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13.04.2013 Views

Da forma que está redigida a moção de apoio ao INPI, eu não a disputo. Até sugeri algumas das alterações, mas basicamente é importante ressaltar que o INPI funciona, mas pode funcionar muito melhor, e precisa funcionar melhor para atender às necessidades do País. Quanto ao texto mais adequado, estou totalmente aberto a sugestões deste plenário. Maria Celeste Emerick Como a moção está apoiando o INPI, talvez seja mais conveniente que as sugestões provenham deste plenário, e não do próprio órgão. Acho importante estar claro que o INPI é um dos órgãos cruciais na política nacional de desenvolvimento. O INPI atende hoje esses requisitos? Existe hoje uma percepção estratégica sobre o órgão em comparação à forma como vem sendo tratado nos últimos anos? Acho que falta, por um lado, a percepção nacional do seu significado para uma política nacional, seja política industrial, de ciência, tecnologia e inovação, todas as facetas que compõem uma política nacional de desenvolvimento. Os entraves que são colocados de ordem externa, conforme o próprio Luiz Otávio Beaklini mencionou, são questões quase do conhecimento e ciência de todos. Agora, existem questões de ordem interna, e isso não é só privilégio do INPI, mas de todas as instituições brasileiras, que demandam uma grande capacidade de ações internas de políticas e que não se tem habilidade para fazer por várias razões: falta de capacidade gerencial, falta de incorporação de uma visão de planejamento estratégico nas ações e de incorporação da propriedade intelectual dentro de uma visão estratégica e gerencial moderna. São questões que os novos tempos exigem. É o caso de o INPI pensar se está fazendo tudo o que pode e pensar naquilo que foge da governabilidade interna. É importante ressaltar que não dá para ficar vendo o que vem acontecendo com o INPI ao longo do tempo. Diante disso, acredito ser importante fortalecer o conteúdo da moção, a qual não está demonstrando suficientemente o necessário. Estive em Genebra, pela primeira vez, em abril de 2003, para acompanhar a reunião da OMPI sobre a evolução do sistema internacional de patentes, quando foi discutida a questão da patente global. O discurso por parte de todas as autoridades da OMPI, com raras exceções, versou sobre a estratégia da patente mundial versus a incapacidade dos países em desenvolvimento, particularmente dos órgãos de proteção da propriedade industrial, que chamarei de INPIs, em operarem o sistema. No argumento deles, a tecnologia nas áreas de genética e biotecnologia evoluiu muito rápido para que os países em desenvolvimento tivessem formado massa crítica para entender a fronteira do conhecimento dessas áreas, portanto os INPIs não têm capacidade de aferir novidade e demoram tempo demais para conferir os direitos de propriedade industrial. Conseqüentemente, os países desenvolvidos estão perdendo dinheiro, uma vez que no mundo globalizado atual, sem fronteiras, a proteção ocorre em todos os mercados. Aquele último discurso sobre a morosidade dos países em desenvolvimento foi o ponto mais explorado naquela reunião. Pela primeira vez, pensei se não é orquestrado um desmonte dos INPIs dos países em desenvolvimento, e o do Brasil seria um deles. Da maneira que as questões estão sendo conduzidas no Brasil, fico pensando se isso não seria parte de uma estratégia nacional, desmontando, não estimulando os quadros de pessoal – e aí esses recursos humanos vão saindo para a iniciativa privada, porque cansam de não terem retorno tanto técnico como financeiro. Creio que esse assunto seja até mais sério do que entendemos. 230 6º Encontro de Propriedade Intelectual e Comercialização de Tecnologia

Luiz Otávio Beaklini Gostaria de comentar que discordo da existência de uma política de desmonte do INPI do Brasil que seja gerenciada internacionalmente. Por outro lado, ainda não cheguei à conclusão de se não houve no Brasil uma quase vontade de se desmontar o INPI. No entanto, acredito que existe uma linha de raciocínio baseada em uma compreensão totalmente errônea de que um grupo de pessoas chegou à conclusão de que o INPI somente interessa a multinacionais e, portanto, não importa, na melhor das hipóteses, que ele não funcione direito e não atende aos interesses nacionais. Minha compreensão é justamente ao contrário: são exatamente as empresas nacionais que precisam do INPI funcionando, pois são elas que precisam de uma patente ou marca para enfrentar as grandes empresas multinacionais. Um INPI que não funciona, não funciona para nenhum setor econômico. E daí, vale a lei do mais forte, que normalmente é a empresa multinacional, que tem poderio econômico, tecnologia e nome no mercado que a torna independente do INPI. Tanto que o INPI não funciona, e mesmo assim, ela continua mantendo um bom posicionamento no mercado. É justamente a empresa ou o inventor nacional que precisa do sistema funcionando. Portanto, minha opinião segue a linha de que a necessidade nacional é que pode ter levado a essa situação de má vontade em muitos setores. Evidentemente que existe uma situação constrangedora em comparação a um USPTO extremamente organizado, que possui 4.000 examinadores de patente e está querendo dobrar seu quadro de pessoal, a um Escritório Europeu de Patentes que possui 6.000 examinadores ou a um Escritório Japonês de Patentes que dá cabo de 500 mil pedidos por ano. Mas o que eles temem é que o INPI brasileiro organizado, com capacidade para examinar todos os pedidos de patente nacionais em dois ou três anos – um tempo absolutamente normal para os padrões internacionais – venha a ocupar seu lugar. Ainda vale ressaltar que nos oito meses da fase de sigilo, em todos os países são entregues relatórios de busca de alta qualidade para os seus depositantes nacionais. De posse desses relatórios, o depositante verifica que sua invenção está além de suas expectativas e decide dar entrada na fase internacional. Aqui no Brasil, é justamente o oposto. O inventor acha que inventou a pólvora, mas como foi advertido de que existem anterioridades, decide por não gastar dinheiro com isso. Esse tipo de decisão sobre o valor agregado é o que o INPI pode dar para o seu inventor. O inventor pode convencer um empresário a financiar aquela sua invenção ou, se ele já é empresário, pode decidir produzir e colocar no mercado. Essa visão da importância do INPI para o inventor/empresário nacional escapa de quem só enxerga estatisticamente, que é a maioria dos usuários estrangeiros. Mas ela, de fato, apesar de propor a defesa à indústria nacional, age exatamente ao contrário. Por isso sempre ressalto que é importante que os usuários nacionais, e grande parte deles é esse grupo que está aqui neste Encontro, demonstrem sempre que possível que o INPI funcionando é bom para eles e que precisam disso. Arthur Camara Cardozo Gostaria de fazer três rápidos comentários. Com relação ao desmonte do INPI ser ou não proposital, diria que existem duas situações: sim, foi proposital, mas não em particular para atingir o INPI. Houve uma visão equivocada e bem orquestrada em que o Estado no Brasil tem que ser mínimo, deve sair da atuação 6º Encontro de Propriedade Intelectual e Comercialização de Tecnologia 231

