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A Gastronomia pernambucana é um sucesso - Revista Algomais

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Ano 4 | n o . 38 | Maio 2009 R$ 9,00 www.revistaalgomais.com.br<br />

Política<br />

Conheça as 10 mulheres da<br />

bancada feminina do Legislativo<br />

A <strong>Gastronomia</strong><br />

<strong>pernambucana</strong> <strong>é</strong><br />

<strong>um</strong> <strong>sucesso</strong><br />

Bolo de Rolo, segundo<br />

os chefs de cozinha,<br />

<strong>é</strong> o grande astro<br />

da culinária<br />

Parque Dona Lindu<br />

Prefeitura só termina<br />

a obra no fim do ano<br />

maio ><br />

> 1


Banco do Nordeste: o melhor parceiro para o seu negócio. Na hora de implantar, ampliar ou modernizar<br />

o seu negócio, você pode contar com o apoio do Banco do Nordeste. São cr<strong>é</strong>ditos para investimento e capital<br />

de giro com os juros mais baixos e prazos mais longos do mercado. Tudo isso, com a agilidade que você<br />

precisa. Conheça mais os produtos e serviços do BNB e coloque o seu negócio entre os melhores da cidade.<br />

2 > > maio


Cliente Consulta | Ouvidoria: 0800 728 3030<br />

clienteconsulta@bnb.gov.br • www.bnb.gov.br<br />

maio ><br />

> 3


S<strong>um</strong>ário<br />

Edição 38<br />

Circulação | 24 de abril de 2009<br />

Criação | Adrianna Coutinho<br />

Foto | Alexandre Albuquerque<br />

Tiragem | 10.000 exemplares<br />

4 > > maio<br />

Capa<br />

A força da gastronomia<br />

<strong>pernambucana</strong> e seus pratos<br />

principais. 40<br />

Sudene<br />

Autarquia completa 50 anos<br />

em dezembro sem o poder<br />

de outrora.<br />

28<br />

Condomínio<br />

Profissionalização está<br />

chegando nos mínimos<br />

detalhes.<br />

Seções<br />

Carta do Leitor<br />

Entrevista<br />

Pano Rápido<br />

De Olho | Antônio Magalhães<br />

Pensando Bem<br />

João Alberto<br />

Política | Andr<strong>é</strong> Regis<br />

Economia | Jorge Jatobá<br />

Artigo | Romildo Moreira<br />

Gestão Mais<br />

Memória Pernambucana | Marcelo Alcoforado<br />

Auto Motor | Jorge Moraes<br />

<strong>Gastronomia</strong> | Patrícia Raposo<br />

Última Página | Francisco Cunha<br />

Reportagens<br />

Mulheres no plenário<br />

Parque Dona Lindu só vai ficar pronto no fim do ano<br />

Condomínios são tratados como empresas<br />

Coleta seletiva <strong>é</strong> lei<br />

Taxa de marinha <strong>é</strong> cobrada indevidamente a 60%<br />

dos imóveis<br />

Sudene faz 50 anos com poder reduzido<br />

É possível investir durante a crise<br />

O Quinto Elemento em Caravana<br />

Clementina Duarte, valor de Pernambuco<br />

Arte no Sertão<br />

O que muda com o acordo Ortográfico<br />

Ele <strong>é</strong> o maior barato<br />

Prêmio com sabor pernambucano<br />

<strong>Gastronomia</strong> <strong>pernambucana</strong>: evolução com tradição<br />

Tempero para entrega de prêmio<br />

22<br />

6<br />

8<br />

12<br />

14<br />

16<br />

18<br />

26<br />

32<br />

46<br />

50<br />

52<br />

55<br />

64<br />

66<br />

20<br />

24<br />

28<br />

30<br />

31<br />

34<br />

38<br />

40<br />

44<br />

45<br />

48<br />

54<br />

56<br />

58<br />

62<br />

Carta do Editor<br />

Justa homenagem<br />

Seis personalidades - <strong>um</strong> político, <strong>um</strong> músico, <strong>um</strong>a química<br />

industrial e três empresários – receberão neste<br />

dia 7 o prêmio deste ano para quem faz algomais por Pernambuco<br />

instituído há três anos por esta revista. Trata-se<br />

de <strong>um</strong>a oportunidade já bem aguardada na sociedade de<br />

reconhecimento a alg<strong>um</strong>as pessoas, não necessariamente<br />

nascidas aqui mas <strong>pernambucana</strong>s de coração, que<br />

contribuem para o desenvolvimento e a notoriedade do<br />

Estado.<br />

A escolha dos agraciados vem sendo aprimorada ano<br />

a ano, mas partindo sempre de <strong>um</strong>a eleição promovida<br />

entre os leitores da revista. A lista final dos escolhidos em<br />

Política, Com<strong>é</strong>rcio e Serviços, Construção Civil, Indústria,<br />

Cultura e Responsabilidade Social foi definida pelo Conselho<br />

Editorial da <strong>Algomais</strong>: Eduardo Campos, João Carlos<br />

Paes Mendonça, Antônio Queiroz Galvão, Raymundo da<br />

Fonte, Naná Vasconcelos e Conceição Moura.<br />

Para nós a escolha dos leitores <strong>é</strong> inquestionável. O governador<br />

Eduardo Campos faz <strong>um</strong> trabalho importante de<br />

desenvolvimento social e econômico do Estado. Antônio<br />

Queiroz Galvão expandiu sua empresa para outras regiões<br />

e atua nos mais diversos segmentos da economia empregando<br />

milhares de pessoas. João Carlos Paes Mendonça<br />

merece o destaque em qualquer homenagem não só pelo<br />

empreendedorismo, mas pela preocupação permanente<br />

com Pernambuco. Manteve-se investindo no Estado depois<br />

que vendeu o Bompreço e transformou o Jornal do<br />

Commercio n<strong>um</strong> dos complexos de comunicação mais<br />

importantes do País. Raymundo da Fonte produz 247 itens<br />

em suas indústrias e, prestes a completar 90 anos, mant<strong>é</strong>m<br />

o comando da empresa. Naná Vasconcelos tem <strong>um</strong><br />

currículo de fazer inveja a qualquer músico internacional.<br />

Conceição Moura <strong>é</strong> a pioneira do Programa Tareco e Mariola,<br />

em Belo Jardim, <strong>um</strong>a ação social que visa capacitar<br />

pessoas da cidade para desenvolver <strong>um</strong> artesanato que<br />

permita gerar renda.<br />

Para completar a festa – esta sim, <strong>um</strong>a escolha só<br />

nossa – <strong>um</strong>a homenagem à sui generis <strong>Gastronomia</strong> <strong>pernambucana</strong>.<br />

Na reportagem de Capa desta edição, Carol<br />

Bradley relata como essa gastronomia evoluiu conservando<br />

a tradição e os colonizadores a influenciaram e lembra<br />

a comemoração dos 70 anos do livro Açúcar, de Gilberto<br />

Freyre, escrito n<strong>um</strong>a <strong>é</strong>poca em que cozinha era considerada<br />

“coisa de mulher” e culinária <strong>um</strong> assunto feminino<br />

de menor importância. Quem ousa dizer isto hoje? Uma<br />

boa leitura.<br />

Roberto Tavares<br />

Editor Geral


maio ><br />

><br />

5


Cartas do Leitor<br />

<strong>Algomais</strong> I<br />

Minha mãe diz que quando abria a revista O<br />

Cruzeiro, nos anos 50, ia direto ler a crônica<br />

de Raquel de Queiroz. Meu pai, que <strong>é</strong> <strong>um</strong> cara<br />

gaiato, não resistia ao Amigo da Onça. Como<br />

sou <strong>um</strong>a mistura dos dois, quando pego a minha<br />

<strong>Algomais</strong> vou direto ao “Pano rápido”.<br />

Joca Souza Leão sabe, como ningu<strong>é</strong>m, misturar<br />

literatura (crônica) com bom h<strong>um</strong>or. As<br />

histórias que conta são simplesmente hilárias.<br />

E a gente fica imaginando tudo: personagens,<br />

cenários e circunstâncias. Gosto muito<br />

tamb<strong>é</strong>m das reportagens de Carol Bradley e<br />

da “Última página” de Francisco Cunha. Graficamente,<br />

a revista não inventa muito (o que<br />

acho bom), mas tem <strong>um</strong>a cara própria, agradável<br />

e de bom gosto. Pernambuco estava<br />

merecendo <strong>Algomais</strong>. Adriana S. Silva<br />

<strong>Algomais</strong> II<br />

Recentemente recebi em mãos, aqui na<br />

Inglaterra, <strong>um</strong> exemplar da revista <strong>Algomais</strong>.<br />

Como pernambucano, orgulhoso de<br />

meu Estado e de sua respectiva cultura,<br />

fiquei muito satisfeito com o conteúdo do<br />

periódico, principalmente no que toca às<br />

reportagens progressistas, à divulgação da<br />

cultura <strong>pernambucana</strong>, e à preocupação<br />

com o crescimento do nosso Estado. Lendo<br />

a seção sobre o Prêmio Quem Faz <strong>Algomais</strong><br />

por Pernambuco, achei que poderia ser útil,<br />

na minha modesta opinião, acrescentar <strong>um</strong><br />

prêmio vinculado a Ciência e Tecnologia, o<br />

que honraria alguns dos nossos cientistas e<br />

tecnólogos mais notáveis. Faço votos que a<br />

revista tenha cada vez mais <strong>sucesso</strong>.<br />

Carlos H Coimbra-Araujo<br />

R - Esta <strong>é</strong> a terceira versão do nosso prêmio.<br />

Nas duas versões anteriores entregamos os<br />

EXPEDIENTE<br />

Av. Domingos Ferreira, 890, sala 803<br />

Boa Viagem | 51110-050 | Recife/PE<br />

Fone: (81) 3327.3944<br />

Fax: (81) 3466.1308<br />

www.revistaalgomais.com.br<br />

Diretoria Executiva<br />

S<strong>é</strong>rgio Moury Fernandes<br />

sergiomoury@revistaalgomais.com.br<br />

Francisco Carneiro da Cunha<br />

franciscocunha@revistaalgomais.com.br<br />

Diretoria Comercial<br />

Luciano Moura<br />

lucianomoura@revistaalgomais.com.br<br />

6 > > maio<br />

trof<strong>é</strong>us para a categoria de Ciência e Tecnologia.<br />

Um ano foi para Cláudio Marinho e no<br />

outro ano para o Ministro S<strong>é</strong>rgio Rezende.<br />

Neste ano o leitores não indicaram pessoas<br />

que atuam na área de Ciência e Tecnologia.<br />

S<strong>é</strong>rgio Moury Fernandes - Diretor Executivo<br />

<strong>Algomais</strong> III<br />

Recebi a última edição da <strong>Algomais</strong> e gostaria<br />

de parabenizar pelas grandes reportagens.<br />

Densa, com notícias para todos os<br />

gostos, só senti falta de esportes, a revista<br />

vem se consolidando com <strong>um</strong>a das mais importantes<br />

publicações do Estado, junto com<br />

os três jornais. Em especial, gostaria de parabenizar<br />

pelas mat<strong>é</strong>rias do Padre Lebret e<br />

sobre as eleições para 2010. Duas análises<br />

com muito conteúdo, gostosas de se ler, e<br />

que, sem dúvidas, deixa o leitor informado<br />

com dados que normalmente não se vê nos<br />

jornais. Parab<strong>é</strong>ns! Jonas Santiago<br />

<strong>Algomais</strong> IV<br />

Achei a revista muito boa e gostaria de contribuir<br />

de alg<strong>um</strong>a forma. Encontro-me hoje em<br />

Washington DC, trabalhando no IFC - International<br />

Finance Corporation, o braço financeiro<br />

de investimentos no setor privado do Banco<br />

Mundial. Seria ótimo poder contribuir com a<br />

revista <strong>Algomais</strong>, escrevendo artigos ou Op-<br />

Eds, de forma regular ou esporádica, o que<br />

for possível, pois gostei bastante do conteúdo<br />

editorial. Joaquim M. Figueiredo Lima<br />

<strong>Algomais</strong> VI<br />

A <strong>Algomais</strong> virou meu lazer informativo.<br />

Como já falei da outra vez, não parabenizar,<br />

embora seja <strong>um</strong> lugar com<strong>um</strong> <strong>é</strong> <strong>um</strong>a omissão,<br />

portanto parab<strong>é</strong>ns! C<strong>é</strong>lia<br />

Conselho Editorial<br />

Francisco Carneiro da Cunha (coordenador)<br />

Antonio Magalhães<br />

Luciano Moura<br />

Ricardo de Almeida<br />

S<strong>é</strong>rgio Moury Fernandes<br />

REDAÇÃO<br />

Fone: (81) 3327.3944/4348<br />

Fax: (81) 3466.1308<br />

redacao@revistaalgomais.com.br<br />

Editor-geral<br />

Roberto Tavares<br />

robertotavares@revistaalgomais.com.br<br />

Editor-executivo<br />

Jos<strong>é</strong> Neves Cabral<br />

zeneves@revistaalgomais.com.br<br />

Reportagens<br />

Carolina Bradley<br />

carol@revistaalgomais.com.br<br />

Marcella Sampaio<br />

marcella@revistaalgomais.com.br<br />

Ivo Dantas<br />

ivodantas@revistaalgomais.com.br<br />

Fotografia<br />

Alexandre Albuquerque<br />

(81) 9212.9423<br />

Editoria de Arte<br />

e Editoração Eletrônica<br />

Adrianna Coutinho<br />

adrianna@revistaalgomais.com.br<br />

Rivaldo Neto<br />

rneto@revistaalgomais.com.br<br />

<strong>Algomais</strong> VII<br />

Recebo regularmente as edições desta revista,<br />

para mim tornou-se <strong>um</strong>a leitura agradabilíssima.<br />

Por isso mesmo venho solicitar<br />

a correção da edição n.37, pág 53, onde há<br />

duas tabelas relativas a localização das neoplasias.<br />

Na tabela de mulheres a palavra<br />

leucemia está escrita de forma errada, lê se<br />

leusemia. Por se tratar de erro de redação,<br />

torna se essencial a devida correção, visto<br />

que mostra tal compromisso com detalhes e<br />

interesse em expor palavras corretas.<br />

Lhaylha Ebrahim<br />

<strong>Algomais</strong> VIII<br />

Pena que a <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong> só tem circulação<br />

mensal, deveria ser semanal, ou então<br />

quinzenal, pensem nisso! A reportagem de<br />

capa da edição n° 37 “O redescobrimento<br />

do centro do Recife” está excelente, no entanto<br />

o que mais me extasiou foi realmente<br />

o artigo do publicitário e jornalista Marcelo<br />

Alcoforado - Memória Pernambucana: “Pernambuco<br />

falando para o mundo”, onde retrata<br />

de forma simples e com muita clareza,<br />

a trajetória política/empresarial e h<strong>um</strong>ana do<br />

Sr. Francisco Pessoa de Queiroz, homem de<br />

grandes ideais, fundador do Grupo Jornal do<br />

Commercio (Rádios, Jornais e TV) de quem<br />

guardo ótimas recordações. Por isso volto<br />

a insistir, seria muito bom que “A Memória<br />

Pernambucana” fosse revivida semanalmente<br />

e não mensalmente como ocorre atualmente.<br />

Joseni Melo<br />

<strong>Algomais</strong> IX<br />

Tenho selecionado determinadas mat<strong>é</strong>rias<br />

publicadas na <strong>Algomais</strong> para serem utilizadas<br />

para debate em sala de aula u uu<br />

Assinatura<br />

assinatura@revistaalgomais.com.br<br />

Fone: (81) 3325.5636<br />

www.revistaalgomais.com.br<br />

Publicidade<br />

Engenho de Mídia Comunicação Ltda.<br />

Av. Domingos Ferreira, 890, sala 808<br />

Boa Viagem 51110-050 | Recife/PE<br />

Fone/ Fax: (81) 3466.1308<br />

engenhodemidia@engenhodemidia.com.br<br />

Filiada ao Auditada por<br />

INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO


na FIR (sou docente do curso de Relações<br />

Internacionais); e comporem parcelas de<br />

mensagens que elaboro regularmente para<br />

especialistas e empresários envolvidos com<br />

a Política Marítima brasileira. Portanto, parabenizo<br />

S<strong>é</strong>rgio Moury pelo trabalho realizado<br />

desde a concepção da <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong><br />

at<strong>é</strong> a bonita realidade hoje alcançada por<br />

ela! Peço, tamb<strong>é</strong>m, transmitir a Francisco<br />

Cunha e Roberto Tavares meu reconhecimento<br />

e felicitações pela qualidade das<br />

mat<strong>é</strong>rias (texto e imagens) escolhidas para<br />

comporem as últimas edições da <strong>Revista</strong><br />

em questão.<br />

Roberto Medeiros<br />

<strong>Algomais</strong> X<br />

Boquiaberto fico com esta revista <strong>Algomais</strong>;<br />

Está “demais”. Lembra-me meus<br />

ancestrais, os judeus, que liam seus livros<br />

começando por trás. É a única revista<br />

que começo a ler pela última página.<br />

PARABÉNS ! E esta deste mês, está “felomenau”!<br />

Ótimas reportagens. E a mat<strong>é</strong>ria de<br />

capa, excelente. E a de Veículos, ótima. E a<br />

de <strong>Gastronomia</strong>, espetacular. E as de Sacro,<br />

formidáveis. Silvio Galvão<br />

Centro do Recife I<br />

Foi da maior oportunidade a reportagem “O<br />

redescobrimento do Centro do Recife” com<br />

chamada de Capa no último número da <strong>Revista</strong><br />

<strong>Algomais</strong>. Excelente. Ricardo Guerra<br />

Centro do Recife II<br />

Excelente a mat<strong>é</strong>ria ‘O Redescobrimento do<br />

Centro do Recife’. Um assunto que deve ser visto<br />

com atenção pelas autoridades urbanísticas<br />

do Recife. Só <strong>um</strong> pequeno reparo: a legenda da<br />

foto da Rua Primeiro de Março - “Praça do Diário<br />

- d<strong>é</strong>cada de 50 -. Ao fundo aparece o Arco de<br />

Santo Antonio, demolido em 1917. Logo, a foto<br />

<strong>é</strong> anterior a essa data. Clizete Monteiro<br />

Pano Rápido<br />

Esta aí <strong>um</strong>a secção sem novidades, piadas<br />

antigas, datadas, já contadas e recontadas<br />

em mesas de bar e nos saraus da classe<br />

m<strong>é</strong>dia obtusa, honestamente, nada acrescentam<br />

ao conteúdo da revista.<br />

Pedro Bernardo<br />

Pensando Bem<br />

Gostaria de parabenizar a <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong><br />

pela maravilhosa mat<strong>é</strong>ria “Como Superar as<br />

dificuldades nas empresas” pelo Consultor<br />

Antônio Augusto. Bastante objetiva e edificante.<br />

Foi “algo mais” que essa conceituada<br />

<strong>Revista</strong> nos proporcionou. Socorro Tavares<br />

Foral de Olinda<br />

Depois que li a interessante mat<strong>é</strong>ria sobre o “Foral<br />

de Olinda”, gente a favor, gente contra. Lembrei-me<br />

de <strong>um</strong>a polêmica baseada tamb<strong>é</strong>m em<br />

antigas normas: A Comarca do São Francisco. A<br />

perda de quase metade do nosso território para<br />

a Bahia, por sermos contra o Imp<strong>é</strong>rio ainda hoje<br />

pode ser discutida. Aliás, nossa Constituição<br />

atual em suas disposições transitórias, declara<br />

que o Estado de PE lutará para reaver o território.<br />

Creio que vale a pena o debate. Adelino<br />

Feriados<br />

Interessante a mat<strong>é</strong>rias sobre o custo financeiro<br />

dos feriados no Brasil. Realmente vendo<br />

da forma como foi exposto, talvez devêssemos<br />

trabalhar todos os dias do ano para não<br />

gerarmos perdas financeiras - inclusive sem<br />

f<strong>é</strong>rias, quem sabe. Mas e os custos pessoais,<br />

familiares e sociais provocados pelas longas, e<br />

muitas vezes cansativas e mal remuneradas jornadas<br />

de trabalho? Imaginem o que passam os<br />

comerciários, por exemplo, que trabalham nos<br />

shoppings e hipermercados da vida e tem <strong>um</strong>a<br />

folga semanal, frequentemente em <strong>um</strong> dia “útil”<br />

isolado na semana, quando a maiorias dos seus<br />

familiares, parentes e amigos estão ocupados<br />

em suas atividades. Esse custo não significada<br />

nada? Trabalhar <strong>é</strong> fundamental. Mas as pausas<br />

para descansar e desfrutar minimamente a vida<br />

tamb<strong>é</strong>m, inclusive se dedicando a <strong>um</strong> pouco de<br />

ócio, são tamb<strong>é</strong>m extremamente importantes -<br />

e sua falta pode gerar mais prejuízos que alguns<br />

dias de folga ao ano. Reynaldo Pitanga<br />

Memória<br />

Pernambucana I<br />

Parabenizo o ilustre contador de estórias e memorialista,<br />

Marcelo Alcoforado. Tive a oportunidade<br />

de reviver a magistral luta do Dr. F. Pessoa<br />

de Queiroz, atrav<strong>é</strong>s do seu artigo, publicado na<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong>, de abril/2009. Ainda bem,<br />

que temos algu<strong>é</strong>m que conhece a história do<br />

nosso Recife. Wilton de Souza<br />

maio ><br />

> 7


Entrevista<br />

Alexandre Albuquerque<br />

8 > > maio<br />

Paulo Dalla Nora Macedo<br />

Um banco com decisão local:<br />

desejo do empresariado<br />

ATUAÇÃO |Negócios com empresas familiares da região e<br />

a oferta do cr<strong>é</strong>dito consignado para a iniciativa privada e prefeituras<br />

Por Antonio Magalhães<br />

Paulo Dalla Nora Macedo tem 33 anos<br />

de idade, rosto jovial e não aparenta<br />

exercer a função que exerce: diretor executivo<br />

do Banco Gerador, a mais nova instituição<br />

bancária criada em Pernambuco, com sócios<br />

pernambucanos – Paulo S<strong>é</strong>rgio Macedo,<br />

Antonio Lavareda e Severino Mendonça - e<br />

que tem o foco de atuação no Estado e no<br />

Nordeste, como acontecia com o Banorte e o<br />

Banco Mercantil, de saudosa memória.<br />

Mas a aparência não <strong>é</strong> tudo, no caso. Nem<br />

mesmo a maleta de trabalho puxado por<br />

<strong>um</strong> desses carrinhos de viagem desfaz a<br />

imagem de executivo maduro. Paulo Dalla<br />

Nora Macedo <strong>é</strong> formado em Economia<br />

pela UFPE e fez mestrado em Paris na<br />

Insead, a mais famosa escola formadora<br />

de executivos da França. Durante 10 anos<br />

atuou como diretor do Grupo Nordeste e<br />

depois esteve no Lloyds Bank.<br />

Para ele, a criação do banco <strong>é</strong> fruto<br />

tamb<strong>é</strong>m da reflexão do grupo de<br />

pensadores que fez parte, celebrado na<br />

publicação “Pensar Pernambuco”, onde foi<br />

possível mapear as reais necessidades do<br />

Estado e as alternativas possíveis para o<br />

desenvolvimento econômico.<br />

Já a oportunidade do negócio bancário está<br />

mais do que confirmada. Segundo Paulo, a<br />

revista inglesa The Economist apontou que<br />

só oito países entre os 40 maiores terão<br />

este ano o crescimento do Produto Interno<br />

Bruto (PIB) acima de 1%. “Se o Nordeste<br />

fosse <strong>um</strong> país estaria em quinto lugar nesse<br />

ranking da revista entre os que vão crescer<br />

mais do que 1%. Se a crise financeira<br />

internacional <strong>é</strong> ruim para o Brasil, para o<br />

Nordeste vai ser menos danosa”, acredita<br />

Na entrevista a <strong>Algomais</strong>, Paulo Dalla<br />

Nora Macedo revela qual foi a estrat<strong>é</strong>gia<br />

para criação de <strong>um</strong> banco local e qual <strong>é</strong><br />

seu nicho de atuação. Conta como tudo<br />

aconteceu.


<strong>Algomais</strong> | Por que criar <strong>um</strong> banco em<br />

Pernambuco?<br />

Paulo Dalla Nora Macedo | A id<strong>é</strong>ia de<br />

criar o banco surgiu no final de 2007. O grupo<br />

de sócios, formado por empresários do<br />

Estado, percebeu que o Nordeste e especificamente<br />

Pernambuco cresciam, do ponto de<br />

vista macroeconômico, mais do que o Brasil.<br />

E dentro dessa área, as empresas familiares<br />

– o peso da economia regional – não eram<br />

atendidas por qualquer banco de origem local.<br />

Os sócios do banco e os empresários<br />

do seu relacionamento se ressentiam de <strong>um</strong><br />

banco com poder de decisão local. Era <strong>um</strong>a<br />

contradição, a região e o Estado de maior<br />

crescimento da Federação não terem <strong>um</strong><br />

banco daqui. Falando agora isso parece óbvio,<br />

mas foi exatamente essa obviedade que<br />

deu partida ao processo de constituição do<br />

Banco Gerador.<br />

Am | Qual foi o passo seguinte?<br />

PDNM | A partir dessa leitura estrat<strong>é</strong>gica<br />

se contratou <strong>um</strong>a consultoria – a Control<br />

Bank, de São Paulo – para checar se a pretensão<br />

batia com a realidade do mercado<br />

local. Mais do que o estudo mercadológico<br />

valeu o sentimento dos sócios que sempre<br />

conviveram com os empresários da região.<br />

Havia e há empresas precisando de apoio<br />

para a expansão, para aquisições e fusões,<br />

e não havia, mas agora há, <strong>um</strong> banco que<br />

pode dar suporte a essas operações. Ficou<br />

estabelecido claramente que havia essa<br />

oportunidade. O banco surgiu para preencher<br />

esse espaço. O mercado <strong>é</strong> grande e<br />

seremos <strong>um</strong> player importante na região.<br />

Am | Quando o Banco Gerador começou<br />

a operar?<br />

PDNM | A preparação começou em setembro<br />

de 2008 e a operação em março<br />

deste ano. Mas <strong>é</strong> <strong>um</strong> processo que requer<br />

trabalho, paciência e investimento. Tudo<br />

não acontecerá do dia para a noite, embora<br />

o processo de constituição do Gerador tenha<br />

sido rápido. Normalmente at<strong>é</strong> chegar a<br />

operar <strong>um</strong> banco leva, em m<strong>é</strong>dia, segundo<br />

o jornal Valor Econômico, 16 meses. Conseguimos<br />

fazer tudo em bem menos tempo.<br />

O Banco Central <strong>é</strong> muito cuidadoso, exige<br />

pessoal qualificado, sistemas de informática<br />

pesados e muito treinamento. É <strong>um</strong> processo<br />

que tem que ser feito com muita atenção.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

“Era <strong>um</strong>a contradição<br />

a Região e o<br />

Estado de maior<br />

crescimento da<br />

Federação não terem<br />

<strong>um</strong> banco daqui”<br />

Estamos trabalhando dentro das metas programadas.<br />

Os possíveis ajustes não atrapalham<br />

nosso cronograma.<br />

Am | A concretização do Banco Gerador<br />

coincidiu com a crise financeira<br />

internacional. Isso atrapalhou?<br />

PDNM | Não. Eu vinha acompanhando desde<br />

2007 o desenrolar da pr<strong>é</strong>-crise na Europa,<br />

onde vivia. Isso me permitiu mais adiante<br />

trabalhar conjuntamente com a consultoria<br />

Control Bank na formatação do banco n<strong>um</strong><br />

cenário problemático. Todo o plano de negócio<br />

foi revisto e quando a crise financeira<br />

internacional foi desencadeada ainda não<br />

tinha sido aberto o Gerador. Por isso não<br />

houve o elemento surpresa na nossa organização:<br />

abrimos depois da crise, não havia<br />

qualquer contrato negociado anteriormente.<br />

Ao contrário: abriu-se <strong>um</strong>a janela de mercado<br />

no Nordeste importantíssima. A atenção<br />

dos grandes bancos com os efeitos da crise<br />

fixou-se nos grandes centros econômicos do<br />

País. O Nordeste ficou maior para <strong>um</strong> banco<br />

local. E ficou claro para nós que a crise não<br />

ameaça o plano do Banco Gerador.<br />

Am | Qual <strong>é</strong> a área de atuação do Gerador?<br />

PDNM | Damos suporte às empresas familiares<br />

da região que estão pensando fazer<br />

fusões ou aquisições, reestruturações<br />

acionárias, capitalização. E localmente o<br />

Banco Gerador tamb<strong>é</strong>m vai ser o condutor<br />

de operações para grandes clientes. Esse <strong>é</strong><br />

<strong>um</strong> tipo de serviço que não existia por aqui.<br />

Vimos várias operações de compras de empresas<br />

da região nas quais só os compradores<br />

eram assessorados. Os vendedores, por<br />

falta de <strong>um</strong> player local, nunca eram assessorados.<br />

Al<strong>é</strong>m do mais, o banco pode vir a<br />

emitir pap<strong>é</strong>is, debêntures, e ainda ajudar as<br />

empresas regionais a abrirem seu capital. A<br />

Região e o Estado tinham necessidade de<br />

<strong>um</strong>a organização com bom relacionamento<br />

com empresariado local e credibilidade junto<br />

aos grandes bancos para montar parcerias<br />

nessas operações.<br />

Am | O cr<strong>é</strong>dito consignado tamb<strong>é</strong>m<br />

está no foco do banco?<br />

PDNM | De fato. Vamos ofertar o cr<strong>é</strong>dito<br />

consignado a empresas privadas e órgãos<br />

públicos. Muitas empresas que têm operações<br />

na área de investimentos do Gerador<br />

podem ser beneficiadas com o cr<strong>é</strong>dito<br />

consignado para seus funcionários, o que <strong>é</strong><br />

praticamente inexistente no mercado, com<br />

a taxa menor do que a do cr<strong>é</strong>dito pessoal.<br />

Na área pública, vamos atrás de prefeituras<br />

que, pelo tamanho do negócio, são desprezadas<br />

pelos grandes bancos.<br />

Am | Como serão feitas essas operações?<br />

Elas precisam de <strong>um</strong>a rede de<br />

agências?<br />

PDNM | Não precisamos de <strong>um</strong>a rede de<br />

agências para atender a este público. Vamos<br />

direto às empresas e órgãos públicos.<br />

Precisamos, sim, de pessoas com capacidade<br />

e relacionamento com o empresariado<br />

e gestores. E com credibilidade junto aos<br />

grandes bancos para montar parcerias.<br />

Am | Hoje teria espaço no mer-u<br />

uu<br />

maio ><br />

> 9


Entrevista<br />

cado bancário para <strong>um</strong> banco como o<br />

Banorte, regional de atuação nacional<br />

com agências em todo o País?<br />

PDNM | Não acredito. Um banco com <strong>um</strong>a<br />

rede de agências pulverizada, como era o<br />

caso do Banorte, não teria condições de<br />

enfrentar hoje os grandes bancos nacionais.<br />

Não teria escala de custo para competir com<br />

os bancos com mais de três mil agências. Seria<br />

<strong>um</strong>a briga perdida. E isso não <strong>é</strong> só no Nordeste.<br />

