br />
na área, <strong>é</strong><br />
autoditada.<br />
Esta à frente<br />
do Restaurante<br />
Kojima. Seu voto:<br />
cozido.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Andr<strong>é</strong> Saburó,<br />
32 anos, 17 de<br />
experiência na<br />
área. É autoditada.<br />
Está à frente do<br />
restaurante Quina<br />
do Futuro. Seu<br />
voto: bode guisado,<br />
agulha branca e<br />
bolo de rolo.<br />
Rafaela<br />
Suassuna, 25<br />
anos, 5 anos<br />
de experiência.<br />
É formada<br />
pela Cousine<br />
Internacional<br />
e pelo Centro<br />
Europeu - Escola<br />
de Profissões em<br />
Curitiba (PR). Está<br />
à frente da cozinha do Buffet Porto Fino.<br />
Seu voto: carne de sol.<br />
<strong>é</strong>, na opinião da maioria ouvida por esta<br />
edição, o que melhor representa Pernambuco.<br />
Confira agora quem são os chefs e<br />
suas escolhas:<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Domingos<br />
Farias, 43 anos,<br />
30 de experiência<br />
na área. É<br />
autodidata.<br />
Está à frente<br />
do restaurante<br />
Domingos (Porto de<br />
Galinhas). Seu voto:<br />
bode na brasa.<br />
Claudemir<br />
Barros, 33 anos,<br />
15 de experiência<br />
na área. Fez curso<br />
de Cozinha pelo<br />
Senac-PE. Está à<br />
frente da cozinha<br />
do Wiella Bistrot.<br />
Seu voto: carne<br />
de sol.<br />
Alexandre Albuquerque Alexandre Albuquerque<br />
Alexandre Albuquerque Alexandre Albuquerque<br />
Thiago Freitas,<br />
25 anos, 8 de<br />
experiência.<br />
Formado pela<br />
UFRPE em<br />
<strong>Gastronomia</strong><br />
e Segurança<br />
Alimentar e com<br />
curso t<strong>é</strong>cnico<br />
em pâtisserie na<br />
Mausi Sebbes,<br />
Argentina. Está à frente da cozinha do<br />
restaurante Verdicchio. Seu voto: cartola.
Alexandre Albuquerque<br />
Joca Pontes,<br />
33 anos, oito de<br />
experiência. Formado<br />
pela Escola Superior<br />
de Cozinha de Paris.<br />
Está à frente dos<br />
restaurantes Villa,<br />
Ponte Nova e<br />
creperia La Plage.<br />
Seu voto: tapioca e<br />
peixada.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Duca Lapenda,<br />
43 anos, 10 de<br />
experiência.<br />
É autodidata.<br />
Esta à frente<br />
do restaurante<br />
Pomodoro Caf<strong>é</strong>.<br />
Seu voto: bolo<br />
souza leão e bolo<br />
de rolo.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Hugo Prouvot,<br />
31 anos, 11 de<br />
experiência. Formado<br />
em <strong>Gastronomia</strong> pelo<br />
Senac de Águas de<br />
São Pedro. Está à<br />
frente da cozinha do<br />
Bistrot Club du Vin. Seu<br />
voto: galinha cabidela,<br />
peixada <strong>pernambucana</strong>,<br />
fritada de aratu.<br />
O bolo de rolo, prato da culinária local<br />
mais citado pelos chefs nesta edição, e<br />
promovido a Patrimônio Cultural e Imaterial<br />
de Pernambuco, em 2008, <strong>é</strong> <strong>um</strong>a adaptação<br />
do bolo português “colchão de noiva”.<br />
O seu preparo requer vários cuidados. A<br />
massa, por exemplo, feita com farinha de<br />
trigo, ovos, açúcar e manteiga, deve ser<br />
depositada em forma untada e distribuída<br />
com espátula para que a camada fique<br />
bem fina e uniforme.<br />
Não pode assar mais que cinco minutos<br />
para que a massa não quebre quando<br />
for enrolada com o doce de goiaba. Ao sair<br />
Ivalmir Barbosa,<br />
57 anos, 37 de<br />
experiência. Fez<br />
curso de Hotelaria<br />
pelo Senac Águas<br />
de São Pedro (SP).<br />
É professor do<br />
Senac-PE e consultor.<br />
Seu voto:<br />