Luiz Otávio Beaklini<br />

Gostaria de comentar que discordo da existência de uma política de<br />

desmonte do INPI do Brasil que seja gerenciada internacionalmente. Por outro<br />

lado, ainda não cheguei à conclusão de se não houve no Brasil uma quase<br />

vontade de se desmontar o INPI. No entanto, acredito que existe uma linha de<br />

raciocínio baseada em uma compreensão totalmente errônea de que um grupo<br />

de pessoas chegou à conclusão de que o INPI somente interessa a multinacionais<br />

e, portanto, não importa, na melhor das hipóteses, que ele não<br />

funcione direito e não atende aos interesses nacionais. Minha compreensão é<br />

justamente ao contrário: são exatamente as empresas nacionais que precisam<br />

do INPI funcionando, pois são elas que precisam de uma patente ou<br />

marca para enfrentar as grandes empresas multinacionais. Um INPI que não<br />

funciona, não funciona para nenhum setor econômico. E daí, vale a lei do mais<br />

forte, que normalmente é a empresa multinacional, que tem poderio econômico,<br />

tecnologia e nome no mercado que a torna independente do INPI. Tanto<br />

que o INPI não funciona, e mesmo assim, ela continua mantendo um bom<br />

posicionamento no mercado. É justamente a empresa ou o inventor nacional<br />

que precisa do sistema funcionando. Portanto, minha opinião segue a linha de<br />

que a necessidade nacional é que pode ter levado a essa situação de má<br />

vontade em muitos setores.<br />

Evidentemente que existe uma situação constrangedora em comparação<br />

a um USPTO extremamente organizado, que possui 4.000 examinadores de patente<br />

e está querendo dobrar seu quadro de pessoal, a um Escritório Europeu de<br />

Patentes que possui 6.000 examinadores ou a um Escritório Japonês de Patentes<br />

que dá cabo de 500 mil pedidos por ano. Mas o que eles temem é que o INPI<br />

brasileiro organizado, com capacidade para examinar todos os pedidos de patente<br />

nacionais em dois ou três anos – um tempo absolutamente normal para os<br />

padrões internacionais – venha a ocupar seu lugar.<br />

Ainda vale ressaltar que nos oito meses da fase de sigilo, em todos os<br />

países são entregues relatórios de busca de alta qualidade para os seus<br />

depositantes nacionais. De posse desses relatórios, o depositante verifica que<br />

sua invenção está além de suas expectativas e decide dar entrada na fase internacional.<br />

Aqui no Brasil, é justamente o oposto. O inventor acha que inventou a<br />

pólvora, mas como foi advertido de que existem anterioridades, decide por não<br />

gastar dinheiro com isso. Esse tipo de decisão sobre o valor agregado é o que o<br />

INPI pode dar para o seu inventor. O inventor pode convencer um empresário a<br />

financiar aquela sua invenção ou, se ele já é empresário, pode decidir produzir e<br />

colocar no mercado. Essa visão da importância do INPI para o inventor/empresário<br />

nacional escapa de quem só enxerga estatisticamente, que é a maioria dos<br />

usuários estrangeiros. Mas ela, de fato, apesar de propor a defesa à indústria<br />

nacional, age exatamente ao contrário. Por isso sempre ressalto que é importante<br />

que os usuários nacionais, e grande parte deles é esse grupo que está aqui neste<br />

Encontro, demonstrem sempre que possível que o INPI funcionando é bom para<br />

eles e que precisam disso.<br />

Arthur Camara Cardozo<br />

Gostaria de fazer três rápidos comentários. Com relação ao desmonte do<br />

INPI ser ou não proposital, diria que existem duas situações: sim, foi proposital,<br />

mas não em particular para atingir o INPI. Houve uma visão equivocada e bem<br />

orquestrada em que o Estado no Brasil tem que ser mínimo, deve sair da atuação<br />

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