É em todo o País. Dos bancos regionais<br />

talvez só o Banrisul, do Rio Grande do Sul,<br />

pode topar a concorrência. Os bancos com<br />

muitas agências criam mais oportunidades<br />

de negócios, mas os serviços regionais específicos<br />

precisam do poder de decisão local<br />

e ela não está aqui, mas em São Paulo. Por<br />

isso não nos colocamos como concorrentes<br />

desses grandes bancos. Somos, na verdade,<br />

parceiros deles. Porque, pela demanda local,<br />

não temos condição de realizar sozinhos todas<br />

as operações. Vamos precisar agrupar as<br />

operações e mostrar aos grandes bancos as<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Alexandre Albuquerque<br />

10 > > maio<br />

oportunidades de investimentos em empresas<br />

familiares. Feito o trabalho de montagem<br />

pelo Gerador, os outros bancos podem entrar<br />

como parceiros.<br />

Am | O Banco Gerador entra com capital<br />

próprio ou <strong>é</strong> só <strong>um</strong> intermediador<br />

de recursos?<br />

PDNM | Queremos entrar em todas as operações,<br />

quando for possível, com capital próprio.<br />

Mas obviamente pelo nosso tamanho<br />

e pelo tamanho das operações que vamos<br />

ser o capitaneador principal isso não vai ser<br />

possível. Vamos mostrar, por<strong>é</strong>m, aos bancos<br />

parceiros que acreditamos nessas operações.<br />

Não podemos <strong>é</strong> entrar com capital próprio e<br />

reduzir o poder de alavancagem do nosso<br />

banco. É melhor viabilizar operações regionais<br />

de R$ 100 milhões, entrando com R$ 10<br />

milhões, do que não fazer nada.<br />

“Queremos entrar em<br />

todas as operações,<br />

quando for possível,<br />

com capital próprio.<br />

Vamos mostrar<br />

aos parceiros que<br />

acreditamos nessas<br />

operações”<br />

Am | O que mudou para o Gerador com<br />

o a<strong>um</strong>ento do limite garantido de investimentos<br />

em depósitos bancários<br />

a prazo, anunciado pelo Banco Central?<br />

PDNM | Começamos a operar em 23 de março.<br />

No dia 26 de março, o Conselho Monetário<br />

Nacional anunciou <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento da garantia<br />

dos investimentos em depósitos bancários<br />

a prazo de R$ 60 mil para R$ 20 milhões. Foi<br />

<strong>um</strong>a coisa excepcional. Agora o investidor do<br />

Banco Gerador nesse produto entra com essa<br />

garantia. É <strong>um</strong>a coisa importantíssima porque<br />

vamos precisar de investidores regionais para<br />

fazer com que banco tenha mais capacidade<br />

de alavancagem. O investidor, ao inv<strong>é</strong>s de ficar<br />

preocupado se o Gerador, que <strong>é</strong> <strong>um</strong> banco<br />

novo, tem boas garantias, pode contar com o<br />

fundo garantidor de cr<strong>é</strong>dito. Se ele aplicar R$<br />

10 milhões, R$ 20 milhões, pode ficar tran-<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Alexandre Albuquerque<br />

qüilo. O Governo Federal fez isso para nivelar<br />

o jogo com os bancos m<strong>é</strong>dios e pequenos em<br />

relação aos grandes.<br />

Am | O banqueiro, n<strong>um</strong> contexto mais<br />

popular, <strong>é</strong> visto muito negativamente<br />

pela sociedade. Só sobram queixas<br />

de exploração do mercado financeiro.<br />

Como você vê essa questão?<br />

PDNM | Isso depende de como o banco se<br />

coloca em relação ao cliente. Em curto prazo<br />

essa má imagem pode existir. Mas em<br />

longo prazo o cliente e a sociedade podem<br />

observar que isso não <strong>é</strong> bem assim. Há <strong>um</strong><br />

papel econômico e social dos bancos e, consequentemente,<br />

dos banqueiros.<br />

Am | Mas o spread bancário, o custo<br />

do empr<strong>é</strong>stimo, não faz graça para<br />

ningu<strong>é</strong>m?<br />

PDNM | Obviamente há exageros na cobrança<br />

do spread. Mas a inadimplência e risco da<br />

operação de empr<strong>é</strong>stimo têm elevado essa<br />

taxa. E algu<strong>é</strong>m, no caso o tomador dos recursos,<br />

termina pagando por isso. n


MUITA COISA MUDOU NESSES 30 ANOS, MAS A SUA CERTEZA<br />

DE ESTAR EM BOAS MÃOS É A MESMA DESDE 1979.<br />

Estar em boas mãos <strong>é</strong> contar com <strong>um</strong>a equipe multidisciplinar que valoriza o atendimento com<br />

carinho e atenção ao paciente. Estar em boas mãos <strong>é</strong> dispor dos equipamentos mais avançados para<br />

oferecer diagnósticos rápidos e precisos. Estar em boas mãos <strong>é</strong> ter acesso aos melhores m<strong>é</strong>dicos nas<br />

mais diversas especialidades. Estar em boas mãos <strong>é</strong>, acima de tudo, poder contar com <strong>um</strong> hospital<br />

que oferece todos esses serviços, com conforto e segurança, 24 horas por dia, 7 dias por semana.<br />

maio ><br />

> 11


12 > > maio<br />

Pano rápido<br />

Pra cá e pra lá<br />

O governador Eraldo Gueiros tinha<br />

reconhecido gosto por gravatas. Um<br />

dos seus auxiliares inventou de lhe<br />

dar <strong>um</strong>a de presente. A gravatinha<br />

era feia pra chuchu. Eraldo pediu à<br />

secretária, dona Marluce, para guardá-la.<br />

Tempos depois, aniversário do<br />

tal auxiliar. Eraldo lembrou-se da gravatinha.<br />

Só não lembrava quem tinha<br />

dado. Deu-a de volta. No dia seguinte,<br />

o cara pintou no Palácio dos Despachos<br />

com a gravata no pescoço. Eraldo<br />

o saudou:<br />

— Rapaz, que gravatinha feia<br />

danada!<br />

Tá entregue<br />

O engenheiro Abelardo<br />

Baltar mandou o motorista levar<br />

<strong>um</strong>a caixa de vinho de presente<br />

de Natal para Armando<br />

Cairutas, secretário de Viação<br />

e Obras do Estado, que tava<br />

veraneando no Janga. “Dr.<br />

Abelardo mandou pra Dr. Armando.”<br />

“Tá entregue.” Bem,<br />

entregue estava. Só que na<br />

casa errada. Quem recebeu foi<br />

o vizinho, Mano Teodósio. No<br />

Ano Novo, Mano foi à casa de<br />

Abelardo com a única garrafa<br />

que sobrou a tiracolo.<br />

— Dr. Armando mandou essa<br />

garrafinha pra gente tomar.<br />

Respeito<br />

<strong>é</strong> bom<br />

Dr. Arsênio Tavares, professor de<br />

cirurgia, encontra com <strong>um</strong> ex-aluno,<br />

agora m<strong>é</strong>dico, nos corredores de <strong>um</strong><br />

hospital:<br />

— O que há de novo, Arsênio?<br />

— A nossa intimidade.<br />

No popular<br />

Uma socialite levou o filho para se consultar<br />

com Dra. Alzira Lins. O garotinho mal<br />

podia abrir os olhos, <strong>um</strong>a crosta lhe encobria<br />

cílios e sobrancelhas. “Seu filho está com<br />

phthirus pubis, minha senhora.” “Phthi... o<br />

quê, doutora?”<br />

— No popular: chato.<br />

— Deve ter pegado com a babá.<br />

Apesar dos protestos da socialite,<br />

Dra. Alzira examinou as duas. Imagine<br />

só quem tava com <strong>um</strong>a camada de chato...<br />

Capiba se deu mal.<br />

Pecados<br />

O escritor Renato Carneiro Campos se<br />

recusava a fazer análise psiquiátrica. E dava<br />

o motivo:<br />

— Vou lá pagar para o camarada ficar sabendo<br />

os meus pecados?!<br />

Joca Souza Leão<br />

jocasouzaleao@gmail.com<br />

Oitenta anos<br />

O gravador Gilvan Samico nunca foi<br />

de badalação. Mas os jornais e tevês<br />

anunciaram que iria fazer 80 anos. Samico<br />

ficou cabreiro. No dia do aniversário,<br />

de manhãzinha, o pintor Z<strong>é</strong> Cláudio<br />

o encontrou em frente a sua casa, em<br />

Olinda, com <strong>um</strong>as cordas.<br />

— E aí, Samico, já tá fazendo as gambiarras<br />

pra festa?<br />

— Tô <strong>é</strong> caindo fora.<br />

Terminou de amarrar as coisas no bagageiro<br />

do carro e se mandou.<br />

Meio de<br />

conversa<br />

Capiba era novato no Banco<br />

do Brasil. Tentava a todo<br />

custo se enturmar. Certa feita,<br />

viu a distância <strong>um</strong> grupo<br />

de funcionários conversando.<br />

Foi se chegando. Algu<strong>é</strong>m<br />

tava dizendo: “Ela já tomou<br />

de tudo”. “Já tomou no cu?”,<br />

perguntou Capiba, querendo<br />

bancar o engraçado. Tremendo<br />

mal estar. “Rapaz, o chefe<br />

tava contando que a mulher<br />

dele tá doente e já tomou<br />

tudo quanto foi rem<strong>é</strong>dio.” Capiba<br />

aprendeu a lição.<br />

— Nunca mais entro no meio<br />

de conversa.<br />

Fantasia<br />

Toni Miranda se fantasiou<br />

de senhor de engenho pra ir ao Baile<br />

Municipal: terno de linho branco, chap<strong>é</strong>u<br />

panamá e botas de cano longo. “Duvido<br />

que o porteiro do Baile ache qu’isso <strong>é</strong><br />

fantasia”, provocou <strong>um</strong> amigo.<br />

— Aí eu provo. Puxo o talão e passo<br />

<strong>um</strong> cheque sem fundo.<br />

As histórias aqui contadas têm compromisso com os contadores de história que as contaram. E não, necessariamente, com a História.


Prêmio<br />

Fundação Banco do Brasil<br />

de Tecnologia Social 2009<br />

Soluções vão se espalhar<br />

por todo o Brasil.<br />

Em todo o Brasil, instituições sem fi ns lucrativos<br />

implementam soluções efetivas para problemas<br />

relacionados à água, alimentação, educação,<br />

energia, habitação, saúde, renda e ao meio<br />

ambiente, que podem ser transferidas para outras<br />

comunidades. São as chamadas tecnologias<br />

sociais. O Prêmio Fundação Banco do Brasil de<br />

Tecnologia Social tem como objetivo identifi car,<br />

reconhecer e difundir estas soluções. As tecnologias<br />

que são certifi cadas passam a compor o Banco de<br />

Tecnologias Sociais, disponível no site da Fundação<br />

Banco do Brasil, e poderão ser reaplicadas em<br />

futuras parcerias. As 8 melhores tecnologias<br />

sociais receberão <strong>um</strong> prêmio de R$ 50 mil para<br />

seu aperfeiçoamento ou expansão, totalizando<br />

R$ 400 mil em premiação. Vamos fazer <strong>um</strong> Brasil melhor!<br />

Compartilhe sua solução com todo o país!<br />

Parceria Institucional: Patrocínio: Realização:<br />

maio ><br />

> 13<br />

emitido com a realização desta edição do Prêmio.<br />

Carbono Neutro – Árvores do cerrado estão sendo plantadas para compensar o CO2


14 > > maio<br />

De Olho<br />

Royalties do gás<br />

Onze municípios pernambucanos<br />

- Cabo Santo Agostinho, Camaragibe,<br />

Goiana, Itamb<strong>é</strong>, Itaquitinga, Jaboatão<br />

dos Guararapes, Moreno, Paulista,<br />

Recife, Vitória de Santo Antão e São<br />

Lourenço da Mata - têm direito líquido<br />

e certo de receber royalties ou compensações<br />

financeiras por terem instalações<br />

e gasodutos usados para o gás<br />

natural extraído no Rio Grande do Norte<br />

e Alagoas. No entanto, <strong>um</strong>a portaria da<br />

Agência Nacional de Petróleo (ANP)<br />

vem negando o pagamento, o que contraria<br />

a Constituição Federal. A briga<br />

dos municípios pernambucanos com a<br />

ANP está no Tribunal Regional Federal.<br />

Segundo o advogado Harlan Gadelha,<br />

que cuida do caso, foi bem su-<br />

Negociação<br />

Em tempo de vacas magras ou de<br />

arrecadação menor, o Governo Federal<br />

parte agora para facilitar a negociação<br />

das dívidas dos contribuintes com a Receita<br />

Federal. Depois da aprovação da<br />

Medida Provisória 449, que perdoou as<br />

dívidas com a União no valor de at<strong>é</strong> R$<br />

10 mil e introduziu mudanças no modelo<br />

de cobrança de d<strong>é</strong>bitos tributários, o<br />

mote agora <strong>é</strong> impedir ao máximo que as<br />

cobranças cheguem aos tribunais. Pela<br />

proposta governamental, será possível<br />

ao contribuinte negociar os d<strong>é</strong>bitos na<br />

esfera administrativa, por meio dos<br />

bancos oficiais. O acordo tamb<strong>é</strong>m será<br />

possível caso a ação judicial já tenha<br />

sido iniciada.<br />

Juros<br />

cedida a ação judicial de São Lourenço da<br />

Mata: a ANP pagou R$ 100 mil ao município<br />

que <strong>é</strong> cortado pela tubulação do gasoduto<br />

Guamar<strong>é</strong>-Cabo.<br />

Diante dessa dificuldade, Harlan Gadelha<br />

acha que <strong>é</strong> importante que a sociedade<br />

cobre a continuidade das investigações<br />

Madeira<br />

É muito otimismo<br />

do Pólo Gesseiro de Pernambuco.<br />

O empresariado<br />

da região do Araripe<br />

fez <strong>um</strong>a boa proposta<br />

para uso da madeira da<br />

caatinga, retirada para<br />

dar passagem Às obras<br />

de construção do canal<br />

de transposição das<br />

águas do rio São Francisco<br />

e da Ferrovia Transnordestina. Ela seria<br />

destinada Às fábricas de beneficiamento<br />

do gesso. Segundo o deputado Raimundo<br />

Pimentel, com bases eleitorais na região, somente<br />

para o trabalho de transposição será<br />

retirado 1,5 milhão de metros cúbicos de<br />

O novo presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine,<br />

chega ao cargo com a missão de reduzir as taxas de juros<br />

pondo em prática <strong>um</strong>a postura mais agressiva de concessão<br />

de cr<strong>é</strong>dito. Os acionistas privados estão desconfiados<br />

iniciadas pela Polícia Federal<br />

na Operação Royalties.<br />

“Não se justificam<br />

as declarações dadas<br />

à imprensa por Haroldo<br />

Lima (presidente da ANP)<br />

e Victor Martins (diretor<br />

da agência e investigado<br />

pela PF) em Pernambuco,<br />

em junho de 2008,<br />

quando acusaram a Justiça<br />

Federal de patrocinar<br />

<strong>um</strong>a indústria de liminares<br />

para liberar os pagamentos”. Segundo<br />

Gadelha, agora a verdade veio a tona e pode<br />

explicar as nossas perdas, com a revelação<br />

da revista Veja a respeito do possível favorecimento<br />

de Victor Martins a municípios do<br />

Rio de Janeiro. “É <strong>um</strong> escândalo que precisa<br />

ser apurado”, diz.<br />

lenha. “É madeira suficiente para funcionamento<br />

do Pólo Gesseiro por três anos”, diz o<br />

parlamentar. Já a lenha retirada pela Transnordestina<br />

alimentaria os fornos por quatro<br />

ou cinco anos. Já acreditar no andamento<br />

das duas obras <strong>é</strong> outra coisa.<br />

dessa iniciativa. Só vêem o BB como <strong>um</strong>a entidade lucrativa<br />

e não como <strong>um</strong> banco oficial. Esquecem que a folha de pagamento<br />

do funcionalismo federal e outras contas governamentais<br />

estão no banco, o que garante o porte do BB no mercado<br />

e sua lucratividade. Agora <strong>é</strong> hora do social. Que aguentem o<br />

tranco.


Divulgação<br />

Pobre Jerusal<strong>é</strong>m<br />

Os ganhos com a Paixão de Cristo da<br />

Nova Jerusal<strong>é</strong>m, no agreste pernambucano,<br />

não permitem a realização de outros espetáculos<br />

no decorrer do ano no maior teatro<br />

ao ar livre do mundo. O Auto Natal, apresentado<br />

no fim do ano, <strong>é</strong> mais <strong>um</strong> esforço<br />

da sociedade que administra o teatro do que<br />

mesmo <strong>um</strong> bom negócio. Para Carlos Reis,<br />

diretor da Paixão, <strong>é</strong> indispensável o patrocínio<br />

do Governo do Estado para realizar mais<br />

peças. A vida de João Batista já está pronta<br />

para ser encenada, mas sem patrocínio<br />

nada será feito.<br />

Centenário<br />

Comemora-se este ano o centenário<br />

de nascimento do paisagista Burle<br />

Marx. O fotógrafo Marcus Prado e arquiteta<br />

Bete Araruna vão lançar em<br />

maio o projeto Burle Marx, o poeta dos<br />

Esportes<br />

Antônio Magalhães<br />

ajamagalhaes@yahoo.com.br<br />

Pobre Cristo<br />

Por falar em Nova Jerusal<strong>é</strong>m, o crit<strong>é</strong>rio<br />

da escolha de Cristo para o Drama da Paixão<br />

de Nova Jerusal<strong>é</strong>m deve ser revisto.<br />

A cada ano piora porque a seleção <strong>é</strong> feita<br />

com quem está em destaque na TV Globo,<br />

naquele momento. O Cristo de Murilo Rosa,<br />

apresentado este ano, foi muito fraco. A<br />

pouca gesticulação n<strong>um</strong> espetáculo teatral<br />

acaba com o ator. Murilo, acost<strong>um</strong>ado ao<br />

minimalismo da televisão – foco em primeiro<br />

plano –, foi <strong>um</strong> Cristo apático, de poucos<br />

gestos. Quem via de longe não identificava<br />

o personagem com a voz pr<strong>é</strong>-gravada.<br />

Jardins. São 200 fotos da flora escolhida<br />

por Marx e textos explicativos<br />

sobre o paisagista. Uma das<br />

praças mais conhecidas projetadas<br />

por ele <strong>é</strong> a de Casa Forte.<br />

Foi <strong>um</strong>a tradição local os bancos pernambucanos patrocinarem os grandes times de<br />

futebol. Os bancos locais fecharam. E as equipes pioram seu futebol. Com a abertura do<br />

Banco Gerador a conversa do patrocínio foi retomada. Paulo Dalla Nora Macedo, diretor<br />

executivo do Gerador (veja sua entrevista nesta edição), diz que o banco que dirige não <strong>é</strong><br />

para o grande público, diferente dos seus antecessores. Quando fala na possibilidade de<br />

patrocínio ele pensa em eventos culturais, apoiados pelos incentivos da Lei Rouanet. E só.<br />

maio ><br />

> 15


Pensando bem<br />

Pernambuco tem se reinventado. Desde as dobras<br />

anteriores da indústria mecânica. At<strong>é</strong> a verticalização<br />

do petróleo e dos reparos navais. Desde<br />

a sociedade perfeitamente classificada nos salões<br />

do Internacional. At<strong>é</strong> a voz do hip hop no Chevrolet<br />

Hall. Desde o com<strong>é</strong>rcio cadenciado das ruas Nova<br />

e Imperatriz. At<strong>é</strong> a produtividade feita de softwares<br />

do Porto Digital.<br />

Pernambuco morre clássico e renasce moderno.<br />

Pernambuco clássico findou três vezes. Na<br />

política, com a queda de Estácio Coimbra,<br />

filho da Zona da Mata e herdeiro<br />

do açúcar. Sucedido por Agamenon,<br />

padroeiro de <strong>um</strong>a linhagem de coron<strong>é</strong>is.<br />

Na empresa, findou com a agonia<br />

de Francisco Pessoa de Queiroz,<br />

que sempre fez do bom e do melhor.<br />

Sucedido por João Carlos Paes Mendonça,<br />

duque sergipano da serra do<br />

Machado e inovador nacional de shoppings<br />

centers. Na arte, findou com Lula<br />

Cardoso Ayres, que abria portões e guardava<br />

o azul. Sucedido por João Câmara,<br />

que pintou a história datada e fez arte<br />

em computação gráfica.<br />

O Pernambuco clássico, fechado,<br />

findou. E se reinventou no Pernambu-<br />

co moderno, aberto, atlântico, cheio de<br />

mangas, uvas e melões. Pernambuco<br />

clássico tinha gosto de açúcar e devaneio<br />

de aristocracia. Pernambuco moderno<br />

tem cheiro de democracia e som da<br />

orquestra do maestro Spock. Substituiu<br />

a antiga Casa de Banhos pela avenida<br />

dos arrecifes soprada pela esperança de<br />

Brasília Teimosa.<br />

Sutil revolução social de cost<strong>um</strong>es se<br />

infiltrou no Recife. Hoje, a graduação de<br />

expectativas e frustrações chega antes da<br />

faculdade. Por <strong>um</strong> lado, a vontade popular<br />

abriu caminho que faz as urnas roncarem a<br />

prazo certo. Trazendo aragem promissora<br />

que areja instituições. Fazendo da cidadania<br />

instância viva de consideração legal.<br />

Por outro lado, o espírito empreendedor inaugura sushis, massas<br />

e picanhas. Impõe customização e qualidade. Ergue o talento<br />

sob forma de concreto e vidro, lembrando a escola <strong>pernambucana</strong><br />

16 > > maio<br />

Luiz Otávio Cavalcanti<br />

lotavio@fsm.com.br<br />

Pernambuco, clássico e moderno<br />

“O Pernambuco<br />

clássico, fechado,<br />

findou. E se<br />

reinventou no<br />

Pernambuco<br />

moderno, aberto,<br />

atlântico,<br />

cheio de mangas,<br />

uvas e melões”<br />

de arquitetura, de Borsói a Alexandre Castro e Silva. Põe<br />

na parede retrato de velho mascate que desfilava sua<br />

marcha perseverante nas miudezas. Para surgir, agora,<br />

nos sites de mascates tecnológicos atravessando<br />

distâncias oceânicas em naves eletrônicas.<br />

Pernambuco moderno pauta trilogia. Pernambuco<br />

moderno <strong>é</strong> aberto, pendular e <strong>é</strong>tico. Antes, bloqueado<br />

em impasses econômicos, modernamente Pernambuco<br />

se abre a investimentos externos e influências exteriores.<br />

Recebe espanhóis, portugueses, italianos, japoneses<br />

e norte americanos trazendo fábricas<br />

e hot<strong>é</strong>is. Assimila novas tecnologias que<br />

se incorporam ao patrimônio com<strong>um</strong><br />

da economia globalizada. Pernambuco<br />

moderno não <strong>é</strong> monoglota, fala<br />

inglês, francês e espanhol.<br />

Nunca sonolento, no Imp<strong>é</strong>rio<br />

ou na República, modernamente<br />

Pernambuco continua pendular.<br />

Oscila entre a escola política de<br />

moderação e a de exaltação. Pende<br />

<strong>um</strong> lado para a serena articulação<br />

do marquês de Olinda e o senso<br />

de equilíbrio na sensatez de Gervásio Pires.<br />

Pende outro lado para a ação revolucionária<br />

de Frei Caneca e para o tempero irrevogável<br />

de Agamenon. Duas escolas, duas destina-<br />

ções, o mesmo povo, o mesmo chão. Como<br />

se há de reuní-los se já estão unidos ? Ou<br />

de aproximá-los se já estão juntos ? Certeira<br />

lição de pernambucanidade aprendida nos<br />

Brasis de meus ofícios.<br />

Jamais em cima do muro, modernamente<br />

Pernambuco se quer <strong>é</strong>tico. Mant<strong>é</strong>m<br />

tradição de legalismo fiscal que<br />

inibe leilões com incentivo de imposto.<br />

Alimenta tradição social que fez Paulo<br />

Freire juntar dois aprendizados, o da<br />

palavra e o da vida. Igual atitude social<br />

que fez Josu<strong>é</strong> de Castro tecer o delicado<br />

e perigoso terreno da geografia da<br />

fome. Sensibilidade social que fez Chico<br />

Science embalar a denúncia da pobreza<br />

recifense com o rap pioneiro de inventor.<br />

Pernambuco moderno concretiza encontro entre duas transições:<br />

a da política e a da economia. Duas transições, <strong>um</strong> só processo.<br />

Duas perspectivas, <strong>um</strong> só destino. Pernambuco eterno.<br />

*Luiz Otávio Cavalcanti <strong>é</strong> diretor da Faculdade Santa Maria


maio ><br />

><br />

17


Nova função<br />

Depois de participar do Big Brother, a<br />

<strong>pernambucana</strong> Karla Patrícia voltou<br />

ao Recife e mudou seus projetos<br />

profissionais. Desistiu da carreira<br />

n<strong>um</strong>a banda de forró e partiu para a<br />

área da comunicação. Depois de atuar<br />

no Programa do Mução, ganhou seu<br />

programa próprio na TV Tribuna e abriu<br />

sua própria agência de propaganda.<br />

18 > > maio<br />

João Alberto<br />

Divulgação<br />

Jovem e experiente<br />

O desembargador federal Luiz Alberto<br />

Gurgel de Faria, novo presidente do<br />

Tribunal Regional Federal da 5ª Região,<br />

tem apenas 39 anos e <strong>é</strong> o mais jovem<br />

dos presidentes de tribunais federais<br />

do país. Com pouca idade, ele já tem<br />

<strong>um</strong>a notável experiência, inclusive<br />

tendo sido funcionário, quando<br />

n Morenice em dose dupla: Karla Patrícia e Ivete Sangalo<br />

estagiário de Direito, quando aquele<br />

Fernando Silva/PCR<br />

tribunal foi criado. Mudanças no centro<br />

Fernando Silva/PCR<br />

Entre as prioridades do prefeito João da<br />

Costa para revitalizar o centro do Recife<br />

está <strong>um</strong>a forte intervenção na etapa final<br />

do camelódromo da Dantas Barreto, onde<br />

fica o Mercado das Flores, que hoje <strong>é</strong> <strong>um</strong>a<br />

das áreas mais degradadas da cidade. O<br />

projeto inclui a construção de <strong>um</strong> conjunto<br />

habitacional perto da Praça S<strong>é</strong>rgio Loreto,<br />

que daria vida à região.<br />

Mudança de sede<br />

O ministro Luiz Barretto me revela <strong>um</strong> dado<br />

impressionante sobre a Copa do Mundo.<br />

Quando <strong>um</strong>a selecão muda de sede, exige<br />

o deslocamento de 50 mil pessoas. N<strong>um</strong><br />

país como o Brasil, que praticamente não<br />

n Desembargador federal Luiz tem ferrovias, <strong>é</strong> <strong>um</strong>a operação gigantesca.<br />

Alberto Gurgel de Faria<br />

Algo como 500 voos.<br />

Sem juízes<br />

Pernambuco sempre se destacou no cenário da arbitragem no futebol brasileiro. Há<br />

anos, no entanto, está em franca decadência. Depois de Wilson Souza, que chegou ao<br />

quadro da FIFA, nunca mais apareceu <strong>um</strong> juiz de destaque. Os erros se tornaram rotina<br />

nas partidas. Um claro exemplo <strong>é</strong> que a Federação, al<strong>é</strong>m de ter trazido dois árbitros de<br />

Sergipe e Paraíba para seu quadro, teve que apelar para profissionais de outros Estados<br />

para os jogos da fase final do Campeonato Pernambucano.<br />

Exagero na<br />

Assembleia<br />

Sem tirar o m<strong>é</strong>rito<br />

da maioria das<br />

indicações, perdeu<br />

totalmente seu m<strong>é</strong>rito<br />

a verdadeira avalanche<br />

de propostas na<br />

Assembleia Legislativa<br />

considerando eventos<br />

como patrimônio<br />

cultural imaterial de<br />

Pernambuco. São tantas<br />

que praticamente não<br />

existe mais qualquer<br />

manifestação que<br />

não tenha recebido o<br />

destaque. É preciso<br />

entender que quanto<br />

mais homenagem,<br />

menos homenagem.<br />

n Prefeito João da Costa<br />

Volta do Monte Sinai<br />

O deputado Izaias R<strong>é</strong>gis trabalha no projeto da<br />

transformação do antigo Hotel Monte Sinai,<br />

em Garanhunns, atualmente ocupado por <strong>um</strong><br />

batalhão da PM, n<strong>um</strong> centro turístico, cultural<br />

ou educacional. Espaço tem <strong>um</strong>a das mais<br />

belas vistas daquela cidade.