cabrito de panela.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Do colchão de noiva<br />
ao bolo de rolo<br />
Uilton Gama,<br />
37 anos,<br />
20 de<br />
experiência.<br />
Autodidata.<br />
Está à frente<br />
da cozinha da<br />
pâtisserie<br />
Chez Weit.<br />
Seu voto:<br />
bolo de rolo.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Masayoshi<br />
Mats<strong>um</strong>oto,<br />
62 anos, 43 de<br />
experiência.<br />
É autodidata.<br />
Está à frente do<br />
restaurante Sushi<br />
Yoshi. Seu voto:<br />
agulha branca,<br />
arr<strong>um</strong>adinho e<br />
tapioca.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Alexandre Albuquerque<br />
do forno, deve ser depositada sobre <strong>um</strong><br />
pano polvilhado com açúcar. O doce em<br />
calda tem que ser espalhado sobre a massa<br />
ainda quente.<br />
A adaptação do bolo ocorreu no período<br />
colonial por pura carência de ingredientes<br />
- o original era recheado com creme de<br />
amêndoas. O bolo de rolo como o conhecemos<br />
hoje se espalhou pelo Nordeste, mas<br />
o de Pernambuco <strong>é</strong> considerado especial<br />
pelas finas e delicadas fatias e o da Casa<br />
dos Frios se consagrou como o melhor.<br />
Izabel Dias,<br />
48 anos, 37 de<br />
experiência. É<br />
autodidata, mas<br />
fez cursos de<br />
especialização<br />
na Alemanha<br />
(Pastelaria) e em<br />
Portugal de Culinária<br />
Portuguesa. Está à<br />
frente da cozinha<br />
da Casa dos Frios. Seu voto: bolo de rolo.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
Meiga Von<br />
Liebig, 42 anos,<br />
18 de experiência.<br />
É formada em<br />
restaurateur<br />
pelo Institut<br />
de Formation<br />
Permanente<br />
pour lês Classes<br />
Moyennes et<br />
Lês Petites et<br />
Moyennes entreprises - Crepac, B<strong>é</strong>lgica.<br />
Está à frente do bistrot Château Brillant.<br />
Seu voto: macaxeira com carne de sol.<br />
Alexandre Albuquerque<br />
C<strong>é</strong>sar Santos,<br />
43 anos, 20<br />
de experiência.<br />
Formado pelo Senac-<br />
PE em diversos<br />
cursos ligados à<br />
<strong>Gastronomia</strong>. Está à<br />
Frente da Oficina do<br />
Sabor, <strong>é</strong> presidente<br />
da Associação da<br />
Boa Lembrança,<br />
coordenador do Festival Gastronômico de<br />
Pernambuco, dá consultoria e dirige a Escola<br />
Oficina do Chef. Seu voto: bolo de rolo.<br />
Andr<strong>é</strong> Falcão,<br />
30 anos, seis anos<br />
de experiência<br />
na área. Tem<br />
formação em<br />
<strong>Gastronomia</strong><br />
pela Harrysburg<br />
Community<br />
College (EUA) e<br />
especialização em<br />
chefe de cozinha<br />
internacional pelo Senac de Águas de São<br />
Pedro (SP). Atualmente <strong>é</strong> consultor. Seu<br />
voto: bolo de rolo.<br />
maio ><br />
> 63
64 > > maio<br />
<strong>Gastronomia</strong><br />
Vinhos de butique e<br />
outros de al<strong>é</strong>m-mar<br />
vinícola gaúcha Lídio Carraro, que pro-<br />
A duz os chamados vinhos de butique<br />
ou garage, como se diz na França, acaba<br />
de aportar aqui atrav<strong>é</strong>s do Club du Vin. De<br />
Portugal chegam tamb<strong>é</strong>m os rótulos alantejanos<br />
da Herdade da Malhadinha Nova, à<br />
venda na Casa dos Frios.<br />
Os vinhos de butique são aqueles<br />
com produção limitada e mecanismos de<br />
elaboração quase artesanais. E os da Lídio<br />
Carraro não passam por processos de mecanização,<br />
nem são curtidos em barricas.<br />
O enólogo Juliano Carraro, filho do patriarca<br />
Lídio e diretor comercial da vinícola, lembra<br />
que “a verdade do vinho está na uva”. A<br />