Antevisão<br />

no Senado<br />

Diante desta impressionante<br />

onda de escândalos envolvendo<br />

o Senado, Jarbas Vasconcelos<br />

recorda <strong>um</strong>a frase que o falecido<br />

e respeitadíssimo senador amazonense<br />

Jefferson Peres disse<br />

em dezembro de 2004, ou seja,<br />

há mais de quatro anos: “Vou<br />

deixar a política por desencanto<br />

e nojo. Vale a pena exercer a atividade<br />

parlamentar? É inútil, não sei<br />

o que fazemos aqui no Senado.”<br />

n O consul geral do Japão, Toshio Watanabe, que<br />

tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> <strong>um</strong> apaixonado por carros, com o diretor<br />

comercial da MotoHonda, Roberto Akiyama. Na pauta<br />

da conversa: o mercado das duas rodas na região<br />

O QUE SE COMENTA...<br />

QUE depois de muitos anos morando em Curitiba, a jornalista Zenaide Barboza volta ao Recife<br />

para comandar a assessoria de comunicação do Tribunal de Justiça do Estado. u QUE<br />

Ignácio de Loyola Brandão está escrevendo a biografia de dona Ruth Cardoso, a ser lançada<br />

no próximo ano. u QUE Priscila Krause pode disputar cadeira na Assembleia Legislativa,<br />

no próximo ano, na chapa do DEM. u QUE o restaurante Pasta Gialla, do chef S<strong>é</strong>rgio Arno,<br />

nas Graças, desapareceu. No local, Thaís Góes instalou o Palatari. u QUE Francisco Rosário<br />

comemora o <strong>sucesso</strong> do seu projeto Welcome to Brazil de combate ao turismo sexual no<br />

nosso país.<br />

Adalberto Marques<br />

n Deputado Inocêncio Oliveira<br />

Futuro de<br />

Inocêncio<br />

Uma das principais lideranças<br />

políticas do Estado, de dimensão<br />

nacional, o deputado Inocêncio<br />

Oliveira assiste de camarote a<br />

disputa pelas vagas de candidato<br />

a senador na chapa de Eduardo<br />

Campos em 2010. Pode ser a opção<br />

que uniria todas as áreas, tendo no<br />

currículo sempre grandes votações<br />

em todo o Estado.<br />

joaoalberto@revistaalgomais.com.br<br />

Municípios<br />

em cheque<br />

A queda de arrecadação do Governo<br />

Federal, que causou sensível diminuição<br />

do Fundo de Participação dos Municípios<br />

(FPM) mostra a fragilidade financeira da<br />

maioria dos municípios brasileiros, que<br />

praticamente só têm aquela forma de<br />

receita. Serve para que muitos prefeitos<br />

mudem sua forma de administrar,<br />

acabando com exageros, que vão desde<br />

seus altíssimos salários e obras acima da<br />

capacidade a <strong>um</strong> quadro exagerado de<br />

funcionários, sendo muitos fantasmas,<br />

morando nas capitais.<br />

Números<br />

impressionantes<br />

Solange Vieira, presidente da Anac, revela<br />

números impressionantes da aviação<br />

brasileira. O país tem 11,9 mil aviões,<br />

1,2 mil helicópteros, 15 empresas a<strong>é</strong>reas<br />

de passageiros e quatro de cargas e<br />

5,1 mil pilotos comerciais. Ao todo são<br />

3,5 mil aeródromos, sendo 739 sujeitos<br />

a fiscalização.<br />

Bom exemplo<br />

Na sua recente apresentação no Recife a<br />

banda Iron Maiden deu <strong>um</strong> bom exemplo<br />

aos produtores de shows da nossa cidade.<br />

Começou o show exatamente na hora<br />

marcada. Os atrasos, muitas vezes de<br />

horas, no início de espetáculos na nossa<br />

cidade <strong>é</strong>, acima de tudo, <strong>um</strong>a falta de<br />

respeito com o público.<br />

maio ><br />

> 19


Política<br />

Mulheres no plenário<br />

AVANÇO | Mulheres preenchem dez cadeiras na Assembleia<br />

Legislativa e já ocupam 20% das vagas para a Casa de Joaquim Nabuco<br />

Por Ivo Dantas<br />

Assembleia Legislativa de Pernambuco<br />

A completou, no último mês de abril, 174<br />

anos escrevendo mais <strong>um</strong> capítulo de sua<br />

história. Pela primeira vez, dez mulheres<br />

ocupam cadeiras na Casa de Joaquim Nabuco.<br />

Número que representa 20% das 49<br />

vagas disponíveis para deputado estadual,<br />

superando a m<strong>é</strong>dia nacional em casas legislativas,<br />

que <strong>é</strong> de apenas 9%, segundo dados<br />

das Nações Unidas.<br />

Em 2006, seis deputadas foram eleitas<br />

diretamente após a apuração das urnas.<br />

Com o decorrer do mandato e, principalmente,<br />

devido às últimas eleições municipais,<br />

alg<strong>um</strong>as vagas foram abertas com a<br />

saída de políticos para ocupar outros cargos.<br />

As mulheres conseguiram, atrav<strong>é</strong>s<br />

de suplência, preencher quatro cadeiras,<br />

totalizando dez representantes femininas<br />

na Alepe.<br />

“É algo a ser comemorado. Temos o<br />

A bancada feminina<br />

TEREZINHA NUNES (PSDB)<br />

Eleita com<br />

45.775 votos<br />

Paraibana, com a<br />

política no sangue,<br />

já ocupou os cargos<br />

das secretarias de<br />

imprensa municipal<br />

e estadual, al<strong>é</strong>m<br />

da Secretaria de<br />

Desenvolvimento Urbano, durante gestões<br />

de Jarbas Vasconcelos. C<strong>um</strong>pre atualmente<br />

seu primeiro mandato. É autora do projeto<br />

de criação da Data Magna de Pernambuco,<br />

comemorado no dia 6 de março.<br />

20 > > maio<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Deputadas estaduais são cada vez mais comuns na Assembleia<br />

maior percentual de mulheres em Assembleia<br />

Legislativa em todo o país. A participa-<br />

TERESA LEITÃO (PT)<br />

Eleita com<br />

37.405 votos<br />

Professora<br />

aposentada,<br />

Teresa Leitão<br />

foi presidente<br />

do Sindicato<br />

dos<br />

Trabalhadores<br />

em Educação (Sintepe). Atualmente<br />

c<strong>um</strong>pre seu segundo mandato como<br />

deputada estadual. É integrante titular<br />

da Comissão de Constituição, Legislação<br />

e Justiça.<br />

ção da mulher na política <strong>é</strong> consequência direta<br />

da emancipação que temos conseguido<br />

MIRIAM LACERDA (DEM)<br />

Eleita com<br />

67.830 votos<br />

Miriam Lacerda<br />

começou na vida<br />

política ao lado<br />

de seu marido,<br />

Tony Gel, quando<br />

prefeito de Caruaru.<br />

Criou a Central da<br />

Solidariedade, entidade de assistência social, e<br />

que acabou levando-a a ass<strong>um</strong>ir a Secretaria de<br />

Governo do município, de onde saiu para, em<br />

2006, ass<strong>um</strong>ir seu primeiro mandato na Casa de<br />

Joaquim Nabuco. É líder da bancada do partido.


na vida social, ocupando cada vez mais cargos<br />

que antes não eram preenchidos pelo<br />

sexo feminino”, analisa a deputada estadual<br />

Ceça Ribeiro (PSB).<br />

A tendência <strong>é</strong> que esse movimento<br />

continue crescendo. Al<strong>é</strong>m de nove das<br />

dez deputadas que foram ouvidas pela<br />

<strong>Algomais</strong> afirmarem pretender a reeleição,<br />

os partidos são obrigados por força<br />

de lei a destinar 30% das vagas para as<br />

mulheres, a chamada chapa proporcional.<br />

Segundo Jacilda Urquisa (PMDB),<br />

as cotas são importantes, mas depen-<br />

de muito de quem<br />

se candidata. “Não<br />

basta fazer parte das<br />

cotas que os partidos<br />

têm que colocar como<br />

candidatas. Tem que<br />

entrar em condição<br />

de igualdade. Hoje,<br />

a maioria entra só na<br />

cauda das legendas e<br />

o que conseguir arrecadar<br />

de votos ajuda a<br />

eleger homens”, diz.<br />

Para Dilma Lins (DEM), a evolução da<br />

mulher no campo político anda a passos<br />

largos e <strong>um</strong>a governadora não <strong>é</strong> algo tão<br />

distante. “Cada vez tenho visto mais mulheres<br />

despontarem na vida política com<br />

grande potencial para ocupar qualquer<br />

cargo no nosso Estado. Acho que ainda<br />

verei <strong>um</strong>a mulher como governadora de<br />

Pernambuco”.<br />

Única a dar a carreira como encerra-<br />

JACILDA URQUISA (PMDB)<br />

Eleita para<br />

suplência com<br />

21.753 votos<br />

Advogada, iniciou<br />

sua carreira política<br />

como vereadora de<br />

Olinda, em 1988,<br />

onde desempenhou<br />

o cargo de primeira<br />

secretária e foi relatora da Lei Orgânica e<br />

do Regimento Interno. Em 1996, foi eleita<br />

prefeita da cidade. Atualmente, <strong>é</strong> líder do<br />

PMDB e c<strong>um</strong>pre seu primeiro mandato como<br />

deputada estadual.<br />

“Quando se tem<br />

vontade política,<br />

se faz. Quando<br />

não, nada <strong>é</strong> feito.<br />

E falta muita<br />

vontade política.”<br />

da, Carla Lapa (PSB) se diz decepcionada<br />

com a vida pública. “A política <strong>é</strong> algo fascinante,<br />

mas que pode decepcionar profundamente,<br />

como aconteceu comigo.<br />

Não me arrependi de nada que fiz, mas<br />

aprendi <strong>um</strong>a coisa em política: quando se<br />

tem vontade política, se faz. Quando não,<br />

nada <strong>é</strong> feito. E falta muita vontade política<br />

de fazer as coisas funcionarem”.<br />

As críticas não param por aí. Para<br />

ela, ano de eleição <strong>é</strong> ano de leilão de<br />

políticos. “A gente vê lideranças votando<br />

em candidatos que não têm o menor<br />

compromisso com a<br />

região; envolvidos em<br />

corrupção, que não<br />

têm trabalho, não têm<br />

projetos, simplesmente<br />

por dinheiro. O que<br />

acontece <strong>é</strong> <strong>um</strong> leilão<br />

com as lideranças<br />

políticas. Isso <strong>é</strong> muito<br />

frustrante”, completa.<br />

Para Miriam Lacerda<br />

(DEM), a grande<br />

participação na<br />

legislatura <strong>é</strong> positiva, mas o número de<br />

mulheres que partem para a vida política<br />

ainda pode crescer. “Em Pernambuco,<br />

a quantidade de mulheres que entram<br />

na política ainda <strong>é</strong> muito pequeno. É da<br />

nossa cultura. Aprendemos que lugar da<br />

mulher <strong>é</strong> em casa. Para mudar isso, só<br />

vencendo esse preconceito, inclusive na<br />

Carla Lapa<br />

cabeça das próprias mulheres”, diz.<br />

Preconceito que pôde ser sentido u uu<br />

ISABEL CRISTINA (PT)<br />

Eleita para<br />

suplência com<br />

26.693 votos<br />

Foi vereadora de<br />

Petrolina em duas<br />

oportunidades<br />

(1993 a 2000),<br />

sendo a primeira<br />

mulher da região<br />

do Vale do São Francisco a ass<strong>um</strong>ir <strong>um</strong><br />

cargo no executivo, como vice-prefeita da<br />

cidade. Atualmente, c<strong>um</strong>pre seu primeiro<br />

mandato na Assembleia Legislativa. É a 1ª<br />

vice-líder da bancada do partido.<br />

maio ><br />

> 21


Política<br />

por várias das dez deputadas que ocupam as<br />

cadeiras da Alepe atualmente. O mais emblemático<br />

talvez seja o de Miriam Lacerda, que<br />

diz ter enfrentado situações por vezes constrangedoras.<br />

“Apesar de sermos a maioria do<br />

eleitorado, ainda existe <strong>um</strong>a grande resistência<br />

em votar em mulheres. Quando me candidatei,<br />

estava em <strong>um</strong> programa de rádio e<br />

<strong>um</strong>a ouvinte ligou para dizer que gostava muito<br />

de mim, mas que não votaria porque lugar<br />

de mulher <strong>é</strong> em casa, cuidando da família”.<br />

Um fato interessante <strong>é</strong> a expressiva<br />

quantidade de deputadas advindas de famílias<br />

de políticos. Das dez, quatro possuem<br />

A bancada feminina<br />

ELINA CARNEIRO (PSB)<br />

Eleita com<br />

31.902 votos<br />

Filha do ex-prefeito<br />

de Jaboatão dos<br />

Guararapes Newton<br />

Carneiro, Elina<br />

Carneiro <strong>é</strong> formada<br />

em Relações Públicas<br />

e já ocupou os<br />

cargos de presidente da Fundação de<br />

Cultura, Ciência e Tecnologia e de secretária<br />

de Ação Social, ambos de Jaboatão.<br />

Atualmente, c<strong>um</strong>pre seu primeiro mandato<br />

como deputada estadual e preside a<br />

Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.<br />

CEÇA RIBEIRO (PSB)<br />

Eleita com<br />

28.263 votos<br />

Pedagoga,<br />

Ceça Ribeiro já<br />

ocupou o cargo<br />

de secretária<br />

de Educação<br />

do município de<br />

Itapiss<strong>um</strong>a. Em<br />

seu segundo mandato como deputada estadual,<br />

atingiu marca importante ao ser escolhida<br />

a primeira mulher da história do Legislativo<br />

pernambucano a ocupar assento na Mesa<br />

Diretora como 4ª secretária. Seus principais<br />

projetos são na área do meio ambiente.<br />

22 > > maio<br />

a vida pública no sangue. São os casos de<br />

Carla Lapa (PSB), filha de ex-prefeitos de<br />

municípios do interior do Estado, Elina Carneiro<br />

(PSB), filha de ex-prefeito de Jaboatão<br />

dos Guararapes, Terezinha Nunes (PSDB),<br />

com irmãos que já exerceram mandatos de<br />

prefeito na Paraíba, e Miriam Lacerda (DEM),<br />

esposa de ex-prefeito de Caruaru.<br />

ASSUNTOS POLÊMICOS,<br />

BANCADA DIVIDIDA<br />

Se por <strong>um</strong> lado a presença de dez mulheres<br />

na Alepe <strong>é</strong> algo a ser comemorado,<br />

a falta de unidade em questões polêmicas<br />

fica evidente, seja por suas concepções políticas,<br />

morais ou partidárias.<br />

Destaque na mídia durante os últimos me-<br />

DOUTORA NADEGI (PMN)<br />

Eleita com<br />

23.390 votos<br />

M<strong>é</strong>dica<br />

ginecologista<br />

em atividade,<br />

Nadegi Queiroz<br />

já ocupou<br />

o cargo de<br />

secretária de<br />

Saúde dos municípios de São Lourenço<br />

da Mata e Camaragibe, onde foi viceprefeita<br />

em duas ocasiões. C<strong>um</strong>pre<br />

seu primeiro mandato na Assembleia<br />

Legislativa defendendo projetos na área<br />

de saúde.<br />

CARLA LAPA (PSB)<br />

Eleita com<br />

35.101 votos<br />

Filha do<br />

ex-prefeito<br />

de Carpina Carlos<br />

Lapa e de Graça<br />

Lapa, ex-prefeita<br />

do município<br />

de Tracunha<strong>é</strong>m,<br />

Carla Lapa tem a política no sangue.<br />

Segunda mais jovem deputada estadual<br />

do país, c<strong>um</strong>pre seu segundo mandato<br />

na Casa de Joaquim Nabuco. É de sua<br />

autoria a lei que proíbe o f<strong>um</strong>o em<br />

lugares públicos coletivos.<br />

ses, o aborto <strong>é</strong> o tema que conseguiu maior<br />

semelhança entre as opiniões das deputadas.<br />

Para a maioria delas só deve ser permitido nos<br />

casos previstos em lei. “Sou a favor em casos<br />

de risco de vida, estupro e má formação. Em<br />

qualquer outra situação, sou contra”, defende a<br />

m<strong>é</strong>dica ginecologista Doutora Nadegi (PMN).<br />

Já a deputada Isabel Cristina (PT) vai <strong>um</strong><br />

pouco al<strong>é</strong>m. “Não podemos tratar o tema de<br />

forma simplista, indicando <strong>um</strong>a posição favorável<br />

ou contrária, mas como <strong>um</strong>a questão de<br />

saúde púbica. Defendo a descriminalização do<br />

aborto e a regulamentação do atendimento.<br />

Nossa preocupação crucial <strong>é</strong> que essas mulheres<br />

não morram com a prática do aborto<br />

clandestino”, diz.<br />

O Governo de Eduardo Campos divide a<br />

bancada feminina da Assembleia. Para Terezinha<br />

Nunes (PSDB), o governador <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />

homem de sorte e foi eleito pela força do<br />

apoio que recebeu do presidente Lula, assim<br />

como continua tendo seu governo bem<br />

avaliado muito mais pelos investimentos federais<br />

do que por m<strong>é</strong>ritos próprios. “Se Jarbas<br />

for candidato tem todas as condições<br />

de voltar ao Palácio das Princesas porque o<br />

povo sabe que tudo que ele realizou foi mais<br />

por m<strong>é</strong>ritos próprios do governador e de sua<br />

equipe do que por apoio federal”.<br />

Parte da bancada de sustentação de Eduardo<br />

na Assembleia, Teresa Leitão (PT) acredita<br />

que o atual governo esteja quebrando<br />

paradigmas. “O modelo de gestão <strong>é</strong> algo que<br />

merece destaque. Gerir o governo com plano<br />

de metas, alcance de resultados e de forma integrada<br />

<strong>é</strong> importante at<strong>é</strong> para desfazer o mito<br />

de que a gestão pública <strong>é</strong> ineficiente”. n<br />

DILMA LINS (DEM)<br />

Eleita para<br />

suplência com<br />

33.438 votos<br />

Maranhense,<br />

Dilma Lins<br />

veio para<br />

Pernambuco<br />

em 1980,<br />

radicando-se<br />

em Jaboatão dos Guararapes. Tentou<br />

por duas vezes o cargo de vereadora do<br />

município, sem <strong>sucesso</strong>, at<strong>é</strong> ser eleita<br />

deputada estadual em 2002. Atualmente,<br />

c<strong>um</strong>pre seu segundo mandato e<br />

desenvolve trabalhos nas áreas sociais.


maio ><br />

><br />

23


Geral<br />

Parque Dona Lindu só vai<br />

ficar pronto no fim do ano<br />

ATRASO | No último dia 15, obras foram retomadas. Projeto foi entregue<br />

pela metade e população reclama de pouco espaço no parquinho infantil<br />

At<strong>é</strong> o final do segundo semestre. Eis o<br />

prazo estabelecido pela Prefeitura do<br />

Recife para entregar à população o polêmico<br />

e at<strong>é</strong> agora inacabado Parque Dona Lindu.<br />

Um mês após inauguração da primeira parte<br />

do projeto, em 30 dezembro, o espaço de<br />

lazer já apresentava problemas, como rachaduras<br />

na pista de cooper e brinquedos<br />

do parquinho infantil danificados. A obra foi<br />

inaugurada antes de ser concluída nas últimas<br />

horas do mandato do prefeito João<br />

Paulo, que enfrentou <strong>um</strong>a batalha judicial,<br />

contra a Associação dos Moradores de Boa<br />

Viagem e políticos da oposição, para manter<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n João Fonseca com a esposa Cyntia e a filha Letícia: frustração<br />

24 > > maio<br />

o projeto como foi concebido pelo arquiteto<br />

Oscar Niemeyer.<br />

Segundo o secretário de Planejamento<br />

Participativo, Amir Schvartz, nesses três primeiros<br />

meses do ano houve a necessidade<br />

de reavaliação do prazo da obra, que recomeçou<br />

no último dia 15. “Diversas situações<br />

nos levaram a isso, <strong>um</strong>a delas, foi a crise<br />

financeira mundial. Alguns fornecedores<br />

atrasaram a entrega de material e, mesmo<br />

com os recursos para o parque já garantidos,<br />

tivemos o início de <strong>um</strong>a nova gestão e<br />

a necessidade de organizar o caixa municipal”,<br />

explicou.<br />

Ainda faltam ser concluídos os banheiros<br />

públicos, toda parte do esgotamento<br />

sanitário, a impermeabilização das lajes do<br />

teatro, do restaurante e do pavilhão de exposições,<br />

al<strong>é</strong>m da pista de skate, dos sistemas<br />

de climatização e sonorização do teatro, e<br />

a instalação da parte el<strong>é</strong>trica e do serviço<br />

de proteção contra incêndio. Tamb<strong>é</strong>m serão<br />

feitos reparos na pista de cooper.<br />

Mesmo com boa parte do parque ainda<br />

inacabada, todos os fins de tarde crianças<br />

estão ocupando o espaço do parquinho infantil<br />

e as queixas em relação ao projeto vão<br />

se avol<strong>um</strong>ando. O empresário João u uu


maio ><br />

><br />

25


Geral<br />

Fonseca foi conhecer a área com a esposa<br />

Cyntia e a filha Letícia, recentemente, e não<br />

gostou do que viu. “Já tinha ficado decepcionado<br />

com o abandono após a eleição, as<br />

obras estão cheias de falhas e o parquinho<br />

não <strong>é</strong> suficiente para a quantidade de crianças<br />

que frequenta a área”, explicou.<br />

Antônio Maciel, militar, tamb<strong>é</strong>m tem a<br />

mesma opinião. Ele levou a filha Ana Clara e<br />

ficou frustrado com o pouco espaço reservado<br />

para o lazer das crianças. “Isso aqui não <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />

parque, essa área <strong>é</strong> insuficiente para o lazer”,<br />

comentou. Outra queixa dos freqüentadores<br />

<strong>é</strong> sobre a construção de apenas <strong>um</strong>a quadra<br />

poliesportiva. “No Pina, há mais quadras e<br />

campos”, afirma o estudante Andr<strong>é</strong> Portela.<br />

A metralhadora da população tamb<strong>é</strong>m<br />

<strong>é</strong> apontada para as duas grandes estruturas<br />

de cimento que vão abrigar o teatro e o pavilhão<br />

de exposições. “Parecem duas grandes<br />

caixas d’água”, critica a comerciante Laura<br />

Aranha, cujo pai mora n<strong>um</strong> pr<strong>é</strong>dio ao lado.<br />

De queixa em queixa, o Parque Dona Lindu,<br />

nome escolhido pelo ex-prefeito João Paulo<br />

para homenagear a mãe do presidente Luiz<br />

Inácio Lula da Silva, vai entrando para o folclore<br />

da cidade como algo que não agradou.<br />

Durante o carnaval, foi alvo de tiradas<br />

irônicas (para não ser mais contundente) na<br />

festa do Bloco Quanta Ladeira. A população<br />

queria <strong>um</strong> parque com mais árvores, embora<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Dona Maria do Carmo iniciou a luta e ganhou o apoio do advogado Fred Chaves tamb<strong>é</strong>m morador do bairro<br />

26 > > maio<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Antônio Maciel diz que parquinho infantil <strong>é</strong> insuficiente para lazer da garotada<br />

a prefeitura justifique, alegando que 60% do<br />

espaço <strong>é</strong> reservado para área verde, jardins<br />

e de lazer. As plantas, por<strong>é</strong>m, ainda não<br />

cresceram o suficiente para dar sombra e a<br />

população só começa a aparecer no parque<br />

após as 16h quando o sol está mais ameno.<br />

Se o Parque Dona Lindu não consegue<br />

agradar os moradores da área, há espaços<br />

públicos bem aconchegantes e que chamam<br />

a atenção pelo zelo demonstrado pelos populares<br />

que residem em seu entorno. Um<br />

desses casos <strong>é</strong> a Praça Fleming, <strong>um</strong> projeto<br />

do arquiteto Acácio Gil Borsoi, na d<strong>é</strong>cada de<br />

50. A praça chegou a ficar esquecida pela<br />

PCR, passou por <strong>um</strong> período de ostracismo,<br />

mas agora atrai pessoas de todas as faixas<br />

etárias para <strong>um</strong>a convivência harmoniosa.<br />

A recuperação da praça começou com<br />

a iniciativa da m<strong>é</strong>dica Maria do Carmo Costa<br />

Carvalho, moradora de <strong>um</strong> dos pr<strong>é</strong>dios que<br />

circundam o espaço verde. Com recursos<br />

próprios, ela resolveu bancar reposição de<br />

grama para os jardins e tamb<strong>é</strong>m fazer o encanamento<br />

para regar as plantas.<br />

“O lugar estava virando <strong>um</strong>a ruína e isso<br />

se refletia na qualidade de vida dos moradores,<br />

agora mudou, crianças frequentam a praça e<br />

idosos tamb<strong>é</strong>m, as pessoas passaram a circular”,<br />

explica Maria do Carmo, com os olhos<br />

brilhando de satisfação. A sua iniciativa acabou<br />

sensibilizando outros moradores da área. Eles<br />

formaram <strong>um</strong>a associação, fazem cotas e bancam<br />

boa parte da manutenção. Uma arquiteta<br />

da prefeitura supervisiona a área.n


maio ><br />

><br />

27


Geral<br />

Condomínios são<br />

tratados como empresas<br />

ADMINISTRAÇÃO | Feira pretende suprir carência<br />

de informações a respeito das novas práticas e empregos que<br />

estão surgindo no mercado para auxiliar o trabalho dos síndicos<br />

Por Marcella Sampaio<br />

difícil tarefa de administrar <strong>um</strong>a casa<br />

A tem passado dos limites das quatro<br />

paredes. Morar em condomínios, hoje, representa<br />

<strong>um</strong>a questão de segurança, mas<br />

requer paciência, principalmente quando<br />

o assunto diz respeito ao cargo de síndico,<br />

que mais cedo ou mais tarde poderá bater<br />

na porta de qualquer condômino. Al<strong>é</strong>m<br />

do tempo exigido, o trabalho necessita de<br />

vocação para tratar dos assuntos que não<br />

apenas dizem respeito aos seus problemas<br />

dom<strong>é</strong>sticos. Vizinhos, manutenção, folha salarial<br />

e tributos são apenas alg<strong>um</strong>as das responsabilidades<br />

que o gestor do condomínio<br />

terá que arcar. Como diz o advogado Inaldo<br />

Dantas, muitos desses problemas começam<br />

pela letra “C”: carro, cachorro e criança.<br />

Mas, como cada vez a legislação está impondo<br />

<strong>um</strong>a maior profissionalização dos serviços,<br />

ou seja, não há mais como administrar<br />

<strong>um</strong> condomínio como sendo a casa de todos,<br />

novas práticas e empregos estão surgindo. E<br />

<strong>um</strong>a delas pode at<strong>é</strong> livrar os condôminos da<br />

difícil tarefa de ser síndico. A medida ainda<br />

não <strong>é</strong> muito com<strong>um</strong> em Pernambuco, mas<br />

nos Estados do Sul, Sudeste e na Bahia a atuação<br />

do síndico profissional já está aprovada.<br />

Isto porque administrar <strong>um</strong> condomínio<br />

ficou mais difícil, haja vista que alterações na<br />

legislação impuseram novas obrigações, que<br />

requerem at<strong>é</strong> CNPJ. De acordo com o gerente<br />

setorial da administradora APSA, Luiz da Cal,<br />

os condomínios passaram a ser vistos como<br />

<strong>um</strong>a empresa e toda empresa tem o seu staff<br />

especializado para manter-se funcionando.<br />

“Eles são responsabilizados por legislação tributária,<br />

trabalhista, fiscal... aí começa a neces-<br />

28 > > maio<br />

n Evento no Centro de Convenções visa aproximar síndicos de fornecedores<br />

sidade de ter pessoas treinadas nisso.”<br />

Se o motivo divergente da id<strong>é</strong>ia do síndico<br />

profissional está intrínseco aos custos,<br />

Luiz da Cal garante que as vantagens para<br />

os usuários do serviço são inúmeras, incluindo<br />

economia de at<strong>é</strong> 30% sobre os sistemas<br />

tradicionalmente utilizados.<br />

Para o vice presidente da administração<br />

de condomínios do Sindicato de Habitação<br />

de Pernambuco (Secovi-PE), Genival Aguiar,<br />

o síndico profissional <strong>é</strong> <strong>um</strong> recurso de última<br />

instância, ou seja, ele só deve ser procurado<br />

após sucessivas tentativas para conseguir<br />

eleger <strong>um</strong> condômino a sindicância. “Apesar<br />

da lei do condomínio não obrigar que o<br />

síndico seja <strong>um</strong> morador, eu prefiro pregar a<br />

cidadania. Mas, caso a assembleia decida<br />

pelo profissional <strong>é</strong> preciso que ela tamb<strong>é</strong>m<br />

delibere a remuneração e o raio de ação<br />

dele. É recomendável tamb<strong>é</strong>m que o trabalho<br />

deste colaborador seja compartilhado<br />

com <strong>um</strong> conselho consultivo.”<br />

Por o Grande Recife ser <strong>um</strong>a área metropolitana<br />

que engloba <strong>um</strong>a substancial quantidade<br />

de condomínios, cerca de 10 mil,<br />

onde os síndicos, como os demais gestores<br />

destes recursos são carentes de informações,<br />

foi detectada a necessidade de <strong>um</strong>a<br />

Feira de Condomínios no Nordeste (Fesindico).<br />

Em sua quarta edição, o evento trará<br />

informações para o <strong>sucesso</strong> das administrações<br />

e aproximará os síndicos dos principais<br />

fornecedores de produtos e serviços. A expectativa<br />

<strong>é</strong> que o vol<strong>um</strong>e de negócios gire<br />

em torno de R$ 2 milhões.<br />

“Na Fesindico o visitante poderá encontrar<br />

desde novidades tecnológicas na área<br />

administrativa a produtos de conservação<br />

predial, passando pela área de segurança,<br />

individualização de águas e gás. Teremos<br />

tamb<strong>é</strong>m palestras proferidas pelos mais respeitados<br />

nomes do segmento no Brasil (ver<br />

agenda)”, conta o advogado e organizador<br />

da feira, Inaldo Dantas.<br />

Serviço<br />

4ª Feira de Condomínios do Nordeste<br />

Data: 28 a 30 de maio<br />

Local: Centro de Convenções<br />

Entrada: Gratuita<br />

Mais informações: 3221.9083<br />

ou www.fesindico.com.br u uu


maio ><br />

><br />

29


Geral<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Coleta seletiva <strong>é</strong> lei<br />

Para muitos o fato de separar o lixo representa<br />

<strong>um</strong> grande transtorno, haja<br />

vista que a perda de tempo influi substancialmente<br />

no dia-a-dia estressante dos<br />

pernambucanos. Quem pensa desta forma<br />

não leva em consideração a importância<br />

que o simples ato pode ter para a sociedade.<br />

Preocupado com esse posicionamento<br />

social, o antropólogo e mestre em Desenvolvimento<br />

Urbano Mark Burr estudou <strong>um</strong>a<br />

forma de identificar o que motiva mais as<br />

pessoas a realizarem a coleta seletiva. A<br />

resposta encontrada foi: facilidade.<br />

Atento a esse fundamento e ao fato<br />

da lei estadual nº 13.047, de 26 de junho<br />

de 2006, determinar que a obrigatoriedade<br />

da implantação da coleta seletiva de lixo<br />

nos condomínios residenciais e comerciais,<br />

nos estabelecimentos comerciais e<br />

industriais e órgãos públicos, o antropólogo<br />

espanhol idealizou o projeto Edifício Ecológico.<br />

Há sete anos presente no Recife, a<br />

id<strong>é</strong>ia prevê que a coleta seja separada em<br />

duas etapas: material orgânico e reciclado.<br />

“Esse m<strong>é</strong>todo <strong>é</strong> mais fácil na prática e leva<br />

menos tempo. Um trabalho a mais causa<br />

inconveniência e isso faz com que as pes-<br />

30 > > maio<br />

soas não participem”, explica Burr.<br />

O lixo reciclado <strong>é</strong> recolhido pelos catadores<br />

que passam duas ou três vezes por<br />

semana para recolher o material. A rota já <strong>é</strong><br />

previamente determinada para evitar que o<br />

edifício tenha que ficar cobrando. Os dejetos<br />

orgânicos são levados pela prefeitura, o que<br />

faz com que a vida útil do lixão se estenda<br />

e a metade do lixo jogado fora retorne a cadeia<br />

produtiva. Para o antropólogo, o projeto<br />

al<strong>é</strong>m de beneficiar a comunidade tamb<strong>é</strong>m<br />

contribui com a saúde e renda do catador,<br />

que passa a não ter mais que caminhar pelas<br />

ruas e ainda a<strong>um</strong>enta o salário em cerca<br />

de 100%.<br />

Segundo os dados da Emlurb, atualmente,<br />

a capital <strong>pernambucana</strong> produz 1,9 mil<br />

toneladas de lixo por dia. Apenas 3% desse<br />

total <strong>é</strong> reciclado, apesar de estimativas<br />

apontarem que 20% podem retornar para a<br />

cadeia produtiva.<br />

O projeto Edifício Ecológico atende atualmente<br />

a 80 condomínios. A meta prevista<br />

para este ano <strong>é</strong> conseguir implantar o<br />

serviço em mais 100 locais. O custo com<br />

a prática representa <strong>um</strong>a taxa única de R$<br />

35,00 por apartamento para despesas das<br />

compras dos recipientes plásticos, adesivos,<br />

placas, ações pedagógicas e acompanhamento.<br />

O trabalho desenvolvido pelo projeto<br />

será apresentado na palestra “Coleta Seletiva<br />

para Condomínios - você pode fazer a<br />

diferença” no sábado (30), às 17h40, durante<br />

4ª Feira de Condomínios do Nordeste, no<br />

Centro de Convenções. Mais informações<br />

sobre o Edifício Ecológico tamb<strong>é</strong>m podem<br />

ser adquiridas pelo telefone 3265.1704.<br />

POR QUE É PRECISO RECICLAR?<br />

1. A reciclagem de <strong>um</strong>a jarra de vidro<br />

poupa suficiente energia para acender<br />

<strong>um</strong>a lâmpada por 4 horas.<br />

2. A reutilização do al<strong>um</strong>ínio reciclado para<br />

novos produtos usa 95% menos energia<br />

que se fosse feita de material bruto<br />

3. Reciclar 1 tonelada de papel poupa<br />

22 árvores, consome 71% menos energia<br />

el<strong>é</strong>trica e polui o ar 74% menos do que<br />

fabricá-la a partir de madeira virgem<br />

4. Uma tonelada de plástico reciclado<br />

economiza 130 litros de petróleo, que<br />

poderia ser usado para gerar energia ou<br />

poupado para não poluir o ar.<br />

5. Depois de reciclado o plástico ainda<br />

pode virar carpetes, mangueiras, cordas,<br />

sacos, para-choques de carro, caixa de<br />

ferramentas, jeans, poupando muita energia<br />

na sua produção. u uu


Taxa de marinha <strong>é</strong> cobrada<br />

indevidamente a 60% dos imóveis<br />

Um estudo realizado pela advogada e<br />

especialista em terrenos de marinha Natália<br />

Ribeiro promete aquecer ainda mais a discussão<br />

que gira em torno da cobrança das<br />

taxas de marinha. Al<strong>é</strong>m do a<strong>um</strong>ento bastante<br />

questionado no ano passado, o tributo<br />

<strong>é</strong> cobrado indevidamente a quase 60% dos<br />

imóveis recifenses. Várias localidades não<br />

se enquadram na determinação do Decreto<br />

9.760/46, artigo 2°, que considera terreno<br />

de marinha a faixa territorial de 33 metros<br />

contados a partir da mar<strong>é</strong> alta do ano de<br />

1831.<br />

Baseada nessa informação, a advogada<br />

verificou que a cobrança chega aos imóveis<br />

na Av. Boa Viagem que estão a 55 metros<br />

do ponto onde foi registrada a mar<strong>é</strong> alta de<br />

1831. Na mesma situação, encontram-se<br />

proprietários de áreas localizadas nas Avenidas<br />

Conselheiro Aguiar, Domingos Ferreira<br />

e Montevid<strong>é</strong>u.<br />

“Assim como várias pessoas estão sendo<br />

cobradas indevidamente, há diversas localidades<br />

que estão nos limites dos terrenos<br />

da União e não sofrem cobrança. Ao perceber<br />

isso, a Secretaria de Patrimônio da União<br />

(SPU) promoveu <strong>um</strong>a nova ‘demarcação’ das<br />

terras, na verdade o que está se fazendo <strong>é</strong><br />

<strong>um</strong> novo cadastramento totalmente irregular,<br />

que não obedece à determinação da lei,<br />

al<strong>é</strong>m de outras irregularidades no procedimento<br />

administrativo”, explica Ribeiro.<br />

Apesar do dinheiro arrecadado com a<br />

taxa não ter <strong>um</strong> destino específico, o estudo<br />

não critica a cobrança. Acha-a justa, inclusive<br />

haja vista que os terrenos de marinha<br />

foram concebidos para garantir ao país e à<br />

população o livre acesso à orla marítima e<br />

aos rios. Com intuito de reaver e at<strong>é</strong> mesmo<br />

de por fim ao tributo mais de cem projetos<br />

de leis relacionados a essas áreas tramitam<br />

no Congresso. A especialista adianta que<br />

nos contatos que manteve com o poder<br />

público ficou clara a vontade de capacitar a<br />

SPU e não a de acabar com a taxa.<br />

Para saber se a cobrança relativa ao<br />

imóvel <strong>é</strong> indevida, Natália Ribeiro recomenda<br />

que o primeiro passo seja contratar <strong>um</strong><br />

profissional especializado, <strong>um</strong> engenheiro ou<br />

topógrafo, que possa fazer essa constatação.<br />

Uma vez evidenciada a injustiça, o proprietário<br />

lesado deve contratar <strong>um</strong> advogado<br />

para que ele entre com <strong>um</strong>a Ação Declaratória<br />

e passe a depositar o valor cobrado em<br />

juízo, pois caso a causa seja dada favorável<br />

ao contribuinte, o dinheiro corrigido poderá<br />

ser devolvido.<br />

Mais informações sobre o assunto podem<br />

ser obtidas durante a palestra “Terras<br />

de Marinha - Taxas de ocupação devida ou<br />

indevida, como saber?” ministrada pela<br />

advogada na sexta-feira (29), às 17h40,<br />

durante a 4ª Feira de Condomínios do Nordeste,<br />

que acontece no Centro de Convenções.<br />

n<br />

n Áreas em verde não se enquadram nos terrenos de marinha, mas geram<br />

cobranças indevidas, no litoral sul<br />

maio ><br />

> 31


Economia<br />

Brasil ainda pratica <strong>um</strong>a das maiores taxas de juros reais<br />

O do planeta. A esse custo do dinheiro trava-se o cons<strong>um</strong>o<br />

das famílias e o investimento privado agravando o desemprego<br />

entre os trabalhadores e a<strong>um</strong>entando as incertezas entre os<br />

empresários. É verdade que a Selic vem caindo mas ainda está<br />

muito alta. Espera-se que permanecendo as atuais condições<br />

tenhamos quedas adicionais na taxa básica de juros que <strong>é</strong> fixada<br />

pelo Conselho de Política Monetária-COPOM-tendo em vista o<br />

regime de metas de inflação.<br />

As razões históricas para o Banco Central manter juros al-<br />

tos não residiam apenas na necessidade<br />

de manter a inflação sob controle. Havia<br />

duas outras razões macroeconômicas importantes.<br />

A primeira, que já perdeu força,<br />

era a vulnerabilidade externa da economia<br />

brasileira. A outra razão que tamb<strong>é</strong>m vem<br />

perdendo gravitação <strong>é</strong> o desequilíbrio fiscal<br />

do setor público. A União captura a poupança<br />

privada oferecendo juros atraentes<br />

para financiar o d<strong>é</strong>ficit público. Embora a<br />

relação estoque da divida/PIB venha caindo<br />

e se estabilizando em patamares próximos a 40%, a possibilidade-<br />

mesmo cada vez mais remota- de calote ainda incorpora aos<br />

juros <strong>um</strong> fator de risco. Essa necessidade estabelece, no fundo,<br />

<strong>um</strong>a rigidez para baixo na taxa de juros.<br />

Mas qual <strong>é</strong> a relação entre alta taxa juros e o elevado spread<br />

entendido como a diferença entre o custo de captação e o custo<br />

de aplicação de recursos no sistema bancário. Para isso precisamos<br />

entender a intermediação financeira no Brasil e por que nós<br />

cobramos spreads considerados pelo Banco Mundial entre os<br />

mais elevados no mundo. Porque essa diferença <strong>é</strong> tão alta. Qual<br />

<strong>é</strong> a composição do spread?<br />

Em primeiro lugar, há <strong>um</strong> prêmio pelo risco de cr<strong>é</strong>dito ou de<br />

inadimplência. Esse risco <strong>é</strong> ampliado pelas características da legis-<br />

32 > > maio<br />

<br />

Jorge Jatobá<br />

jorgejatoba@revistaalgomais.com.br<br />

Por que os juros e o spread são tão altos?<br />

Para que os juros<br />

caiam de forma<br />

sustentável,<br />

o BC deve<br />

continuar reduzindo<br />

a taxa Selic<br />

A Finacap Educacional<br />

ensina a você investir<br />

no mercado de ações.<br />

lação brasileira que assegura <strong>um</strong>a proteção exagerada ao devedor.<br />

Credores sem direitos emprestam pouco ou quando emprestam<br />

cobram caro. Os direitos dos credores deveriam expressar-se em<br />

legislação que permitisse recuperar o dinheiro em caso de calote.<br />

Em segundo lugar, há o “markup” dos bancos constituído pela<br />

soma das participações no spread das despesas administrativas,<br />

dos impostos diretos e dos lucros Recentemente o spread tem se<br />

elevado puxado pelos lucros. Pergunta-se: Existe indicio de práticas<br />

monopolísticas por parte do sistema bancário? Os lucros dos<br />

bancos estão exagerados? A teoria econômica ensina que em<br />

mercados onde o produto <strong>é</strong> artificialmente<br />

escasso e muito caro em comparação com<br />

mercados onde há mais competição, existem<br />

forte evidências de práticas monopolísticas.<br />

Ademais, a crescente concentração bancária<br />

agravada pelas recentes fusões e aquisições<br />

está dificultando a saudável concorrência no<br />

mercado de cr<strong>é</strong>dito. O que <strong>é</strong> que o Banco<br />

Central está fazendo para estimular a concorrência<br />

bancária no País? Por que o Governo<br />

não reduz a cunha fiscal contida no spread?<br />

Para que os juros caiam de forma sustentável, o Banco Central<br />

deve continuar reduzindo a Selic, a política macroeconômica e<br />

a de com<strong>é</strong>rcio exterior devem buscar diminuir ainda mais a nossa<br />

vulnerabilidade externa e estabilizar a relação Dívida/PIB e os nossos<br />

legisladores devem ampliar a proteção jurídica aos credores.<br />

Finalmente <strong>é</strong> importante estimular a competição entre os bancos.<br />

Mais competição amplia o cr<strong>é</strong>dito e reduz o seu custo. Isso significa<br />

maior desenvolvimento para o mercado financeiro e para a economia<br />

como <strong>um</strong> todo. Caso essas condições se estabeleçam, os juros<br />

irão cair at<strong>é</strong> atingir <strong>um</strong> ponto de equilíbrio que sempre será testado<br />

pelo mercado. O importante <strong>é</strong> que a oferta de cr<strong>é</strong>dito a<strong>um</strong>ente e seu<br />

custo caia a níveis que permitam a recuperação da economia e o<br />

alcance de trajetórias mais elevadas de crescimento econômico.


maio ><br />

><br />

33


Economia<br />

Sudene faz<br />

50 anos com<br />

poder reduzido<br />

AUTARQUIA | Recriada no segundo mandato do<br />

presidente Lula, a instituição está enfraquecida e sem<br />

os mesmos poderes para mudar destino da região<br />

Superintendência para o Desenvolvimen-<br />

A to do Nordeste (Sudene) completará 50<br />

anos no mês de dezembro. Efetivamente,<br />

vai apagar as velinhas à margem do objetivo<br />

para o qual foi criada. Extinta no início desta<br />

d<strong>é</strong>cada pelo então presidente Fernando Henrique<br />

Cardoso, a autarquia foi recriada em 3<br />

de janeiro de 2007 pela Lei Complementar<br />

n° 125, no entanto, nesse período tornou-se<br />

apenas <strong>um</strong>a sombra do que era. Ao implodir<br />

a Sudene, que estava<br />

sob denúncias de corrupção,<br />

o governo FHC<br />

criou a Adene (Agência<br />

para o Desenvolvimento<br />

do Nordeste), que<br />

não atendeu os anseios<br />

de economistas, políticos<br />

e empresários da<br />

região. Sob pressão, a<br />

antiga autarquia foi recriada<br />

há dois anos, mas sem os poderes<br />

de outrora.<br />

Tudo porque o presidente Luiz Inácio Lula<br />

da Silva vetou artigos que poderiam fazer a<br />

Sudene funcionar como na <strong>é</strong>poca em que foi<br />

fundada. O Finor (Fundo de Investimentos<br />

do Nordeste) não voltou e sem ele a instituição<br />

perdeu <strong>um</strong> dos braços mais fortes<br />

para planejar e promover o desenvolvimento<br />

econômico da região que conta com 28% da<br />

34 > > maio<br />

No auge, a Sudene<br />

teve participação<br />

decisiva no<br />

crescimento da<br />

região. Após a<br />

recriação, instituição<br />

perdeu prestígio<br />

população brasileira, cerca de 50 milhões<br />

de habitantes. Os vetos foram produzidos,<br />

principalmente, pela atuação dos ministros<br />

da Fazenda, Guido Mantega, e do Planajamento,<br />

Paulo Bernardo. De 2001 at<strong>é</strong> hoje,<br />

deixaram de ser investidos no Nordeste R$<br />

5,7 bilhões.<br />

Sebastião Freitas, presidente da Associação<br />

dos Servidores da Sudene, queixase<br />

da falta de sintonia do órgão com as<br />

necessidades de investimentos<br />

do Nordeste.<br />

“A extinção da Sudene<br />

na <strong>é</strong>poca foi <strong>um</strong> grande<br />

equívoco. Se havia denúncias<br />

de corrupção,<br />

era preciso apurá-las<br />

e punir os culpados.”<br />

Freitas, que <strong>é</strong> economista,<br />

enfatiza a importância<br />

do Finor para<br />

o crescimento da região. “Em 1986, fizemos<br />

<strong>um</strong> levantamento e constatamos que<br />

os impostos recolhidos pelas empresas<br />

que utilizaram este fundo já era o triplo de<br />

seu orçamento, ou seja, o Finor era viável<br />

e dava retorno em impostos recolhidos”,<br />

explica.<br />

Para a economista Tânia Bacelar, que<br />

coordenou o grupo de estudo para a recriação<br />

da Sudene, o que existe hoje não faz<br />

n O antigo pr<strong>é</strong>dio da Sudene<br />

já abrigou 3.700 funcionários.<br />

Atualmente, a autarquia tem<br />

pouco mais de 100 servidores<br />

em atividade<br />

jus ao que foi planejado. Mas de quem <strong>é</strong><br />

a culpa? “Dos políticos, da sociedade civil.<br />

Quando os políticos querem eles podem<br />

mudar.”<br />

Tânia diz que não se pode culpar o presidente<br />

Lula pelo fracasso da recriação da<br />

autarquia. “Ele enviou <strong>um</strong>a PEC (Projeto de<br />

Emenda Constitucional) para o Congresso,<br />

mas os governadores de gestões anteriores<br />

não quiseram apoiar. Agora, ele enviou outra<br />

e estamos esperando o congresso votar”,


explicou.<br />

Um dos problemas apontados por Tânia<br />

<strong>é</strong> a falta de investimento em infraestrutura.<br />

Ela lembra que o economista Celso Furtado,<br />

quando dirigiu os destinos da Sudene,<br />

aplicou 80% dos recursos em energia e na<br />

construção de estradas. Revelou, ainda, que<br />

alguns empreendedores não investem na<br />

região Nordeste por falta de infraestrutura.<br />

“A Sudene tem de ir onde o setor privado<br />

não vai”, disse.<br />

MEMÓRIA<br />

A criação da Sudene, em dezembro de<br />

1959, foi <strong>um</strong>a forma de intervenção do Governo<br />

Federal no Nordeste, com a adoção de<br />

incentivos fiscais e outras vantagens como<br />

financiamento e coordenação de pequenos<br />

e grandes projetos de geração de emprego<br />

e renda. O objetivo era coordenar e promover<br />

o desenvolvimento da região. A ideia<br />

foi do economista Celso Furtado, bancada<br />

pelo então presidente Juscelino Kubitschek.<br />

Na ocasião, Furtado dizia: “O problema do<br />

Nordeste não <strong>é</strong> a seca, mas a falta de <strong>um</strong>a<br />

política coordenada de desenvolvimento<br />

econômico e social”.<br />

Nas quatro d<strong>é</strong>cadas de funcionamento<br />

da autarquia, o Nordeste teve <strong>um</strong> crescimento<br />

considerável nas áreas econômica e<br />

social. Entre 1960 e 2000, o Produto Interno<br />

Bruto (PIB) da região cresceu 4,6% ao ano,<br />

índice próximo ao da economia nacional no<br />

mesmo período.<br />

u uu<br />

maio ><br />

> 35


Sudene<br />

“Recomeçar <strong>é</strong> mais<br />

difícil que começar”<br />

baiano Paulo Fontana, 55 anos, está há<br />

O <strong>um</strong> ano na superintendência da Sudene.<br />

Ass<strong>um</strong>iu em fevereiro de 2008. Engenheiro<br />

civil com mestrado em Administração Pública<br />

na Krannert School (Indiana), nos Estados<br />

Unidos e em Planejamento de Transporte na<br />

Purdue University, (Indiana) e especialização<br />

em Sinalização Metroviária, em Paris, ele vem<br />

descobrindo nesse período como <strong>é</strong> difícil conjugar<br />

o verbo recomeçar. Pegou <strong>um</strong> quadro<br />

funcional envelhecido e disperso. Bons t<strong>é</strong>cnicos<br />

da autarquia receberam propostas para<br />

trabalhar em outros estados e fincaram raízes,<br />

outros se aposentaram ou morreram. De <strong>um</strong><br />

total de 3.740 funcionários no auge, a Sudene<br />

res<strong>um</strong>e-se apenas a pouco mais de 100. Paulo<br />

Fontana tamb<strong>é</strong>m ass<strong>um</strong>iu <strong>um</strong> órgão diferente<br />

daquele idealizado pelo economista Celso Furtado.<br />

Os vetos a vários artigos no projeto de lei<br />

que recriou a autarquia reduziram seu poder,<br />

principalmente no aspecto de liberação de<br />

verbas. Nesta entrevista à <strong>Algomais</strong>, Fontana<br />

fala das dificuldades que vem enfrentando<br />

para fazer o gigante se mover e recuperar a<br />

credibilidade que a autarquia perdeu. Confira<br />

os principais trechos da conversa.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong> | Na sua posse, o senhor<br />

cobrou do presidente Lula o repasse<br />

dos R$ 5,7 bilhões que deixaram de<br />

ser investidos no Nordeste no período<br />

em que a Sudene foi extinta. Conseguiu<br />

recuperar essa verba?<br />

Paulo Fontana | Nós pensávamos que era<br />

possível o ressarcimento desse dinheiro, fizemos<br />

at<strong>é</strong> outras tentativas depois, mas não houve<br />

sensibilidade para atender o nosso pedido.<br />

Am | Faltou a força política dos governadores?<br />

PF | Não, eu não diria que faltou força política.<br />

Diria que era algo que eles não contaram, e<br />

como não estava no acordo de criação da Sudene<br />

a verba não veio.<br />

36 > > maio<br />

n O superintendente Paulo Fontana diz que Sudene está decolando com o que tem<br />

Am | A Sudene foi recriada há dois anos<br />

e só há <strong>um</strong> ano começou a funcionar<br />

com a nomeação da nova diretoria. Qual<br />

o papel que ass<strong>um</strong>iu desde então?<br />

PF | Você levantar <strong>um</strong>a autarquia que estava<br />

morta <strong>é</strong> mais difícil do que levantar <strong>um</strong>a nova<br />

autarquia. Ao ass<strong>um</strong>irmos constatamos problemas<br />

graves, problemas na própria estrutura<br />

do pr<strong>é</strong>dio. Há seis meses isso aqui era <strong>um</strong> lixo,<br />

tivemos que reformar toda a área que precisávamos<br />

utilizar, e ainda estamos tomando outras<br />

providências de reforma, inclusive do Conselho<br />

Deliberativo da Sudene, que esperamos que<br />

esteja pronta at<strong>é</strong> junho para convidarmos o presidente<br />

Lula para a inauguração. Hoje, nós estamos<br />

utilizando os Estados para fazer as reuniões<br />

do Conselho. Tamb<strong>é</strong>m vamos melhorar a fachada<br />

do pr<strong>é</strong>dio e no 12º andar estamos finalizando<br />

a licitação de projetos.<br />

Am | O setor de pessoal, como está hoje?<br />

PF | A Sudene tinha 3.740 funcionários no<br />

passado, hoje tem 150, desses diria que 120<br />

querem trabalhar, mas há uns 50 com problemas<br />

de saúde, então nós estamos limitados<br />

a poucos.<br />

Am | Mas o que ocorreu com os outros?<br />

PF | Uns morreram, outros se aposentaram<br />

ou foram transferidos. Pense n<strong>um</strong>a instituição<br />

federal sem <strong>um</strong> funcionário da Sudene? É difícil<br />

recuperar muitos dos bons profissionais que<br />

tínhamos porque eles receberam convites para<br />

atuar em outros Estados, quando isso acontece,<br />

eles acabam criando raízes e há tamb<strong>é</strong>m o<br />

aspecto econômico, eles recebem propostas<br />

melhores. Tentei trazer vários ex-funcionários de<br />

volta. Para dizer que não obtive êxito, conseguimos<br />

repatriar uns oito a dez. É claro que todos<br />

os que saíram tinham amor pela instituição, mas<br />

tamb<strong>é</strong>m existe o amor econômico, ao equilíbrio<br />

financeiro, e nós estamos com <strong>um</strong> problema<br />

financeiro muito grande. Há <strong>um</strong> ano, entregamos<br />

ao Minist<strong>é</strong>rio do Planejamento <strong>um</strong> projeto


de Plano de Cargos e Salários, que foi aprovado<br />

na íntegra, mas at<strong>é</strong> agora não foi encaminhado<br />

pelo Minist<strong>é</strong>rio do Planejamento para que se fizessem<br />

os concursos públicos devidos a fim de<br />

a autarquia de fato voltar a funcionar.<br />

Am | Então a Sudene ainda está se reestruturando,<br />

mas não conseguiu decolar...<br />

PF | Ela está decolando com o que tem. Mas<br />

nós temos que ter <strong>um</strong> apoio maior, pois a demanda<br />

sobre <strong>um</strong> superintendente e sobre <strong>um</strong><br />

coordenador <strong>é</strong> muito grande aqui dentro porque<br />

nós temos que lidar com pequenas coisas, porque<br />

não temos pessoal. Aqui dentro estamos<br />

fazendo o “canibalismo de pessoal”. Ontem, a<br />

coordenadora veio me pedir 20 pessoas, mas<br />

eu disse não, pois não temos e eu não posso pegar<br />

no meio da rua. Essa carência existe. Hoje,<br />

temos aqui 80 projetos de incentivos e estamos<br />

colocando esse pessoal na rua. Houve <strong>um</strong>a gratificação<br />

que foi dada aos funcionários, mão não<br />

a todos, só aos que mereciam.<br />

Am | Quando o presidente Lula assinou<br />

a Lei que recriou a Sudene, ele vetou vários<br />

artigos total ou parcialmente. Esses<br />

vetos prejudicaram a autarquia?<br />

PF | Não prejudicaram a Sudene, prejudicaram<br />

o Nordeste. Três pontos cruciais foram considerados,<br />

primeiro <strong>é</strong> o link entre planejamento e<br />

orçamento. Não adianta ter o planejamento do<br />

Nordeste sem ter orçamento para ele. Então, o<br />

deputado Zez<strong>é</strong>u Ribeiro, da Bahia, quis fazer esse<br />

link, mas esse artigo foi vetado. Eles alegaram<br />

que isso fazia parte da Lei de Diretrizes Orçamentárias<br />

e não fazia parte da Sudene. Esse foi <strong>um</strong><br />

problema. Outro problema: na parte de incentivos<br />

fiscais. Se você tiver de colocar <strong>um</strong>a fábrica de<br />

chocolate, vai optar por <strong>um</strong>a área perto do Porto<br />

de Suape ou no Semi Árido? Claro que vai ser em<br />

Suape, então o projeto queria dar <strong>um</strong> diferencial<br />

de benefício para quem vai se instalar no Semi<br />

Árido ou no extremo oeste de Pernambuco. Ou<br />

seja, se eu desse 75% de incentivo fiscal aqui, lá<br />

eu teria de dar 100% para compensar, isso deveria<br />

ser lógico. Agora, a mineração, que não precisa<br />

desse incentivo, está sendo beneficiada, por<br />

que? As empresas de mineração só trabalham<br />

onde há os recursos para explorar, o min<strong>é</strong>rio só<br />

<strong>é</strong> retirado daquele lugar onde ele existe. Eu não<br />

posso trazer <strong>um</strong>a mina lá de Salgueiro, <strong>um</strong>a mina<br />

de Quixadá, no Ceará, ou da Bahia, e jogar n<strong>um</strong><br />

porto qualquer. Tem que explorar ela lá. E trazer<br />

esse material beneficiado, então essas diretrizes<br />

seriam necessárias. O terceiro ponto <strong>é</strong> o próprio<br />

fundo. Nós temos <strong>um</strong> fundo hoje, o Fundo de<br />

Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), que <strong>é</strong> diferente<br />

do FNE. As diretrizes são dadas por nós<br />

ao BNB para que sejam aplicados os recursos do<br />

FNE. Do FDNE nós somos os próprios gestores.<br />

Acontece que o recurso deveria ser financeiro e<br />

não orçamentário. O que ocorre com o recurso financeiro?<br />

O recurso financeiro tem na minha conta,<br />

então esse ningu<strong>é</strong>m tira. Eu arranjo o projeto<br />

e pago o projeto. O recurso orçamentário não. No<br />

fim do ano, vai para o Tesouro. E o maior problema<br />

desse recurso orçamentário não <strong>é</strong> ir para o<br />

Tesouro, <strong>é</strong> ser contingenciado. Ou seja, não <strong>é</strong> a<br />