busca dessa “essência” se dá com constantes<br />
pesquisas científicas para extrair o<br />
melhor dos vinhedos. Explora-se ao máximo<br />
o que o solo e a<br />
uva podem dar. E se<br />
as videiras não têm<br />
<strong>um</strong> bom ano, a vinícola<br />
não produz vinho,<br />
como aconteceu em<br />
2003. As interferências<br />
são as menores<br />
possíveis. E o resultado<br />
surpreendente.<br />
A produção da<br />
linha Lídio Carraro gira<br />
em 60 mil garrafas<br />
ano, e do segundo<br />
Correção<br />
Ao contrário do que disse na edição<br />
passada o restaurante Michelli não se<br />
desfez de sua mesa de frios. Na verdade,<br />
ela passou por reformulação e está bem<br />
mais tentadora. Fone: (81) 3464.6577.<br />
portfólio, a linha SulBrasil, 120 mil. Os preços variam<br />
de R$ 123,00 (o top Quor<strong>um</strong> Lídio Carraro<br />
2005, que figurou entre os 50 melhores vinhos<br />
do mundo, por indicação do jornal francês Le Figaro)<br />
a R$ 33,00 (Cabernet/Merlot Reserva da<br />
Serra 2005, vinho de intenso frescor e personalidade<br />
marcante). A jóia da casa <strong>é</strong> o Lídio Carraro<br />
Tannat, pontuado acima dos melhores produtos<br />
do respeitado mercado uruguaio, referência<br />
mundial nesta uva. Este vinho atinge graduação<br />
alcoólica excepcional, - 16,26% - máximo já<br />
alcançado para a Tannat. Tão versátil que sua<br />
harmonização vai das caças a <strong>um</strong>a sobremesa<br />
com alto teor de chocolate.<br />
SOTAQUE PORTUGUÊS<br />
Entre os vinhos da Herdade da Malhadinha<br />
Nova, o grande destaque <strong>é</strong> o Marias<br />
Malhadinha (R$ 490,00),<br />
<strong>um</strong> corte de Aragonês<br />
com Alicante, Cabernet,<br />
Syrah e Touriga Nacional.<br />
Rico em frutas<br />
maduras, amêndoas e<br />
especiarias, este vinho,<br />
ícone em Portugal, envelhece<br />
por vinte e seis meses. Críticos portugueses o<br />
situaram entre os melhores do ano (2008) da<br />
produção do país.<br />
O Malhadinha Tinto (R$ 250,00), com<br />
intensas notas de frutas, ganha elegante harmonia<br />
com o corte de Cabernet Sauvignon,<br />
Aragonês, Alicante, Syrah e Touriga Nacional.<br />
Tem final longo e persistente, marcado pelo<br />
estágio em barricas francesas por 14 meses.<br />
O Ros<strong>é</strong> da Pecequina (R$ 66,50) <strong>é</strong> <strong>um</strong> vinho<br />
de caráter distinto, elaborado a partir da sangria<br />
dos melhores mostos de Touriga Nacional<br />
e Aragonês. Apresenta notas de frutos vermelhos<br />
e boa acidez.<br />
O Monte Pecequina Tinto (R$ 59,90) <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />
vinho que reúne as castas Aragonês, Alicante,<br />
Touriga Nacional, Cabernet Sauvgnon, Trincadeira<br />
e Syrah. Muito intenso no aroma, taninos<br />
elegantes. Passou por estágio em carvalho francês<br />
por seis meses.<br />
Serviço<br />
Club du Vin: Fone (81) 3326.5719<br />
Casa dos Frios: (81) 2125.0000<br />
Mudança à vista na Boa Lembrança<br />
Andr<strong>é</strong> Saburó, do Quina do Futuro, ass<strong>um</strong>irá a presidência da Associação da Boa<br />
Lembrança em 2010, em substituição a C<strong>é</strong>sar Santos, da Oficina do Sabor, que está em<br />
seu terceiro mandato consecutivo. A associação tem 15 anos e durante dez ficou no<br />
Rio de Janeiro. O comando só mudou de endereço quando Santos chegou ao cargo. Foi<br />
<strong>um</strong>a conquista grande para Pernambuco, que mais <strong>um</strong>a vez mostra sua força na briga<br />
de braço com Estados como São Paulo, Minas Gerais e Curitiba.