Superintendência da Sudene, não <strong>é</strong> o ministro da<br />

Integração Nacional que tem força sobre o contingenciamento,<br />

são os ministros da Fazenda e<br />

do Planejamento. Eles decidem por você. Aí você<br />

assina <strong>um</strong> contrato com <strong>um</strong>a empresa, e a empresa<br />

o que <strong>é</strong> que entende? Eu vou receber meu<br />

recurso. Mas por <strong>um</strong> motivo qualquer, o recurso<br />

não vem. E aí como <strong>é</strong> que fica o empresário? E<br />

como <strong>é</strong> que fica a credibilidade da Sudene?<br />

“Nossos projetos são<br />

de infraestrutura,<br />

embora nós tenhamos<br />

dado em 2007 cerca<br />

de R$ 1 bilhão em<br />

incentivos fiscais”<br />

Am | Os ministros Paulo Bernando, do Planejamento,<br />

e Guido Mantega, da Fazenda,<br />

tiveram <strong>um</strong>a participação muito forte na<br />

<strong>é</strong>poca da votação do projeto de recriação<br />

da Sudene para vetar esses artigos.<br />

PF | Foi, tiveram. Outra coisa: os incentivos<br />

são dados at<strong>é</strong> 2013. Por que 2013? Onde <strong>é</strong> que<br />

arranjaram isso? Queria saber quem fez essa<br />

equação aleatória. O que deveria ser definido <strong>é</strong><br />

que o incentivo deixaria de ser utilizado no Nordeste<br />

quando o PIB da região representasse de<br />

80/90% o do Sudeste.<br />

Am | Antes da extinção da Sudene, o PIB<br />

do Nordeste cresceu cerca de 4,6% ao<br />

ano, bem próximo do PIB nacional.<br />

PF | Justamente com a Sudene inserida dentro<br />

do Nordeste. Mas, nos últimos anos, esse crescimento<br />

do PIB nordestino se deu mais por causa<br />

dos programas sociais do presidente Lula.<br />

Am | Quais os projetos da Sudene hoje?<br />

PF | Nossos projetos são basicamente de in-<br />

fraestrutura, embora nós tenhamos dado em<br />

2007 cerca de R$ 1 bilhão em incentivos fiscais<br />

a empresas e, em 2008, esse número deve ter<br />

sido bem maior, acredito que ultrapasse os R$<br />

2,3 bilhões, mas só que não recebemos ainda o<br />

levantamento completo da Receita Federal. Esses<br />

valores foram dados em incentivos àquelas<br />

empresas que investiram, implantaram ou se<br />

expandiram no Nordeste.<br />

Am | Qual <strong>é</strong> a prioridade da Sudene neste<br />

momento no Nordeste?<br />

PF | Nós temos parques eólicos aprovados,<br />

temos termel<strong>é</strong>tricas em análise. Estão sendo<br />

implantados parques eólicos no Ceará com<br />

garantia de compra da energia pela Eletrobrás.<br />

Esses projetos, aliás, nós já encontramos aqui,<br />

só que havia entraves burocráticos at<strong>é</strong> por parte<br />

do regulamento.<br />

Am | Qual a grande obra da Sudene para<br />

Pernambuco?<br />

PF | A Transnordestina. Estamos com <strong>um</strong> aporte<br />

de capital da ordem de R$ 2,6 bilhões somente<br />

para ela. Essa não <strong>é</strong> apenas <strong>um</strong>a grande obra<br />

de Pernambuco, mas do Nordeste porque atinge<br />

em cheio os Estados do Piauí, Pernambuco,<br />

Ceará e Alagoas.<br />

Am | Quando essa verba chega?<br />

PF | A verba não chega, a verba <strong>é</strong> pedida. Ela<br />

está no Tesouro Nacional. Ela chega à medida<br />

que a empresa nos solicite. E a empresa só<br />

pode pleitear o dinheiro, de acordo com o nosso<br />

regulamento, quando atingir alg<strong>um</strong>as metas,<br />

por exemplo: para que ela atinja a nossa meta<br />

e nós possamos liberar a primeira parcela, que<br />

<strong>é</strong> da ordem de R$ 450 milhões, a empresa tem<br />

que ter atingido R$ 1,08 bilhão em obras prontas.<br />

Hoje, a empresa que está realizando o processo,<br />

ainda no início, só está com pouco mais<br />

de R$ 150 milhões em obras. É como eu disse,<br />

os nossos recursos não são financeiros, mas<br />

orçamentários.<br />

Am | Ao extinguir a Sudene, o presidente<br />

Fernando Henrique Cardoso alegou denúncias<br />

de corrupção, como está a autarquia<br />

hoje?<br />

PF | Não vejo a corrupção aqui dentro, nós hoje<br />

somos fiscalizados, acompanhados. E tamb<strong>é</strong>m<br />

não estava aqui na <strong>é</strong>poca em que a autarquia foi<br />

extinta. O que posso dizer <strong>é</strong> que hoje nós temos<br />

<strong>um</strong> regulamento. Travado. Que poderia at<strong>é</strong> ser<br />

mais flexível para que tiv<strong>é</strong>ssemos at<strong>é</strong> condições<br />

de trabalhar com maior velocidade. n<br />

maio ><br />

> 37


Economia<br />

É possível investir<br />

durante a crise<br />

AÇÕES | Projeto Finacap Educacional quer formar investidores pernambucanos<br />

e mostrar que a Bolsa de Valores ainda pode ser <strong>um</strong> bom negócio<br />

Há exatamente <strong>um</strong> ano, a <strong>Algomais</strong> publicava<br />

<strong>um</strong>a mat<strong>é</strong>ria sobre “A hora de<br />

abrir as portas ao capital”, em que destacava<br />

o bom momento que vivia o mercado de<br />

ações e como isso estava atraindo cada vez<br />

mais empresas e investidores para o mundo<br />

do sobe e desce das bolsas. O Recife chegou<br />

at<strong>é</strong> a sediar <strong>um</strong>a feira de investimentos,<br />

atraída pelo crescimento do número de pernambucanos<br />

que estavam de olho na alta<br />

expectativa de lucro que existia no segmento<br />

de ações naquela <strong>é</strong>poca.<br />

Hoje, a situação <strong>é</strong> completamente diferente.<br />

A crise financeira mundial e o efeito<br />

dominó das Bolsas de Valores de todo o<br />

mundo afugentou grande parcela dos interessados<br />

em entrar na Bovespa. “São<br />

tempos diferentes. O colapso de parte do<br />

sistema bancário mexeu com muita coisa.<br />

O importante <strong>é</strong> perceber que <strong>um</strong>a coisa<br />

continua igual, ou at<strong>é</strong> mais importante, a<br />

necessidade de informações”, diz o diretor<br />

da empresa gestora de recursos Finacap,<br />

Aristides Bezerra, que acaba de lançar <strong>um</strong><br />

projeto de formação de novos investidores,<br />

o Finacap Educacional.<br />

Ao longo do ano, a empresa trará convidados<br />

de todo o país para realizarem palestras,<br />

cursos e seminários sobre o cenário<br />

atual e a Bolsa de Valores. A proposta, segundo<br />

Aristides, <strong>é</strong> formar <strong>um</strong>a consciência<br />

de mercado no público pernambucano. “Se<br />

os números recentes da Bovespa podem assustar<br />

quem pensa em entrar no mercado<br />

de capitais, o desempenho dos últimos 12<br />

anos <strong>é</strong> animador. Para quem <strong>é</strong> <strong>um</strong> investidor,<br />

ou seja, aplica o dinheiro a longo prazo,<br />

o retorno existe. O problema <strong>é</strong> quem espe-<br />

38 > > maio<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Aristides e Samuel querem criar consciência de mercado no público de PE<br />

cula quer obter lucro imediatamente. Nesse<br />

caso, os riscos são grandes”, diz.<br />

Tamb<strong>é</strong>m diretor da Finacap, Samuel Lopes<br />

conta que <strong>um</strong> dos maiores desafios durante<br />

os eventos do projeto educacional da<br />

empresa <strong>é</strong> livrar quem tem receio de entrar<br />

no mercado de capitais das armadilhas que<br />

os índices divulgados diariamente podem<br />

gerar. “O índice Ibovespa, por exemplo,<br />

não condiz completamente com a realidade<br />

do mercado nacional. Trata-se de <strong>um</strong>a<br />

amostragem”, diz. Das 699 ações em negociação<br />

atualmente na Bovespa, apenas<br />

59 participam da construção do índice. Por<br />

isso, quando empresas como a Petrobras,<br />

responsável por 33,93% do índice, ou Vale<br />

do Rio Doce (12,24%) apresentam resultados<br />

negativos em seus negócios, o Ibovespa<br />

cai. “Em <strong>um</strong> dia positivo no mercado em<br />

geral, <strong>um</strong>a queda em <strong>um</strong>a dessas duas empresas<br />

pode derrubar o índice, assim como<br />

em <strong>um</strong> p<strong>é</strong>ssimo dia, <strong>um</strong>a nova descoberta<br />

da Petrobras pode elevar os números”, explica<br />

Lopes.<br />

Al<strong>é</strong>m dos cursos na sede da gestora<br />

de recursos, na Avenida Agamenon Magalhães,<br />

o Finacap Educacional vem realizando<br />

eventos em parceria com a Universidade<br />

Federal de Pernambuco (UFPE) e Faculdade<br />

Maurício de Nassau. Palestras em entidades<br />

representantes de setores econômicos<br />

tamb<strong>é</strong>m estão em período de negociação.<br />

“Queremos levar a educação financeira para<br />

estudantes e profissionais dos diversos segmentos,<br />

tirando mitos acerca desse mercado<br />

e preparando melhor os investidores pernambucanos”,<br />

diz Aristides, animado com<br />

os resultados dos primeiros seminários. n


maio ><br />

><br />

39


Música<br />

O Quinto Elemento<br />

em Caravana<br />

QUINTETO VIOLADO | Com <strong>um</strong> trabalho autoral indicado<br />

ao Prêmio Tim, e a sofisticação de sempre, grupo faz<br />

caravana pelo interior e se prepara para shows na Europa<br />

Por Jos<strong>é</strong> Neves Cabral<br />

Cheiro de mato, som de flauta que mais<br />

parece <strong>um</strong> sabiá cantando n<strong>um</strong> fim de<br />

tarde, <strong>um</strong> toque de violão refinado. Influências<br />

várias, arranjos sofisticados, mas sem<br />

perder o sotaque regional, fazem do Quinteto<br />

Violado <strong>um</strong> dos poucos grupos musicais<br />

brasileiros que conseguem manter o equilíbrio<br />

entre a cultura que representam e o som<br />

universal. Desse link, natural, o Quinteto desperta<br />

emoção por onde passa. Na Síria ou<br />

no Japão, na Galícia ou no Peru. Aos 37 anos<br />

de carreira, a banda lançou recentemente o<br />

CD Quinto Elemento, <strong>um</strong> trabalho autoral depois<br />

de dois discos de homenagens, <strong>um</strong> só<br />

com músicas do paraibano Geraldo Vandr<strong>é</strong> e<br />

outro de composições de frevo. O disco está<br />

40 > > maio<br />

concorrendo ao Prêmio Tim. Nesse final de<br />

abril, o grupo iniciou <strong>um</strong>a excursão, denominada<br />

Caravana Multicultural, pelo interior do<br />

Estado, onde fará dez shows.<br />

Este 32º álb<strong>um</strong> da carreira foi gravado<br />

ao vivo no Teatro Fecap, em São Paulo. E<br />

marca o reencontro da banda com <strong>um</strong> trabalho<br />

de criação mais orgânico onde todos<br />

participavam da criação das músicas e dos<br />

arranjos, característica da primeira fase do<br />

QV, antes dos anos 90, quando Toinho passou<br />

a ter <strong>um</strong> papel mais forte na direção dos<br />

arranjos em virtude da saída de alguns componentes<br />

como Fernando Filizola. Se o processo<br />

de criação mudou, a identidade sonora<br />

que caracteriza o grupo continua intacta,<br />

<strong>um</strong>a marca que o diferencia dos demais<br />

grupos e que levou o crítico S<strong>é</strong>rgio Cabral,<br />

em depoimento para o livro que marcou os<br />

25 anos da banda, a dizer que o Quinteto foi<br />

<strong>um</strong> divisor de águas na MPB.<br />

“Agora, sem ele, cada <strong>um</strong> procura contribuir<br />

da melhor forma sem perder as referências<br />

que deixou”, explica Dudu, filho de<br />

Toinho. Mas onde encontrar tantas fontes<br />

para beber e traduzir em sons e versos nesses<br />

37 anos? Nas emboladas, nos violeiros,<br />

nas toadas e aboios. Marcelo Melo, único<br />

remanescente do grupo inicial e que ass<strong>um</strong>iu<br />

naturalmente a liderança da banda após<br />

o desaparecimento de Toinho, explica que<br />

a inspiração vem do contato com a cultura<br />

da região.<br />

O novo trabalho do Quinteto <strong>é</strong> diferente<br />

dos anteriores. Neste disco o grupo não só<br />

expressa os sotaques e a cultura da região,


n Bastante requisitado para shows, o grupo completa 37 anos de estrada com o CD Quinto Elemento<br />

mas demonstra tamb<strong>é</strong>m que enxerga o sofrimento<br />

e o desamparo, como em Paisagens<br />

do Brasil, onde denuncia “criança matando<br />

menino”. E as crianças tamb<strong>é</strong>m voltam à<br />

cena em Meninos de Rua... “Frutos da terra,<br />

da mis<strong>é</strong>ria, da solidão.../nascem chorando<br />

de fome e de dor/crescem carentes de tudo/<br />

criaturas em flor”.<br />

De raiz bem nordestina, mas com a<br />

mistura na sonoridade de tambores sírios,<br />

Marcelo Melo interpreta Contos de Zelação,<br />

adaptação do Folheto A eleição do Diabo e a<br />

posse de Lampião no Inferno (de Severino G.<br />

de Oliveira). Dudu Alves explica que a ideia<br />

de incluir os tambores foi do percussionista<br />

Roberto Medeiros. “Passamos <strong>um</strong>a semana<br />

lá, e Roberto encontrou uns tambores parecidos<br />

com as alfaias. Esse som tamb<strong>é</strong>m<br />

entra em Contos de Zelação.”<br />

No novo CD, o Quinteto mostra na música<br />

Contos de Zelação a influência ib<strong>é</strong>rica que<br />

recebeu n<strong>um</strong>a de suas excursões à Galícia.<br />

Uma canção que naturalmente deve agradar<br />

ao público que vai assistir à participação do<br />

grupo em festivais em Vigo, La Coruña no<br />

mês de julho. “Vamos possivelmente inserir<br />

mais sonoridades da sanfona galega nesses<br />

shows”, afirma Marcelo.<br />

Da gravação, participaram Marcelo Melo<br />

(violão, viola e voz), Ciano (flautas), Dudu Alves<br />

(teclados) e Roberto Medeiros (percussão<br />

e voz). Thiago Fournier se incorporou ao grupo<br />

devido à proximidade com Toinho Alves, com<br />

quem teve orientações t<strong>é</strong>cnicas sobre a forma<br />

de tocar o baixo el<strong>é</strong>trico vertical, de acordo<br />

com o estilo consagrado pelo Quinteto.<br />

PROJETOS<br />

Com a criação da fundação Quinteto<br />

Violado, em 1997, o grupo tamb<strong>é</strong>m passou<br />

a trabalhar em projetos para o desenvolvimento<br />

da cultura da região Nordeste.<br />

No ano passado, lançou o CD Sons do São<br />

Das pesquisas<br />

e do contato com<br />

a cultura da região,<br />

a banda extrai<br />

a essência para<br />

novas músicas<br />

Francisco e Cantos do Semi-Árido, onde faz<br />

<strong>um</strong> registro doc<strong>um</strong>ental das manifestações<br />

musicais das comunidades ribeirinhas do<br />

São Francisco. Do pífano aos índios fulniô<br />

e às cantadeiras do sisal, as manifestações<br />

foram registradas em CD a fim de dar visibilidade<br />

à diversidade cultural da região. Dudu Alves<br />

conta que essas iniciativas fazem parte de<br />

<strong>um</strong> grande projeto que <strong>é</strong> o Registro de Ícones<br />

Culturais, que funciona como <strong>um</strong> guarda-chuva.<br />

“A partir dele nós desenvolvemos outros.<br />

Com ele, nós ganhamos <strong>um</strong> Prêmio do MinC<br />

chamado Cultura Viva, que <strong>é</strong> <strong>um</strong> certificado de<br />

qualidade da execução do projeto.”<br />

Segundo Marcelo Melo, esse projeto deveria<br />

ter sido feito inicialmente em parceria<br />

com o Minist<strong>é</strong>rio da Cultura, mas nunca houve<br />

dinheiro para fazer. Acabou saindo com<br />

o apoio do Minist<strong>é</strong>rio do Desenvolvimento<br />

Agrário, que precisava trabalhar com projetos<br />

de agricultura familiar e queria tamb<strong>é</strong>m<br />

estimular a auto-estima da população.<br />

“O Minist<strong>é</strong>rio do Desenvolvimento Agrário<br />

nos encomendou esse trabalho, em várias<br />

regiões, at<strong>é</strong> que chegou <strong>um</strong>a ocasião<br />

em que não tinha mais como justificar essa<br />

destinação por não ser o Minist<strong>é</strong>rio u uu<br />

A agenda cheia do Quinteto<br />

com o espetáculo Caravana Multicultural<br />

02.05<br />

09.05<br />

16.05<br />

23.05<br />

Brejo da Madre de Deus<br />

Moreno<br />

Águas Belas<br />

Serra Talhada<br />

30.05<br />

06.07<br />

13.07<br />

20.07<br />

Tabira<br />

Jatobá<br />

Exu<br />

Itamaracá<br />

Em junho, o grupo apresenta o Quinto Elemento em Brasília. No São João, tem shows<br />

programados em Recife, Jaboatão, Aracaju, Caruaru e João Pessoa. Em julho, fará apresentações<br />

na Galícia e em Portugal.<br />

maio ><br />

> 41


Música<br />

da Cultura”, comenta Melo. Agora, o próprio<br />

MinC está estudando a possibilidade de incluir<br />

tanto o Sons do São Francisco quanto o<br />

Cantos do Semi-Árido no projeto Mais Cultura.<br />

“Eles estão avaliando como utilizam esse<br />

material produzido por nós dentro desse projeto”,<br />

informa Marcelo.<br />

“Os folguedos, o artesanato, tudo isso a<br />

gente registra e tem <strong>um</strong>a força muito grande<br />

na valorização da identidade das comunidades”,<br />

explica. Para fazer esses projetos,<br />

Marcelo revela que o Quinteto não encontrou<br />

tantas dificuldades na execução, pois<br />

os elementos encontrados nas manifestações<br />

das comunidades já fazem parte do<br />

próprio trabalho de pesquisa do grupo.<br />

“Quando você mexe com a cultura de <strong>um</strong>a<br />

comunidade, mexe com a auto-estima tamb<strong>é</strong>m.<br />

Isso a gente registra, apresenta, e tem <strong>um</strong>a força<br />

na valorização da identidade. É <strong>um</strong>a alternativa,<br />

inclusive, de geração de renda. E eles começaram<br />

a entender isso”, comenta Marcelo Melo.<br />

Em breve, o grupo tamb<strong>é</strong>m poderá captar<br />

recursos da Lei Rouanet para a realização<br />

de projetos culturais. As empresas que<br />

investirem nos projetos terão o valor abatido<br />

do imposto de renda.<br />

Histórias da Estrada<br />

MOTOR HOME<br />

O motor home ainda não existia, mas o Quinteto Violado, em função das necessidades,<br />

acabou inventando <strong>um</strong> protótipo para suas viagens em início de carreira. Um carro<br />

que cabia tudo, os componentes, equipamentos e toda a infra-estrutura que o grupo carrega.<br />

N<strong>um</strong>a das viagens, já utilizando <strong>um</strong> ônibus que abrigava, al<strong>é</strong>m dos equipamentos,<br />

beliches adaptados, a banda atravessava o Brasil fazendo shows, passando às vezes<br />

seis meses longe do Recife.<br />

CARRO DE DOENTES<br />

Marcelo lembra que certa vez o motorista do ônibus parou para dar assistência a<br />

<strong>um</strong>a família que estava com o carro quebrado na beira da estrada e ofereceu carona.<br />

“Quando <strong>um</strong>a mulher entrou e viu alguns componentes deitados nos beliches, exclamou:<br />

¬- Vixe, vamos embora que isso aqui <strong>é</strong> <strong>um</strong> carro de carregar doentes!. “Eles desceram<br />

e não quiseram ir de jeito nenh<strong>um</strong>”.<br />

ZÉ DA FLAUTA = TIRADENTES<br />

“Estávamos fazendo <strong>um</strong>a excursão no interior de Minas e chegamos a <strong>um</strong>a cidade<br />

no Dia de Tiradentes. E Z<strong>é</strong> da Flauta desceu do ônibus no momento em que estava havendo<br />

<strong>um</strong>a gincana com aquele cabelo grande dele. De repente, pegaram Z<strong>é</strong> da Flauta<br />

amarraram <strong>um</strong>a corda no meio da cintura dele e o levaram carregado n<strong>um</strong>a procissão.<br />

Era <strong>um</strong>a tarefa que as pessoas estavam c<strong>um</strong>prindo.<br />

De turbante - “N<strong>um</strong>a recente viagem nossa à Síria nós perdemos as bagagens e<br />

tivemos de ir às lojas comprar roupas de lá”, revela Dudu.<br />

42 > > maio<br />

n Com a criação da Fundação Quinteto Violado, componentes da banda<br />

passaram a fazer projetos para desenvolver a cultura da região<br />

FIEL AO ESTILO<br />

Nesse longo período de existência, o<br />

Quinteto sempre se manteve dentro de <strong>um</strong>a<br />

proposta rítmica diferenciada, mas sem perder<br />

a essência e o sotaque da música regional.<br />

Segundo Marcelo Melo, há diversas<br />

linguagens para se executar o forró, todas<br />

têm seus m<strong>é</strong>ritos, virtudes e defeitos. Existe<br />

o forró que banalizou-se pela forma escrachada,<br />

repetitiva, e poeticamente pobre,<br />

mas há tamb<strong>é</strong>m os poetas que continuam<br />

fazendo seu trabalho, com simplicidade, e os<br />

sanfoneiros levando a tradição adiante. “Um<br />

dos aspectos positivos disso tudo <strong>é</strong> que não<br />

se deixou cair o prestígio da sanfona como<br />

<strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento fundamental na música do<br />

Nordeste. Luiz Gonzaga deixou essa história<br />

e todos são seus seguidores.”<br />

Marcelo Melo acrescenta que <strong>é</strong> possível<br />

enxergar nos acordes do hino do Ceroula (terceira<br />

faixa do disco 100 anos de Frevo PE),<br />

com arranjos feitos por Toinho Alves, a influência<br />

do tango, fruto de <strong>um</strong> contato do grupo<br />

com o astro argentino Astor Piazzolla n<strong>um</strong>a<br />

visita ao Recife. “Ele fez <strong>um</strong> show no Geraldão<br />

e ficou encantado e muito interessado pela<br />

nossa música. E a gente começou a perceber<br />

que dentro da leitura dele do tango havia tamb<strong>é</strong>m<br />

as marcações do frevo. Se tocar o hino<br />

do Ceroula em instr<strong>um</strong>ental <strong>é</strong> tango.”<br />

Os folguedos populares tamb<strong>é</strong>m são<br />

alvo das pesquisas e da observação do<br />

grupo. “Não fomos buscar nada fora. Tudo<br />

veio para cá. A gente encontrava no som<br />

de alguns pifeiros e rabequeiros, de cavalos<br />

marinhos, a música de Debussy, de Vivaldi.<br />

Tudo veio para cá e misturou-se a música<br />

erudita que <strong>um</strong> dia foi popular. O quinteto<br />

faz <strong>um</strong>a ponte entre o erudito e o popular<br />

de <strong>um</strong>a forma muito livre, nas carrocerias<br />

dos caminhões no meio das feiras livres, as<br />

plataformas das igrejas, e o povo vendo e<br />

identificando o trabalho deles na leitura do<br />

Quinteto”. n


n Am<strong>é</strong>rico Pereira Filho: Rapidão Cometa deve crescer 30% neste ano<br />

u uu<br />

maio ><br />

> 43


Perfil<br />

Clementina Duarte<br />

valor de Pernambuco<br />

DESENVOLVIMENTO | Obore facc<strong>um</strong> nim qui te veraese dolore euisit velenit<br />

la facin ea consequisi. Vendrera estisim ip exerostrud dolessenim ex ercidunt<br />

Dama de Ouro do moderno design de jóias<br />

A brasileiro, Clementina Duarte, ganhou o<br />

mundo. Hoje suas criações adornam personalidades<br />

como a rainha Elizabeth, da Inglaterra,<br />

a secretária de Estado norte-americana, Hillary<br />

Clinton, a rainha Silvia, da Su<strong>é</strong>cia. Por<strong>é</strong>m, mais<br />

do que adorno, suas jóias foram elevadas à categoria<br />

de objetos de arte, e estão permanentemente<br />

expostas no The National Muse<strong>um</strong> for<br />

Women in the Arts, em Washington, nos Estados<br />

Unidos.<br />

Em <strong>um</strong>a <strong>é</strong>poca em que muitos pais almejavam<br />

<strong>um</strong> bom casamento para a filha, na família<br />

de Clementina o lema era: só casa depois que<br />

se formar. Aos quinze anos, ganhou de presente<br />

<strong>um</strong>a viagem ao Rio de Janeiro para conhecer<br />

os museus da cidade, e foi nesse ambiente de<br />

valorização dos estudos e da arte que sua personalidade<br />

se formou.<br />

Nascida no Recife, graduou-se em Arquitetura<br />

na Universidade Federal de Pernambuco,<br />

mas descobriu sua verdadeira vocação na França,<br />

ao estudar Arte e Design no Institut d’Art<br />

et M<strong>é</strong>tiers, em Paris. Inicialmente desenvolvia<br />

as jóias para si, at<strong>é</strong> que <strong>um</strong> dia seu professor,<br />

Jean Prouve - na <strong>é</strong>poca considerado <strong>um</strong> mestre<br />

da arquitetura e do design - percebeu o<br />

talento de Clementina para o desenho de jóias<br />

e incentivou a aluna a investir nessas criações,<br />

que acabaram sendo expostas na Galeria Steph<br />

Somin. O local recebia os designers mais inovadores<br />

da Europa; lá o estilista Pierre Cardin conheceu<br />

o trabalho da <strong>pernambucana</strong> e adotou<br />

as jóias dela nos seus desfiles.<br />

A partir daí, a artesã que representa elementos<br />

do Brasil nas suas jóias, com desenhos<br />

bem característicos, passou a representar o<br />

país em exposições no exterior. Mas a saudade<br />

da terra falou mais alto, e Clementina Duarte<br />

44 > > maio<br />

n Clementina e sua arte: conselho de Dom Helder para ficar<br />

decidiu voltar ao Recife, por<strong>é</strong>m ao chegar, <strong>um</strong><br />

grande questionamento surgiu: O design de<br />

jóias seria compatível com <strong>um</strong>a cidade que enfrenta<br />

tantos problemas em função da pobreza?<br />

Quem dirimiu suas dúvidas foi Dom Helder Camara.<br />

“Cada <strong>um</strong> recebe <strong>um</strong> talento de Deus,<br />

e não se pode desperdiçá-lo. Sem a sua jóia o<br />

Recife vai ficar mais pobre,” dizia o religioso.<br />

Apesar de hoje morar em São Paulo, pela<br />

facilidade tecnológica, a ligação com o Recife<br />

permanece inabalada, e <strong>é</strong> no mar da cidade,<br />

no formato das nuvens, na natureza, que a artista<br />

busca inspiração. “Sou muito feliz em ser<br />

do Recife, ter esse background esplêndido que<br />

<strong>é</strong> a nossa terra. As riquezas culturais que recebemos<br />

são imensas, tudo isso reflete no meu<br />

trabalho.” Al<strong>é</strong>m de diversos prêmios e condecorações,<br />

Clementina Duarte foi considerada <strong>um</strong>a<br />

das melhores designers do mundo pela revista<br />

International Jeweler. n


Cultura<br />

Arte no Sertão<br />

DESENVOLVIMENTO | Fundação Padre João Câncio capacita artesãos<br />

de cidades do interior para produzirem peças a base de couro e retalhos<br />

535 km do Recife, o município de Ser-<br />

A rita atrai todos os anos mais de 60 mil<br />

visitantes para a Missa do Vaqueiro, que<br />

acontece em julho naquela cidade. Tradição<br />

que teve início em 1971 a partir de<br />

<strong>um</strong>a homenagem à memória de Raimundo<br />

Jacó, vaqueiro assassinado na d<strong>é</strong>cada<br />

de 50, a missa era organizada pelo rei do<br />

baião, Luiz Gonzaga, em parceria com o padre<br />

João Câncio.<br />

Mas o que vem chamando a atenção na<br />

cidade durante os últimos anos <strong>é</strong> o desenvolvimento<br />

do artesanato local. Produzidos a<br />

base do couro, os produtos de Serrita são feitos<br />

por artesãos capacitados pela Fundação<br />

Padre João Câncio, criada após a morte do<br />

idealizador da Missa do Vaqueiro.<br />

O trabalho deu tão certo que a instituição<br />

está repetindo a fórmula em outros dois municípios<br />

do interior de Pernambuco. Em Parnamirim,<br />

o treinamento realizado contempla<br />

15 artesãos trabalhando em cima de detalhes<br />

em couro, aproveitando a tradição da pega do<br />

boi, muito presente na região. Entre os materiais<br />

produzidos estão capas para agendas,<br />

tapetes, jogos americanos e colares.<br />

Já em Moreilândia, elementos como o<br />

fuxico e retalhos, característicos do Agreste<br />

pernambucano, onde o mercado da moda<br />

vem se desenvolvendo, 15 mulheres recebem<br />

o treinamento para confecção de peças<br />

de cama, mesa e banho, al<strong>é</strong>m de acessórios<br />

diversos.<br />

“Procuramos identificar os materiais que<br />

tinham maior afinidade com cada cidade,<br />

respeitando a lógica de cada lugar. Al<strong>é</strong>m de<br />

capacitar essas pessoas, estamos fechando<br />

parcerias com as prefeituras dos municípios<br />

para desenvolver a comercialização desses<br />

produtos”, diz a diretora da fundação, Helena<br />

Câncio.<br />

Mostrar o trabalho para o resto do país<br />

tem sido a grande dificuldade encontrada<br />

pela instituição. Segundo ela, expor em eventos<br />

como a Feira Nacional de Negócios do<br />

Artesanato (Feneart) seria o ideal, mas os<br />

altos custos acabam atrapalhando. “Já conseguimos<br />

expor at<strong>é</strong> na Holanda, atrav<strong>é</strong>s de<br />

<strong>um</strong>a parceria com a Academia de Design Eindhoven,<br />

mas na Feneart, que <strong>é</strong> daqui, ainda<br />

não foi possível”, conta.<br />

Para Helena Câncio, falta apoio do Governo<br />

do Estado no estímulo do turismo para<br />

certas regiões do Estado, como Serrita. “Pernambuco<br />

não conhece Pernambuco. Estamos<br />

esquecidos lá no sertão. As rotas do projeto<br />

PE conhece PE não contemplam nem a Missa<br />

do Vaqueiro. As dificuldades para quem<br />

trabalha com artesanato, então, são ainda<br />

maiores”, reclama.<br />

Secretário de Turismo de Pernambuco,<br />

Sílvio Costa Filho justifica a falta do município<br />

nos roteiros do programa por não fazer parte<br />

dos 52 municípios aprovados pelo Minist<strong>é</strong>rio<br />

do Turismo. “Neste ano, ampliamos de seis<br />

para dez rotas contempladas pelo projeto.<br />

Isso significa <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento de mais de 5% no<br />

turismo interno. Os municípios que não fazem<br />

parte dos roteiros são contemplados com incentivos<br />

específicos”, explica. n<br />

n Programa de capacitação forma artesãos no interior do Estado<br />

maio ><br />

> 45


46 > > maio<br />

Artigo<br />

Cultura & Estado<br />

Como <strong>é</strong> sabido por todos, há <strong>um</strong>a necessidade da presença<br />

do Estado na produção cultural, que, sem ela, <strong>um</strong>a parte significativa<br />

da população fica, no mínimo, mais vulnerável ao culto<br />

do modismo massificador, comercialmente propagado pelos<br />

veículos de comunicação de massa, que nenh<strong>um</strong> compromisso<br />

tem com o que de fato engrandece a identidade da população;<br />

a sua cultura.<br />

Entenda-se aqui cultura em nível geral, que só assim provocará<br />

<strong>um</strong>a reação na própria população, de <strong>um</strong> melhor entendimento<br />

da diversidade e das diferenças, para que de forma consciente<br />

ela venha contribuir com a valorização e difusão da sua cultura de<br />

raiz. O fechar-se em gueto, culturalmente falando, <strong>é</strong> <strong>um</strong>a forma<br />

de alimentar a pobreza de espírito.<br />

É realmente complexa essa internecessidade<br />

da produção cultural com<br />

o Estado, e vice-versa, porque grande<br />

parte do que se produz em expressão artística<br />

e/ou hábitos de cultos carregados<br />

de simbologia da existência de <strong>um</strong> povo,<br />

são vistas por <strong>um</strong>a camada da sociedade<br />

que detêm o poder (político ou financeiro),<br />

como coisa menor, sem condições de competição no mercado<br />

capitalista em que vivemos. É exatamente por visões como<br />

estas que a proliferação de jovens com o nível cultural abaixo do<br />

tolerável <strong>é</strong> cada vez maior. Daí, a necessidade da intervenção do<br />

Estado para fornecer à sociedade, principalmente à com menos<br />

recursos, o direito da elevação do seu nível intelectual.<br />

Que não seja vista como paternalismo do Estado <strong>um</strong>a ação<br />

que propicia o contato com a produção artística, por exemplo, e<br />

sim como investimento governamental no crescimento intelectual<br />

dos seus cidadãos. É pra ser sim, e sempre, pago pelo contribuinte,<br />

a possibilidade aos criadores que não possuem recursos<br />

Que não seja vista<br />

como paternalismo do<br />

Estado <strong>um</strong>a ação que<br />

propicia o contato com<br />

a produção artística<br />

Romildo Moreira<br />

morerom@uol.com.br<br />

próprios, de efetuar a sua produção artística e disponibilizá-la ao<br />

público. Por outro lado, <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m função do Estado favorecer o<br />

acesso ao cinema, ao teatro, à leitura, a ida ao museu, a concertos,<br />

etc., como <strong>é</strong> praticado na questão da educação e da saúde<br />

com o público de menor poder aquisitivo.<br />

A referida inter-necessidade da causa cultural com o Estado<br />

seria menos difícil de compreensão se os olhos da observação não<br />

estivessem sob a lente simplista da lei do mercado e da mercadoria,<br />

do cons<strong>um</strong>o e do cons<strong>um</strong>idor, mas, se visto fosse por olhos<br />

atentos ao compromisso sociocultural previsto na Constituição<br />

Brasileira, e se interessada estivesse o conjunto da sociedade em<br />

diminuir a distância do conhecimento que separa em duas parcelas<br />

a sociedade no Brasil: a culta e a inculta,<br />

dúvida nenh<strong>um</strong>a pairaria.<br />

Caso tiv<strong>é</strong>ssemos do Estado à determinação<br />

de encarar a cultura como <strong>um</strong>a<br />

das prioridades ao lado da educação e<br />

da saúde, provavelmente outros ganhos<br />

seriam adicionados ao conjunto da sociedade.<br />

Vejamos alguns exemplos: a<br />

diminuição da violência e, consequentemente,<br />

a redução da população carcerária; o a<strong>um</strong>ento da quantidade<br />

de trabalhadores em ocupações melhores remuneradas e,<br />

consequentemente, maior movimento nos negócios da indústria<br />

e do comercio; a ampliação das oportunidades profissionais do<br />

mercado cultural e, consequentemente, menos artistas desempregados;<br />

o respaldo internacional advindos de instituições como<br />

a ONU e, consequentemente, mais capital estrangeiro investindo<br />

em negócios no Brasil, por ser <strong>um</strong> país de gente culta.<br />

Se por ventura este sonho de <strong>um</strong> artista como eu, vir a ser<br />

realidade, os nossos netos, bisnetos e tataranetos terão muito<br />

mais motivos no peito para se declarar BRASILEIRO.<br />

Romildo Moreira <strong>é</strong> produtor cultural


maio ><br />

><br />

47


Língua Portuguesa<br />

O que muda com<br />

o acordo Ortográfico<br />

Alfabeto | ganha três letras<br />

Antes 23 letras Depois 26 letras: entram k, w e y<br />

Trema | desaparece em todas as palavras<br />

Antes Freqüente, lingüiça, agüentar Depois Frequente, linguiça, aguentar<br />

* Fica o acento em nomes como Müller<br />

Acentuação 1 | some o acento dos ditongos abertos <strong>é</strong>i e ói das palavras paroxítonas (as que têm a penúltima sílaba forte)<br />

Antes Europ<strong>é</strong>ia, id<strong>é</strong>ia, heróico, apóio, bóia, asteróide, Cor<strong>é</strong>ia, estr<strong>é</strong>ia, jóia, plat<strong>é</strong>ia, paranóia, jibóia, assembl<strong>é</strong>ia<br />

Depois Europeia, ideia, heroico, apoio, boia, asteroide, Coreia, estreia, joia, plateia, paranoia, jiboia, assembleia<br />

* Herói, pap<strong>é</strong>is, trof<strong>é</strong>u mant<strong>é</strong>m o acento (porque têm a última sílaba mais forte)<br />

Acentuação 2 | some o acento no i e no u fortes depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras paroxítonas<br />

Antes Baiúca, bocaiúva, feiúra Depois Baiuca, bocaiuva, feiura<br />

* Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em: tuiuiú ou Piauí<br />

Acentuação 3 | some o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos)<br />

Antes Crêem, dêem, lêem, vêem, prevêem, vôo, enjôos Depois Creem, deem, leem, veem, preveem, voo, enjoos<br />

Acentuação 4 | some o acento diferencial<br />

Antes Pára, p<strong>é</strong>la, pêlo, pólo, pêra, côa Depois Para, pela, pelo, polo, pera, coa<br />

* Não some o acento diferencial em pôr (verbo)/por (preposição) e pôde(pret<strong>é</strong>rito)/pode (presente). Fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo<br />

Acentuação 5 | some o acento agudo no u forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar, apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar<br />

Antes Averigúe, apazigúe, ele argúi, enxagúe você Depois Averigue, apazigue, ele argui, enxague você<br />

Observação: as demais regras de acentuação permanecem as mesmas<br />

Hífen | veja como ficam as principais regras do hífen com prefixos:<br />

Prefixos<br />

Agro, ante, anti, arqui, auto,<br />

contra, extra, infra, intra, macro,<br />

mega, micro, maxi, mini, semi,<br />

sobre, supra, tele, ultra...<br />

Híper, inter, super<br />

Sub<br />

Vice<br />

Pan, circ<strong>um</strong><br />

Fonte: www.g1.globo.com<br />

48 > > maio<br />

Usa hífen<br />

Quando a palavra seguinte começa com h ou com<br />

vogal igual à última do prefixo: auto-hipnose,<br />

auto-observação, anti-herói, anti-imperialista,<br />

micro-ondas, mini-hotel<br />

Quando a palavra seguinte começa com h ou<br />

com r: super-homem, inter-regional<br />

Quando a palavra seguinte começa com b, h, ou r:<br />

sub-base, sub-reino, sub-h<strong>um</strong>ano<br />

Sempre: vice-rei, vice-presidente<br />

Quando a palavra seguinte começa com h, m,<br />

n ou vogais: pan-americano, circ<strong>um</strong>-hospitalar<br />

Não usa hífen<br />

Em todos os demais casos autorretrato,<br />

autossustentável, autoanálise, autocontrole,<br />

antirracista, antissocial, antivírus, minidicionário,<br />

minissaia, minirreforma, ultrassom<br />

Em todos os demais casos:<br />

hiperinflação, supersônico<br />

Em todos os demais casos:<br />

subsecretário, subeditor<br />

Em todos os demais casos:<br />

pansexual, circuncisão


maio ><br />

><br />

49


Gestão Mais<br />

Frase: “At<strong>é</strong> hoje, para chegar a executivo, o funcionário tem de passar <strong>um</strong> período como vendedor.<br />

Investimos na educação e no status dos vendedores. Acredito que <strong>é</strong> possível fazer com que a<br />

empresa ganhe dinheiro e os funcionários sejam felizes. Entendo que <strong>um</strong>a motivação só será duradoura<br />

se atingir a cabeça, bolso e coração dos funcionários. Desejamos que nossos vendedores<br />

virem especialistas em gente.” (Luiza Helena Trajano, Magazine Luiza, revista Veja, 26.01.2005)<br />

Gerente - Um especialista em gestão<br />

Ele <strong>é</strong> <strong>um</strong>a figura-chave nas empresas<br />

e organizações. Seja qual for o cargo<br />

—coordenador, supervisor, diretor, superintendente<br />

— o profissional que desempenha<br />

na prática a função de gerente<br />

ass<strong>um</strong>e <strong>um</strong> enorme desafio, ainda mais<br />

exigente em <strong>um</strong> ce-<br />

nário de crise. Como<br />

ser estrat<strong>é</strong>gico, em<br />

<strong>um</strong> mercado cada vez<br />

mais competitivo?<br />

Basicamente, ser <strong>um</strong><br />

gerente com atuação<br />

estrat<strong>é</strong>gica requer<br />

três capacidades<br />

essenciais: tornar-se<br />

especialista em (1)<br />

Gente, (2) Resultados<br />

e (3) Mudança.<br />

Em qualquer circunstância<br />

e em qualquer<br />

tipo de empresa<br />

ou organização, o<br />

principal alvo de atuação<br />

do gerente são as<br />

pessoas que ele coordena,<br />

a sua equipe<br />

de trabalho. Por isso,<br />

n<strong>um</strong>a visão contemporânea,<br />

<strong>um</strong> gerente<br />

competitivo <strong>é</strong>, essen-<br />

50 > > maio<br />

cialmente, <strong>um</strong> especialista em gente.<br />

Ser <strong>um</strong> especialista em gente exige do<br />

gerente capacidade de compreender, em<br />

toda a sua amplitude, a dinâmica da vida das<br />

equipes nas empresas: as redes de poder, os<br />

vínculos, os projetos e as questões não ex-<br />

Os dez erros gerenciais mais comuns<br />

1.Ser centralizador em demasia. O excesso<br />

de controles inibe id<strong>é</strong>ias, restringe<br />

iniciativas e a criatividade da equipe,<br />

al<strong>é</strong>m de induzir à perda de agilidade.<br />

2. Usar mal o planejamento. Sem<br />

planejar adequadamente as tarefas<br />

diárias, não sobra tempo para pensar<br />

sobre a empresa e o seu futuro.<br />

3. Ter visão fragmentada do negócio,<br />

focando só a sua responsabilidade.<br />

Dificulta a busca de novos clientes<br />

e novas oportunidades, impedindo a<br />

visão do contexto global e das mudanças<br />

de tendência.<br />

4. Pensar na empresa olhando só<br />

para seu passado. Nada garante que<br />

o que deu certo at<strong>é</strong> agora sirva para<br />

o futuro.<br />

5. Achar que pode ter <strong>sucesso</strong> sozinho.<br />

É vital saber formar, liderar, motivar<br />

e reter equipes e talentos.<br />

6. Dedicar muitas horas a tarefas operacionais.<br />

É pouco produtivo o gerente<br />

ficar preso a controles rotineiros.<br />

7. Misturar interesses familiares com<br />

os da empresa. Esse fantasma ainda<br />

assombra e compromete a competitividade<br />

de empresas familiares.<br />

8. Desviar atenção, tempo, esforço<br />

e dedicação do foco principal do seu<br />

negócio. Foco <strong>é</strong> essencial, principalmente<br />

em momentos de crise.<br />

9. Acreditar que já sabe tudo. É fundamental<br />

estar aberto a novos aprendizados<br />

e estimular seus colaboradores<br />

a aprender.<br />

10. Imaginar que dá para construir <strong>um</strong>a<br />

empresa sem paixão. Esse sentimento<br />

deve permear fornecedores, funcionários<br />

e clientes. É gente atendendo<br />

gente.<br />

Fonte de referência: Desafio 21<br />

(A Coluna da Rede Gestão)<br />

plícitas, com<strong>um</strong>ente desconsideradas nas<br />

relações de trabalho, mas com grande<br />

capacidade de mobilização...ou desmobilização.<br />

Ser <strong>um</strong> especialista em gente coloca<br />

o gerente no lugar daquele que coordena a<br />

construção das condi-<br />

ções necessárias para<br />

realização do trabalho<br />

da equipe e, tamb<strong>é</strong>m,<br />

como algu<strong>é</strong>m capaz<br />

de cobrar, com autoridade,<br />

os resultados requeridos<br />

e a qualidade<br />

necessária.<br />

Afinal, a principal<br />

responsabilidade do<br />

gerente não <strong>é</strong> fazer<br />

as coisas mas, sim,<br />

fazer com que outros<br />

as façam. Daí a necessidade<br />

de ser <strong>um</strong><br />

especialista no seu<br />

principal fator de produção:<br />

as pessoas. E<br />

<strong>um</strong> especialista em<br />

gente focado em produzir<br />

resultados. Mas<br />

este já <strong>é</strong> assunto para<br />

a próxima edição da<br />

Gestão Mais.<br />

O conteúdo desta página <strong>é</strong> de responsabilidade da TGI Consultoria em Gestão. (www.tgi.com.br)


maio ><br />

><br />

51


Memória Pernambucana<br />

Ascenso: nunca <strong>um</strong><br />

nome foi tão próprio<br />

TALENTO | Maio trouxe e levouo poeta. Não pôde levar,<br />

por<strong>é</strong>m, o obra que tanto engrandeceu a memória <strong>pernambucana</strong><br />

Era <strong>um</strong> homem enorme. Desses cujo porte<br />

impressiona, mais ainda com a figura destacada<br />

pelo uso de <strong>um</strong> abudo chap<strong>é</strong>u de palha,<br />

sua marca registrada. Diga-se desde já, que<br />

era enorme não só fisicamente, mas tamb<strong>é</strong>m<br />

como intelectual que deixou <strong>um</strong>a contribuição<br />

inestimável para a poesia brasileira e para o orgulho<br />

pernambucano.<br />

Ascenso Ferreira fez jus às definições do<br />

substantivo com<strong>um</strong> que nele se fez próprio. Ascenso,<br />

diz o dicionário, <strong>é</strong> qualidade ou estado<br />

do que está em ascendência, movendo-se para<br />

cima, elevando-se...<br />

Nascido em Palmares, interior de Pernambuco,<br />

foi registrado como Aníbal, mas em<br />

1917, aos vinte e dois anos de idade, decidiu<br />

mudar de nome. Foi assim que nasceu Ascenso<br />

Carneiro Gonçalves Ferreira.<br />

Órfão de pai aos sete anos, aos treze anos<br />

começou a trabalhar no com<strong>é</strong>rcio, depois foi<br />

funcionário público, comerciante de ferro-velho<br />

e de sacos para cereais e açúcar, mas o que foi,<br />

mesmo, foi poeta. E dos melhores.<br />

Em 1912, então com vinte e sete anos de<br />

idade, começou a colaborar em jornais de Palmares<br />

e do Recife, e em 1917 fundou com Antonio<br />

de Barros Carvalho, Antonio Freire, Artur<br />

Griz, Barros Lima, Carlos Rios e Fenelon Barreto<br />

a Sociedade Hora Literária de Palmares.<br />

Cinco anos depois, então corria o ano de<br />

1922, passou a colaborar com os jornais recifenses<br />

Diário de Pernambuco e A Província,<br />

e depois, em <strong>um</strong>a cada vez mais intensa atividade<br />

intelectual, tamb<strong>é</strong>m com os periódicos<br />

Mauric<strong>é</strong>ia, <strong>Revista</strong> do Norte, <strong>Revista</strong> de Pernambuco,<br />

A Pilh<strong>é</strong>ria, <strong>Revista</strong> da Cidade e <strong>Revista</strong><br />

de Antropofagia.<br />

52 > > maio<br />

Mais adiante, em 1926, participou do I<br />

Congresso Regionalista do Nordeste e, em<br />

1934, do Congresso Afro-Brasileiro, ambos realizados<br />

no Recife.<br />

Seu primeiro livro de poesias, Catimbó, foi<br />

lançado em 1927, quando o poeta completara<br />

trinta e dois anos. Talento não tem idade, já foi<br />

dito, e a partir daquele livro aconteceu <strong>um</strong>a safra<br />

das melhores.<br />

A propósito do livro, Mário de Andrade<br />

escreveu: “Só mesmo Ascenso Ferreira com<br />

este Catimbó trouxe pro modernismo <strong>um</strong>a<br />

originalidade real, <strong>um</strong> ritmo verdadeiramente<br />

novo”. Pouco depois, Ascenso Ferreira travou<br />

conhecimento pessoal com o autor<br />

de Paulic<strong>é</strong>ia Desvairada e se<br />

aproximou de vários intelectuais<br />

paulistas, como Cassiano Ricardo,<br />

Anita Malfatti, Menoti Del Picchia,<br />

Oswald de Andrade, Afonso Arinos<br />

e Tarsila do Amaral.<br />

Em 1939 foi a vez de lançar<br />

Cana Caiana, depois Poemas,<br />

depois Outros Poemas. Incansável,<br />

na d<strong>é</strong>cada de 1940 pronunciou<br />

conferências e estudos sobre divertimentos<br />

populares do Nordeste, e<br />

ainda conseguiu tempo para participar<br />

da campanha presidencial de<br />

Juscelino Kubitschek, em 1955.<br />

Sua poesia foi fortemente influenciada<br />

pela de Guilherme de<br />

Almeida, Mário de Andrade e Manoel<br />

Bandeira, que sobre ele disse:<br />

“Ler, e sobretudo ouvir Ascenso, <strong>é</strong><br />

viver intensamente no mundo dos<br />

mangues do Recife, do massapê<br />

e das caatingas, mundo do bambu-bambeiro,<br />

das cavalhadas, dos pastoris, dos reisados,<br />

dos b<strong>um</strong>bas, dos maracatus, das vaquejadas.<br />

Mundo onde as aragens são mansas e as chuvas<br />

esperadas: chuvas de janeiro... chuvas de<br />

caju... chuvas de Santa Luzia... Os poemas de<br />

Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste,<br />

nas quais se espelha amoravelmente a alma<br />

ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica<br />

das populações dos engenhos e do sertão. Ascenso<br />

identificou-se de corpo e coração com o<br />

homem do povo de sua terra, mesmo quando<br />

este <strong>é</strong> o cangaceiro que a fatalidade mesológica<br />

marcou com os estigmas do crime.”


Filosofia<br />

Hora de comer, — comer!<br />

Hora de dormir, — dormir!<br />

Hora de vadiar, — vadiar!<br />

Hora de trabalhar?<br />

— pernas pro ar que ningu<strong>é</strong>m<br />

<strong>é</strong> de ferro!<br />

De fato, a infância interiorana do poeta está<br />

presente em memoráveis momentos, como,<br />

por exemplo, em Minha Escola: “A escola que<br />

eu freqüentava era cheia de grades como as prisões<br />

| E o meu mestre, carrancudo como <strong>um</strong><br />

dicionário | Complicado como as matemáticas,<br />

inacessível como Os Lusíadas de Camões! | À<br />

sua porta eu estacava sempre hesitante... | De<br />

<strong>um</strong> lado a vida, a minha adorável vida de criança:<br />

pinhões... papagaios... carreiras ao sol...<br />

voos de trap<strong>é</strong>zio à sombra da mangueira! |<br />

Saltos da ingazeira pra dentro do rio... jogos de<br />

castanha... | O meu engenho de barro de fazer<br />

mel! | Do outro lado, aquela tortura: “As armas<br />

e os barões assinalados! | Quantas orações?<br />

Qual <strong>é</strong> o maior rio da China? | A 2 + 2 A B =<br />

quanto? | Que <strong>é</strong> curvilíneo convexo? Menino,<br />

venha dar sua lição de retórica! | “Eu começo,<br />

atenienses, invocando a proteção dos deuses<br />

do Olimpo para os destinos da Gr<strong>é</strong>cia!” | Muito<br />

bem! Isto <strong>é</strong> do grande Demóstenes! | Agora, a<br />

de francês: “Quand le christianisme avait apparu<br />

sur la torre...” | Basta. Hoje temos sabatina<br />

...| O arg<strong>um</strong>ento <strong>é</strong> a bolo! | - Qual <strong>é</strong> a distância<br />

da Terra ao Sol? - Não sabe? Passe a mão à pal-<br />

matória! | Bem, amanhã quero isso de cor... |<br />

Felizmente, à boca da noite, eu tinha <strong>um</strong>a velha<br />

que me contava histórias... |Lindas histórias do<br />

reino da Mãe-d’água...| E me ensinava a tomar<br />

a benção à lua nova.”<br />

São histórias como essa, que já a partir dos<br />

títulos, dão vontade de ter nascido no interior para<br />

sentir o cheiro da terra molhada, ouvir o mugido<br />

das vacas, deleitar-se com o canto dos pássaros,<br />

viver <strong>um</strong>a infância nas asas do vento. Imagine<br />

você que lindas passagens contêm Cana Caiana,<br />

de B<strong>um</strong>ba-Meu-Boi, Cavalhada, Maracatu,<br />

Mulata Sarará, Xangó, Xenhenh<strong>é</strong>m,<br />

este o primeiro livro surgido no Brasil apresentando<br />

disco de poesias recitadas pelo seu autor,<br />

edição que continha, ainda, o poema O trem de<br />

Alagoas, musicado por Villa-Lobos.<br />

Em 1951 Ascenso Ferreira se tornou o primeiro<br />

poeta brasileiro a gravar seus poemas<br />

em disco e, em 1955, o quarto a ter a voz gravada<br />

para a Biblioteca do Congresso em Washington.<br />

Em 1957 e 1959 gravou o álb<strong>um</strong> 64 Poemas<br />

Escolhidos e 3 Historietas Populares.<br />

Ascenso Ferreira, que <strong>é</strong> busto no Cais do<br />

Apolo, no Recife, e nome de rua no Jardim Guarujá,<br />

em São Paulo, deixou <strong>um</strong>a obra de raro<br />

valor, inclusive a póst<strong>um</strong>a, publicada em 1986,<br />

como O Maracatu, Pres<strong>é</strong>pios e Pastoris e<br />

O B<strong>um</strong>ba-Meu-Boi.<br />

Para encerrar, que fiquem as palavras do<br />

grande Manoel Bandeira: “Pois quem não ouviu<br />

Ascenso dizer, cantar, declamar, rezar, cuspir,<br />

dançar, arrotar os seus poemas, não pode fazer<br />

id<strong>é</strong>ia das virtualidades verbais neles contidas,<br />

do movimento lírico que lhes imprime o autor”.<br />

Maio (9) de 1895 trouxe Ascenso Carneiro<br />

Gonçalves Ferreira, maio (5) de 1965 o levou.<br />

Não pôde levar, por<strong>é</strong>m, a obra do poeta que<br />

tanto engrandece a memória <strong>pernambucana</strong>.<br />

* Marcelo Alcoforado <strong>é</strong> publicitário e jornalista<br />

marceloalcoforado@surfix.com.br<br />

maio ><br />

> 53


Veículos<br />

Ele <strong>é</strong> o maior barato<br />

DA EUROPA PARA O BRASIL | O smart já pode ser estacionado na sua garagem.<br />

Pernambucanos que decidirem tê-lo deverão comprar o compacto em São Paulo<br />

Por Jorge Moraes<br />

De São Paulo<br />

smart fortwo começou a brilhar pelas ruas<br />

O de São Paulo. O mesmo não vai acontecer,<br />

pelo menos por enquanto, no Recife. O pequeno<br />

notável só terá representante por aqui, a partir<br />

do próximo ano. Os mais apressados em pilotar<br />

essa novidade podem se antecipar e visitar <strong>um</strong>a<br />

das duas lojas na capital financeira do país, na<br />

avenida Europa, rua das grandes marcas de importados,<br />

e na H<strong>é</strong>lio Pelegrino, no Itaim Bibi.<br />

Apenas duas pessoas podem desfrutar<br />

desse carrinho que <strong>é</strong> espetacular. O smart nos<br />

dois modelos (coup<strong>é</strong> ou cabriolet - com capota e<br />

sem) chama a atenção por onde passa. Da janelas<br />

dos ônibus, os usuários torcem o pescoço e<br />

do lado da janela <strong>um</strong>a legião de curiosos. Admiradores<br />

talvez. O automóvel mede 2,69 metros<br />

e tem motor de três cilindros, turbo 1.0, traseiro,<br />

capaz de gerar 84 cavalos de potência.<br />

Os preços equivalem ao de <strong>um</strong> hatch m<strong>é</strong>dio<br />

completo. Com teto fixo sai por R$ 57,9 mil e<br />

sem cobertura, cabriolet, R$ 64,9 mil. O smart<br />

<strong>é</strong> para ser visto nas ruas e finalmente algu<strong>é</strong>m<br />

tomou coragem para reverenciar as cores vivas.<br />

Chega de preto e prata. As cores vivas estão<br />

por toda parte. Desde a lataria at<strong>é</strong> o interior do<br />

54 > > maio<br />

veículo. Motorista e passageiro convivem em<br />

harmonia, atrás dos assentos, lugar para duas<br />

bolsas (mochila ou pasta) e no porta-malas<br />

apenas 220 litros, perfeito para o tamanho do<br />

veículo.<br />

O painel <strong>é</strong> inovador e conta com dois mostradores<br />

centrais (contagiros e relógio). A direção,<br />

de boa empunhadura, tem borboletas para<br />

as trocas das marchas no sentido mais e menos.<br />

O smart <strong>é</strong> <strong>um</strong> kart urbano. A opção automática<br />

pode ser selecionada na alavanca do câmbio<br />

automatizado, dono de senhores solavancos.<br />

Trava das portas, pisca alerta e botão dos faróis<br />

de neblina ficam no tabeliê No mesmo console<br />

central fica o contato da chave de ignição. Todos<br />

os porta-objetos são otimizados. O som, de s<strong>é</strong>rie,<br />

tem <strong>um</strong> bom áudio.<br />

As rodas são de 15 polegadas com pneus<br />

155/60 na frente e 155/55 atrás. Com <strong>um</strong> detalhe<br />

a mais: se o pneu furar, o carro oferece <strong>um</strong><br />

compressor de ar que pode ser conectado ao<br />

acendedor de cigarros. No lugar do estepe, <strong>um</strong><br />

kit de reparação, que fica perto dos p<strong>é</strong>s do passageiro.<br />

A suspensão do fortwo <strong>é</strong> tipicamente<br />

alemã, <strong>um</strong> pouco dura. O compacto tem quatro<br />

bolsas infláveis, freios ABS, controle de estabilidade<br />

(ESP), assistência eletrônica de frenagem<br />

(BAS) e distribuição eletrônica de frenagem<br />

n O coup<strong>é</strong> smart chega a fazer 15,6 km/l na cidade e 24,4 km/l na estrada<br />

(EBD). No teste avaliamos a performance do<br />

veículo que apesar de pequeno <strong>é</strong> alto. Ele fez 0<br />

a 100 Km/h, em 11 segundos e a m<strong>é</strong>dia urbana<br />

de 15 Km/l. O tanque comporta 33 litros.<br />

O desenho do carro <strong>é</strong> seu maior aliado. O<br />

estilo único destaca <strong>um</strong> par de faróis afilados<br />

e lanternas separadas. Duas portas, o modelo<br />

permite agilidade na entrada e saída dos ocupantes.<br />

A capota do cabriolet <strong>é</strong> el<strong>é</strong>trica e a abertura<br />

pode ser feita com o carro em movimento.<br />

Ficha t<strong>é</strong>cnica<br />

smart fortwo coup<strong>é</strong>/cabrio<br />

Motor<br />

1.0 - 3 cilindros em linha<br />

Válvulas 4 por cilindro<br />

Potência máxima ( cv) 84 cv a 5.250 rpm<br />

Torque máximo (Nm / kgfm) 120 / 12,2<br />

a 3.250 rpm<br />

Transmissão<br />

Tipo Automatizada de 5 velocidades<br />

com sistema Softouch<br />

Chassi<br />

Suspensão dianteira Independente,<br />

McPherson, molas helicoidais, amortecedores,<br />

barra estabilizadora<br />

Suspensão traseira Eixo de torção,<br />

molas helicoidais, amortecedores<br />

Freios Discos na dianteira e tambores na<br />

traseira<br />

Rodas Dianteiras: 4,5 J x 15<br />

Traseiras: 5,5 J x 15<br />

Pneus Dianteiros: 155/60 R15<br />

Traseiros: 175/55 R15<br />

Desempenho<br />

Velocidade máxima (km/h) 145<br />

Aceleração 0-100 km/h (s) 10,9<br />

Dados de Cons<strong>um</strong>o<br />

(km/l) / NEDC<br />

Urbano 15,6<br />

Rodoviário 24,4


Divepe e SsangYong<br />

Em Pernambuco, Cláudio Melo, <strong>um</strong> dos maiores distribuidores Ford Caminhões do Brasil,<br />

trabalha a todo vapor a marca dos coreanos SsangYong, que recentemente lançou o<br />