Chocolates Ilh<strong>é</strong>us<br />
O artesanal Chocolate Caseiro Ilh<strong>é</strong>us,<br />
fundado pelo suíço Hans Schaeppi em 1985,<br />
na cidade que lhe dá o nome, chega ao Recife,<br />
no primeiro investimento da fábrica fora<br />
da Bahia. A loja está localizada no primeiro<br />
andar do Aeroporto Internacional dos Guararapes<br />
e oferece 80 itens entre bombons,<br />
trufas e chocolates líquidos. Licores e taças<br />
de chocolate tamb<strong>é</strong>m estão no mix.<br />
Caf<strong>é</strong> São Braz<br />
Se você deseja colaborar com o IMIP, vá<br />
tomar caf<strong>é</strong> em <strong>um</strong> Coffee Shop da São Braz.<br />
Lá estão à venda, a R$ 1,00, cartões postais<br />
de dez artistas, com renda revertida à instituição.<br />
Zezito Goiana, Maurício Arraes, Roberto<br />
Ploeg, Tereza Costa Rego, entre outros, doaram<br />
as imagens ao projeto Caf<strong>é</strong> com Arte.<br />
Kojima em Brasília<br />
Kojima chega a Brasília, abrindo sua<br />
primeira casa fora de Pernambuco. Vai ficar<br />
localizado na quadra 406 – Sul, loja 13, bloco<br />
C. Com a nova unidade, Alexandre Faeirstein<br />
aproveita para renovar o cardápio do restaurante<br />
do Recife, que conta com o prato: Camarões<br />
sobre leg<strong>um</strong>es com molho de curry.<br />
Fone: (81) 3328.3585.<br />
Empório Mineiro<br />
Aur<strong>é</strong>lio Rodrigues e Márcio Costa<br />
reabrem seu Empório Mineiro para nova<br />
temporada em Gravatá, entre abril e<br />
agosto. Desta vez, servem apenas almoço<br />
e sempre nos fins de semana: entre<br />
12h e 17h, aos sábados, e das 12h às<br />
16h, aos domingos. No cardápio, a autêntica<br />
comida mineira, com variações<br />
a cada semana. O bufê <strong>é</strong> exposto sobre<br />
belo fogão à lenha. Farta mesa de doces<br />
completa o menu (R$ 37,90). Ótima<br />
opção para quem vai subir a Serra das<br />
Russas no inverno. Informações: (81)<br />
9978.0752.<br />
Patrícia Raposo<br />
praposo@uol.com.br<br />
Novo espaço<br />
no Club<br />
O Club du Vin conclui sua reforma dobrando<br />
a capacidade para 40 pessoas. A<br />
nova área criada por Zezinho Santos <strong>é</strong> moderna<br />
e convidativa. O cardápio tamb<strong>é</strong>m<br />
muda e ganha assinatura do chef Hugo<br />
Prouvot, dono de elegantes criações. Para<br />
entender, prove o fil<strong>é</strong> mignon ao molho<br />
de foie gras e grelhado de manga. Peça<br />
como acompanhamento as batatas gratinadas<br />
com creme fresco de parmesão.<br />
Harmonia delicada n<strong>um</strong> conjunto de clássicos<br />
onde tudo se completa.<br />
São Jos<strong>é</strong> do Rio Preto • Fortaleza • Salvador • Piracicaba • Natal • João Pessoa<br />
maio ><br />
> 65<br />
Recife: Av. Recife, 451-A | Imbiribeira - Recife - PE - Fone: (81) 3339.3125 - Site: www.churrascariasalebrasa.com.br
66 > > maio<br />
Última página<br />
Convidado pelo Centro de Tecnologia do Varejo (CTV) do Senac<br />
Pernambuco para fazer a apresentação de abertura do<br />
Ciclo de Palestras 2009 abordando o tema da sustentabilidade<br />
na presente conjuntura de crise internacional, senti-me obrigado<br />
a fazer alg<strong>um</strong>as reflexões que acho oportuno compartilhar com<br />
os leitores da <strong>Algomais</strong> dada a emergência do assunto na vida<br />
das pessoas físicas, jurídicas e públicas.<br />
A primeira consideração que, depois, vi confirmada pelo professor<br />
Luiz Gonzaga Belluzzo (competente economista que só tem o<br />
defeito futebolístico de ser presidente do Palmeiras) no seminário<br />
“O Brasil e a crise: <strong>um</strong>a agenda para Pernambuco”, promovido pelo<br />
Conselho de Desenvolvimento Econômico e<br />
Social de Pernambuco (Sedes/PE), foi a de que<br />
mais do que <strong>um</strong>a crise financeira conjuntural,<br />
esta <strong>é</strong> <strong>um</strong>a crise estrutural do modelo econômico<br />