Action com motor a gasolina e preço sugerido de R$ 80 mil.<br />

Autoshopping<br />

Em junho, o Recife Autoshopping, da<br />

Imbiribeira, poderá finalmente abrir as<br />

portas para o mercado. O empreendimento<br />

tem como base o grupo de lojistas<br />

pernambucanos batizado de Cia<br />

do Automóvel. O presidente da Cia <strong>é</strong><br />

Fernando Meira, da revenda Automar.<br />

Grupo Parvi<br />

Bruno Schwambach, diretor do grupo<br />

Parvi, comemora o bom desempenho no<br />

pós-venda da Fiori Veicolo. A conquista<br />

traduz o novo momento da empresa que<br />

passa a enfatizar os serviços de oficina e<br />

qualificação do atendimento.<br />

Automotor<br />

Encontro marcado no programa da TV<br />

Clube, Band. O sinal da emissora chega<br />

at<strong>é</strong> Gravatá e quem vive por lá, nos<br />

finais de semana, poderá ficar ligado<br />

na programação da Band direto do<br />

Recife. O Automotor vai ao ar às 10h.<br />

Aos domingos, veja o AutoShow Pernambuco.<br />

Grand<br />

Cherokee<br />

Ela vem por aí. Em<br />

2010, os amantes do<br />

Grand Cherokee vão<br />

conhecer detalhes<br />

do novo modelo que<br />

desembarca no Brasil<br />

completamente<br />

reestilizado. O jipão<br />

de luxo ficou mais<br />

jovem e o acerto no<br />

visual foi matador.<br />

Expansão<br />

A Pedragon, de Jos<strong>é</strong> Henrique Figueiredo,<br />

vai crescer para dois Estados e o Distrito Federal.<br />

A primeira concessionária, de grande<br />

Jorge Moraes<br />

jorgemoraes@revistaalgomais.com.br<br />

Eles quatro<br />

Nas concessionárias Honda do Recife,<br />

o quarteto Elpídio, Gilda, Maria e Cláudia<br />

domina o mercado das quatro rodas<br />

para o segmento japonês de carros de<br />

passeio. Incluindo as marcas Subaru,<br />

Toyota e Nissan. A Mitsubishi só usa<br />

4x4. O trabalho, al<strong>é</strong>m do convencional<br />

atendimento, tem o diferencial dos<br />

convênios com o Cremepe e OAB. Haja<br />

doutores...<br />

Polo automatizado<br />

Anthony Mota, gerente regional da<br />

Volkswagen, já confirma a chegada<br />

para o próximo semestre, do Polo com<br />

câmbio automatizado. A transmissão <strong>é</strong><br />

dona de uns solavancos que demoram<br />

para você se adaptar. Chevrolet Meriva<br />

e Fiat Stilo tamb<strong>é</strong>m operam com o<br />

sistema.<br />

porte, abre as portas em Manaus, at<strong>é</strong><br />

o fim do mês. No próximo ano chega a<br />

vez de Brasília e, em 2011, São Paulo.<br />

Meu carro, minha paixão<br />

Apaixonado por carros, o empresário pernambucano Carlos Melo Peixoto tem como hobby a<br />

navegação em provas de aventura. O rali e os carros 4x4 fazem parte da vida do homem/<br />

piloto. Melo, no dia-a-dia, tem na garagem <strong>um</strong> Volkswagen Beetle e <strong>um</strong> Toyota Corolla.<br />

Participe da coluna, escreva ou fale conosco sobre sua paixão sobre rodas.<br />

maio ><br />

> 55


Homenagem<br />

Prêmio com sabor<br />

pernambucano<br />

VISÃO | Enquanto empresas encolhem com o colapso financeiro<br />

mundial, outras investem para crescer em meio a tempestade<br />

Este ano, o Prêmio<br />

Quem Faz <strong>Algomais</strong><br />

Por Pernambuco<br />

vai ser comemorado<br />

com <strong>um</strong>a festa de<br />

dar água na boca.<br />

Para premiar personalidades<br />

que<br />

se destacaram no<br />

Estado nas áreas de política,<br />

com<strong>é</strong>rcio e serviços,<br />

cultura, construção civil, indústria e<br />

responsabilidade social, a revista <strong>Algomais</strong><br />

está preparando <strong>um</strong>a grande<br />

festa, no dia 7 de maio, que terá como<br />

tema a gastronomia <strong>pernambucana</strong>.<br />

Assim como já acontece com frequência<br />

em São Paulo, a revista decidiu<br />

inovar, e em vez de realizar o evento<br />

em casas tradicionais do Recife, a entrega do<br />

prêmio será na Rota Premi<strong>um</strong>, concessionária<br />

das marcas Volvo e Land Rover, em Boa Viagem.<br />

“Nós temos interesse em fazer parcerias<br />

que agreguem, com empresas que trabalhem<br />

com o mesmo público que nós, como <strong>é</strong> o caso<br />

da revista <strong>Algomais</strong>,” ressalta a diretora de<br />

marketing da Rota Premi<strong>um</strong>, Paula Queiroz, e<br />

destaca que o local já abrigou outros eventos<br />

da cidade.<br />

Neste ano, o processo de votação foi dividido<br />

em duas etapas. Na primeira, os leitores da<br />

revista indicaram por e-mail o nome de pessoas<br />

e empresas que se sobressaíram no último<br />

ano. Na segunda etapa, o Conselho Editorial da<br />

<strong>Algomais</strong>, analisou criteriosamente os 152 nomes<br />

sugeridos na pesquisa, escolhendo os destaques<br />

nas seis categorias acima mencionadas.<br />

56 > > maio<br />

Em <strong>é</strong>poca de crise internacional, reconhecer<br />

personalidades que<br />

conseguem se sobressair<br />

em <strong>um</strong> cenário de adversidade<br />

ganha ainda<br />

mais importância. Os<br />

vencedores do prêmio<br />

“O prêmio Quem faz <strong>Algomais</strong> por Pernambuco<br />

este ano são Antônio Queiroz<br />

Galvão (construção civil),<br />

Conceição Moura (responsabilidade<br />

social), Eduardo Campos (política), João Carlos<br />

Paes Mendonça (com<strong>é</strong>rcio/serviços), Naná<br />

Vasconcelos (cultura) e Raymundo da Fonte<br />

(indústria).<br />

Apostando na id<strong>é</strong>ia de incentivar quem faz<br />

a diferença em Pernambuco, estão como patrocinadores<br />

do evento a Nordeste Segurança<br />

de Valores, que pelo terceiro ano consecutivo<br />

apoia essa iniciativa, a Asa Indústria e Com<strong>é</strong>rcio<br />

(fabricante dos produtos Palmeiron, Bemte-<br />

<strong>é</strong> <strong>um</strong>a oportunidade para a revista se relacionar vi, Invicto e Vitamilho) e o Banco Gerador. “Este<br />

com a comunidade <strong>pernambucana</strong> e aproveitar <strong>é</strong> o terceiro ano que patrocinamos o prêmio<br />

para ratificar os seus compromissos com a de- Quem faz algo mais por Pernambuco, evento de<br />

fesa do Estado e da sua gente,” explica o dire- grande destaque no Estado. Com essa parceria,<br />

tor da revista, S<strong>é</strong>rgio Moury Fernandes.<br />

al<strong>é</strong>m de reforçar o compromisso da empresa<br />

Como nas edições anteriores, o desenho com a valorização do nosso Estado, consegui-<br />

do trof<strong>é</strong>u entregue aos homenageados, será mos agregar valor à nossa marca”, explica a ge-<br />

de autoria da renomada designer de jóias, Clerente de marketing do grupo, Cecília Macedo.<br />

mentina Duarte, que mant<strong>é</strong>m a mesma forma O Banco Gerador, que começou a operar<br />

das outras edições, mudando apenas o mate- em Pernambuco em março deste ano, já derial.<br />

“O trof<strong>é</strong>u tem sido <strong>um</strong> <strong>sucesso</strong>, este ano monstra estar comprometido com os valores<br />

mudamos apenas o material que vai torná-lo regionais. “O Banco Gerador <strong>é</strong> <strong>um</strong> banco com<br />

mais leve. O desenho vai ser o mesmo porque foco regional, e o prêmio tem tudo a ver com o<br />

<strong>é</strong> a cara do prêmio e a cara de Pernambuco,” posicionamento do banco, de valorizar e apoiar<br />

destaca a artista plástica, que já foi agraciada as iniciativas importantes de quem trabalha<br />

com o prêmio de Melhor Desenho de Jóias, na pelo desenvolvimento do Estado,” ressaltou o<br />

XI Bienal de São Paulo. diretor executivo, Paulo Della Nora.<br />

u uu


Confira o perfil dos vencedores:<br />

ANTÔNIO QUEIROZ GALVÃO<br />

CONSTRUÇÃO CIVIL<br />

Natural de Timbaúba,<br />

Antônio<br />

Queiroz Galvão<br />

se formou na<br />

Escola de Engenharia<br />

do Recife,<br />

na d<strong>é</strong>cada de 40,<br />

e foi trabalhar na<br />

Prefeitura do Recife. Pouco depois, deixou a<br />

função pública e, com o irmão Mário, fundaram<br />

em abril de 1953 a Queiroz & Galvão<br />

Ltda. O capital inicial da empresa era <strong>um</strong>a<br />

caminhonete Chevrolet usada, <strong>um</strong> jipe 48<br />

e <strong>um</strong> Ford 49. A primeira grande obra foi o<br />

sistema de abastecimento d’água na cidade<br />

de Limoeiro. Após a expansão para outros<br />

Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, a<br />

empresa transformou-se em <strong>um</strong>a sociedade<br />

anônima, e a sede foi transferida para o Rio<br />

de Janeiro. Hoje o Grupo atua nos mais diversos<br />

segmentos da economia: concessão de<br />

serviços públicos, geração e energia, hidroel<strong>é</strong>tricas,<br />

exploração e produção de petróleo<br />

bruto e gás natural, siderurgia, produção de<br />

alimentos, finanças e engenharia ambiental.<br />

JOÃO CARLOS PAES MENDONÇA<br />

COMÉRCIO E SERVIÇOS<br />

Natural de Sergipe,<br />

João Carlos<br />

Paes Mendonça<br />

aos 20 anos associou-se<br />

ao pai<br />

na empresa Pedro<br />

Paes Mendonça e<br />

Cia. Em busca de<br />

novos desafios, veio para o Recife, em 1966,<br />

onde implantou o primeiro supermercado do<br />

Grupo. Ao longo dos anos a rede se expandiu<br />

pelo Nordeste passando a atuar nos Estados<br />

de Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do<br />

Norte, Ceará, Maranhão e Bahia. Em junho de<br />

2000, João Carlos passou o controle acionário<br />

do Bompreço para a Royal Ahold. Atualmente<br />

<strong>é</strong> presidente do Grupo JCPM, conglomerado<br />

do qual fazem parte shoppings em várias cidades<br />

brasileiras, dentre eles o Shopping Center<br />

Recife e o Salvador Shopping, na Bahia; al<strong>é</strong>m<br />

de investimentos no setor imobiliário como o<br />

empresarial JCPM Trade Center, e no setor<br />

de comunicação atrav<strong>é</strong>s do Sistema Jornal<br />

do Commercio.<br />

CONCEIÇÃO MOURA<br />

RESPONSABILIDADE SOCIAL<br />

Nascida no Recife,<br />

com formação<br />

em Química<br />

Industrial, Conceição<br />

Moura<br />

ao se casar com<br />

Edson Mororó,<br />

fundador da Baterias<br />

Moura, foi morar em Belo Jardim,<br />

Sertão do Estado. Lá, iniciou sua atividade<br />

profissional lecionando Matemática e Inglês.<br />

Quando a Moura começou a dar os primeiros<br />

sinais de crescimento, passou a trabalhar na<br />

empresa. Por 30 anos foi diretora executiva,<br />

por<strong>é</strong>m há cerca de 10 anos mudou o enfoque<br />

do trabalho e iniciou em Belo Jardim o<br />

Programa Tareco e Mariola, que visa capacitar<br />

pessoas da cidade para desenvolver <strong>um</strong><br />

artesanato que permita a geração de renda.<br />

Em seguida, o Programa foi ampliado para a<br />

Coleta Seletiva e a implantação da Qualidade<br />

Total nas escolas, que atualmente atende<br />

18 instituições, o que representa 20% da<br />

população, já que alunos, professores e pais<br />

são beneficiados.<br />

RAYMUNDO DA FONTE<br />

INDÚSTRIA<br />

Presidente e fundador do Grupo Raymundo<br />

da Fonte, iniciou suas atividades<br />

industriais em Pernambuco, em 1946,<br />

com a inauguração da fábrica do Espiral<br />

Sentinela. Na d<strong>é</strong>cada de 60 e 70, o Grupo<br />

ampliou sua atuação ingressando no<br />

ramo de produtos de limpeza de gênero<br />

alimentício. Hoje, as Indústrias Reunidas<br />

Raymundo da Fonte produzem mais de<br />

247 itens, comercializados no país inteiro.<br />

O Grupo <strong>é</strong> formado por seis empresas<br />

localizadas nos Estados de Pernambuco,<br />

Bahia, Pará e Rio de Janeiro. Dentre as<br />

marcas fabricadas, destacam-se: Brilux,<br />

Minhoto, Even, Floral, Sentinela e Pariggi.<br />

As Indústrias Reunidas Raymundo da<br />

Fonte possuem <strong>um</strong> quadro de 1.800 funcionários.<br />

Prestes a completar 90 anos,<br />

Raymundo da Fonte não abre mão do<br />

trabalho, sendo visto inclusive aos sábados<br />

no comando da sua empresa.<br />

EDUARDO CAMPOS<br />

POLÍTICA<br />

Iniciou sua carreira<br />

política no<br />

diretório acadêmico<br />

da Faculdade<br />

de Economia<br />

da UFPE, em<br />

1985. Em 1986<br />

participou da<br />

campanha vitoriosa do então governador<br />

Miguel Arraes tornando-se chefe de gabinete.<br />

Em 1990 filiou-se ao PSB, conseguindo<br />

o primeiro mandato, como deputado estadual.<br />

Chegou ao Congresso Nacional em<br />

1994, como deputado federal, ass<strong>um</strong>indo<br />

em 1995 o cargo de secretário de Governo<br />

e em 1996 a pasta da fazenda estadual. Em<br />

1998 e 2002 foi reeleito deputado federal.<br />

Em 2003 ass<strong>um</strong>iu o cargo de ministro da<br />

Ciência e Tecnologia, no qual obteve grande<br />

destaque, passando a exercer a presidência<br />

nacional do PSB em 2005, deixando-a em<br />

2006 para realizar a campanha que o levou<br />

ao Governo do Estado de Pernambuco, onde<br />

vem realizando <strong>um</strong> importante trabalho de<br />

desenvolvimento econômico e social.<br />

NANÁ VASCONCELOS<br />

CULTURA<br />

Percussionista<br />

premiado, Naná<br />

nasceu no Recife<br />

e iniciou sua<br />

carreira tocando<br />

com o pai, aos<br />

12 anos, em<br />

<strong>um</strong>a bandinha<br />

marcial. Dotado de <strong>um</strong>a curiosidade intensa,<br />

aprendeu a tocar praticamente todos os<br />

instr<strong>um</strong>entos de percussão. Especialista em<br />

berimbau, trabalhou com música no eixo Rio<br />

– São Paulo nos anos 60 e iniciou <strong>um</strong>a bemsucedida<br />

carreira internacional, tocando<br />

em vários continentes. Participou da trilha<br />

sonora de diversos filmes, destacando-se<br />

“Procura-se Susan Desesperadamente”,<br />

estrelado por Madonna e “Down by Law”.<br />

Naná tocou com: Milton Nascimento, Geraldo<br />

Azevedo, Miles Davis, B.B. King, Paul Simon,<br />

Marisa Monte, entre muitos outros. O<br />

músico destaca-se tamb<strong>é</strong>m por sua intensa<br />

participação em trabalhos sociais envolvendo<br />

crianças e música. n<br />

maio ><br />

> 57


Capa<br />

<strong>Gastronomia</strong><br />

<strong>pernambucana</strong>:<br />

evolução com tradição<br />

IDENTIDADE | A culinária de Pernambuco, que recebeu influência das<br />

culturas indígena, portuguesa e africana, evolui sem perder a origem<br />

Por Carol Bradley<br />

Em <strong>um</strong> mundo globalizado, com a disseminação<br />

dos fast food estrangeiros, a valorização<br />

da culinária regional <strong>é</strong> <strong>um</strong> movimento cada vez<br />

mais perceptível, como <strong>um</strong>a das formas de resistência<br />

da identidade cultural. Carne de sol,<br />

queijo de coalho, cartola e tapioca, são alguns<br />

dos itens, que já fazem parte dos cardápios de<br />

restaurantes sofisticados e hot<strong>é</strong>is estrelados do<br />

Estado. Chefs de cozinha utilizam ingredientes<br />

da terra, como as frutas tropicais, e mesclam,<br />

por exemplo, com frutos do mar; o resultado <strong>é</strong><br />

<strong>um</strong>a comida com a cara e o gosto de Pernambuco.<br />

A culinária regional – para a qual muitos<br />

já torceram o nariz - hoje <strong>é</strong> servida e degustada<br />

com orgulho, e cada vez mais ganha novos<br />

adeptos.<br />

Segundo a pesquisadora Maria Lectícia<br />

Cavalcanti, o pernambucano está vivendo <strong>um</strong><br />

processo de preservação da sua identidade.<br />

“Hoje nós temos grandes chefs em Pernambuco,<br />

todos têm muita preocupação em preservar<br />

os ingredientes da terra, e a partir deles fazer<br />

<strong>um</strong>a releitura, <strong>um</strong>a leitura mais moderna de<br />

alguns pratos, por<strong>é</strong>m na base, estão mantidas<br />

as nossas receitas tradicionais. A gastronomia<br />

<strong>pernambucana</strong> tem evoluído, mas muito preocupada<br />

em não perder a origem, o referencial.<br />

Em todos os lugares, mesmo nos restaurantes<br />

mais contemporâneos, eles mantêm as receitas;<br />

todo mundo serve cartola como <strong>é</strong> feita na<br />

forma original. De repente, virou moda valorizar<br />

as coisas da terra.”<br />

58 > > maio<br />

O restaurante Mingus, especializado na<br />

culinária contemporânea, oferece no seu<br />

cardápio, pratos regionais. “A culinária contemporânea<br />

normalmente tem que ter <strong>um</strong>a<br />

base francesa, e nessa base se acrescenta<br />

ingredientes da culinária regional, nacional<br />

ou internacional. Eu tenho pratos com base<br />

francesa e ingredientes locais, como, por<br />

exemplo, o steak de carne de sol, com feijão<br />

verde, farofa de jerim<strong>um</strong> e manteiga de ervas<br />

com sementes de coentro. Para sobremesa,<br />

o bolo de rolo e o sorvete de tapioca. Particularmente,<br />

eu acho a comida nordestina fa-<br />

n Segundo Maria Lectícia, a gastronomia <strong>pernambucana</strong><br />

tem evoluído sem perder o referencial<br />

bulosa,” explica o proprietário do restaurante,<br />

Nicolau Sultan<strong>um</strong>.<br />

Na opinião de Sultan<strong>um</strong>, a gastronomia<br />

<strong>pernambucana</strong> está à frente dos outros Estados<br />

do Nordeste. “Salvador tem bons restaurantes,<br />

mas o soteropolitano por ter <strong>um</strong>a cultura gastronômica<br />

com <strong>um</strong>a tipicidade muito importante,<br />

caracterizada principalmente pela pimenta e<br />

pelo dendê, talvez seja mais conservador para<br />

novos sabores. O pernambucano já não <strong>é</strong> tão<br />

conservador, mistura mais, está mais aberto a<br />

novos temperos. Pernambuco tem <strong>um</strong>a história<br />

muito forte de ser <strong>um</strong> Estado contestador, de revoluções,<br />

de intelectuais,<br />

então são pessoas normalmente<br />

mais abertas.”<br />

O chef de cozinha<br />

C<strong>é</strong>sar Santos, dono do<br />

Oficina do Sabor, decidiu<br />

investir na regionalização<br />

da culinária, e<br />

há 17 anos apostou na<br />

mistura das frutas para<br />

conseguir receitas mais<br />

originais. “Eu estava<br />

querendo valorizar os<br />

ingredientes da região,<br />

e as nossas frutas, tão<br />

saborosas, só eram<br />

usadas na sobremesa,<br />

em doces, ou sucos.<br />

Então comecei a usá-las<br />

nos pratos, misturando<br />

com frutos de mar; no


n Para Nicolau, a gastronomia <strong>pernambucana</strong><br />

está à frente dos outros Estados do Nordeste<br />

começo as pessoas achavam exótica a mistura<br />

do doce com salgado, porque os sabores<br />

eram conhecidos, mas não havia essa junção.<br />

Hoje, eu uso nas receitas muita manga, pitanga,<br />

maracujá, abacaxi, leite de coco; o prato mais<br />

pedido <strong>é</strong> o jerim<strong>um</strong> recheado com camarão e<br />

creme de manga,” destaca Santos.<br />

Por<strong>é</strong>m, al<strong>é</strong>m dos restaurantes mais conhecidos,<br />

Pernambuco tamb<strong>é</strong>m tem recantos onde<br />

os ingredientes tradicionais vêm ganhando <strong>um</strong>a<br />

nova leitura. É o caso da cozinha da Fazenda<br />

Mamucabinha, no Litoral Sul, comandada pela<br />

artista plástica Lúcia Bradley, que recebe grupos<br />

seletos para degustar os pratos regionais. Dentre<br />

as suas criações, destacam-se a manteiga<br />

de maracujá, servida na entrada para acompanhar<br />

o pão feito na própria cozinha da fazenda; a<br />

moqueca de frutos do mar com caju, elaborada<br />

com peixe, camarão, o suco e o bagaço do caju,<br />

assim como as bebidas, que tamb<strong>é</strong>m ganham<br />

<strong>um</strong> toque original, como a caipirinha de gengibre<br />

e de manjericão. “Eu trabalho muito com contrastes,<br />

quando a gente cozinha e gosta começa<br />

a descobrir novos sabores,” explica Lúcia.<br />

Para os especialistas, o paladar do pernambucano<br />

vem evoluindo. “Antigamente o pernambucano<br />

usava exageradamente o cominho<br />

e o colorau. Atualmente já não <strong>é</strong> mais assim,”<br />

destaca Santos. “Hoje a pessoa não quer mudar<br />

tanto o prato. Não que isso seja <strong>um</strong> problema,<br />

mas <strong>é</strong> <strong>um</strong>a situação que <strong>é</strong> melhor evitar, porque<br />

quando <strong>um</strong> chef ou <strong>um</strong> cozinheiro elabora <strong>um</strong><br />

prato, pensa em harmonizar os ingredientes: se<br />

tem <strong>um</strong>a acidez, bota <strong>um</strong> doce para dar <strong>um</strong>a<br />

quebrada, se tem muita gordura,<br />

bota <strong>um</strong>a acidez, então tem todo<br />

<strong>um</strong> pensamento por trás,” ressalta<br />

Nicolau Sultan<strong>um</strong>.<br />

A gastronomia faz parte da<br />

identidade cultural de <strong>um</strong> povo,<br />

pois atrav<strong>é</strong>s das comidas típicas<br />

cada lugar ganha <strong>um</strong>a expressão<br />

própria. “Normalmente essa culinária<br />

<strong>é</strong> o reflexo, <strong>é</strong> o rosto de quem<br />

mora no lugar. Eu acho que a culinária<br />

<strong>pernambucana</strong> consegue ser<br />

simples, mas ao mesmo tempo<br />

rebuscada, já que temos pratos<br />

bastante complicados; ela <strong>é</strong> simples,<br />

mas ao mesmo tempo muito<br />

generosa, <strong>um</strong> exemplo <strong>é</strong> o nosso<br />

cozido. O pernambucano gosta<br />

de receber, com mesa farta. Em<br />

qualquer lugar, por mais simples<br />

que seja, existe <strong>um</strong>a flor em cima<br />

da mesa, às vezes n<strong>um</strong>a latinha de<br />

leite vazia, mas demonstra o prazer que existe<br />

que algu<strong>é</strong>m venha comer na sua casa. Isso <strong>é</strong><br />

<strong>um</strong>a característica bem nossa,” explica Lectícia<br />

Cavalcanti.<br />

A manutenção dos valores culinários do<br />

Nordeste foi <strong>um</strong> dos temas tratados por Gilberto<br />

Freyre durante o Primeiro Congresso Brasileiro<br />

de Regionalismo, sediado no Recife, em 1926:<br />

“Estou inteiramente dentro de <strong>um</strong> dos assuntos<br />

que devem ser versados neste Congresso: os<br />

valores culinários do Nordeste. A significação<br />

social e cultural desses valores. A importância<br />

deles: quer dos quitutes finos, quer dos populares.<br />

A necessidade de serem todos defendidos<br />

pela gente do Nordeste contra a crescente descaracterização<br />

da cozinha regional. A verdade<br />

<strong>é</strong> que não só de espírito vive o homem: vive<br />

Alexandre Albuquerque<br />

tamb<strong>é</strong>m de pão - inclusive do pão-de-ló, do pãodoce,<br />

do bolo que <strong>é</strong> ainda pão.” No manifesto<br />

regionalista, demonstrava sua preocupação:<br />

“Não <strong>é</strong> só o arroz doce: todos os pratos tradicionais<br />

e regionais do Nordeste estão sob a ameaça<br />

de desaparecer, vencidos pelos estrangeiros<br />

e pelos do Rio”.<br />

Atualmente, percebe-se que apesar da forte<br />

influência da culinária estrangeira, a gastronomia<br />

regional tem seu espaço de resistência.<br />

“Existe o fast food estrangeiro que chega aqui<br />

e tende a ter gosto de nada, porque <strong>é</strong> em cima<br />

do gosto de nada que ele vende no mundo todo.<br />

Por<strong>é</strong>m, o conceito de fast food <strong>é</strong> o de comida<br />

rápida, e a gente tem aqui a nossa comida que<br />

você escolhe e leva - os mercados estão prontos<br />

para isso. Tem os bolinhos, os docinhos, os<br />

sanduíches e tamb<strong>é</strong>m a comida mais pesada:<br />

<strong>um</strong>a buchada, a dobradinha. O conceito de fast<br />

food <strong>é</strong> o mesmo, a diferença <strong>é</strong> a origem, a nossa<br />

busca ser identitária,” ressalta Gilberto Freyre<br />

Neto, coordenador de projetos da Fundação<br />

Gilberto Freyre.<br />

Para ele, as comidas regionais normalmente<br />

estão mais preservadas nos lugares mais simples.<br />

“No mercado, no boteco, estão espalhadas<br />

principalmente nas regiões mais h<strong>um</strong>ildes, onde<br />

as pessoas ficam mais protegidas das influências<br />

externas ao seu hábito de produzir, continuam<br />

aprendendo a fazer comida da melhor forma: de<br />

pai para filho, de mãe para filha, trazem essa cultura<br />

há várias gerações. O Buraquinho, no Pátio de<br />

São Pedro, tem <strong>um</strong>a culinária regionalíssima, com<br />

comidas que são a cara de Pernambuco: fritadas,<br />

buchadas, dobradinhas, comidas que muitas vezes<br />

são relacionadas ao comer muito, ou comer<br />

mal porque tem gordura, mas na medida certa,<br />

representam a nossa identidade.”<br />

Nos mercados públicos, diversas gerações<br />

n Restaurantes como “O Buraquinho” são especialistas na culinária regional<br />

u uu<br />

maio ><br />

> 59


Capa<br />

se encontram para vivenciar o ambiente e a<br />

gastronomia mais regional. “Eu gosto bastante<br />

das comidas, principalmente o bode<br />

guisado, o bolinho de bacalhau e o arroz de<br />

polvo, mas al<strong>é</strong>m das comidas típicas, tem<br />

a própria cultura em si. No mercado eu me<br />

sinto em casa, porque o ambiente tem a cara<br />

de Pernambuco,” diz o auditor Tiago Gomes,<br />

que todo sábado ou domingo pela manhã se<br />

reúne com <strong>um</strong> grupo de amigos no Mercado<br />

da Encruzilhada.<br />

Para Gilberto Freyre Neto, os mercados<br />

públicos fortalecem a relação do público mais<br />

jovem com a cultura <strong>pernambucana</strong>, já que<br />

muitas pessoas abaixo dos 30 anos freqüentam<br />

esses espaços. “Fortalece essa relação<br />

com a nossa comida, pois você senta, pega<br />

<strong>um</strong> prato, <strong>é</strong> bem servido, toma sua cerveja<br />

gelada, a cachacinha, brinca com os amigos,<br />

interage, mexe com todas as sensações e<br />

com as características daquela região. Você<br />

se relaciona bem, come bem e induz a <strong>um</strong> tipo<br />

de relacionamento pessoal que <strong>é</strong> a cara de<br />

Pernambuco.”<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Mercados públicos são opção para<br />

apreciar a gastronomia <strong>pernambucana</strong><br />

60 > > maio<br />

Influências da culinária<br />

<strong>pernambucana</strong><br />

A culinária <strong>pernambucana</strong>, assim como a<br />

brasileira de maneira geral, teve <strong>um</strong>a forte influência<br />

de três culturas: portuguesa, indígena<br />

e africana. Por<strong>é</strong>m, Pernambuco se difere de outros<br />

Estados por ter mesclado essas influências<br />

de <strong>um</strong>a forma mais harmônica. “Ela <strong>é</strong> diferente<br />

da culinária dos Estados do Norte, onde há <strong>um</strong><br />

predomínio da influência indígena, e tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong><br />

diferente da Bahia e seus arredores, onde há <strong>um</strong><br />

predomínio da influência africana,” destaca Lectícia<br />

Cavalcanti.<br />

Essa diferença tem <strong>um</strong>a explicação histórica:<br />

na Bahia as cozinhas eram entregues às africanas<br />

e elas comandavam aquele espaço – daí a questão<br />

do dendê e da pimenta at<strong>é</strong> hoje predominar<br />

- em Pernambuco eram as senhoras portuguesas<br />

que dominavam a cozinha dos engenhos, e as escravas<br />

africanas eram suas colaboradoras, o que<br />

possibilitou <strong>um</strong>a mistura maior das influências.<br />

Observando os índios, as portuguesas aprenderam<br />

a adaptar seu modelo de cozinha às particularidades<br />

de <strong>um</strong>a região tropical.<br />

“As senhoras portuguesas chegam a Pernambuco<br />

trazendo as suas cozinhas, inteiramente<br />

como usavam em Portugal, com chamin<strong>é</strong>s<br />

francesas, cachos de cobre, formas de bolo,<br />

e aqui começaram a fazer adaptações. As chamin<strong>é</strong>s<br />

francesas que vieram nas primeiras embarcações<br />

tiveram que ser abolidas porque não<br />

funcionavam no nosso clima tropical. Os portugueses<br />

começaram a observar como os índios<br />

cozinhavam e perceberam que normalmente<br />

era em <strong>um</strong> lugar longe do espaço onde dormiam<br />

e que ficavam. Os colonizadores, então,<br />

colocaram as cozinhas fora da casa, debaixo de<br />

<strong>um</strong> puxado. Nesses espaços, a índia começou a<br />

conviver com a escrava africana e com a senhora<br />

portuguesa. Foi dessa mistura de utensílios,<br />

ingredientes e receitas que foi nascendo a culinária<br />

<strong>pernambucana</strong>,” destaca Lectícia.<br />

De fato, ingredientes que nativos usavam<br />

como, por exemplo, a mandioca, o milho, a batata<br />

doce, a castanha de caju e todas as frutas<br />

tropicais: abacaxi, abacate, caju, goiaba, banana<br />

da terra, passaram a se misturar com os ingredientes<br />

que os portugueses trouxeram como o<br />

cravo, a canela, o gengibre, a nós moscada e<br />

o próprio açúcar. Al<strong>é</strong>m de frutas inteiramente<br />

novas como a laranja, o limão, a uva e a maçã<br />

n Bolo Souza Leão: receita<br />

tipicamente <strong>pernambucana</strong><br />

que começaram a se misturar tamb<strong>é</strong>m com os<br />

ingredientes que as escravas trouxeram como o<br />

coco, sobretudo o leite de coco, a melancia e a<br />

banana de vários tipos. A tapioca de coco <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />

registro forte dessas três culturas porque leva<br />

a massa de mandioca do índio; o sal, açúcar e<br />

canela, dos portugueses e o coco e o leite de<br />

coco, influências africanas.<br />

Apesar dessa mistura, alg<strong>um</strong>as receitas as<br />

senhoras reproduziam exatamente como eram<br />

feitas em Portugal: o sarapatel <strong>é</strong> preparado<br />

exatamente como os portugueses ensinaram.<br />

Outras foram adaptadas, como o pastel de nata,<br />

cujo recheio foi mantido, apenas substituída, a<br />

nata pelo leite, e a massa aqui não <strong>é</strong> tão folheada.<br />

Alg<strong>um</strong>as receitas, por<strong>é</strong>m, são inteiramente<br />

<strong>pernambucana</strong>s, como o bolo Souza Leão, que<br />

leva esse nome porque foi criação da senhora<br />

Rita de Cássia Souza Leão, dona do engenho<br />

São Bartolomeu. Ela decidiu não usar mais nenh<strong>um</strong><br />

ingrediente que viesse de Portugal, então<br />

substituiu a farinha de trigo – na <strong>é</strong>poca chamada<br />

farinha do reino porque vinha de Portugal - pela<br />

massa da mandioca; a manteiga francesa, por<br />

<strong>um</strong>a feita no próprio engenho, e acrescentou<br />

vários ovos. Hoje, o Bolo Souza Leão, <strong>é</strong> considerado<br />

patrimônio imaterial de Pernambuco, assim<br />

como, o bolo de rolo e a tapioca.