praticado há mais de três d<strong>é</strong>cadas no<br />
mundo. Em outras palavras, <strong>é</strong> possível dizer<br />
que esta <strong>é</strong> <strong>um</strong>a crise do que se convencionou<br />
chamar, <strong>um</strong> tanto panfletariamente, de modelo<br />
neoliberal. O próprio primeiro-ministro inglês<br />
Gordon Brown, anfitrião da última reunião do<br />
G20 em Londres, declarou, ao final do encontro:<br />
“O Consenso de Washington acabou”. Ou<br />
seja, o modelo econômico baseado na ideologia<br />
do estado mínimo, controlado, e do mercado<br />
máximo, desregulado, que terminou por<br />
hipertrofiar o setor financeiro a ponto de inflar,<br />
dentre outras tantas, a bolha dos subprimes que, ao estourar, levou<br />
de roldão a banca norte-americana e, de quebra, vários outras ao<br />
redor do mundo. Tudo isso que dizer, em s<strong>um</strong>a, que a saída desta<br />
crise não será, portanto, nem fácil nem rápida.<br />
Observei tamb<strong>é</strong>m que, felizmente, pela primeira vez em várias<br />
d<strong>é</strong>cadas, o Brasil defronta-se com essa grave crise de <strong>um</strong>a<br />
forma completamente diferente das anteriores: com reservas<br />
cambiais próximas a US$ 200 bilhões, <strong>um</strong> sistema bancário saneado,<br />
sem bolhas financeiras aparentes, com 15 anos de polí-<br />
Francisco Cunha<br />
franciscocunha@revistaalgomais.com.br<br />
Sustentabilidade na Crise<br />
Cuidar da<br />
gestão sustentável<br />
<strong>é</strong> condição<br />
essencial para,<br />
quando a crise<br />
passar, poder<br />
retomar<br />
o crescimento<br />
com vigor<br />
ticas macroeconômicas responsáveis, relativo controle fiscal e<br />
<strong>um</strong>a política compensatória suportiva (Bolsa Família e outros).<br />
E embora não restem dúvidas de que, por estar n<strong>um</strong> mundo em<br />
crise, o país sofrerá, como já vem sofrendo, o fato de ter feito<br />
o “dever de casa” macroeconômico, fará o Brasil se sair melhor<br />
que a grande maioria dos demais países. Uma situação que, apesar<br />
de verdadeira, <strong>é</strong> quase inacreditável para quem acompanhou<br />
as agruras econômicas do país ao longo das últimas crises.<br />
Outra observação que fiz foi a de que Pernambuco que, antes<br />
da eclosão da crise, vivia a melhor oportunidade de desenvolvimento<br />
dos últimos 50 anos terá afetado os cronogramas dos prin-<br />
cipais investimentos programados (refinaria,<br />
estaleiro, pólo famacoquímico etc), mas sem<br />
perdas finais. A tendência <strong>é</strong> que o tempo de<br />
duração da crise entre nos calendários (dois<br />
anos?), readequando o ritmo dos investimentos<br />
que, pelo seu vulto, devem manter a taxa<br />
de crescimento estadual acima da do país.<br />
Por fim, já que a crise, ainda que atenuada<br />
no Brasil e em Pernambuco, <strong>é</strong> inevitável,<br />
citei alg<strong>um</strong>as atitudes que me parecem indispensáveis,<br />
em especial para as empresas<br />
mas, tamb<strong>é</strong>m no que couber, para as pessoas<br />
físicas: (1) cuidar obsessivamente do caixa (só<br />
fazer os gastos indispensáveis); (2) aproveitar<br />
a oportunidade para realizar as mudanças necessárias<br />
(aquelas que são adiadas em tem-<br />
pos de bonança); (3) prestar atenção redobrada nos clientes (afinal<br />
são eles que pagam as contas com ou sem crise); (4) preservar o<br />
essencial (para a que a retomada após a crise seja rápida); (5) olho<br />
vivo na concorrência (para evitar que ela aproveite a crise para levar<br />
vantagem) e, se possível, aproveitar para levar vantagem sobre ela.<br />
Al<strong>é</strong>m disso, cuidar da gestão sustentável (economicamente<br />
sadia, socialmente responsável e ambientalmente correta), condição<br />
essencial para, quando a crise passar, poder retomar o<br />
crescimento com vigor.
maio ><br />
><br />
67
68 > ><br />
maio