Açúcar comemora 70 anos<br />

O livro Açúcar, de Gilberto Freyre, comemora<br />

este ano 70 anos. Em <strong>um</strong>a <strong>é</strong>poca que<br />

cozinha era considerada “lugar de mulher” e<br />

culinária <strong>um</strong> assunto feminino, de menor importância,<br />

o escritor pernambucano publicou<br />

<strong>um</strong>a obra sobre a influência do açúcar na<br />

cultura e gastronomia local. Al<strong>é</strong>m da teoria, o<br />

livro abordava a prática culinária com receitas<br />

de doces e bolos tradicionais, e at<strong>é</strong> formas e<br />

pap<strong>é</strong>is de seda utilizados para decorá-los.<br />

Em 1939, quando o livro foi publicado, a<br />

sociedade <strong>pernambucana</strong> era absolutamente<br />

fechada, patriarcal e não se compreendia<br />

como <strong>um</strong> intelectual do porte de Gilberto<br />

Freyre perdia seu tempo com assuntos irrelevantes.<br />

“Ele tinha absoluta consciência de<br />

que era importante escrever aquela parte da<br />

nossa história. Muitas receitas eram passadas<br />

oralmente, porque as mulheres não sabiam<br />

escrever, e elas faziam absoluta questão<br />

de preservá-las. Existia <strong>um</strong>a “máfia” em<br />

cada engenho para não divulgar a receita,<br />

era <strong>um</strong> segredo guardado a sete chaves.<br />

Eu acho que ele foi fundamental para que a<br />

gente preservasse e valorizasse todas essas<br />

receitas,” explica Lectícia Cavalcanti.<br />

Gilberto Freyre Neto cita o pioneirismo<br />

como <strong>um</strong>a característica importante da obra<br />

do avô. “O Açúcar <strong>é</strong> <strong>um</strong> livro emblemático,<br />

ele nasce em <strong>um</strong>a perspectiva de Gilberto<br />

Freyre de lançar temas transversais dentro<br />

dessa análise da sociedade brasileira que<br />

começou a fazer com Casa Grande e Senzala.<br />

Açúcar <strong>é</strong> <strong>um</strong> dos primeiros estudos antropológicos<br />

que coloca a culinária brasileira,<br />

<strong>pernambucana</strong>, em discussão. Ele cria <strong>um</strong>a<br />

grande janela do tempo que gera subsídios<br />

para que as próximas gerações tenham referência<br />

do que se comia, de como se fazia,<br />

quais ingredientes se utilizavam, dentro daquele<br />

momento em que Gilberto congela na<br />

sua publicação.”<br />

Para comemorar os 70 anos do livro Açúcar<br />

- que mesmo após alg<strong>um</strong>as reedições<br />

mant<strong>é</strong>m as características da obra original -<br />

a Fundação Gilberto Freyre, está planejando<br />

para setembro a realização de <strong>um</strong> seminário<br />

ou congresso, onde haja <strong>um</strong>a interação<br />

entre o mundo acadêmico da gastronomia<br />

<strong>pernambucana</strong> e seu lado prático, com os<br />

chefs e cozinheiros, participando de palestras,<br />

debates al<strong>é</strong>m de concursos de culi-<br />

Alexandre Albuquerque<br />

nária. Em paralelo, está sendo editado em<br />

parceria com o Sebrae o livro “História dos<br />

Sabores Pernambucanos”, de Maria Lectícia<br />

Cavalcanti, que <strong>é</strong> <strong>um</strong> tratado da culinária<br />

<strong>pernambucana</strong>, que aborda a origem dos<br />

n Os 70 anos<br />

de Açúcar serão<br />

comemorados pela<br />

Fundação Gilberto<br />

Freyre com <strong>um</strong><br />

evento reunindo<br />

acadêmicos da<br />

gastronomia,<br />

chefs de cozinha e<br />

cozinheiros<br />

“Nas terras de cana do Brasil essas<br />

tradições ganharam sabores tão<br />

novos, misturando-se com as frutas<br />

dos índios e com os quitutes dos<br />

negros, que tomaram <strong>um</strong>a expressão<br />

verdadeiramente brasileira. Não há arte<br />

mais autenticamente brasileira que a<br />

do doce e a do bolo dos engenhos do<br />

Nordeste e do extremo Norte.”<br />

Frase de Gilberto Freyre, do livro Açúcar<br />

temperos e alimentos, as influências das<br />

três culturas e muitas receitas. “Se Açúcar<br />

lança mão do tema, Maria Lectícia vai criar<br />

<strong>um</strong> novo patamar de discussão atrav<strong>é</strong>s desse<br />

livro,” destaca Gilberto Freyre Neto.<br />

maio ><br />

> 61


<strong>Gastronomia</strong><br />

Tempero para<br />

entrega de prêmio<br />

ASCENSÃO |Crescimento do prestígio da culinária <strong>pernambucana</strong><br />

atrai a atenção dos principais chefs de cozinha do País<br />

Por Patrícia Raposo<br />

Para a entrega do prêmio Quem faz <strong>Algomais</strong><br />

por Pernambuco a revista sempre<br />

elege <strong>um</strong> tema que dá o tom à festa de premiação.<br />

Este ano, a escolha recai sobre a<br />

<strong>Gastronomia</strong> e se justifica porque este <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />

segmento que vem crescendo n<strong>um</strong>a m<strong>é</strong>dia<br />

de 12% ao ano no Estado, segundo a Associação<br />

Brasileira dos Bares e Restaurantes<br />

(Abrasel), fazendo Pernambuco despontar a<br />

olhos vistos no cenário brasileiro e figurar no<br />

terceiro lugar do ranking nacional. O Estado<br />

ameaça o Rio de Janeiro e há quem acredite<br />

que já lhe roubou a segunda posição.<br />

Esse crescimento tem feito com que o<br />

olhar dos principais chefs do País se volte<br />

para o Estado. Eles querem saber o que<br />

anda se fazendo por aqui, querem entender<br />

esse fenômeno, pesquisam ingredientes e<br />

trocam experiências. Al<strong>é</strong>m disso, o boom<br />

da culinária tem promovido <strong>um</strong> novo tipo<br />

de turismo e estimulado novos negócios,<br />

desde a criação de cursos universitários e<br />

t<strong>é</strong>cnicos, eventos e festivais, a abertura de<br />

estabelecimentos, sejam eles restaurantes,<br />

cafeterias, pâtisserie, bares ou lojas especializadas<br />

em bebidas.<br />

Levando em conta esse bom momento,<br />

n<strong>um</strong>a ação planejada pela <strong>Revista</strong> <strong>Algomais</strong><br />

e Duxi Promo, convidamos 16 chefs<br />

que atuam no Estado para que eles indicassem,<br />

por livre escolha, o prato da culinária<br />

local que melhor representa Pernambuco.<br />

Na noite de premiação esses chefs estarão<br />

representando <strong>um</strong> conjunto muito maior de<br />

profissionais ligados à arte da culinária que,<br />

por vários motivos, não figuram aqui, mas<br />

que merecem igualmente nossa admiração.<br />

62 > > maio<br />

As indicações foram bem variadas e<br />

alguns chegaram a votar em at<strong>é</strong> três pratos,<br />

reflexo da riqueza gastronômica local.<br />

Escolhemos o mais citado. E o Bolo do Rolo<br />

Alexandre<br />

Faeirstein,<br />

39 anos, 12<br />

de experiência<br />

na área, <strong>é</strong><br />

autoditada.<br />

Esta à frente<br />

do Restaurante<br />

Kojima. Seu voto:<br />

cozido.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Andr<strong>é</strong> Saburó,<br />

32 anos, 17 de<br />

experiência na<br />

área. É autoditada.<br />

Está à frente do<br />

restaurante Quina<br />

do Futuro. Seu<br />

voto: bode guisado,<br />

agulha branca e<br />

bolo de rolo.<br />

Rafaela<br />

Suassuna, 25<br />

anos, 5 anos<br />

de experiência.<br />

É formada<br />

pela Cousine<br />

Internacional<br />

e pelo Centro<br />

Europeu - Escola<br />

de Profissões em<br />

Curitiba (PR). Está<br />

à frente da cozinha do Buffet Porto Fino.<br />

Seu voto: carne de sol.<br />

<strong>é</strong>, na opinião da maioria ouvida por esta<br />

edição, o que melhor representa Pernambuco.<br />

Confira agora quem são os chefs e<br />

suas escolhas:<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Domingos<br />

Farias, 43 anos,<br />

30 de experiência<br />

na área. É<br />

autodidata.<br />

Está à frente<br />

do restaurante<br />

Domingos (Porto de<br />

Galinhas). Seu voto:<br />

bode na brasa.<br />

Claudemir<br />

Barros, 33 anos,<br />

15 de experiência<br />

na área. Fez curso<br />

de Cozinha pelo<br />

Senac-PE. Está à<br />

frente da cozinha<br />

do Wiella Bistrot.<br />

Seu voto: carne<br />

de sol.<br />

Alexandre Albuquerque Alexandre Albuquerque<br />

Alexandre Albuquerque Alexandre Albuquerque<br />

Thiago Freitas,<br />

25 anos, 8 de<br />

experiência.<br />

Formado pela<br />

UFRPE em<br />

<strong>Gastronomia</strong><br />

e Segurança<br />

Alimentar e com<br />

curso t<strong>é</strong>cnico<br />

em pâtisserie na<br />

Mausi Sebbes,<br />

Argentina. Está à frente da cozinha do<br />

restaurante Verdicchio. Seu voto: cartola.


Alexandre Albuquerque<br />

Joca Pontes,<br />

33 anos, oito de<br />

experiência. Formado<br />

pela Escola Superior<br />

de Cozinha de Paris.<br />

Está à frente dos<br />

restaurantes Villa,<br />

Ponte Nova e<br />

creperia La Plage.<br />

Seu voto: tapioca e<br />

peixada.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Duca Lapenda,<br />

43 anos, 10 de<br />

experiência.<br />

É autodidata.<br />

Esta à frente<br />

do restaurante<br />

Pomodoro Caf<strong>é</strong>.<br />

Seu voto: bolo<br />

souza leão e bolo<br />

de rolo.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Hugo Prouvot,<br />

31 anos, 11 de<br />

experiência. Formado<br />

em <strong>Gastronomia</strong> pelo<br />

Senac de Águas de<br />

São Pedro. Está à<br />

frente da cozinha do<br />

Bistrot Club du Vin. Seu<br />

voto: galinha cabidela,<br />

peixada <strong>pernambucana</strong>,<br />

fritada de aratu.<br />

O bolo de rolo, prato da culinária local<br />

mais citado pelos chefs nesta edição, e<br />

promovido a Patrimônio Cultural e Imaterial<br />

de Pernambuco, em 2008, <strong>é</strong> <strong>um</strong>a adaptação<br />

do bolo português “colchão de noiva”.<br />

O seu preparo requer vários cuidados. A<br />

massa, por exemplo, feita com farinha de<br />

trigo, ovos, açúcar e manteiga, deve ser<br />

depositada em forma untada e distribuída<br />

com espátula para que a camada fique<br />

bem fina e uniforme.<br />

Não pode assar mais que cinco minutos<br />

para que a massa não quebre quando<br />

for enrolada com o doce de goiaba. Ao sair<br />

Ivalmir Barbosa,<br />

57 anos, 37 de<br />

experiência. Fez<br />

curso de Hotelaria<br />

pelo Senac Águas<br />

de São Pedro (SP).<br />

É professor do<br />

Senac-PE e consultor.<br />

Seu voto:<br />

cabrito de panela.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Do colchão de noiva<br />

ao bolo de rolo<br />

Uilton Gama,<br />

37 anos,<br />

20 de<br />

experiência.<br />

Autodidata.<br />

Está à frente<br />

da cozinha da<br />

pâtisserie<br />

Chez Weit.<br />

Seu voto:<br />

bolo de rolo.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Masayoshi<br />

Mats<strong>um</strong>oto,<br />

62 anos, 43 de<br />

experiência.<br />

É autodidata.<br />

Está à frente do<br />

restaurante Sushi<br />

Yoshi. Seu voto:<br />

agulha branca,<br />

arr<strong>um</strong>adinho e<br />

tapioca.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Alexandre Albuquerque<br />

do forno, deve ser depositada sobre <strong>um</strong><br />

pano polvilhado com açúcar. O doce em<br />

calda tem que ser espalhado sobre a massa<br />

ainda quente.<br />

A adaptação do bolo ocorreu no período<br />

colonial por pura carência de ingredientes<br />

- o original era recheado com creme de<br />

amêndoas. O bolo de rolo como o conhecemos<br />

hoje se espalhou pelo Nordeste, mas<br />

o de Pernambuco <strong>é</strong> considerado especial<br />

pelas finas e delicadas fatias e o da Casa<br />

dos Frios se consagrou como o melhor.<br />

Izabel Dias,<br />

48 anos, 37 de<br />

experiência. É<br />

autodidata, mas<br />

fez cursos de<br />

especialização<br />

na Alemanha<br />

(Pastelaria) e em<br />

Portugal de Culinária<br />

Portuguesa. Está à<br />

frente da cozinha<br />

da Casa dos Frios. Seu voto: bolo de rolo.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

Meiga Von<br />

Liebig, 42 anos,<br />

18 de experiência.<br />

É formada em<br />

restaurateur<br />

pelo Institut<br />

de Formation<br />

Permanente<br />

pour lês Classes<br />

Moyennes et<br />

Lês Petites et<br />

Moyennes entreprises - Crepac, B<strong>é</strong>lgica.<br />

Está à frente do bistrot Château Brillant.<br />

Seu voto: macaxeira com carne de sol.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

C<strong>é</strong>sar Santos,<br />

43 anos, 20<br />

de experiência.<br />

Formado pelo Senac-<br />

PE em diversos<br />

cursos ligados à<br />

<strong>Gastronomia</strong>. Está à<br />

Frente da Oficina do<br />

Sabor, <strong>é</strong> presidente<br />

da Associação da<br />

Boa Lembrança,<br />

coordenador do Festival Gastronômico de<br />

Pernambuco, dá consultoria e dirige a Escola<br />

Oficina do Chef. Seu voto: bolo de rolo.<br />

Andr<strong>é</strong> Falcão,<br />

30 anos, seis anos<br />

de experiência<br />

na área. Tem<br />

formação em<br />

<strong>Gastronomia</strong><br />

pela Harrysburg<br />

Community<br />

College (EUA) e<br />

especialização em<br />

chefe de cozinha<br />

internacional pelo Senac de Águas de São<br />

Pedro (SP). Atualmente <strong>é</strong> consultor. Seu<br />

voto: bolo de rolo.<br />

maio ><br />

> 63


64 > > maio<br />

<strong>Gastronomia</strong><br />

Vinhos de butique e<br />

outros de al<strong>é</strong>m-mar<br />

vinícola gaúcha Lídio Carraro, que pro-<br />

A duz os chamados vinhos de butique<br />

ou garage, como se diz na França, acaba<br />

de aportar aqui atrav<strong>é</strong>s do Club du Vin. De<br />

Portugal chegam tamb<strong>é</strong>m os rótulos alantejanos<br />

da Herdade da Malhadinha Nova, à<br />

venda na Casa dos Frios.<br />

Os vinhos de butique são aqueles<br />

com produção limitada e mecanismos de<br />

elaboração quase artesanais. E os da Lídio<br />

Carraro não passam por processos de mecanização,<br />

nem são curtidos em barricas.<br />

O enólogo Juliano Carraro, filho do patriarca<br />

Lídio e diretor comercial da vinícola, lembra<br />

que “a verdade do vinho está na uva”. A<br />

busca dessa “essência” se dá com constantes<br />

pesquisas científicas para extrair o<br />

melhor dos vinhedos. Explora-se ao máximo<br />

o que o solo e a<br />

uva podem dar. E se<br />

as videiras não têm<br />

<strong>um</strong> bom ano, a vinícola<br />

não produz vinho,<br />

como aconteceu em<br />

2003. As interferências<br />

são as menores<br />

possíveis. E o resultado<br />

surpreendente.<br />

A produção da<br />

linha Lídio Carraro gira<br />

em 60 mil garrafas<br />

ano, e do segundo<br />

Correção<br />

Ao contrário do que disse na edição<br />

passada o restaurante Michelli não se<br />

desfez de sua mesa de frios. Na verdade,<br />

ela passou por reformulação e está bem<br />

mais tentadora. Fone: (81) 3464.6577.<br />

portfólio, a linha SulBrasil, 120 mil. Os preços variam<br />

de R$ 123,00 (o top Quor<strong>um</strong> Lídio Carraro<br />

2005, que figurou entre os 50 melhores vinhos<br />

do mundo, por indicação do jornal francês Le Figaro)<br />

a R$ 33,00 (Cabernet/Merlot Reserva da<br />

Serra 2005, vinho de intenso frescor e personalidade<br />

marcante). A jóia da casa <strong>é</strong> o Lídio Carraro<br />

Tannat, pontuado acima dos melhores produtos<br />

do respeitado mercado uruguaio, referência<br />

mundial nesta uva. Este vinho atinge graduação<br />

alcoólica excepcional, - 16,26% - máximo já<br />

alcançado para a Tannat. Tão versátil que sua<br />

harmonização vai das caças a <strong>um</strong>a sobremesa<br />

com alto teor de chocolate.<br />

SOTAQUE PORTUGUÊS<br />

Entre os vinhos da Herdade da Malhadinha<br />

Nova, o grande destaque <strong>é</strong> o Marias<br />

Malhadinha (R$ 490,00),<br />

<strong>um</strong> corte de Aragonês<br />

com Alicante, Cabernet,<br />

Syrah e Touriga Nacional.<br />

Rico em frutas<br />

maduras, amêndoas e<br />

especiarias, este vinho,<br />

ícone em Portugal, envelhece<br />

por vinte e seis meses. Críticos portugueses o<br />

situaram entre os melhores do ano (2008) da<br />

produção do país.<br />

O Malhadinha Tinto (R$ 250,00), com<br />

intensas notas de frutas, ganha elegante harmonia<br />

com o corte de Cabernet Sauvignon,<br />

Aragonês, Alicante, Syrah e Touriga Nacional.<br />

Tem final longo e persistente, marcado pelo<br />

estágio em barricas francesas por 14 meses.<br />

O Ros<strong>é</strong> da Pecequina (R$ 66,50) <strong>é</strong> <strong>um</strong> vinho<br />

de caráter distinto, elaborado a partir da sangria<br />

dos melhores mostos de Touriga Nacional<br />

e Aragonês. Apresenta notas de frutos vermelhos<br />

e boa acidez.<br />

O Monte Pecequina Tinto (R$ 59,90) <strong>é</strong> <strong>um</strong><br />

vinho que reúne as castas Aragonês, Alicante,<br />

Touriga Nacional, Cabernet Sauvgnon, Trincadeira<br />

e Syrah. Muito intenso no aroma, taninos<br />

elegantes. Passou por estágio em carvalho francês<br />

por seis meses.<br />

Serviço<br />

Club du Vin: Fone (81) 3326.5719<br />

Casa dos Frios: (81) 2125.0000<br />

Mudança à vista na Boa Lembrança<br />

Andr<strong>é</strong> Saburó, do Quina do Futuro, ass<strong>um</strong>irá a presidência da Associação da Boa<br />

Lembrança em 2010, em substituição a C<strong>é</strong>sar Santos, da Oficina do Sabor, que está em<br />

seu terceiro mandato consecutivo. A associação tem 15 anos e durante dez ficou no<br />

Rio de Janeiro. O comando só mudou de endereço quando Santos chegou ao cargo. Foi<br />

<strong>um</strong>a conquista grande para Pernambuco, que mais <strong>um</strong>a vez mostra sua força na briga<br />

de braço com Estados como São Paulo, Minas Gerais e Curitiba.


Chocolates Ilh<strong>é</strong>us<br />

O artesanal Chocolate Caseiro Ilh<strong>é</strong>us,<br />

fundado pelo suíço Hans Schaeppi em 1985,<br />

na cidade que lhe dá o nome, chega ao Recife,<br />

no primeiro investimento da fábrica fora<br />

da Bahia. A loja está localizada no primeiro<br />

andar do Aeroporto Internacional dos Guararapes<br />

e oferece 80 itens entre bombons,<br />

trufas e chocolates líquidos. Licores e taças<br />

de chocolate tamb<strong>é</strong>m estão no mix.<br />

Caf<strong>é</strong> São Braz<br />

Se você deseja colaborar com o IMIP, vá<br />

tomar caf<strong>é</strong> em <strong>um</strong> Coffee Shop da São Braz.<br />

Lá estão à venda, a R$ 1,00, cartões postais<br />

de dez artistas, com renda revertida à instituição.<br />

Zezito Goiana, Maurício Arraes, Roberto<br />

Ploeg, Tereza Costa Rego, entre outros, doaram<br />

as imagens ao projeto Caf<strong>é</strong> com Arte.<br />

Kojima em Brasília<br />

Kojima chega a Brasília, abrindo sua<br />

primeira casa fora de Pernambuco. Vai ficar<br />

localizado na quadra 406 – Sul, loja 13, bloco<br />

C. Com a nova unidade, Alexandre Faeirstein<br />

aproveita para renovar o cardápio do restaurante<br />

do Recife, que conta com o prato: Camarões<br />

sobre leg<strong>um</strong>es com molho de curry.<br />

Fone: (81) 3328.3585.<br />

Empório Mineiro<br />

Aur<strong>é</strong>lio Rodrigues e Márcio Costa<br />

reabrem seu Empório Mineiro para nova<br />

temporada em Gravatá, entre abril e<br />

agosto. Desta vez, servem apenas almoço<br />

e sempre nos fins de semana: entre<br />

12h e 17h, aos sábados, e das 12h às<br />

16h, aos domingos. No cardápio, a autêntica<br />

comida mineira, com variações<br />

a cada semana. O bufê <strong>é</strong> exposto sobre<br />

belo fogão à lenha. Farta mesa de doces<br />

completa o menu (R$ 37,90). Ótima<br />

opção para quem vai subir a Serra das<br />

Russas no inverno. Informações: (81)<br />

9978.0752.<br />

Patrícia Raposo<br />

praposo@uol.com.br<br />

Novo espaço<br />

no Club<br />

O Club du Vin conclui sua reforma dobrando<br />

a capacidade para 40 pessoas. A<br />

nova área criada por Zezinho Santos <strong>é</strong> moderna<br />

e convidativa. O cardápio tamb<strong>é</strong>m<br />

muda e ganha assinatura do chef Hugo<br />

Prouvot, dono de elegantes criações. Para<br />

entender, prove o fil<strong>é</strong> mignon ao molho<br />

de foie gras e grelhado de manga. Peça<br />

como acompanhamento as batatas gratinadas<br />

com creme fresco de parmesão.<br />

Harmonia delicada n<strong>um</strong> conjunto de clássicos<br />

onde tudo se completa.<br />

São Jos<strong>é</strong> do Rio Preto • Fortaleza • Salvador • Piracicaba • Natal • João Pessoa<br />

maio ><br />

> 65<br />

Recife: Av. Recife, 451-A | Imbiribeira - Recife - PE - Fone: (81) 3339.3125 - Site: www.churrascariasalebrasa.com.br


66 > > maio<br />

Última página<br />

Convidado pelo Centro de Tecnologia do Varejo (CTV) do Senac<br />

Pernambuco para fazer a apresentação de abertura do<br />

Ciclo de Palestras 2009 abordando o tema da sustentabilidade<br />

na presente conjuntura de crise internacional, senti-me obrigado<br />

a fazer alg<strong>um</strong>as reflexões que acho oportuno compartilhar com<br />

os leitores da <strong>Algomais</strong> dada a emergência do assunto na vida<br />

das pessoas físicas, jurídicas e públicas.<br />

A primeira consideração que, depois, vi confirmada pelo professor<br />

Luiz Gonzaga Belluzzo (competente economista que só tem o<br />

defeito futebolístico de ser presidente do Palmeiras) no seminário<br />

“O Brasil e a crise: <strong>um</strong>a agenda para Pernambuco”, promovido pelo<br />

Conselho de Desenvolvimento Econômico e<br />

Social de Pernambuco (Sedes/PE), foi a de que<br />

mais do que <strong>um</strong>a crise financeira conjuntural,<br />

esta <strong>é</strong> <strong>um</strong>a crise estrutural do modelo econômico<br />

praticado há mais de três d<strong>é</strong>cadas no<br />

mundo. Em outras palavras, <strong>é</strong> possível dizer<br />

que esta <strong>é</strong> <strong>um</strong>a crise do que se convencionou<br />

chamar, <strong>um</strong> tanto panfletariamente, de modelo<br />

neoliberal. O próprio primeiro-ministro inglês<br />

Gordon Brown, anfitrião da última reunião do<br />

G20 em Londres, declarou, ao final do encontro:<br />

“O Consenso de Washington acabou”. Ou<br />

seja, o modelo econômico baseado na ideologia<br />

do estado mínimo, controlado, e do mercado<br />

máximo, desregulado, que terminou por<br />

hipertrofiar o setor financeiro a ponto de inflar,<br />

dentre outras tantas, a bolha dos subprimes que, ao estourar, levou<br />

de roldão a banca norte-americana e, de quebra, vários outras ao<br />

redor do mundo. Tudo isso que dizer, em s<strong>um</strong>a, que a saída desta<br />

crise não será, portanto, nem fácil nem rápida.<br />

Observei tamb<strong>é</strong>m que, felizmente, pela primeira vez em várias<br />

d<strong>é</strong>cadas, o Brasil defronta-se com essa grave crise de <strong>um</strong>a<br />

forma completamente diferente das anteriores: com reservas<br />

cambiais próximas a US$ 200 bilhões, <strong>um</strong> sistema bancário saneado,<br />

sem bolhas financeiras aparentes, com 15 anos de polí-<br />

Francisco Cunha<br />

franciscocunha@revistaalgomais.com.br<br />

Sustentabilidade na Crise<br />

Cuidar da<br />

gestão sustentável<br />

<strong>é</strong> condição<br />

essencial para,<br />

quando a crise<br />

passar, poder<br />

retomar<br />

o crescimento<br />

com vigor<br />

ticas macroeconômicas responsáveis, relativo controle fiscal e<br />

<strong>um</strong>a política compensatória suportiva (Bolsa Família e outros).<br />

E embora não restem dúvidas de que, por estar n<strong>um</strong> mundo em<br />

crise, o país sofrerá, como já vem sofrendo, o fato de ter feito<br />

o “dever de casa” macroeconômico, fará o Brasil se sair melhor<br />

que a grande maioria dos demais países. Uma situação que, apesar<br />

de verdadeira, <strong>é</strong> quase inacreditável para quem acompanhou<br />

as agruras econômicas do país ao longo das últimas crises.<br />

Outra observação que fiz foi a de que Pernambuco que, antes<br />

da eclosão da crise, vivia a melhor oportunidade de desenvolvimento<br />

dos últimos 50 anos terá afetado os cronogramas dos prin-<br />

cipais investimentos programados (refinaria,<br />

estaleiro, pólo famacoquímico etc), mas sem<br />

perdas finais. A tendência <strong>é</strong> que o tempo de<br />

duração da crise entre nos calendários (dois<br />

anos?), readequando o ritmo dos investimentos<br />

que, pelo seu vulto, devem manter a taxa<br />

de crescimento estadual acima da do país.<br />

Por fim, já que a crise, ainda que atenuada<br />

no Brasil e em Pernambuco, <strong>é</strong> inevitável,<br />

citei alg<strong>um</strong>as atitudes que me parecem indispensáveis,<br />

em especial para as empresas<br />

mas, tamb<strong>é</strong>m no que couber, para as pessoas<br />

físicas: (1) cuidar obsessivamente do caixa (só<br />

fazer os gastos indispensáveis); (2) aproveitar<br />

a oportunidade para realizar as mudanças necessárias<br />

(aquelas que são adiadas em tem-<br />

pos de bonança); (3) prestar atenção redobrada nos clientes (afinal<br />

são eles que pagam as contas com ou sem crise); (4) preservar o<br />

essencial (para a que a retomada após a crise seja rápida); (5) olho<br />

vivo na concorrência (para evitar que ela aproveite a crise para levar<br />

vantagem) e, se possível, aproveitar para levar vantagem sobre ela.<br />

Al<strong>é</strong>m disso, cuidar da gestão sustentável (economicamente<br />

sadia, socialmente responsável e ambientalmente correta), condição<br />

essencial para, quando a crise passar, poder retomar o<br />

crescimento com vigor.


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